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Para iniciarmos um pequeno estudo das leis hebraicas escolhemos uma lei que era costumeira na época, e
que parece hoje em dia não estar mais em vigência em nenhuma sociedade moderna. Trata-se da lei do
Levirato.
Dt 25, 5 – 10 prescreve que o cunhado (levir) deve casar-se com sua cunhada, após
a morte de seu marido, quando esta não tiver filhos homens. A finalidade principal
dessa lei era impedir que desaparecesse o nome da família e se perdesse o direito
sobre suas propriedades. Por isso, o filho que nascesse seria considerado filho e
herdeiro do marido morto. O livro de Gênesis relata o episódio do Levirato entre
Judá e Tamar (Gn 38). Essa lei existia ainda no tempo de Jesus. 4
para o homem hebreu, já que o mesmo não podia ficar sem descendências, pois isso
era considerado hediondo para Deus. Havia costumes na região e naquela época
deveras pitoresco para os dias atuais, como por exemplo, a Lei do Levirato,
juramentos.
14. Se alguém vier maliciosamente contra seu próximo, matando-o na traição, trá-lo-
ás até mesmo do meu altar, para que morra. (Homicídio Doloso);
15. Quem ferir seu pai e/ou sua mãe, será morto;
16. Quem raptar alguém, e o vender, ou for achado na sua mão, será morto.(rapto e
seqüestro);
Adentraremos agora, no Direito Penal Hebreu. A lei penal hebraica creditava a todos os delitos
como uma ofensa contra Deus. O mais grave dos delitos era a idolatria.
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O Direito Hebreu e suas fontes.
O Direito Penal Hebreu previa sete espécies de penas capitais, e três espécies de penas temporárias.
Timpanamento: prendia-se o condenado em uma trave e em seguida batia-lhe com malhos e cacetes no
abdômen. Era costumeiramente usado por gregos e romanos.
Sufocação: enchia-se um buraco, ou uma torre, com poeira e cinzas, e logo em seguida arremessavam o
condenado para o fundo, totalmente impregnado de poeira. Com isso a respiração era dificultada e o
condenado morria por asfixia. Essa foi a pena imposta a Menelau, por ordem de Antíoco Eupator.
.
Lapidação: constituía-se no método mais ordinário de execução entre os hebreus. Havia uma ordem que na
ausência de especificação da execução, dever-se-ia usar a lapidação em qualquer crime. A lei doutrinava
que as primeiras pedras fossem jogadas por testemunhas de acusação do julgamento, e, em seguida, o
povo continuava arremessando-as até matar o condenado. A lei que regulava o apedrejamento era a
Mishnah 6.1 6.4.
.
Pena por fogo: são raras as vezes em que encontramos na história a execução por esse modo. Sabemos que
era usada em delitos muito graves. Há menção em Levítico: 20,14; 21, 9
Morte pela espada: era usada cortando a cabeça do acusado ou lhe transpassando. Encontramos tal prescrição
em Deuteronômio 20, 13.
Flagelação: Jogava-se o culpado no chão ou amarravam-no em um tronco, aí era maltratado com varas. O
Direito Hebreu não permite que ultrapasse a 40 varadas, circunstância que faz com que judeus apliquem 38 +
1, para que não errem a conta e maculem a lei. Já entre os romanos não havia limites, dependia
exclusivamente do juiz ou do algoz.
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Prisão: apesar da prisão não ser muito usual entre os judeus, havia sim algumas prescrições para essa
espécie de pena temporal. Moisés usou muito dessa pena na época que regia o povo judeu. O profeta
Jeremias sofreu esta punição por ser muito zeloso e intrépido. Na modalidade prisão, vale ressaltar que os
cárceres naquela região eram bem diferentes dos nossos atuais. Ernest Renan6 explica em seu livro como
eram as prisões daquela época: A prisão não era isolada: o detento, com os pés presos por troncos, era
acusado lá permaneceria preso até o seu julgamento. O acusado ficava detido até a
Escravidão: era muito prescrita na reparação dos danos. Como ressarcimento do dano
Mentira, falsidade;
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Falso testemunho, crimes in vigilando, crime de incêndio, crime de incitação a multidão, corrupção, suborno
e adulteração de pesos e medidas.
