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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DO SOLO

ASPECTOS BÁSICOS PARA O CULTIVO DE PLANTAS

EM SOLUÇÃO NUTRITIVA(1)

Fabiano Ribeiro do Vale(2)

Valdemar Faquin (2)

1. INTRODUÇÃO

O solo, principal substrato mineral das plantas terrestres, é um sistema

bastante heterogêneo, consistindo de uma fase sólida composta de material mineral e

orgânico, de uma fase líquida, representada pela solução do solo, e de uma fase

gasosa representada pela atmosfera do solo.

Em estudos de nutrição mineral de plantas o solo não é o substrato mais

adequado, principalmente por: (a) Falta de controle rígido do suprimento de


nutrientes para as plantas - a composição da solução do solo que circunda as

raízes é desconhecida em termos quantitativos, variando de uma raiz para a outra e

de momento para momento; (b) Heterogeneidade - pelo próprio processo de

formação do solo pode-se ter, mesmo em pequenas áreas, uma heterogeneidade

muito grande.

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(1) As observações contidas nesta Apostila têm por objetivo primordial servir como material
didático para os estudantes das disciplinas CSO-111 Fertilidade do Solo e Nutrição de
Plantas e DCS-503 Nutrição Mineral de Plantas.

(2) Professores Titulares DCS/UFLA


Acrescenta-se ainda o fato de ser a composição da rizosfera completamente diferente

da massa de solo adjacente.

Desta forma, no estudo de nutrição mineral de plantas usa-se como substrato

soluções nutritivas, nas quais pode-se ter cada nutriente, dentro de certos limites,

com centração bastante variável. Assim, tem-se um controle mais preciso das

variáveis, pois pode-se manipular, de forma adequada, a composição da solução que

vai suprir as raízes das plantas em nutrientes.

2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

A solução nutritiva deve conter todos os elementos considerados essenciais

(macro e micronutrientes). No preparo da solução nutritiva utiliza-se soluções de

diversos sais, chamadas "soluções estoque". Para os macronutrientes, as soluções

estoque, normalmente, são preparadas com concentração 1M. Logicamente, em

função da solubilidade, alguns sais não permitem o preparo da solução com essa

concentração. As soluções estoque devem ser guardadas de preferência em frasco

escuro e em lugar fresco. Para os micronutrientes, faz-se uma solução com todos

eles (coquetel), excetuando-se o ferro, que é suprido, na maioria das vezes, na forma

de quelado sintético, entre os quais se destacam: EDTA, HEEDTA, ETPA, EDDHA e

NTA. As soluções com ferro quelado devem ser armazenadas em frascos envoltos

com papel alumínio e em baixa temperatura (geladeira). No item 10 são apresentados

detalhes da preparação do Fe-EDTA.

É importante observar que, para maior facilidade, a concentração dos

micronutrientes no coquetel, bem como do ferro no quelado, deve ser 1000 vezes

maior que a concentração na solução nutritiva final, para que ao pipetar-se 1 mL da

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solução estoque e diluir para 1 litro, seja obtida a concentração desejada, expressa

em mM (ver item 10). No caso de ensaios com alumínio, deve-se evitar o preparo da
solução estoque contendo alumínio (AlCl3, Al2(SO4)3, etc.) em concentrações

elevadas, pois a precipitação de Al(OH) 3 é evidente.

3. pH DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

Uma vez preparada a solução nutritiva é necessário ajustar o pH, pois esse

influencia o equilíbrio de oxi-redução, a solubilidade e a forma iônica de vários

nutrientes. Normalmente, as soluções nutritivas apresentam pH entre 5 e 6.

Para a correção do pH deve-se utilizar bases, normalmente NaOH, ou

ácidos, normalmente HCl, em concentrações bastante baixas (Quadro 1).

Quadro 1 - Quantidade de compostos necessários para a preparação de 1 litro de


solução padrão, de diferentes normalidades.
_______________________________________________________________
Peso Equi-
Compostos molecular valente 0,5 N 0,2 N 0,1 N
_______________________________________________________________

H2SO4 d = 1,84 98,09 49,04 14 mL 5,6 mL 2,8 mL

HCl d = 1,19 36,47 36,47 41 mL 16,4 mL 8,2 mL

NaOH 40,01 40,01 20 g 8g 4g

_________________________________________________________________

A maneira mais prática de fazer a correção do pH (ajustamento inicial ou

correção durante o ensaio) consiste na utilização de um potenciômetro portátil, que

levado a cada vaso com solução nutritiva torna a correção bastante rápida e precisa.

Ajusta-se o pH no valor desejado, introduzindo-se o eletrodo na solução e

adicionando-se lentamente ácido ou base, sob agitação contínua da solução. Na falta

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do potenciômetro portátil, tem-se que retirar uma alíquota da solução, levar ao

potenciômetro no laboratório e titular com ácido ou base de concentração conhecida.

Como exemplo, suponha a correção de uma solução, de acordo com os dados

abaixo:

- pH da solução = 4,8

- pH da solução após correção = 5,5

- Volume da alíquota = 50 mL

- Volume NaOH 0,1 N gasto = 0,2 mL

- Volume vaso = 5 litros

Com uma regra de três simples, determina-se o volume de NaOH a ser

colocado no vaso:

50 mL solução ------- 0,2 mL NaOH

5000 mL solução ------- X

X = 20 mL NaOH

No entanto, adicionando-se os 20 mL de NaOH dificilmente o pH final será 5,5.

Normalmente, são necessárias duas ou mais tentativas, o que constitui uma séria

desvantagem.

