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CURSO

Agente de Desenvolvimento Socioambiental

UNIDADE CURRICULAR 1

Orientar os atores sociais


sobre prevenção, promoção e
desenvolvimento socioambiental
CURSO DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL - Eixo Ambiente e Saúde

Agente de Desenvolvimento Socioambiental

UNIDADE CURRICULAR 1

Orientar os atores sociais


sobre prevenção, promoção e
desenvolvimento socioambiental
CRÉDITOS
UNIDADE CURRICULAR 1

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – Senac/SC


Departamento Regional em Santa Catarina
FECOMÉRCIO

Presidente
Bruno Breithaupt

Diretor Regional
Rudney Raulino

Diretoria de Educação Profissional


Ivan Luiz Ecco

Diretoria do Centro de Educação Profissional – Senac EAD


Anderson Redinha Malgueiro

Conteudista
Adriana Mafra Margot da Rosa

Coordenação Técnica
Setor de Educação a Distância

Coordenação Editorial e Desenvolvimento


Equipe do Setor de Produção – Senac EAD

© Senac | Todos os Direitos Reservados


SUMÁRIO
UNIDADE CURRICULAR 1

APRESENTAÇÃO DA UNIDADE CURRICULAR 1........................................................... 06

1 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL............. 07


CONTEXTUALIZANDO........................................................................................ 07
1.1 CRONOLOGIA DA QUESTÃO AMBIENTAL................................................. 08
1.2 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL .. 15
1.2.1 Conceito de Meio Ambiente............................................................. 15
1.2.2 Conceito de Desenvolvimento Sustentável................................. 18
1.3 CARACTERIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS POSITIVOS
E NEGATIVOS.............................................................................................. 24
1.4 DIREITOS HUMANOS E OS INDICADORES SOCIAIS E AMBIENTAIS.... 36

2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE............. 48


CONTEXTUALIZANDO ....................................................................................... 48
2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRINCÍPIOS DE PRÁTICAS............................. 48
2.1.1 Proposta pedagógica da Educação Ambiental conservadora....  59
2.1.2 Educação Ambiental dialógica, crítica e transformadora......... 60
2.2 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL............................................................................ 62
2.2.1 Formação de Educadores Ambientais .......................................... 68
2.2.1.1 Inserção da Educação Ambiental na escola.......................... 69
2.2.1.2 Inserção da Educação Ambiental na empresa...................... 70
2.2.1.3 Inserção da Educação Ambiental na comunidade................ 71
2.3 TÉCNICAS DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL................... 72
2.3.1 Funções do Agente de Desenvolvimento Socioambiental
Mobilizador......................................................................................... 73
2.3.1.1 A COMUNICAÇÃO NA MOBILIZAÇÃO SOCIAL................................... 74

3 SAÚDE E PREVENÇÃO.............................................................................................. 85
CONTEXTUALIZANDO........................................................................................ 85
3.1 CONCEITO DE SANEAMENTO BÁSICO...................................................... 85
3.2 PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS.......................... 91
3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS E POLÍTICAS PÚBLICAS........................................ 94
3.4 POLUIÇÃO DO AR, SOLO E ÁGUA.............................................................. 98
3.4.1 Poluição do ar..................................................................................... 98
3.4.2 Poluição da água ............................................................................  100
3.4.3 Poluição do solo .............................................................................  103

CONSIDERAÇÕES ..................................................................................................... 107

REFERÊNCIAS........................................................................................................... 108
APRESENTAÇÃO DA
UNIDADE CURRICULAR 1

Orientar os atores sociais


sobre prevenção, promoção e
desenvolvimento socioambiental

Seja bem-vindo(a) ao estudo da Unidade Curricular Orientar os atores sociais sobre prevenção,
promoção e desenvolvimento socioambiental.

O desenvolvimento socioambiental busca uma nova concepção de progresso e crescimento do


desenvolvimento humano. Suas atividades estão baseadas em três pilares: o ambiental, o eco-
nômico e o social. Esses pilares são necessários ao enfrentamento de uma sociedade cada vez
mais desequilibrada, exploratória e excludente, dos recursos tanto naturais quanto humanos e
sociais, os quais permitem a promoção de um debate relevante sobre a gravidade desses pro-
blemas e suas possíveis prevenções e soluções.

Procura identificar, compreender e solucionar os problemas ambientais baseado no resgate da


relação ser humano-natureza. Para isso, considera o ambiente na sua totalidade de forma a har-
monizar o progresso humano de acordo com os limites que os recursos naturais determinam.
Ou seja, busca o tão almejado equilíbrio ambiental.

No estudo desta Unidade Curricular você mobilizará e articulará conhecimentos, habilidades,


atitudes e valores para identificar os problemas socioambientais da comunidade de forma cole-
tiva e integrada, mediando ações entre os cidadãos e os diversos segmentos da sociedade, na
busca por mudanças nas realidades locais.

Ao demonstrar a articulação e mobilização desses elementos, você terá indicado que desenvol-
veu a competência de orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento
socioambiental.

Bons estudos.
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

1 INTRODUÇÃO AO MEIO AMBIENTE E


DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CONTEXTUALIZANDO
Quando ouvimos falar ou nos deparamos com a palavra ambiente, logo nos
remetemos ao espaço onde estamos, o lugar onde vivemos e desenvolvemos
nossas atividades cotidianas. Pensamos, também, nas áreas que nos cercam, nos
fatores vivos e não vivos presentes no ambiente e nas suas interações. Ampliando
nossas reflexões, podemos considerar o ambiente como um sistema vivo e
integrado. Fazendo estas relações perceberemos que o meio ambiente se refere
a tudo isso!

Questionamento
Mas o que você tem percebido quando para por alguns
momentos e observa o ambiente ao seu redor? Você enxerga um
cenário que traz orgulho, felicidade ou desconforto, incômodo e
merece um pouco mais de atenção, cuidado e melhorias?

Pense agora em como está o seu bairro, sua cidade e seu país em relação aos
aspectos ambientais.

Considere que para termos bem-estar, qualidade de vida e exercermos nossa


cidadania precisamos de um ambiente ecologicamente equilibrado, no qual todos
os fatores existentes estejam em consonância com o desenvolvimento.

Dessa forma, um ambiente que nos forneça condições para exercermos nossas
atividades sociais, como trabalhar, estudar, ter acesso a saúde e segurança,
desenvolver atividades de lazer, espiritualidade, sem violência, bem como cumprir
os deveres e exigir direitos.

Para iniciarmos as reflexões e os estudos desta Unidade Curricular, conheça um


pouco da relação construída entre o ser humano e o ambiente ao longo dos anos,
na cronologia da questão ambiental, a fim de entender um pouco mais sobre a
problemática ambiental atual.

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UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

1.1 CRONOLOGIA DA QUESTÃO AMBIENTAL


Desde o aparecimento do ser humano na Terra, o meio ambiente
tem se alterado.

Agora faremos uma viagem no tempo, a fim de entender um pouco


sobre os atuais impactos ambientais a partir da identificação da
forma como a natureza tem sido concebida ao longo da história
da relação da humana neste espaço que sofre suas interferências.
Vamos lá!

O ancestral mais conhecido do ser humano data de aproximadamente 4 milhões


de anos atrás e recebeu o nome de Lucy.

Saiba mais
Lucy é um fóssil de uma fêmea encontrada na Etiópia, no
continente africano, no ano de 1974. Era bípede, caminhava ereta,
com aproximadamente 1,3 metros. Seu crânio tinha um volume
de 450 cm3, pouco mais de um terço do volume craniano de um
ser humano moderno. Estava bem adaptada em subir em galhos
para fugir de predadores ou buscar comida. O nome Lucy foi dado
pelo paleontólogo Donald Johanson, que descobriu o fóssil, em
homenagem à música dos Beatles Lucy in the Sky with Diamonds.

O ser humano moderno pertence à


espécie Homo sapiens e teria surgido há
cerca de 140 mil anos, na África. Suas
conquistas partem do continente africano
em direção à Europa, Oriente Médio e Ásia,
expandindo-se para o resto do mundo e
criando diversas formas de interação.

Desde essa época, a evolução do ser humano permitiu que ele se estabelecesse
nos diversos espaços geográficos alterando de forma significativa os elementos
da natureza e sua paisagem, adaptando-se aos diferentes ambientes e utilizando
os recursos naturais para sua sobrevivência e serventia. Coube a ele aperfeiçoar
as técnicas de caça, obter alimentos, ampliar as formas de organização social e
familiar, costumes, crenças e produzir manifestações artísticas e culturais.

Para compreendermos melhor esse movimento do mundo em que vivemos,


organizamos os períodos da história humana e a sua relação com o ambiente
em Pré-História e História. Esta relação nos permitirá entender que os problemas
socioambientais são resultados de um longo processo de degradação.

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UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Pré-História

A Pré-História é o período que compreende o surgimento do ser humano até o


aparecimento da escrita, por volta de 4000 a.C. Foi marcado pela ausência de
documentação escrita. Suas pesquisas eram baseadas em vestígios de fósseis,
pinturas rupestres, utensílios de uso diário, armas, instrumentos, restos de
fogueira, encontrados soterrados ou em cavernas. Divide-se em três períodos:
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, Neolítico ou Idade da Pedra Polida e Idade
dos Metais.

XX Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada


(do surgimento da humanidade até 8000 a.C.)
Período marcado pela busca da sub-
sistência, ou seja, o ser humano pro-
curava no ambiente o necessário para
sustentar a vida por meio da caça,
da pesca, coleta de frutos, bagas,
sementes, ervas, raízes e ovos, e da
confecção e utilização de instrumen-
tos rudimentares de pedra lascada,
ossos e dentes de animais. Era nômade, vivia em grupos e abrigava-se
em cavernas protegendo-se do frio, chuva e animais. A linguagem era
pouco desenvolvida e a arte rupestre surge como uma forma de comuni-
cação. Nesse período o grande acontecimento foi o domínio do fogo, que
representou um importante passo para a sua sobrevivência. Ele servia
como arma de defesa, fonte de calor, para cozinhar os alimentos, para
fabricação de instrumentos e para a valorização da vida em grupos. Por
isso, o fogo foi a primeira força natural que o ser humano controlou. Os
bens de produção eram de uso e propriedade coletiva. Havia o entendi-
mento de que ser humano e natureza eram um todo, sem a separação um
do outro. Nessa época, as condições climáticas começam a modificar-se.

XX Neolítico ou Idade da Pedra Polida


(de 8000 a.C. até 5000 a.C.)
Nesse período as temperaturas eram
mais amenas. O ser humano passou
a ter mais conhecimento, a ser mais
sedentário em decorrência do desen-
volvimento da agricultura, sua princi-
pal fonte de subsistência além da do-
mesticação dos animais, aumentando
a produção de alimentos, surgindo as-
sim a necessidade de armazenamento. Desenvolveu as técnicas de fia-
ção e tecelagem com lã e linho, substituindo as roupas feitas com peles
de animais. A relação com o ambiente se tornou mais independente.
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UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Esse fato permitiu o desenvolvimento das primeiras comunidades à mar-


gem dos rios e lagos com a organização do trabalho e divisão de tarefas.
Além de armazenar a produção para a sua sobrevivência, iniciou, nesse
período, a economia de troca, gerada pelos excedentes. Desenvolveu os
rituais e práticas culturais e artesanais como a arte da cerâmica. Nesse
período, o ser humano passou a dominar a técnica de polir a pedra para
a fabricação de instrumentos. As pedras eram polidas sendo esfregadas
no chão ou na areia até tornarem-se lisas e com os formatos desejados.

XX Idade dos Metais


(de 5000 a.C. até o surgimento da escrita, por volta de 3500 a.C.)
Esse período foi o momento em que
o ser humano, aperfeiçoando técni-
cas de metalurgia, conseguiu elabo-
rar instrumentos de trabalho e armas.
Inicialmente utilizava o cobre encon-
trado na natureza e, em seguida, me-
tais mais resistentes, como o ferro. A
criação das ferramentas permitiu uma
intervenção cada vez maior no planeta, com instrumentos mais eficazes
para o cultivo agrícola, derrubada de florestas e a prática da caça. Com a
agricultura, a criação de animais, o desenvolvimento da cerâmica, da te-
celagem e o uso de metais surgiram os trabalhadores especialistas, como
o tecelão e o ferreiro. O desenvolvimento dessas atividades levou ao sur-
gimento das primeiras povoações, com a formação de pequenas vilas e
cidades e como resultado dessas conquistas os humanos passaram a
produzir mais do que necessitavam para seu próprio consumo. Dessa for-
ma, começaram as disputas, os primeiros conflitos, para ver quem ficava
com o excedente, bem como com as melhores pastagens e as áreas fér-
teis. Assim as relações ser humano e ambiente mudaram de perspectiva
de “uma coisa só” para uma relação de domínio.
O que sabemos da Pré-História se deve aos fósseis e objetos encontra-
dos nas escavações paleontológicas. Não houve grandes modificações
na natureza, dada a abundância de recursos naturais em relação ao pe-
queno número de habitantes existente aquela época. Esse período se en-
cerra com o aparecimento da escrita.

História

É o período compreendido entre o aparecimento da escrita, por volta de 4000 a.C.,


até os dias atuais. Divide-se em quatro períodos: Idade Antiga ou Antiguidade,
Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

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XX Idade Antiga ou Antiguidade


(do aparecimento da escrita, por volta de 4000 anos a.C., até a queda do
Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.)
Nesse período as crenças eram base-
adas em mitos que explicavam todos
os fenômenos naturais. Acreditava-se
que a natureza era uma criação divina
e boa parte dos povos dessa época
adotava diversos elementos da natu-
reza como deuses ou representantes
de alguma divindade, concepção teo-
lógica. O ser humano não poderia agredir a natureza, logo tiraria dela ape-
nas o seu sustento, caso contrário seria julgado e punido. Os primeiros
pensadores denominados filósofos da natureza buscaram uma explica-
ção racional, não de adoração ou contemplação, para a origem de todas
as coisas a partir da natureza, uma vez que a consideravam genitora de
todo o universo.

Saiba mais
Tales de Mileto (625-558 a.C.) foi o primeiro estudioso sistemático da
natureza, atribuindo à água uma importância fundamental para a vida. O Deus
das águas para os gregos se chama Poseidon e para os romanos, Netuno.

Compartilhavam a visão de que tudo integra a natureza: o ser humano,


a sociedade por ele construída, o mundo exterior e até os deuses.
Consideravam a existência de quatro substâncias originais que seriam
as raízes de todas as coisas: o fogo, o ar, a água e a terra. Consideravam
o universo como um sistema vivo no qual o “superior” está presente na
matéria que se diferencia nas infinitas coisas. Ainda assim, o ser humano
passa a modificar a natureza e adequá-la a sua necessidade.

XX Idade Média
(de 476 d.C. até a tomada de Constantinopla, pelos turcos otomanos, em
1453 d.C.)
Nesse período há um distanciamento
do ser humano da natureza. Sai de
cena a visão integradora e entra a
visão de domínio, de subjugação.
Para mediar as relações entre ser
humano e o divino surgem as religiões,
que determinam como serão estas
relações estabelecendo regras que
devem ser cumpridas.

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Fundamentalmente significa uma recolocação do ser humano no centro


do universo (antropocentrismo). Na realidade, se nós não somos parte da
natureza, interferir nela não trará
consequências. Também nesta Feudalismo é um sistema econômico, polí-
tico e social fundamentado na propriedade
concepção, exceto o ser humano,
sobre a terra. E ter terra significava a possi-
todos os demais seres não são bilidade de possuir riquezas. Nesse sistema
importantes. Nessa época há a os proprietários rurais eram denominados
formação do feudalismo, marcada senhores feudais, enquanto os trabalhadores
camponeses eram denominados servos.
pela desigualdade social, pobreza,
doenças e fome.

XX Idade Moderna
(de 1453 até o ano de 1789, data da Revolução Francesa)
Nesse período ocorreram modifica-
ções profundas no modo de o ser
humano se relacionar com a natu-
reza. As linhas de pensamento da
época estimulavam o individualis-
mo, uma visão antropocêntrica do
mundo e utilitarista da natureza,
acentuando as diferenças entre
meio natural e o meio humano, colocando-os em situação de oposição. A
natureza passa a ser vista não mais como uma natureza orgânica e viva ou
voltada para a salvação e manutenção da vida do ser humano, mas como
algo mecânico, passível de ser controlado, utilizado e explorado. Dela não
é mais extraído somente o necessário para a sobrevivência, mas o máximo
possível, para que seja obtido o maior lucro. Esse comportamento tam-
bém se deve muito às contribuições dos pensadores Francis Bacon, Des-
cartes e Leibniz, que acreditavam no poder do conhecimento para contro-
lar a natureza e eram “entusiastas
Resiliência é a capacidade de um sistema
da tecnologia” aplicada na melhoria de absorver distúrbios, choques e, conse-
da vida e da condição humana. O quentemente, manter suas funções e estru-
ser humano começa a ignorar a ca- turas básicas. Ou seja, consegue voltar ao
seu estado normal, seu estado de origem.
pacidade de resiliência da nature-
za, pois a concebe como um objeto do qual ele pode e deve se aproveitar.

Essas ideias, somadas ao desenvolvimento de formas de produção mais sofisti-


cadas, resultaram na exploração cada vez mais intensa dos recursos naturais.  A
partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, inicia-se um
processo ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo
de capital. Podemos considerar esse ponto o marco da crise ambiental. 

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XX Idade Contemporânea
(de 1789, época da Revolução Francesa, até os dias atuais)
A visão de que a natureza é abun-
dante, infinita, cada vez mais tra-
tada como algo a ser dominado e
possuído, é preponderante. Com a
Revolução Industrial o sistema de
produção marcadamente agrário
e artesanal passa a ser outro, de
cunho industrial, dominado pela fá-
brica e pela maquinaria, substituindo o trabalho de milhares de homens e
mulheres, provocando grandes e rápidas mudanças de ordem econômi-
ca, ecológica, política e social. A sociedade de consumo é caracterizada
pelo uso de uma quantidade de bens e serviços muito maior do que a
necessária, levando os recursos naturais à exaustão.

Com o crescimento das pressões humanas sobre o meio ambiente e a interferên-


cia direta na qualidade de vida das pessoas, entendendo que os recursos naturais
não eram infinitos, surgem, na década de 60 e 70, os movimentos sociais da con-
tracultura, movimentos de resistência ao modelo de sociedade vigente na época,
entre eles o ambientalista, motivado inicialmente pela crescente contaminação da
água e do ar nos países industrializados. Esses movimentos trouxeram à tona
reflexões acerca das relações entre o ser humano e o ambiente, resultando na
preocupação com o futuro do planeta.

Estamos no século XXI e ainda não resgatamos nosso vínculo com o ambiente. Ou
seja, não entendemos que somos parte integrante de uma rede complexa de rela-
ções, em que cada parte afetada interfere nas demais, de forma positiva ou nega-
tiva. Há atualmente a necessidade de buscarmos um equilíbrio, uma nova ética,
uma nova postura na forma de agir e pensar as questões ambientais. Essa nova
postura deve estar alicerçada em valores e condutas que exprimam nossa respon-
sabilidade, consciência e preocupação com as diversas formas de vida, dentre
elas a vida humana.

A forma como enxergamos o ambiente, a sua


representação individual e coletiva, influencia
em nossas ações cotidianas de interpretar e
pensar a realidade gerando diferentes modos de
conduta frente aos problemas socioambientais.

Se questionarmos sobre o entendimento do


que é “meio ambiente”, obteremos diferentes
respostas que simbolizam diferentes representações. Essas representações pas-
sam por palavras-chave e seus significados. Vejamos algumas delas:

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UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

XX Natureza: ambiente como sinônimo de natureza, que se deve contem-


plar, apreciar e respeitar. Compreendido como um espaço composto por
elementos naturais e conceitos ecológicos (habitat, nicho, ecossistema)
que englobam os aspectos físico-químicos, a fauna, a flora, onde o ser
humano dissociado da natureza é um mero observador.

XX Recurso: ambiente como sinônimo de recursos naturais inesgotáveis e


fonte de riqueza, que devem ser geridos e explorados para a sobrevivên-
cia do ser humano.

XX Problema: ambiente como sinônimo de problemas que devem ser solucio-


nados. A presença do ser humano tem efeito negativo no ambiente e a vida
está ameaçada por conta das queimadas, destruição e extinção de espécies.

XX Sistema: ambiente associado aos ecossistemas existentes e suas rela-


ções ecológicas, que devemos compreender para as tomadas de deci-
são. Sem ter essa noção o ser humano percebe o sistema fragmentado,
negligenciando uma visão global.

XX Meio de vida: ambiente representado pela própria casa (do grego oikos)
e seu entorno, local de convivência,
habitável, onde se desenvolvem as Pertencimento é sinônimo de pertencer,
atividades cotidianas. Seres huma- de tocar, de fazer parte. Sentimento por
um espaço territorial e de inserção do su-
nos são habitantes do ambiente,
jeito integrado a um todo maior.
sem o sentido de pertencimento.

XX Biosfera: ambiente representado pelo Planeta Terra, visão espacial e


global, cidadania planetária. Sem ter essa noção do ambiente os seres
humanos não reconhecem a sua relação com o planeta.

XX Projeto de vida: ambiente representado pela ideia de interdependência da


sociedade com a natureza, demonstrando a ética humana nas questões
ambientais, desenvolvendo reflexão e a ação através do espírito crítico e
valorando o exercício da democracia e do trabalho coletivo.

É importante que você, como Agente de Desenvolvimento Socioambiental,


reconheça que as modificações, bem como a degradação do ambiente, não
se estabeleceram em pouco tempo, mas que vêm se constituindo desde o
surgimento do ser humano no planeta. Dessa forma, devemos considerar que os
impactos vêm ocorrendo com maior ou menor intensidade ao longo do tempo.
Também é importante reconhecer que as representações de meio ambiente, ou
seja, o entendimento dos indivíduos sobre “o que é o meio ambiente” aponta para
a forma como estes enxergam o mundo e interagem com ele. A partir dessas
considerações, o Agente de Desenvolvimento Socioambiental consegue identificar
os problemas socioambientais da sua comunidade e pensar em diferentes
abordagens e estratégias pedagógicas de conservação e proteção.

14 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

1.2 CONCEITOS DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


O Agente de Desenvolvimento Socioambiental deve considerar o conceito de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na sua atuação profissional.

1.2.1 Conceito de Meio Ambiente

Qual a sua definição para Meio Ambiente?


Como vimos, meio ambiente também é sinônimo de meio, ambiente ou natureza.

Segundo o Dicionário Aurélio on-line (2014):

Ambiente é o conjunto das condições biológicas, físicas e químicas nas quais os


seres vivos se desenvolvem; conjunto das circunstâncias culturais, econômicas,
morais e sociais em que vive um indivíduo; espaço físico delimitado (ambiente fe-
chado) que envolve ou está à volta de alguma coisa ou pessoa e que é relativo ao
meio físico ou social circundante.

Conhecemos outros conceitos de ambiente, a exemplo do ambiente de trabalho,


do ambiente familiar, do ambiente virtual, do ambiente legal, do ambiente cultural,
do ambiente social, do ambiente geográfico, enfim, cada área do conhecimento
utiliza uma definição para ambiente.

Em nosso estudo utilizaremos a definição de meio ambiente disposta na Lei nº


6.938, de 31 de agosto de 1981, da Política Nacional de Meio Ambiente, que define:

Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e


interações de ordem física, química e biológica, que permite,
abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Ampliando a discussão sobre meio ambiente e considerando todos os aspectos já


elencados e o ambiente em toda a sua grandeza, importância e proporção, temos
a Dimensão Ambiental.

Portanto, dimensão ambiental é o conjunto dos aspectos econômico, espiritual,


político, tecnológico, técnico, ético, físico, químico, social, biológico e histórico-
cultural, conforme representa a Figura 1.

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UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Figura 1 – Representação da Dimensão Ambiental

econômico

histórico-cultural espiritual

biológico político

AMBIENTE
social tecnológico

químico técnico

físico ético

Fonte: Elaborada pela autora.

Qualquer trabalho, ação, análise referente ao ambiente precisa considerar a sua


dimensão sistêmica, a sua totalidade, isto é, todos os seus aspectos econômi-
cos, sociais, políticos, científicos, culturais, tecnológicos, éticos. Não é possível
reduzi-lo, de forma linear, aos aspectos ecológico e natural, desconsiderando as
mazelas sociais provocadas pelo modelo de desenvolvimento predatório, consu-
mista, desigual, nos quais estamos inseridos, e que degrada o ambiente e a perda
da qualidade de vida.

Portanto, o desafio da sustentabilidade é manter em equilíbrio a relação entre o


desenvolvimento humano (individual e social), o crescimento econômico e a pre-
servação do meio ambiente. Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 traz
em seu Art. 225 que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Mas afinal o que é Sustentabilidade?


Sustentabilidade é a capacidade de sustentar, dar suporte, de manter. É um
conceito sistêmico, que correlaciona e integra os aspectos econômicos, sociais,
culturais e ambientais da sociedade humana. É tornar viável o desenvolvimento
socioeconômico dentro da capacidade de carga dos ecossistemas. É a inter-
relação entre justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade
de desenvolvimento com capacidade de suporte.

16 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A sustentabilidade ambiental está baseada no tripé dos aspectos econômicos,


dos aspectos sociais e dos aspectos ambientais (Figura 2).

Figura 2 – Tripé da Sustentabilidade

L EC
TA

ON
AMBIE

ÔMIC
O
SO
CIAL

Fonte: Elaborada pela autora.

Vamos conhecer mais sobre estes aspectos:

XX Aspecto econômico ou sustentabilidade econômica: é o capital artifi-


cial. Não inclui só o lucro e a economia formal, mas também as atividades
informais, que proveem serviços para os indivíduos e grupos e aumentam
a renda monetária e o padrão de vida.

XX Aspecto social ou sustentabilidade social: é o capital humano. Vislumbra


a garantia de maior equidade em relação à distribuição de renda, buscando
dessa forma uma melhoria substancial dos direitos e condições da popula-
ção, tais como empregabilidade, qualidade de vida e igualdade no acesso
aos recursos e serviços sociais. Estimula a comunidade a buscar educa-
ção, cultura, lazer e justiça social.

XX Aspecto ambiental ou sustentabilidade ambiental: é o capital natural. De-


senvolve soluções economicamente viáveis, com o objetivo de reduzir o con-
sumo de recursos, deter a poluição e conservar o habitat natural; ao manter
ecossistemas vivos, com diversidade. Limitação no uso de recursos esgotá-
veis ou ambientalmente prejudiciais, de forma que exista uma substituição de
tais recursos por outros que são renováveis e inofensivos ao meio ambiente.

