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SÍNDROME COMPARTIMENTAL RELACIONADA AO

POSICIONAMENTO CIRÚRGICO: UM INIMIGO SILENCIOSO


COMPARTMENT SYNDROME RELATED TO SURGICAL POSITIONING: A SILENT ENEMY

SÍNDROME COMPARTIMENTAL RELACIONADA CON EL POSICIONAMIENTO QUIRÚRGICO: UN


ENEMIGO SILENCIOSO

SERGIO, Fernanda Rabe/lo; CAMERON, Lys Eiras; VITAL, Isabel Cristina Oliveira.

RESUMO: Objetivo: Relacionar a evolução da mostly because of the impairment of blood flow to
Síndrome Compartimental com o posicionamento certain areas. The identification of signs and symptoms
cirúrgico, a partir da discussão da fisiopatologia, apre- is usually performed by nurses and can influence
sentação dos posicionamentos de risco e mecanis- the outcome if eariy intervention is implemented.
mos de prevenção, controle e intervenção. Método: Conclusion: By having focus on care and providing
Revisão sistemática de artigos encontrados por meio direct assistance to patients during intraoperative
de busca nas bases de dados da Biblioteca Virtual period, in the post-anaesthetic recuperation unit and
em Saúde e PubMed. Resultados: O posicionamento after the return to the ward, nursing plays important
cirúrgico se relaciona com o desenvolvimento da Sín- role especially in the early recognition, contributing
drome Compartimental principalmente pelo compro- to the prevention and reduction of complications
metimento do fluxo sanguíneo a determinadas áreas. resulting from Compartment Syndrome.
A identificação dos sinais e sintomas é geralmente
realizada pela enfermagem e pode influenciar o Key words: Compartment syndromes; Patient posi-
resultado, se a intervenção for implementada preco- tioning; lntraoperative period; Nursing.
cemente. Conclusão: A enfermagem, por ter seu foco
no cuidado e prestar assistência direta ao paciente RESUMEN: Objetivo: Relacionar ia evolución dei
no período intraoperatório, na sala de recupera- Síndrome compartimentai con ei posicionamiento
ção pós-anestésica e após o retorno à enfermaria, quirúrgico, a partir de Ia discusión de Ia fisiopatología,
desempenha importante papel, principalmente no presentación de Ias posiciones y los mecanismos de
reconhecimento precoce de complicações, contri- prevención de riesgos, controle intervención. Método:
buindo para prevenção e minimização de agravos Revisión sistemática de artículos encontrados
decorrentes da Síndrome Compartimental. mediante Ia búsqueda en Ia base de datos de Ia
Biblioteca Virtual en Salud y PubMed. Resultados:
Palavras-chave: Síndromes de compartimento El posicionamiento quirúrgico está relacionado ai
Posicionamento do paciente. Período intra-operatório desarroilo de síndrome compartimental en su mayoría
Enfermagem. por ei deterioro dei aflujo sanguíneo a determinadas
zonas. Los enfermeros generalmente identifican los
ABSTRACT: Objective: To relate the development of signos y sintomas y eso puede influir en ei resultado
Compartment Syndrome with surgical positioning, from si se realiza Ia intervención precozmente. Conclusión:
the discussion of the pathophysiology, presentation of La enfermería, que tiene su foco de atención y
risk positions and prevention, control and intervention asistencia directa ai paciente durante ei período
mechanisms. Method: Systematic review of articies intraoperatório, en Ia sala de recuperación post
found by search in the Virtual Health Library and anestésica y después de regresar a Ia enfermeria,
PubMed databases. lesuIts: Surgicai positioning is tiene un papel importante en ei reconocimiento
reiated to the development of compartment syndrome precoz, de compiicaciones lo que contribuye para Ia

