Lei de migrações
Introdução;
No atual ordenamento jurídico constitucional brasileiro, a
regra geral é que os estrangeiros têm os mesmos
direitos e deveres básicos dos brasileiros, pois “todos
são iguais perante a lei”, conforme previsão do art. 5º,
caput, da Constituição Federal. A Constituição também
prevê direitos específicos para estrangeiros, no art. 5º,
L I I.
Existem, porém, direitos que só se aplicam aos
nacionais (sejam natos ou naturalizados), como os
direitos políticos (art. 14, § 2º, da Constituição Federal),
além de outras previsões constitucionais.
Conceitos
A lei de migrações traz alguns conceitos:
Imigrante: Estrangeiro ou apátrida, que possui vontade
de ficar no país de forma definitiva ou temporária
Emigrante: Brasileiro que se estabelece em outro país
de forma temporária ou definitiva.
Residente fronteiriço: Nacional ou apátrida residente de
município fronteiriço.
Visitante: Estrangeiro ou apátrida no país para uma
estadia de curta duração, sem pretensão de se
estabelecer de forma temporária ou definitiva no Brasil.
Apátrida: Pessoa que não tem nacionalidade, pois a
perdeu, ou porque sobre ele não recaiu nenhum
critério de atribuição de nacionalidade.
Vistos;
Os Estados livres para estipular as condições de
aceitação de um estrangeiro em seu país, sendo este
um ato discricionário.
O visto é documento concedido por embaixadas,
consulados-gerais, consulados, vice-consulados e,
quando habilitados pelo órgão competente do Poder
Executivo, por escritórios comerciais e de
representação do Brasil no exterior, tratando-se de
documento que confere a seu titular expectativa de
ingresso em território nacional.
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Tipos de visto:
Visto de vista: estada de curta duração, sem intenção
de estabelecer residência, para turismo, negócios,
trânsito, atividades artísticas ou desportivas etc.
É vedado ao estrangeiro com esse visto exercer
atividade remunerada no Brasil.
Tem prazo de validade de um ano período, permite
várias entradas no país. Importante ressaltar que,
embora tenha a validade de 1 ano, restringe o período
contínuo, chamado de estada, o qual tem um limite de
90 dias.
Visto temporário: imigrante no Brasil para estabelecer
residência por tempo determinado.
Estabelece a lei as hipóteses de concessão, quais sejam:
de pesquisa, ensino ou extensão acadêmica; tratamento
de saúde; acolhida humanitária; estudo; trabalho; prática
de atividade religiosa ou serviço voluntário; realização
de investimento ou de atividade com relevância
econômica, social, científica, tecnológica ou cultural;
reunião familiar; atividades artísticas ou desportivas com
contrato por prazo determinado.
Vistos diplomáticos e oficiais: concedidos a autoridades
e funcionários estrangeiros que viajem ao Brasil em
missão oficial de caráter transitório ou permanente,
representando Estado ou organismo internacional.
Poderão ser transformados em autorização de
residência.
Aviso: Não há limite de tempo para ser migrante, desde
que o visto seja renovado. Após certo lapso temporal,
pode-se requerer a nacionalidade, variando o tempo
para cada país.
Exclusão do estrangeiro;
Sanções administrativas que podem ser aplicadas ao
estrangeiro
Repatriação:
Iniciativa estatal. Dá-se antes da entrada do estrangeiro
em território nacional.
Nesta hipótese, o estrangeiro sequer entra no país, no
caso Brasil, pois há algum motivo de impedimento de
ingresso no território nacional. O artigo 45 da Lei de
Migração é taxativo e prevê as respectivas causas de
impedimento:
- O dispositivo versa sobre casos como a verificação de
expulsão ocorrida anteriormente, a qual ainda esteja
válida;
- Condenação ou processo em curso de um dos
crimes de competência do TPI;
- Também se aplica nos casos em que haja alguma
irregularidade no documento apresentado para ingresso
no Brasil;
- Até um caso de se verificar uma incompatibilidade
entre os motivos da viagem e o visto apresentado.
Não se aplica a repatriação:
- Para pessoas em situação de refúgio ou de apatridia;
- Não se aplica ao menor de dezoito anos
desacompanhado ou separado de sua família;
- Também não se aplica a quem necessite de
acolhimento humanitário,
- Nem será aplicada qualquer medida de devolução para
país ou região que possa representar risco à vida, à
integridade pessoa ou à liberdade da pessoa em
questão.
Deportação:
iniciativa estatal.
É o ato pelo qual o Estado retira compulsoriamente de
seu território um estrangeiro que entrou ou permanece
irregularmente, configurando uma situação de
irregularidade.
A deportação é oriunda de irregularidade migratória em
território nacional, seja na entrada do estrangeiro no
território brasileiro, seja em sua estada no Brasil
EX: esgotou-se o prazo de permanência e o
estrangeiro continua no país
Está prevista do art. 50 ao art. 53 da Lei de Migração.
Difere-se da repatriação pois apenas pode ocorrer
depois da entrada do estrangeiro no Brasil.
A deportação sempre pressupõe irregularidade, seja na
entrada ou na estada, mas não pressupõe crime. A
retirada compulsória decorre de procedimento
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administrativo, de pessoa que se encontra em situação
irregular. A Defensoria Pública da União prestará
assistência ao deportado, porém a ausência de
manifestação da Defensoria não impedirá a
deportação, nos casos em que ela for
notificada.
No prazo estipulado para a retirada voluntária do país,
pode o estrangeiro alegar que está sendo deportado
para país em que será processado ou foi condenado
por crime em circunstância que a legislação brasileira
não admite extradição. Embora estejamos falando de
dois institutos. Para que haja a extradição, mediante
solicitação de Estado estrangeiro, a legislação brasileira
