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O filme norte-americano “Escritores da Liberdade”, lançado em 2007,

tem como intuito mostrar o drama de adolescentes de uma escola pública,


enquanto seus aprendizados na sala de aula. É notório perceber que durante
todo o enredo, somos condicionados a perceber que o que o filme
constantemente retrata, são as relações e condições sociais dos indivíduos, e a
partir disso notar que essas questões são determinantes para a falta de
estímulo dos estudantes.

Em seu primeiro dia de aula com uma turma considerada problemática,


a professora Gruwell percebe que terá um grande desafio naquele ano letivo.
Embora fosse um trabalho considerado difícil, com muita paciência e
dedicação, ela conseguiu contornar a situação e estimular aqueles jovens a
estudar, e o mais importante, a não desistir dos estudos e nem desacreditar do
potencial que todos eles possuíam.

Durante toda a trama é possível perceber o trabalho brilhante e


persistente da professora Gruwell, no que diz respeito aos estudantes daquela
turma. Ao revolucionar o ensino-aprendizagem daquele ambiente, conquistou
aliados – seus alunos -, mas também fez muitos inimigos, estes últimos seus
próprios colegas de trabalho, acostumados com um sistema educacional falho
e segregador. O trabalho desenvolvido naquela turma, foi muito mais que aulas
dadas, e nesse sentido, é perceptível notar um caráter educacional
humanístico, com base principalmente na reciprocidade entre alunos e
professor. Essa reciprocidade é notável não somente com o respeito
conquistado, mas também o aprendizado de ambos. Pode-se dizer, portanto,
que aquela professora transformou seus alunos, e seus alunos com suas
histórias de vida transformaram aquela professora.

Voltando ao que citei anteriormente, notamos que naquela instituição de


ensino havia um ensino segregador, baseado na divisão de estudantes
considerados inteligentes – estes com salas mais organizadas e bem
equipadas -, e os considerados baderneiros e problemáticos – estes com salas
pichadas e desorganizadas. Deixados de lado e totalmente largados pela
instituição que deveria acolhê-los, possuíam histórias e vivências que
evidentemente prejudicariam o desenvolvimento na escola.
O que ocorre nesses casos é que em muitas escolas não há uma
educação humanista, assim como Paulo Freire considerava apropriada.
Percebemos que nesses casos, há um costume de separar o inteligente do não
inteligente, a partir de um ensino conteudista, que tenta mecanizar o ensino-
aprendizagem, sem obviamente, levar em conta as singularidades de cada
indivíduo presente nas salas de aula.

Quando Freire (1997) diz em seu artigo intitulado por “Papel da


educação na humanização”: “... não que por si só a educação possa libertar o
homem, mas ela contribui para esta libertação ao conduzir os homens a adotar
uma atitude crítica face ao seu meio”, automaticamente nos remetemos ao
processo crítico que aqueles estudantes passaram a fazer de si mesmos e de
suas vivências. Podemos dizer que aqueles estudantes possuíam ideias
construídas há décadas - a partir de suas dores, que são legítimas -, que para
eles já era tido como “sempre foi assim, continuará sendo assim”. Com isso,
podemos novamente trazer o pensamento freireano, quando ele afirma que “o
presente é qualquer coisa que deve ser normalizada, e o futuro, mera repetição
do presente, deve ser também normalizado” (FREIRE, 1997, pág. 25).
Podemos notar que essa citação, pode ser utilizada como exemplo dos
pensamentos daqueles estudantes, que de geração em geração ouviram e
vivenciaram a violência e a segregação por parte dos brancos, e que quase
não vêem a representatividade de seus povos na universidade. Seria mais do
que normal pensar desta forma, já que as suas realidades e as dos seus foram
assim.

Mesmo com todas as questões sociais acerca daqueles alunos, de certa


forma eles foram transformados, não em pessoas que seguem um padrão
mecanicista, mas sim em pessoas críticas, seres políticos com consciência de
que suas histórias podem transformá-los, e que podem se permitir a quebrar
ciclos que não devem mais ser normalizados e aceitos como preestabelecidos.
Embora aquela instituição tivesse um papel fundamental na segregação
daqueles alunos com relação a outras turmas, foi possível a partir de uma
educação humanista, evitar a evasão daqueles estudantes, além de dar a eles
o que eles precisavam para ver uma porta de saída nos estudos e nas suas
respectivas vidas – a voz.

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