Rev SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012: 17(3) 71-80


prevención y minímización de trastornos derivados cirurgias prolongadas','
dei Síndrome Compartimental.
A Síndrome Compartimental se caracteriza por um
Palabras clave: Síndromes compartimentales; Po- aumento na pressão dentro de um compartimento
sicionamiento dei paciente; Período intraoperatorio; corporal, que reduz a perfusão capilar até abaixo do
Enfermería. nível necessário para a viabilidade tecidual, levando à
oclusão da microcirculação. Um aumento da pressão
INTRODUÇÃO dentro do compartimento não é dissipado facilmente,
em virtude da ineslasticidade da fáscia que envolve
À medida que as cirurgias se tornam mais complexas o músculo 6 . A isquemia resultante pode levar a
e demoradas, os profissionais atuantes no intraopera- um déficit neuromuscular permanente se houver
tório necessitam assegurar que os pacientes estejam demora no diagnóstico e na realização de fasciotomia
devidamente preparados e posicionados para o proce- descompressiva5.
dimento ao qual serão submetidos, de forma a garantir
o sucesso, a segurança e o bem-estar do cliente'. A evolução do quadro pode levar à rabdomióiise,
caracterizada pela destruição do músculo estriado,
A responsabilidade por esse bem-estar é dividida que ocasiona a liberação de mioglobina, substância
entre os profissionais que atuam durante a cirurgia, capaz de ocluir o túbulo convoluto distal e causar
envolvendo o cirurgião, o anestesiologista e o falência renal. Se não tratada, a rabdomiólise pode
enfermeiro, que durante todo o procedimento cirúrgico levar à sepse e até à morte'.
monitoram o seu estado fisiológico, sendo o enfermeiro
o profissional que deve participar ativamente do Apesar de ser uma complicação do posicionamento
posicionamento cirúrgico'-'. cirúrgico capaz de ocasionar graves danos à saúde
do paciente, pouco se é divulgado sobre a Síndrome
O posicionamento cirúrgico é o modo como o paciente Compartimental, especialmente na área da enferma-
está disposto na mesa de operação durante todo o gem, visto que a grande maioria dos artigos sobre
processo anestésico-cirúrgico. É um procedimento posicionamento cirúrgico e desenvolvimento desta
que envolve sérios riscos, que, se não observados síndrome é escrita por médicos.
com a devida responsabilidade e competência, podem
comprometer definitivamente a saúde do paciente3 É importante que os profissionais de saúde, atuantes
Em decorrência disto, o posicionamento cirúrgico no período perioperatório, estejam preparados
adotado deve ser individualizado e adaptado às para lidar com esta complicação, principalmente o
necessidades de cada indivíduo e aos procedimentos enfermeiro, que participa ativamente do monitoramento
previstos', respeitando o alinhamento corporal do e da evolução do paciente durante a cirurgia, bem
paciente, sem prejudicar as funções circulatória e como tem atuação direta nas salas de recuperação
respiratória e sem comprometer a integridade da pele pós-anestésica. O enfermeiro deve estar apto a
e outras estruturas corporais4. reconhecer os sinais do desenvolvimento da Síndrome
Compartimental, contribuir com o diagnóstico precoce
O posicionamento do paciente para a cirurgia é um fator- e o devido tratamento, visando a minimização do risco
chave no desempenho de um procedimento seguro de sequelas para o paciente.
e eficiente, por isso todos os membros da equipe
cirúrgica devem proteger o cliente de qualquer efeito Sendo assim, o tema central deste estudo é o desen-
danoso decorrente do inadequado posicionamento volvimento de Síndrome Compartimental relacionado
cirúrgico ou de cirurgias prolongadas2. ao posicionamento do paciente para a cirurgia.

Uma possível complicação de determinadas posições Face à grande complexidade da Síndrome Compar-
adotadas em cirurgias é a Síndrome Compartimental, timental relacionada ao posicionamento cirúrgico
que, apesar de ser mais frequentemente associada e seu impacto na evolução do estado de saúde do
a traumas, tem sido relatada como consequência paciente, além da pequena quantidade de estudos
do posicionamento nas mesas de operação durante realizados pela enfermagem no Brasil sobre o tema,

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elaborou-se este artigo com o intuito de fundamentar sicionamento cirúrgico, descrevendo-se o posicio-
o conhecimento e o entendimento do profissional namento usado, a duração da cirurgia, os achados
de saúde a respeito de tal síndrome e apresentar clínicos e o resultado final após a complicação.
os posicionamentos de risco, discutindo aspectos
fisiopatológicos envolvidos e mecanismos de pre- Os dados destes artigos selecionados foram agru-
venção, controle e intervenção diante da presença pados em um quadro (Quadro 1), contendo os
da Síndrome Com partimental. seguintes itens: identificação do artigo, autor(es),
cidade/país, posição utilizada, duração da cirurgia,
1*lkY1 efeito e resultado final.