Devem-se tomar precauções com relação ao valor de pH em soluções

nutritivas com alumínio. Na presença desse elemento o pH deve ser mantido bem

baixo, ou melhor, deve estar em torno de 4,2 e, nunca acima de 4,6. Ademais,
considerando a possibilidade de precipitação de Al(OH) 3 e a incerteza da completa

redissolução do precipitado, é aconselhável, antes de adicionar o alumínio, ajustar o

pH em torno do pH final desejado, fazendo-se o ajuste final após a adição do

alumínio.

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4. AREJAMENTO DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

A solução nutritiva tem de ser oxigenada pelo uso de uma fonte de ar

comprimido (compressor, bomba de aquário, etc.). Um adequado arejamento é de

suma importância para o bom crescimento das plantas em solução nutritiva.

5. LUZ EM SOLUÇÕES NUTRITIVAS

A incidência de luz nas raízes deve ser evitada para impedir o desenvolvimento

de algas, sendo mais comum a do gênero Chlorella. Essas algas, que tornam as

raízes esverdeadas, trazem sérios problemas, pois além de liberarem toxinas no

meio, elas competem em nutrientes e O 2.

Assim sendo, deve-se usar vasos opacos ou torná-los opacos. Pinta-se o vaso

de preto para torná-lo opaco e depois de branco para evitar aquecimento, ou, então,

usa-se direto tinta aluminizada (de preferência externa). Pode-se também revestir o

vaso internamente com saco plástico.

6. TEMPERATURA DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

Indiretamente a temperatura é controlada quando se usa tinta preta e branca

ou tinta aluminizada, permanecendo a temperatura da solução mais ou menos igual a

do meio ambiente.

7. TAMANHO DO VASO

O tamanho do vaso para cultivo de plantas em solução nutritiva depende de

alguns fatores tais como:

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a) Concentração da solução - quanto mais baixa for a concentração

da solução maior deverá ser o tamanho do vaso para um período de

troca pré-fixado;

b) Tamanho da planta - quanto maior for o tamanho da planta maior

deverá ser o tamanho do vaso, pois o consumo de nutrientes será

maior.

c) Taxa de crescimento da planta - quanto maior a taxa de

crescimento da planta, maior deverá ser o tamanho do vaso.

No caso de ensaios que envolvam, inicialmente, um grande número de plantas,

para posterior seleção através de desbaste, pode-se iniciar o cultivo em vasos de

menor capacidade (grande número de plântulas/vaso). Fazendo-se o cultivo desde o

início em vasos grandes, tem-se grande gasto de solução nutritiva e de espaço físico.

É mais comum, todavia, fazer-se o plantio em areia ou vermiculita irrigadas com


CaSO4.2H2O 10-4 M ou com a própria solução nutritiva se o tempo de permanência

for maior, para posteriormente fazer-se o desbaste e transferência para vasos

definitivos. Em determinados tipos de estudo a utilização de areia requer a sua

purificação, que pode ser feita da seguinte maneira:

- Lavagem com água de torneira;

- Tratar com uma mistura de HCl 6N + ácido oxálico 1% (colocar até cobrir toda

a areia), por cerca de uma semana;

- Se houver possibilidade de aquecimento o tratamento é mais rápido e eficaz;

- Após uma semana lavar em água de torneira abundante;

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- Lavar com água desmineralizada e depois com uma solução de NaH 2PO4

20 mM;

- Lavar em água desmineralizada abundante (se for estudar deficiência de P,

fazer várias lavagens).

8. PERÍODO DE TROCA DAS SOLUÇÕES NUTRITIVAS

O período de troca depende do tamanho do vaso e, logicamente, dos fatores

que influenciam no tamanho do vaso; concentração da solução, tamanho da planta e

taxa de crescimento da planta.

Conhecendo-se a concentração dos nutrientes na solução e na matéria seca e

a taxa de produção de matéria seca, pode-se determinar, com certa precisão, o

período de troca.

Supondo-se uma solução com 6 ppm P (6 ppm = 6 mg/L). Supondo-se ainda, 3

g/kg (0,3%) de P na matéria seca da planta em questão: 3 g/kg P na matéria seca =

3000 mg/kg P na matéria seca. Calcula-se a quantidade de matéria seca produzida:

3000 mg P -------- 1000 g matéria seca

6 mg P -------- X

X = 2 g de matéria seca

Resta saber quanto de matéria seca é produzida em média por dia, para

calcular o período de troca. Supondo ser 0,4 g matéria seca/dia:

1 dia ---------- 0,4 g matéria seca

X ---------- 2,0 g matéria seca

X = 5 dias

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Fazendo-se o cálculo desse tipo para todos os macronutrientes determina-se o

período de troca, que corresponderia ao nutriente que exigisse menor período de

tempo.

A maneira mais comum de estabelecer o período de troca da solução nutritiva

consiste em determinar a extração de cada macronutriente da solução em

determinados intervalos de tempo (hora, dia e semana). Na realidade, determina-se a

concentração do macronutriente que, pela natureza do ensaio, apresenta-se

inicialmente em concentração bem mais baixa (esgotamento mais rápido). Pode-se,

dependendo do ensaio, fazer-se apenas a reposição do nutriente limitante ao invés

de trocar a solução nutritiva. Por exemplo, em ensaios envolvendo a presença do

alumínio, nos quais o fósforo apresenta-se com concentração inicial em torno de 0,1

mM, faz-se a reposição apenas desse nutriente.

9. CÁLCULOS E ALGUNS CUIDADOS NO PREPARO DE SOLUÇÕES

NUTRITIVAS

Já foi ressaltado que as soluções estoque com os macronutrientes,

normalmente, apresentam concentração 1M, o que quer dizer que para o preparo de

1 litro de solução, se gasta 1 mol do sal. Assim, para preparar 1 litro de solução 1M
de KNO3, MgSO4.7H2O e KH2PO4, gasta-se respectivamente, 101,1 g, 246,5 g e

136 g. Para o preparo de qualquer volume de solução a uma dada molaridade, basta

usar a fórmula seguinte:

m
C =
M
PM . V

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onde: CM = concentração molar

m = massa do sal (soluto), em gramas

PM = peso molecular do sal, em gramas

V = volume da solução, em litros

Tendo-se a solução estoque com concentração molar conhecida, determina-se

a concentração molar de cada nutriente presente na composição molecular do sal

observando-se o "número de átomos" do nutriente que aparece na fórmula

molecular.

