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Introdução ao Estágio

Curricular Supervisionado
Profa. Vanessa Faria
Profa Vanessa Faria
vanessafabiola@unemat.br
(84) 991699297

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1 Apresentar a ementa da
disciplina

2 Discussão dos temas 1 e


Plano de voo 2.

3 O cronograma de
atividades: o combinado
não sai caro!
2. Discussão dos temas
propostos para a aula
Tema 1: Identidade docente – responsabilidade do
fazer docente. Saberes da profissão.

Leituras:
ARROYO, Miguel G. Ofício de mestre: imagens e auto-imagens. 6. Petrópolis:
2002, Vozes.
BARZOTTO, V. e RIOLFI, C. R.. Sem choro nem vela: carta aos professores
que ainda vão nascer. . Paulistana. 2012 (capítulo1)
FERNÁNDEZ, Alicia. A Mulher escondida na professora: uma leitura
psicopedagógica do ser mulher, da corporalidade e da aprendizagem.
Porto Alegre: 1994, Artes Médicas Sul. (Capítulo 8)
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FERNÁNDEZ, Alicia. A Mulher escondida na professora: uma leitura psicopedagógica do ser mulher, da
corporalidade e da aprendizagem. Porto Alegre: 1994, Artes Médicas Sul. (Capítulo 8)

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Capítulo 8: A queixa da professora

▹ A queixa como lubrificante da máquina inibitória


do pensamento:
1) Qual a função da queixa na boca das
professoras e qual o uso que o sistema educativo
faz da mesma?
2) Que lugar ocupa "o queixar-se" na constituição
da subjetividade feminina em nossa cultura?
3) Por que as professoras caem tão facilmente na
armadilha?
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Capítulo 8: A queixa da professora

▹ Os diferentes modos de queixar-se


ATORES COMPORTAMENTOS
Homens (pais) o silêncio, a acusação (dirigida aos seus filhos,
à sua esposa, ao colégio), ou um discurso
supostamente válido, que dá conta de uma
explicação dos problemas.
filhos adolescentes a maioria acusa ou questiona
Mulheres (mães de classe Queixa-lamento
média e alta)
Mulheres (mães de Queixa-reclamo
classes menos
favorecidas)
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“Nas mulheres integrantes dos grupos de mães mencionados, a queixa funciona como
uma acusação dirigida a alguém e como uma reclamação que espera daquele que
escuta a entrega de uma solução, mais do que compartilhar o entendimento do
problema. As queixas estão dirigidas, principalmente, aos seus maridos ou aos seus
filhos com problemas. A partir deste tipo de queixa, pode-se trabalhar e conseguir a
emergência do "desejo diferenciador,(5) cuja constituição facilita a produção de novos
desejos. Assim, em tais grupos, as mães, nos primeiros dias, apresentam-se com "a mãe
de...", nomeando-se, entre si, da mesma maneira. Em um segundo e breve momento
passam a ser a "Senhora de..." até chegarem a ser “Teresa", "Susana" ou "Matilde". A
queixa-lamento somente aparecia na primeira fase. Na segunda, surgiam queixas-
reclamo e, na terceira, a queixa tendia a desaparecer para dar lugar ao juízo crítico,
próprio da autonomia.” (FERNANDEZ, 1994, p.67) 8
“A queixa-lamento funciona como lubrificante da máquina
inibidora do pensamento. É lógico, então, que na medida em
que as mulheres se reconheçam somente em função de outros
(seus filhos ou seus maridos), lhes seja difícil chegar à crítica,
capaz de posicioná-las no lugar de transformadoras de si
mesmas e das coisas que as rodeiam… “(FERNANDEZ, 197, p.
67
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E o que isso tem a Por que e para que
ver com a queixa as professoras se
de professoras? queixam?

“Creio que a queixa das professoras, enquanto funciona como lubrificante


da máquina inibitória do pensamento, é favorecida e, às vezes, até
promovida, pela própria instituição educativa.
Na medida em que, como mulheres ensinantes, conseguirmos reconhecer e
analisar este "sintoma", poderemos encontrar soluções alternativas.”
(FERNANDEZ, 1997, p. 68)

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Capítulo 8: A queixa da professora

A fim de analisar a queixa das professoras, a autora se propõe a pensar na similitude


entre o trabalho doméstico e o trabalho docente feita pela ideologia tradicional.

