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Linguagens, Códigos e Redação

Aula 1- O que é texto? E textualidade?

Ouvimos a todo momento em muitas situações, que o interlocutor faça uso da “visão de mundo”1 que
Textualidade professores e outras pessoas
afirmarem que se faz necessário
possui, estabelecendo entre ele e o produtor um princípio de cooperação.
Koch & Travaglia (1995, p. 80) afirmam que a intencionalidade
ler o texto, interpretar o texto, também está estreitamente relacionada à argumentatividade e que ao se
redigir o texto, falar o texto e nos perguntamos: mas... O que é texto? acreditar que nenhum texto é neutro, que toda produção textual tem uma
De acordo com Koch (2001) pode-se conceituar texto como: intenção alicerçada em valores, conclui-se que “existe sempre uma
argumentatividade subjacente à linguagem”. Na verdade, os argumentos são
uma manifestação verbal, constituída de elementos lingüísticos marcas ou pistas que permeiam o texto com o objetivo de se levar o receptor
intencionalmente selecionados e ordenados em seqüência, durante
a apreender do texto a leitura que o autor propôs-se a passar. O terceiro fator
a atividade verbal, de modo a permitir aos parceiros, na interação,
não apenas a depressão de conteúdos semânticos, em decor rência de textualidade é denominado de situacionalidade e determina como deve ser
da ativação de processos e estratégias de ordem cognitiva, como produzido o texto. De acordo com a situação comunicativa um texto poderá ou
também a interação (ou atuação) de acordo com práticas não ter sentido, poderá ou não ser relevante, o que nos leva a perceber a
socioculturais (KOCH, 2001, p. 454). importância do contexto de situação. O contexto deve servir como orientação
para a produção e para a recepção, sendo fundamental que o produtor saiba
Na verdade, caro aluno, você deve ter entendido que ao falar em quem é o receptor de seu texto e quais os seus conhecimentos.
texto, a referência faz-se a qualquer passagem, escrita ou falada que A união desses três fatores (intencionalidade, aceitabilidade e
forme um todo significativo e sem extensão determinada. Fávero situacionalidade) é responsável pelo tipo de texto utilizado em cada situação
(1955, p. 7) afirma que se trata de “um conteúdo comunicativo comunicativa. Nem sempre o que é ideal para uma poderá sê-lo para outra
contextual caracterizado pelos fatores de textualidade: coesão,
pessoa e, como afirma Val (1994, p. 14): “essa questão éda maior importância
coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade,
para quem trabalha com o ensino de redação, pois vem daí o fato de que a
situacionalidade e intertextualidade.”
textualidade de cada tipo de discurso envolve elementos diferentes.” Conclui-
Para se trabalhar a produção de texto, ou seja, redigir textos, é
se, então, que nem sempre o que é qualidade num tipo de texto, deverá sê-lo
necessário ter claro os conceitos de texto e textualidade, uma vez que o
no outro.
objetivo dessa prática é formar escritores competentes, que sejam capazes de
Com referência à informatividade, vale lembrar que esse fator
produzir textos eficazes, coesos e coerentes.
está relacionado ao interesse do leitor pelo texto e pelo montante de
Mas, você sabe o que significa ser um escritor competente?
informações de que ele dispõe sobre o tema do texto. Se as informações do
texto forem previsíveis, isto é, de acordo com as expectativas do leitor, esse
texto será avaliado como de baixa informatividade. Por outro lado, o texto que
contém um certo grau de informações previsíveis, mas também novas
informações, será considerado como de maior informatividade e, finalmente, o
texto quase imprevisível em suas informações será o mais rico em
informatividade, apesar de exigir maior dedicação do receptor para sua
decodificação. A intertextualidade faz-se por intermédio do conhecimento
advindo de outro(s) texto(s). Quando o produtor cria o novo texto, ele nem
sempre o constrói a partir de idéias inéditas, mas como resultando daquilo que
já foi apreendido em outros textos. Por outro lado, a recepção desse mesmo
texto depende também, por parte do recebedor, do conhecimento proveniente
de outros textos. Beaugrande e Dressler (apud Elias, 1994, p. 150) consideram
esse processo como “uma mediação entre textos e a justificam quando no
momento da situação comunicativa são introduzidas crenças e propósitos dos
participantes”.
A mediação torna-se mais intensa à medida que se desenvolve e
se faz uso dos variados tipos ou gêneros textuais. Ao serem usadas as
referências ou citações de textos específicos, essa mediação é menor e
quando há replicação, refutação, relato, resumo ou avaliação de outros, a
mediação quase não existe.

