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MESTRADO EM QUALIDADE ALIMENTAR E SAÚDE

Faculdade de Farmácia de Lisboa


Cristina Carvalho
Estudo da distribuição e fatores determinantes das doenças
e lesões nas populações humanas.

A Epidemiologia ocupa-se da frequência e tipo das doenças em


grupos de pessoas e dos fatores que influenciam a sua
distribuição.
Implicações da definição:
 As doenças e/ou efeitos adversos não se encontram
distribuídos ao acaso numa população;
 A distribuição desigual pode ser usada para investigar
fatores causais e estabelecer as bases programáticas da
prevenção, controlo e se possível erradicação.
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O âmbito da Epidemiologia foi-se alargando ao longo do tempo:

1º - Doenças infecciosas
2º - Doenças crónicas: problemas vasculares, reumatismo,
neoplasias
3º - Acidentes; Reações adversas aos medicamentos;
Toxicodependência; Defeitos congénitos; Doenças mentais
4º - Planeamento familiar; Investigação sobre serviços de saúde
5º - Estudo da exposição a Agentes de Risco (Substâncias
químicas; xenobióticos; radiações; etc.) que possam causar
doença.

A ordenação temporal é meramente indicativa e tem que ver com


os flagelos que preocupavam a Humanidade;
No Séc. XVIII se registaram estudos epidemiológicos sobre a
intoxicação com Pb (1767) e o aparecimento do escorbuto (1753)
embora a vit. C só tenha sido isolada em 1928.
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 Prevenção primária- Inclui a promoção geral da saúde e
medidas protetoras específicas (imunização, qualidade do
ambiente, prevenção do risco laboral ou outro)

 Prevenção secundária- Deteção precoce e tratamento


imediato do desiquilíbrio que conduziu a uma doença.
Pretende-se prevenir complicações, limitar as incapacidades e
evitar a propagação da doença.

 Prevenção terciária- Consiste na limitação da incapacidade e


na reabilitação sempre que tenha ocorrido qualquer lesão de
caráter residual.
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 Razão – exprime a relação entre dois números sob a forma
de x:y ou (x/y) x k
 Proporção – é um tipo específico de razão no qual o
numerador está incluído no denominador; o resultado pode
vir expresso em percentagem ou número de casos em 1000,
10 00, 100 000, etc.
 Taxa - uma forma especial de proporção que inclui a
especificação do tempo. É a forma de medição mais
importante em Epidemiologia porque exprime claramente a
probabilidade de ocorrência de um efeito adverso (doença)
numa determinada população e num espaço de tempo
definido.
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Define-se da seguinte forma:

sendo k um nº de pessoas que se quer considerar, ex: 100 000.

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As taxas de morbilidade ou doença pertencem a dois tipos
básicos:

Taxas de incidência
Medem a probabilidade que as pessoas saudáveis têm de
adquirir determinada doença num período de tempo
especificado (geralmente o período de observação é de um
ano mas pode ser outro)

Taxas de prevalência
Medem o número de pessoas de uma determinada população
que num determinado momento têm uma determinada
doença (prevalência pontual).
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Número de casos existentes duma doença
num determinad o momento ou período de tempo
População total

P ~ Id

 A prevalência varia simultaneamente com a incidência e a duração da


doença, ou seja se se trata duma situação aguda a prevalência terá
tendência a ser baixa, enquanto numa patologia crónica, ainda que a
incidência seja baixa, a prevalência tenderá a aumentar.

 A incidência é uma medida direta do risco; pelo contrário uma elevada


prevalência não significa um risco elevado.

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Forma de cálculo Vantagens Desvantagens
Taxas Usa-se a população total. Cálculo fácil para comparações Podem ocultar o facto de sub-
internacionais. grupos da população
brutas ou
apresentarem diferenças
gerais
significativas nos graus de
risco. Apresentam muitas
limitações.

Taxas Usa-se uma fração da população Taxas detalhadas, úteis para Trabalhosas se se quer
(sub-grupo homogéneo) fins epidemiológicos e de comparar muitos subgrupos de
específicas
saúde pública. duas ou mais populações.

Taxas Usa-se o conjunto da população As diferenças na composição São taxas fictícias. O valor
tal como na taxa bruta; os dos grupos são removidas o absoluto depende da
ajustadas
valores são tratados que permite comparações sem população padrão escolhida.
estatisticamente para remover erros sistemáticos. Mascaram as tendências
efeitos das diferenças de opostas existentes nos
composição nas populações. subgrupos.

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❖ OBSERVACIONAIS

*DESCRITIVOS
Estudos longitudinais
Estudos transversais (Cross-sectional studies)

*ANALÍTICOS
Estudos Coorte (do lat. cohort-legião; multidão)
(cohort studies)
Estudos Caso-controlo ou Caso-testemunha
(case-control studies)
❖ EXPERIMENTAIS
(Verdadeiros ou Quasi-experimentais)