A sustentabilidade assenta sobre os seguintes princípios: prevenção, precaução, po-


luidor-pagador, cooperação, integridade eco-
lógica, melhoria contínua, proteção ambiental, Subsidiariedade significa dar subsídios, dar
equidade e inclusão, empoderamento e de- autonomia, dar auxílio. No caso da susten-
tabilidade, o cidadão participa ativamente
mocracia, herança cultural, integração política,
frente aos contextos políticos e sociais.
subsidiariedade, responsabilização, envolvi-
mento da comunidade e transparência.

17 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

As atitudes podem ser classificadas como sustentáveis e não sustentáveis. No que


diz respeito a atitudes sustentáveis, podemos considerar que estas são caracteriza-
das como sustentáveis quando as pessoas optam por diminuir o consumo de pro-
dutos optando por materiais recicláveis, usar canecas ao invés de copos plásticos,
dispensar o saco plástico e usar sacolas retornáveis, fazer um brechó com roupas
ou móveis usados, gerar emprego e renda, consumir alimentos orgânicos, economi-
zar energia e aproveitar a luz solar, não demorar no banho, consumir racionalmente
a água, reaproveitar a água da chuva, trocar o carro pelo ônibus ou bicicleta, andar
a pé, plantar árvores, reutilizar as folhas de papel, destinar seus resíduos sólidos em
locais corretos, respeitar as pessoas e seus costumes, praticar o voluntariado e a
não violência, cumprir seus deveres e exigir seus direitos, entre outros.

Já as atitudes não sustentáveis podem ser caracterizadas quando as pessoas


optam por desperdiçar água, eletricidade, usar sacolas e copos plásticos, jogar
lixo nas ruas e em lugares impróprios, não respeitar as pessoas e suas opiniões,
consumir produtos sem precisar, não realizar a coleta seletiva, prender animais
silvestres, burlar as leis, utilizar alguma expressão de violência, utilizar pilhas des-
cartáveis, entre outras.

Você adota atitudes sustentáveis?


Adotar atitudes sustentáveis é pensar em você e no próximo. Assim como nas
pessoas do seu convívio e nas gerações que estão por vir. Quando você utiliza
os recursos naturais com responsabilidade, reconhece os limites impostos pe-
los ecossistemas. Dessa forma, as ações sustentáveis podem ser mantidas para
sempre, e é importante serem avaliadas constantemente, pois garantem a médio e
longo prazo um planeta em boas condições para o desenvolvimento das diversas
formas de vida.

1.2.2 Conceito de Desenvolvimento Sustentável


O conceito de sustentabilidade está relaciona-
do ao Desenvolvimento Sustentável.

A sustentabilidade, a partir desses conceitos,


começa a ser identificada como a junção dos
aspectos sociais, ambientais e econômicos do
desenvolvimento sustentável.

Mas a qual modelo de desenvolvimento estamos nos referindo?


Quando falamos em desenvolvimento, nos remetemos a crescimento, expansão,
progresso. Mas alcançar esse modelo implica abrir mão de alguns comportamentos.

Analise, no Quadro 1, os aspectos que caracterizam o Modelo de Desenvolvimen-


to Insustentável Atual e o Modelo de Desenvolvimento Ideal Sustentável.

18 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Quadro 1 – Aspectos dos Modelos de Desenvolvimento Atual Insustentável e do Modelo de Desenvolvimento Ideal
Sustentável

Modelo de Desenvolvimento
Modelo de Desenvolvimento Ideal Sustentável
Insustentável Atual
Ser humano se encontra fora
Ser humano é parte integrante do ambiente.
do ambiente (dicotomia).
O conceito de ambiente é sistêmico, considera todos
O conceito de ambiente é reduzido
os aspectos: naturais, ecológicos, sociais, culturais,
aos aspectos naturais e ecológicos.
éticos, políticos, tecnológicos, dentre outros.
Consumismo. Consumo consciente.
Exclusão social. Equidade social.
Desconsidera os costumes tradicionais. Considera as populações tradicionais e os movimentos sociais.
Valores e princípios em desuso. Valores e princípios fortalecidos.
Decisões individuais. Decisões coletivas, empoderamento.
Violência. Promoção da paz.
Autocracia. Democracia.
Padrão de sociedade. Reconhece a diversidade.
Energia elétrica. Energia solar e eólica.
Pensamento reducionista. Pensamento sistêmico.

Fonte: Elaborado pela autora.

O desenvolvimento de sociedade que temos hoje em dia não é exatamente o que es-
peramos. Podemos até nos questionar se é um desenvolvimento ou um retrocesso.

O Relatório Brundtland, documento também conhecido como O Nosso Futuro Co-


mum, de 1987, é um marco no reconhecimento do conceito de desenvolvimento
sustentável. Esse relatório faz a seguinte afirmação sobre o assunto:

O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de


suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender às necessidades das futuras gerações.

Em outras palavras, desenvolvimento sustentável é aquele que melhora a qualidade


da vida do ser humano na Terra ao mesmo tempo em que respeita a capacidade de
produção dos ecossistemas nos quais vivemos, de modo que as gerações futuras
possam dispor dos mesmos recursos dos quais dispomos.

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento em


suas atividades e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. O
conceito de desenvolvimento sustentável é um “termo em disputa” pelos mais
diversos setores da sociedade, convergem para uma redefinição da relação socie-
dade humana e natureza, contrariando o atual modelo civilizatório, que promove
desajustes ambientais e desigualdades sociais.

19 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Segundo o Relatório de Brundtland, uma série de medidas deveria ser tomada pe-
los países para promover o desenvolvimento sustentável. Tais medidas são:

XX Limitação do crescimento populacional.

XX Garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em longo prazo.

XX Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas.

XX Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias


que admitem o uso de fontes energéticas renováveis.

XX Aumento da produção industrial nos países não industrializados com


base em tecnologias ecologicamente adaptadas.

XX Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades


menores.

XX Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).

O atual modelo de desenvolvimento gerou gigantescos desequilíbrios ambientais.


Diante disso precisamos considerar que os impactos gerados estão cada vez mais
complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

Pensar em desenvolvimento sustentável como um conceito que surge para en-


frentar a crise ecológica é levar em conta todas essas dimensões que permeiam o
ambiente (abordagem global – política, geográfica, física, química, social, cultural,
ética, ecológica, etc.), bem como redefinir a relação ser humano e natureza, alte-
rando o atual modelo civilizatório.

A partir dessas considerações podemos nos questionar se o modelo de desenvol-


vimento sustentável é uma utopia ou uma realidade.

O desenvolvimento sustentável é possível, mas devemos considerar que defen-


dê-lo impõe grandes desafios. Esses desafios passam por conseguirmos mudar
nossa forma de pensar, mudar nossas percepções de mundo e percebermos o
desenvolvimento de maneira integrada, pois, ao minimizarmos ou erradicarmos os
impactos negativos no ambiente, será possível alcançarmos a sustentabilidade.

Para corroborar nossa argumentação a respeito do desenvolvimento sustentável,


leia o trecho da carta que o cacique Seattle teria enviado ao presidente norte-ame-
ricano “O Grande Chefe Branco” Franklin Pierce, em 1854, em resposta à oferta de
compra de uma grande área de território indígena pele-vermelha, prometendo uma
reserva para que nela pudessem viver.

20 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A terra não pertence ao homem: é o homem que pertence à terra,


disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o
sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo o
que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. O homem não
teceu a teia da vida, ele é meramente um fio dela. O que quer que
ele faça à teia, ele faz a si mesmo (CACIQUE SEATTLE, 1854).

Perceba que no século XIX os indígenas que viviam naquela região dos EUA já ci-
tavam a interligação que os organismos vivos têm com o ambiente em que vivem.

Atualmente essa visão é conhecida como a Base da Teoria Geral dos Sistemas. A te-
oria dos Sistemas defende que sistema é um conjunto de elementos interdependen-
tes que interagem com objetivos comuns formando um todo, no qual cada um dos
elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema maior do que
o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem independentemente.

Nesse sentido, um sistema é algo que mantém a sua existência e funciona como um
todo através da interação/conexão de suas partes (muitas vezes diferentes), man-
tendo um contínuo intercâmbio de matéria/energia/informação com o ambiente.

Com base nessa teoria, que é interdisciplinar e que pode ser


aplicada de forma geral a todo tipo de sistema, podemos
melhorar a compreensão sobre os sistemas.

Os sistemas podem ser classificados, em relação ao grau


de interação que possuem, em:

XX Aberto: interage com seu ambiente através da


doação e do recebimento de informações. Ex: floresta.

XX Fechado: não há interação com o ambiente externo. Não doa nem recebe
informações externas. Ex: funcionamento de um relógio.

XX Isolado:  é um sistema que não troca nem matéria e nem energia com o am-


biente, sendo delimitado por uma fronteira (isolante). Ex: garrafa térmica.

Em relação à composição dos sistemas, podemos identificar que um sistema é


formado por:

XX Entrada: é o que entra no sistema, por exemplo: materiais, capital, infor-


mação, dentre outros.

XX Processo: é a forma pela qual os elementos do sistema interagem, trans-


formando a entrada em saída.

XX Saída: é o que sai do sistema devendo estar de acordo com objetivo.

21 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

XX Controle e avaliação: mede o desempenho do sistema.

XX Realimentação: é quando a saída gera uma informação que deve ser


incorporada ao sistema.

O corpo humano pode ser considerado um exemplo de sistema. Para ser estrutura-
do e existir, ele precisa da integração das partes (células, tecidos, órgãos e sistemas)
que juntas, integradas e interdependentes na troca de energia e informação com o
ambiente, formam o organismo humano. A Figura 3 representa esta organização.

Figura 3 – Corpo humano enquanto um sistema

ESTRUTURAÇÃO DOS ORGANISMOS

Organismo

Sistemas

Órgãos

Tecidos

Células

Fonte: Elaborada pela autora.

Esse corpo humano se constitui como um indi- Homeostase é a condição de relativa es-
víduo, imerso em uma sociedade, que interage tabilidade da qual o organismo necessita
para realizar suas funções adequada-
com os diversos grupos sociais. A ideia é que
mente e manter o equilíbrio do corpo.
o sistema esteja em homeostase, ou seja, as
partes que compõem o sistema estejam equilibradas, em constante “ajustamento”.

Uma empresa é outro exemplo que podemos considerar como um sistema. Para
vender um produto, ela necessita de uma boa gestão para o comando das ope-
rações, de uma boa divulgação no mercado para que os empregados executem
a venda com excelência e os clientes possam consumir o produto. Desse modo,
cada um de seus componentes está interligado, desempenhando funções para
o todo, o conjunto. Se uma das partes não executa bem, o todo sai prejudicado.

Ainda buscando exemplificar sistemas, podemos considerar um ecossistema ma-


rinho. Ele é um conjunto formado pelas interações entre os fatores bióticos (seres
vivos – plâncton, ave, sapo, peixes) e os abióticos (a água, o solo, luz solar). Estes
componentes interagem através das transferências de energia dos organismos

22 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

vivos entre si e entre estes e os demais elementos de seu ambiente. Caso um dos
componentes seja alterado, por exemplo, se a qualidade da água não estiver ade-
quada, o equilíbrio do ecossistema será comprometido.

O físico e ambientalista austríaco Fritjof Capra defende que as sociedades urbanas,


assim como os ecossistemas – ambos sistemas vivos que contêm os mesmos
princípios de organização –, podem alcançar a sustentabilidade. Nesse sentido,
Capra defende que:

O que é sustentável numa sociedade não é o crescimento


econômico, ou a fatia de mercado, ou qualquer uma des-
sas coisas, e sim a rede da vida, da qual a nossa sobre-
vivência depende. Todos os seres vivos são membros de
comunidades ecológicas ligadas umas às outras numa rede
de interdependência.

Essa visão sistêmica, apresentada por Capra, descreve as atitudes voltadas para
os processos naturais e sociais como sistemas vivos. É o arcabouço conceitual
para o elo entre comunidades ecológicas e comunidades humanas. Segundo Ca-
pra (2003), uma das mais importantes considerações da compreensão sistêmica
da vida é a do reconhecimento de que redes constituem o padrão básico de orga-
nização de todo e qualquer sistema vivo. Nesse sentido, Capra (1999) afirma que:

Reconectar-se com a teia da vida significa construir, nutrir


e educar comunidades sustentáveis, nas quais podemos
satisfazer nossas aspirações e nossas necessidades sem
diminuir as chances das gerações futuras. Para realizar esta
tarefa precisamos compreender estudos de ecossistemas,
compreender os princípios básicos da ecologia, ser
ecologicamente alfabetizados ou ecoalfabetizados.

Os princípios básicos da ecologia passaram a ser aplicados como diretrizes para


construir comunidades humanas sustentáveis. Estes princípios são:

XX Interdependência – interligação dos seres vivos numa ampla e complexa


rede de relações: a teia da vida e as múltiplas relações entre seus membros.

XX Reciclagem – os nutrientes são continuamente reciclados. É a realimen-


tação do sistema, que como ecossistema produz resíduos, mas o que é
resíduo para uma espécie é alimento para outra, de modo que o ecos-
sistema como um todo permanece livre de resíduos, ou seja, padrões
sustentáveis de produção e de consumo precisam ser cíclicos, imitando
os processos cíclicos da natureza.
23 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

XX Parceria – é fundamental nas comunidades sustentáveis a construção de


associações, de ligações, tendo em vista a cooperação como um requi-
sito de qualidade de vida. Intercâmbios cíclicos de energia e de recursos
são sustentados por uma cooperação generalizada em que cada membro
da comunidade desempenha um papel importante.

XX Flexibilidade – é encontrar os valores ideais do sistema, característica es-


sencial, pois sua falta resulta em tensão. Há a tensão temporária, que é um
aspecto essencial da vida, mas há a tensão prolongada, que é nociva e des-
trutiva para o sistema. Isso é uma consequência dos múltiplos laços de reali-
mentação, que tendem a levar o sistema de volta ao equilíbrio sempre que há
um desvio com relação à norma, devido a condições ambientais mutáveis.
Se tentarmos maximizar qualquer variável isolada em vez de otimizá-la, isso
levará, invariavelmente, à destruição do sistema como um todo.

XX Diversidade – um ecossistema diversificado também será flexível, pois


contém muitas espécies com funções ecológicas sobrepostas que po-
dem, parcialmente, substituir umas às outras. Quando uma determinada
espécie é destruída por uma perturbação séria, de modo que um elo da
rede seja quebrado, uma comunidade diversificada será capaz de sobre-
viver e de se reorganizar, pois outros elos da rede podem, pelo menos
parcialmente, preencher a função da espécie destruída.

Por fim, podemos afirmar que a sobrevivência e a qualidade de vida da humani-


dade têm estreita conexão com a nossa alfabetização ecológica, com a nossa
compreensão sobre os princípios ecológicos e com sua adequação às nossas
comunidades humanas, tendo em vista a sustentabilidade.

Conforme domínio técnico-científico e visão crítica da realidade, o Agente de De-


senvolvimento Socioambiental poderá auxiliar a comunidade nesse entendimento,
propondo reflexões acerca da abordagem sistêmica cujos problemas socioam-
bientais só poderão ser minimizados e resolvidos se consideramos a dimensão
ambiental (aspectos sociais, biológicos, culturais, políticos, dentre outros).

Mas, afinal, todos os impactos sofridos pelo ambiente trazem algum desequilíbrio,
comprometendo sua sustentabilidade?

1.3 CARACTERIZAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS POSITIVOS E NEGATIVOS


A contínua e crescente pressão exercida pelo ser humano em
suas ações ou atividades sob os recursos naturais tem gera-
do impactos em menor ou maior grau, de forma local, regio-
nal, ou global, de forma positiva ou negativa.

A palavra impacto nos remete à ideia de colisão, de choque,


de conflito. No Artigo 1º da Resolução nº 001/86 do Conselho

24 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), impacto ambiental é considerado como


qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio am-
biente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das ativida-
des humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II) as atividades sociais e econômicas;

III) a biota;

IV) as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V) a qualidade dos recursos ambientais.

Para melhor compreendermos como são classificados os impactos ambientais,


analise o Quadro 2.

Quadro 2 – Critérios para classificação dos impactos ambientais

CRITÉRIOS DESCRIÇÃO

Irreversíveis ou reversíveis, permitem identificar que


REVERSIBILIDADE impactos poderão ser integralmente evitados ou poderão
apenas ser mitigados (aliviados) ou compensados.
Permanentes e temporários, aqueles cujos efeitos manifestam-se
DURAÇÃO
indefinidamente ou durante um período de tempo determinado.
Efeitos benéficos/positivos ou adversos/negativos
NATUREZA
sobre o componente socioambiental.
Impacto direto ou impacto indireto, decorrente de um ou
FORMA
mais impactos gerados diretamente ou indiretamente.
Imediatamente, a curto prazo e após um período
TEMPORALIDADE
de tempo em relação à sua causa.
Localmente (área de Influência Direta) ou áreas geográficas
ABRANGÊNCIA
mais abrangentes (áreas de Influência Indireta).
Grande, média ou pequena. Refere-se ao grau de interferência
IMPORTÂNCIA
do impacto ambiental sobre diferentes fatores ambientais.
Grande, média ou pequena. Refere-se ao grau de
MAGNITUDE
incidência de um impacto sobre o fator ambiental.
Cumulativo (soma de outros impactos) ou sinérgico
EFEITO
(presença simultânea de um ou mais fatores).
SIGNIFICÂNCIA Pouco significativo, medianamente significativo e grandemente significativo.

Fonte: Adaptado de Portal Observatório do pré-sal (2015).

Os impactos ambientais são classificados de acordo com sua natureza em positivos


e negativos.

Os impactos positivos são ações ou atividades que não causam danos, além de
muitas delas poderem recuperar o ambiente. Podemos considerar nesta categoria
as ações de recuperação de mata ciliar, valorização cultural, visita monitorada em
cavernas, proteção de áreas, dentre outras.
25 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Deste modo, os impactos causados ao ambiente de forma positiva poderão servir


de instrumentos para que o Agente de Desenvolvimento Socioambiental desenvolva
sua atitude empreendedora junto à comunidade, ao propor ações sustentáveis de
reconhecimento dos espaços – o pertencimento ao nosso ambiente – bem como,
no caso das visitas monitoradas, ajudar na geração de renda para a comunidade.

Os impactos negativos são ações ou atividades que causam danos ao ambiente.


Podemos considerar nesta categoria as ações de desflorestamento, poluição do
ar, água e solo, seca, desemprego, dentre outras.

Vale lembrar que os impactos ambientais são difíceis


de serem mensurados com exatidão, por entendermos
que o ambiente é um sistema imprevisível e complexo,
no qual os elementos naturais e sociais se relacionam
e interagem de forma dinâmica e contínua.

Porém há a possibilidade de fazermos previsões, estimativas que busquem con-


tribuir com a defesa do ambiente, através do Estudo de Impacto Ambiental (EIA).
O EIA é o conjunto de estudos realizados por especialistas de diversas áreas, com
dados técnicos detalhados, sobre determinada obra ou projeto. Para o EIA são
desenvolvidas as seguintes atividades técnicas:

I) Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto.

II) Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas.

III) Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos.

IV) Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os im-


pactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem
considerados).

Os relatórios que constituem o EIA são elaborados por uma equipe multidisci-
plinar, composta por engenheiros, biólogos, geólogos, sociólogos, entre outros.
Nesse contexto, o Agente de Desenvolvimento Ambiental será capaz de, junto aos
demais profissionais:

XX Apresentar o empreendimento para a comunidade de forma sistêmica.

XX Participar do diagnóstico socioeconômico e ambiental da área afetada.

XX Mediar conflitos e equalizar interesses provenientes da comunidade e do


empreendimento.

O EIA, como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, auxilia no contro-


le prévio das alterações produzidas no entorno, visando, senão coibir o impacto,
pelo menos, a minimizá-lo, com a utilização de medidas alternativas, mitigadoras
ou, em última hipótese, compensatórias do impacto ambiental. Esse estudo pode
tanto aprovar quanto rejeitar um determinado projeto.

26 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Diante dos conceitos de impactos e das constatações elencadas podemos nos


perguntar:

De quem são as responsabilidades pelas decisões rumo à sustentabilidade? De alguns ou


de todos?
A responsabilidade é de todos nós cidadãos que
impactamos o meio ambiente, de forma positiva ou
negativa, em maior ou menor quantidade, mas que
buscamos uma sociedade mais sadia, justa e igualitária
para todos e todas.

Considerando a responsabilidade que cabe a todos


nós, podemos organizá-la em responsabilidade socio-
ambiental, responsabilidade socioambiental individual, responsabilidade socioam-
biental empresarial e responsabilidade socioambiental compartilhada. Vamos ao
estudo sobre cada uma.

a) Responsabilidade socioambiental
O contexto social e econômico atualmente tem demonstrado a necessidade de
inserção da variável socioambiental como preocupação primordial nas deci-
sões governamentais entre países, regiões e empresas. O conceito de respon-
sabilidade social passou a fazer parte do conceito de desenvolvimento susten-
tável. O desenvolvimento sustentável tem sido a principal justificativa para que
as instâncias públicas e privadas promovam o bem-estar social e permitam a
continuidade e manutenção dos recursos naturais para as próximas gerações.
O atual cenário mundial de impactos negativos sobre o ambiente requer ações
e compromissos imediatos dos diferentes setores da sociedade, tanto em ní-
veis individuais, organizacionais, quanto governamentais.

b) Responsabilidade socioambiental individual


A responsabilidade socioambiental individual é o compromisso que cada um de
nós tem individualmente com a preservação ambiental. É como enxergamos o
ambiente. Trata-se de agir baseado em valores e princípios comuns, pensando
no bem coletivo. É ir muito além de separar o lixo para reciclagem, economizar
luz, plantar árvores ou fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Trata-se
de refletir sobre o nosso comportamento, nossas atitudes e as relações que
temos com a natureza e com as pessoas que nos cercam.

c) Responsabilidade socioambiental empresarial


A responsabilidade socioambiental empresarial é a forma como uma empresa
gerencia suas relações pautada pela relação ética e transparente da empresa
com todos os públicos com os quais se relaciona – funcionários, fornecedores,
clientes, consumidores, comunidade, governo, sociedade e meio ambiente. A
empresa socialmente responsável orienta suas atividades (processos, produtos
e resultados) não apenas visando ao lucro, mas também considerando os im-
pactos sociais, econômicos e ambientais.
27 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A sociedade não aceita mais que empresas forneçam apenas produto, qua-
lidade, preço e cumprimento da legislação, ela passou a valorizar cada vez
mais as empresas que ajudam a minimizar os problemas sociais e ambientais
da atualidade. Uma empresa com responsabilidade socioambiental mostra o
impacto das suas atividades ao seu público e esse impacto deve sempre resul-
tar na preservação e melhoria da qualidade de vida da sociedade na qual está
inserida. É uma empresa caracterizada por atitudes e atividades baseadas em
valores éticos e morais e que se sustenta no tripé social, ambiental e financeiro,
como apresenta a Figura 4.

Figura 4 – Tripé da sustentabilidade empresarial

ambiental financeiro
SE

social

Cuidado do planeta Dignidade humana Prosperidade


 proteção ambiental  direitos humanos  resultado econômico
 recursos renováveis  direitos dos trabalhadores  direitos dos acionistas
 ecoeficiência  envolvimento com comunidade  competitividade
 gestão de resíduos  transparência  relação entre clientes e
 gestão de riscos  postura ética fornecedores

SE = Sustentabilidade Empresarial

Fonte: Barreto e Muller (2013).

Para Demajorovic (2003), uma empresa que almeja chegar à sustentabilidade


deve atender algumas necessidades:

XX Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

XX Difundir habilidades e conhecimentos entre seus integrantes.

XX Desenvolver sistemas de informação no campo socioambiental.

XX Criar programas de incentivos aos empregados.


Para Melo Neto (1999), as responsabilidades de uma organização estão direta-
mente ligadas às seguintes ações:

XX Economizar o consumo de recursos naturais.

XX Utilizar capitais financeiros e tecnológicos.

XX Utilizar a capacidade de trabalho das pessoas.

XX Destinar corretamente o apoio que a empresa recebe do Estado.


28 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Uma empresa só terá sucesso socioambiental se for capaz de respeitar e ouvir


os interesses das diferentes partes (sócios, funcionários, fornecedores, consumi-
dores, comunidade e governo), monitorar e avaliar seu desempenho, buscando
ajustes e melhorias, e conseguir incorporá-los a sua realidade local.

Para aproximar-se do ideal de sustentabilidade é importante as empresas utilizarem


a metodologia do Ciclo PDCA, apresentada na Figura 5. O conceito de PDCA vem
do inglês: P (plan – planejar) D (do – fazer) C (check – acompanhar) A (act – corrigir),
ferramenta de gestão (coordenação), inicialmente utilizada na área de administração. 

Figura 5 – Modelo PDCA

Action (Corrigir) Plan (Planejar)

Identificação do Problema
Padronização
Análise do Fenômeno
Ação
Análise do Processo
Plano de Ação

Verificação Execução

Check (Acompanhar) Do (Fazer)

Fonte: Elaborada pela autora.

O ciclo PDCA sugere que qualquer atividade de gestão ou planejamento estratégi-


co executada na empresa seja conduzida seguindo quatro fases, a fim de implan-
tar melhorias em processos ou produtos, ou até mesmo a implantação de novas
ideias.  O PDCA é uma ferramenta que existe para facilitar a organização do pen-
samento na busca por melhoria contínua ou na análise e solução de problemas
(por etapas). O ciclo PDCA pode ser utilizado, inclusive no nosso cotidiano, como
sistema ou método de trabalho, a fim de promover uma melhoria contínua. 

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental,


ao propor a utilização de um programa ou proje-
to socioambiental na sua comunidade, pode uti-
lizar o Ciclo PDCA para a organização, controle e
análise das atividades. Nesse sentido, o Agente
de Desenvolvimento Socioambiental pode utilizar
o ciclo PDCA para, de forma otimizada e mais
confiável, mensurar em quatro etapas a eficiên-
cia das atividades de determinado projeto ou ação, oportunizando ajustes e melho-
rias, mantendo o que funciona e aumentando a qualidade. É importante considerar
que após as ações corretivas, o ciclo PDCA se repete.

29 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Para entendermos melhor o ciclo PDCA, vejamos sua aplicação no Gerenciamento


de Resíduos Sólidos de uma comunidade.

P (Planejamento):

XX Levantamento de dados: resíduos produzidos, armazenamento, coleta,


destino, tipos e proporções de impactos causados.

XX Objetivos: diminuição de resíduos, impactos ambientais e destinação


adequada.

