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PSICOLOGIA COGNITIVA II

1º ano / 2º semestre

2022/2023
2º semestre

O Desenvolvimento da
Linguagem
“L’Enfant Sauvage”.
François Truffaut, 1970
Que competências adquire Victor e quais não adquire apesar dos esforços

SIM NÃO
■ Marcha bípede ■ Não imita fonemas
■ Imita comportamentos motores ■ Não adquire símbolos arbitrários
(quando adquire é o alfabeto e
■ Coordenação motora fina (põe a algumas sequências)
mesa, abre fechaduras)
■ Uso meramente utilitário das
■ Aprende a reconhecer o seu nome palavras escritas adquiridas
■ Vinculo afetivo ■ Não adquire gramática
■ Desenvolve gestos icónicos para ■ Não tem uso intencional e
comunicar espontâneo de quase nenhum dos
signos linguísticos
■ Compreende a linguagem
■ Não parece adquirir noção da
■ Sentido de justiça
palavra
■ Criatividade (inventa artefactos)
• Victor de Aveyron (cerca de 1788 — 1828) foi
uma criança selvagem que foi encontrado na
França em 1798, sendo acolhido pelo jovem
médico francês Jean Marc Gaspard Itard.
• As crianças Amala e Kamala, também
conhecidas como as meninas lobo, foram
encontradas na Índia no ano de 1920. A
primeira delas tinha um ano e meio e faleceu
um ano mais tarde. Kamala, na altura com oito
anos de idade, e viveu até 1929.
• Kaspar Hauser tornou-se conhecido na
Alemanha por supostamente ter passado a sua
vida numa masmorra, sem contato com
humanos, sendo alimentado apenas com pão e
água. O jovem, teria quinze anos de idade,
quando apareceu numa praça pública de
Nuremberg (26 de maio de 1828), apenas com
uma carta endereçada ao capitão do 4º
esquadrão do 6º regimento de cavalaria,
explicando parte de sua história.

Criança selvagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Crian%C3%A7a_selvagem


L’Enfant Sauvage – The Feral Child
■ As “crianças selvagens” são crianças que cresceram com contacto
humano mínimo, em privação sensorial de estímulos típicos.
■ Podem ter sido criadas por animais ou terem sobrevivido sozinhas.
Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância
e, depois, anos mais tarde, descobertas e recolhidas entre
humanos.
■ Em termos de linguagem, só conhecem a mímica e os sons animais.
A sua capacidade para aprender uma língua no seu regresso à
sociedade humana é muito variada. Algumas nunca aprendem a
falar, outras aprendem algumas palavras, outras ainda aprenderam
a falar corretamente o que sugere que tinham aprendido a falar
antes do isolamento.

■ Nature vs. Nurture


A “criança selvagem” moderna
■ Casos em que crianças foram vítimas de abuso e maus tratos,
sendo isoladas do contato com outras pessoas.
■ Genie (nome fictício), relatado por Curtiss (1977), descoberta aos 13
anos amarrada a uma cadeirinha numa casa em Los Angeles.
■ Não foi exposta a praticamente nenhum idioma desde os 20 meses
de idade até ser resgatada aos 13 anos.
■ Apesar da instrução intensiva, ela aprendeu apenas algumas
palavras e nunca foi capaz de dominar as complexidades da
linguagem (Rymer, 1994; Veltman & Browne, 2001).
■ Estes casos parecem sustentar a hipótese da existência de períodos
críticos para a aprendizagem da linguagem.
O que é a linguagem?
■ A linguagem permite a comunicação relacionando sons (ou gestos)
com um significado.
■ É um sistema complexo, existem entre 6000-7000 línguas
humanas, que permitem um nº infinito de frases.
■ Há evidência de predisposições biológicas, mas a investigação
também sublinha o importante papel da cultura e da socialização.
O que é a
linguagem?

■ Se definirmos a linguagem,
simplesmente como um
sistema de comunicação,
então muitos animais têm
linguagem, incluindo os
pássaros e as abelhas.
https://www.youtube.com/watch?v=12Q8FfyLLso
O que é a
linguagem?