Esse é o elenco de crimes tipificados no Direito Penal Hebraico. Exporemos algumas leis que prescrevem
estes crimes.
Blasfêmia: o crime mais abominável do Direito Penal. O indivíduo podia praticar qualquer crime que sua
família poderia velar sua memória. Entretanto, se praticasse o crime de blasfêmia, seria totalmente
esquecido daquela sociedade. A condenação se dava pela lapidação. A história narra que todo cidadão
judeu sentia prazer em jogar pedras em um blasfemo. Era uma total alforria no dia que havia um condenado
a ser morto.
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Outros crimes:
A lei principal que preconizava a blasfêmia era a Mishnah 7.5; que lecionava a consumação do crime
de blasfêmia quando a pessoa pronunciava o sagrado nome de Deus (Lahweh, Javé, YHWH) que só
podia ser dito uma vez no ano em uma festa sagrada e pronunciado somente pelo Sumo-sacerdote.
A Mishnah 7.4 prevê a execução da pena por apedrejamento. Na Torah encontram-se duas
aplicações do crime de blasfêmia, em Levítico 24, 14: “Tira o que blasfemou para fora do arraial; e
todos os que ouviram porão as mãos sobre a cabeça dele, e toda a congregação o apredejará”. Em
Levítico 24, 16: “Aquele que blasfemar o nome do Senhor, será morto; toda congregação o
apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto”.
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O Direito Hebreu e suas fontes.
Gordon Thomas em seu livro faz um aprofundado estudo e explica:
Uma vez que o sumo sacerdote identificasse um crime de blasfêmia ou adultério, este era punido
pela pena capital de apedrejamento. O condenado era levado ao local da execução, um penhasco
fora dos muros da cidade, especificando nos tratados como “da altura de dois homens”. Ali a
pessoa amaldiçoada era forçada para a borda e subitamente empurrada para trás, de forma que a
queda atordoasse a vitima ou quebrasse sua coluna.[..] os restos eram deixados para serem bicados
pelos pássaros, como havia sido primeiramente determinado no livro de Deuteronômio.8 O crime de
blasfêmia era assim punido, de acordo com os comentários de Gordon Thomas acima descritos.
Outro crime bastante deplorável no seio judaico era o crime de paganismo. Na lei
processual judaica era necessário o testemunho de duas pessoas para que se formalizasse
uma acusação. O crime de paganismo era considerado tão hediondo que os sacerdotes do
templo empregavam espiões para se infiltrarem na sociedade a fim de detectar os
pagãos. Às vezes quando um homem queria desviar uma pessoa para proclamar outro
Deus, faltava uma segunda testemunha para acusar a pessoa. Pensando nisso os
sacerdotes espalharam esses espiões que viviam sempre próximos dos indícios.
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A Mishnah VII 10c versa sobre esse assunto mostrando o procedimento para apanhar em
flagrante o pagão prosélito. Era recomendado que a pessoa que sofresse a proposta de
adorar outro Deus se encontrasse novamente com o sedutor, mas agora com o espião por
perto ou de trás de uma parede ou árvore. Com isso haveria duas testemunhas para
ingressar com a acusação, e o fim, como sabemos, era a horrível dilapidação. O
paganismo não só se consumava com a mudança de adoração a Deus, mas também em
adentrar espaços pagãos como palácios romanos. Por isso a lei prescrevia a distância de
sete passos entre o judeu e o pagão ou entre o judeu e o lugar pagão.