XX Metas: projeto socioambiental.

D (Execução):

XX Identificar as responsabilidades (individuais, empresariais, compartilhadas).

XX Promover palestras e oficinas educativas na escola e na comunidade.

XX Implantar a coleta seletiva.

XX Mobilizar associação de catadores.

XX Promover a compostagem.

XX Mobilizar o poder público a fim de construir áreas verdes no lugar do despejo.

C (Acompanhamento):

XX Acompanhamento constante do processo por um profissional habilitado,


que pode ser o Agente de Desenvolvimento Socioambiental.

A (Avaliar e Corrigir):

XX Como está funcionando o ciclo.

XX Avanços e pontos de atenção.

Após o desenvolvimento dessas quatro etapas inicia-se um novo ciclo, mantendo o


que está funcionando e ajustando até chegar ao ideal para a comunidade. O Ciclo
PDCA poderá ter o acompanhamento do Agente Socioambiental em todas as eta-
pas. Esse acompanhamento permitirá sua colaboração no projeto.

Outra ferramenta importante, baseada no ciclo de melhoria contínua, é o Sistema


de Gestão Ambiental (SGA). Este é definido como um conjunto de procedimentos
para gerir ou administrar uma organização, de forma a obter o melhor relaciona-
mento com o meio ambiente.

O SGA tem sido considerado uma das melhores formas de gerenciamento am-
biental, segundo as normas internacionais do Sistema de Organização Interna-
cional para Padronização (ISO). Conhecida mundialmente, a ISO é uma entidade
de padronização e normatização de serviços e produtos que utiliza determinadas
normas para que a qualidade do produto seja sempre melhorada. Foi criada em

30 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Genebra, na Suíça, em 1947, com a finalidade de equilibrar a proteção ambiental


e a prevenção de poluição com as necessidades sociais e econômicas. No Brasil
o órgão regulamentador da ISO é a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). A norma é aplicável a todos os tipos e portes de organizações (pequenas,
médias e grandes) e de todos os setores (governo, ONGs e empresas privadas).

Suas normas mais conhecidas são a ISO 9001, para gestão da qualidade, e a ISO
14000, para gestão do meio ambiente. Os modelos de certificados são apresenta-
dos nas Figuras 6 e 7.

Figura 6 – Modelo de certificação ISO 9001

Fonte: INDULABSRl (2015).

Figura 7 – Modelo de certificação ISO 14001

Fonte: GRUPORENOVA (2015).

a) Responsabilidade socioambiental compartilhada


Ao considerarmos que o meio ambiente é um direito de todos, a responsabi-
lidade social compartilhada é aquela em que todas as pessoas, cada agente
do processo, divide responsabilidades e ações. Ou melhor, o problema é de
31 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

todos, a resolução deve ser dialogada, como se fosse um acordo. Podemos


considerar como exemplo de responsabilidade socioambiental compartilhada
o problema do lixo. Quem são os responsáveis pela fabricação, importação,
distribuição, comercialização, consumo dos produtos, bem como recebimento,
transporte e reciclagem dos resíduos?
Para minimizar o impacto da produção do lixo, podemos considerar a Logística
Reversa. Esta, cujo modelo apresentaremos na Figura 8, caracteriza-se por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação, ou seja, o
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor.

Figura 8 – Modelo logística reversa

Processamento
Matéria-prima Convertedores
Produção
OUTROS Produto
MATERIAIS

MATÉRIA-PRIMA
FL

XO
U

DE
NEG Distribuição
Ó CIOS

COMPOSTAGEM
Reciclagem Varejo
INCINERAÇÃO
SO

Ú
ATERRO RE

LIXÃO Consumidores

Fonte: Adaptada de Quartim (2010).

A responsabilidade compartilhada é a base da política nacional de resíduos sólidos,


já que traz as obrigações de todos os envolvidos na logística reversa dos produtos
em fim de vida.

Além de nossas ações individuais, em que cada segmento da sociedade cumpre


com suas responsabilidades, tem-se os documentos legais que amparam as leis,
normas, resoluções na esfera federal, estadual, municipal.

Você já parou para pensar como as leis auxiliam na organização social?


São equivalentes às “regras do jogo” e existem para garantir que a democracia e
os direitos de todos sejam respeitados. Regulamentam a convivência, ajudam na
mediação de conflitos. Ao obedecer às leis, definimos direitos e deveres na con-
duta do cidadão, garantindo uma convivência harmoniosa, contribuindo para um
mundo mais justo para todos e todas.

32 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Saiba mais
O primeiro conjunto de leis foi o Código de Hamurabi, criado
na Mesopotâmia, por volta do século XVIII a.C., baseado no
“olho por olho, dente por dente”.

No que se refere à legislação, merece destaque a Política Nacional do Meio Am-


biente (PNMA). Com a edição da Lei nº 6.938/81 o país passou a ter formalmente
uma Política Nacional do Meio Ambiente, um marco legal para todas as políticas
públicas de meio ambiente a serem desenvolvidas pelos entes federativos. É nos-
sa referência mais importante na proteção ambiental.

Ela confere efetividade ao artigo 225 da Constituição Federal (1988) já citado, que
introduz um capítulo específico sobre meio ambiente.

A Lei nº 6.938/81 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e institui o Sis-
tema Nacional do Meio Ambiente, que tem o objetivo de estabelecer um conjunto
articulado e descentralizado de ações para a gestão ambiental no país, integrando e
harmonizando regras e práticas específicas que se complementam nos três níveis de
governo. Constituído pelos órgãos e instituições ambientais da União, dos Estados,
dos Municípios, do Distrito Federal e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público.

Vamos conhecer os artigos 2º e 9º da Lei nº 6.938/81:

XX Art. 2º – A Política Nacional de Meio Ambiente tem por objetivo a preser-


vação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
visando a assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeco-
nômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
da vida humana, atendidos os seguintes princípios:

I) ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico,


considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser ne-
cessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

II) racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar;

III) planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais;

IV) proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas;

V) controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

VI) incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso


racional e a proteção dos recursos ambientais;

VII) acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII) recuperação de áreas degradadas;

33 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

IX) proteção de áreas ameaçadas de degradação;

X) EA em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, ob-


jetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente.

Saiba mais
No ano de 2015 a Política Nacional do Meio Ambiente completa
34 anos. A legislação ambiental brasileira é uma das mais
completas do mundo.

XX Art. 9º – São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:

I) o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;

II) o zoneamento ambiental;

III) a avaliação de impactos ambientais;

IV) o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente


poluidoras;

V) os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou


absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental;

VI) a criação de reservas e estações ecológicas, áreas de proteção ambien-


tal e as de relevante interesse ecológico, pelo Poder Público Federal,
Estadual e Municipal;

VII) o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;

VIII) o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa


Ambiental;

IX) as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento


das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação
ambiental;

X) a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divul-


gado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis – IBAMA;

XI) a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente,


obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes;

XII) o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/


ou utilizadoras dos recursos ambientais.

34 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

O conhecimento por parte da população acerca do conteúdo das legislações, e o


que estas têm a ver com a melhoria da qualidade de vida da comunidade, são o
primeiro passo para um maior controle social sobre a aplicação das leis.

Nesse sentido, é importante conhecermos a legislação vigente, os direitos e deveres


do cidadão e o nível de aplicação das leis das esferas federal, estadual e municipal.

Embora saibamos da importância de conhecer as leis que regem e balizam nossos


direitos e deveres na sociedade, também sabemos que este não é um conhecimen-
to fácil. Muito se ouve falar que as leis são de difícil entendimento e que somente
os advogados as entendem. Diante dessa constatação podemos nos questionar
sobre como traduzir as leis para nossas ações na comunidade, no nosso dia a dia.

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental, como profissional capacitado,


pode mobilizar os atores sociais da comunidade e promover atividades para a
discussão, reflexão e conhecimentos das leis e, caso necessário, buscar auxílio
para que sejam cumpridas.

Vejamos algumas dicas importantes para o Agente de Desenvolvimento Socioam-


biental abordar leis com a comunidade.

• Agrupar pessoas que tenham interesse em conhecer um pouco mais


sobre as leis.
• Escolher a lei de interesse do grupo. Por exemplo: a lei escolhida é a
Política Nacional do Meio Ambiente.
• Contextualizar a lei utilizando algum recurso: música, poema, texto,
recorte, fotografia, dentre outros.
• Pesquisar o ano, esfera (federal, estadual ou municipal) e em que
contexto histórico essa lei foi promulgada.
• Identificar o artigo, parágrafo, inciso, alínea da lei.
• Ler em partes, pausadamente e em linguagem adequada (de modo
que todos possam participar), assinalando as partes que necessitam
o maior destaque. Por exemplo: a implementação de um programa
de EA na comunidade está no inciso X da referida lei. Isto é, procurar
relacionar a lei à prática cotidiana da comunidade.
• Exemplificar com outras leis, como o Código de Defesa do
Consumidor, Lei Maria da Penha, dentre outras.
• Possibilitar momentos de reflexões com questões do tipo: alguém do
grupo já teve algum direito desrespeitado? Como agiu? Quando as leis
não são cumpridas, o que fazer? As leis que existem são para todos
e todas sem distinção de qualquer natureza? Há alguma atitude que
você possa tomar para garantir o direito que está sendo discutido?

É importante considerarmos que o meio ambiente ecologicamente equilibrado foi


consagrado constitucionalmente como direito fundamental à vida sadia de todos
35 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

os indivíduos habitantes do planeta. Nesse sentido, é importante conhecer as leis e


exigir que sejam cumpridas. Tal pratica se constitui um ato político e de cidadania.

1.4 DIREITOS HUMANOS E OS INDICADORES SOCIAIS E AMBIENTAIS


Os direitos humanos são direitos inerentes a todos
os seres humanos, independentemente de raça, cor,
sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qual-
quer outra condição.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)


é um documento-marco na história dos direitos huma-
nos. Elaborada por representantes de diferentes ori-
gens jurídicas e culturais de todas as regiões do mundo, a DUDH foi proclamada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris, em 10 de dezembro de 1948, como
uma norma comum a ser alcançada por todos os povos e nações. Ela estabelece,
pela primeira vez, a proteção universal dos direitos humanos.

A DUDH é um ideal comum a ser alcançado por todos os povos e todas as nações,
a fim de que todos os indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constan-
temente no espírito, se esforcem, pelo ensino e pela educação,
por promover o respeito desses direitos e liberdades e assegu-
rar, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional,
o seu reconhecimento e a sua aplicação universais e efetivos,
tanto entre as populações dos próprios Estados-membros como
entre os povos dos territórios colocados sob sua jurisdição.

Esses ideais são a base de toda e qualquer sociedade que pretenda ser justa e igualitária.

Podemos elencar como mais importantes os seguintes direitos fundamentais:

XX Direitos civis – são o direito à igualdade perante a lei, o direito a um julga-


mento justo, o direito de ir e vir, o direito à liberdade de opinião, entre outros.

XX Direitos políticos – são o direito à liberdade de reunião, o direito de asso-


ciação, o direito de votar e de ser votado, o direito de pertencer a um par-
tido político, o direito de participar de um movimento social, entre outros.

XX Direitos sociais – são o direito à previdência social, o direito ao atendi-


mento de saúde e tantos outros direitos neste segmento.

XX Direitos culturais – são o direito à educação, o direito de participar da


vida cultural, o direito ao progresso científico e tecnológico, entre outros.

XX Direitos econômicos – são o direito à moradia, o direito ao trabalho, o


direito à terra, o direito às leis trabalhistas e outros.

XX Direitos ambientais – são os direitos de proteção, preservação e recupe-


ração do meio ambiente, utilizando recursos naturais sustentáveis.
36 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi traduzida em mais de 360


idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as
constituições de muitos Estados e democracias recentes.

Uma série de tratados internacionais de direitos humanos e outros instrumentos ado-


tados desde 1945 expandiram o corpo do direito internacional dos direitos humanos.
Esses direitos são o requisito para que as pessoas possam construir sua vida em liber-
dade, igualdade e solidariedade. Os três princípios – segurança, identidade e partici-
pação – podem ser considerados como categorias básicas para os Direitos Humanos.

Na reportagem sobre a seca em Cabo Verde são identificados esses três princípios.

Cabo Verde receberá ajuda da ONU para enfrentar seca que


já afetou 30 mil pessoas

A Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO)


anunciou, nesta quarta-feira (18), que fornecerá sementes, ração
para animais e equipamentos de irrigação para recuperar os meios
de subsistência de milhares de pessoas em Cabo Verde. O acordo,
de 500 mil dólares, assinado entre o diretor da FAO, José Graziano
da Silva, e o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Pereira
Neves, prevê o fortalecimento da resiliência do país insular africano.

Em 2014, a pluviosidade em Cabo Verde foi 65% menor que no


ano anterior, fazendo com que 30 mil cabo-verdianos passassem
a depender de assistência, após perderem grande parte
do cultivo de grãos em oito das dez ilhas do arquipélago.

“Esse acordo é de extrema importância porque não apenas nos


ajudará a enfrentar a atual seca, mas também ajudará a criar
condições para construir uma agricultura sustentável em Cabo
Verde”, afirmou o primeiro-ministro.

Fonte: Nações Unidas (2015).

Os direitos humanos não devem igualar, mas – ao contrário – devem assegurar a


individualidade de cada um e do grupo social ao qual pertence. O direito à edu-
cação ou à alimentação é considerado um pré-requisito para a percepção dos
direitos políticos. Por conseguinte, não se pode separar dos direitos humanos.

Durante o século XX, os direitos humanos evoluíram como um enquadramento


moral, político e jurídico, e como linha de orientação para desenvolver um mundo
sem medo e sem privações. No século XXI, é mais imperativo do que nunca tornar
os direitos humanos conhecidos e compreendidos e fazê-los prevalecer.

37 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A educação em direitos humanos promove, assim,


Holístico significa associado ao
um enfoque holístico embasado no gozo desses todo. É uma forma de pensar glo-
direitos, que abrange, por um lado, os “direitos balmente, isto é, considerando as
humanos pela educação” – isto é, conseguir que todos partes e o todo, o todo e as partes,
considerar todos os elementos
os componentes e processos de aprendizagem,
que compõem um sistema.
incluindo os planos de estudo, o material didático,
os métodos pedagógicos e a capacitação, conduzam ao aprendizado dos direitos
humanos – e, por outro lado, a “realização dos direitos humanos na educação” – que
consiste em fazer valer o respeito aos direitos humanos de todos os membros da
comunidade escolar (Plano de Ação – UNESCO, 2012).

Os direitos humanos também poderão ser um instrumento a ser utilizado pelas


pessoas para a transformação social em nível nacional, regional ou universal.

As organizações da sociedade civil ajudam a amplificar a voz dos não privilegiados


econômica e politicamente. Em campanhas sobre assuntos específicos relaciona-
dos com o comércio justo, a violência contra as mulheres, homossexuais, indíge-
nas, afrodescendentes, os direitos humanos e as violações ambientais, referindo
só alguns, a sociedade civil internacional tem chamado a atenção do mundo para
as ameaças à segurança humana.

As Organizações Não Governamentais (ONGs) podem fortalecer e mobilizar várias


organizações da sociedade civil nos seus países, através de uma educação base-
ada em direitos humanos, para desenvolver a participação cívica nos processos
econômicos e políticos e para assegurar que os compromissos institucionais res-
pondam às necessidades das pessoas.

Promover os direitos humanos no âmbito internacional é um dos


objetivos-base na criação da Organização das Nações Unidas
(ONU). Ela foi fundada oficialmente em 24 de outubro de 1945, em
São Francisco, Califórnia, ao final da Segunda Guerra Mundial e
representou importante mecanismo de cooperação internacional,
a fim de construir a paz no pós-guerra e prevenir guerras futuras.

Curiosidade
A Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939, foi
a maior catástrofe provocada pelo ser humano em toda a sua
história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos
os continentes, de forma direta ou indireta. O número de mortos
superou os cinquenta milhões e deixou aproximadamente vinte e
oito milhões de mutilados. A Segunda Guerra Mundial aconteceu
em virtude da ideia de Hitler de expandir os domínios territoriais
da Alemanha e ampliar, dessa forma, a obtenção de poder e
recursos materiais (principalmente matérias-primas) pelo mundo.
Nessa época todos os direitos humanos foram violados.

38 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A ONU, uma organização constituída por governos da maioria dos países do mun-
do, é a maior organização internacional. Seu objetivo principal é criar e colocar em
prática mecanismos que possibilitem a segurança internacional (paz no mundo),
desenvolvimento econômico, definição de leis internacionais, respeito aos direitos
humanos e o progresso social.

É fundamental acompanharmos se os direitos humanos estão sendo efetivamente


respeitados. Quando temos casos de tráfico de pessoas, repressão, tortura, racis-
mo, miséria, liberdade de expressão, exclusão social, violências, frio e sede, temos
exemplos de violação de direitos humanos. Também se caracteriza como violação
de direitos humanos a ausência de políticas públicas para a educação, para a saúde,
para a assistência social, para a segurança e para o saneamento básico. A falta do
direito à terra, à expressão da sexualidade, à cultura, à religião, ao salário digno e a
um ambiente sadio também são situações que ferem os direitos humanos e que pre-
cisam ser permanentemente monitoradas pela sociedade.

No dia a dia conseguimos, por meio de uma análise social, identificar as pessoas
que têm acesso aos direitos humanos e ao desenvolvimento humano, saúde, lazer,
educação, segurança, justiça, enfim todas as necessidades, ou parte delas, aten-
didas com o objetivo de que tenham uma efetiva qualidade de vida.

Porém, essa percepção inicial não dá conta de mensurar a realidade social e pro-
por políticas públicas as quais todos tenham acesso. Por isso, contamos com ins-
trumentos denominados indicadores sociais. Assim, como sugere o próprio nome,
um indicador indica, aponta. É uma ferramenta que permite a obtenção de infor-
mações sobre uma dada realidade.

Um indicador social geralmente é uma medida quantitativa


dotada de significado social substantivo, usado para
substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito
social abstrato, de interesse teórico quando o objetivo é a
pesquisa acadêmica ou programático quando utilizado para
a formulação de políticas públicas.

O indicador sinaliza elementos que irão auxiliar no planejamento, execução, ava-


liação dos programas, projetos e serviços sociais e como instrumento de medida
de eficiência, eficácia e impactos das políticas e programas.

Os indicadores sociais compõem a agenda da política social como um referencial in-


dispensável para a definição de prioridades e alocação de recursos. Ou seja, de acor-
do com a área “defasada”, indicam uma maior ou menor distribuição de recursos.

Existem diversas formas de classificar um indicador social. A mais comum é a cate-


gorização do indicador segundo uma determinada área temática da realidade social,
como a saúde, a educação, a segurança pública, renda e desigualdade, e a habitação.
39 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Vejamos um exemplo de construção de um indicador na área de saúde:

Exemplo
I) Indicador insumo: quantidade de médicos por mil habitantes
ou gasto monetário per capita em saúde.

II) Indicador processo: uso dos recursos, como consultas ao


mês por criança até 1 ano ou medicamentos distribuídos por
mês por criança.

III) Indicador resultado: resultado efetivo, como taxa de


mortalidade infantil por causa específica – índice de desnutrição.

IV) Indicador impacto: desdobramentos futuros, como melhoria do


desempenho escolar, economia futura com gastos em saúde –
políticas públicas.

Para a definição de um indicador social é necessário levar em consideração os


eventos empíricos da realidade social, os dados brutos levantados e a informação
para análise e decisões de política pública. A análise desses eventos permitirá
avançar no conhecimento sobre a realidade. A Figura 9 apresenta a construção de
um indicador social.

Figura 9 – Representação da construção de um indicador social

Informação
Dados brutos
para análise e
1 2 3
Eventos levantados:
empíricos da decisões de
estatísticas
realidade social política pública:
públicas
indicador social

Nível de conhecimento sobre a realidade

Fonte: Elaborada pela autora.

Os indicadores também podem designar os países como sendo: ricos (desenvol-


vidos), em desenvolvimento (economia emergente) ou pobres (subdesenvolvidos).
Com isso, organismos internacionais analisam os países segundo: expectativa de
vida, taxa de mortalidade, taxa de analfabetismo, renda nacional bruta, saúde, ali-
mentação, condições médico-sanitárias, qualidade de vida e acesso ao consumo.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado pela ONU, em 1990, para


tentar medir o grau econômico e, principalmente, como as pessoas estão vivendo
nos países de todo o mundo.

40 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

O IDH, que é calculado anualmente, avalia os países em uma escala de 0 a 1. O


índice 1 não foi alcançado por nenhum país do mundo, pois tal índice iria significar
que determinado país apresenta uma realidade quase que perfeita de vida.

Parte-se do pressuposto de que para aferir o avanço de uma população não se


deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também outras caracterís-
ticas sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana.
Atualmente, os três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e renda) são
mensurados da seguinte forma:

XX Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida.

XX O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: média de anos de


educação de adultos, que é o número médio de anos de educação rece-
bidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos, e a expectativa de
anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que
é o número total de anos de escolaridade que uma criança na idade de
iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes
de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos
durante a vida da criança.

XX O padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) com
base na Paridade de Poder de Compra (PPP) por habitante.

A Figura10 apresenta os aspectos que devem ser considerados no IDH.

Figura 10 – Índice de Desenvolvimento Humano

Cultura
Participação Política

Economia Educação

Leis Comunidade

Ambiente Saúde

TRÊS DIMENSÕES

Vida longa Acesso ao Padrão


e saudável conhecimento de vida

Fonte: PNUD (2013).

41 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.


Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não
abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da
“felicidade” das pessoas, nem indica “o melhor lugar no mundo para se viver”.
Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos as-
pectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH.

Saiba mais
Entre os 187 países, o Brasil ocupa a 79ª posição no ranking do IDH.

De 1980 a 2013, o IDH do Brasil foi o que mais cresceu entre os


países da América Latina e do Caribe, com alta acumulada de
36,4%, um crescimento médio anual de 0,95% no período.

Conforme dados da ONU, de 1980 a 2013 o IDH do Brasil subiu de posição e supe-
rou a média da América Latina e Caribe. A expectativa de vida dos brasileiros é de
73,9 anos, a média de escolaridade entre os adultos é de 7,2 anos, a expectativa de
tempo de estudo é 15,2 anos, e a renda nacional per capita anual é de US$ 14.275.

É importante destacar que alguns itens contribuíram para esse avanço, como o
aumento da renda, efetivação de ações políticas, a restauração da democracia, a
estabilidade macroeconômica, a criação do Sistema Único de Saúde e a universa-
lização da educação.

Analise na Figura 11 a posição de alguns países no ranking do IDH.

Figura 11 – Ranking do IDH de alguns países

MAIS DESENVOLVIDOS

1 Noruega 0,944
2 Austrália 0,933
3 Suíça 0,917
4 Suécia 0,915
5 Estados Unidos 0,914
6 Alemanha 0,911
7 Nova Zelândia 0,91
8 Canadá 0,902
9 Singapura 0,901
10 Dinamarca 0,900

POSIÇÃO DO BRASIL

76 Azerbaijão 0,747
77 Jordânia 0,745
78 Sérvia 0,745
79 Brasil 0,744
80 Georgia 0,744
81 Granada 0,744
81 Peru 0,737

Fonte: Adaptada de PNUD (2013).

42 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Em 1998, o Brasil foi um dos países pioneiros ao adaptar e calcular um IDH sub-
nacional para todos os estados e municípios brasileiros, com dados do Censo
Demográfico, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

O IDHM ajusta o IDH para a realidade dos municípios e reflete as especificidades e


desafios regionais no alcance do desenvolvimento humano no Brasil. É uma medida
composta de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevi-
dade, educação e renda.

A Figura 12 apresenta a forma como pode ser lido o IDHM, com base nas faixas de
Desenvolvimento Humano Municipal.

Figura 12 – Faixas de Desenvolvimento Humano Municipal

0 0,499 0,500 0,599 0,600 0,699 0,700 0,799 0,800 1

MUITO BAIXO BAIXO MÉDIO ALTO MUITO ALTO

Fonte: Adaptada de PNUD (2013).

A Figura 13 apresenta um exemplo no cálculo comparativo da cidade de Florianó-


polis (SC) e da Cidade de Santanópolis (BA) e seu IDMH. Quanto mais próximo de
1 (um), maior o desenvolvimento do município. Observe que a tabela apresentada
na figura descreve os componentes das duas cidades e mostra os dados do IDHM
em forma de árvore, apontando o indicador “ideal” de desenvolvimento.

Figura 13 – Cálculo comparativo do IDH

Florianópolis (SC) Santanópolis (BA)


e
de de

ad
ida da

vid
0, 1 gev evi

ge
g

lon
lon lon

1
87

ão ão

ão

1
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0,7
0,

0,7


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6
59

0,5
49
0,

0,

0,4
0,3
0,2
0,592
0,847

IDHM
IDHM

0,1

1991 2000 2010 1991 2000 2010

IDHM e seus componentes Valores IDHM e seus componentes Valores


IDHM 0,847 IDHM 0,592
IDHM Renda 0,870 IDHM Renda 0,561
IDHM Longevidade 0,873 IDHM Longevidade 0,746
IDHM Educação 0,800 IDHM Educação 0,496

Fonte: Adaptada de PNUD (2013).

Calcule o IDHM de sua cidade acessando:


http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta

43 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

A importância em conhecer IDHM de uma cidade e a forma como esses índices são
construídos contribui para as ações do Agente de Desenvolvimento Socioambien-
tal porque esse profissional está inserido nas ações da comunidade, auxiliando na
identificação dos problemas socioambientais, dos indicadores sociais que apontam
a realidade do local de atuação. É fundamental para qualquer iniciativa que o Agente
de Desenvolvimento Socioambiental conheça a realidade social do local onde irá
atuar, pois isso lhe dará um panorama da área que merece mais atenção, dos recur-
sos disponíveis e da implementação de projetos.

Além disso, o Agente poderá desmitificar que o IDHM é centrado nas pessoas que
compõem a comunidade e que não há uma visão reduzida ou limitada ao cresci-
mento econômico.

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental pode-


rá, junto à comunidade e outros profissionais, promo-
ver debates, reflexões acerca da comparação entre
os municípios brasileiros ao longo do tempo, estimu-
lando formuladores e implementadores de políticas
públicas no nível municipal a priorizar a melhoria da
vida das pessoas em suas ações e decisões.

Assim como os indicadores sociais irão auxiliar a atuação do Agente de Desen-


volvimento Socioambiental, os indicadores ambientais agregam mais elementos,
que representam ou resumem alguns aspectos do estado do meio ambiente, dos
recursos naturais e de atividades humanas relacionadas à comunidade.