Relacionara evolução da Síndrome Compartimental RESULTADOS


com o posicionamento cirúrgico, a partir da discussão
da fisiopatologia, apresentação dos posicionamen- Compreendendo a relação entre Síndrome Com-
tos de risco e mecanismos de prevenção, controle partimental e posicionamento cirúrgico
e intervenção.
Um compartimento é um espaço fechado composto
por um grupo de músculos, artérias, veias e nervos,
envolto por uma lâmina de tecido relativamente
Procedeu-se a uma revisão bibliográfica, que utili- inelástico denominado fáscia 17 . O corpo humano
zou materiais publicados sobre o desenvolvimento possui 46 compartimentos, sendo que 38 destes se
de Síndrome Compartimental relacionado com o encontram nas extremidades corporais7.
posicionamento cirúrgico adotado como base para
realizar uma pesquisa acerca do tema. Apesar de ser possível ocorrer em qualquer compar-
timento corporal, os quatro compartimentos da extre-
Devido à importância do conhecimento do assunto, midade inferior (tibial anterior, fibular lateral, tibiais
este estudo apresenta uma revisão sistemática de posteriores superficial e profundo) são afetados mais
artigos publicados sobre o desenvolvimento de frequentemente' 1 . Porém, a Síndrome Compartimen-
Síndrome Compartimental relacionado ao posicio- tal pode ocorrer onde quer que um compartimento
namento cirúrgico. esteja presente, com mais frequencia nas mãos,
antebraço e braço, glúteos, pernas ou pés' 1.
Primeiramente, foi realizada uma busca nas bases
de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e A Síndrome Compartimental é uma condição na qual
PubMed, utilizando-se os Descritores em Ciências a alta pressão dentro de um compartimento corporal
da Saúde (DeCS) Compartment syndromes reduz a perfusão capilar até abaixo do nível neces-
(Síndromes de compartimento) e Patientpositioning sário para a viabilidade tecidual. Um aumento da
(Posicionamento do paciente), com o operador pressão dentro do compartimento não é dissipado
boleano and. Após a verificação da ausência de facilmente, em virtude da inelasticidade da fáscia
resultados, acrescentou-se o descritor Nursing que envolve o músculo. Se a pressão continua sufi-
(Enfermagem) aos anteriores e também houve cientemente alta por várias horas, a função normal
ausência de resultados, segundo os descritores em do músculo e dos nervos fica comprometida e acaba
língua portuguesa. desencadeando necrose mioneural, podendo ocorrer
perda permanente da função'.
Ao final do processo de revisão, foram encontrados
19 artigos, publicados nos últimos 20 anos, que O posicionamento cirúrgico está relacionado com o
tiveram seu conteúdo analisado e 12 deles foram desenvolvimento da Síndrome Compartimental, à
selecionados para fazerem parte da amostra deste medida que pode causar o comprometimento do fluxo
estudo. O critério de inclusão adotado foi a verifica- sanguíneo de determinadas áreas, principalmente
ção de possuírem dados de interesse para pesquisa, dos membros inferiores, conforme descrito nos ca-
contendo relatos de casos de desenvolvimento da sos disponíveis na literatura consultada, relatados
Síndrome Compartimental relacionada com o po- posteriormente.