Exemplos:
Solução 1 M KNO3 : 1 M K e 1 M N

Solução 1 M Ca(NO3)2.4H2O : 1 M Ca e 2 M N-NO3-

Solução 0,5 M K2SO4 : 1 M K e 0,5 M S

Os submúltiplos de M são mM (M/1000) e M (M/1000000 ou mM/1000). No

preparo da solução nutritiva a partir de diversas soluções estoque, toma-se como

referência a alíquota de 1 mL da solução estoque, que é diluída para 1 litro. Dessa

forma, partindo-se de uma solução estoque 1M e fazendo-se essa diluição, obtém-se

uma solução 0,001 M ou 1 mM. Para estabelecer a concentração de cada nutriente

basta proceder conforme especificado no parágrafo anterior. Com os exemplos

anteriores tem-se:

Solução 1 M KNO3 - diluir 1 mL/1 litro - Solução 1 mM KNO3 : 1 mM K e 1 mM N.

Solução 1 M Ca(NO3)2.4H2O - diluir 1 mL/1 litro - Solução 1 mM Ca(NO 3)2.4H2O : 1

mM Ca e 2 mM N-NO3-.

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Solução 0,5 M K2SO4 - diluir 1 mL/1 litro - Solução 0,5 mM K 2SO4: 1 mM K e 0,5 mM

S.

Por isso, conforme já ressaltado, é que no coquetel de micronutrientes

(estoque), a concentração de cada um deles deve ser 1000 vezes maior que a

concentração na solução nutritiva final, pois tomando-se 1 mL e diluindo para 1 litro

obtém-se a concentração desejada, expressa em mM ou M. Por exemplo, se se

deseja o boro na solução nutritiva com concentração de 25 M (0,025 mM), no

coquetel

de micronutrientes o boro deve estar presente na concentração de 25 mM.

25 mM H3BO3 - diluir 1 mL/1 litro - 25 M H3BO3 : 25 M B

Pergunta-se: Quanto de H3BO3 deve ser pesado para o preparo da solução estoque

(coquetel)? Resp.: 1,55 g de H3BO3.

OBSERVAÇÃO: Prepara-se o coquetel de micronutrientes pesando-se cada sal e


fazendo-se a dissolução completa de cada um em separado (H 3BO3

deve ser dissolvido em água quente), para em seguida, misturar

todos eles e completar o volume para 1 litro.

Muitas vezes, a concentração dos nutrientes da solução nutritiva é expressa

em ppm. Uma vez que ppm = mg/L, pode-se transformar mM em ppm e vice-versa,

com o uso da fórmula:

ppm = Peso Atômico x mM

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Contudo, é preciso salientar que ppm não é maneira de expressar a

concentração de soluções, devendo, por isso, ser evitada.

No Quadro 2 (abaixo) são apresentados alguns pesos atômicos:

-----------------------------------------------------------------Elemento Peso Atômico

Elemento Peso Atômico

-----------------------------------------------------------------

N 14,00 Cu 63,54

P 30,97 Mn 54,94

K 39,10 Zn 65,30

Ca 40,08 Mo 95,95

Mg 24,32 Cl 35,45

S 32,06 Al 26,98

Fe 55,85 Na 22,99

B 10,82 10,82

-----------------------------------------------------------------

Finalmente, são propostos alguns problemas para praticar os cálculos mais

comuns em ensaios com solução nutritiva (Apostila à parte - FAQUIN; VALE e

FURTINI NETO, 1997).

10. SOLUÇÃO ESTOQUE DE MICRONUTRIENTES

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A) Solução de Fe-EDTA:
(a) Dissolver 33,3 g de Na2-EDTA em cerca de 500 mL de água morna(±

30oC) contendo 100,4 mL de NaOH 1N (se FeSO 4.7H2O, for a fonte)

ou 103,0 mL de NaOH 1N (se FeCl2.4H2O, for a fonte);

(b) Dissolver 24,9 g FeSO 4.7H2O (ou 17,8 g FeCl 2.4H2O) em cerca de

300 mL de água quente (± 70oC), contendo 4 mL de HCl 1N.

(c) Misturar a e b, adicionando água até ± 950 mL; colocar sob

aeração constante por 12 h e completar o volume

para 1.000 mL;

(d) Colocar em frasco escuro envolvido com papel alumínio; conservar em

geladeira;

(e) Ao pipetar-se 1 mL desta solução e diluir para 1 litro, obter-se-á a

concentração final de 5 ppm (mg/L) de Fe.

B) Coquetel de Micronutrientes (Hoagland & Arnon, 1950):


(a) Dissolver separadamente, misturar e completar a 1 litro: 2,86 g H 3BO3; 1,81 g

MnCl2.4H2O; 0,22 g ZnSO 4.7H2O; 0,08 g CuSO4.5H2O; 0,02 g

H2MoO4.H2O.

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(b) Ao pipetar-se 1 mL da solução estoque e diluir para 1 litro, obter-se-á a

concentração final de (ppm = mg/L): B = 0,5; Mn = 0,5; Zn = 0,05; Cu = 0,02

e Mo = 0,01.

Portanto, as quantidades pesadas das fontes, permitiram que a concentração

dos micronutrientes estivesse na solução estoque, 1.000 vezes maior que a

concentração final desejada.

c) Faça os cálculos e comprove! (Idem para o Fe-EDTA)

11. LITERATURA

EPSTEIN, E. Nutrição mineral de Plantas: Princípios e Perspectivas. Rio de

Janeiro, EDUSP e Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1975. 341p.