Dados relacionados à preservação, conservação e utilização sustentável de ecos-


sistemas, preservação e conservação da biodiversidade e das florestas, instru-
mentos econômicos e sociais para a melhoria da qualidade ambiental e o uso
sustentável dos recursos naturais são ferramentas indispensáveis para o acompa-
nhamento e definição das políticas, ações e estratégias dos órgãos competentes
das esferas regionais, municipais, estaduais e federais.

Os indicadores ambientais devem responder a três funções essenciais e complementares:

• Função científica: avaliar o estado do meio ambiente,


traduzindo as questões e desafios ambientais.
• Função política: identificar prioridades e avaliar o
desempenho de políticas públicas, chamando a atenção da
sociedade para desafios e questões a serem enfrentados,
desenvolvendo ações corretivas ou preventivas.
• Função social: facilitar a comunicação e incentivar
a responsabilidade ambiental dos atores sociais,
sensibilizando e alterando gradualmente comportamentos
sociais predatórios a fim de reverter o estado.

44 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Analise, no Gráfico 1, os diferentes estágios da implantação da Agenda 21 Local


nos municípios brasileiros no período de 2002 a 2012.

Gráfico 1 – Total de municípios com Agenda 21 segundo o estágio de implantação

60

50

40
Municípios (%)

30

20

10

0
2002 2009 2012

 Sensibilização/mobilização da comunidade
 Definição do diagnóstico e metodologia
 Elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável
 Implementação/acompanhamento

Fonte: Adaptado de IBGE (2012).

O planejamento participativo, conhecido por Agenda 21 Local, é um instrumento


de planejamento de políticas públicas que envolve a sociedade civil e o governo
em um processo amplo e participativo de consulta sobre os problemas ambien-
tais, sociais, a economia local e o debate sobre soluções para esses problemas
através da identificação e implementação de ações concretas que visem ao de-
senvolvimento sustentável local.

Porém devemos lembrar que qualquer análise referente ao ambiente não pode ser
entendida de forma linear e nem simplificada a alguns poucos aspectos. Deve,
sim, considerar todos os fenômenos socioculturais, econômicos, políticos e os
múltiplos olhares dos diversos profissionais capacitados, entre eles o Agente de
Desenvolvimento Socioambiental, que juntos, por iniciativa do poder público ou
da sociedade civil, podem orientar e propor ações a fim de harmonizar desenvol-
vimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental.

Nesse momento o Agente de Desenvolvimento Socioambiental deve orientar os


atores sociais, articulando a comunidade, buscando ferramentas, parcerias e pro-
por a construção de uma Agenda 21 local.

Saiba mais sobre a Agenda 21 no site do Ministério do


Meio Ambiente. http://www.mma.gov.br/responsabilidade-
socioambiental/agenda-21/agenda-21-local/item/723

45 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

Em 2000, a ONU, ao analisar os maiores problemas mundiais, estabeleceu 8 Ob-


jetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), que no Brasil são chamados de
8 Jeitos de Mudar o Mundo. Esses objetivos devem ser atingidos, até 2015, por
todos os 191 Estados-membros da ONU.

Os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são:

1) Erradicar a extrema pobreza e a fome.

2) Atingir o ensino básico universal.

3) Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres.

4) Reduzir a mortalidade na infância.

5) Melhorar a saúde materna.

6) Combater o HIV, a malária e outras doenças.

7) Garantir a sustentabilidade ambiental.

8) Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento.

Leia o documento completo em Nações Unidas – Declaração do Milênio.


Disponível em: http://www.pnud.org.br/Docs/declaracao_do_milenio.pdf

A ideia da Declaração do Milênio é mobilizar todas as esferas da sociedade. Você


pode começar pela sua rua, comunidade ou cidade, estendendo ao país.

Os Objetivos de Desenvolvimento no Milênio


não se tratam de uma promessa de futuro,
mas de um caminho a ser construído coleti-
vamente e ajustado conforme as necessida-
des e peculiaridades de cada lugar.

No Brasil, alguns resultados dos ODMs já foram alcançados com os programas


sociais do governo federal em parceria com as esferas estaduais e municipais. A
ideia dos programas é transformar o país, diminuindo a miséria, aumentando a
inclusão social e reduzindo a desigualdade.

Vejamos alguns exemplos de iniciativas que buscam atender a estes objetivos no Brasil.

XX Programa Fome Zero;

XX Programa Bolsa Família;

XX Programa Brasil Alfabetizado;

XX Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec);

46 06
UNIDADE CURRICULAR 1: Orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental

XX Programa Universidade para Todos (Prouni);

XX Programa Minha Casa Minha Vida;

XX Programa Jovem Aprendiz.

Você sabia que o Senac é parceiro do Governo Federal no Programa Jovem Aprendiz?
Sabemos que ainda precisamos avançar muito no aspecto social para chegar ao
indicador máximo “1” do desenvolvimento humano, mas precisamos lembrar de
que já estivemos bem mais longe do ideal do que hoje estamos.

Nosso estudo até agora permitiu identificar elementos que compõem a Introdução
ao Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Por meio desses elementos
tivemos a oportunidade de estudar a composição do ambiente, ou seja, conhece-
mos a dimensão ambiental e seus aspectos sociais, econômicos, naturais, cultu-
rais, políticos, físicos, biológicos, éticos, dentre outros.

Vale ressaltar que todos esses aspectos compõem o que chamamos de teia da
vida, em uma perspectiva sistêmica, e a interdependência dos seres vivos com os
elementos abióticos. Nosso estudo também destacou a importância de entender-
mos que todos nós somos responsáveis pelo que acontece ao ambiente, de forma
individual ou compartilhada, assim como perceber que as nossas ações diárias
contribuem na forma de impactos positivos ou negativos ao espaço onde estamos.

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental tem a responsabilidade de contri-


buir nesse processo de compreensão da realidade ambiental. Tem a função de
organizar, por meio da educação, ações educativas efetivas que possibilitem o
enfrentamento dos problemas ambientais na comunidade de sua atuação.

47 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

2 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS CAMINHOS PARA A


SUSTENTABILIDADE

CONTEXTUALIZANDO
A relação construída entre o ser humano e o meio ambiente ao longo da história da
humanidade foi uma relação de distanciamento que fez com que nós, humanos,
causássemos impactos negativos ao ambiente a ponto de saturar os recursos na-
turais e extinguir espécies.

Questionamento
De que forma a educação atual está sendo efetiva na construção
de uma nova sociedade mais sustentável, ética e igual para
todos? Por que as pessoas ainda apostam tanto na educação
como forma de prevenção?

A EA aponta para a construção de um pensamento crítico, reflexivo, transformador


da sociedade em nível local e planetário. Uma nova ordem capaz de minimizar os im-
pactos ambientais, mobilizando a sociedade para mudanças possíveis e duradouras.

O estudo sobre a EA e caminhos para a sustentabilidade contribuirão para o desenvol-


vimento dos conhecimentos necessários para desenvolver a competência de orientar
os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental.

2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRINCÍPIOS DE PRÁTICAS

Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas.


Pessoas transformam o mundo. (Paulo Freire)

Educar significa promover o processo de desenvolvimento da capacidade intelectu-


al e moral do ser humano com o intuito de integrá-lo individual e socialmente no seu
ambiente, ou seja, a educação tem como finalidade a
A palavra educação é originária
preparação do indivíduo para o exercício da cidada- de educere, que indica a “con-
nia. Toda ação educativa tem uma intencionalidade. dução a partir do exterior”.

A educação é um processo dinâmico, em permanente construção, que deve pro-


piciar o debate, a reflexão e a própria modificação do sujeito. É um dos requisitos
fundamentais para que os indivíduos tenham acesso ao conjunto de bens e servi-
ços disponíveis na sociedade democrática.
48 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

O direito à educação é, sobretudo, um fenômeno social e universal, que nos dá o


direito de aprender, de conhecer, de descobrir, de se apropriar dos conhecimentos e
experiências culturais produzidos, requisito necessário para ser aceito em um grupo.

O Art. 1º da LDB (1996) coloca que “[...] a educação abrange os processos forma-
tivos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho,
nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais”.

O relatório Educação: um tesouro a descobrir, proposto pela UNESCO para a


educação do século XXI, aponta como principal consequência da sociedade do
conhecimento a necessidade de uma aprendizagem ao logo da vida fundamenta-
da em quatro pilares (DELLORS, 2000). Analise a Figura 14 e conheça mais sobre
cada um dos pilares da educação.

Figura 14 – Pilares da Educação

Os 4 pilares da
Educação

Aprender a Aprender a Aprender a Aprender a


Ser Conhecer Fazer Conviver

Fonte: Elaborada pela autora.

XX Aprender a conhecer: prazer de compreender, descobrir, construir e re-


construir o conhecimento, curiosidade, autonomia, que supõe uma cul-
tura geral. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdo.
É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não apenas “pensar
pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É
preciso pensar o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro.
Pensar o não pensado, pensar o não dito. Reformar o pensamento.

XX Aprender a fazer: é indissociável do aprender a conhecer. Hoje vale mais a


competência pessoal, que torna a pessoa apta a enfrentar novas situações,
trabalhar em equipe, saber trabalhar coletivamente, ter iniciativa, gostar do
risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter estabili-
dade emocional e ter, também, flexibilidade como competência essencial.

XX Aprender a viver juntos: a viver com os outros. Compreender o outro,


desenvolver a percepção da interdependência, da não violência, adminis-
trar conflitos. Descobrir o outro, participar de projetos comuns. Ter prazer
no esforço comum. Participar de projetos de cooperação.

XX Aprender a ser: desenvolvimento integral da pessoa – corpo, inteligência,


sensibilidade, senso ético e estético, responsabilidade pessoal, espirituali-
dade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, criatividade, iniciativa.
49 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Formular os próprios juízos de valores, de modo a poder decidir por si,


como agir em diferentes circunstâncias da vida. Para isso não se deve ne-
gligenciar nenhuma das potencialidades de cada indivíduo, a aprendizagem
não pode ser apenas lógico-matemática e linguística. Precisa ser integral.

Os “aprenderes” envolvem conhecimento e proporcionam uma maior consciência


e responsabilidade do ser e do viver, do agir, do pensar, do refletir, do ser e estar
no mundo. Induz a transformação de valores éticos, na sensibilização e na per-
cepção da realidade fazendo-nos refletir sobre a problemática socioambiental e as
inúmeras desigualdades da sociedade contemporânea.

Para que os quatro pilares da educação sejam desenvolvidos, são necessárias


algumas ações. Vejamos a seguir:

XX Aplicar os conhecimentos técnico-científicos adquiridos durante o curso


orientando os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvi-
mento socioambiental de forma sensível, crítica e sustentável.

XX Atuar junto às equipes multiprofissionais na comunidade a fim de com-


preender a realidade da região de forma sistêmica, valorizando o pluralis-
mo cultural e as potencialidades da região, cooperando na resolução dos
problemas apresentados.

XX Ter a oportunidade de trabalhar em equipe, mediar e gerenciar conflitos,


tomar iniciativas e agir de forma ética, dialógica, com vistas ao mundo do
trabalho dentro das empresas com foco em resultados.

XX Assumir, nas escolas, frente a planejamento e implantação de projetos


socioambientais comuns, partilhando práticas exitosas e utilizando estra-
tégias, metodologias, contribuindo nas reflexões e mudanças de compor-
tamentos predatórios.

XX Saber comunicar-se de forma clara, objetiva, ser flexível enfrentando de-


safios, assumindo riscos e capacidades de aprender a aprender.

Para Morin (2002) são sete os saberes fundamentais que a educação do futuro
deveria tratar em toda a sociedade e toda a cultura.

1) As cegueiras do conhecimento: a educação deve mostrar que não há co-


nhecimento que não esteja em algum grau ameaçado pelo erro e pela ilusão.
O mundo se reconstrói conforme a percepção que se tem dele. Há sempre
uma reconstrução e por isso estamos todos sujeitos ao erro e à ilusão.

2) Os princípios do conhecimento pertinente: é preciso situar as informa-


ções e os dados em um contexto para que adquiram sentidos, é preciso
ter uma visão capaz de perceber o conjunto, o global.

3) Ensinar a condição humana: o ser humano é, a um só tempo, físico, biológi-


co, psíquico, cultural, social, histórico. Somos seres humanos, pertencemos a
uma espécie que faz parte de uma sociedade, que interage e sofre interações.
50 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

4) Ensinar a identidade terrena: todos os seres humanos partilham um


destino comum. Este saber nos remete a uma profunda reflexão sobre a
relação do ser humano com o planeta. É necessário compreender a pre-
sença humana no mundo como a condição do mundo humano. E por isso
torna-se indiscutível desenvolver a aptidão de contextualizar e globalizar
os saberes. 

5) Enfrentar as incertezas: a grande conquista da inteligência seria poder,


enfim, libertar-se da ilusão de prever o destino humano. O futuro perma-
nece aberto e imprevisível e, por isso, é preciso entender que a história
humana foi e continua sendo uma aventura desconhecida.

6) Ensinar a compreensão: ensinar a compreensão entre as pessoas é ga-


rantia de solidariedade intelectual e moral da humanidade.

7) A ética do gênero humano: onde indivíduos/sociedade/espécie são co-


produtores um do outro. Consistindo numa decisão consciente e esclare-
cida de assumir a condição de indivíduo, espécie e sociedade na comple-
xidade que ela encerra.

Na perspectiva da formação do Agente de Desenvolvimento Socioambiental, os


sete saberes elencados por Morin (2002) irão fortalecer a compreensão de que o
ambiente, assim como o ser humano, é complexo e apresenta diversas dimensões
(social, política, biológica, dentre outras) que se relacionam e interagem, que suas
partes formam o todo e que o ser humano se insere na teia da vida, à qual perten-
cem todos os seres vivos. Conhecer a condição humana é situá-lo no universo e
compreender que o ambiente ecologicamente equilibrado é necessário para além
dos demais seres vivos, para a sua própria sobrevivência, e que os conhecimentos
produzidos pela humanidade estão sujeitos a mudanças/alterações de maneira
inesperada. Os conhecimentos constroem-se e se reconstroem a todo o momento
conforme o contexto histórico, local e realidade em que estão inseridos.

Se considerarmos os conhecimentos que tínhamos em relação aos recursos naturais,


que eram infinitos e podiam ser utilizados de qualquer forma e controle, temos hoje
uma mudança de concepção. Atualmente sabemos que os recursos naturais são fini-
tos e que sua capacidade de destruição é infinitamente superior à sua capacidade de
suporte. Desta forma, sabemos que devemos utilizar os recursos de forma consciente
e responsável. Para esta mudança de comportamento e forma de utilização dos re-
cursos é essencial resgatar os valores humanos de solidariedade, moral, ética, corres-
ponsabilidades, ultrapassar individualidades, intolerâncias e egocentrismos.

Nesse sentido, podemos considerar que a verdadeira aprendizagem ocorre quan-


do nos vemos envolvidos por uma situação. Portanto, aproximar o “ato de ensinar”
da realidade gera motivação e estimula o interesse, fatores fundamentais para que
o processo de ensino ocorra de maneira eficaz.

51 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Mas de que forma nos apropriamos do conhecimento?


Nos apropriamos do conhecimento nos inúmeros espaços de vivência e convi-
vência, nas relações estabelecidas nesses espaços com o outro, na troca de ex-
periências e significados com o que já temos de conhecimento e interagindo e
ampliando com os novos. Enfim, acredita-se na possibilidade de mudança, a ser
conquistada por meio da educação, mediante um esforço coletivo. Educação que
pode acontecer em espaços informais, formais e não formais. Vejamos mais sobre
cada um destes tipos de educação.

XX Informal: os conhecimentos adquiridos ao longo de toda a vida, no co-


tidiano das pessoas, nas relações estabelecidas em seus ambientes fa-
miliares, profissionais, de lazer e entretenimento. A família é a principal
instituição responsável pela educação informal de uma pessoa. São ensi-
nados os costumes humanos, como falar, andar, comer, religião, cultura,
a arte de viver bem e conviver.

XX Formal: aquela que ocorre nos espaços formais de educação (escolas e


universidades). É o saber sistematizado com tempo, espaço, disciplinas, re-
cursos, metodologia e docente, currículo, estruturas hierárquicas e burocrá-
ticas com órgãos fiscalizadores. É um sistema de instrução com propósitos
intencionais já preestabelecidos, por onde perpassam os conhecimentos
científicos com o objetivo de formar a capacidade de pensar criticamente
os problemas e desafios postos pela realidade social. As ações são pro-
venientes de uma diretriz educacional, de propostas pedagógicas escola-
res, as quais estão inseridas no Planejamento Político-Pedagógico (PPP) de
uma escola formal, regular e sequencial.

XX Não formal: outros espaços que não sejam as escolas e as universida-


des. Ocorre em ambientes não formais ou qualquer manifestação e/ou
ação educacional que não esteja ligada a processos escolares, porém
organizados e em situações nas quais há intenção de ensinar e desenvol-
ver aprendizagens a determinados grupos da população. Não é estática,
é uma atividade aberta que ainda está em construção, portanto, não tem
uma identidade pronta e acabada. É uma área bastante diversa, difusa,
menos hierárquica, menos burocrática, e esses aspectos são muito inte-
ressantes, pois permitem, além de contribuições de várias áreas, a com-
posição de diferentes contextos culturais, tendo a diversidade como uma
de suas características. É flexível, pode ter diferentes tempos de aprendi-
zagens, a curto, médio e longo prazo. Acontece em espaços como asso-
ciações de bairro, espaços de espiritualidade e crenças, ONGs, sindica-
tos, mídia, poderes públicos, grupo de mulheres e jovens, empresários,
profissionais liberais, movimentos sociais, clube de serviços, centro co-
munitário, outros. É uma possibilidade de produção do conhecimento em
territórios fora das estruturas curriculares da educação formal. Muitas ve-
zes associada à educação popular e à educação comunitária.
52 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Nos espaços formais de educação o Agente de Desenvolvimento Socioambiental


poderá propor, junto aos seus profissionais da escola, ciclos de palestras sobre as
questões ambientais do entorno; propostas de trabalho interdisciplinares, estrutu-
radas e atreladas ao PPP, como hortas, vivências, construção das Escolas Susten-
táveis, COM-VIDAS e Agenda 21, a fim de promover discussões, reflexões e mu-
danças de valores e atitudes na comunidade escolar.

Nos espaços não formais o Agente de


Desenvolvimento Socioambiental poderá
atuar junto a crianças, jovens, adultos e
idosos, contribuindo de forma a apoiar as
iniciativas socioambientais já em curso na
comunidade, atuar junto às ONGs, desen-
volver ações educativas, realizar palestras,
oficinas, mobilizando a comunidade para
uma consciência crítica sobre a problemá-
tica ambiental, num processo de participação democrática e responsabilizações
compartilhadas, almejando ações de transformação social.

As três formas de nos educarmos se comunicam e existem de forma contínua.


Sendo assim, podemos considerar que as diferentes estratégias e práticas educa-
cionais transitam entre formal, não formal e informal. Nesse sentido, a educação
deve transformar-se em instrumento da elaboração, da discussão e da concre-
tização de uma nova ordem social, em um processo educativo dialético, global,
contínuo e consciente.

Conhecer é importante, pois a educação se fundamenta no conhecimento e o co-


nhecimento, na atividade humana como instrumento de manutenção ou transfor-
mação social. Nessa perspectiva, o conhecimento, habilidade, atitudes e valores
servem para desenvolvermos as competências e atender às exigências do mundo
do trabalho; serve para tomar parte nas decisões da vida em geral, social, política,
econômica, compreender o passado e projetar o futuro. Para nos comunicar e co-
nhecer melhor o que já conhecemos e continuarmos aprendendo.

Mas por que surge a necessidade de nos reeducarmos em relação ao mundo? Quais são
nossos valores e nossas atitudes em relação ao mundo?
A violência, o desemprego e a exclusão social são frutos de um sistema econômico
capitalista excludente que valoriza mais o TER (dinheiro, bens, produtos, ego, indi-
vidualidade) do que o SER (gentil, solidário, respeitoso).

Uma possibilidade de revertermos esse quadro socioambiental é por meio de uma


educação que possibilite o conhecimento sobre a importância de atitudes, valores
e práticas conscientes dos indivíduos.

Nesse sentido, a EA se direciona como uma possibilidade de se repensar e agir no


ambiente de forma mais viável, desviando-nos da rota da miséria, exclusão socio-
53 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

econômica e degradação ambiental. Um processo de aprendizagem permanente,


baseado no respeito a todas as formas de vida.

Ou seja, uma EA voltada para uma ação educativa e social que tem por finalidade o
resgate e a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes, na formação
dos sujeitos contemporâneos. A EA não é uma “parte, adjetivo ou dimensão” da
educação. Ela surge a partir do reconhecimento de que a educação tradicional não
tem sido ambiental. Isto é, não tem dado o devido valor e importância ao ambiente
e, consequentemente, não tem valorizado todas as formas de vida.

Nessa perspectiva, a EA é considerada um campo conceitual plural, teórico-meto-


dológico e diferenciado a partir das décadas de 60/70. Um campo de saber e de
conhecimento próprio, com identidade originada em determinado contexto histó-
rico associado aos movimentos sociais ambientais e da contracultura.

Saiba mais
O movimento de contracultura nasceu do desejo de mudar o
mundo, contra os padrões estabelecidos de consumo, violência,
miséria, lutas sociais e direitos humanos. Como o dos hippies, a
explosão do feminismo, o movimento negro ou Black Power, o
pacifismo, a libertação sexual e a “pílula”, as drogas, o rock and roll,
as manifestações anti-Guerra Fria e a corrida armamentista nuclear,
e anti-Vietnã. Assim se estabeleceu uma nova visão de mundo!

A segregação do ser humano no ambiente, bem como a crise ambiental foram


fatores primordiais que mobilizaram a sociedade exigindo soluções e mudanças.
Como alternativa de mudança, tanto a educação quanto a EA são vistas como
mediadoras de processos de transformações sociais, culturais e ambientais.

Vamos conhecer um pouco mais sobre a trajetória da EA e sua constituição ao lon-


go dos anos, como processo de educação permanente e transformador. Para isso
apresentaremos no Quadro 3 um breve histórico da EA com ênfase nos marcos
mais importantes no mundo e no Quadro 4 um breve histórico da EA com ênfase
nos marcos mais importante no Brasil a partir do século XIX.

54 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Quadro 3 – Histórico da EA no mundo

Ano Marco

1872 Criação do primeiro parque nacional do mundo, “Yellowstone”, nos USA.

Publicação do livro “Primavera Silenciosa” por Rachel Carlson. Primeiro alerta mundial contra
1962
os efeitos nocivos do uso de pesticidas na agricultura.

Publicação do Relatório “Os Limites do Crescimento” – Clube de Roma que estudou


ações para o equilíbrio global como a redução do consumo tendo em vista determinadas
1972
prioridades sociais e Conferência de Estocolmo – Discussão do Desenvolvimento e Ambiente,
Conceito de Ecodesenvolvimento.

1975 Congresso de Belgrado – Carta de Belgrado estabelece as metas e princípios da EA.

Conferência de Tbilisi – Geórgia, estabelece os princípios orientadores da EA e remarca seu


1977
caráter interdisciplinar, crítico, ético e transformador.

Congresso Internacional da UNESCO – PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental


– Moscou. Realiza a avaliação dos avanços desde Tbilisi, reafirma os princípios de EA e
1987 assinala a importância e necessidade da pesquisa e da formação em EA. Divulgação do
Relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido como “Relatório Brundtland”, que inauguraria a
terminologia “desenvolvimento sustentável”.

Conferência Mundial sobre Ensino para Todos, satisfação das necessidades básicas de
1990 aprendizagem, Jomtien, Tailândia. Destaca o conceito de Analfabetismo Ambiental. ONU
declara o Ano Internacional do Meio Ambiente.

Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, UNCED, Rio/92 - Criação da


1992 Agenda 21. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Fórum das ONGs
– compromissos da sociedade civil com a EA e o Meio Ambiente. Carta Brasileira de EA.

Em dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas, durante sua 57ª sessão,
estabelece a resolução nº 254, declarando 2005 como o início da Década da Educação
2000
para o Desenvolvimento Sustentável, depositando na UNESCO a responsabilidade pela
implementação da iniciativa.

A Rio+20 – Marco dos vinte anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre
2012 Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Definição da agenda do desenvolvimento
sustentável para as próximas décadas.

Fonte: Elaborado pela autora.

Quadro 4 – Histórico da EA no Brasil

Ano Marco

1808 §§ Criação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro.

1896 §§ Criação do primeiro parque estadual em São Paulo, o Parque da Cidade.

1920 §§ Considera-se o pau-brasil extinto.

§§ Cria-se, no Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural


1971
(AGAPAN).

§§ Cria-se a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), no âmbito do Ministério do


1973
Interior. É a institucionalização da EA no governo federal.

§§ Seminários, encontros e debates preparatórios para a Conferência de Tbilisi são realizados


1977
pela FEEMA-RJ.

55 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

§§ O MEC e a CETESB/ SP publicam o documento “Ecologia uma Proposta para o Ensino de


1979
1º e 2º Graus.

1981 §§ Lei 6.938 dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente.

§§ Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) apresenta uma resolução estabelecendo


1984
diretrizes para a EA, que não é tratada.

§§ O MEC aprova o Parecer 226/87, inclusão da EA nos currículos escolares de 1º e 2º Graus


1987 (atualmente Ensino Fundamental e Médio).
§§ Brasil na Comissão Brundtland.

§§ A Constituição Brasileira de 1988, Art. 225, no Capítulo VI – Do Meio Ambiente, Inciso


VI, destaca a necessidade de ““[...] promover a EA em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente’’. Para cumprimento dos
preceitos constitucionais, leis federais, decretos, constituições estaduais e leis municipais
1988 determinam a obrigatoriedade da EA.
§§ Fundação Getúlio Vargas traduz e publica o Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum.
§§ A Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e a Companhia de Tecnologia
de Saneamento Ambiental (CETESB) publicam a edição-piloto do livro “EA” Guia para
professores de 1º e 2º Graus (atualmente Ensino Médio e Fundamental).

§§ Criação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA) pela fusão da SEMA, SUDEPE,
1992 SUDEHVEA e IBDF. Nele funciona a Divisão de EA.
§§ Cria-se o Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) no Ministério do Meio Ambiente (MMA).

§§ Aprovação do Programa Nacional de EA, PRONEA, com a participação do MMA/IBAMA/


1994
MEC/MCT/MINC.

§§ Criação da Câmara Técnica de EA do CONAMA. Novos Parâmetros Curriculares do MEC,


1996
nos quais incluem a EA como tema transversal do currículo.