O escritor competente, segundo os Parâmetros Curriculares


Nacionais (1990): é o que consegue planejar o discurso e elaborar o seu texto,
observando o seu objetivo, o seu leitor e a tipologia apropriada. Entre os Hora do tombo!
fatores de textualidade apontados por Beaugrande e Dressler (apud Val, 1994,
p. 5) bem como por Fávero (1995, p. 7) a intencionalidade e a aceitabilidade
estão estreitamente ligadas, uma vez que a intencionalidade diz respeito ao 1. (SAS) Não domino a verdade. Nem sequer a conheço. Escrevo sobre aquilo
emissor e a aceitabilidade, ao receptor. O primeiro fator refere-se à intenção que não sei, para poder ficar sabendo. A grande diferença entre a literatura de
do produtor, ao modo como produz o seu texto para alcançar o(s) seu(s) imaginação criadora – a poesia, o romance, o conto – e a literatura de ensaio,
objetivo(s), fornecendo, se preciso for, pistas para que o receptor construa o de crítica, é que nesta se escreve sobre o que se sabe, ao passo que na
primeira se escreve sobre o desconhecido, não se tem a menor ideia do
sentido desejado. Val (1994, p. 10) esclarece que “a meta de uma situação sentido daquilo que se pretende dizer.
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comunicativa pode ser: informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer,


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ou pedir, ou ofender, etc.” Já o segundo fator, efetivar-se-á se o receptor SABINO, Fernando. Martini Seco. São Paulo: Ática, 1989.
entender o texto como um todo coerente e significativo. Para isso é preciso,
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A diferença entre texto literário e não literário estabelecida no d) uma maior insistência na linguagem jornalística, já que nela predomina a
fragmento baseia-se, principalmente, na relação do escritor denotação.
com os fatos da vida cotidiana. Nesse sentido, o texto literário e) um maior exemplo na utilização da norma literária, pela natureza híbrida
diferencia-se pelo discurso desse gênero.
a) calcado na representação da realidade, que busca fidelidade no relato por
meio da linguagem descritiva. 4. (SAS) Examine o seguinte texto, extraído de uma matéria jornalística:
b) desvinculado da realidade, o qual funciona como pano de fundo para a
criação de uma realidade imaginária. Segundo estudos da USP, por ano, 50 milhões de raios caem no país.
c) incoerente com a realidade, caracterizando-se pelo compromisso com a Especialistas dizem que em uma tempestade pessoas devem evitar lugares
fantasia. altos e abertos, como campos de futebol e ficarem sob árvores, dentro do
d) subversivo em reação à realidade, a fim de criticar contextos históricos mar ou piscina.
específicos. Folha de S. Paulo, 7 jan. 2012.
e) inventivo sobre a realidade, sem necessidade total de coerência com
aspectos factuais. Tendo em vista sua finalidade comunicativa, pode-se apontar,
nesse texto, o problema da
2. (Enem 2011) a) ambiguidade.
b) redundância.
c) prolixidade.
d) inadequação léxica.
e) mistura de variedades linguísticas.

5. (SAS) A história do gerente apressado


Certa vez, um apressado gerente de uma grande empresa
precisava de ir ao Rio de Janeiro para tratar de alguns assuntos urgentes.
Como tivesse muito medo de viajar, deixou o seguinte bilhete para sua
recém-contratada secretária:
“Maria, devo ir ao Rio amanhã sem falta.
Quero que você me ‘rezerve’, um lugar, ‘à noite’, no
trem das 8 para o Rio.”
Sabe o leitor o que aconteceu? O gerente, simplesmente, perdeu
o trem! Por quê?
BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita

O gerente perdeu o trem porque a secretária não decodificou


Conflitos de interação ajudam a promover o efeito de humor. No cartum, a problemática mensagem. Qual bilhete é mais adequado
o recurso empregado para promover esse efeito é a para que a comunicação se dê, de fato?
a) intertextualidade, sugerida pelos traços identificadores do homem urbano e a) Maria, devo ir ao Rio amanhã sem falta. Quero que você reserve um lugar,
do homem rural. à noite, no trem das 8 para o Rio.
b) ambiguidade, produzida pela interpretação da fala do locutor a partir da b) Maria, devo ir ao Rio amanhã. Quero que você me compre, um lugar, à
variedade do interlocutor. noite, no trem das 8 para o Rio.
c) conotação, atribuidora de sentidos figurados a palavras relativas às ações c) Maria, compre, para mim, uma passagem, em cabina com leito, no trem
e aos seres. das 20h de amanhã (4ª feira), para o Rio de Janeiro.
d) negação enfática, elaborada para reforçar o lamento do interlocutor pela d) Maria, vou ao Rio amanhã impreterivelmente. Quero que você me compre,
perda da estrada. à noite uma passagem para o Rio no trem das 8.
e) pergunta retórica, usada pelo motorista para estabelecer interação com o e) Maria, devo ir no Rio amanhã. Quero que, à noite você me reserve, sem
homem do campo. falta, um, lugar, no trem das oito.

3. (SAS) A última crônica 6. (Enem PPL 2012) Cientistas solucionam origem de partículas de água
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto em Saturno
ao balcão. Na realidade, estou adiando o momento de escrever. A O telescópio espacial Herschel resolveu 1um problema que ficou
perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito sem solução durante 14 anos. 2A origem dos vapores de água na atmosfera
mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada superior de Saturno encontra-se nas partículas que saem de uma de suas
um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso luas, a Enceladus, e chegam até o planeta.
3A descoberta faz com que a Enceladus torne- se conhecida, a
conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida.
Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer partir de agora, como a única lua do Sistema Solar capaz de influenciar 5a
um flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num incidente composição bioquímica do planeta que orbita.
4O volume despejado a cada segundo não é pouco. A Enceladus
doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem
mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso chega a expelir aproximadamente 250 kg de vapores de água que se formam
do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. na região polar sul. Desse total, uma parte é perdida no espaço e entre 3% a
Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de 5% deslocam-se até Saturno.
6O fenômeno, de certo modo, pôde ser compreendido graças ao
mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
9avanço da tecnologia. Os astrônomos não conseguiram detectá-lo até o

SABINO, Fernando. In: Para gostar de ler. São Paulo,1979. momento por causa da 7transparência dos vapores. Coube às ondas
Sendo a crônica um gênero veiculado pelo jornal, recomendase, infravermelhas do Herschel 8esse encargo e achado.
a exemplo do texto, A primeira vez que um telescópio da ESA (Agência Espacial
a) o uso da norma coloquial pelo desejo de atingir o grande público. Europeia) detectou água na atmosfera superior de Saturno foi em 1997.
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b) uma mescla entre o erudito e o popular para uma maior abrangência de


leitura. www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 26 jul. 2011.
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c) o uso da norma culta, porém com informalidade para atingir de forma