■ Se considerarmos o uso de
símbolos para representar
objetos e ações, então os
chimpanzés têm linguagem.
Projeto Washoe:
https://www.youtube.com/watch?v=OUwOvF7TqgA&t=28s

Projeto Washoe (chimpampanzé washoe ensina


American Sign Language (ASL) ao filho Loulis:
https://www.youtube.com/watch?v=55put3MLZcw
O que é a
linguagem?

■ Linguagem é a comunicação
de pensamentos e
sentimentos por meio de
símbolos que são organizados
de acordo com as regras da
gramática.
O que é a linguagem?
■ A linguagem humana inclui sistemas de símbolos falados, escritos
ou sinalizados, que as pessoas usam para comunicar umas com as
outras.
■ A linguagem permite saber o que os outros sabem e sentem,
descrever eventos passados, referir-se ao futuro e transmitir
informações de geração em geração, criando uma herança cultural
comum.
■ A linguagem não é apenas central para a comunicação, mas
também está intimamente ligada à maneira como pensamos e
entendemos o mundo.
■ Sem a linguagem, a nossa capacidade de transmitir informações,
adquirir conhecimento e cooperar com os outros estaria
tremendamente limitada.
Propriedades da linguagem

■ A Psicolinguística* distingue a presença de 2 grandes níveis estruturais:


– a palavra (relação arbitrária com o significado).
– a frase (inclui regras gramaticais e permite a produção de um nº
praticamente infinito de frases).
■ A estrutura básica da linguagem baseia-se na gramática, um
sistema de regras que determina como nossos pensamentos podem
ser expressos.
■ A gramática articula três dos componentes da linguagem: fonética,
sintaxe e semântica.

* A Psicolinguística é o estudo das conexões entre a linguagem e a mente


Propriedades da linguagem

■ Fonética é o estudo dos fonemas (as unidades básicas da fala) e a


maneira como usamos esses sons para formar palavras e produzir
significado.
■ Sintaxe refere-se às regras que indicam como palavras e frases
podem ser combinadas. Todas as línguas têm regras que orientam a
ordem na qual as palavras podem ser encadeadas para comunicar
um significado.
■ A semântica, que lida com o significado das palavras e frases.
■ A pragmática preocupa-se com a forma como a língua é usada de
acordo com o contexto, a audiência, e os objetivos.
Propriedades da linguagem
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture
A linguagem enquanto competência aprendida.
■ Esta abordagem sugere que a aquisição da linguagem resulta da
imitação e do reforço, seguindo os princípios do condicionamento
operante.
■ As crianças aprendem a falar ao serem recompensadas por emitir
sons que se assemelham à fala dos adultos. Por um processo de
modelagem, a linguagem aproxima-se progressivamente da sua
forma adulta (Skinner, 1957; Ornat & Gallo, 2004).
■ Esta hipótese é suportada pelo facto de que crianças a partir dos 3
anos, expostas a ambientes familiares linguisticamente ricos,
apresentam um vocabulário mais rico, e maior desenvolvimento
intelectual (Hart & Risley, 1997).
■ Não explica a aquisição das regras da linguagem, nem a produção
de novas palavras e frases.
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture

A linguagem enquanto competência aprendida.