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O comprometimento do fluxo sanguíneo local pre- Dor desproporcional à lesão, dor aos movimentos
judica a capacidade do endotélio capilar de manter passivos do grupo de músculos dentro do compar-
uma barreira semipermeável para a passagem de timento, palidez, enchimento capilar prejudicado,
solutos, fazendo com que ocorra o extravasamento parestesia e ausência de pulso são achados clínicos
de fluidos para dentro do compartimento, causando importantes. A dor é um sinal precoce e não deve
edema e elevando a pressão intracompartimental, ser ignorada. A parestesia pode ser um sintoma mais
comprometendo o sistema vascular9. tardio e é geralmente descrita como uma sensação
anormal ou de queimação, uma vez que os nervos
Tal comprometimento irá acarretar mais isquemia e são altamente sensíveis à pressão elevada10.
formação de edema, e um ciclo vicioso será estabe-
lecido conforme as células vão sendo privadas de Outros sinais tardios incluem paralisia, devido à pro-
oxigênio. Se o fluxo sanguíneo adequado não for longada compressão de nervos e danos musculares
restabelecido, o resultado é a morte dos músculos irreversíveis, palidez e ausência de pulso 10 . A pressão
dentro dos compartimentos, condição que só pode intracompartimental é geralmente mais baixa que
ser resolvida por meio de descompressão cirúrgica, a pressão sanguínea arterial, o que faz dos pulsos
denominada fasciotomia1. periféricos e do enchimento capilar pobres indicado-
res do fluxo sanguíneo dentro do compartimento.
A menos que o dano ao endotélio capilar seja re- Um exame detalhado das extremidades deve ser
versível, a restauração do fluxo sanguíneo local irá realizado e registrado frequentemente no prontuário
agravar os danos, causando injúria de reperfusão, do paciente sob risco de desenvolver a Síndrome
através da exsudação de fluidos do endotélio capilar Compartimental10.
danificado e ativação da cascata de coagulação nos
pequenos vasos'. O diagnóstico requer um alto índice de suspeita clíni-
ca, sendo confirmado pela mensuração das pressões
A evolução do quadro pode levar à rabdomiólise, de compartimento'.
caracterizada pela destruição do músculo estriado,
que ocasiona a liberação de mioglobina, substância Há discussões na literatura no que diz respeito ao
capaz de ocluir o túbulo convoluto distal e causar nível de pressão no qual uma fasciotomia deve ser
falência renal. Se não tratada, a rabdomiólise pode realizada. Alguns pesquisadores se baseiam na
levar à sepse e à morte'. pressão de compartimento absoluta, enquanto outros
acreditam que a pressão compartimental é significan-
ASíndrome Compartimental geralmente se apresenta te apenas quando relacionada com a pressão dias-
após a reperfusão de um membro, e a dor e o edema tólica do cliente 11 , considerando que, se a diferença
podem não ocorrer imediatamente. Os primeiros de pressão (pressão sanguínea diastólica menos a
sinais geralmente ocorrem após o paciente ter pressão de compartimento) for maior que 30mmHg,
recuperado a consciência, ter sido submetido aos haverá adequada perfusão do compartimento e a
cuidados pós-anestésicos e retornado à unidade de descompressão cirúrgica pode não ser necessária`.
internação. A maioria das literaturas e recomendações, entre-
tanto, se baseia nas pressões absolutas dentro dos
As primeiras suspeitas geralmente surgem quando compartimentos.
o paciente se queixa de dor severa nos membros
inferiores ao recuperar a consciência ou algumas As pressões normais do tecido variam entre O e
horas após a cirurgia. Alguns pacientes relatam 10mmHg 7 . O fluxo sanguíneo capilar dentro do
dor, apesar do uso de analgesia epidural pós- compartimento pode ser comprometido em pres-
operatória' ,'. Os membros inferiores do paciente sões maiores que 20mmHg. Fibras musculares e
podem apresentar rigidez e edema. O nível de dor nervosas estão em risco de necrose isquêmica se
patológica é considerado muito acima do nível da as pressões forem maiores que 30 a 40mmHg. Os
dor comum pós-operatória, esperada após uma tecidos dentro do compartimento podem se tornar
intervenção cirúrgica'. isquêmicos e necróticos se a pressão não for redu-
zida prontamente".