1997 §§ Criação da Comissão de EA do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

§§ Aprovada a Lei 9.795/99 que institui a Política Nacional de EA. Programa Nacional de EA
1999
(PNEA).

§§ Lançamento do Sistema Brasileiro de Informação em Educação Ambiental (SIBEA) sobre


2002
EA e Práticas Sustentáveis.

§§ Em setembro foi realizada a Consulta Pública do ProNEA, o Programa Nacional de EA, que
2004 reuniu contribuições de mais de 800 educadores ambientais do país. Foi criado o Grupo de
Trabalho de EA no Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais.

§§ Rio +20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável com o
2012 objetivo de renovar e reafirmar a participação dos líderes dos países com relação ao
desenvolvimento sustentável no planeta.

Fonte: Elaborado pela autora.

Saiba mais
Conheça o histórico completo da Educação Ambiental acessando
o site do Ministério do Meio Ambiente em: http://www.mma.gov.br/
educacao-ambiental/politica-de-educacao-ambiental

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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental se apropria do histórico da EA para


entender o presente e se preparar para o futuro, na perspectiva de que somos se-
res sócio-históricos capazes de transformar e ser transformados.

Já discutimos que desde que o ser humano habita a Terra causa impactos negati-
vos e positivos ao ambiente, em maior ou menor grau. Essa situação acarretou a
perda do equilíbrio ambiental, a erosão cultural, a injustiça social, problemas eco-
nômicos e a violência. Todos esses fatores resultaram na falta de percepção, no
empobrecimento ético e espiritual, sendo também frutos de um tipo de educação
que induz as pessoas a serem consumidoras, fúteis, egocêntricas e que ignoram
as consequências ecológicas dos seus atos.

Mas a percepção das pessoas e dos diversos seto-


res da sociedade se voltou para a necessidade de
mudanças na década de 60. Nesta época se configu-
rou nos Estados Unidos o movimento ambientalista.
Esse movimento gerou o contexto para o lançamento
do livro Primavera Silenciosa (Silent Spring) de auto-
ria da bióloga Rachel Carson, em 1962.

O texto de Rachel Carson alerta para os danos ambientais causados pela poluição
e a relação causa e efeito no uso indiscriminado de pesticidas. Também faz rela-
ção aos produtos sintéticos, como o Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT), penetra-
rem na cadeia alimentar de plantas e se acumularem nos tecidos gordurosos dos
animais, inclusive do ser humano, com o risco de causar câncer e danos genéticos.

A polêmica causada pelo livro é que, além de relatar os fatos ocorridos com o uso do
DDT, denunciava uma humanidade que, buscando o desenvolvimento tecnológico
desenfreado, cometia um ingênuo suicídio, tanto para si como para o meio ambiente.

Na década de 50, nos EUA, muitos cientistas sabiam dos malefícios do DDT que
era usado para eliminar as pragas na agricultura. Contudo, antes da publicação
de Raquel Carson, esse assunto não havia sido levado ao grande público. Nesse
sentido, a autora escreveu sobre o direito moral de cada cidadão, em saber o que
estava sendo lançado de forma irresponsável na natureza pela indústria química.
E ela foi além do objetivo de informar seus leitores, pois despertou a consciência
ambiental de uma nação para reagir e exigir explicações e soluções, assim como
a certeza de que precisavam decidir se queriam continuar vivendo com aquela
situação de poluição. Podemos afirmar que Rachel Carson, com o Livro Primavera
Silenciosa, despertou a consciência ambiental planetária, influenciando várias ge-
rações de cientistas e militantes.

Será que o alerta ambiental denunciado pelo livro Primavera Silenciosa, há mais de 50
anos, fez mudar nossa percepção e atuação no mundo?
Vamos responder esse questionamento avaliando o que observamos no quadro
socioambiental de nossa cidade. Você identifica algum destes fatores?
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Poluição do solo, do ar e das águas, desemprego e exclusão social, extinção de


espécies, retirada de cobertura vegetal, autoritarismo, violências, erosões, doen-
ças, pobreza, interferências nas variações de temperatura e na regularidade das
chuvas, degelo, grandes quantidades de resíduos sólidos, descaso cultural e his-
tórico, consumismo, som excessivo, desflorestamentos, uso descontrolado de
energia e recursos naturais, baixa qualidade na educação e saúde, corrupção,
valores morais distorcidos, injustiças, impunidade, ausência de políticas públicas,
trânsito caótico e desrespeito à diversidade.

Possivelmente você tenha identificado alguns deles.


Neste caso, podemos refletir por que o alerta não funcio-
nou ao longo dos anos, como tem sido nosso processo
formativo e que educação estamos propondo que não
está dando conta das questões socioambientais.

Com base no entendimento da proposta de EA que colocamos em prática, po-


demos tentar identificar a origem da dificuldade em atender uma nova proposta
ambiental. Provavelmente esse objetivo não seja atendido se a proposta de EA
estiver pautada em:

XX Uma EA como promotora de mudanças de comportamentos (disciplina-


tória e moralista).

XX Uma EA para a sensibilização ambiental somente, de forma ingênua e


imobilista.

XX Uma EA centrada na ação individual para a diminuição dos efeitos preda-


tórios dos sujeitos (ativista e imediatista).

XX Uma EA pedagógica, isto é, centrada na aquisição e transmissão de co-


nhecimentos técnico-científicos.

Em contrapartida, se a proposta da EA estiver pautada em questões políticas,


de apropriação crítica e reflexiva de conhecimentos, atitudes, valores e compor-
tamentos, idealizando uma sociedade justa, feliz e sustentável do ponto de vista
ambiental e social estará mais próxima do ideal.

Por longo tempo, e na maioria das vezes, temos utilizado uma EA tradicional, con-
servadora ou comportamental que valoriza o papel da educação como agente
difusor dos conhecimentos sobre o meio ambiente e indutor da mudança dos há-
bitos e comportamentos considerados predatórios em hábitos e comportamentos
tidos como compatíveis com a preservação dos recursos naturais. Acredita-se
também que é possível aceder à vontade dos indivíduos e produzir transforma-
ções nas motivações das ações destes através de um processo racional que se
passa no plano do esclarecimento do acesso a informações coerentes ou tomada
de consciência. Todas as pessoas são igualmente responsáveis pelos problemas
e pela qualidade ambiental, atividades utilizadas são de contemplação, datas co-

58 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

memorativas (dia da água, dia do índio), ou atividades externas de contato com


a natureza com fim em si mesmas, cujos vínculos afetivos proporcionados pela
experiência de integração da natureza trariam bem-estar e equilíbrio emocional,
bem como a valorização e proteção do ambiente natural. Essa perspectiva ainda
está presente em muitos cursos e materiais de EA.

Pode ser funcional a algumas ações que visam inibir ou estimular alguns com-
portamentos bem definidos, porém reduz o indivíduo a sua dimensão racional,
desconhecendo a complexidade de determinadas ações humanas. É autoritária,
individualista e foca o ato educativo como mudança de comportamentos compa-
tíveis a um determinado padrão idealizado de relações corretas com a natureza,
com uma tendência a aceitar a ordem social estabelecida como condição dada,
sem crítica às suas origens históricas.

A EA conservadora se alicerça na visão de mundo descontextualizada, que fragmenta


a realidade, simplificando e reduzindo-a, perdendo a riqueza e a diversidade da rela-
ção. Isso produz uma prática pedagógica objetivada no indivíduo (na parte) e na trans-
formação de seu comportamento (educação individualista e comportamentalista).

Essa perspectiva foca a realização da ação educativa na terminalidade da ação,


compreendendo ser essa terminalidade o conhecimento retido e o indivíduo trans-
formado, ou seja, transmitir o conhecimento correto fará com que o sujeito com-
preenda a problemática ambiental e que isso vá transformar seu comportamento
e a sociedade em que vive. Tais características ignoram o movimento da história,
os sujeitos e a ciência como prática social, inserida em um conjunto complexo de
relações sociais e suas implicações econômicas, políticas, ideológicas e de poder.

2.1.1 Proposta pedagógica da Educação Ambiental conservadora


A proposta pedagógica que emerge de tais condi-
ções ambientais é baseada no autoritarismo do “eu
lhe ensino e você aprende”, no comportamental, na
aquisição de informações, com pouca ou nenhuma
reflexão sobre suas posturas, os contextos sociais e
culturais, busca-se um condicionamento, convenci-
mento na forma de coerção ou pressão social. Não se identifica um pertencimento
à ação. Listamos alguns exemplos de ações pautadas na EA conservadora.

XX Caminhada ecológica em uma unidade de conservação;

XX Dia da Árvore;

XX Projeto Reciclando o Lixo;

XX Mural de informações “como cuidar da natureza”;

XX Folder sobre como economizar água.

59 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Se forem por si só, ações e atividades isoladas, pontuais, em determinados dias


do ano ou períodos, não irão gerar reflexões nem transformações. Ao contrário,
irão gerar curiosidade, ou revolta pelo “não poder”, podendo dessa forma ampliar
quantitativa e qualitativamente os impactos negativos.

2.1.2 Educação Ambiental dialógica, crítica e transformadora


Ultrapassando tais posturas convencionais e conservadoras e adotando um posi-
cionamento de permanente questionamento com vistas a construir conhecimen-
tos que sirvam para a emancipação e para a transformação efetiva da sociedade,
surge a EA dialógica, crítica e transformadora.

Essa educação ambiental dialógica, crítica e transforma-


dora é considerada uma ação política de transformação
social, que possui os princípios de cooperação, coletivida-
de e participação dos atores sociais como norteadores do
processo educativo. Ela refere-se à transformação das re-
lações dos seres humanos entre si e deles com o ambiente
concreto e histórico, reconhecendo que somos parte inte-
grante do meio e que qualquer ação predatória irá compro-
meter a teia da vida.

Uma EA dialógica, crítica e transformadora atua na formação de um sujeito ecoló-


gico e modifica seu modo de ser e estar no mundo. O sujeito ecológico é orientado
por valores ecológicos, com ideal ecológico, uma utopia pessoal e social norte-
adora das decisões e estilos de vida dos que adotam, em alguma medida, uma
orientação ecológica em suas vidas.

A proposta pedagógica que emerge da EA dialógica, crítica e transformadora gera


experimentações, vivências, reflexões e olhares críticos sobre nós mesmos – indivi-
dualmente e como seres sociais – e sobre como a sociedade trata (e poderia tratar)
determinadas questões ambientais. Portanto, visa às transformações pessoais, mas
com a perspectiva de mudanças coletivas. Trata-se de um processo que envolve
transformações no sujeito que aprende e incide sobre sua identidade e posturas
diante do mundo.

Se as ações forem pontuais ou isoladas, não irão permitir que o indivíduo reflita ou
transforme sua realidade, pois ações isoladas “se esgotam em si”. Podemos conside-
rar exemplo desse tipo de ação pontual uma proposta de participação em uma trilha
ecológica, atividade educativa bem recorrente como prática de EA transformadora.

Mas para ser, de fato, uma proposta dialógica, crítica e transformadora o condutor
da trilha deve estar preparado para tornar o ambiente natural em local de aprendiza-
do, de forma dinâmica e participativa, iniciando com um momento de sensibilização.
E os visitantes devem perceber que pertencem ao meio em que estão inseridos,
mantendo a fauna e flora do local não alterados, pois, caso ocorra danos, a cadeia
ecológica será comprometida. Essa trilha deve gerar empregos e oportunidades
60 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

para as comunidades do entorno, e o contexto histórico e cultural daquele ambiente


deve ser conhecido e aproximar as pessoas de maneira que desperte nelas valores
e atitudes saudáveis, assim como a capacidade de observar e valorizar o “belo”.
Dessa forma, ter uma compreensão crítica e sistêmica do ambiente, para que a pro-
posta conduza o indivíduo a mudança de pensamento, atitudes e comportamentos.

Da mesma forma, espera-se que todas as ações e atividades desenvolvidas em EA


promovam as devidas reflexões, pois se reconhece que as ações e pensamentos
do indivíduo são transformados somente por ele mesmo, e a EA pode ser utilizada
como um instrumento para tal.

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental, no uso de suas atribuições, ao


estar em contato com a comunidade poderá propor ações e atividades com criati-
vidade e responsabilidade para a prática da EA transformadora, fortalecendo valo-
res que irão guiar representações, comportamentos, decisões, atitudes de justiça
para qualquer pessoa, equidade, solidariedade, honestidade, cooperação, ética,
cidadania, democracia, amor, amizade, confiança, respeito mútuo, iniciativa, gra-
tidão, autonomia, emancipação, tolerância, disciplina, dedicação, respeito às dife-
renças e à diversidade.

As práticas da EA tentam gerar, mudar, transformar


conceitos e representações das pessoas, além de produzir
reflexões de modo a promover mudanças nas percepções
e representações para que os indivíduos possam repensar
suas atitudes e práticas pessoais e da sociedade, não de
forma arbitrária ou autoritária, mas através de diálogo entre
os atores envolvidos no processo.

Constitui-se um modelo para a formação de indivíduos e grupos sociais capazes


de identificar, problematizar e agir em relação às questões socioambientais, tendo
como horizonte uma atitude ética preocupada com a justiça ambiental, partici-
pação dos cidadãos nas discussões e decisões sobre a questão ambiental. Na
proposta de uma EA crítica, a preocupação com as dimensões éticas e políticas é
essencial para uma postura reflexiva e participativa que busque elementos para a
consolidação de uma sociedade sustentável, partindo de pressupostos não ape-
nas técnicos, mas também políticos, éticos e ideológicos.

61 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

O Quadro 5 apresenta aspectos que diferenciam a EA conservadora da EA dialó-


gica, crítica e transformadora.

Quadro 5 – Aspetos da EA conservadora e da EA dialógica, crítica e transformadora

Aspectos EA conservadora (o real) EA transformadora (o ideal)

Dimensões
Tradicional, comportamental. Crítica.
de análise
Relação ser Ser humano dentro do ambiente, imerso
humano e Ser humano fora do ambiente. na teia de relações sociais, naturais e
ambiente culturais.
Conhecimento científico como produto da
Ciência e Cientista/especialista como único detentor
prática humana e uma das formas de se
tecnologia do saber e a ciência como verdade única.
interpretar o mundo.
Questões de igualdade de acesso aos
Padrões de comportamentos baseados na recursos naturais e distribuição desigual
dualidade (bem e mal). de riscos ambientais são discutidas.
Valores
éticos
Todos são igualmente responsáveis pelos Incentivo à formação de valores e
problemas e pela qualidade ambiental. atitudes direcionados pela ética e justiça
ambiental.

Participação Não há uma contextualização política e Cidadania ativa, participação coletiva e


política social dos problemas ambientais. responsabilidades compartilhadas.

Atividades interdisciplinares, estudo do


Atividades de contemplação, datas
Práticas meio, problemas como temas geradores,
comemorativas, atividades de contato com
pedagógicas exploram-se as potencialidades locais e
o ambiente sem reflexão.
regionais, estudo do local para o global.

Fonte: Elaborado pela autora.

2.2 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL


São vários os documentos que orientam as políticas e
as práticas da EA. A inserção da EA na legislação bra-
sileira passa a ser um direito de todo cidadão, assegu-
rado por lei, ou seja, a necessidade de universalização
dessa prática educativa por toda a sociedade.

62 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

O Quadro 6 apresenta os documentos que orientam a EA.

Quadro 6 – Documentos que orientam a EA

Documentos Descrição

Tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental


propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento
Política Nacional do
socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade
Meio Ambiente (1981)
da vida. Institui-se o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA), que
congrega órgãos públicos das esferas federal, estadual e municipal.

A Proteção do Meio ambiente é garantida na constituição federal, que diz: “Todos têm
Constituição Federal direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
Art.225 (1988) essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Surge o Tratado de Educação Ambiental, na RIO-92, como um documento que


constitui marco referencial da EA. Tornou-se a Carta de Princípios da Rede
Brasileira de EA e das demais redes de EA a ela entrelaçadas. Esse documento
Tratado de Educação
estabelece princípios fundamentais da educação para sociedades sustentáveis,
Ambiental para
destacando a necessidade de formação de um pensamento crítico, coletivo e
Sociedades Sustentáveis,
solidário, de interdisciplinaridade, multiplicidade e diversidade. Estabelece ainda
Responsabilidade Global
uma relação entre as políticas públicas de EA e a sustentabilidade, apontando
e Agenda 21 (1992)
princípios e uma ação para educadores ambientais. Enfatiza os processos
participativos voltados para a recuperação, conservação e melhoria do meio
ambiente e da qualidade de vida.
O ProNEA e suas ações destinam-se a assegurar, no âmbito educativo, a
integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade – ambiental,
Programa Nacional
social, ética, cultural, econômica, espacial e política – ao desenvolvimento do
de Educação
País, resultando em melhor qualidade de vida para toda a população brasileira,
Ambiental (1994)
por intermédio do envolvimento e participação social na proteção e conservação
ambiental e da manutenção dessas condições a longo prazo.
Lei de Diretrizes e Os princípios e objetivos da EA se coadunam com os princípios gerais da
Bases da Educação Educação contidos na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que assegura a inclusão da
Nacional (1996) EA em todos os níveis de ensino e em todas as modalidades.
Os conteúdos de Meio Ambiente foram integrados às áreas numa relação de
transversalidade, de modo que impregne toda a prática educativa e, ao mesmo
Parâmetros Curriculares
tempo, crie uma visão global e abrangente da questão ambiental, visualizando os
Nacionais (1997)
aspectos físicos, históricos e sociais, assim como as articulações entre a escala
local e planetária desses problemas.
Política Nacional
de Educação Institui a EA.
Ambiental (1999)

Fonte: Elaborado pela autora.

Saiba mais
Conheça mais sobre os princípios balizadores para a Educação
Ambiental acessando: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/
pdf/educacaoambiental/tratado.pdf

63 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

A Lei 9.795, promulgada em 1999, institui a Política Nacional de EA. Essa lei chama
à responsabilidade, ou à ecorresponsabilidade, tanto no âmbito individual quanto
no coletivo, na medida em que os sujeitos têm oportunidade de construir com-
petências, habilidades e atitudes que levem à melhoria da qualidade de vida e à
conservação do meio ambiente.

O conceito de EA que direciona esta reflexão é o que a Lei 9.795/99 traz em seu Art. 1°:

[...] Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem va-
lores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas
para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial
à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.

São princípios básicos da EA:

I) o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;

II) a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a inter-


dependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o
enfoque da sustentabilidade;

III) o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da in-


ter, multi e transdisciplinaridade;

IV) a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;

V) a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;

VI) a permanente avaliação crítica do processo educativo;

VII) a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacio-


nais e globais;

VIII) o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e


cultural.

São objetivos fundamentais da EA:

I) o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em


suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos,
psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais
e éticos;

II) a garantia de democratização das informações ambientais;

III) o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a proble-


mática ambiental e social;

IV) o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável,


na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da
qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;

64 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

V) o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro


e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambiental-
mente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solida-
riedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;

VI) o fomento e fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;

VII) o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidarie-


dade como fundamentos para o futuro da humanidade.

Saiba mais
Conheça a Lei da Política Nacional da EA (Lei 9.795/1999) na íntegra
acessando: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm

A perspectiva de EA, prevista pela Lei 9.795/1999, aponta para propostas pedagó-
gicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento
de competências, capacidade de avaliação e participação de todos os sujeitos da
comunidade em que se está imprimindo à prática ambiental um caráter contestador,
contextualizado e responsável. Portanto, é necessária uma construção dialógica
entre conhecimento socio-histórico, estético e pessoal promovido  pela educação
através de uma vivência cultural, ética e social.

Mas como transformar a EA que temos hoje em ideal e efetivamente transformadora de


nossas representações e ações?
O Agente de Desenvolvimento Socioambiental poderá auxiliar nesta transformação
quando mediar e mobilizar as atividades sugeridas durante o curso, agregando ima-
ginação e criatividade, sendo proativo, além de ter bem claro quem é o seu público-
-alvo e conhecer a comunidade, respeitando-a em seus anseios, desejos e perspec-
tivas, auxiliando na mudança do cenário socioambiental do seu bairro ou município.

Para o sucesso de suas ações é importante que o Agente de Desenvolvimento


Socioambiental faça alguns questionamentos. Vamos a eles!

Se eu posso mudar o cenário onde vivo, por onde começar?


Você pode iniciar observando a comunidade onde mora, o local onde vive e desen-
volve atividades diárias. Identificar possíveis problemas ambientais, consequências
da intervenção humana e reconhecer esse espaço como passível de soluções e
transformações.

Quem pode fazer EA?


Você, como Agente de Desenvolvimento Socioambiental! Como ser transformador
da realidade, você deve ter sensibilidade aos problemas ambientais, ser reflexivo,
criativo, responsável e proativo na busca de soluções junto a equipes multiprofis-

65 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

sionais que detenham conhecimentos técnicos, específicos e que possam contri-


buir com você.

A qual público se destina a EA?


Destina-se ao público em geral, entendendo que todas as pessoas devem ter
oportunidade de acesso a informações e conhecimentos, os quais lhes permitam
participar ativamente na busca de soluções para os problemas ambientais atuais
de modo formal, não formal e informal.

Quais os espaços para a prática da EA?


Em todos os espaços de convivência, de forma dinâmica, permanente e participa-
tiva, por exemplo, em casa, no trabalho, na feira, no supermercado, na praia, na
empresa, no lazer, na escola, em todos os espaços que ocupamos e desenvolve-
mos nossas relações.

Qual o papel do poder público na EA?


Fazer com que as leis sejam feitas e executadas, divulgar ações, programas e
campanhas educativas, promover espaços de debates entre a sociedade civil e
poder público a fim de estabelecer estratégias de participação coletiva, buscar
parceiras nas unidades escolares, empresas privadas, universidade e as ONGs.

Como almejamos que sejam as ações e projetos em EA?


XX Que instiguem o indivíduo a analisar e participar da resolução dos proble-
mas ambientais da coletividade.

XX Que estimulem uma visão global (abrangente/holística) e crítica das ques-


tões ambientais.

XX Que promovam um enfoque interdisciplinar que resgate e construa saberes.

XX Que possibilitem um conhecimento interativo através do intercâmbio/


debate.

XX Que propiciem um autoconhecimento que contribua para o desenvolvi-


mento de valores (espirituais e materiais), atitudes, comportamentos e
habilidades.

XX Que realizem capacitação de recursos humanos, através do desenvolvi-


mento de estudos, pesquisas e experimentações, da produção e divulga-
ção de material educativo e do acompanhamento e avaliação.

Como trabalhamos a EA?


É interessante perceber a diversidade e complementaridade que trabalhamos em
EA. Classificamos as formas de trabalho na EA em:

XX Educação sobre o ambiente – informativa, com enfoque na aquisição de


conhecimentos, curricular, em que o meio ambiente se torna um objeto de
66 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

aprendizado. Apesar de o conhecimento ser importante para uma leitura


crítica da realidade e para se buscar formas concretas de se atuar sobre
os problemas ambientais, ele isolado não basta.

XX Educação no meio ambiente – vivencial e naturalizante, em que se pro-


picia o contato com a natureza ou com passeios no entorno da escola
como contextos para a aprendizagem ambiental. O meio ambiente ofe-
rece vivências experimentais tornando-se um meio de aprendizado por
meio de passeios, observação da natureza, esportes ao ar livre, ecoturis-
mo, dentre outros.

XX Educação para o ambiente – construtivista, busca engajar ativamente


por meio de projetos de intervenção socioambiental que previnam pro-
blemas ambientais. Muitas vezes traz uma visão crítica dos processos
históricos de construção da sociedade ocidental, e o meio ambiente se
torna meta do aprendizado.

XX Educação a partir do meio ambiente – esta considera, além das demais


acima incluídas, a diversidade cultural, as interdependências das socieda-
des humanas, da economia e do meio ambiente, a necessidade de rever
valores, atitudes, pensamentos, fortalecer boas ideias, responsabilidades
individuais e coletivas, bem como a participação e a cooperação, a ética,
o respeito, compreendendo a capacidade de suporte dos ecossistemas,
buscando a melhoria da qualidade de vida ambiental das presentes e fu-
turas gerações. Perspectiva sistêmica da realidade.

Que atitudes tenho que promovem a Educação Ambiental? Quais atitudes tenho que
contribuem com a EA? Quando eu estou contribuindo para a EA?
Contribuo com a EA quando respeito as pessoas e a diversidade, participo de
movimentos sociais, opto por copos de vidro ao invés de copos plásticos, dou o
destino correto ao lixo (resíduos), economizo água, opto por produtos biodegra-
dáveis, participo de causas ambientais no coletivo, sou cordial, voluntário e éti-
co, valorizo os saberes tradicionais e as comunidades quilombolas, indígenas, do
campo e a cultura da minha cidade, consumo menos produtos industrializados e
mais alimentos orgânicos, faço doação de roupas e alimentos, planto árvores, não
queimo lixo no quintal e nem coloco fogo em vegetação nativa, participo de ações
como a recuperação de uma escola depredada, não compro animais silvestres,
leio livros e os repasso aos colegas, entre outros.

É importante que o Agente de Desenvolvimento Socioambiental, após alguns es-


clarecimentos e considerações, considere que as ações em EA tenham por objeti-
vo um novo modelo de sociedade. Deve-se considerar, também, que a EA é uma
educação crítica da realidade vivenciada, formadora da cidadania; ela transforma
os valores e atitudes por meio de construção de novos hábitos, novos conheci-
mentos e também cria uma ética sensibilizadora e conscientizadora para as re-

67 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

lações integradas entre o ser humano, a sociedade e a natureza. Deve-se consi-


derar, ainda, que a EA tem por objetivo o equilíbrio local e global como forma de
obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de vida. Desse modo, bus-
ca-se construir uma sociedade mais justa, ecológica, democrática, responsável,
igualitária, sustentável e feliz.

O processo de EA em sua vertente transformadora acontece no momento em que


a população, ao olhar de forma crítica para os aspectos que influenciam sua quali-
dade de vida, reflete sobre os fatores sociais, políticos e econômicos que origina-
ram o atual panorama e busca atuar no seu enfrentamento.

2.2.1 Formação de Educadores Ambientais


A identidade do educador ambiental é uma
identidade em movimento assim como as
diferentes representações de EA, que con-
vivem e interagem com outras identidades
culturais.