eclética os leitores.
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Um texto é construído pela articulação dos vários elementos que o — e da falta de apoio econômico, o cordel continua vivo no interior e em
compõem. Tal articulação pode se dar por meio de palavras ou de cenáculos acadêmicos.
expressões que remetem a outras ou, ainda, a segmentos maiores já A literatura de cordel, as xilogravuras e o repente não foram
apresentados ou a serem ainda apresentados no decorrer do texto. A apenas um divertimento do povo. Cordéis e cantorias foram o professor que
análise do modo como esse texto foi construído revela que a expressão ensinava as primeiras letras e o médico que falava para inculcar
a) O “um problema” (ref. 1) remete o leitor para “A origem dos vapores de comportamentos sanitários. O cordel e o repente fazem, muitas vezes, de
água na atmosfera superior de Saturno” (ref. 2), segmento que se um candidato o ganhador da banca de deputado. E assim, lendo e
encontra na frase seguinte. ouvindo, foi-se formando a memória coletiva desse povo alegre e
b) “A descoberta” (ref. 3) retoma “um problema que ficou sem solução trabalhador, que embora calmo, enfrenta o mar e o sertão com a mesma
durante 14 anos.” (ref. 1), segmento que aparece na primeira frase do valentia.
texto.
c) “O volume despejado” (ref. 4) retoma “a composição química do planeta BRICKMANN, L. B. E de repente foi o cordel. 29 fev. 2012
que orbita.” (ref. 5), segmento apresentado na frase imediatamente
anterior. O gênero textual cordel, também conhecido como folheto, tem origem
d) “O fenômeno” (ref. 6) remete o leitor para “transparência dos vapores” (ref. em relatos orais e constitui uma forma literária popular no Brasil. A
7), segmento que é apresentado na frase seguinte. leitura do texto sobre a literatura de cordel permite
e) O “esse encargo e achado” (ref. 8) retoma “avanço da tecnologia” (ref. 9), a) descrever esse gênero textual exclusivamente como instrumento político.
segmento presente na porção anterior do texto. b) valorizar o povo nordestino, que tem no cordel sua única forma de
expressão.
7. (SAS) Geni e o Zepelim c) ressaltar sua importância e preservar a memória cultural de nosso povo.
d) avaliar o baixo custo econômico dos folhetos expostos em barbantes.
De tudo que é nego torto e) informar aos leitores o baixo valor literário desse tipo de produção.
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada 9. (Enem PPL 2016) Árvore é cortada para dar lugar à propaganda sobre
O seu corpo é dos errantes preservação ambiental
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada “Uma criança abraça uma árvore com o sorriso no rosto. No fundo
verde, uma mensagem exalta a importância da preservação da natureza e
Dá-se assim desde menina lembra o Dia da Árvore”. O que seria um roteiro padrão para uma peça
Na garagem, na cantina publicitária virou motivo de revolta e indignação em uma cidade do interior de
Atrás do tanque, no mato São Paulo. Isso porque uma empresa de outdoor derrubou uma árvore
É a rainha dos detentos centenária em um terreno para a instalação de suas placas.
Das loucas, dos lazarentos A empresa teria informado que tinha autorização da prefeitura e da
Dos moleques do internato polícia ambiental para cortar a árvore. Sobre a propaganda, a empresa disse
que foi “uma infeliz coincidência”, já que não sabia o que iria ser anunciado.
E também vai amiúde Em nota, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
Co’os velhinhos sem saúde (Cetesb), ligada à Secretaria do Meio Ambiente do governo paulista, informou
E as viúvas sem porvir que não há nenhuma autorização em nome da empresa para o corte da
Ela é um poço de bondade árvore.
E é por isso que a cidade A multa, segundo a polícia ambiental, varia entre R$100 e R$
Vive sempre a repetir 1.000 por árvore ou planta cortada.

Joga pedra na Geni Disponível em: http://oglobo.globo.com. Asso em: 21 set. 2015
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar O texto apresenta uma crítica ao uso social de um outdoor. Essa crítica
Ela é boa de cuspir está associada ao fato de
Ela dá pra qualquer um a) uma multa de R$ 100 a R$ 1.000 ser aplicada por corte de árvore ou de
Maldita Geni planta.
(...) b) a Secretaria do Meio Ambiente ter negado a autorização do corte da
BUARQUE, C. Geni e o Zepelim (fragmento). árvore.
c) a empresa informar que foi uma “infeliz coincidência” o corte da árvore.
A partir do início do fragmento selecionado acima, uma série de versos d) uma campanha ambiental ter substituído uma árvore centenária.
consecutivos vai caracterizando a personagem Geni em uma mesma e) a empresa utilizar a imagem de uma criança na campanha.
direção semântica e segundo uma mesma lógica, até que um
determinado verso provoca uma ruptura significativa nessa trajetória, Desafio.
criando uma intensa oposição de sentido no poema. Esse verso é
a) “Dá-se assim desde menina”. Entrando em um restaurante, ela percebeu que o ar condicionado não
b) “É a rainha dos detentos”. estava funcionando. Sentou-se a uma mesa com toalha xadrez. O que
c) “Ela é um poço de bondade”.
escolher? Trouxeram o cardápio. Ela se decidiu quase sem olhar.
d) “Joga pedra na Geni”.
e) “Ela dá pra qualquer um.” Quando chegou o prato, apenas beliscou.

8. (Enem 2014 – 3ª Aplicação) a) Quem é "ela"? g) Como estava o tempo naquele dia?
A literatura de cordel é ainda considerada, por muitos, uma b) Idade? h) Por que foi ao restaurante?
literatura menor. A alma do homem não é mensurável e — desde que o c) Aparência? i) Faixa de preços?
cordel possa exprimir a história, a ideologia e os sentimentos de qualquer d) Roupas? j) Como você explica a atitude da pessoa?
homem — vai ser sempre o gênero literário preferido de quem procura
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e) A hora? k) Qual tipo de restaurante era?


apreender o espírito nordestino. Os costumes, a língua, os sonhos, os medos
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e as alegrias do povo estão no cordel. Na nossa época, apesar dos jornais e


da TV — que poderiam ter feito diminuir o interesse neste tipo de literatura

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