FAQUIN, V.; VALE, F.R. & FURTINI NETO, A.E. Cultivo de plantas em ambiente

controlado: solução nutritiva, hidroponia e em vasos com solo. DCS/UFLA, Lavras,

1997 (Apostila).

HOAGLAND, D.R. & ARNON, D.I. The Water-Culture Method for GrowingPlants

without Soil. Berkeley,CaliforniaAgricultural Experiment Station, 1950. (Circular 347).

NOVAIS, R.F.; NEVES, J.C.L. & BARROS, N.F. Ensaio em ambiente controlado. In:

OLIVEIRA, A.J. et al. (Coord.) Métodos de Pesquisa em Fertilidade do Solo.

Brasília, EMBRAPA-SEA, 1991. p. 189-253. (EMBRAPA-SEA. Documentos 3).

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I. CULTIVO EM SOLUÇÃO NUTRITIVA

Os aspectos básicos para o cultivo de plantas em solução nutritiva constam de apostila à


parte (Vale & Faquin, 1997). Em complementação, são aqui enfocadas as principais fontes de nutrientes
utilizadas para preparação de soluções estoque e são apresentados alguns exercícios para melhor
entendimento de aspectos contidos na citada monografia.

A) Principais fontes p.a. de nutrientes utilizadas para preparação de soluções estoque

- Macronutrientes
NH4H2PO4; KH2PO4; KNO3; Ca(NO3)2.4H2O; MgSO4.7H2O; K2SO4; Ca(H2PO4)2.H2O; CaSO4.2H2O;
Mg(NO3)2.6H2O; NH4NO3; (NH4)2SO4; H3PO4.

- Micronutrientes
H3BO3; MnCl2.4H2O; MnSO4.H2O; ZnSO 4.7H2O; ZnCl2; CuCl2; CuSO4.5H2O; FeCl2.4H2O;
FeSO4.7H2O; H2MoO 4.H2O

- Alumínio
AlCl3.6H2O; Al2(SO4)3
Professores Titulares do DCS/UFLA
(1)

Professor Associado do DCS/UFLA


(2)

Colaborador: Doutorando Sílvio Júnio Ramos

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B) Pesos atômicos
N = 14; P = 31; K = 39; Ca = 40; Mg = 24,3; S = 32;
B = 10,8; Cl = 35,5; Cu = 63,5; Fe = 55,8; Mn = 54,9;
Mo = 95,94; O = 16; Zn = 65,4; Al = 27; Cd = 112,4.

Obs.: Quando pertinente, no cálculo do Peso Molecular da fonte, incluir a água de hidratação.

C) Fórmulas auxiliares

- CM = m(g) ___; - ppm = mM x PA; - ppm = meq/100 cm3 x PE x 10


PM(g).V(L)

. ppm = partes por milhão: g/g ou g/mL


mg/kg ou mg/L
g/t ou g/m3

Obs: Ressalta-se que as unidades “ppm” e “meq” não são mais usadas em publicações, sendo que na
área de Solos e Nutrição de Plantas, as unidades utilizadas são do Sistema Internacional. Por exemplo:
ppm deve ser substituído por mg/kg (meio sólido) e mg/L ou dm3 (meio líquido), e meq/100 cm3 por cmolc/L
ou dm3. Nesses casos, os valores numéricos são idênticos. Nessa nota, os termos ppm e meq ainda serão
utilizados, pois são unidades usadas em muitas literaturas clássicas mais antigas sobre o assunto.

D) Cálculos
1. Completar a Tabela 1, dando a concentração da solução final para os macronutrientes em mM
e ppm (mg/L) e micronutrientes em M e ppm (mg/L), considerando as concentrações e
quantidades das soluções estoque pipetada (mL do estoque/L da solução final).

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TABELA 1 - Composição da solução nutritiva.
Solução estoque mL/L mM/M(1) ppm
- NH4NO3 M (80,0 g/L) 2,0 N-NH 4
+

N-NO3-

- Ca (NO3)2.4H2O M(236 g/L) 1,0 Ca


N-NO-3

- MgSO4 .7H2O 0,5 M (123,15 g/L) 1,0 Mg


S

- Ca(H2PO4)2.H2O 0,05 M (12,6 g/L) 10,0 Ca


P

- Solução a(2) 1,0 B


Cu
Mn
Mo
Zn

- Fe-EDTA(3) 1,0 Fe
(1) mM - para macronutrientes; M - para micronutrientes;
(2) Solução “a” (micronutrientes) - dissolver separadamente, misturar e completar a 1 litro: 2,86 g H 3BO3;
1,81 g MnCl2.4H2O; 0,22 g ZnSO4.7H2O; 0,08 g CuSO4.5H2O; 0,02 g H2MoO4.H2O;
(3) Fe-EDTA - foi preparado usando-se 24,9 g FeSO4.7H2O/litro (ver VALE e FAQUIN, 1997, p.13-14).

2. Suponha a montagem de um experimento em solução nutritiva, com o objetivo de estudar o efeito de


níveis de B e Zn na solução, sobre o crescimento e nutrição da soja. Considerar o uso das fontes
H3BO3 e ZnSO4.7H2O, e os níveis de 0,0; 0,5; 1,0 e 2,0 ppm de B e 0,0; 0,05; 0,10 e 0,20 ppm de
Zn.
Pede-se:

(a) Qual a quantidade de cada fonte deve ser pesada para a preparação de 1 litro de solução

estoque (separadamente), que permitisse pipetagens inteiras (1 mL, 2 mL, 3 mL/L, etc.) na

preparação das soluções de cultivo, correspondentes aos tratamentos?

