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Lei nº 11.

343 de 23 de Agosto de 2006


Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas
para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define
crimes e dá outras providências.

Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente,
comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao
órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do


delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não ficará impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo.

§ 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a
regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas,
guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. (Incluído pela Lei nº 12.961, de
2014)

§ 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15
(quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. (Incluído pela Lei nº
12.961, de 2014)

§ 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no § 3º,
sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total
delas. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)

Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita
por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data da apreensão, guardando-se
amostra necessária à realização do laudo definitivo, aplicando-se, no que couber, o procedimento
dos §§ 3º a 5º do art. 50. (Incluído pela Lei nº 12.961, de 2014)
(Revogado)

Art. 50-A. A destruição das drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita
por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data da apreensão, guardando-se
amostra necessária à realização do laudo definitivo. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019)
Sabemos que determinados crimes, dada a sua natureza, deixam vestígios materiais (facta
permanentes), ao passo que outros, sem resultado naturalístico, não permitem que se constatem
vestígios (facta transeuntes). Em relação aos primeiros, por força de expressa disposição do art. 158
do CPP, há necessidade da realização do exame de corpo de delito:
“Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”.
No caso do crime de tráfico de drogas, os §§ 1º e 2º do art. 50 da Lei 11.343/06 dispõem:
“§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do
delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.
§ 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1.º deste artigo não ficará impedido de
participar da elaboração do laudo definitivo.”
Como se extrai dos dispositivos acima transcritos, são dois os laudos que devem ser elaborados. O
primeiro, chamado laudo de constatação, deve indicar se o material apreendido, efetivamente, é
uma droga incluída em lista da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária, do Ministério da
Saúde), apontando, ainda, sua quantidade. Trata-se, portanto, de um exame provisório, apto, ainda
que sem maior aprofundamento, a comprovar a materialidade do delito e, como tal, autorizar a
prisão do agente ou a instauração do respectivo inquérito policial, caso não verificado o estado de
flagrância. É firmado por um perito oficial ou, em sua falta, por pessoa idônea.
A par deste, há o laudo definitivo, presumivelmente mais complexo, que, como o nome
indica, traz a certeza quanto à materialidade do delito, definindo, de vez, se o material pesquisado
efetivamente se cuida de uma droga. Esse laudo, a teor do art. 159 do Código de Processo Penal,
deve ser elaborado por perito oficial ou, na sua falta, “por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de
diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada com a natureza do exame”, nos termos do § 1º, do mesmo dispositivo. Nada
impede, outrossim, que o mesmo perito elabore o laudo de constatação e, mais adiante, o laudo
definitivo. É isso, aliás, que ocorre na prática.
No geral, a jurisprudência se inclina no sentido de ser obrigatória a apresentação do laudo
definitivo, vedando, assim, a condenação do agente com lastro, apenas, no laudo de constatação:
“1. A Terceira Seção desta Corte, nos autos do Eresp n.º 1.544.057/RJ, em sessão realizada
26.10.2016, pacificou o entendimento no sentido de que o laudo toxicológico definitivo é
imprescindível para a condenação pelo crime de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter
por incerta a materialidade do delito e, por conseguinte, ensejar a absolvição do acusado. Ressalva
do entendimento da Relatora. 2. Na espécie, não consta dos autos laudo toxicológico definitivo, não
tendo as instâncias de origem logrado comprovar a materialidade do crime de tráfico de drogas,
sendo de rigor a absolvição quanto ao referido delito.” (PExt no HC 399.159/SP, j. 08/05/2018)
Tal rigor, porém, tem merecido alguma mitigação. Assim, em situações excepcionais, admite
a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que a materialidade do crime de tráfico de drogas
seja comprovada pelo próprio laudo de constatação provisório. Trata-se de situações em que a
constatação permite grau de certeza correspondente ao laudo definitivo, pois elaborado por perito
oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes e sobre substâncias já conhecidas, que não
demandam exame complexo:
“1. A Terceira Seção deste Sodalício pacificou entendimento segundo o qual ‘o laudo preliminar de
constatação, assinado por perito criminal, identificando o material apreendido como cocaína em pó,
entorpecente identificável com facilidade mesmo por narcotestes pré-fabricados, constitui uma das
exceções em que a materialidade do delito pode ser provada apenas com base no laudo preliminar
de constatação’. (EREsp 1544057/RJ, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/10/2016, DJe 09/11/2016) 2. In casu, o laudo de constatação
preliminar das substâncias entorpecentes apreendidas, assinado por perito da Polícia Civil, que
embasou a condenação pelo Juízo de primeiro grau, nos termos da jurisprudência deste Sodalício
configura documento válido para a comprovação da materialidade delitiva, reforçada pela confissão
do acusado e depoimentos colhidos em regular instrução.” (AgRg no AREsp 1.092.574/RJ, j.
07/06/2018)
Seja como for, é necessária a realização de um exame que constate a materialidade delitiva
para que se cumpra a disposição do art. 158 do CPP. Não é possível basear a condenação apenas em
depoimentos e na confissão do acusado.
Por isso, o STJ concedeu liminar em habeas corpus (HC 457.466/SC) para determinar a
suspensão de execução provisória da pena em um caso no qual o crime de tráfico havia sido
comprovado com base em prova testemunhal e na confissão do réu durante interrogatório.

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