Uma das acusações contra Jesus era que ele havia profanado o sábado. Na obra de
Gordon Thomas ele narra fragmentos do pensamento de Jesus sobre o sábado:
Existiam outros crimes, também considerados horrendos no ordenamento jurídico e social daquela
época, como por exemplo: o falso testemunho, o suborno e a lesão corporal. O falso testemunho
era castigado veementemente e sua tipificação se dá no capítulo 5 do livro Levítico11 da Bíblia
Sagrada: “Se alguém for chamado como testemunha, mas não disser aquilo que viu ou que ouviu
falar, então será culpado e merecerá castigo”. Sem esquecer é claro que se trata de um dos
mandamentos do famoso Decálogo. Encontra-se em Êxodo12 capítulo XX, versículo 16, a premissa
contra o falso testemunho. Disponível em: https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=6345
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O suborno por sua vez era regido pelo livro de Deuteronômio que no capítulo XVI, 18, apregoava a
punição ao suborno. Vale ressaltar que era totalmente vedado por leis aos juízes receber donativos
ou presentes, pois assim agiriam diretamente contra “as malhas da justiça”. O dispositivo Non
accipties personan, nec munera, era o que proibia o suborno. A lesão corporal também era vista
como um comportamento nefasto para o povo. A lei punia a quem batesse em outrem, o
dispositivo que regulava encontra-se em Levítico XXIV, 19. Foi um verdadeiro avanço no
ordenamento e na estrutura da sociedade o reconhecimento da lesão corporal como crime, isto
inibiu várias agressões a hiposuficientes, como os escravos e idosos.
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O Direito Hebreu e suas fontes.
Falaremos agora sobre as leis processuais do Direito Hebraico. Abordaremos o processo de
execução e de conhecimento. Falaremos sobre a hipótese do inquérito policial, a organização do
poder judiciário da época e suas nuanças.
Os hebreus não eram muito desenvolvidos em leis processuais. Não havia nenhuma teoria
processual ou princípio que ditasse as normas rituais. Só havia duas regras processuais aplicáveis. A
primeira se dá em relação ao número de testemunhas que se deve ter para iniciar um processo.
Jamais uma pessoa podia ser condenada pela oitiva de uma só testemunha. Neste aspecto no livro
de Deuteronômio encontramos:
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Uma única testemunha não é o suficiente contra alguém, em qualquer caso de iniqüidade ou de
pecado eu haja cometido. A causa será estabelecida pelo depoimento pessoal de duas ou três
testemunhas. Quando uma falsa testemunha se levantar contra alguém, acusando-o de alguma
rebelião, as duas partes em litígio se apresentaram diante de Lahweh, diante dos sacerdotes e dos
juízes que estiverem em função naqueles dias. Os juízes investigarão cuidadosamente. Se a
testemunha for uma testemunha falsa, e tiver caluniado seu irmão, então vós tratareis conforme
ela maquinava tratar seu próximo. Deste modo extirpará o mal do teu meio, para que os outros
ouçam, vejam, e fiquem com medo, e nunca tornem a praticar semelhante mal no meio de ti. Que
teu olho não tenha piedade. (DT 19, 15 – 21)13
As leis processuais entre os hebreus eram raras. Como se vê, neste campo, os orientais achavam ser
mais conveniente improvisar, do que estabelecer um rol de procedimentos jurídicos rígidos a serem
por eles fielmente seguidos. A razão para tanto é muito simples. Devemos convir que nossas atuais
preocupações com as regras e os ritos processuais são devidas ao legado romano. Para os judeus,
O Direito Hebreu e suas fontes.
O processo de execução hebreu se dava por seis hipóteses. Entende-se aqui
execução como um ato de sanar a dívida que o condenado tem com a sociedade
ou com a vítima. As formas são:
Exílio, nas cidades refúgios, até a morte do sumo sacerdote. Geralmente usada em crimes culposos.
Havia no Direito Processual hebreu uma espécie de inquérito policial dos nossos dias. Esse
procedimento era conhecido como Hakirah, e tinha a fase investigativa (Derishah) e a fase do
interrogatório (Bedikah) do indiciado. Esse procedimento era previsto pela Mishnah Sanhedrim 40a.
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Na fase processual penal havia uma espécie de defesa (contestação) que o acusado
impetrava em seu auxílio para provar sua inocência. Era o famoso ordálio (prova de
Deus). Era muito usado nos casos em que não havia provas e o acusado protestava
sua inocência. O indivíduo que mais usava essa prova de inocência era a mulher
acusada de adultério pelo marido. A prova se constituía na ingestão de uma água
colhida numa tigela de barro e o sacerdote acrescentava um pouco de pó tirado da
parte mais intima do santuário. Disponível em: https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=6345
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O acusado que ingerisse o líquido e não sentisse nada em seu interior, ou que não ficasse com o
ventre protuberante e nem os quadris flácidos, ficava livre de toda e qualquer atribuição criminosa.
