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A Compliance em Matéria Tributária

A aplicação da Conformidade ao Direito Tributário geram maior competitividade às


empresas

Maxwell Ladir Vieira1

A Compliance, ou Conformidade, passou a ser enxergada de outra forma em nosso país,


com bem mais importância, a partir dos últimos acontecimentos que houveram no
Brasil, com escândalos políticos e de corrupção surgindo a todo momento nos
noticiários, inclusive por parte de empresas que supostamente tinham políticas
anticorrupção, como a Petrobrás.

Percebeu-se que, na verdade, não se praticava por parte de muitas empresas, uma
política de compliance real, mas uma mera maquiagem visando a consecução de
abertura de capital no mercado mobiliário, e que não eram levadas a sério com
efetividade de maneira a impedir desvios de conduta e práticas escusas pelo próprio
board of directors ou a diretoria da empresa, os primeiros que tinham de zelar pelo fiel
cumprimento dos padrões legais e éticos.

Todavia, sem uma prática amparada pelos parâmetros de compliance, as empresas se


deram conta de que os ganhos eventualmente obtidos com práticas ilegais e antiéticas
geravam prejuízos muito maiores, de ordem financeira à comercial, com perda de
contratos, desvio de dinheiro e desvalorização de seus ativos mobiliários no mercado de
capitais.

Um exemplo disso é a perda da Petrobrás, que já foi reconhecido em 6 bilhões com


problemas de corrupção, mas que é estimado pela Polícia Federal em algo maior que 20
bilhões, após a realização de vários acordos de delação premiada2.

1
MAXWELL LADIR VIEIRA -  Sócio da Ladir & Franco Advogados (LEXNET Uberlândia), pós-
graduado em Direito Tributário pelo Instituto de Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) e em Direito
Processual Civil pela Universidade Federal de Uberlândia-MG.
2
http://noticias.band.uol.com.br/brasil/noticia/100000775463/procurador-petrobras-teve-r-20-bi-de-
prejuizo-com-corrupcao.html
Há empresas ainda que, por desconhecer o tema, acabam tratando a governança
corporativa e a compliance como dois temas semelhantes, e aplicam a primeira como se
a segunda fosse.

A Governança Corporativa é um assunto que tem recebido um tratamento e atenção


especial há um tempo, e implica “um modelo de gestão das empresas que objetiva
estabelecer o respeito pleno à legalidade, equalizar o direito de todos os envolvidos
com a sociedade, sejam os acionistas e cotistas, bem como seus órgãos de gestão e
agentes externos, e ainda aumentar a transparência da gestão”.3

Já a Conformidade é a implementação de um modelo de controle voltado ao


cumprimento de normas que regulam a empresa, tanto interna quanto externamente, ou
seja, observar inclusive Códigos de Ética e Conduta e normas internas que tratam da
atuação de funcionários e colaboradores.

Uma política de compliance bem introduzida será fundamental para diminuir os riscos
do negócio e melhorar a imagem da empresa no mercado, agregando valor ao seu
produto ou serviço e diferenciando-a de outros players que não tenham esta política bem
definida, pois é regra geral o desinteresse em se envolver com parceiros negociais mal
vistos no mercado, ou ainda, “diga-me com quem andas que eu te direi quem és”, como
bem define o ditado popular.

Trazendo isto para o Direito Tributário, a aplicação da compliance importará em


cumprir com precisão e assertividade as determinações legais e regimentais, sem
desviar-se destas exigências, ainda que representem custo elevado o seu cumprimento.

Há inúmeros benefícios em se tratar a tributação da empresa implantando a visão da


compliance, não só financeiros, mas principalmente reputacionais e mercadológicos, por
conseguinte.

O benefício financeiro é latente, posto que ainda que algumas empresas associem a
compliance a modismos ou a um custo a mais para ela neste momento financeiro difícil
3
Governança Tributária para Pequenas e Médias Empresas, in Governança Corporativa para Pequenas e
Médias Empresas / coordenação Bernardo Lopes Portugal; organização Lúcia Vidigal Zimmermman. –
São Paulo : LTr, 2015. – (coleção Lexnet), p.175
que é atravessado pelo país, a verdade é que a Conformidade Tributária permite uma
atuação preventiva que impede o descumprimento de normas tributárias pelos diversos
setores e ajuda, com isto, a aumentar a lucratividade da empresa, ainda mais quando
aliada á governança tributárias e ao seu princípio da commerciality.

Outro benefício claro da Compliance Tributária é que a reputação da empresa passa a


ser naturalmente um diferencial competitivo positivo ou negativo, conforme ela tenha
ou não boas políticas de conformidade.

Vejamos o caso da Petrobrás, que além de envolvida na Operação Lava jato, também é
investigada na Operação Zelotes. Esta última operação investiga a atuação de
conselheiros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão ligado ao
Ministério da Fazenda, que revertiam ou anulavam multas aplicadas a empresas.

Além da má imagem perante o Fisco Federal que passaram a ter estas empresas,
tornando-se naturais alvos de fiscalização, também transmitiram uma má imagem ao
mercado, de que os resultados por ela obtidos e informados em seus balanços podem
não ser reais, que lucros obtidos poderão, por outro lado, tornarem-se prejuízos, o que
faz com que suas ações se desvalorizem e elas percam valor de mercado.

Além disso, entre fazer negócio com uma empresa com boa reputação e que tenha uma
política eficaz de conformidade que permita um bom controle do cumprimento das
normas e regras aplicáveis à ela, e outra que tenha má imagem e péssimo ou nenhum
controle sobre suas práticas e seus colaboradores, certamente o mercado optará pela
primeira empresa em detrimento da segunda, que perderá marketshare, como no caso
das principais empreiteiras envolvidas na Operação Lava jato, que passaram 2.105 sem
fechar nenhum contrato4.

Uma das dificuldades enfrentadas pelas empresa que pretendem implementar


efetivamente a compliance tributária pode ser junto à área comercial, que entenderá em
um primeiro momento que isto a prejudicará na efetivação de negócios e vendas,
principalmente se a empresa trabalhar em um setor em que os concorrentes atuem de

4
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-declinio--empreiteiras-passam-o-ano-sem-fechar-
nenhum-novo-contrato,1800364, acesso em 03.01.2016
forma escusa, o que só é vencido com o tempo e mostrando a consolidação de
posicionamento da empresa no mercado em relação a estes concorrentes.

Outrossim, a Compliance não é apenas uma moda, um conceito bonito que foi criado
para acalmar o mercado neste difícil cenário político, econômico e ético que o Brasil
tem vivido. É mais do que isso, e para a área tributária é uma verdadeira ferramenta de
controle que fará o “trem andar nos trilhos”, trazendo boa reputação e resultados
financeiros à empresa, impedindo a aplicação das pesadas multas tributárias e demais
sanções e aumentando o valor de mercado da empresa e a sua competividade no
mercado global.

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