TRABALHO DOMÉSTICO TRABALHO DOCENTE


visto como inerente à natureza das as professoras trabalham com
mulheres; as mulheres estão crianças e, assim, como desqualifica-
naturalmente destinadas ao "cuidado" se a criança (ou se a endeusa, como
das crianças, e dentro deste cuidado outra forma de desqualificação)
entraria a tarefa de educá-las. Ao também desvaloriza-se quem trabalha
considerá-lo de tal modo, lhe é tirado com elas.
o valor de trabalho produtivo,
desvalorizando a tarefa em si, e a
quem a exerce.
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Capítulo 8: A queixa da professora

[...] ao considerar o "cuidado" das crianças e sua educação como inerentes à


"natureza" feminina, o trabalho docente passa por um esvaziamento. Tal
situação o transforma em uma atividade não mediatizada, não criativa, não
rentável, não produtiva e até invisível, como uma extensão do trabalho
doméstico.
Sem dúvida, conhecer os atravessamentos ideológicos que suportam nossa
tarefa nos dá a possibilidade de nos autorizarmos a mudar nossa realidade e
de nos atrevermos a mudar nossa maneira de nos inserir na mesma, isto é, a
pensar com autonomia. Diz respeito a não continuar contando a história a
partir do lugar de outro — trata-se de começar a escrever nossa própria
história.
(FERNANDEZ, 1997, p. 68-69)

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Capítulo 8: A queixa da professora

É interessante observar que os professores se queixam e os alunos se aborrecem. Se


observássemos esta cena por um outro ângulo, poderíamos dizer que os alunos se
queixam e os professores se aborrecem? A queixa e o aborrecimento que funcionam com
lubrificantes para manter a máquina paralisante geram inibição cognitiva reativa e
mantém a inibição reativa estrutural.
Aburrir é um verbo da língua castelhana, cuja forma pronominal [aburrirse) é de
difícil tradução para outros idiomas. Aburrimiento tem a ver com apatia, indiferença,
mas é pior que isso. A indiferença implica baixar a cortina, fechar-se frente a algo que
não interessa, mas o aburrimiento é o fechar-se para nossa própria máquina desejante. É
ignorar a possibilidade "de estar a sós" e de começar a imaginar e a pensar nesse estar a
sós. Aburrirse é acreditar-se vazio, é negar-se a imaginar e começar a pensar a partir daí.
Aburrirse, jogando com o castelhano, eu diria que é "fazer-se burro". Aborrecer seria, em
português, depreciar-se, cansar-se de si mesmo. (FERNANDEZ, 1997, p. 69)

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Capítulo 8: A queixa da professora

Enrique Mariscal(15) diz que o aborrecimento é uma das "expressões de mau trato;
como vivemos numa cultura do mau trato, pareceria que o aborrecer-se é normal,
e onde há aborrecimento há uma sensação de desconexão, de um vazio, de
buraco, e, como este buraco se faz intolerável, chega alguém com algum produto
da indústria do entretenimento montada justamente para escapar do vazio".
Às vezes, algo similar ao citado acontece aos bons professores, quando,
procurando formas com que seus alunos não se aborreçam, buscam "motivar",
entretê-los com algum elemento técnico. No entanto, o entusiasmo por aprender
não tem à ver com estas artimanhas, mas sim com poder despertar a capacidade
de assombro, enferrujada pelo aborrecimento e interditada pela queixa. Quando a
criança termina esta tarefa, organizada para que não se aborreça, voltará com a
sensação de vazio e a queixar-se de aborrecimento, assim como seu professor
voltará a aborrecer-se de queixar-se. (FERNANDEZ, 1997, p. 69 – grifos meus)

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Capítulo 8: A queixa da professora

A queixa promove, em quem a faz, a permanência, e até


o fortalecimento, da situação que a origina. De qualquer
maneira, o aborrecimento gera mais aborrecimento.

Ninguém ensina se não tiver paixão por aprender!