*COMUNITÁRIOS
*ENSAIOS CLÍNICOS (Fase I, II e III )
*ESTUDOS ACIDENTAIS

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Não interferem com a progressão dos acontecimentos. O investigador pode
observar a existência de doença em pessoas que não estão divididas em
grupos. As diferenças entre grupos em estudo são observadas e analisadas
mas não são estabelecidas experimentalmente.
 DESCRITIVOS
Estudam a quantidade e distribuição das doenças segundo as pessoas (idade,
sexo, grupo étnico ou raça, estado sócio-económico, ocupação, etc.), o
lugar e o tempo.
Faz-se a vigilância de grupos populacionais para identificar fatores de risco
relativos à exposição; não é condição obrigatória que exista
exposição.Nestes estudos não existe um grupo controlo. Estes estudos
apenas permitem a formulação de hipóteses sobre a etiologia da doença
mas não estabelecem relações causa/efeito.
 Longitudinais
 Transversais (do tipo inquérito) ou “cross-sectional studies”

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 DESCRITIVOS

 Longitudinais
Fazem a análise de dados agregados. Exemplos:
Estudos de tendência secular (ex: incidência de cancro em certos
grupos)
Estudos com base em relatórios clínicos
Estudos ecológicos (ambiente<>doença) e geográficos
(agente<>doença)

 Transversais (do tipo inquérito) ou “cross-sectional studies”


São do tipo inquérito (incluindo rastreios e/ou exames clínicos) e são
fáceis e de execução rápida mas não estabelecem a sequência temporal
de acontecimentos necessária para elaborar relações de causalidade.

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Estudam concretamente os determinantes da doença ou razões que
explicam a sua frequência, elevada ou baixa, em grupos específicos. É
necessária a definição de um grupo exposto e de um grupo não exposto.

 Estudos coorte
A existência de uma exposição é decisiva neste estudo; acompanha-se um
grupo de indivíduos que não possuem sinais nem sintomas da doença
para determinar se a irão ou não desenvolver ao longo do tempo. São
muitas vezes estudos prospetivos mas podem igualmente ser
retrospetivos.
 Estudos caso-controlo (Case control studies)
Os indivíduos são selecionados por estarem doentes ou estarem saudáveis.
A história dos 2 grupos é comparada para se encontrarem fatores
determinantes; são sempre estudos retrospetivos.

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(começaram em 1950)

 Podem ser verdadeiros ou quasi-experimentais dependendo do facto de


permitirem ou não a randomização (de forma a assegurar que a prescrição
de um tratamento seja aleatória, ou seja que todas as possíveis prescrições
têm iguais probabilidades de ocorrer, dentro das limitações do modelo
experimental.
 Existe sempre um grupo controlo e um grupo experimental (grupo
voluntário exposto intencionalmente).
 A exposição é controlada porque o investigador controla a distribuição dos
indivíduos pela(s) variável(eis) independente(s).

 Só em circunstâncias especiais é possível realizar estes estudos numa


população humana.

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Embora com limitações os estudos epidemiológicos
experimentais são importantes e têm como objetivos:
 evitar doenças (ensaios profiláticos)
 tratar processos patológicos (ensaios terapêuticos)

Exigem como pré-requisitos:

 o estabelecimento de um rigoroso protocolo de trabalho


 uma investigação eticamente sólida que envolva o
consentimento consciente dos participantes e a aprovação
por uma comissão independente

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 COMUNITÁRIOS
As unidades de estudo podem ser a comunidade completa ou
sub-divisões.
Ex1: Fluoretação artificial da água (efeito no aparecimento das cáries dentárias)
Ex2: Campanhas de informação a 3 comunidades: consumo gorduras/doença cardio-
vascular

 ENSAIOS CLÍNICOS Fase I,II e III – Precedem o início da comercialização

 ENSAIOS ACIDENTAIS (quasi-experimentais)


Quando um fator aparece de modo natural ou circunstancial numa população e as
caraterísticas da alteração (doença) permitem o seguimento dos indivíduos no
seu meio. Ex: radiações, MeHg, dioxinas, etc.

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Tempo

Com
doença
Expostos

Indiv. Sem
População doença
sem
doença Com
Não doença
expostos
Sem
doença

Investigação
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Tempo

Expostos

Casos

Não
População
expostos

Expostos Controlos

Não Partida
expostos

Investigação
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Recorre ao uso de biomarcadores moleculares para a deteção ou previsão
de efeitos tóxicos.

1-Biomarcadores preditivos de efeito carcinogénico


Biomarcadores de dano do DNA
➢ Medição directa
Aductos com os locais nucleofílicos do DNA ou RNA como:
N-7 da guanina; N-1 e N-3 da adenina; O6-guanina
➢ Medições indiretas
Aductos com proteinas (albumina, hemoglobina)
Outros parâmetros de avaliação
Medição dos metabolitos da oxidação do DNA e medições diretas do dano oxidativo

2-Biomarcadores preditivos de efeitos neurotóxicos


Os aductos pirrol/lactâmicos com proteinas podem ser indicadores de stress
oxidativo que induzem doenças crónicas como as neurodegenerativas.
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Um inventário detalhado de conhecimentos anteriores

➢ Qual(is) indivíduo(s) ou populações em risco

➢ Quais as áreas (geográficas) a serem estudadas ou quais os


alimentos consumidos a escolher

➢ Que via(s) de exposição são relevantes

➢ Que “endpoints” ou efeitos marcantes a nível da saúde


devem ser considerados

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Bibliografia

 Mausner, J.; Kramer, S. 1990. Introdução à Epidemiologia. Editado pela


Fundação Calouste Gulbenkien.

 Jenicek, M., Cléroux, R. 1993. ÉPIDÉMIOLOGIE- principles, techniques,


applications. Editado por Edisem inc. (Québec) e Maloine (Paris).

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