O Agente de Desenvolvimento Socioam-


biental formado nesse curso também será
um educador ambiental, pois desenvolverá competências de maneira contextua-
lizada, permeada por valores e atitudes intrínsecos, que estimulará o desenvolvi-
mento de atividades articuladas com os diferentes atores sociais na redução de
impactos socioambientais da região em que atua, primando pela conformidade
com a legislação vigente e conciliando o desenvolvimento econômico com a con-
servação ambiental dentro de um contexto social e peculiar de cada local.

Portanto, será um profissional com competências para atuar em parceria com os


outros profissionais em instituições públicas e privadas, ONGs e escolas.

O educador ambiental deve acreditar no que faz, ensinar através de suas atitudes,
de seus valores, paradigmas, hábitos e práticas conscientes em relação ao meio
ambiente; por meio da EA crítica, participativa e emancipatória, capaz da transfor-
mação de hábitos e atitudes pessoais e coletivas que podem nos levar à constru-
ção de um futuro de sustentabilidade. 

Para tornar-se um educador, a pessoa precisa estar desprovida de suas próprias


construções e práticas ambientais inadequadas. Precisa estar aberta para o novo,
para as novas possibilidades, além de se reconhecer como parte integrante do
ambiente.

Os educadores ambientais são líderes, e o ideal é que tenham uma formação con-
tinuada, reciclando suas reflexões e conhecimentos, a fim de contribuir para o
debate e o exercício da cidadania, impulsionando o processo de transformação
social começando por sua comunidade, agindo de acordo com os princípios eco-
lógicos.

68 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

2.2.1.1 Inserção da Educação Ambiental na escola


A Constituição Federal de 1988 institui a EA
como obrigatória em todos os níveis de en-
sino, sem ser tratada como disciplina iso-
lada. Os subsídios para os professores im-
plementarem essa determinação estão nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN),
os quais apresentam ao professor diretrizes
educacionais nacionais de reflexão sobre o
trabalho com os alunos e, também, diretrizes para a ação. Nos PCNs, o tema Meio
Ambiente é abordado de forma transversal, sugerindo que a EA seja trabalhada
em todos os ciclos do Ensino Fundamental, por todas as áreas do conhecimento
(BRASIL, 1997).

Considerando que a EA não é entendida como disciplina, precisa estar atrelada ao


Projeto Político-Pedagógico da escola, ao currículo, não ser resumida à Biologia,
Ciências e nem a datas comemorativas (dia do meio ambiente, dia da água, do
índio, da árvore).

A EA precisa estar em todos os níveis de ensino – da Educação Infantil ao Ensino


Superior. Precisa estar em todas as modalidades, como Educação de Jovens e
Adultos, Educação a Distância e Tecnologias Educacionais, Educação Especial,
Educação Escolar Indígena, Quilombola e do Campo.

Deve estar de forma integrada, transversal e em todas as disciplinas, na formação


de todos os profissionais da escola de forma crítica, política, contínua e permanente.

A EA deve ser considerada em todos os níveis de forma a propor:

XX Educação Infantil e início do Ensino Fundamental: atividades que sen-


sibilizem, agucem a percepção e os sentidos. Construção coletiva de va-
lores como respeito, cooperação, paz, solidariedade, cuidado para com
os outros e com o ambiente.

XX Anos finais do Ensino Fundamental: atividades que desenvolvam a criti-


cidade, análise e interpretação das questões socioambientais e busquem
reforçar valores e atitudes saudáveis, ampliando a cidadania ambiental.

XX Ensino Médio e na Educação de Jovens e Adultos: atividades que


exercitem o pensamento crítico, contextualizado e político, que busquem
contextualizar a situação ambiental e global e reforcem valores como res-
peito, solidariedade e cooperação e cidadania.

XX Ensino Técnico: atividades que promovam o contato com as leis e suas


aplicações no ambiente profissional dos formandos enfatizando a respon-
sabilidade social e ambiental dos profissionais.

69 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

XX Educação Superior: que a EA seja uma disciplina ou atividade, não isola-


da, mas de forma interdisciplinar, que trate da EA, de legislação e gestão
ambiental, incluindo o enfoque da sustentabilidade na formação dos pro-
fissionais que atuam nas diferentes áreas.

Para as modalidades do campo, indígena e quilombola, é


importante ressaltar história e cultura de cada comunidade,
identificando os impactos socioambientais, refletindo sobre
os processos de proteção ambiental, práticas produtivas e
manejo sustentável. Na formação de professores a EA deve
ser proposta de forma crítica, reflexiva, política, capaz de
transformar a sua realidade. E com isso resgatar valores,
sensações e percepções no e para o ambiente natural e
social de forma ética e responsável.

A EA pode ser realmente transformadora ao trazer novas maneiras de conviver


com o mundo em sua totalidade e complexidade, respeitando as diversas formas
de vida, cultivando novos valores e criando uma cultura de paz, a partir de uma
postura observadora e crítica, sem deixar de considerar toda a trajetória de uso e
abuso dos ecossistemas.

A Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (COM-VIDA) é uma nova forma


de organização na escola e se baseia na participação de estudantes, professores,
funcionários, diretores e comunidade. Faz a comunidade escolar pensar nas solu-
ções dos problemas atuais e na construção de um futuro desejado por todos, um
mundo melhor, através de ações voltadas para a melhoria do meio ambiente e da
qualidade de vida. O principal papel da Comissão é contribuir para um dia a dia par-
ticipativo, democrático, animado e saudável na escola, promovendo o intercâmbio
entre a escola e a comunidade. Por isso, a COM-VIDA chega para somar esforços
com outras organizações da escola, como o Grêmio Estudantil, a Associação de
Pais e Mestres e o Conselho da Escola, trazendo a EA para todas as disciplinas.

2.2.1.2 Inserção da Educação Ambiental na empresa


Desde a Revolução Industrial, que substituiu o
trabalho manual pelo uso de máquinas e equipa-
mentos, o impacto sobre o meio ambiente vem
aumentando consideravelmente. A matéria-pri-
ma foi transformada em produtos que passaram
a ser utilizados, consumidos e comercializados
nas empresas.

A preocupação com o meio ambiente deve considerar a responsabilidade socio-


ambiental destinada a estes espaços, considerando como produz, o que produz,

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para quem produz e qual o impacto gerado na rede de produção, ou seja, trata-se
de um processo de produção ecologicamente correto, socialmente justo e econo-
micamente viável?

A prática da EA torna-se imprescindível neste contexto como prática a ser inseri-


da, a fim de implantar um Sistema de Gestão Ambiental, remodelando a estrutura
organizacional da empresa, passando pela produção, manutenção e diminuição
de resíduos por ela produzidos, pela conscientização de todos os envolvidos na
empresa, pela análise dos impactos ambientais por ela causados, também pela
utilização racional dos recursos naturais, objetivando a melhoria da qualidade am-
biental dos serviços, produtos e ambiente de trabalho.

A necessidade de implantar um programa de EA nas empresas é muito importante


quando se observa que ele possibilitará a reflexão necessária dentro e fora da ins-
tituição, para a efetiva mudança de atitudes, comportamentos e valores, em que
promova a participação ativa de todos os setores da empresa no processo, por
exemplo, na oportunidade de aproveitamento de rejeitos, substituição e redução
de insumos (papel, sacolas plásticas, baterias, impressões-reciclagem), redução
de consumo de energia, redução de geração de resíduos, mudanças tecnológicas,
relações de trabalho e interpessoais, impacto social, cultural e do entorno. Assim
a EA dentro das empresas será efetiva.

2.2.1.3 Inserção da Educação Ambiental na comunidade


Comunidade é o conjunto de populações de di-
versas espécies que habitam uma mesma região
num determinado período de tempo. Em sua
construção sociológica é o grupo de pessoas
que se relacionam e partilham interesses e ex-
pectativas comuns.

Deste modo a inserção da EA na comunidade através do Agente de Desenvolvi-


mento Socioambiental deve partir de uma problemática ambiental local, de inte-
resse da comunidade, identificando os talentos e recursos locais, na resolução de
problemas comuns, contribuindo para a formação de uma sociedade mais partici-
pativa nas questões ambientais, que envolva todos e seja baseada na transforma-
ção e no cotidiano dos atores envolvidos.

Vejamos alguns exemplos de projetos de EA a partir de problemas identificados


em comunidades:

XX violência;

XX falta de água;

XX acúmulo de lixo;

XX reciclagem;

XX resgate da cultura popular e local;


71 06
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XX confecção de horta comunitária ou praça;

XX feira de produtos e consequente geração de renda;

XX recomposição de áreas degradadas.

Nesse contexto existe a necessidade da implantação de programas de EA que


visem desenvolver ações de sensibilização, mobilização, informação e comuni-
cação. Para o desenvolvimento das ações podem ser utilizados espaços da co-
munidade, como escolas, centros comunitários, espaços de espiritualidade, entre
outros que a comunidade disponibiliza.

As ações propostas pelo Agente de Desenvolvimento Socioambiental deverão


conter estratégias de sensibilização criativas e dinâmicas e utilizar linguagem ade-
quada ao público-alvo, propondo e respeitando a diversidade cultural da comuni-
dade. Estes tipos de estratégias contribuirão para o sucesso de projetos socioam-
bientais na comunidade.

2.3 TÉCNICAS DE SENSIBILIZAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL


As emoções, os sentidos e os sentimentos foram deixados de lado pela racionalida-
de humana e pelas ciências sob a alegação de que têm maior subjetividade e menor
nobreza do que a razão. Na busca de novas perspectivas
de ensino, passa-se então a considerar que estes atributos,
que estão presentes no cotidiano e que medeiam as relações
com o meio externo e com os seres humanos, podem ser
favoráveis tanto ao ensino quanto à própria relação com a
natureza, tornando-a mais harmoniosa e saudável.

A sensibilização é considerada a primeira fase do trabalho e deve acontecer no


primeiro contato com o público-alvo, pois é um momento estratégico. Para a sen-
sibilização é adequado o uso de técnicas e recursos que contenham impacto emo-
cional, prendam a atenção, despertem preocupações e alertem para comporta-
mentos impactantes que compõem a problemática ambiental em questão.

As técnicas de sensibilização servem para despertar sentimentos e emoções, fa-


miliarizar e tornar sensível ao tema, comover e envolver. Ela é um bom início na
preparação de reflexões e transformações duradouras. São momentos em que é
possível reforçar atitudes e comportamentos positivos. Porém devemos ter claro
que a sensibilização por si só não promove efetivas mudanças, ela precisa estar
atrelada às outras etapas do processo que traduzirá a mudança desejada.

São recursos utilizados na etapa de sensibilização:


texto, vídeo, música, poesias, relatos de vida, desenhos,
dramatizações, dança, pintura, gravuras, contos, cartazes,
fotografias, estudo de caso, atividade prática, entre outros.

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Mobilização social é chamar a sociedade. É uma forma de trabalho em conjunto, em


que pessoas (Estado, empresas, instituições, cidadãos) orientam, compartilham e divi-
dem responsabilidades na solução dos problemas, pensando e agindo coletivamente.

Para que a mobilização ocorra é necessário:

XX Ter conhecimento do problema.

XX Conhecer as estratégias para o seu enfrentamento.

XX Identificar o que cada pessoa, instituição, organização pode fazer pela


causa na sua área de atuação, cotidianamente.

Para tanto podemos utilizar alguns passos estratégicos na mobilização social:

I) Constituição de um núcleo gestor (lideranças para planejar e coordenar


as ações).

II) Identificação de alguma mobilização já existente relacionada ao tema.

III) Elaboração de um plano estratégico (objetivos, local de atuação, parcei-


ros (atores sociais e rede de intersetorialidade), cronograma, atividades).

IV) Círculo de diálogo (roda de conversa sobre a temática entre os participan-


tes do processo).

V) Núcleo de trabalho (propostas, execução, ações e avaliação).

2.3.1 Funções do Agente de Desenvolvimento Socioambiental mobilizador


O Agente de Desenvolvimento Socioambiental mobilizador deve levantar as neces-
sidades do grupo, identificando habilidades e potencialidades dos participantes
de forma a: auxiliar e estimular as atividades a serem desenvolvidas, sensibilizar o
grupo quanto a sua importância como agente atuante e modificador do processo,
liderar de forma integrada e alinhada aos interesses do grupo, mediar conflitos e
situações embaraçosas, facilitar a aprendizagem e a troca de conhecimentos e
experiências, monitorar os projetos a serem desenvolvidos.

O processo participativo deve contemplar as seguintes etapas:

XX Envolver os representantes de todas as instâncias (sociedade civil, poder


público e privado).

XX Abrir espaço de participação para todos os interessados nas ações e pro-


gramas da região, respeitando os interesses e necessidades.

XX Respeitar a cultura local, as habilidades e vocações, considerando a di-


versidade de opiniões sobre o mesmo problema na construção do con-
senso, que atenda às expectativas de cada setor.

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2.3.1.1 A comunicação na mobilização social


Comunicar é a forma como as pessoas interagem entre si no seu ambiente. É con-
versar, dialogar, informar, noticiar, partilhar. Ocorre comunicação quando você emite
uma mensagem que alcança e produz uma reação no outro. É o ponto-chave para
todos os nossos relacionamentos, sejam pessoais ou profissionais. O Agente deve
se comunicar com clareza e objetividade, adequando-se ao público-alvo. A seguir,
alguns elementos que contribuem para uma efetiva comunicação:

XX Emissor: quem emite a mensagem.

XX Receptor: é quem recebe a mensagem.

XX Mensagem: é o conteúdo das informações transmitidas.

XX Código/Canal: é o meio físico ou virtual entre o emissor e o receptor, que pos-


sibilita a transmissão da mensagem (fala, carta, e-mail, telefone, gesto, outros).

XX Feedback: é a reação do receptor à mensagem enviada.

O sucesso na comunicação depende de


como ela é transmitida, recebida e interpre-
tada. As pessoas prestam mais atenção,
envolvem-se mais, quando se identificam e
entendem que necessitam efetivamente da-
quelas informações.

É importante que a comunicação seja eficiente, tranquila, pausada, clara, assertiva


e em um ambiente físico agradável e acolhedor. Para isso, escolha o meio de co-
municação mais apropriado; estude, prepare-se para o que vai transmitir; utilize o
tom e a intensidade de voz adequados para que todos possam ouvir; use palavras
e vocabulário apropriados ao seu público-alvo; mantenha a postura correta e o vi-
sual adequado; seja natural; não fuja ao tema, não sobrecarregue de informações
os ouvintes e não exceda nos detalhes; utilize uma metodologia e recursos se ne-
cessários; conheça e motive seu público a se expressar e fique atento às reações;
faça da sua mensagem um convite e aponte uma possível solução.

A Figura 15 apresenta os elementos que devem ser considerados no processo de


comunicação.

Figura 15 – Elementos do Processo de Comunicação

Fala, escrita, signos, gestos, sons, cores, ideias, sentimentos, conceitos, dentre outros.

Canal/Código (meio)
Emissor (codifica) Mensagem (assunto) Receptor (decodifica)

Feedback

Fonte: Elaborada pela autora.

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Um bom comunicador deve ser, antes de mais nada, um bom ouvinte. Deve ser
agradável, simpático, claro, cativante, comprometido, acreditar no que transmite,
não interromper e não se distrair enquanto a mensagem é emitida, anotar as soli-
citações, controlar as emoções, agir com paciência, receber um feedback negativo
como forma de ajuste e aperfeiçoamento, es-
Ruído é qualquer elemento, ou obstáculo,
tar atento à plateia, entender que o corpo
que interfere, dificulta o processo de trans-
também fala e argumentar no tempo certo. missão e compreensão de uma mensagem
de um emissor para um receptor. Podem
Se o comunicador não possuir essas caracterís- ser barulhos vindos do trânsito, música
ticas a comunicação poderá não chegar como alta, audição comprometida fisiologica-
desejada, ou pior, chegar de forma distorcida e mente, preconceitos, termos técnicos des-
conhecidos, fofocas, dentre outros.
com ruídos, dificultando alcançar os objetivos.

Vamos recordar de um exemplo bem conhecido sobre ruído na comunicação: a


brincadeira do telefone sem fio.

As crianças se sentavam em um círculo, uma ao lado da outra,


e a brincadeira começava com um dos jogadores elaborando
uma frase e dizendo-a bem baixinho no ouvido do participante
que estivesse ao seu lado. Este repetia a frase, como ouviu,
para a próxima pessoa e assim sucessivamente até o último
jogador, que devia dizer a frase em voz alta. Raramente o que
foi dito pela primeira pessoa chegava igual na última.

A comunicação é um fator preponderante para a tarefa mobilizadora. Por isso, ao se


comunicar minimize os ruídos, evitando o excesso de informações, os vícios de lin-
guagem, as gírias, palavrões, manuseio de objetos, vocabulário inapropriado ao pú-
blico-alvo. Certifique-se de que o receptor entendeu a mensagem de forma precisa.

Outro cuidado que devemos ter na comunicação é, antes de nos comunicarmos


com pessoas de ambientes culturais diferentes, procurarmos nos familiarizar com
os usos e costumes da localidade, a fim de evitarmos termos que podem ter co-
notações distintas.

A comunicação se divide em comunicação verbal, comunicação não verbal e co-


municação visual. Vamos conhecer mais sobre cada forma de comunicação.

XX Comunicação verbal: serve para orientar, instruir, entrevistar ou informar.


Dessa forma, deve ser clara, precisa, direta e correta. Deve-se utilizar a lin-
guagem de forma adequada para cada público. É importante que o emissor
e o receptor estejam no mesmo grau de conhecimento. Ela tem caracterís-
tica imediatista e isso a faz ser majoritariamente utilizada nas relações inter-
pessoais. É expressa pelas palavras e sons que usamos para nos comunicar
utilizando a linguagem escrita ou falada. Ex.: palestra, conversa, reuniões,
meio de comunicação sonoro (rádio, TV.)

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XX Comunicação não verbal: é a linguagem corporal ou gestual. A comuni-


cação não verbal complementa a verbal, porém muitas vezes pode contra-
dizê-la. Por isso a coerência entre os gestos e as palavras produzem uma
comunicação mais eficaz. Dissonâncias entre elas podem produzir dúvidas.

A comunicação não verbal acontece por meio de:

XX Gestos: aperto de mão, balançar a cabeça, as mãos ou os braços, cruzar


os braços.
XX Expressões faciais: sorriso, choro, tristeza, raiva, indiferença.

XX Postura: ereta, curvada, balançando.

XX Proximidade: estar próximo ou afastado de quem fala.

XX Toque: contato corporal.

XX Aparência: limpo e bem vestido.

Algumas posturas corporais permitem algumas interpretações. O Quadro 7 apre-


senta alguns exemplos.

Quadro 7 – Comportamento não verbal e suas interpretações

Comportamento não verbal Possíveis interpretações


Movimentar-se rapidamente, andar ereto. Confiança
Para com as mão na cintura. Incompreensão, agressividade
Sentar com as pernas cruzadas e dar pequenos chutes no ar. Cansaço, aborrecimento
Sentar com as pernas abertas. Abertura, relaxamento
Manter os braços cruzados no peito. Defensiva
Andar com as mãos nos bolsos, olhando para baixo. Falta de entusiasmo, desmotivado
Manter as mãos nas maças do rosto. Avaliação, pensamento
Coçar o nariz, tocar o nariz ao falar. Dúvida, mentira
Esfregar os olhos. Descrença, dúvida, mentira
Manter as mãos fechadas atrás das costas. Frustação, ódio
Ficar com os tornozelos fechados. Apreensão
Apoiar a cabeça nas mãos, olhar para baixo longamente. Aborrecimento
Esfregar as mãos. Antecipação, ansiedade
Sentar com as mãos para trás da cabeça e de pernas cruzadas. Confiança, superioridade
Ficar com as mãos abertas, as palmas para cima. Sinceridade, inocência, abertura
Coçar a ponta do nariz, ficar com os olhos fechados. Avaliação negativa
Batucar com os dedos, olhar o relógio. Impaciência
Estalar os dedos. Autoridade
Alisar o cabelo. Insegurança
Inclinar / Virar a cabeça na direção. Interesse
Coçar o queixo. Pensando
Desviar o olhar. Desconfiança
Roer unhas. Ansiedade, insegurança
Puxar ou coçar a orelha. Indecisão

Fonte: Elaborado pela autora.


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XX Comunicação visual: esta forma de comunicação utiliza elementos vi-


suais, tais como imagens, signos, gráficos, vídeos ou desenhos para ex-
pressar uma ou mais ideias. A comunicação visual abrange campos muito
diferentes, como a pintura, o desenho, a fotografia, o cinema, a televisão
e a internet, mas cada qual com as suas regras próprias de comunicação.
Pode ser na forma de cartilhas, folder, panfletos, cartazes, faixa, folhe-
tos, jornais, televisão, oficinas, seminários, exposições, eventos festivos,
mostras culturais, blog.

Vejamos, no Quadro 8, algumas formas de comunicação visual e o que as caracterizam.

Quadro 8 – Formas de Comunicação visual

É um pequeno encarte, folheto impresso, utilizado para divulgar estabelecimentos,


Folder produtos ou serviços. Contém várias dobras, usado quando se tem um volume
maior de informações para transmitir.

É um material composto por uma folha, que divulga uma ideia, marca. De
Panfleto
circulação rápida, feito de papel e de fácil manuseio.

É um espaço para publicar recados, notícias, fotos. Serve para expor trabalhos,
Mural assuntos de interesses da comunidade, dar destaque em comemorações
importantes e acontecimentos, estimula o trabalho em equipe, a autoexpressão.

É um livro informativo que se destina a orientar sobre determinados assuntos


Cartilha
específicos. Pode ser um instrumento para definir projetos, programas e ações.

E o um meio de comunicação impresso no qual há notícias, imagens, reportagens,


Jornal
crônicas, entre outros. Pode ser destinado a associações de bairros, igreja e escolas.

É um aviso ou um anúncio de forma escrita ou impressa, que chama atenção


Cartaz
para determinada ação ou produto.

É um conjunto de páginas de hipertextos, imagens, vídeos. Um exemplo é o site


Sites ou website
do Ministério do Meio Ambiente: http://www.mma.gov.br/.

São estruturas sociovirtuais compostas por pessoas e/ou organizações,


Redes Sociais conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos
comuns na internet.

É um diário virtual. Páginas da internet, em que regularmente são publicados


diversos conteúdos, como textos, imagens, músicas ou vídeos, podendo ser
Blog
dedicado a um assunto específico ou ser de âmbito bastante geral. Podem ser
mantidos por uma ou várias pessoas e há espaço para interação.

Outros meios de
Camiseta, boné, carro de som, faixa.
comunicação

Fonte: Elaborado pela autora.

Mais do que convocar os atores sociais mobilizando-os para a ação, é preciso


mantê-los engajados na causa, as pessoas precisam de informação para se mo-
bilizarem e compartilharem um imaginário de emoções e conhecimentos sobre a
realidade social e ambiental. Esses conhecimentos poderão permitir a reflexão e
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o debate necessário para que aconteçam as mudanças esperadas. Somando-se


a isso, para que pessoas se mobilizem e tomem uma decisão de se engajarem
em algum movimento, é preciso não só que estas pessoas tenham carências e
problemas em comum, mas que compartilhem valores e visões de mundo seme-
lhantes. Fatores ligados a questões culturais, históricas e políticas também deter-
minam a decisão de participar. 

A mobilização é muito importante para que as comunidades se sintam responsá-


veis por seu próprio desenvolvimento. Para que cada pessoa, uma comunidade ou
toda a sociedade esteja mobilizada, é necessário que todos estejam motivados e
envolvidos. Mas é preciso considerar que as mobilizações sociais precisam iniciar
com algum ponto em comum. Para que a identificação de uma questão comum
seja alcançada, existem metodologias específicas para a mobilização. As oficinas, a
dinâmica de grupo e as atividades lúdicas são exemplos de metodologias utilizadas
na mobilização social.

XX Oficinas
A oficina se constitui um espaço de construção coletiva do conhecimen-
to, de análise da realidade, de confronto, troca de experiências, saberes e
de transformação. Na oficina se produz algo, algum material, alguma re-
flexão conjuntamente. Nela se alia a teoria e a prática de forma dinâmica,
democrática, participativa e reflexiva, pautada na ação-reflexão-ação. As
oficinas são saberes em construção que possibilitam um processo edu-
cativo composto de sensibilização, compreensão, reflexão, análise, ação,
avaliação.  É o sentir-pensar-agir. Reconstrução do conhecimento com
aplicação em situações práticas.
Etapas de uma oficina:

a) Escolher o tema e público-alvo.

b) Definir a atividade proposta (o que será produzido na oficina).

c) Organizar (local, recursos, tempo, dentre outros).

d) Observar, coordenar e acompanhar a oficina.

e) Fazer considerações, avaliação da atividade e socialização do que foi


produzido.

Vamos conhecer dois exemplos de oficina.

Oficina 1: Caminhando com os nossos objetos: o consumo e o descarte

Público: alunos do Ensino Médio


Produção: uma cartilha informativa
Material: escolha um objeto do seu cotidiano (exemplos: copo plástico, folhas, lápis,
canetinhas, entre outros).
Coordenação: mediador

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Momento de sensibilização:
a) Observação: Quantos objetos temos à nossa volta? Do que são feitos? O
mediador colhe as percepções dos alunos.
b) Trecho do filme: A história das coisas.
• Reflexão sobre o consumo.
• Você compra o que precisa ou o supérfluo?
Momento de construção de conhecimentos:
a) Ciclo de produção do seu objeto escolhido: extração – produção –
distribuição – consumo – tratamento do resíduo – desenho do ciclo.
b) Reflexão sobre o trabalho: Quem produz esse objeto? Em que condições de
trabalho?
c) Descarte dos resíduos: Pesquisa – Quais destinos? O que gera cada destino ao
ambiente?
Avaliação: O que essa atividade trouxe? As percepções e representações iniciais
foram modificadas?
Visitas a campo, espaços para compor as observações e reflexões: parques, praças,
visitar um aterro sanitário, dentre outros.
Após a visita, são sugeridas atividades para serem desenvolvidas na sala de aula e
por toda a escola que englobem a proposição de atitudes em relação ao consumo e
descarte baseados nos cinco Rs: Reciclar, Reutilizar, Repensar, Recusar e Reduzir.
Discutindo a publicidade:
• Reflexão sobre embalagem sustentável;
• Sessão de cinema;
• Realização de projeto coletivo para instituir uma nova cultura escolar de consumo,
geração de resíduos e descarte.
Organização em grupos para a produção de um cartaz (em cartolina) com as
informações e reflexões adquiridas.