De nada valem manobras mirabolantes para apresentar
conceitos, se esses conceitos não te causam mais
espanto algum!
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Capítulo 8: A queixa da professora

Como meus alunos poderiam aprender se eu já deixei


de perguntar-me por que a lua não cai e, o que é pior
ainda, se já deixei de assombrar-me e
de investigar?

Situação: estagiária numa sala de 1º EM.


Tema da aula: desinências verbais
Aluna pergunta: professora, esse negócio de desinência
verbal é igual os afixos, aqueles prefixos e sufixos?

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Capítulo 8: A queixa da professora

Estagiária: ........
Prof. regente: não é a mesma
coisa (pensei...ufaaa) as
desinências só são usadas em
verbos e os afixos só são usados
em nomes (Putz..... )

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Capítulo 8: A queixa da professora

A queixa como vômito:

Penso que a queixa é uma maneira de expulsar a violência


que não se pode engolir.

[...as] professoras não conseguirão deixar de queixar-se,


anulando a queixa, se não conectarem-se com seu direito de
eleger, com seu desejo hostil, buscando um caminho
diferente ao da hostilidade.

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Capítulo 8: A queixa da professora

Desativar a queixa e o aborrecimento para ativar a


capacidade de perguntar:

Se as crianças conseguissem fazer ouvir seus protestos em


uma escola de párvulos, ou inclusive simplesmente suas
perguntas, isso bastaria para provocar uma explosão no
conjunto do sistema de ensino.
Se as professoras escutassem seus próprios protestos, ou
inclusive simplesmente deixassem espaço e valorizassem
suas próprias perguntas, isso bastaria para provocar um
estalo na armadura do sistema educativo.
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Capítulo 8: A queixa da professora

A queixa-lamento da dona-de-casa é uma transação através


da qual, por um lado, denuncia um mal-estar e, por outro,
confirma, através de uma postura resignada, que nada mude.
Do mesmo modo, a queixa da professora pode ser uma
transação, isto é, um sintoma que denuncia um
aborrecimento e que, ao mesmo tempo, assegura que tudo
siga tal como está. A queixa enuncia uma injustiça, mas ao
apagar a máquina desejante-imaginativa-pensante, abona a
continuidade da injustiça, seja considerando-a própria da
natureza da situação ou fora do alcance de nossa
intervenção.

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Pergunta 4: Mas… o que é sublimar?

"A partir de nossa perspectiva, existem dois destinos possíveis para as queixas
das mulheres:

a) utilizar a queixa para estereotipar-se nesta expressão de hostilidade, oscilando


entre a reivindicação paranóide e a auto-reprovação melancólica, como duas
caras da mesma moeda [...]

b) a queixa pode dar possibilidade à [...] constituição do juízo crítico.


Mediante este pensamento, é possível, para as mulheres, transformar estes juízos
pré-reflexivos, pré-críticos, identificatórios, em forma de juízos reflexivos,
críticos, diferenciadores, que possibilitem o questionamento e a redefinição de
sua identidade. Isto favorece à constituição de outros 'ideais pós-convencionais',
alternativos aos que a cultura oferece". (BOURIN, M. apud FERNANDEZ, 1997, p. 71)

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Fim?
"O físico Jorge Wagenberg(18) diz que ‘a história das ciências é a história
das perguntas e não das respostas. O que importa são as perguntas, e
não as respostas, o perigo está em pensar que há uma teoria e que vou
enchendo os buracos. Faço uma pergunta e até que a responda, o que
faço é pura rotina.’

Como se abre o espaço de onde surgem as perguntas?

Acho que esse terreno fértil para que as perguntas apareçam, pode ser
encontrado desativando o aborrecimento e a queixa; e este trabalho só
pode ser feito simultaneamente com outro, que consiste em aprender e
valorizar o delicioso e perigoso gosto da dúvida, correndo o risco de sair
da certeza e utilizando a máquina desejante-imaginativa-pensante que
também nos permite selecionar e eleger. FERNANDEZ, 1997, p. 71)
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Até o próximo tema!

Profa Vanessa Faria


vanessafabiola@unemat.br
(84) 991699297

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