exige que o crime em discussão – que justifica a
extradição – atenda certos requisitos a exemplo de ser
o crime punível no Brasil.
Expulsão:
iniciativa estatal Outra medida administrativa de retirada
compulsória de estrangeiro do território nacional é a
expulsão, que é conjugada com o impedimento de
reingresso por prazo determinado, sendo a sua causa a
condenação com sentença transitada em julgado
relativa à prática de:
- Crime de genocídio
- Crime contra a humanidade
- Crime de guerra ou crime de agressão, nos termos
do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
(Decreto nº4.388/2002),
- Crime comum doloso passível de pena privativa de
liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades
de ressocialização em território nacional.
Na forma da referida Lei, caberá à autoridade
competente resolver sobre a expulsão, a duração do
impedimento de reingresso e a suspensão ou a
revogação dos efeitos da expulsão. Ademais, o prazo
de vigência da medida de impedimento vinculada aos
efeitos da expulsão será proporcional ao prazo total da
pena aplicada na condenação penal, mas nunca será
superior ao dobro de seu tempo.
Quando não pode ocorrer expulsão:
- A Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017 – art. 55, II, “a”)
proíbe a expulsão caso o estrangeiro tenha filho
brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência
econômica ou socioafetiva. Existe até uma súmula bem
antiga do STF tratando sobre o tema: Súmula 1- STF:
É vedada a expulsão de estrangeiro que tenha cônjuge
ou companheiro residente no Brasil, reconhecido judicial
ou legalmente; ou que tenha filho brasileiro, dependente
da economia paterna.
- Vedada ainda a expulsão caso o expulsando seja
maior de setenta anos, residindo este no Brasil há mais
de 10 anos, devendo, no entanto, ser considerada a
gravidade e o fundamento da expulsão.
- Outra hipótese que impede a expulsão versa sobre o
expulsando que ingressou no Brasil até os 12 anos de
idade, residindo no Brasil desde então.
Extradição:
iniciativa do Estado estrangeiro por meio de solicitação.
A extradição decorre do envio, por um Estado a outro,
a pedido deste, do indivíduo que deve cumprir pena ou
responder a processo penal em seu território.
Em regra, o fundamento jurídico de todo pedido de
extradição é um tratado entre os dois Estados. Na falta
deste, poderá ser atendido mediante reciprocidade.
Conceito: A extradição consiste no envio de um Estado
soberano a outro de indivíduo que tenha sido
condenado por infração penal ou que estejam
respondendo a processo dessa natureza.
Limita-se às infrações penais, não incluindo ilícito civil,
administrativo ou fiscal.
Exceção?
O Estatuto de Roma prevê o compromisso dos Estados
parte de entregar pessoa que esteja respondendo
processo perante o TPI ou que já tenha sido
efetivamente condenada por este, mesmo que seja
nacional do Estado que recebe a solicitação. Estaríamos
assim diante de uma exceção à extradição? Observe
que se fala em entrega, em vez de extradição, pois são
institutos diferentes, conforme previsão expressa do
artigo 102 do Estatuto de Roma, portanto não consiste
numa exceção à regra da extradição.
Portanto, a previsão do Estatuto de Roma é diferente
do instituto da extradição, consistindo apenas numa
entrega do indivíduo para ser submetido ao processo
ou condenação em questão. Portanto, não confunda
entrega com extradição. Pode a entrega a que se
refere o Estatuto de Roma ser feita sem que seja
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necessário atender aos requisitos exigidos pela
legislação pátria para deferimento de extradição
Fundamento jurídico:
O direito de extradição, de forma geral, baseia-se tanto
em tratados internacionais de extradição, como o citado
entre Brasil e Estados Unidos;
Diante de sua ausência, baseia-se em declarações
formais de reciprocidade.
Baseia-se também em leis sobre extradição,
jurisprudência e usos e costumes internacionais.
A já mencionada Lei de Migração é uma das principais
fontes utilizadas aqui no Brasil, juntamente com a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
Condições para concessão:
Exige a Lei de Migração, para que seja o indivíduo
extraditado os requisitos abaixo (cumulativos):
- Ter sido o crime cometido no território do Estado
requerente (aquele que solicita a extradição) ou serem
aplicáveis ao extraditando as leis penais desse Estado.
O motivo precisa ser considerado crime tanto no Brasil
quanto no País requerente.
- Estar o extraditando respondendo a processo
investigatório ou a processo penal ou ter sido
condenado pelas autoridades judiciárias do Estado
requerente a pena privativa de liberdade superior a dois
anos.
O crime a que se refere a redação do artigo não
abrange os crimes políticos ou de opinião, sendo
necessário que se trate de crime comum e que
tenham o mínimo de gravidade.
Negação da extradição:
Brasil deve negar a extradição se houver possibilidade
concreta de o Estado requerente condenar o
extraditando a prisão perpétua ou a pena de morte,
sanções que são expressamente proibidas pela
Constituição brasileira (art. 5º, XLVII).
Importante ressaltar que, de acordo com o art. 96 da
Lei de Migração, o país que solicita a extradição deve
se comprometer com o Brasil a não realizar um rol de
atos atentatórios aos direitos humanos contra o
indivíduo, bem como respeitar o devido processo legal
e o estado de direito, sob pena de a extradição não ser
 efetivada. Ou seja, tanto a extradição quanto a expulsão Independe a pessoa ser nacional desse Estado ou não.
e a deportação não ocorrerão se poderá vir a colocar Como essa perseguição geralmente tem viés político,
em risco a vida ou a integridade da pessoa. também pode ser denominado de “asilo político”.