■ Uma proposta alternativa ao associacionismo behaviorista é a
perspetiva cognitivista (e.g., Braine, 1992; Tomasello, 2005).
■ Afirma que a aprendizagem da gramatica não requer um mecanismo
inato. A aquisição das regras da linguagem resulta da identificação
de regularidades e padrões durante as interações linguísticas. A sua
comparação com as regras anteriormente armazenadas, permite
identificar novos padrões. Ou seja, a aquisição linguística é um
processo cognitivo.
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture
A linguagem como competência inata.
■ As crianças, não se limitam a reproduzir um idioma tal como é
falado com elas, mas constroem uma compreensão própria, do
significado e das regras gramaticais. Perante isto, Chomsky propôs
que os seres humanos possuem um processador linguístico inato,
um dispositivo de aquisição de linguagem (LAD; Chomsky, 1959,
1972).
■ Assim, todas as línguas do mundo compartilhariam uma estrutura
subjacente comum, a que chamou gramática universal.
■ Este processador linguístico estaria já presente aquando do
nascimento e seria ativado à medida que as crianças ouvem e
respondem aos estímulos verbais que ocorrem naturalmente à sua
volta.
https://youtu.be/7Cgpfw4z8cw
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture
A linguagem como competência inata.
■ A tese do bioprograma linguístico de Bickerton (1984). Oferece uma
explicação para a aquisição da linguagem semelhante à de
Chomsky.
■ Segundo Bickerton, as crianças desenvolveriam uma linguagem
gramatical, mesmo não sendo expostas à linguagem formal durante
os primeiros anos de vida.
■ Esta tese baseia-se na observação da forma como as línguas
“pidgin” evoluem para o crioulo.
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture
A linguagem como competência inata.
■ Esta hipótese é suportada por várias observações:
– Certas áreas do cérebro são dedicadas ao processamento da
linguagem (e.g., área de Broca e área de Wernicke).
– Apenas o “homo sapiens” adquire regras gramaticais de forma
espontânea. Os esforços para ensinar linguagem com regras
gramaticais a chimpanzés obtiveram resultados muito
limitados.
– A existência de um período critico para o desenvolvimento da
linguagem.
– O desenvolvimento da gramática segue de perto o
desenvolvimento do vocabulário, sugerindo a existência de um
“sistema da linguagem”.
As origens da linguagem humana -
Nature vs. Nurture
A abordagem interaccionista.
■ Sublinha o papel da interação e da função comunicativa da
linguagem.
■ Propõe que o desenvolvimento da linguagem é produzido através de
uma combinação de predisposições genéticas e circunstâncias
ambientais que ajudam a ensinar a linguagem.
■ A hipótese do relativismo linguístico (Whorf, 1956) afirma que a
linguagem estrutura a maneira como percebemos o mundo. Ou seja,
as categorias e relações que usamos para entender o mundo são
derivadas da nossa linguagem.
■ Portanto, falantes de várias línguas qualificam o mundo de maneiras
diferentes
How language shapes the way we think:
https://www.ted.com/talks/lera_boroditsky_how_language_shapes
_the_way_we_think
UM EXEMPLO DA INTERAÇÃO
LINGUAGEM - PENSAMENTO:
A VARIABILIDADE CULTURAL NA
EXPRESSÃO DE EMOÇÕES
Associação de cluster
Número
Emotions Cluster Distância
do caso
1 Aborrecido 1 0,689
6 Cansaço 1 0,472
20 Letargia 1 0,53
29 Sono 1 1,33
34 Tristeza 1 0,952
9 Culpa 2 1,17
10 Desprezo 2 0,723
17 Inquietação 2 0,75
21 Medo 2 1,022
22 Nervosismo 2 0,728
24 Raiva 2 0,861
26 Repugnância 2 0,99
32 Tensão 2 0,968
35 Vergonha 2 1,141
2 Admiração 3 0,347
3 Alegria 3 0,734
5 Amor 3 1,145
7 Comoção 3 1,271
11 Diversão 3 0,454
12 Energia 3 1,183
13 Entusiasmo 3 1,048
14 Esperança 3 1,17
15 Excitação 3 1,403
18 Inspiração 3 0,526
19 Interesse 3 0,159
23 Orgulho 3 0,779
30 Surpresa 3 0,66
31 Suspense 3 1,393
4 Alivio 4 0,201
8 Coração 4 0,581
16 Gratidão 4 0,475
25 Relaxado 4 1,379
27 Satisfação 4 0,939
28 Sensibilizado 4 1,058
33 Tranquilidade 4 1,076
Sumário: Linguagem, Condições
necessárias e suficientes.
Sumário: Linguagem, Condições
necessárias e suficientes.

(Gaspar e Avelar, 2002)


Sumário: Linguagem, Condições
necessárias e suficientes.

(Gaspar e Avelar, 2002)*

* Oferece uma revisão dos estudos sobre a linguagem nos chimpanzés.


