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O imperativo da reciclagem
Amparada na alquimia digital, enfim, a nova
tecnociência parece ter condições de oferecer o instru-
mental necessário para realizar o tão desejado sonho de
modelar os corpos e as almas, gerando os mais diversos
resultados ao gosto do consumidor. Auto-produzir-se e vi-
ver eternamente: duas opções que hoje são oferecidas no
mercado. Graças ao acúmulo de saberes e técnicas, os
discursos da tecnociência expulsam a velhice e a morte
do neoparaíso humano. Enfraquecidas as restrições im-
postas pela velha Natureza, com suas severas leis colo-
cadas em xeque, o sujeito contemporâneo é incitado a
gerir seu próprio destino, tanto em nível individual como
da espécie.
As derivações dessa proposta são, basicamente, duas.
De um lado, abre-se o caminho rumo à realização do so-
nho individualista e narcisista por excelência: o da auto-
criação — a proposta, idealizada e perseguida com fervor
pelos modernistas, de fazer de si mesmo uma “obra de
arte”13. Contudo, os alcances e limites de tais sonhos hoje
são demarcados, em grande parte, pelas diretrizes do mer-
cado que impelem os sujeitos a se tornarem “gestores de
si”, administrando suas potencialidades a partir das es-
colhas de produtos e serviços oferecidos pelas empresas.
De outro lado, é inegável a importância desta questão
em nível macro-social: o replanejamento da espécie hu-
mana, possibilitado pela pós-evolução auto-dirigida, é um
tema extremamente problemático que carrega obscuras
conotações éticas e políticas. A responsabilidade pela
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Notas
1
D. Hamer & P. Copeland. El misterio de los genes. Buenos Aires, Ed. Vergara,
1998, p. 296.
2
R. U. Sirius. “¿Hablas en serio?” in El paseante. Madrid, Ed. Siruela, v. 27-28, pp.
82-85, 2001.
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3
P. Virilio. A arte do motor. São Paulo, Estação Liberdade, 1996.
4
A Magna Carta for the knowledge age, assinado por um grupo de figuras proeminen-
tes na divulgação e teorização das novas tecnologias: Esther Dyson, George
Gilder, George Keyworth e Alvin Toffler; disponível em www.pff.org/
position.html.
5
H. Martins. Hegel, Texas e outros ensaios de teoria social. Lisboa, Ed. Século XXI,
1996, p. 172.
6
R. Descartes. Meditaciones metafísicas. Navarra, Ed. Folio, 1999.
7
N. Negroponte. Ser digital. Buenos Aires, Editorial Atlántida, 1995.
8
K. Hayles. How we became posthuman: virtual bodies in cybernetics, literature, and
informatics. Chicago, The University of Chicago Press, 1999.
9
eXistenZ (David Cronenberg, EUA, 1999); Johnny Mnemonic (Robert Longo,
EUA, 1995); Matrix (Andy e Larry Wachowski, EUA, 1999); O Vingador do
Futuro (Paul Verhoeven, EUA, 1990); Estranhos Prazeres (Kathryn Bigelow, EUA,
1995).
K. Warwick. Entrevista pessoal via e-mail, 13 nov. 2001. Mais informações em
10
www.kevinwarwick.org.
11
W. Craelius. “The Bionic Man: Restoring Mobility”. Science. 8 fev. 2002.
12
D. Geiger. “Inteligência artificial: máquina pode pensar?” in O homem máquina.
Rio de Janeiro, Centro Cultural Banco do Brasil, 2001, pp. 18-19.
13
Uma das representantes mais célebres da body-art de orientação tecnológica, a
francesa Orlan, pratica cirurgias plásticas em seus próprios rosto e corpo, conver-
tendo as salas de operações em cenários performáticos e veiculando as experiên-
cias em discursos sobre a “auto-produção estética”. A artista define os resultados
das intervenções cirúrgicas como “arte carnal”, variantes radicais do “auto-retra-
to”.
14
A. Grove. Só os paranóicos sobrevivem. São Paulo, Editora Futura, 1997.
15
P. Virilio. “Do super-homem ao homem superexcitado” in A arte do motor. São
Paulo, Estação Liberdade, 1996.
Metrópolis (Fritz Lang, Alemanha, 1927); Tempos modernos (Charles Chaplin,
16
EUA, 1936).
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RESUMO
ABSTRACT
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