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Princípios da Lei de Falência e Recuperação Judicial

I) Introdução

A Lei de Falência e Recuperação Judicial dispõe no art. 75, que o objetivo da


falência é o afastamento do devedor das suas atividades para que possam ser preservados os
bens, ativos e recursos da empresa. Já no parágrafo único do referido artigo, o legislador
prescreveu que o processo falimentar deverá obedecer aos princípios da celeridade e da
economia processual.

Todavia cumpre ressaltar que ainda antes da Lei de Falência do ano de 2005, já
estavam consolidados os Princípios Clássicos do Direito Falimentar e Recuperacional, que
foram consagrados pela Lei 11.101/2005 e serão destacados na primeira parte do presente
trabalho.

Na sequência serão abordados os princípios depreendidos da legislação que regula


a falência e a recuperação judicial vigente, de modo a estabelecer um paralelo entre os
referidos institutos.

II) Princípios Clássicos do Direito Falimentar e Recuperacional

1- Par Conditio Creditorum - Em conformidade com o art. 126 da Lei


11.101/2005 os credores deverão ser tratados com igualdade sem que seja realizada uma mera
divisão de valores, no qual é feito um balizamento para a distribuição dos valores destinados
a satisfazer o crédito, porém deve ser ressaltado que a isonomia dos credores está delimitada
àqueles que integrem a mesma classe, de acordo com os critérios legais e objetivos. A
finalidade desse princípio é promover a distribuição igualitária dos valores liquidados entre
os credores, de modo a evitar injustiças.

2- Unidade, Indivisibilidade e Universalidade do Juízo de Falência - O juiz do


juízo para o qual é distribuído o pedido de falência, além de se tornar competente para o
referido pleito, também deverá conhecer e julgar as todas as ações e exceções contra o falido,
bem como todas que se relacionem com a massa falida. Os princípios da unidade e
indivisibilidade do juízo de falência possuem previsão legal no art. 76 da Lei 11.101/2005 e
possuem o objetivo de evitar a prolação de decisões por diferentes juízos, já que o devedor
pode ser titular de diversos estabelecimentos. Dos princípios supracitados é pressuposta a
universalidade do juízo, que prevê que devem ser convocados todos os credores do devedor
comum para que ação seja processada e julgada no juízo que a conheceu, evitando assim a
decretação de falências em diferentes juízos.

3- Publicidade - Decorre da previsão Constitucional do inciso IX, do artigo 93,


de modo a prever que os procedimentos que visam solucionar a falência devem ocorrer de
maneira transparente para todos os envolvidos no processo falimentar possam ter acesso aos
autos, sejam eles credores ou oriundos de outros segmentos da empresa. Tal disposição possui
o objetivo de realizar um controle externo dos serviços judiciais.

III) Princípios Decorrentes da Lei 11.101/2005

1- Princípio da Preservação da Empresa - a sociedade empresária é uma


atividade econômica organizada, a qual torna possível a circulação de bens e serviços, bem
como funciona como matriz geradora de emprego, nesse sentido, entende-se que a empresa
deve ser protegida, de modo a estimular o crescimento e vencer obstáculos para que a
sociedade consiga atingir a função social.

2 - Princípio da Função Social da Empresa - as sociedades empresárias não


estão somente voltadas para a obtenção de lucro, visto que possuem papel crucial diante da
coletividade, em conjunto com o Estado as empresas possuem a responsabilidade de assegurar
os direitos da sociedade. Possui como objetivo principal o combate aos abusos individuais em
prol da coletivização.

3 - Princípio da Viabilidade da Empresa - Funciona como distintivo se àquela


empresa será aplicada à falência ou a recuperação judicial, assim deverá ser analisado a
situação econômica em conjunto com a relevância econômica exercida na área de atuação.
Sendo tais pressupostos decisivos para empresa ter deferido o pedido de recuperação,
demonstrando que é capaz de manter os empregos, a função social da empresa e a circulação
da atividade econômica.
4 - Princípio da Maximização dos Ativos - A lei 11.101/2005 prevê no art. 75
que os ativos do falido devem ser otimizados mesmo após o afastamento devedor, de modo a
evitar a deterioração provocada pela demora excessiva do processo e priorizando a venda da
empresa em bloco, a fim de proteger os bens intangíveis.

5 - Princípio da Proteção aos Trabalhadores - Os trabalhadores como possuem


como único bem a força de trabalho, por isso devem ser protegidos, não apenas sendo alocados
em classes que possuem precedência na satisfação o crédito, como também por meio dos
mecanismos que visem proteger a empresa a fim de preservar os empregos.

6 - Participação Ativa dos Credores - Prioriza que os credores participem de


forma ativa nos processos de falência e recuperação para que possam diligenciar a defesa de
seus créditos e otimizem os resultados obtidos no processo.

7 - Rigor na Punição de Crimes Falimentares - Os crimes relacionados à


falência e recuperação judicial e falência devem ser rigorosamente punidos a fim de coibir as
falências fraudulentas, que desencadeiam prejuízo social e econômico, bem como a
apresentação de plano regulamentar que objetive induzir ao erro os credores e o juízo.

8 - Princípio da Celeridade e Eficiência - Se trata da necessidade que as normas,


bem como os procedimentos falimentares e Recuperacional sejam na medida do possível
simples, a fim de desburocratizar o processo e torná-lo mais rápido e eficiente, o que produz
um resultado benéfico para todos, tendo em vista que o processo implica em custos que são
suportados pela massa falida.

IV) Conclusão

De maneira geral tanto a falência quanto e a recuperação judicial se pautam em


princípios com uma finalidade comum, qual seja a minimização dos danos sociais e
econômicos, bem como a coibição de atos fraudulentos.

A empresa deve ser preservada sempre que possível, da mesma maneira que
os ativos devem ser maximizados para que os credores possam ser satisfeitos e massa de
empregados não fique desamparada, no caso da extinção da atividade empresarial.
Assim como os crimes falimentares são considerados como dolosos a fim de
promover uma sanção mais severa ao falido que usou de meios fraudulentos, para coibir tais
atitudes.

Partindo da análise supracitada resta claro que apesar de se tratarem de


institutos diferentes confluem na aplicação principiológica para resguardar o interesse
socioeconômico, de maneira que deve ser ressaltado que a presente lei falimentar e
Recuperacional não trouxe apenas novos princípios como agregou de forma inovadora aqueles
que já se aplicavam desde a doutrina clássica.

V) Bibliografia

PEREIRA, Thomaz Henrique Junqueira de Andrade. Princípios do Direito Falimentar e


Recuperacional Brasileiro. Orientador: Fábio Ulhoa Coelho. 2009. 133 p. Dissertação
(Mestre em Direito) - Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo, 2009. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs/cp098080.pdf. Acesso em: 6 abr.
2020.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial. 7ª edição. ed. rev. e atual. São Paulo:
Método, 2017. 950 p.

OS PRINCÍPIOS que Orientaram Tebet na análise da nova Lei de Falências. [S. l.], 13 abr.
2020. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2004/04/13/os-
principios-que-orientaram-tebet-na-analise-da-nova-lei-de-falencias. Acesso em: 18 mar.
2020.

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