(b) Qual o volume em mL/L, deveria ser pipetado de cada solução estoque assim
preparada, para obter-se as concentrações de B e Zn correspondentes a cada nível
estabelecido nos tratamentos?
(c) E por vaso? (Considerar vasos de 3 litros).

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(d) Como a fonte de Zn apresenta S na fórmula (ZnSO 4.7H2O), qual a concentração (em
ppm) deste nutriente em cada nível de Zn estabelecido nos tratamentos?
(e) Se o laboratório possui apenas ZnCl2 como fonte de Zn, responda a questão (a) usando
esta fonte.
(f) Qual a concentração (ppm) de cloro em cada nível de Zn?

3. Para o preparo de uma solução nutritiva num ensaio envolvendo a presença do metal pesado cádmio
(Cd), tem-se a recomendação de 16,466 g de Cd(NO 3)2.4H2O para preparar-se 1 litro de solução
estoque. Pede-se:

(a) Quantos mL/L desta solução estoque deve-se pipetar para ter na solução final
de cultivo 12 ppm (mg/L)de Cd?
(b) Supondo-se que se dispõe no laboratório apenas CdCl 2, quanto deste sal deverá ser
pesado para preparar a solução estoque com a mesma concentração de cádmio?

(c) Pipetando-se 1 mL da solução estoque do ítem (b) por litro de solução final,

qual a concentração final de Cloro (em mM e ppm)?

(d) Quantos mL/L da solução estoque do item (b) deve-se pipetar para ter na

solução final de cultivo 30 ppm (mg/L) de Cd?

4. Deseja-se fazer um ensaio envolvendo a cinética de absorção de fósforo, com este nutriente na
concentração inicial de 10 M. Supondo-se que se dispõe de Ca(H2PO4)2.H2O, como deverá ser feito
o preparo da solução estoque e o preparo da solução de absorção, em vasos com capacidade de 1,6
litros, visando-se obter o menor erro de pipetagem? (pipetagem inteira - 1 mL, 2 mL .../vaso de 1,6
litros).

5. Calcular o período de troca (estimativa em dias) da solução nutritiva de um experimento com girassol,
considerando-se apenas o consumo dos macronutrientes N, P e K, conhecendo-se:

. Concentração na solução nutritiva: N = 140ppm; P = 31 ppm e K = 130 ppm.


. Volume do vaso = 5 litros.

. Teores no tecido da planta: N = 27 g/kg; P = 2 g/kg e K = 20 g/kg.


. Taxa de crescimento da planta: 3 g /dia. vaso de matéria seca

6. Calcular o volume de HCl 0,5 N necessário para ajustar o pH da solução nutritiva abaixo:

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. Volume da solução a corrigir = 60 litros.
. Amostra tomada = 200 mL de solução
. pH inicial da amostra = 6,9.

. HCl 0,5 N gasto na amostra = 0,2 mL.


. pH da amostra após aplicação do HCl = 5,0.
. pH desejado = 5,5.

7. Numa dada visita de assistência técnica a uma empresa agrícola, você notou que o feijoeiro, em início
de emissão dos botões florais, estava com pequeno desenvolvimento, supostamente deficiente em N e
P. Na prática, já é comum você recomendar adubação foliar para o feijoeiro com 3% de Uréia, 6% de
MAP e 0,5% de ZnSO 4, aplicando-se 400 L da solução/ha. O agricultor lhe informou que possui uma
fórmula na propriedade sendo 14-35-9 (N, P 2O5, K2O), cujas fontes foram a uréia (45% de N), MAP
(50% de P2O5 e 10% de N) e KCl (60% de K2O). Assim, sem fazer nenhum cálculo você recomendou
ao agricultor uma adubação foliar com a citada fórmula, usando-se 50 kg da fórmula/400 L x ha.
Conhecedor dos cuidados com o uso da uréia em aplicações foliares, chegando ao seu escritório, você
preocupou-se em calcular a percentagem de uréia presente na recomendação. Pede-se: A sua
recomendação foi segura ou você corre o risco de perder o emprego? (Demonstre os cálculos).

8. Você foi consultado por um proprietário, sobre a possibilidade técnica e econômica da

substituição de uma fórmula comercial de fertilizantes para fertirrigação do cafeeiro

(Tabela 2), por fertilizantes simples (Tabela 3).

Tabela 2. Composição da fórmula comercial para cafeeiro em produção e o seu preço

N P2O5 K2O Mg
S B Zn R$/kg
% ppm
20 5 20 0,6 0,9 200 600

Informações importantes:

. irrigação por gotejamento


. café arabica com 5 anos de idade
. espaçamento: 3,60 x 0,55m
. produtividade esperada: 60 sacas beneficiadas/ha
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. dose da fórmula recomendada: 50g / cova . mês
. fazer 11 aplicações, uma por mês, de agosto a junho

Tabela 3. Composição dos adubos simples disponíveis e seus preços

Adubo N P2O5 K2O Mg


S B Zn R$/kg
%
Uréia 45 - - - - - -
MAP purificado 9 48 - - - - -
KCl branco - - 60 - - - -
Nitrato de Potássio
13 - 44 - - - -
Sulfato de Magnésio
- - - 10 13 - -
Sulfato de Potássio
- - 48 - 16 - -
Ácido bórico - - - - - 18 -
Sulfato de Zinco - - - - - - 22

Pede-se:

1. Por que será que o cálcio não faz parte da composição da fórmula comercial?
2. Se o agricultor fez calagem adequada, você acha necessário incluir o Mg na nova formulação com
os adubos simples?
3. Quais as possíveis conseqüências nutricionais você espera no cafeeiro, com a aplicação do Mg
nas doses recomendadas na fórmula?
4. Quantos gramas / cova de cada adubo simples escolhido você deve usar em cada uma das
aplicações mensais, para fornecer as mesmas doses dos nutrientes da fórmula?
5. E no total das aplicações / cova?
6. E por hectare?
7. Qual será a economia por hectare em relação à fórmula?