Mas se tivesse culpa no crime, Deus no alto de sua potência celestial enviaria uma doença grave
para o acusado.
Quem processava, julgava, possuía a jurisdição? Abordaremos agora quem eram esses juízes
aplicadores do Direito Hebraico.
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O Direito Hebreu e suas fontes.
A necessidade de haver homens dotados de paciência e saber divino
existiu desde a época de Abraão quando este junto com seu sobrinho
Lot e sua mulher saíram em peregrinação pelo mundo. Criaram
tribunais com número de dez homens eleitos por prazo determinado e
escolhidos entre as tribos. Quatro mestres de religião e seis leigos. Eles
não podiam ter menos de 25 anos e nem mais que 60.
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Com o passar do tempo e já com o comando de Moisés o povo judaico
passou a ter juízes exclusivamente com papéis de resolver os litígios
entre pessoas de uma tribo. Moisés, seguindo conselho de seu sogro
Jetro, nomeou alguns homens devido ao assoberbamento de tarefas
que possuía. Esta história está toda relatada em Êxodo, 18: 13-27.
Esse tribunal encontrava-se situado no monte Sião, próximo ao Templo, num local conhecido como
Lishkat HaGazit, “Câmara das Pedras Talhadas”.
O Sinédrio era presidido por um Sumo Sacerdote, tinha como vice o Av Bet Din17, e a escolha do
Sumo Sacerdote cabia ao rei. Marcus Borg em sua obra relata que Herodes nomeou e depôs sete
sumos sacerdotes durante seus 33 anos de reinado.18
A etimologia do nome em nada se confirmava com a pessoa. Anás, em grego Hannas, quer dizer
“compassivo” ou “misericordioso”. Anás passou longe de ser isso.
Anás foi sumo sacerdote de Jerusalém de 6 a 15 d.c. Nascido de família de sacerdotes ricos e
influentes, teve cinco filhos sacerdotes e seu genro Caifás como sucessor.
Segundo Kurt A. Speidel “Foi ele quem insistiu e pressionou para o etnarca
Arquelau fosse deposto do cargo. Foi ele quem advogou a entrega do poder a
Roma”.20 O mesmo Speidel afirma que Anás deteve os mais altos postos do
Templo, todos os funcionários importantes eram seus familiares, desde de
superintendentes a tesoureiros. Ele indaga a possível participação de Anás nos
lucros e vendas dos animais do Templo. 21
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O Direito Hebreu e suas fontes.
Por sua vez André Santos Novaes comenta:
1 BOBBIO, Norberto. A era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 56-57
2 MESTERS, Carlos. O livro da Aliança na vida do povo de Deus. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana, n. 23, 1996, p. 104-122
3 Salmos 1:3,4.
4 FONSATTI, José Carlos. Os livros históricos da Bíblia. v.8. Curitiba: Vozes, 2004, p. 46
6 RENAN, Ernest. Vida de Jesus. 13. ed. São Paulo: Martin Claret, 1995, p. 153
8 THOMAS, Gordon. O Julgamento de Jesus Cristo: Um relato jornalístico sobre a vida e a inevitável crucificação de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson Brasil, 2007, p. 122.
9 THOMAS, Gordon. O Julgamento de Jesus Cristo: Um relato jornalístico sobre a vida e a inevitável crucificação de Jesus Cristo. Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson Brasil, 2007, p. 49.
14 PALMA, Rodrigo Freitas. O Julgamento de Jesus Cristo: Aspectos histórico-juridicos. Curitiba: Juruá, 2006, p. 64
15 Eliminação – a pena de eliminação não ficou muito clara quanto à sua aplicação: se era uma pena capital ou uma exclusão social.
16 ARAÚJO, Durvalina. Julgamento de Jesus. Disponível em <www.viajuridica.com.br.>. Acesso em: 29 nov 2007.
18 BORG, Marcus J. et al. A última semana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, p. 28.
21 Ibid.,1979, p. 69
22 MORAES, André Santos. Comentário e anotações sobre o processo penal de Jesus : o Galileu. São Paulo: LTr, 2001, p. 108-109.