O DESENVOLVIMENTO
HUMANO.
O DESENVOLVIMENTO HUMANO.
■ Desenvolvimento físico: mudanças ao nível do corpo e das
competências motoras.
■ Desenvolvimento cognitivo: mudanças ao nível das estruturas e dos
processos mentais.
■ Desenvolvimento da linguagem: mudanças ao nível da capacidade
de comunicar com os outros.
■ Desenvolvimento pessoal e social: mudanças ao nível do conceito
de “EU” e das relações com os outros.
O desenvolvimento Humano.
■ Características gerais do desenvolvimento humano:
– Decorre de forma relativamente ordenada e lógica.
– Ocorre de forma gradual, ao longo de um período
relativamente longo de tempo.
– Diferentes indivíduos podem apresentar diferentes ritmos de
desenvolvimento, em diferentes áreas.
O desenvolvimento Humano.
■ Algumas das mudanças desenvolvimentais ocorrem naturalmente,
como resultado da nossa programação genética. A este processo
chama-se maturação.
■ A maturação ocorre progressivamente, ao longo do tempo, sendo
pouco afetada pelo meio-ambiente.
■ A generalidade do desenvolvimento físico ocorre desta forma.
■ Outras dimensões, como o desenvolvimento social, requerem a
interação com o meio-ambiente.
■ O desenvolvimento cognitivo e da linguagem, estão dependentes de
ambos os processos, maturação e interação com o ambiente.
O aparelho vocal
O cérebro
■ O córtex cerebral tem um ritmo de desenvolvimento mais lento que as
restantes estruturas cerebrais.
■ Dentro do córtex, a área que controla os movimentos físicos é a primeira
a amadurecer, seguida pelas áreas que controlam os sentidos (por
exemplo, visão, audição) e, finalmente, por aquelas que controlam
processos cognitivos complexos (por exemplo, linguagem, pensamento).
■ A linguagem resulta do contributo sincronizado de diversos sistemas
cerebrais. Uma criança para responder a uma questão necessita de:
– Processar a pergunta por meio do córtex auditivo primário;
processar o significado das palavras, recorrendo à área de
Wernicke; produzir uma resposta vocal recorrendo aos movimentos
dos lábios, maxilar, e língua, movimentos estes controlados pela
área de Broca.
O cérebro

Lateralização:
■ Significa que um hemisfério cerebral é mais eficiente que o outro na
execução de certas funções.
■ Para a maioria das pessoas, o hemisfério esquerdo é mais eficiente
no processamento de palavras, em comparação com o
processamento de imagens.
■ O hemisfério direito é mais eficiente no reconhecimento de imagens,
rostos e as emoções de outras pessoas (Heller, Nitschke, Etienne, &
Miller, 1997).
O cérebro

Lateralização:
■ Em média, o sexo feminino e os indivíduos canhotos aparentam
menos grau de especialização hemisférica.
■ Danos na área de Broca, produzem um discurso curto, mal
articulado, e sem qualidade gramatical, mas de conteúdo adequado
(Anderson, 1995).
■ Danos na área de Wernicke, produzem um discurso gramaticamente
correto, mas sem significado, de conteúdo inadequado à conversa.
Cuidado com as lateralizações.
■ Atenção, algumas pessoas na área da educação tem interpretado a
especialização hemisférica como um indicador do “perfil” de
aprendizagem do aluno. Assim poderíamos identificar e distinguir
indivíduos com dominância do hemisfério esquerdo, mais aptos
para atividades lógicas, e indivíduos com dominância do hemisfério
direito, mais aptos para atividades criativas (Sousa, 1995).
■ As pessoas usam ambos os hemisférios no decurso das suas
atividades diárias, sejam tarefas triviais, como deitar o lixo fora,
sejam tarefas nobres como pintar uma tela de inspiração cubista.
■ “Ensinar para um lado específico do cérebro” não tem qualquer
fundamentação nos dados da investigação e deve ser evitado
(Byrnes & Fox, 1998; Hugdahl & Davison, 2007; Stanovich, 1998)
O desenvolvimento da
linguagem na criança.
O reconhecimento dos fonemas.
■ Com apenas um mês de idade, os bebés já demonstram a
capacidade de reconhecer diferentes fonemas (Aslin, Jusczyk &
Pisoni, 1998).

■ Notas:
– A compreensão da linguagem precede a produção.
O reconhecimento dos fonemas.