Só para refletir: e por 100 hectares?

Obs: Na escolha dos adubos simples, além do preço, você deve observar o uso do menor
número de fontes possível na composição da nova formulação.

19
II. HIDROPONIA

Os aspectos básicos vistos para o cultivo de plantas em solução nutritiva, aplicam-se ao cultivo
hidropônico de plantas. Os itens I-Solução Nutritiva e II-Hidroponia, são separados apenas por razões
didáticas, dando-se ao primeiro um sentido voltado à pesquisa e ao segundo uma idéia de
empreendimento comercial de cultivo de plantas em larga escala em solução nutritiva.
Hidroponia (hydro=água e ponos=trabalho), indica o cultivo de plantas em ausência de solo. O
"cultivo hidropônico" refere-se ao cultivo usando apenas o meio líquido, também denominado de NFT
(Nutrient Film Technique).

Principais vantagens: maior produtividade; melhor uso da água e dos nutrientes; produtos de
melhor qualidade; menor uso de defensivos agrícolas; o solo é preservado. Algumas desvantagens: custo
inicial elevado; requer um bom conhecimento técnico, principalmente no manejo da solução nutritiva; falta
de energia elétrica; se a água se contaminar, todo o sistema é afetado.
O objetivo deste ítem é apresentar algumas informações a respeito das soluções nutritivas
utilizadas em cultivo hidropônico, fontes dos nutrientes e cálculos de suas composições. Maiores detalhes
e outras informações, podem ser obtidas nas literaturas citadas no final (CASTELLANE, P.D. & ARAÚJO,
J.A.C., 1994; FAQUIN et al., 1996; FURLANI, P.R., 1998; FURLANI et al., 1999; RESCH, 1997; EPAMIG,
1999).

A) Soluções nutritivas

A qualidade química e microbiológica da água é fundamental em cultivo hidropônico. Deve-se


evitar o uso de água rica em sais e com riscos de contaminação microbiológica.

Diversas são as formulações propostas na literatura para o cultivo hidropônico de plantas, e deve-
se escolher aquela mais apropriada para a espécie que se deseja cultivar. Para pesquisa, deve-se usar
fontes p.a.; para o cultivo comercial, utilizar adubos e reagentes também comerciais. Na Tabela 4 são
apresentadas sugestões de soluções para algumas culturas.

Tabela 4. Sugestões de soluções nutritivas para algumas hortaliças cultivadas no sistema NFT; valores em
g/1000 L.

Sal Tomate Pimentão Berinjela Pepino Melão Alface Morango


Nitrato de Cálcio 900 650 750 960 900 950 700
Nitrato de Potássio 270 506 632 485 455 900 303
Sulfato de Potássio 122 - - - 22 - -

20
Fosfato de Potássio1 272 170 204 245 170 272 204
Cloreto de Potássio 141 - - - - - -
Sulfato de Magnésio 216 246 370 418 246 246 246
Nitrato de Magnésio2 228 50 20 - - - -
Fe-EDTA 3
500 500 700 800 500 500 500
Sulfato de Manganês 4,23 1,70 2,54 4,23 2,54 1,70 1,70
Bórax 1,90 2,40 2,40 1,90 1,90 2,85 1,90
Sulfato de Zinco 1,15 1,15 1,45 1,15 1,15 1,15 1,15
Sulfato de Cobre 0,12 0,12 0,19 0,12 0,12 0,19 0,12
Molibdato de Sódio 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12 0,12
35% de K2O e 53% de P 2O5; 27% de N e 10% de MgO, líquido (1 kg = 770 mL); 3Considerar o preparo
1

do Fe-EDTA apresentado por VALE & FAQUIN (1997); nesse caso, os valores da tabela são em
mL/1000L.
Fonte: CASTELLANE & ARAÚJO (1994).

Na Tabela 5, aparecem as principais fontes dos nutrientes (sais puros ou fertilizantes) e suas
composições, mais comumente utilizadas no preparo das soluções, o que facilita os cálculos.

21
TABELA 5. Sais e fertilizantes usados no preparo de soluções nutritivas.
Sal puro ou Nutriente Concentração
Fertilizante fornecido (%)
*Nitrato de Potássio K 36
N-NO3- 13
*Nitrato de Cálcio Ca 17
N-NO3- 12
Nitrato de Magnésio Mg 9,5
N-NO3- 11
Sulfato de Amônio N-NH4+ 21
S 24
* Monoamôniofosfato (MAP) N-NH4+ 11
P 21
Diamôniofosfato (DAP) N-NH4+ 18
P 20
Nitrato de Amônio N-NH4+ 16,5
N-NO3- 16,5
* Fosfato Monobásico de Potássio K 29
P 23
* Cloreto de Potássio K 52
Cl 47
Sulfato de Potássio K 41
S 17
*Sulfato de Magnésio Mg 10
S 13
Cloreto de Cálcio Ca 22
Cl 38
* Sulfato Ferroso1 Fe 20
S 11
EDTA-dissódico1 complexante para ferro
* Ácido Bórico B 17
Bórax B 11
* Sulfato de Cobre Cu 24
S 12
*Sulfato de Manganês Mn 25
S 21
Cloreto de Manganês Mn 27
Cl 35
* Sulfato de Zinco Zn 22
S 11
Cloreto de Zinco Zn 45
Cl 52
* Molibdato de Sódio Mo 39
Molibdato de Amônio Mo 54
Trióxido de Molibdênio Mo 66
1
No preparo do Fe-EDTA, considerar as recomendações apresentadas por VALE & FAQUIN (1997),
p.13.