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Apercepção dos sinais e sintomas é geralmente reali- posições adotadas para cirurgia. A possibilidade
zada pela enfermagem e pode influenciar o resultado de desenvolver a síndrome e rabdomiólise é
se a intervenção for implementada precocemente. especialmente alta na presença de outros fatores de
risco, incluindo obesidade, doença vascular periférica
É possível que um diagnóstico inicial de trombose e duração prolongada da cirurgia.
venosa profunda impeça o diagnóstico correto de
Síndrome Compartimental. A medida das pressões Habitualmente, a descompressão é realizada por
de compartimento irá confirmar a suspeita, enquanto meio de uma fasciotomia, que envolve a abertura
um doppler venoso irá confirmar uma suspeita de cirúrgica da fáscia que envolve os compartimentos
trombose venosa profunda. musculares, visando prevenir a isquemia e a necrose
neuromusculares7812.
Apesar de mais comumente associada ao trauma ou
à cirurgia nos membros, a Síndrome Compartimental O Quadro 1 apresenta dados de estudos realizados
tem sido relatada como uma complicação de algumas utilizados nesta pesquisa.

Quadro 1. Estudos realizados sobre síndrome compartimental relacionada ao posicionamento cirúrgico,


segundo título, autores, procedência, posicionamento, tempo de cirurgia, efeito e resultado

Artig o A u t ores
País utilizada da cirurgia w^: f111a1
1 1

Edema e dor crescente


na região glútea e
Gluteal compartment Heyn J, Ladurner Longa
em ambas as coxas.
syndrome after R, Ozimek A, (tempo não
Munich
, mesmo com anestesia Recuperação
prostatectomy caused by Vogel 1, Hallfeldt Litotomia informado)
Germany pendurai. Extrema dor à completa.
incorrect positioning 3 KK, Mussack T
movimentação passiva
das coxas. Realização de
fasciotomia.
Compression
phenomenon of the
Compressão da veia
popliteal veins by Longa
Atamer C, Langer Würzburg, poplitea, edema Recuperação
bilateral compartment Litotomia (tempo não
C, Rominger M Germany muscular. Realizada completa
syndromes after many informado)
fasciotomia.
hours of surgery
lithotomy position14

Síndrome compartimental
Anterior thigh
de coxa, com atraso
compartment syndrome
no diagnóstico, devido
following prolonged Seybold EA, Worcester, Decúbito Recuperação
12 horas à analgesia epidural
tourniquet application Busconi BD USA lateral completa.
recebida para controle
and lateral positioning
da dor. Realizada
Am J Orthop15
fasciotomia.
Postoperative bilateral
compartment syndrome
resulting from prolonged
Paresia da
urological surgery in Lampert R, Weih Manifestações clinicas
, perna esquerda,
lithotomy position. Serum EH, Breucking Witten, surgiram ap ó s a
Litotomia 12 horas sem sinais de
creatine kinase activity E, Kirchhoff S, Germany extubação. Realizada
regressão até a
(CK) as a warning signal Lazica B, Lang K fasciotomia.
alta do paciente.
in sedated, artificially
respirated patients.
Anaesthesist16
Edema e rigidez em
ambas as pernas 15
Bilateral compartment horas após cirurgia. Dor
Litotomia Queda plantar
syndrome complicating 7 horas e 35 mesmo com uso de
Tuckey J Bristol, UK modificada em ambos os
prolonged lithotomy minutos analgesia extradural.
pés.
position. Br J Anaesth 17 Rabdomiólise e
mioglobinúria.
Realizada fasciotomia.

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li

Dor bilateral nas


Compartment syndrome panturrilhas na sala
Dor persistente
associated with the Turnbull O, Mills de recuperação.
Litotomia e perda de
Sheffield, UK 4 horas mesmo com uso de
Lloyd Davies Position. GH modificada sensibilidade em
Anaesthesia9 analgesia epidural
ambas as pernas.
torácica. Realizadas
fasciotomias.
Edema e rigidez na
perna esquerda, apesar
Compartment syndrome da medida profilática
Dua RS, Bankes (pernas do paciente
foliowing pelvic surgery 5 horas e Recuperação
MJK, Dowd GSE, London, U
K Litotomia foram abaixadas para
in the lithotomy position 30minutos completa.
Lewis AAM posição horizontal por
Ann R ColI Surg Engl5
10 minutos após a 3 1 e
a 51 hora de cirurgia).
Realizada fasciotomia.

