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Estabilidade de taludes e obras de terra

Estabilidade de taludes: movimentos de massa e classificações;


De acordo com a United States Geological Survey (2004), o termo “movimentos de massa”
descreve uma ampla variedade de processos que resultam no movimento para baixo e para
fora dos materiais formadores de encostas, incluindo rocha, solo, preenchimento artificial ou
uma combinação destes.
Nos movimentos de massa a ruptura é caracterizada pela formação de uma superfície de
cisalhamento contínua na massa de solo. Existe. portanto, uma camada de solo em torno da
superfície de cisalhamento que perde suas características durante o processo de ruptura,
formando assim uma zona cisalhada e, em seguida, a superfície de cisalhamento.
De acordo com Li e Mo (2019) um grande número de sistemas de classificação de movimentos
de massa surgiram desde meados do século 19, porém um desses sistemas de classificação, o
sistema de Varnes (Varnes, 1978), ganhou aceitação mundial.
O sistema de Varnes (1978) subdivide os movimentos de massa em: queda,
tombamento, escorregamento, expansão lateral, escoamento e complexo. A proposta foi
revisada por Hungr et al (2014) que ajustou as características dos principais grandes grupos de
processos de escorregamento, Quadro 1.

Tipo de movimento Rocha Solo

Queda de
Queda Queda de rochas/gelo*
pedregulho/detrito/silte*
Tombamento de bloco
de Tombamento de
cascalho/areia/silte*
Tombamento rocha*
Tombamento a flexão de
-
rocha
Escorregamento
rotacional Escorregamento rotacional de
argila/silte
de rocha
Escorregamento planar
de Escorregamento planar de
argila/silte
rocha*
Escorregamento/Deslizament Escorregamento em
o cunha Escorregamento de
pedregulho/areia/detrito*
de rocha*
Escorregamento de Escorregamento complexo de
rocha complexo argila/silte
Escorregamento
irregular de -
rocha*
Espalhamento de areia/silte
Espalhamento de talude
liquefeito*
Espalhamento de
Espalhamento de argila
rocha
sensitiva *
Fluxo seco de
areia/silte/detrito
Corrida úmida de
areia/silte/detrito*
Fluxo úmido de argila
sensitiva*
Avalanche de
Escoamento Corrida de detritos*
rocha/gelo*
Corrida de lodos*
Inundação de detritos
Avalanche de detritos*
Fluxo de terra
Fluxo de turfa
Deformação de talude
de Deformação de talude de solo
Deformação de montanha
talude Deformação de talude Rastejo de solo
de
rocha Solifluxão

*Movimentos que usualmente atingem velocidades extremadamente altas


Métodos de análise de estabilidade de taludes;
A literatura classifica os métodos baseando-se em três grupos:
 Métodos de equilíbrio limite (MEL);
 Métodos dos elementos finitos (MEF);
 Métodos da análise limite (MAL).
Método de Equilíbrio Limite
As análises consistem em determinar se existe resistência suficiente no talude (rocha ou solo)
para suportar as tensões de cisalhamento que tendem a provocar a falha ou deslizamento, ou
seja, busca uma superfície de deslizamento crítica que dá um valor mínimo do fator de
segurança global. Pode-se cita como Métodos baseados no Equilíbrio Limite:
• Método das fatias
É usado na estabilidade de estruturas geotécnicas com condições complicadas, como solos
com múltiplas camadas e condições complicadas de água subterrânea. Procedimento:
1. Assumindo a superfície de deslizamento de teste
2. Dividindo o bloco deslizante em fatias verticais
3. Equilíbrio de força e momento para cada fatia e equilíbrio geral de momento e força
4. Fator de segurança na resistência ao cisalhamento da superfície de deslizamento de
teste
5. Encontrando o fator mínimo de segurança

• Método Simplificado de Bishop


A superfície de deslizamento é circular, as forças nas laterais das fatias são horizontais (não
tem forças cisalhantes entre as fatias). Critério de Falha:
s=c′+(σ-u)∙tanϕ′
O fator de segurança é dado pelas equações de equilíbrio de forças verticais e de momentos.
𝑐 . 𝑙. 𝑐𝑜𝑠𝛼 + (𝑊 − 𝑢. 𝑙. 𝑐𝑜𝑠𝛼)𝑡𝑎𝑛Ø′
𝛴[ ]
𝑐𝑜𝑠𝛼 + (𝑠𝑖𝑛𝛼. 𝑡𝑎𝑛Ø )/𝐹 (12)
𝐹=
𝛴𝑊. 𝑠𝑖𝑛𝛼

 Método Modificado de Jambu


As forças verticais tangenciais (cisalhantes) entre fatias adjacentes são desprezadas no cálculo
(XR-XL=O). O método de Jambu Simplificado utiliza as equações de forças em sua formulação.
Anos depois, Jambu propôs um fator de correção empírico f0, para satisfazer a equação de
momentos
Para levar em consideração as forças de cisalhamento entre fatias, Jambu et al. aplicou o fator
de correção f0 e forneceu o fator de segurança Ff pela seguinte equação:

fo depende da geometria do problema e das condições do solo.