■ Fonemas, os elementos
básicos da linguagem.
■ A relação entre fonemas e
os símbolos do alfabeto
não é de um para um. Por
vezes o mesmo símbolo
representa diferentes sons
(e.g., sapo, casa), outras
vezes diferentes símbolos
têm o mesmo som (e.g.,
xadrez, chuva).
O reconhecimento dos fonemas.
■ Os bebés apresentam a capacidade de reconhecer fonemas para
além dos que estão presentes na sua língua materna.
(E.g., Kuhl e colaboradores, 2006):
■ Na língua Japonese os sons das consoantes “r” e “l” não são
distintos.
■ No entanto, tanto os bebés Japoneses como os Americanos, aos 6 -
8 meses são capazes de distinguir estes dois fonemas com o
mesmo grau de competência.
■ Quando atingem os 10 – 12 meses, os bebés americanos
apresentam uma melhoria no seu desempenho, enquanto nas
crianças Japonese verifica-se uma redução do desempenho.
O reconhecimento dos fonemas.

■ Nota: o meio linguístico da criança não é apenas auditivo, muita da


exposição aos sinais linguísticos vem da interação face a face com
os adultos. Assim, estas interações são uma fonte rica de
informação visual acerca dos mecanismos de produção de som.
■ E.g., um bebé que observe um vídeo de um adulto a pronunciar
“sha”, mas acompanhado do som “ba” identifica a incongruência
(Patterson & Werker, 2003).
O reconhecimento de palavras.
■ Identificação de palavras (segmentação)
■ Aos 6 meses os bebés prestam mais atenção a palavras de
conteúdo (nomes, verbos) do que a palavras de função (artigos,
preposições). Também já reconhecem as palavras papá/ mamã,
olhando para a pessoa em questão.

■ Nota:
– O padrão de som da fala
O reconhecimento de palavras.
■ As línguas diferem entre elas ao nível sonoro. Existem diferenças no
ritmo em que ocorrem as sílabas sucessivas, e diferenças no uso e
padronização da ênfase (ou acentuação) e do tom.
■ A fala pode ser entendida até cerca de 250 palavras por minuto. A
taxa normal é de aproximadamente 180 palavras por minuto, o que
significa cerca de 15 fonemas por segundo.
■ Os fonemas geralmente são “disparados” num fluxo contínuo, sem
silêncios entre fonemas dentro de uma única palavra, ou entre
palavras dentro de uma frase.
O reconhecimento de palavras.
■ Estratégias usadas pelos bebés para a Identificação de palavras:
– Acentuação, para identificar o início das palavras. Os bebés
prestam mais atenção às silabas acentuadas (e.g., Thiessen &
Saffran, 2003).
– Os bebés aprendem mais rapidamente as palavras que
surgem no início e no fim das frases (Seidl & Johnson, 2006).
– Método estatístico. Os bebés notam as silabas que surgem
frequentemente juntas (Jusczyk, 2002).
■ Atenção. Nesta etapa, embora os bebés consigam identificar
palavras, não sabem o seu significado. A competência de
reconhecimento de palavras vai ser muito útil para o
desenvolvimento do vocabulário (Tsao, Liu, & Kuhl, 2004; Newman
et al., 206).
O reconhecimento de palavras.
■ Fala infantil dirigida (infant directed speech) - “falar bebésês”:
– O adulto fala devagar, exagerando as mudanças de tom e
volume.
– Este tipo de discurso atrai a atenção dos bebés (Lewkowicz,
2000; Smith & Trainor, 2008).
– Estes têm um melhor desempenho na segmentação de
palavras, quando estas são apresentadas em FID (Thiessen,
Hill, & Saffran, 2005).
– Esta forma de discurso é particularmente eficaz na
apresentação de vogais (Kuhl et al., 1997).
– Embora não seja um fator necessário para o desenvolvimento
da linguagem, parece ter um efeito facilitador (Pine, 1994)
A produção de palavras.
■ Por volta das 6 semanas os bebés começam a arrulhar (cooing).
■ Às 16 semanas começam a rir.
■ Entre as 16 semanas e os 6 meses, começam a surgir brincadeiras
vocais, o bebé produz sons semelhantes à fala. As vogais surgem antes
das consoantes.
■ Entre os 6 e 9 meses, os bebés começam a balbuciar. O balbuciar
distingue-se das brincadeiras vocais pela presença de sílabas
verdadeiras (consoantes mais vogais).
■ Por volta dos 10 a 13 meses pronunciam as primeiras palavras e usam
palavras isoladas (preferencialmente nomes de animais, partes do
corpo e brinquedos; Bornstein et al., 2004);
■ Começam a desenvolver a noção de que os sons formam palavras, que
se referem a objetos, ações ou propriedades (o carácter simbólico da
linguagem).
A produção de palavras.
■ Por volta dos 18 meses, dá-se uma explosão do número de vocábulos
que os bebés são capazes de produzir.
■ Aos 18 a 24 meses combina substantivos e verbos para produzir frases
de duas palavras.
– A utilização de frases de duas palavras está correlacionado com a
explosão de vocabulário que acontece neste período (Bates,
Bretherton e Snyder, 1988).
– Nesta altura uma criança poderá estar a aprender tanto como 40
novas palavras por semana.
■ A esta capacidade de rapidamente ligar uma palavra nova ao seu
significado chama-se “Fast mapping”. Entre os fatores que contribuem
para esta capacidade encontram-se:
– A atenção conjunta (e.g., os bebés aprendem mais facilmente o
nome do objeto para o qual o adulto está a olhar).
– Desenvolvimento de regras da linguagem (e.g., um nome refere-
se ao objeto na totalidade; um nome refere-se a todos os objetos
daquela categoria.
A produção de palavras.
■ “Fast mapping” (cont.):
– A estrutura da frase ajuda na identificação do significado da
palavra nova (sentence cues).
– Desenvolvimento cognitivo. A linguagem torna-se o meio de
expressar metas e intenções.
– Melhorias ao nível da atenção e perceção (e.g., shape bias,
objetos com a mesma forma tem o mesmo nome).
■ Por volta dos 18 meses, dá-se uma explosão do número de vocábulos
que os bebés são capazes de produzir.
■ A aprendizagem da semântica é caracterizada por dois erros tipicos:
– A subgeneralização, restringir o significado de uma palavra,
incluindo menos conceitos (e.g., animal como referência apenas
aos mamíferos).
– A sobregeneralização, estender o significado de uma palavra para
lá do seu sentido (e.g., carro para referir os meios de transporte
com rodas).