Compartment syndrome Edema e rigidez


Parestesia e dor
ofthe leg after less than na perna esquerda,
Meldrum R, moderada na
3 horas e 30 detectados por
4 hours of elevation on Oakland, USA Litotomia coxa ao ficar de
Lipscomb P minutos exame físico antes da
a fracture table South pé por mais de 3
Med 8 extubação. Realizadas
horas.
fasciotomias.
Dor gradualmente
crescente e edema na
Compartment syndrome perna direita. Dor à Perda de
with acute renal failure' Gupta R, Batra extensão passiva dos sensibilidade no
New Délhi, dedos e diminuição da pé e no terço
a rare complication of 5, Chandra R, Genupeitoral 6 horas
India sensibilidade no dorso inferior da perna
spinal surgery in knee- Sharma VK
chest position Spine9 do pé. Rabdomiólise com prejuízo da
e insuficiência renal dorsiflexão.
aguda. Realizada
fasciotomia.
Gluteal compartment
syndrome following Dor na região glútea
Kumar V. Saeed esquerda e rigidez.
joint arthroplasty under Northallerton, Decúbito Recuperação
K, Panagopoulos 3 horas Dor à flexão passiva
epidural anaesthesia: UK lateral completa,
A, Parker PJ do quadril. Realizada
a report of 4 cases
Orthop Surg21 fasciotomia.

lschemic orbital Dor e edema no olho Permanência


compartment syndrome Yu Y, Chen W, Kwei Shan, direito, ptose, perda de de ptose, perda
Prona 4 horas percepção luminosa, completa
after posterior spinal Chen L, Chen w Taiwan
surgery. Spinell acuidade visual e da visão e
oftalmoplegia completa. oftalmoplegia.

Rhabdomyolysis Diminuição da
Dor, edema na região sensibilidade
following total hip Lachiewicz PF. Chapel Hill, Decúbito 8 horas e 05
glútea, paralisia do nervo no dorso do pé,
arthroplasty. J Boné Joint Latimer HA USA lateral minutos
ciático, mioglobinúria. função motora
Surg [Br]22
normal.

anestésica estejam alertas para a presença desta


rara complicação enquanto monitoram o paciente
A Síndrome Compartimental intraoperatória causada em seu período transoperatório e pós-operatório
por posicionamento prolongado tem início sutil imediato18.
e a ausência de achados sintomáticos enquanto
o paciente está anestesiado faz com que ela A posição litotômica e as suas modificações são mais
se torne uma complicação que pode facilmente frequentemente associadas ao desenvolvimento
passar despercebida no período intra ou pós- da Síndrome Compartimental 118 . A etiologia desta
operatório. É importante que as equipes atuantes síndrome em pacientes submetidos às cirurgias em
no centro cirúrgico e na sala de recuperação pós- posição litotômica possivelmente é uma combinação