 Método de Morgenstern e Price
Método rigoroso aplicado a superfícies de ruptura quaisquer. As condições de estabilidade
satisfazem simultaneamente todas as condições de equilíbrio de forças e de momentos Para
resolver a indeterminação do problema, admite-se uma relação entre as forças E e T da
seguinte forma:
T = 𝛌.f(x).E

𝛌 = constante a ser determinada por processo iterativo;


f(x) = função que precisa ser especificada.
Geralmente, arbitra-se para f(x) a função arco de seno, pois é a função que menos influencia o
valor final do fator de segurança, segundo Morgenstern & Price (1965).
Métodos dos elementos finitos
O Método consiste em subdividir o domínio de um problema em partes menores,
denominadas elementos finitos. Uma aplicação típica do método envolve dividir o domínio do
problema em uma coleção de subdomínios, sendo cada subdomínio representado por um
conjunto de equações que são elemento do problema original, seguido de recombinar
sistematicamente todos os conjuntos de equações do elemento num sistema global de
equações para o cálculo final. O sistema global de equações tem técnicas de solução
conhecidas, e pode ser calculado desde o(s) valor(es) iniciais do problema original, para obter
uma resposta numérica.
• um conjunto de equações algébricas para problemas de estado estacionário,
• um conjunto de equações diferenciais ordinárias para problemas de estado
transiente.
Métodos da análise limite
(Drucker e Prager, 1952) Os Métodos da análise limite é baseado em dois teoremas:
(i) teorema do limite inferior, que estabelece que qualquer campo de tensões estaticamente
admissíveis fornecerá uma estimativa mais baixa da carga ligada ao colapso
(ii) o teorema do limite superior, que afirma que quando a energia dissipada por qualquer
campo de velocidades cinematicamente admissível é comparado com a energia dissipada pela
carga externa, em seguida, as cargas externas são limites superiores da carga de colapso
verdadeiro.
Barragens de terra e enrocamento;
A barragem de terra é uma estrutura construída em sentido, geralmente, transversal ao fluxo
de um curso d'água, de tal forma que permita a formação de um reservatório artificial. Esse
terá a finalidade de acumular água ou elevar o nível do curso. As barragens de terra são as mais
elementares obras de barragens e normalmente se prestam para qualquer tipo de fundação,
desde a rocha compacta, até terrenos construídos de materiais incosolidados. Existe uma certa
variabilidade no tipo de barragem de terra, que poderá ser homogêneo ou zonado.
a) Homogêneo - é aquele composto de uma única espécie de material, excluindo-se a
proteção dos taludes. Nesse caso, o material necessita ser suficientemente impermeável, para
formar uma barreira adequada contra a água, e os taludes precisam ser relativamente suaves,
para uma estabilidade adequada.
b) Zonado - esse tipo é representado por um núcleo central impermeável, envolvido
por zonas de materiais consideravelmente mais permeáveis, zonas essas que suportam e
protegem o núcleo. As zonas permeáveis consistem de areia, cascalho ou fragmentos de rocha,
ou uma mistura desses materiais.
Barragens de Enrocamento são o tipo de barragem em que são utilizados blocos de rocha de
tamanho variável e uma membrana impermeável na face de montante. O custo para a
produção de grandes quantidades de rocha, para a construção desse tipo de barragem,
somente é econômico em áreas onde o custo do concreto fosse elevado ou onde ocorresse
escassez de materiais terrosos e houvesse, ainda, excesso de rocha dura e resistente. Os blocos
de rocha são colocados de modo a se obter o maior contato entre suas superfícies e os vazios
entre elas, que são preenchidos por material de menor tamanho.
No projeto do maciço compactado de uma barragem é necessário programar cuidadosamente
análises de estabilidade adequadas para dimensionar as declividades dos taludes em termos
econômicos e seguros, principalmente quando se trata de barragem de grande altura; dessa
forma os fatores de segurança a serem introduzidos nas análises de estabilidade de taludes de
barragens devem cobrir as incertezas relacionadas com:
 as resistências dos diversos horizontes dos solos de fundações e ombreiras e das
diversas zonas dos solos compactados do maciço da barragem,
 as pressões neutras construtivas.
 a distribuição das pressões intersticiais de rede de fluxo permanente.
 a grandeza e a distribuição das subpressões nas fundações
 a eficiência de sistemas de vedação.
 a eficiência de sistemas de alívio de subpressões.
 as vazões de percolação.
 a eficiência do sistema de drenagem interna.
 as imprecisões dos métodos de cálculo.
 as eventuais falhas construtivas.
 a configuração geométrica dos taludes internos e externos e dos materiais
Aterros sobre solos moles;
Gonçalves (Solos moles são solos sedimentares com baixa resistência à penetração (SPT≤ 4)
em que a fração argila imprime as características de solo coesivo e compressível. São em geral,
argilas moles ou areias argilosas fofas de deposição recente.
Problemas Característicos de Obras em região de solos moles:
•Estabilidade
•Recalques
•Interferência dos recalques do solo nos elementos estruturais

