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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO AMAZONAS

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO


DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO COORDENAÇÃO DO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO TECNOLÓGICO

Disciplina: Contribuições da História, da Ciência e da Tecnologia para o Ensino Tecnológico


Doutorando: Eder Marcio Araujo Sobrinho
Atividade: O Breve Século XX

Por meio da leitura do capítulo “Feiticeiros e aprendizes: as ciências naturais” do livro


Era dos Extremos: o breve século XX de Eric Hobsbawm, percebemos que o autor aborda
aspectos históricos e geopolíticos focados na consequência da tecnologia. Conforme o século
XX progrediu, observamos o crescimento exponencial dos cientistas, sendo que inicialmente
havia apenas alguns milhares de pesquisadores ao longo do globo, porém com o tempo, a
marca subiu rapidamente.

Já na metade do século, cerca de 1 milhão de cientistas apenas nos EUA, 1,5 milhões
na URSS e um grande foco também localizado na Europa, que aliás, perdeu no século XX o
protagonismo que detinha até então. Os governos passam a investir abertamente grande parte
de seus orçamentos em prol da tecnologia. Percebemos também a “fuga dos cérebros” de
países em desenvolvimento que perderam seus pesquisadores como consequência,
principalmente, da falta de investimento do país natal ou por questões envolvendo crises
políticas. Um fato que nos chama atenção é o da Guerra Fria entre Estados Unidos e União
Soviética, em que uma das maneiras encontradas pelas potências de competirem foi por meio
da ciência.

Nesse contexto, surgiram numerosos avanços científicos e muitas transformações que


resultaram em invenções que mudaram a história da humanidade moderna desde da
comunicação, transporte, até nos avanços da medicina atual. Diante desse cenário, traremos
nos próximos parágrafos, algumas reflexões dos principais autores da área de Educação Física
sobre as transformações ocorridas ao longo do século XX.

Historicamente a disciplina de Educação Física esteve fundamentada nos


conhecimentos das ciências biológicas, revelando uma concepção positivista do movimento
humano. De acordo com o Soares et al (1992), a Educação Física, inicialmente chamada de
ginástica, foi implantada em nossas escolas no final do século XIX, revelando uma concepção
higienista fundamentada nos conhecimentos da anatomia e fisiologia. Durante a metade do
século XX, ocupou-se com a educação do movimento, primando por técnicas que pudessem
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construir um corpo máquina, forte e dócil a serviço do pensamento da classe dominante, tendo
em vista o nascente capitalismo. Contribuindo, Freire (1991) ressalta que nesse período, as
aulas enfatizavam a reprodução mecânica dos movimentos (treinamento físico), destacando-se
o desenvolvimento das capacidades físicas. Esta prática revelou uma Educação Física
preocupada com a preparação, recuperação e manutenção da força de trabalho (atendimento à
ordem social, política e econômica da época).

Percebemos que o desempenho físico se converteu em mais uma mercadoria a ser


negociada no mercado capitalista. O corpo tido como máquina apenas para atender aos
comandos, realizava suas tarefas de forma mecânica como se não houvesse entre o
movimento e o pensamento, alguma relação. A explicação do desenvolvimento do ser
humano ficava restrita ainda aos processos fisiológicos e mecânicos.

Na primeira metade do século XX a característica marcante é o nacionalismo. A


educação pública tem por finalidade a formação do cidadão republicano, a consolidação do
novo regime e a formação de homens para o trabalho favorecendo o desenvolvimento social e
econômico do país. (CASTELLANI, 1988). Já a partir do golpe de 1964, a Educação Física
ganha mais espaço no contexto escolar, o professor é visto como “técnico” e grande parte dos
esforços foram centrados na concepção esportivista, que tinha como objetivo a formação de
atletas de auto rendimento, excluindo aqueles alunos que não apresentavam habilidades e
aptidões para a prática esportiva (VAGO, 1996). Essa característica esportivista perdurou até
o final dos anos de 1970, quando surgiu o movimento renovador da Educação Física.

Segundo Medina (1983), nas últimas duas décadas do século XX muitos pesquisadores
propuseram que a Educação Física passasse a se preocupar com o ser humano em movimento,
sendo este entendido como um fenômeno histórico e cultural. Para esses pesquisadores a
Educação Física deveria caracterizar-se como área de conhecimento e como tal preocupar-se
com a construção e o entendimento da motricidade humana. Trata-se do fazer e, além disso,
compreender o que está sendo feito para um saber ser do sujeito, pois que somos sujeitos
inacabados e complexos.

Desde movimento, surgiram diversas abordagens que propuseram novas práticas para
a Educação Física, dentre elas destacam-se as abordagens: Crítico-Superadora e Crítico-
emancipatória. De acordo com Freire (1992), com base nessas abordagens a ação docente na
disciplina de Educação Física deixaria de reproduzir uma ideologia vigente na classe
dominante, como foi durante quase todo o século XX. Assim, ao longo dos anos seguintes a
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esse movimento renovador e até os dias atuais, a Educação Física passou por constantes
transformações que a colocaram como componente curricular obrigatório e que deve tratar da
cultura corporal do movimento.

Referências

CASTELLANI FILHO, L. Educação física no Brasil: A história que não se conta.


Campinas, SP: Papirus, 1988.
FREIRE, J. B. De corpo e alma: o discurso da motricidade humana. São Paulo, Summus,
1991.
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo,
Scipione, 1992.
MEDINA, J. P. S. A educação física cuida do corpo... e “mente”. Campinas: Papirus, 1983.
SOARES, C. L.; TAFFAREL, C. N. Z.; VARGAL, M. E. M. P.; FILHO L. C.; ESCOBAR,
M. O.; BRACHT, V. Coletivo de Autores: Metodologia do Ensino de Educação Física.
São Paulo, Cortez, 1992.
VAGO, T. M. O esporte na escola e o esporte da escola: da negação radical para uma relação
de tensão permanente. Revista Movimento, ano III, n. 5. Porto Alegre: Escola Superior de
Educação Física, UFRGS, 1996.

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