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da redução da pressão de perfusão arterial pela Síndrome Compartimental5.
elevação dos membros inferiores e do aumento
da pressão de compartimento local causado pela Há relatos de sequelas incluindo parestesia e dor,
compressão direta oriunda dos suportes para dois anos após a realização da cirurgia 18 , exempli-
os membros, seguido de reperfusão arterial e ficando os danos e as limitações que a Síndrome
vazamento capilar do tecido isquêmico e um aumento Compartimental pode acarretar à vida do indivíduo,
no edema tecidual5. prejudicando, inclusive, sua habilidade de continuar
a exercer atividades laborais como anteriormente.
O desenvolvimento da Síndrome Compartimental é
particularmente associado a procedimentos cirúrgicos O erro no diagnóstico, identificando trombose venosa
prolongados. No entanto, estudos analisados profunda, por exemplo, ou o atraso no tratamento da
reportaram a ocorrência desta complicação após Síndrome Compartimental no pós-operatório, quando
cirurgias de média duração, entre 3 e 4 horas518-2° o paciente foi submetido à cirurgia prolongada em
Um dos casos demonstrou que esta complicação posição de risco, é considerado negligência. Um
pode ocorrer mesmo com a aplicação de medidas diagnóstico tardio ou um erro em diagnosticar a
profiláticas que visam a minimização do prejuízo síndrome pode levar, não somente a danos nos
circulatório, no qual os membros inferiores do membros e prolongar a internação hospitalar, como
paciente foram abaixados intermitentemente durante também por em risco a vida do cliente, conforme
a cirurgia, realizada na posição de litotomia5. ocorreu na Indial9. O paciente evoluiu para um
quadro de rabdomiólise e insuficiência renal aguda.
O período de tempo até o surgimento das manifesta- A insuficiência renal foi revertida com sucesso, porém
ções clínicas varia em cada caso, havendo situações houve perda da sensibilidade em parte do membro
em que sinais e sintomas como dor, edema e perda inferior e prejuízo na dorsiflexão, mesmo após
de sensibilidade foram notados somente no quarto realização da fasciotomia19.
dia após a cirurgia', e outros casos em que houve
achados clínicos na sala de recuperação pós-anes- Com o conhecimento dos dias atuais, a equipe de
tésica 918 . Porém, um dos casos aqui retratados, se profissionais de saúde, envolvida na cirurgia e nos
destaca por ter sido diagnosticado ainda no centro ci- cuidados trans e pós-operatórios, deve estar atenta e
rúrgico antes da extubação do paciente, por ocasião alerta para o desenvolvimento desta complicação'.
do exame físico realizado ao final da cirurgia, que Conforme já mencionado, a peça-chave para o
possibilitou o pronto reconhecimento e o tratamento sucesso do tratamento da Síndrome Compartimental
precoce da Síndrome Compartimental 18 , Desta forma, é o diagnóstico precoce, facilitado pela avaliação do
demonstra-se a relevância da adequada monitoriza- enfermeiro e pela monitorização dos sinais clínicos,
ção e avaliação do paciente durante todo o período bem como pela adequada descompressão dos
transoperatório. compartimentos afetados2324.

Conforme descrito em um estudo realizado no Reino O enfermeiro desempenha importante papel na


Unido 9 , pacientes podem apresentar queixas de dor prevenção, na identificação de sinais e sintomas,
mesmo na vigência de uma analgesia epidural, quando na monitorização de complicações e no tratamento
o desenvolvimento da Síndrome Compartimental após a intervenção cirúrgica.
deve ser considerado. Os relatos de dor não devem
ser negligenciados e vigilância especial deve ser São ações importantes aplicáveis ao processo de
realizada quando se trata de pacientes sob anestesia, prevenção, identificação, tratamento e reabilitação
já que estes podem não apresentar as queixas de do paciente 24 : aplicação adequada dos recursos
dor características dos casos de desenvolvimento de proteção utilizados no posicionamento cirúrgico;
da síndrome, possivelmente levando ao atraso mudança periódica de posicionamento ou abaixa-
do diagnóstico e ao agravamento do quadro. A mento dos membros, no caso de posição litotômica,
imediata mensuração da pressão compartimental durante a cirurgia; avaliação criteriosa e maior índice
e fasciotomia apropriada são essenciais para a de suspeita nos casos dos pacientes obesos, por-
prevenção de morbidade permanente decorrente da tadores de doenças vasculares, com estado mental