Oficina 2: Visitando um zoológico

Público: alunos do Ensino Fundamental


Produção: um vídeo (3 participantes por equipe)
Material: uma câmera
Coordenação: mediador
Momento de sensibilização:

Questão: o que é um zoológico e o que você espera encontrar lá? Registre suas
respostas e assista ao vídeo.
Escolher um animal que você encontre no zoológico e pesquisar as características
dele. Registrar todas as informações encontradas.
Momento de construção de conhecimentos:
a) Ao chegar no zoológico identifique o animal, as características registradas
(inclusive expressões faciais).
b) Após registrar esses momentos, faça uma reflexão sobre: esse animal
gostaria de estar ali? Qual motivo de ele estar em um espaço desses?
c) Assistir ao documentário: “Blackfish – fúria animal” sobre animais em
cativeiro. Registrar suas reflexões.
d) Ler a Declaração Universal dos Direitos dos Animais e pontuar o que diz
sobre a privação de liberdade dos animais.

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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

e) Ler sobre “Whalewhatching” turismo de observação de animais no Brasil.


Registrar suas reflexões.
Produção do filme com as reflexões e conhecimentos adquiridos.
Avaliação:
O que trouxe essa atividade? As percepções e representações iniciais foram
modificadas?

XX Dinâmica de grupo
A metodologia da dinâmica em grupo é baseada em agregar forças in-
dividuais a favor de um objetivo comum. São usadas como elementos
de entrosamento e observação nas relações interpessoais, na divisão de
tarefas, papéis e normas entre a equipe. Destina-se a entender de que
forma um indivíduo interage dentro do grupo.
Etapas de uma dinâmica de grupo:
a) Escolher o tema e o público-alvo.
b) Definir o objetivo da dinâmica (o que se pretende alcançar com essa
dinâmica?).
c) Organizar (local, recursos, tempo).
d) Observar, coordenar e acompanhar a dinâmica.

e) Fazer considerações e avaliação da atividade – fechamento.

O Quadro 9 apresenta alguns exemplos de técnicas de dinâmicas em grupo e sua


descrição.

Quadro 9 – Técnicas de dinâmicas em grupo

Técnica Descrição
Técnica de Esta técnica auxilia a tirar as tensões do grupo, desinibindo os participantes.
descontração Geralmente são atividades mais lúdicas e descontraídas, nas quais os
participantes precisam se movimentar e interagir uns com os outros.
Técnica de Esta técnica ajuda a conhecer um pouco os participantes, de forma direta ou
apresentação em algum trabalho em duplas, as pessoas se apresentam, falam sobre si, suas
experiências profissionais, seus gostos pessoais, rotinas, planos para o futuro e
o que se sentirem à vontade para falar. 
Atividade individual Nesta técnica o participante trabalha individualmente para demonstrar a sua
capacidade criativa e de se expor perante a um grupo que muitas vezes não
conhece. Geralmente são propostas redações ou trabalhos com algum case, nos
quais é necessário criar algo para passar ao grupo.
Técnica de integração Esta técnica visa observar o comportamento dos participantes interagindo em
grupo, observando questões, como comunicação, liderança, proatividade e como
os participantes se relacionam entre si.
Técnica de Esta técnica visa a ter um feedback dos participantes, indagando sobre o que
encerramento eles acharam das dinâmicas e técnicas utilizadas.

Fonte: Elaborado pela autora.

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Vejamos alguns exemplos de técnicas de dinâmica em grupo.

Dinâmica 1: A teia da vida

Objetivo: apresentação nos grupos, conhecimento mútuo, a importância de cada


um assumir a sua parte na teia da vida.
Participantes: 20 pessoas. 
Tempo Estimado: 10 a 15 minutos. 
Material: um rolo (novelo) de fio ou lã. 
Descrição: dispor os participantes em círculo. 
O coordenador toma nas mãos um novelo (rolo, bola) de cordão ou lã. Em seguida
prende a ponta do novelo em um dos dedos de sua mão. Depois ele pede para
as pessoas prestarem atenção na apresentação que ele fará de si mesmo. Assim,
após se apresentar brevemente – dizendo quem é, de onde vem, o que faz, dentre
outras informações relevantes – joga o novelo para uma das pessoas à sua frente.
A pessoa que apanhar o novelo, após enrolar a linha em um dos dedos, irá
repetir o que lembra sobre a pessoa que lhe atirou o novelo. Ela também irá se
apresentar e, assim, a dinâmica continua com a próxima pessoa que receber o
novelo e sucessivamente, até que todos do grupo digam seus dados pessoais e se
conheçam. Como cada um atirou o novelo adiante, no final haverá no interior do
círculo uma verdadeira teia de fios que vai unir uns aos outros.
Pedir para as pessoas dizerem:
- O que observaram.
- O que sentiram.
- O que significa a teia.
- O que aconteceria se um deles soltasse seu fio, ou outras situações.
Mensagem: todos somos importantes na imensa teia que é a vida; ninguém pode
ocupar o seu lugar.

Fonte: Adaptado ITCP/Unicamp (2015).

Dinâmica 2: Falando sobre cidadania e solidariedade

Objetivo: conscientizar-se da importância da solidariedade na convivência social.


Número de pessoas: indiferente.
Material necessário: revistas, jornais, cola, fita adesiva, caneta hidrocor, papel
pardo, pincel atômico.
Como fazer:
1. Formar subgrupos.
2. Distribuir o material pelos subgrupos.
3. Cada subgrupo deve montar, com o material recebido, um painel no qual
apresente situações de solidariedade, em oposição a situações individualistas,
dando um título para o trabalho.
4. Apresentação dos painéis, seguida de discussão sobre os pontos que mais
chamarem a atenção do grupo.

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5. Plenário: discutir as seguintes questões: Qual a importância da solidariedade na


sociedade contemporânea? Que valores e atitudes são estimulados e referendados
socialmente? De que iniciativa solidária você já participou? Que pessoas são
exemplos de solidariedade no bairro, na escola e na sociedade?
6. Fechamento: o facilitador ressalta para o grupo o valor da solidariedade para o
enfrentamento de questões como fome, educação, saúde, dentre outras.

Fonte: Adaptado de Araújo (2009).

Dinâmica 3: Um júri simulado

Objetivo: refletir sobre um tema ou decidir algum ponto de divergência entre os


integrantes do grupo de maneira sólida e consistente. Por exemplo, o saneamento
básico do bairro, descarte dos resíduos pelos moradores.
Número de pessoas: indiferente.
Material necessário: nenhum.
Como fazer:
Você escolhe o tema ou ponto polêmico a ser discutido e propõe aos participantes
a montagem de um tribunal para debater o assunto. Pede-se então que os
participantes se organizem escolhendo um advogado de defesa, um de acusação,
o juiz e os jurados. Os demais participantes formarão a plateia que estará contra
ou a favor do que se discute. Os advogados deverão preparar seus discursos com
argumentos, podendo usar trechos bíblicos para defender seu ponto de vista.
Poderão também convocar testemunhas (pessoas da plateia). Depois, monta-se
a sessão: os advogados expõem seus discursos e testemunhas e ao final o juiz
dará o veredicto de acordo com a conclusão dos jurados. O tema poderá ser
personificado em um cartaz ou objeto para representar o réu.
Observações:
Esta dinâmica pode ser aplicada em encontros que discutam temas polêmicos
para o grupo ou qualquer tema relevante na ocasião.

Fonte: Adaptado de Macedo (2013).

XX Atividades Lúdicas
São atividades que utilizam jogos e brincadeiras para ensinar.
O lúdico está em todas as atividades que despertam o prazer e a alegria.
É o “estado de bem-estar” no momento vivido. As atividades lúdicas
exercitam habilidades como autodisciplina, a sociabilidade, a afetividade,
os valores morais, o espírito de equipe e o bom senso. Ainda tem a função
de inventar, descobrir, conduzindo à descoberta, à invenção e à resolu-
ção de problemas na formação de sujeito criativo, interativo como o meio
social, crítico e autônomo.
Etapas de uma atividade lúdica:
a) Escolher o tema e o público-alvo.
b) Definir o objetivo da dinâmica (o que se pretende alcançar com essa
82 dinâmica?). 06
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c) Organizar (local, recursos, tempo).


d) Observar, coordenar e acompanhar a atividade.

e) Fazer considerações e avaliação da atividade – fechamento.


Vejamos dois exemplos de atividades lúdicas adaptados de: http://portal-
doprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=24180.

Atividade 1: Jogo de mímicas


Público: vários adultos dispostos em dois grupos.
Material: fichas com perguntas sobre a água (pode ser qualquer assunto).
Coordenação: mediador.
As perguntas devem ser feitas para o grupo adversário, que marcará pontos se
acertar. É importante que todos do grupo participem.
Fechamento da atividade: avaliação.

Atividade 2: Dança das cadeiras

Faz-se uma roda de cadeiras e outra de pessoas. Sendo que o número de cadeiras
deve ser sempre um a menos. Toca-se uma música animada e, quando ela parar,
todos devem sentar em alguma cadeira. Quem não conseguir sentar é eliminado e
tira-se mais uma cadeira. Ganha quem conseguir sentar na última cadeira.
Fechamento da atividade: avaliação.

Fonte: Adaptado de Paraná (2015).

Estudamos até agora os elementos que compõem a Educação Ambiental e possí-


veis caminhos para a Sustentabilidade.

Neste estudo, você teve a oportunidade de entender que todo o trabalho de EA


deve ser baseado nos princípios da educação ambiental, deve privilegiar a reflexão
e atitude crítica e não somente repassar conhecimento do Agente de Desenvol-
vimento Socioambiental para os sujeitos que formam os diversos segmentos da
sociedade.

Você teve a oportunidade de perceber, também, que o trabalho do Agente deve


envolver atividades de sensibilização e mobilização, bem como buscar entender
todo o processo histórico.

Podemos considerar, portanto, que é um trabalho feito a muitas mãos e que envol-
ve muitas situações, tem vários atores envolvidos, de forma inter e multidisciplinar,
incluindo você, o Agente de Desenvolvimento Socioambiental, que deve orientar
os atores sociais sobre a prevenção, promoção e desenvolvimento socioambien-
tal. Quanto mais diversificada for a abordagem, mais rica será a discussão acerca
das questões socioambientais, pois permitirá diversos olhares sobre o mesmo ob-
jeto. Isso é enriquecedor!
83 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Também deve-se considerar que a mobilização social permite uma organização da


comunidade promovendo e incentivando sua autogestão.

A seguir, estudaremos sobre a importância de um ambiente saudável. Para isso,


abordaremos as relações entre as doenças causadas pela falta de condições sani-
tárias, suas formas de transmissão, os meios de prevenção e promoção da saúde,
a classificação dos tipos de resíduos sólidos e as formas de prevenção e recupe-
ração do meio ambiente.

84 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

3 SAÚDE E PREVENÇÃO

CONTEXTUALIZANDO
A educação é um direito humano e universal. Sem o acesso aos conhecimentos,
não desenvolvemos nossas habilidades, atitudes e valores, tão importantes para o
processo de transformação do espaço do nosso ambiente.

Mas também temos direito à saúde, outro direito humano. Você já parou para
pensar como anda a sua saúde física, mental e social nessa correria do dia a dia?
Quais aspectos influenciam na sua saúde, de sua família, de seus colegas? O seu
bairro tem água encanada, coleta de lixo para todos e de forma igual?

Você sabia que uma família com quatro integrantes produz aproximadamente 4 kg
de lixo por dia? Pensando em você e na sua família, o que se tem feito para dimi-
nuir essa quantidade? O destino que você tem dado ao lixo é o adequado?

Vamos refletir sobre todas essas questões neste estudo. Certamente, ao final dele
teremos mais subsídios ao desenvolvimento da competência orientar os atores
sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socioambiental.

3.1 CONCEITO DE SANEAMENTO BÁSICO


Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) sa-
neamento básico pode ser entendido como o contro-
le de todos os fatores do meio físico do homem que
exercem ou podem exercer efeito nocivo sobre o seu
bem-estar físico, mental ou social.

XX Bem-estar físico está associado ao corpo, às atividades físicas e alimen-


tação balanceada.

XX Bem-estar mental está associado à mente, pensamentos, emoções e sen-


timentos, harmonia da sua vida, seu ambiente de trabalho, suas atitudes,
metas e objetivos cumpridos, espiritualidade, dentre outros.

XX Bem-estar social está associado a relações sociais saudáveis, ter acesso


aos bens e serviços.

Desta forma, bem-estar físico, mental ou social é o conjunto de ações socioeconô-


micas que tem por objetivo alcançar salubridade ambiental.

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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Pelo impacto na qualidade de vida, na saúde, na educação, no trabalho e no am-


biente, o saneamento básico envolve a atuação de múltiplos agentes em uma am-
pla rede de infraestrutura física e uma estrutura educacional, legal e institucional.

Saneamento é uma forma de prevenir doenças e promover saúde!

O saneamento básico inclui serviços de infraestruturas e instalações de abasteci-


mento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sóli-
dos e drenagem de águas pluviais urbanas.

XX Abastecimento de água potável: constituído pe-


las atividades, infraestruturas e instalações neces-
sárias ao abastecimento público de água potável,
desde a captação até as ligações prediais e res-
pectivos instrumentos de medição.

XX Esgotamento sanitário: constituído pelas ativida-


des, infraestruturas e instalações operacionais de co-
leta, transporte, tratamento e disposição final ade-
quados dos esgotos sanitários, desde as ligações
prediais até o seu lançamento final no meio ambiente.

XX Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos:


consiste nas atividades de coleta, transporte, trans-
bordo, tratamento e destino final de forma correta,
conforme a legislação ambiental do lixo doméstico,
originado da limpeza de vias públicas.

A palavra gari vem do nome de Pedro Aleixo Gari que,


durante o Império, assinou com a corte brasileira o primeiro
contrato de limpeza urbana no Brasil. Aleixo costumava
reunir no Rio de Janeiro, cidade onde morava, funcionários
para limpar as ruas após a passagem de cavalos, o que
nessa época era muito comum. Os cariocas se acostumaram
com esse trabalho e sempre mandavam chamar a “turma
do Gari” para executá-lo. Aos poucos e de tanto repetir, a
população da cidade associou o sobrenome de Aleixo Gari
aos funcionários que cuidavam da limpeza das ruas. Assim, o
nome gari se espalhou para o restante do País. 

86 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

XX Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas:


consiste em um conjunto de atividades, infraestrutu-
ras e instalações operacionais de drenagem urbana
de águas pluviais, de transporte, detenção ou re-
tenção para o amortecimento de vazões de cheias,
tratamento e disposição final das águas pluviais dre-
nadas nas áreas urbanas.

A preocupação do ser humano com o saneamento básico vem desde a Antiguidade,


quando do surgimento e expansão das primeiras cidades, onde foram desenvolvi-
das algumas técnicas de captação, condução, armazenamento e utilização da água.

Essa preocupação só existiu porque, desde os tempos mais remotos, o ser humano,
ao longo de sua experiência, aprendeu que a água suja de resíduos produzidos ao
longo de suas atividades podem transmitir doenças. Com o objetivo de minimizar
esse problema, o ser humano começou a adotar medidas para preservação da
água e formas de se livrar dos resíduos.

Conheça alguns registros destas iniciativas:

Saiba mais
• Em ruínas de uma civilização que se desenvolveu, há cerca
de 4000 anos, na Índia, foram encontrados banheiros, redes
de esgoto nas construções e drenagem nas ruas.
• O antigo testamento da Bíblia apresenta diversas abordagens
vinculadas às práticas sanitárias do povo judeu como, por
exemplo, o uso da água para limpeza de roupas sujas que
favoreciam o aparecimento de doenças (escabiose).
• Na Índia existem relatos do ano 2000 a.C. de tradições
médicas, recomendando que a água impura devia ser
purificada pela fervura sobre um fogo, pelo aquecimento no
sol, mergulhando um ferro em brasa dentro dela ou podia
ainda ser purificada por filtração em areia ou cascalho, e
então resfriada.
• Das práticas sanitárias coletivas mais marcantes na
Antiguidade, destacam-se a construção de aquedutos,
banhos públicos, termas e esgotos romanos, tendo como
símbolo histórico a conhecida Cloaca Máxima de Roma (final
do séc. IV a.C.).

Fonte: Adaptado de Guimarães; Carvalho; Silva (2007).

Os egípcios dominavam técnicas de irrigação do solo na agricultura e métodos de


armazenamento de água, pois dependiam das cheias do Rio Nilo.

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Durante a Idade Média, a falta de hábitos higiênicos se agravou com o crescimen-


to industrial em fins do séc. XVIII. Os camponeses foram levados em massa para
as cidades sem infraestrutura, o que desencadeou vários problemas de saúde
pública e meio ambiente. As moradias ficavam superlotadas e sem as mínimas
condições de higiene. Os detritos, como lixos e fezes, eram acumulados em reci-
pientes, de onde eram transferidos para reservatórios públicos mensalmente e, às
vezes, atirados nas ruas. O saneamento básico não acompanhava a expansão que
foi marcada por graves epidemias de doenças, como cólera, febre tifoide e peste
negra, que fizeram milhares de vítimas.

Em Roma somente os nobres tinham acesso a ba-


nheiros e banhos. As latrinas públicas (vasos sani-
tários) eram frequentadas pelos nobres romanos.
Era uma atividade social na qual se discutia assun-
tos como política, filosofia e religião. Só os ricos ti-
Habitués é o nome dado a fre-
nham acesso às latrinas de mármore, servidas por
quentadores assíduos de um lugar.
água corrente. No frio, os habitués mandavam an-
tes os escravos para sentar e esquentar o mármore, mas não podiam usar as latri-
nas. Os frigidários eram salas enormes com piscina onde as pessoas se banhavam
com água fria.

Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, houve um importante avanço
nos serviços de saneamento com a implantação de redes de coleta da água da
chuva. Havia fiscalização nos portos com o objetivo de impedir a entrada de pes-
soas doentes no País, porém, essas medidas não foram suficientes para conter
novas epidemias de cólera e tifo.

Diante desse contexto os problemas de saúde pública e de poluição do meio am-


biente obrigaram os governantes a buscar soluções científicas e tecnológicas,
para saneamento, coleta e tratamento dos esgotos, abastecimento de água se-
gura para consumo humano, coleta e tratamento dos resíduos sólidos e para a
drenagem das águas de chuva, afinal o saneamento básico é um indicador de
desenvolvimento.

Porém, mais de um bilhão de habitantes na Terra não têm acesso à habitação


segura e a serviços básicos, embora todo ser humano tenha direito a uma vida
saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.

No Brasil, atualmente, nem todas as regiões dispõem de saneamento básico de-


vido às desigualdades regionais existentes na infraestrutura, um dos objetivos a
serem conquistados pelo Estado e a sociedade.

A Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (2011), proposta pelo Instituto Bra-


sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos 5.570 municípios, em parceria com o
Ministério das Cidades, investigou os serviços de abastecimento de água, esgota-
mento sanitário e manejo de águas pluviais nas macrorregiões. O resultado desta
pesquisa está apresentado no Gráfico 2.
88 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Gráfico 2 – Proporção de municípios com instrumento coletor dos serviços de saneamento básico, por tipo de serviço,
segundo as grandes regiões.

%
45

40

35

30

25

20

15

10

0
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

 Abastecimento de água  Esgotamento sanitário  Manejo de águas pluviais

Fonte: IBGE (2008).

O abastecimento de água foi o serviço com maior expressão, seguido do esgo-


tamento e manejo das águas pluviais. Porém, deve-se considerar que devido à
falta de esgotamento em muitos municípios, o abastecimento de água, principal
recurso para a manutenção da vida, tem se tornado cada vez mais escasso. Em
razão dessa escassez, as empresas que abastecem as cidades buscam manan-
ciais cada vez mais distantes, aumentando tarifas e serviços prestados, o que nos
permite analisar as condições ambientais e suas implicações diretas na saúde e
na qualidade de vida da população brasileira. Veja na Figura 16 a situação do Sa-
neamento Básico no Brasil (IBGE 2008-2011).

Figura 16 – Serviços ausentes nas cidades brasileiras

86,6%

54,3%
71,6%
Norte

10,2%
1,5% 0%
9,9%
1,1% 0,06%
Nordeste
9,2%
0,43% 0%
Centro-Oeste
Sudeste
60,27%
4,9%
 Rede Geral de abastecimento de água 0% 0,06%1,5%
 Rede coletora de esgoto
 Manejo de resíduos sólidos Sul
 Manejo de águas pluviais
0,25% 0 1,35%

Fonte: Adaptada de IBGE (2011).


89 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Algumas cidades brasileiras são carentes de políticas públicas e investimentos na


área de saneamento básico, acarretando problemas sérios de saúde publica e im-
pactos no meio ambiente. Assim, investimentos em saneamento são considerados
como redutores dos custos com saúde.

Sabemos que a falta de saneamento básico é o pior e mais grave problema am-
biental, considerando o ambiente em sua totalidade, pois traz doenças, polui rios,
mares e solos, prejudica o desenvolvimento social, é causa de mortalidade com
destaque à infantil, contato direto com agentes patogênicos (agentes que causam
doenças), inibe o desenvolvimento físico e intelectual, viola dois dos mais impor-
tantes direitos humanos, o direito à saúde e à vida.

A melhoria da saúde da população reduz gastos com tratamento de doenças e


tratamento de mananciais poluídos; melhora o potencial produtivo das pessoas;
leva à geração de empregos, assim como ao desenvolvimento das atividades co-
merciais, turísticas e valorização de bens e serviços.

O sistema de saneamento básico de um município ou de uma região possui estrei-


ta relação com a comunidade a qual atende, sendo fundamental para a salubrida-
de ambiental do município e para a qualidade de vida da população local.

Por esse motivo é importante considerar que o acesso universal aos benefícios
gerados pelo saneamento ainda é um desafio a ser alcançado. É preciso estimular
o olhar atento à realidade em que se vive, uma vez que para se exigir melhorias e
transformações é importante a mobilização social e participação ativa da comuni-
dade nas ações deflagradas.

Saiba mais
Você pode saber mais sobre Saneamento Básico acessando os sites:

Cartilha de Saneamento – Planos municipais ou regionais http://www.


tratabrasil.org.br/novo_site/cms/templates/trata_brasil/util/pdf/Cartilha_
de_saneamento.pdf

Plano de Saneamento Básico Participativo http://www.meioambiente.


pr.gov.br/arquivos/File/coea/pncpr/Cartilha_Plano_de_Saneamento_
Basico_Participativo.pdf

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental poderá mobilizar a comunidade ao


ter acesso a indicadores sobre o saneamento básico, a fim de desenvolver projetos,
programas socioambientais e exigir do poder público a formulação e reformulação
de políticas públicas.  

Sendo assim, um planejamento e uma gestão adequada desse serviço concorrem


para a valorização, proteção e gestão equilibrada dos recursos ambientais e tornam-
-se essenciais para garantir a eficiência desse sistema, em busca da universalização
do atendimento, em harmonia com o desenvolvimento local e regional.
90 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

A verba de sistemas de saneamento é obrigação do Estado, garantida na Política


Federal de Saneamento, mas a solução ou a minimização de muitos problemas só
será possível se a comunidade afetada estiver, primeiramente, sensível à necessi-
dade de mudanças.

Com a publicação da Lei nº 11.445/2007, a Lei de Saneamento Básico, todas as


prefeituras têm obrigação de elaborar seu Plano Municipal de Saneamento Básico
(PMSB). Sem o PMSB, a partir de 2014, a prefeitura não poderá receber recursos
federais para projetos de saneamento básico. Esta lei é considerada o marco regula-
tório para o setor de saneamento no Brasil e contém os princípios da universalização
do acesso, da integralidade e intersetorialidade das ações e da participação social.

Elaborado pelos técnicos das prefeituras, com o apoio da sociedade, o PMSB deve
ser aprovado em audiência pública. As audiências são o fórum de discussão da pro-
posta das prefeituras e servem para apresentação de sugestões e reivindicações.

Nesse contexto o Agente de Desenvolvimento Socioambiental poderá acessar os


documentos referidos para ler, interpretar e levá-los até a comunidade para um
debate dialético e buscar as prioridades essenciais para essa comunidade. Nes-
se momento é importante que o Agente de Desenvolvimento Socioambiental tenha
competência profissional para utilizar linguagem adequada conforme o público e
comunicar-se com clareza e objetividade, evitando distorções no seu entendimento.

Após as discussões com a comunidade, o PMSB deve ser apreciado pelos verea-
dores e aprovado pela Câmara Municipal.

Depois de aprovado, o PMSB passa a ser a referência de desenvolvimento de


cada município, estabelecidas as diretrizes para o saneamento básico e fixadas as
metas de cobertura e atendimento com os serviços de água, coleta e tratamento
do esgoto doméstico, limpeza urbana, coleta e destinação adequada do lixo urba-
no, drenagem e destino adequado das águas de chuva, fatores essenciais à saúde
da população.

3.2 PROMOÇÃO DA SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS


Os conceitos de saúde e doença têm se supe-
rado ao longo dos tempos. O conceito de saúde
já foi interpretado como somente a ausência de
doença. Também já foi visto como uma entidade
que subsistia no ambiente como qualquer outro
elemento da natureza, ou seja, se a doença esti-
vesse no ambiente a pessoa seria infectada.

91 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

[...] A doença não é somente o desaparecimento de uma


ordem fisiológica, mas o aparecimento de uma nova ordem
vital; logo não há desordem, apenas a substituição de uma
ordem esperada por outra [...].
Fonte: Brant e Minayo-Gómez (2007).

A OMS define a saúde como sendo um estado de completo bem-estar físico, men-
tal e social, e não somente ausência de afecções e enfermidades. Portanto, doença
é a falta ou perturbação da saúde.

O Ministério da Saúde define o termo doença como uma alteração ou desvio do


estado de equilíbrio de um indivíduo com o meio ambiente (BRASIL, 1987).

A OMS instituiu o dia 7 de abril como o Dia Mundial da Saúde.

Saiba mais
Você sabia que existe a Classificação Internacional de Doenças
e de Problemas (CID) relacionados à saúde? A CID é um código
que foi criado em 1893 e padroniza as doenças.

Vejamos algumas medidas recomendadas para a prevenção de doenças:

XX Estar bem física, mental e socialmente.

XX Utilizar práticas de higiene.

XX Não poluir o ambiente onde vivemos.

XX Vacinar-se.

São muitas as doenças vinculadas à falta de saneamento. Elas interferem na qua-


lidade de vida da população e até mesmo no desenvolvimento do país. A maioria
dessas doenças é de fácil prevenção, mas causam muitas mortes, como o caso
da diarreia entre crianças menores de 5 anos no Brasil. Os índices de mortalidade
infantil também estão associados ao acesso a serviços de água, esgoto e destino
adequado do lixo.

As doenças são transmitidas pelo contato ou ingestão de água contaminada, con-


tato da pele com o solo e lixo contaminados. A presença de esgoto, água parada,
resíduos sólidos, rios poluídos e outros problemas também contribuem para o
aparecimento de insetos e parasitas que podem transmitir doenças.