Preocupações:
•Estabilidade das fundações de obras de arte
•Recalques diferenciais entre as obras de arte (da ordem de decímetro) e os aterros de
encontros (da ordem de metro) formando degraus
•Estabilidade das fundações de edificações próximas a solos moles

Roteiro para Análise de Estabilidade


Tanto nos projetos convencionais quanto nos especiais de aterros sobre argila mole, a análise
de estabilidade deve ser desenvolvida de acordo com o roteiro básico a seguir, em ordem
crescente de detalhamento do projeto:
a) Cálculo da altura máxima admissível do aterro para a resistência média não drenada Su da
fundação; Uma estimativa inicial da altura crítica HC de um aterro sobre a argila mole pode ser
feita utilizando-se teorias de capacidade de carga.
b) Definição do talude do aterro, para o qual se recomenda a inclinação de 1(V) : 2(H), e de sua
resistência, mediante a utilização, no caso de aterros com altura superior a 3,0 m, dos ábacos
de Pilot e Moreau (1973), que consideram a resistência do aterro ( at 0; cat = 0) e admitem a
resistência Su da argila mole constante com a profundidade; no caso de aterros com altura h
inferior a 3,0 m, dos ábacos de Pinto (1974), que desprezam a resistência do aterro mas
admitem Su constante com a profundidade;

c) Análise de estabilidade utilizando métodos de fatias e com o apoio de programas de


computador, através dos métodos de:
Bishop simplificado, quando forem previstas superfícies potenciais de ruptura do tipo
circular (casos correntes);
Jambu simplificado, quando forem previstas superfícies potenciais de ruptura do tipo
não circular (casos especiais).

Instrumentação
As técnicas de observação do comportamento de aterros sobre solos moles incluem a
seleção do tipo e a determinação da quantidade de instrumentos a serem utilizados, sua
localização e instalação, a aquisição de dados, a análise e a interpretação dos resultados.
Sumariamente, a instrumentação pode ter os seguintes objetivos (Terzaghi et al, 1967):

 detecção de perigo iminente;


 obtenção de informações vitais durante a construção;
 avaliação do comportamento de medidas corretivas (por exemplo, reforço de
fundação);
 melhoria do método construtivo;
 acumulação de experiência local;
 prova judicial;
 avaliação de modelos matemáticos e de mecanismos de comportamento.

Em se tratando de aterros sobre solos moles, os problemas mais importantes são os que
dizem respeito à estabilidade e as deformações, os quais estão inseridos nas observações
destinadas a detecção de perigo iminente e à obtenção de informações vitais durante a
construção
De acordo com a norma DNIT 381/2021 Os instrumentos a serem empregados poderão ser,
mas não se limitam a:
 Pinos de recalque a serem chumbados em uma estrutura rígida permitindo observar os
seus deslocamentos com uso de instrumentos topográficos de precisão.
 Marcos superficiais que servem para medir deslocamentos superficiais do aterro,
 Placas de recalque à medida que o aterro sobe e permite o nivelamento topográfico da
sua extremidade superior e a obtenção dos recalques.
 Referência de Nível Profunda (RNP) Referência de nível estável para as observações de
recalque que é ancorada no terreno resistente em profundidade e fora do campo de
deslocamentos provocados pela obra. É instalada em furo de sondagem
 Perfilômetro Instrumento que permite observar recalques de um aterro de maneira
contínua, obtendo-se um perfil horizontal de recalques. Medições mais acuradas
podem ser obtidas com a utilização de inclinômetros horizontais.
 Inclinômetros Instrumentos para observar deslocamentos horizontais. Constam de um
tubo de acesso instalado no terreno e um torpedo sensor deslizante para leituras
periódicas,
 Extensômetro elétrico de corda vibrante Pequenos instrumentos usados no princípio
da corda vibrante para medir deformações lineares.
 Piezômetro e Indicador de nível d’água instalados em furos de sondagem para a
observação de poropressões.
REFERENCIAS
Márcio Almeida, Maria Esther Soares Marques 2014 Aterros sobre solos moles – 2ª edição
Heloisa Helena Silva Gonçalves 2020 Aterros sobre solos moles USP
DNIT 381/2021 Projeto de aterros sobre solos moles para obras viárias

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