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alterado ou que estão incapazes de verbalizar dor mento bem sucedido e para prevenção de agravos
ou alterações de sensibilidade; realização de exame é o diagnóstico precoce, possível de ser realizado
físico rigoroso, atentando para sinais do desenvol- mediante exame físico e avaliação criteriosa por
vimento da síndrome, como dor à movimentação, parte do enfermeiro, principalmente nos casos de
enchimento capilar prejudicado, parestesia, palidez, pacientes incapazes de verbalizar dor ou alterações
paralisia e ausência de pulso; notificação imediata à de sensibilidade.
equipe da suspeita de Síndrome Compartimental, a
fim de prevenir maior dano tecidual devido ao atraso A notificação imediata à equipe da suspeita de
no diagnóstico; remoção de dispositivos constritivos, Síndrome Compartimental, a remoção de dispositivos
caso haja, como por exemplo, ataduras; preparação constritivos e a preparação do paciente para a
do paciente para a intervenção cirúrgica, explicando fasciotomia descompressiva são intervenções de
procedimentos, criando uma atmosfera de confiança controle também realizadas pela enfermagem e
e diminuindo seu medo e sua ansiedade; após a fas- que influenciam diretamente no prognóstico do
ciotomia, a ferida geralmente é coberta com gazes paciente.
embebidas em solução salina, que devem ser troca-
das a cada 6 a 8 horas, utilizando técnica asséptica
e realizando avaliação cuidadosa da ferida cirúrgica
para identificação de sinais de infecção; realização A escassez de artigos científicos nacionais sobre
de exercícios ativos e passivos, a fim de assegurar a o assunto, conforme evidenciado pela pesquisa
mobilidade articular e melhorar a drenagem linfática realizada nas bases de dados é um fator que
e venosa, prevenindo complicações a longo prazo, prejudica a obtenção e o aprimoramento de
relacionadas à imobilidade. conhecimento por parte dos enfermeiros e demais
profissionais, tão necessário para uma assistência
I]IsIU1!•] adequada nessa situação de risco, que é a Síndrome
Compartimental.
A revisão sistemática da literatura acerca do
tema Síndrome Compartimental relacionada ao A enfermagem, por ter seu foco no cuidado e prestar
posicionamento, nas bases de dados BVS e assistência direta ao paciente no período transope-
PubMed, levou-nos à análise de 12 artigos científicos, ratório, durante sua permanência na sala de recu-
publicados entre 1991 e 2008, em diversos países. peração pós-anestésica e após o paciente retornar
Dentre os posicionamentos de risco apresentados no para a enfermaria, possui fundamental importância,
Quadro 1, a posição litotômica e as suas modificações principalmente para o reconhecimento precoce do
destacaram-se como as mais prevalentes nos desenvolvimento desta síndrome, podendo contribuir,
casos relatados de desenvolvimento da Síndrome assim, para a minimização de agravos e sequelas
Compartimental no período intraoperatório, por decorrentes deste acometimento.
ocasionar comprometimento do fluxo sanguíneo,
principalmente dos membros inferiores. Desta forma, evidencia-se a necessidade de se
enfatizar a importância da observação criteriosa e
O enfermeiro deve desempenhar importantes ações do exame físico do paciente durante todo o período
relacionadas com a prevenção desta complicação, transoperatório e pós-operatório imediato, importan-
como a aplicação adequada dos recursos de tes contribuintes para o diagnóstico precoce desta
proteção e a mudança periódica de posicionamento complicação.
do paciente durante a cirurgia. Também deve manter
vigilância especial em casos de pacientes obesos, Evidencia-se, também, a necessidade da produção
portadores de doença vascular periférica e cirurgias de mais estudos realizados pela enfermagem sobre
de longa duração, que são fatores de risco que a Síndrome Compartimental relacionada ao posicio-
aumentam a possibilidade de desenvolvimento de namento cirúrgico, com a finalidade de servirem de
Síndrome Compartimental e rabdomiólise. instrumentos de aprendizagem e conhecimento para
os profissionais, visando uma assistência cada vez
Evidenciou-se que o principal fator para um trata- mais qualificada.

Rev. SOBECC, São Paulo. jul./set. 2012: 17(3) 71-80


REFERÊNCIAS 12. Harvey C. Compartment syndrome: when it is
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Fernanda Rabelio Sérgio


Enfermeira graduada pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(U F RJ).
E-mail: fernandarabello1105©gmail.com .

Lys Eiras Cameron


Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica
da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenadora do
Grupo de Estudos em Enfermagem Traumato-Ortopédica.
E-mail: lyscameron©gmail.com .

Isabel Cristina Oliveira Vital


Enfermeira, Mestranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Membro do Grupo de Estudos em Enfermagem Traumato-Ortopédica.
E-mail: icovital©yahoo.com.br .

Controle do equipamento, da exposição


e da carga com a segurança e a qualidade
da marca Cisa.

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