Procedimento extradicional no Brasil: Seu objeto é justamente a perseguição além da

adequada em um estado democrático de direito, então,
Pedido de Estado estrangeiro ⇨ STF (analisa os o asilo não pode se basear em crimes comuns.
requisitos de admissibilidade, podendo autorizar ou não
O asilo tem previsão no art. 27 ao art. 29 da Lei de
a extradição) ⇨ se permitir ⇨ encaminhamento ao
Poder Executivo, que decidirá pela extradição ou não Migração, onde há a previsão de que a concessão do
(constitui ato de império). asilo é ato discricionário do Estado, não existindo um
direito ao asilo (somente o direito a solicitá-lo).
O brasileiro nato não poderá ser extraditado, ressalta-se
que, segundo o art. 5º, LI, da Constituição Federal, Assim, o direito de concessão de asilo, na verdade, é do
nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, Estado que o concede. Sua concessão também é tida
como um dos princípios das relações internacionais do
em caso de crime comum, praticado antes da
naturalização, ou de comprovado envolvimento em Brasil, no art. 4º, X, da Constituição Federal.
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma Não será concedido asilo se o indivíduo tiver cometido
da lei crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime
de guerra ou crime de agressão, nos termos do
Considerações finais:
Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional
REPATRI DEPORTA. EXPULS. EXTRADI. (Decreto nº 4.388/2002).
irregularidades irregularidades irregularidades Envolve um ASILO REFÍGIO
e não crime. e não crime. e não crime, crime é ato discricionário obrigatória para o Estado
porém pode política perseguições por motivo
estar ligada a de raça, religião, grupo
um crime. social e penúria
Não pode ser Não pode ser Não pode ser Importa se teve não importa se o ato
coletiva coletiva coletiva perseguição de natureza que levou à perseguição
Iniciativa Atos de Atos de Configura política ou comum tem natureza política ou
estatal vontade do vontade do um pedido comum
país país de um país controle da aplicação das
estrangeiro
normas sobre refúgio
está disciplinado em
A deportação e a expulsão serão feitas para o país de órgãos internacionais,
nacionalidade ou de procedência do migrante, ou para como o Alto
outro que o aceite. Comissariado das Nações
Unidas para os
Súmula n° 1 e n° 421 do STF = ter filho brasileiro ou ser
Refugiados – ACNUR
casado com brasileiro impede a expulsão, mas não
impede a extradição.
Para que seja possível a expulsão do refugiado, antes,
ele deve perder a condição de refugiado

Asilo e refúgio:

O asilo é a proteção dada por um Estado a uma pessoa

que tenha sua vida, liberdade ou dignidade ameaçadas
por autoridades estatais.

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