* As fontes mais usadas (ver Tabela 4)

22
O pH da solução nutritiva também deve ser ajustado de acordo com a exigência da planta. De
maneira geral, o pH adequado para a maioria das espécies está entre 6 e 6,5. O volume de água
evapotranspirado pelo sistema deve ser reposto ao depósito diariamente.
Com o cultivo, tanto o pH quanto a concentração dos nutrientes na solução sofrem alterações,
portanto, devem ser monitorados. O monitoramento do pH deve ser freqüente (às vezes diário) e para
ajustá-lo usa-se ácidos (HCl, H2SO4) para abaixá-lo e bases (KOH, NaOH) para elevá-lo. O monitoramento
da concentração dos nutrientes na solução, pode ser feito, preferencialmente, pela análise dos nutrientes ou
pela medida da condutividade elétrica (C.E.). Na prática, devido a facilidade, a condutividade elétrica tem
sido utilizada para a avaliação da necessidade de reposição de nutrientes na solução nutritiva. A C.E. é uma
medida semi-quantitativa, uma vez que avalia apenas a quantidade de sais na solução. Não avalia a
concentração individual dos nutrientes, o que pode trazer problemas de balanceamento dos mesmos. A
C.E. é expressa pelas unidades microSiemens (S/cm) ou miliSiemens (mS/cm). De maneira geral, a C.E.
da solução para a maioria das espécies deve estar entre 2 a 3 mS/cm, podendo algumas exigir valores
menores ou maiores. Exemplos: morangueiro e alface - 1,5 a 2,0 mS/cm; tomateiro - até 4,0 mS/cm.
Através da condutividade elétrica (C.E.) podemos estimar a concentração de sais e a pressão
osmótica (P.O.) da solução:
- ppm de sais = 640 . C.E. (mS/cm)
- meq de sais/L = 12,5 . C.E. (mS/cm)
- P.O. (atm) = 0,28 a 0,36 . C.E. (mS/cm), em função da temperatura.
Ressalta-se que a P.O. adequada está entre 0,5 e 1,0 atm.

B) Exercícios
(a) Utilizando os dados das Tabelas 4 e 5, preencher os espaços da Tabela 6, para duas culturas a sua
escolha, indicando as concentrações (mg/L=ppm) dos nutrientes para as culturas escolhidas.

TABELA 6 - Concentração dos nutrientes (mg/L ou g/m3 = ppm) em soluções nutritivas usadas para diversas
hortaliças em hidroponia.
Nutriente Tomate Pimentão Berinjela Pepino Melão Alface Morango
N-NO 3
-

N-NH4+
P
K
Ca
Mg
S
B
Cu
Mn
Mo
Zn

(b) Vamos admitir que sua cultura de tomate apresente deficiência de N. Então você resolveu aplicar mais 30
mg /L de N (= ppm) na forma de Nitrato de Amônio (NH4NO3) à solução. Pede-se:
(b1) quantos g/1000 L da fonte você vai utilizar?
(b2) Supondo-se que se dispõe apenas de nitrato de cálcio, quanto desse sal deve-se utilizar (g/1000 L),
para se aplicar 30 mg /L de N (=ppm)?
(b3) Quantos ppm (mg/L) de cálcio foi aplicado juntamente com o N?

III. CULTIVO EM VASOS COM SOLO

Este item não tem como propósito discutir a importância e os objetivos dos ensaios em vasos com
solo, e sim dar alguns exemplos básicos como exercícios de cálculo. Não devemos jamais esquecer nos
experimentos de fertilidade e nutrição de plantas, da secular e a mais elementar lei da fertilidade do solo, a
chamada "lei do mínimo" (LIEBIG, 1862). Portanto, quando se tem como objetivo estudar algum fator da
fertilidade do solo ou da nutrição das plantas, os outros deverão estar em condições adequadas. E esta
condição é atingida pela chamada "adubação básica".

A - Principais fontes e doses de nutrientes e corretivos utilizados nestes experimentos:

- Calagem

Quando esta não for o objetivo do trabalho, tem-se utilizado com sucesso, calcários dolomíticos
comerciais, calcinados e micropulverizados (Minercal, Agrical, etc.), que apresentam reação bastante rápida;
ou CaCO3/MgCO3 p.a., relação equivalente Ca:Mg de 4:1. Uma incubação com umidade adequada por 20
dias é suficiente para a reação.
- Adubação

24
Nos estudos de fertilidade, preferencialmente, as fontes dos nutrientes devem constituir-se de
reagentes p.a.. Muitas vezes, dependendo do objetivo do trabalho, adubos comerciais podem ser utilizados.
Neste caso, para melhor controle, deve-se analisar os adubos em questão.
As fontes p.a. para macro e micronutrientes, normal- mente, são aquelas citadas para solução
nutritiva (ver pág. 1).

- Doses

Calcário: A recomendação pode ser feita por qualquer método, mediante a análise química do solo,
transformando-se as doses/ha do campo para o peso ou volume do vaso. O método de saturação por bases
(SP) tem dado ótimos resultados (elevação do pH a 6,0 - 6,5).
Adubos: A recomendação de adubação usada para o campo não se aplica para experimentos
em vasos; normalmente, esta é de 5 ou mais vezes maior do que aquela do campo, dependendo do tipo de
solo e da planta, como mostraram ROSSI et al. (1994).
A experiência tem mostrado bons resultados para uma série de culturas, fornecendo-se os
nutrientes nas seguintes doses em mg/kg ou mg/dm3 (MALAVOLTA, 1980, p.220, e NOVAIS et al., 1991, p.
195; com pequenas modificações): N = 100-300; P = 200-300; K = 150-200; Ca = 200; Mg = 50; S = 40-
50; B = 0,5-0,8; Cu = 1,3-1,5; Fe = 2-5; Mn = 3-4; Mo = 0,10-0,15 e Zn = 4-5. Estas doses podem ser
modificadas em função dos objetivos do trabalho, fertilidade do solo, duração do experimento, tipo e textura
do solo. O Ca e o Mg são dispensáveis quando for realizada a calagem. O N e o K devem ser parcelados
em 2 a 5 vezes, sendo uma parte aplicada no plantio e as demais em cobertura durante o desenvolvimento
das plantas, evitando-se a salinidade e efeito fitotóxico.

