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Mitos Organizacionais e Liderança:

Uma Análise Narrativa a Partir da Hermenêutica Crítica


Aragão Branco Filho 1, e-mail: aragaobranco12@gmail.com
Luan M. P. Kolachnek 2, luan_mpk@hotmail.com
Kamille Ramos Torres 3, kamillertorres@gmail.com

INTRODUÇÃO
Os mitos tem sido estudados no campo da cultura organizacional a partir de diferentes enfoques. De modo geral, entende-se que carregam forte potencial simbólico para a
transformação ou estabilização de valores compartilhados dentro de organizações (Freitas, 1991; Fleury, 1987). Nesse sentido, os mitos produzidos dentro do contexto
organizacional são parte importante do processo comunicativo apresentados como narrativas que sintetizam experiências e sugerem comportamentos desejados que determinam
parte da estrutura cultural da organização (Douglas, Burtis & Pond-Burtis, 2001; Vilela, 2012). A liderança se relaciona com os mitos organizacionais na medida em que os
processos de comunicação entre líderes e liderados são mediados por transformações e/ou estabilizações de sentido provocadas pelas narrativas sugestivas produzidas a partir da
elaboração mitológica.

OBJETIVOS / PERGUNTA DE PESQUISA

Objetivo: Compreender de que forma mitos organizacionais influenciam na comunicação entre líderes e liderados.

PP: De que forma mitos organizacionais influenciam na comunicação entre líderes e liderados?

REVISÃO DA LITERATURA

Com relação aos mitos, entende-se que dizem respeito a narrativas com teor fortemente relacionado a construção de valores relevantes para a cultura organizacional sem a
necessidade de sustentação fundamentada em fatos ou compromissada com uma perspectiva fidedigna de uma realidade específica. Apresenta função normativa específica que
aponta para construções mais ou menos sistemáticas de guias, mapas, símbolos, rituais, rotinas, entre outros (Freitas, 1991). Eles “[....] dão sentido ao que não pode ser sustentado
racionalmente” (Vilela, 2012 p. 166). Assim, o mito se relaciona com a cultura, estando presente direta e indiretamente nas relações sociais dentro do espaço da organização.
Nesse sentido, a liderança desponta como outro fator de forte impacto coletivo na estabilização e transformação das relações sociais.

Para Alvesson (2013), a liderança não pode ser compreendida de maneira mecânica ou isolada, mas como elemento intrincado em complexos arranjos sociais, onde a interpretação
e compartilhamento de sentidos e significados é essencial. Dessa forma, a liderança não pode ser compreendido como um fenômeno separado da cultura, pois tanto os aspectos
que compõe as características desejadas de um líder como o desempenho normativo esperado por alguém que disponha do reconhecimento coletivo como líder são construídas
pelas próprias determinações contextuais da cultura (Alvesson, 2013). Sendo assim, é pressuposto que a liderança seja um fator crucial que modela ações, pensamentos e sentidos
tendo impacto e consequências para os arranjos de relações sociais existentes (Alvesson, 2013).

Diante de tal, para o desenvolvimento desse estudo, se assume que os mitos podem ser considerados dispositivos presentes na cultura que existem de maneira independente da
liderança, mas que podem ser utilizados, manejados e moldados com intenções específicas que gozam de potencial para restringir, ampliar e transformar a cultura organizacional a
partir de sua relação com a liderança. Portanto, reconhecemos que os líderes atuam promovendo alterações intencionais em valores e sentidos compartilhados que funcionam como
mediadores das práticas organizacionais, nesse sentido, o líder dispõe de acesso à memória organizacional tendo a possibilidade de produzir tendências interdições, suposições de
responsabilidade e orientações sugestivas, que comunicam partes da cultura organizacional (Freitas, 1991; Douglas, Burtis & Pond-Burtis, 2001).

MÉTODO E ANÁLISE DOS DADOS

Este projeto de estudo se trata de uma pesquisa de caráter indutivo, pois partirá da análise do material colhido a partir da coleta de dados primários em caso particular com a
intenção de compreensão da realidade. Trata-se de uma abordagem qualitativa, uma vez que estudos dessa natureza seguem critérios específicos com relação a confiabilidade e
validade (Lincoln, 2000). Seguirá a linha descritiva-exploratória, uma vez que se ocupa da identificação e exploração dos fenômeno no contexto organizacional (Creswell, 2007).
Utilizará a ferramenta de entrevista semi-estruturada, levando em consideração que esse dispositivo tem como pressuposto facilitar a aproximação do campo e manter as
interações com o sujeitos envolvidos na pesquisa na instância do dialogo informal, de modo a dispensar qualquer formalidade indesejada que prejudique a qualidade dos dados
coletados em campo. Nesse sentido, as entrevistas serão realizadas em diferentes níveis organizacionais visando uma compreensão ampla dos sentidos e significados
compartilhados por líderes e liderados. Como método de análise dos dados, será utilizado o proceder de análise narrativa fundamentado na Hermenêutica Crítica, o qual permite
compreender a ligação entre a narrativa e a ficção, ou seja, entre estórias e fatos não fundamentados que representam o imaginário organizacional a fim de reconstruir a “verdade”,
pois preenche de significado a existência da organização (Ricouer, 1997). Por fim, será realizado a triangulação dos dados entre teoria já disponível sobre os temas tratados na
pesquisa relacionados com as falas dos entrevistados e as percepções do pesquisador no campo (Creswell, 2007).

RESULTADOS ESPERADOS
Espera-se a partir do desenvolvimento dessa pesquisa contribuir para maior compreensão em relação aos mitos organizacionais e como eles influenciam o imaginário de líderes e
liderados. Se supõe que durante o processo de entrevista, diferentes dimensões de construções simbólicas envolvendo a elaboração e difusão dos mitos no contexto organizacional
sejam apreensíveis. Em outras palavras, acredita-se que a narrativa mitológica aponte para diferentes fenômenos organizacionais, como a retórica (Douglas, Burtis & Pond-Burtis,
2001); a ficção (Ricouer, 1997); a potencial redução da cultura em performance da organização (Alvesson, 2013) e o pertencimento/identificação dos sujeitos com a cultura
organizacional (Alvesson, 2013). Como contribuição teórica esperam-se contributos no sentido de se utilizar da perspectiva da Hermenêutica Crítica, ainda pouco explorada na
temática da liderança, apontando para a centralidade dos esquemas interpretativos nas relações sócio-culturais provenientes de organizações.

PRINCIPAIS REFERÊNCIAS

Alvesson, M. (2013). Understanding organizational culture. SAGE

Creswell, John (2007). Qualitative inquiry and research design: Choosing among five traditions. 2nd ed. Thousand Oaks, CA: Sage.

Douglas, Andrew, Burtis, John O., & Pond-Burtis, L. Kristine (2001). Myth and Leadership Vision: Rethorical Manifestations of Cultural Force. The Journal of Leadership
Studies, 7 (4).

Freitas, Maria Ester de (1991). Cultura organizacional grandes temas em debate. Rev. Adm. empresas, 31 (3).

Fleury, Maria Tereza Leme (1987). Estórias, mitos, heróis: cultura organizacional e relações do trabalho. Rev. Adm. empresas, 27 (4).

Lincoln Y. S. (2000). Handbook of Qualitative Research (2 ed.). Sage.

Ricoeur, Paul (1997). Tempo e narrativa. Tomo III. Trad. Roberto Leal Ferreira. Campinas: Papirus.

Vilela, José Ricardo de Paula Xavier (2012). O líder e a liderança: uma investigação orientada pela Dialética Negativa de T. W. Adorno. Tese (Doutorado em Administração).
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.

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