92 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Segundo o IBGE (2011), as doenças são organizadas nas seguintes categorias:

XX doenças de transmissão feco-oral;

XX doenças transmitidas por inseto vetor;

XX doenças transmitidas por contato com a água;

XX doenças relacionadas com higiene;

XX geo-helmintos e teníase.

É importante lembrar que os custos com prevenção dessas doenças são menores
do que os que se tem com a cura e a perda de vidas por causa delas. Também
se poderia otimizar os gastos públicos com saúde se o dinheiro investido em tra-
tamento de doenças vinculadas à falta de saneamento pudesse ser direcionado
para outras ações. 

Algumas doenças causadas por falta de saneamento básico são a amebíase, as-
caridíase ancilostomose, cisticercose, cólera, dengue, diarreia, desinteira, elefan-
tíase, esquistossomose, febre amarela, febre paratifoide, febre tifoide, giardíase,
hepatite, infecções na pele e nos olhos, leptospirose, malária, poliomielite, teníase
e tricuríase.

O Quadro 10 apresenta algumas doenças, seus agentes causadores e formas de


contágio.

Quadro 10 – Doenças, agente causador e formas de contágio

Doença Agente causador Forma de contágio

Amebíase ou disenteria Ingestão de água ou alimentos


Protozoário Entamoeba histolytica
amebiana contaminados por cistos.
Ascaridíase ou Ingestão de água ou alimentos
Nematóide Ascaris lumbricoides
lombriga contaminados por ovos.
A larva penetra na pele (pés
Ovo de Necator americanus e do
Ancilostomose descalços) ou ovos pelas mãos sujas
Ancylostoma duodenale
em contato com a boca.
Cólera Bactéria Vibrio cholerae Ingestão de água contaminada.
Ingestão de água, leite e alimentos
Disenteria bacilar Bactéria Shigella sp
contaminados.

Ingestão de água contaminada,


Esquistossomose Asquelminto Schistossoma mansoni
através da pele.

Febre amarela Vírus Flavivirussp Picada do mosquito Aedes aegypti.


Bactérias Salmonella paratyphi, Ingestão de água e alimentos
Febre paratifoide Salmonella schottmuelleri e contaminados; moscas também
Salmonella hirshjedi podem transmitir.
Ingestão de água e alimentos
Febre tifoide Bactéria Salmonella typhi
contaminados.
Ingestão de alimentos contaminados,
Hepatite A Vírus da Hepatite A
contato fecal-oral.

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Picada da fêmea do mosquito


Malária Protozoário Plasmodium sp
Anopheles SP.
Peste bubônica Bactéria Yersinia pestis. Picada de pulgas.

Poliomielite Vírus Enterovirus. Contato fecal-oral, falta de higiene.


Animais domésticos ou silvestres
Salmonelose  Bactéria Salmonella sp.
infectados.
Platelminto Taenia solium e Taenia Ingestão de carne de porco e gado
Teníase ou solitária
saginata. infectados.

Fonte: Ambiente Brasil (2015).

Para reduzir os casos dessas doenças é fundamental que a população tenha aces-
so à água tratada, tratamento correto do esgoto (seja ele doméstico, industrial,
hospitalar ou de qualquer outro tipo), destinação e tratamento do lixo, drenagem
urbana, instalações sanitárias adequadas e promoção da educação sanitária (que
incluem hábitos de higiene), entre outras ações.

3.3 RESÍDUOS SÓLIDOS E POLÍTICAS PÚBLICAS


Os resíduos sólidos são comumente chamados de lixo, restos e rejeitos, ou seja,
o que não presta mais, o que não vai mais se usar. Talvez isso seja um equívoco.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), resíduos são os


restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, inde-
sejáveis ou descartáveis. Normalmente, apresentam-se sob estado sólido, semis-
sólido ou semilíquido (com conteúdo líquido insuficiente para que este possa fluir
livremente).

Ainda segundo a ABNT, são resíduos sólidos os resíduos nos estados sólido ou
semissólido, que resultam das atividades da comunidade de origem: industrial, do-
méstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos
nessa definição os lodos provenientes de estações de sistemas de tratamento de
água, aqueles gerados em equipamentos e
instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particu-
laridades tornem inviável o seu lançamen-
to na rede pública de esgotos ou corpos
d’água, ou exigem, para isso, soluções téc-
nica e economicamente inviáveis em face
da melhor tecnologia disponível.

A Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010, instituiu a Política Nacional de Resídu-


os Sólidos dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como
sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos
sólidos, incluídos os perigosos. O artigo 13 da referida lei diz que: 

94 06
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Para os efeitos desta Lei, os resíduos sólidos têm a seguinte classificação:

I - quanto à origem:
a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em residên-
cias urbanas;
b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de logradou-
ros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os gerados
nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”, “h” e “j”;
e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas
atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;
f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais;
g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, confor-
me definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama e do SNVS;
h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas, reparos
e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da prepa-
ração e escavação de terrenos para obras civis;
i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e silvi-
culturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas atividades;
j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou
beneficiamento de minérios;

II - quanto à periculosidade:  

a) resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de infla-


mabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carci-
nogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam significativo
risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com lei, regula-
mento ou norma técnica;
b) resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea “a” (BRASIL, 2010).

São várias as formas possíveis de classificar o lixo.

XX Por sua natureza física: seco e molhado.

XX Por sua composição química: matéria orgânica e matéria inorgânica.

XX Pelos riscos potenciais ao meio ambiente: perigosos, não inertes (NBR-


100004). 

Normalmente, os resíduos são definidos segundo sua origem e classificados de


acordo com o seu risco em relação ao ser humano e ao meio ambiente em resíduos
urbanos e resíduos especiais. 

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Saiba mais
No Brasil são produzidas aproximadamente 240 mil toneladas de
lixo por dia. Cada pessoa produz aproximadamente 1kg por dia.

O Brasil tem o maior índice de reciclagem de latas de alumínio


do mundo. Reciclamos 97% das latinhas de alumínio utilizadas.

Nem todo o lixo recebido tem um destino adequado, e a maioria das pessoas não
sabe o destino do lixo que produz. Quando o lixo é destinado de maneira incorreta
e fica a céu aberto, pode ocorrer contaminação de lençóis freáticos com chorume,
emissão de gases do efeito estufa, como o gás metano e, ainda, atrair insetos e
animais, que podem transmitir doenças ao ser humano.

O lixo ganhou, na atualidade, contornos públicos inusitados, não só pela crescente


quantidade produzida, mas também pelos impactos ambientais que vem trazendo
e pelos custos elevados que acarreta à população.

Ele pode ser destinado para aterro controlado, aterro sanitário, incineração, lixão
e compostagem. O Quadro 11 apresenta informações sobre cada destino do lixo.

Quadro 11 – Destinos do lixo

Destino Característica

O aterro controlado é considerado uma solução intermediária entre o lixão e o aterro


Aterro
sanitário. É uma tentativa de transformar lixões em aterro. Normalmente, ele é uma célula
controlado
próxima ao lixão que foi remediada, ou seja, que recebeu cobertura de grama e argila.
No aterro sanitário os resíduos são dispostos no solo. São cobertos diariamente com
camadas de terra, ocupando o menor volume possível, através da compactação deste
Aterro
material, tratando os efluentes gerados, o chorume e o metano. Ao final da vida útil do
sanitário
aterro sanitário, a empresa responsável por sua manutenção deve efetuar um plano de
recuperação do terreno.
A incineração é a queima de resíduos em fornos e usinas próprias. Esse procedimento
apresenta a vantagem de reduzir bastante o volume de resíduos. Além disso, destrói os
Incineração microrganismos que causam doenças, contidos principalmente no lixo hospitalar e industrial,
além de esterilizar outras substâncias contidas no lixo químico, tóxico e eletrônico. Depois da
queima, resta um material que pode ser encaminhado para aterros sanitários.
Os lixões são depósitos de lixo a céu aberto, popularmente conhecidos como vazadouros,
lixeiras ou lixões. É uma área de disposição final de resíduos sólidos sem nenhuma
preparação anterior do solo. Nesse local não há sistema de tratamento de efluentes líquidos
Lixão
como o chorume (líquido que escorre do lixo, fruto da decomposição da matéria orgânica).
Em consequência disso, esse líquido penetra na terra, com substâncias contaminantes para
o solo e para o lençol freático.
Compostagem é o processo biológico de decomposição e de reciclagem da matéria orgânica
contida em restos de origem animal ou vegetal formando um composto. Ela propicia um destino
útil para os resíduos orgânicos, evitando sua acumulação em aterros e melhorando a estrutura
Compostagem dos solos. Esse processo permite dar um destino aos resíduos orgânicos agrícolas, industriais e
domésticos, como restos de comidas e resíduos do jardim. Esse processo tem como resultado
final um produto – o composto orgânico – que pode ser aplicado ao solo para melhorar suas
características, sem ocasionar riscos ao meio ambiente.
Fonte: Elaborado pela autora.
96 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

A Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é


bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o avanço neces-
sário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e
econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos.

Essa lei contempla a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como


proposta a prática de hábitos de consumo sustentável e um conjunto de instru-
mentos para propiciar o aumento da reciclagem e da reutilização dos resíduos
sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado),
assim como a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não
pode ser reciclado ou reutilizado).

Além disso institui a responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos:


dos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, o cidadão e titulares
de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos na Logística Reversa dos
resíduos e embalagens pós-consumo.

Cria metas importantes que irão contribuir para a eliminação dos lixões e institui
instrumentos de planejamento nos níveis nacional, estadual, microrregional, inter-
municipal e metropolitano e municipal, além de impor que os particulares elabo-
rem seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

Também coloca o Brasil em patamar de igualdade com os principais países de-


senvolvidos, no que concerne ao Marco Legal, e inova com a inclusão de catado-
ras e catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis, tanto na Logística Reversa
quanto na Coleta Seletiva.

A expectativa é que os instrumentos da PNRS ajudem o Brasil a atingir uma das


metas do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, que é a de alcançar o índice
de reciclagem de resíduos de 20% em 2015 (MMA, 2014).

Saiba mais
Segundo dados de 2008 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), por meio da Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (PNSB): 99,96% dos municípios brasileiros têm serviços de
manejo de Resíduos Sólidos, mas 50,75% deles dispõem seus resíduos
em vazadouros; 22,54% em aterros controlados e 27,68% em aterros
sanitários. Esses mesmos dados apontam que 3,79% dos municípios
têm unidade de compostagem de resíduos orgânicos; 11,56% têm
unidade de triagem de resíduos recicláveis e 0,61% têm unidade de
tratamento por incineração. A prática desse descarte inadequado
provoca sérias e danosas consequências à saúde pública e ao meio
ambiente e associa-se ao triste quadro socioeconômico de um grande
número de famílias que, excluídas socialmente, sobrevivem dos lixões de
onde retiram os materiais recicláveis que comercializam.
Fonte: Ministério do Meio Ambiente (2015).

97 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

3.4 POLUIÇÃO DO AR, SOLO E ÁGUA


Para a Política Nacional do Meio Ambiente, poluição
é a degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou indiretamente:

[...]

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos; [...] (BRASIL, 1981).

Em outras palavras, poluição é a introdução de substâncias ou energia, direta ou


indiretamente, no ambiente, decorrentes de atividades antrópicas, causando alte-
rações em suas características biológicas, físicas e químicas, expondo os seres
humanos a doenças e prejudicando a vida.

3.4.1 Poluição do ar

Ar é a combinação de gases que compõem a atmosfera terrestre.


(Adriana Mafra Marghoti da Rosa)
A atmosfera é a camada de ar que envolve a Terra. Desde o surgimento da Terra,
há 4,6 bilhões de anos, o ambiente vem se transformando. A atmosfera primitiva
não apresentava a mesma composição química da atual que é de:

XX 78%: Nitrogênio

XX 21%: Oxigênio

XX 1%: Outros gases

Outros gases faziam parte dessa composição, porém, com o início da Revolução
Industrial, na Inglaterra, cresce significativamente a poluição do ar.

Saiba mais
A Revolução Industrial foi um conjunto de mudanças que
aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal
particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho
artesanal, manual, pelo assalariado e com o uso das máquinas.

Inicialmente as máquinas trabalhavam por força hidráulica e a vapor. Mais tarde com
a queima do carvão mineral e a criação dos motores de combustão interna movidos
a combustíveis derivados do petróleo, aumentaram os poluentes atmosféricos.

98 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Para a Resolução CONAMA (1990), poluente atmosférico é qualquer forma de matéria


ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características
em desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar:

I) impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; 

II) inconveniente ao bem-estar público;

III) danoso aos materiais, à fauna e flora;

IV) prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades


normais da comunidade.

São consideradas fontes de poluição:

XX queima de combustível (diesel, gasolina, dentre outras);

XX indústrias siderúrgicas, as fábricas de cimento e papel;

XX refinarias;

XX incineração de lixos domésticos;

XX queimadas de florestas para expansão de lavouras e pastos;

XX uso de fertilizantes;

XX queima residencial de combustíveis sólidos (carvão, madeira);

XX fontes de metano antropogênicas provenientes da agricultura, criação de


animais, aterros sanitários e tratamentos de esgotos;

XX uso de HFCs (hidrofluorocarbonetos).

Quando o ar está poluído pode gerar os seguintes impactos:

XX Efeitos na saúde (doenças) decorrentes de problemas respiratórios, agra-


vamento da asma.

XX Irritação das mucosas, dos olhos, do nariz e das vias respiratórias, câncer
respiratório, arteriosclerose, inflamação de pulmão, outros.

XX Possibilidade de a água reagir com a atmosfera formando chuva ácida.

XX Potencial causador de efeito estufa (aumento da temperatura).

Saiba mais
O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor, inflamável e inodoro
proveniente da combustão incompleta de combustíveis fósseis (carvão mineral,
petróleo e gás natural). É um gás altamente tóxico, que tem alta afinidade com
a hemoglobina no sangue, substituindo o oxigênio e reduzindo a alimentação
deste ao cérebro, coração e para o resto do corpo, durante o processo de
respiração. Em baixa concentração causa fadiga e dor no peito, em alta
concentração pode levar a asfixia e morte. Por isso, foi utilizado na Segunda
Guerra Mundial pelos nazistas para exterminar os judeus nas câmaras de gás.

99 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Algumas medidas de prevenção e recuperação a fim de minimizar a poluição do


ar são:

XX Incentivar o uso de tecnologias menos poluentes.

XX Usar equipamentos que reduzem os níveis de gases emitidos como: cata-


lisadores automotivos, filtros despoluidores nas chaminés das indústrias,
além de outros.

XX Proteger as florestas evitando queimadas.

XX Evitar produtos que contenham HFCs.

XX Promover o reflorestamento de áreas degradadas.

XX Evitar o uso de agrotóxicos, preferir o controle biológico.

XX Usar menos automóveis e mais transporte público.

XX Utilizar as ciclovias.

XX Criar e expandir áreas verdes nas zonas urbanas, como praças arboriza-
das, parques ecológicos, jardins, dentre outros.

XX Incentivar o uso de GNV.

XX Fazer inspeção periódica.

XX Denunciar e intensificar as fiscalizações.

3.4.2 Poluição da água


A água é o elemento essencial para a presença de vida na terra, pois sem ela os
seres vivos não sobrevivem.

Para ser consumida a água precisa ser insípida, inodora e incolor. É uma das subs-
tâncias mais abundantes do nosso planeta e pode ser encontrada nos três estados
físicos: sólido, líquido e gasoso. De toda a água existente em nosso planeta, cerca
de 97,5% é salgada e apenas 2,5% é de água doce. Dos 2,5% de água doce:

XX 68,9% encontram-se congeladas nas calotas polares e nos cumes das


altas montanhas.

XX 29,9% localizam-se no subsolo, como em aquíferos.

XX 0,9% em outros reservatórios, como nuvens e vapor d’água, por exemplo.

XX 0,3%, apenas, estão disponíveis em rios e lagos.

100 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Saiba mais
Dia Mundial da Água foi instituído pela ONU, em 1992,
sendo comemorado no dia 22 de março.

O Quadro 12 apresenta o uso da água doce no mundo e no Brasil.

Quadro 12 – Uso da água doce

Mundo Brasil

70% – irrigação (agricultura) 59% – irrigação


23% – uso humano (habitação, para beber, saneamento) 22% – uso humano
7% – indústrias 19% – indústrias

Fonte: Adaptado do Portal Água Online (2011).

A Figura 17 apresenta o mapa com a distribuição de água no planeta de forma


bastante irregular nas diferentes regiões.

Figura 17 – Distribuição de água no planeta

Fonte: BBC Brasil (2006).

101 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

A água doce do planeta está cada vez mais escassa devido à grande poluição dos
grandes centros urbanos. A Figura 18 apresenta o quadro da escassez de água
no mundo.

Figura 18 – Escassez de água no mundo

 Pouca ou nenhuma escassez  Próximo da escassez física  Não avaliada


 Escassez econômica  Escassez física

Fonte: Adaptada de Gobbi (2007).

A poluição hídrica é qualquer alteração nas características físicas, químicas e/ou


biológicas das águas que possa constituir prejuízo à saúde, à segurança e ao bem-
-estar da população e, ainda, possa comprometer a fauna e a utilização das águas
para fins recreativos, comerciais, industriais e de geração de energia (Resolução
Conama nº 020/86).

São fontes de poluição da água:

XX Esgotos domésticos e efluentes industriais.

XX Defensivos agrícolas e fertilizantes (metais).

XX Atividades associadas à agricultura e à pecuária (excrementos de animais).

XX Derramamento de óleo.

XX Resíduos sólidos e chorume de cemitérios, minas, depósitos de materiais


radioativos.

XX Resíduos atmosféricos.

XX Vazamento de tubulações ou depósitos subterrâneos.

Quando a água está poluída, pode gerar os seguintes impactos:

XX Diminuição de água potável para as atividades humanas.

XX Extinção de vida marinha e de água doce.

XX Exposição da população a riscos como doenças (diarreia, hepatite, cóle-


ra, entre outras).

102 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

XX Contaminação dos reservatórios subterrâneos.

XX Desestabilização do ecossistema (danos na fauna e flora).

XX Desfiguração da paisagem (prejuízos econômicos).

XX Proliferação de vetores e algas.

São algumas medidas de prevenção e recuperação a fim de minimizar a poluição


da água:

XX Tratar o esgoto antes de ser lançado ao mar (ETA).

XX Não jogar lixo em rios, praias e lagos.

XX Não descartar óleo na rede de esgoto.

XX Evitar agrotóxico, ou utilizá-lo dentro do limite permitido.

XX Não edificar construções perto de mananciais.

XX Multar quem cause acidentes ambientais, como óleo no oceano.

XX Utilizar filtros nas indústrias e fábricas.

XX Denunciar e intensificar as fiscalizações ambientais.

3.4.3 Poluição do solo

Solo é o principal suporte para a vida e bem-estar, constituindo-se em um recurso


natural vital e limitado, embora facilmente destrutível (GUNTHER, 2004).
O solo, material solto e macio encontrado na superfície da crosta terrestre, é muito
importante para a vida na terra. Ele é o habitat para seres humanos, animais, plan-
tas, microrganismos; manutenção do ciclo da água e dos nutrientes; proteção da
água subterrânea; manutenção do patrimônio histórico, natural e cultural; conser-
vação das reservas minerais e de matérias-primas; produção de alimentos; e meio
para manutenção da atividade socioeconômica.

No entanto o mau uso do solo pode comprometer suas propriedades e utilidades,


ao serem despejadas substâncias ou produtos poluentes, em estado líquido, só-
lido e gasoso.

São fontes de poluição do solo:

XX agrotóxicos;

XX resíduos industriais e hospitalares;

XX metais, lixos radioativos;

XX queimadas.

Quando o solo está poluído, pode causar os seguintes impactos:

XX Danos à biodiversidade e ao ser humano.

XX Doenças (tétano, esquistossomose, amarelão).


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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

XX Contaminação dos lençóis subterrâneos, rios, mananciais, nascentes, lagos.

XX Explosões em aterros.

XX Saturação e infertilidade do solo.

XX Alteração da paisagem (perda econômica e social).

XX Perda do potencial agrícola.

XX Crescimento da desigualdade social.

São algumas medidas de prevenção e recuperação, a fim de minimizar a poluição


do solo:

XX Descarte correto dos resíduos sólidos.

XX Aplicar os 5Rs (Reduzir, Repensar, Reaproveitar, Reciclar, Recusar) quanto


ao consumo de produtos.

XX Proteger as florestas.

XX Optar por produtos orgânicos.

XX Evitar o desgaste do solo (monoculturas) com queimadas e agrotóxicos.

XX Não jogar água contaminada no solo.

XX Optar por fertilizantes biodegradáveis.

Talvez o maior problema ambiental da atualidade seja o lixo que se produz. Seu
destino de forma inadequada causa impacto na saúde humana e nas demais for-
mas de vida.

O lixo continua existindo depois que o jogamos na lixeira, porém muitas pessoas
pensam que a lata de lixo é o destino final da matéria. Enganam-se, pois o lixo
precisa ser destinado para algum lugar.

A Figura 19 apresenta o tempo necessário para a decomposição de alguns materiais.

Figura 19 – Tempo de decomposição de materiais

ANTES DE PAPEL NYLON


JOGAR LIXO NA 3 a 6 meses Mais de 30 anos
RUA, SAIBA O PANO PLÁSTICO / METAL
TEMPO QUE 6 meses a 1 ano Mais de 100 anos
DEMORA PARA
FILTRO DE CIGARRO / CHICLETES VIDRO
SE DECOMPOR
5 anos 1 milhão de anos

MADEIRA PINTADA BORRACHA


13 anos Tempo indeterminado

Fonte: Adaptada de Redação nota mil (2014).

104 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

A sociedade, cada vez mais consumista e descartável, nos induz frequentemente à


aquisição de bens e produtos. Não há como não produzir lixo, uma vez que tudo o
que consumimos é repleto de embalagens, porém temos como reduzir o desperdí-
cio, reutilizando sempre que possível o que foi comprado e separando os materiais
recicláveis para a coleta seletiva.

Saiba mais
Sugerimos que você assista ao documentário “Trashed – Para
onde vai nosso Lixo” de 2012.

O Agente de Desenvolvimento Socioambiental deve identificar a problemática


dos resíduos sólidos e a degradação da natureza, enfatizando a importância da
reciclagem dos resíduos através da coleta seletiva, mostrando seus benefícios ao
meio ambiente e à comunidade, despertando a preocupação individual e coletiva
nas pessoas para a questão ambiental, com uma linguagem de fácil entendimento
que contribui para que o indivíduo e a coletividade construam valores sociais, ati-
tudes e ações voltadas para a conservação do meio ambiente.

Saiba mais
No Brasil há uma cultura do desperdício. Apenas 1/3 dos
alimentos produzidos chegam à boca do consumidor.

O consumo desenfreado vem aumentando a quantidade de lixo produzido. Apesar


das medidas mitigadoras de impactos ambientais introduzidas nas últimas déca-
das, os resíduos sólidos ainda se acumulam em lixões das cidades. Há pessoas
que se sustentam com os resíduos encontrados nos lixões.

Saiba mais
Sugerimos que você assita ao filme Lixo Extraordinário, disponível
no site: https://www.youtube.com/watch?v=61eudaWpWb8

Considerando que parte dos resíduos gerados pelas atividades humanas ainda pos-
sui valor comercial, se manejado de maneira adequada, deve-se adotar uma nova
postura e começar a ver o lixo como uma matéria-prima potencial. Nesse contexto,
o Agente de Desenvolvimento Socioambiental poderá informar e formar os indivídu-
os, desenvolvendo habilidades e modificando atitudes em relação ao meio ambien-
te, tornando a comunidade educativa consciente de sua realidade global.

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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

Você já parou para pensar que a forma como vivemos deixa marcas no meio am-
biente? É isso mesmo, nossa caminhada pela Terra deixa rastros, pegadas, que
podem ser maiores ou menores, dependendo de como caminhamos.

A Pegada Ecológica é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a


pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. Pega-
da Ecológica é uma forma de traduzir, em hectares (ha), a extensão de território
que uma pessoa ou toda uma sociedade utiliza, em média, para se sustentar.

Saiba mais
Calcule a sua pegada ecológica. Para isso, acesse o site:
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/
pegada_ecologica/pegada_das_cidades/

A Pegada Ecológica foi criada para nos ajudar a perceber a quantida-


de de recursos naturais que utilizamos para suportar o nosso estilo de vida,
o que inclui a cidade e a casa onde moramos, os móveis que temos, as rou-
pas que usamos, o transporte que utilizamos, o que comemos, o que fa-
zemos nas horas de lazer, os produtos que compramos, entre outros. 
A Pegada Ecológica não procura ser uma medida exata, mas sim uma es-
timativa do impacto que o nosso estilo de vida tem sobre o Planeta, permi-
tindo avaliar até que ponto a nossa forma de viver está de acordo com a sua
capacidade de disponibilizar e renovar os seus recursos naturais, assim
como absorver os resíduos e os poluentes que geramos ao longo do anos. 
No conceito de Pegada Ecológica está implícita a ideia de que dividimos o espaço
com outros seres vivos e há um compromisso geracional, isto é, capacidade de
uma geração transmitir à outra um planeta com tantos recursos como os que en-
controu (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1987).

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UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

CONSIDERAÇÕES 
UNIDADE CURRICULAR 1

Esta primeira Unidade Curricular do Curso de Agente de Desenvolvimento So-


cioambiental mobilizou elementos para que você desenvolva a competência de
orientar os atores sociais sobre prevenção, promoção e desenvolvimento socio-
ambiental.

Conceituou meio ambiente, diferenciou desenvolvimento sustentável de sustenta-


bilidade, elencou as responsabilidades socioambientais que competem a cada um
dos atores sociais, que devem conhecer a legislação aplicada ao meio ambiente,
bem como identificar seus deveres e exigir direitos, visando possibilitar a mobili-
zação social.

Esta Unidade também identificou na educação e educação ambiental novas pos-


sibilidades de se entender o ambiente e preservá-lo para todos, hoje e sempre.

Por fim, reforçou a importância de estarmos saudáveis em um ambiente ecologi-


camente equilibrado.

Para dar continuidade ao curso, inicie o estudo da Unidade Curricular Elaborar


proposta de melhoria socioambiental.

Bons estudos!

107 06
UNIDADE CURRICULAR 1: ORIENTAR OS ATORES SOCIAIS SOBRE PREVENÇÃO, PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL

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UNIDADE CURRICULAR 1

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