A produção de palavras.
■ Aos 18 a 24 meses combina substantivos e verbos para produzir frases
de duas palavras.
– A utilização de frases de duas palavras está correlacionado com a
explosão de vocabulário que acontece neste período (Bates,
Bretherton e Snyder, 1988).
– Nesta altura uma criança poderá estar a aprender tanto como 40
novas palavras por semana.
– O tamanho do vocabulário da criança é determinado por fatores
genéticos, memoria fonética e, principalmente, riqueza do meio
linguístico.
■ Antes de produzirem expressões gramaticalmente corretas, elas
produzem o que é chamado de discurso telegráfico. O discurso
telegráfico contém várias palavras, mas com muitos elementos
gramaticais ausentes (Brown & Bellugi, 1964).
A produção de palavras.
A produção de palavras.
■ Entre os 2 e 3 anos as crianças aprendem a produzir frases completas
(Bloom, 1998).
■ Aos 2 anos, uma criança terá um vocabulário de mais de 50 palavras.
Apenas seis meses depois, esse vocabulário cresceu para várias
centenas de palavras.
■ Aos 3 anos, as crianças já são capazes de fazer plurais adicionando “s”
aos substantivos.
■ Entre os 3 e os 6 anos, aprendem a usar a negação (e.g., “Isto não é
uma bola”) e frases compostas (e.g., “O Miguel viu a Joana brincar no
parque”).
■ Aos 5 anos, as crianças já adquiriram as regras básicas da sua língua
materna.
■ As competências linguísticas continuarão a desenvolver-se ao longo da
infância e adolescência, abrangem competências semânticas,
sintáticas, de compreensão e de comunicação oral.
O desenvolvimento da
linguagem
O desenvolvimento da linguagem
Surdez:
■ Bebés surdos, filhos de pais surdos.
– Aprendem a dominar a linguagem gestual ao mesmo ritmo
que as outras crianças dominam a linguagem oral. Produzem
inclusive um equivalente ao “balbuciar” (babling).
■ Bebés surdos, filhos de pais com audição.
– Através de métodos que enfatizam a leitura dos lábios e a
terapia da fala, tenta-se que eles aprendam a linguagem oral.
Também é utilizada a linguagem gestual. Os resultados obtidos
no domínio da linguagem, ficam aquém dos obtidos pelas
outras crianças da mesma idade (Hoff, 2005).
■ Svirsky ecolaboradores (2000), estudaram 70 crianças que
receberam implantes cocleares
O desenvolvimento da linguagem
■ Svirsky e colaboradores (2000), estudaram 70 crianças que ficaram
surdas antes dos 3 anos e receberam implantes cocleares aos 4 ½.
– Os seus resultados mostraram um aumento das competências
linguísticas, comparativamente com as crianças que não
haviam recebido o implante.
– No entanto os ganhos obtidos foram pouco homogéneos,
algumas crianças evidenciaram grandes progressos, outras
apenas modestos ganhos.
Bilinguismo
■ Ao contrário do que se pensou durante algum tempo, a
aprendizagem de duas línguas em simultâneo não perturba o
desenvolvimento da linguagem.
■ Embora inicialmente possa existir alguma confusão e troca de
palavras, as crianças bilingues atingem os marcos de
desenvolvimento da linguagem na mesma idade que as outras
crianças.
■ Não é claro que também o exista um período sensível para a
aquisição de uma segunda língua (Hakuta, 2001; Hakuta, Bialystok,
& Wiley, 2003; Merzenich, 2001). Alguns estudos que sugerem que
quanto mais cedo uma pessoa é exposta a uma segunda língua,
mais provável é que ela domine a pronúncia e as construções
gramaticais complexas da mesma ( Neville & Bavelier, 2001).
■ Crianças com maior proficiência na língua materna, apresentam um
mais rápido desenvolvimento de uma segunda língua (Cummins,
1994).
Bilinguismo
■ As crianças fluentes em duas línguas, tendem a ter um melhor
desempenho em testes de inteligência e criatividade (Bialystok,
2001; Diaz & Kingler, 1991; Garcia, 1994; Moran & Hakuta, 1995).
■ Demonstram maior consciência metalinguística (e.g., percebem a
relação arbitrária entre a palavra escrita e o significado; objetos
grandes não são representados por palavras grandes).
■ Evidenciam uma maior capacidade de inibição de resposta (Carlson
& Meltzoff, 2008)
Referências:
■ Leitura obrigatória:
– Cp. 9 – Language and communication. Kail, R. V., & Barnfield, A. (2007).
Children and their development. Pearson Prentice Hall.
– Pg. 327-332 - Eysenck, M. W., & Keane, M. T. (2010). Cognitive psychology: A
student's handbook. Psychology press.
– Gaspar, A., & Avelar, T. (2002). Linguagem em humanos e chimpanzés: Um
problema de semântica. Psicologia, 16(1), 209-235.
■ Leituras recomendadas:
– Cavalli-Sforza, L. L. (1997). Genes, peoples, and languages. Proceedings of the
National Academy of Sciences, 94(15), 7719-7724.
– Hockett, C. F. (1960). The origin of speech. Scientific American, 203(3), 88-97.
– Kuhl, P. K. (2004). Early language acquisition: Cracking the speech code.
Nature reviews neuroscience, 5(11), 831-843.
– Pinker, S. (2004). Clarifying the logical problem of language acquisition. Journal
of Child Language, 31(4), 949-953.
– Rosselli, M., Ardila, A., Matute, E., & Vélez-Uribe, I. (2014). Language
development across the life span: A neuropsychological/ neuroimaging
perspective. Neuroscience journal, 2014.
– Tomasello, M. (1995). Language Is Not an Instinct. Cognitive Development,
10(1), 131-56.
– Harley, T. A. (2013). The psychology of language: From data to theory.
Psychology press.
Recomendações:

■ O Primeiro Encontro
■ Original title: Arrival (2016)
■ A linguist works with the military to
communicate with alien lifeforms after twelve
mysterious spacecraft appear around the
world.
■ https://www.imdb.com/title/tt2543164/

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