- Forma de aplicação

O calcário e os macronutrientes (de fontes de baixa solubilidade) normalmente são aplicados em


forma de pó ao solo seco e após, bem homogeneizados. Os micronutrientes (e os macros de fontes de alta
solubilidade) normalmente são aplicados na dose recomendada, na forma de solução nutritiva através de
pipeta, ao solo seco e espalhado, fazendo-se após, uma cuidadosa homogeneização. O N e o K em
cobertura, normalmente são aplicados na forma de solução nutritiva durante o desenvolvimento das plantas.

B - Exercícios

25
Suponha a condução de um experimento em vasos, em solo sob cerrado, com o objetivo de verificar
o efeito de doses de Zn em milho. Considerando o uso de vasos com capacidade de 3 kg de solo,
densidade do solo igual a 1,0 (g/cm3) e o resultado da análise química (0-20 cm) abaixo, responder as
questões a seguir:

pH em água ............................................ 4,8 AcE


P (mg/dm3).............................................. 2 B
K (mg/dm3)............................................. . 2,7 B
Ca (cmolc/dm3) .........................................0,4 B
Mg (cmolc/dm3) ........................................ 0,1 B
Al (cmolc/dm3)........................................... 1,1 A
H + Al (cmolc/dm3).................................... 4,2 M
S (cmolc/dm3) ........................................... 0,6 B
t (cmolc/dm3) ............................................. 1,7 B
T (cmolc/dm3) ............................................ 4,8 M
m (%) ......................................................... 65
V (%) ......................................................... 12
Matéria orgânica (g/kg) ............................ 25
Areia (g/kg)................................................ 360
Silte (g/kg).................................................. 160
Argila (g/kg).................................................480

(a) Calcular a dose em gramas de calcário dolomítico (PRNT = 110%), para um vaso com 5 kg de solo,
usando o método de saturação por bases.

T (V2 - V1); V2 = 70%


NC =
PRNT

(b) E a dose para 300 kg de solo, supondo-se a mistura realizada em betoneira?

(c) As doses de B e Cu na adubação básica correspondem a 0,5 e 1,5 ppm (mg/kg), respectivamente:

Considerando 50 vasos no experimento, preparar uma solução nutritiva com ambos os nutrientes,
para fornecer as doses recomendadas, aplicando-se 20 ml desta solução em 5 kg de solo (por vaso). Qual o
volume total de solução a ser preparado e as quantidades das fontes a serem dissolvidas neste volume?
Utilizar como fontes o H3BO3 e CuSO4.5H2O.

(d) Considerando que as doses de Zn a serem testadas correspondem a 0, 2, 4, 8 e 12 ppm Zn, como você
prepararia a solução nutritiva com ZnSO 4.7H2O, para aplicação de 5, 10, 20 e 30 ml da mesma por
vaso (5 kg solo), para obter os níveis de 2, 4, 8 e 12 ppm de Zn, respectivamente. (Considerar que os
50 vasos totais do experimento, correspondem aos 5 níveis de Zn com 10 repetições cada).

26
(e) As doses para a adubação básica de N, P e K são de 200, 200 e 150 ppm (mg/L), respectivamente. O N
parcelado em 4 vezes sendo 50 ppm no plantio e 3 coberturas de 50 ppm cada, aos 15, 30 e 45 dias
após a germinação. O K parcelado em 3 vezes sendo 50 ppm no plantio e 2 coberturas de 50 ppm
cada aos 15 e 30 dias juntamente com o N.

Dispõe-se como fontes p.a. o NH4NO3; KNO3; NH4H2PO4; (NH4)2SO4; KH2PO4; Ca(H2PO4)2.H2O;
K2SO4 e KCl. Pede-se:

e1) Quais as quantidades (g/vaso de 5 kg) de cada fonte seriam aplicadas, para atender a adubação
de plantio (N = 50; P = 200 e K = 50 ppm). Obs: Para esse exercício não há necessidade de se
usar todas as fontes citadas acima; evitar sempre que possível o uso de fontes com cloro.

e2) Qual a dose de Ca aplicada (em ppm e meq/100 cm 3=cmolc/dm3) juntamente com o fosfato de
cálcio na adubação de plantio?

e3) Considerando a relação equivalente de Ca:Mg ideal no solo é 4:1, quanto de MgSO 4.7H2O deverá
ser aplicado por vaso para manter esta relação na adubação básica de plantio? Qual a dose (ppm)
de S aplicada com esta fonte?

e4) Na primeira cobertura, aos 15 dias, deverá ser aplicado via solução nutritiva, 50 ppm de N; 50 ppm
de K e 30 ppm de S (fontes: NH4NO3, KNO3, (NH4)2SO4, e K2SO4). Preparar a solução nutritiva com
todos os sais, aplicando-se 20 ml da mesma por vaso. Assim procedendo, pede-se: Qual o volume
total de solução a ser preparado para todo o experimento (50 vasos) e as quantidades de cada
fonte a serem dissolvidas neste volume?

IV. LITERATURA BÁSICA

CASTELLANE, P.D. & ARAÚJO, J.A.C. Cultivo sem solo - hidroponia. Jaboticabal, UNESP/FUNEP, 1994.
43p.

EPSTEIN, E.; BLOOM, A.J. Nutrição Mineral de Plantas: Princípios e Perspectivas. 2.ed. Londrina:
Editora Planta, 2006. 403 p. (ver cap.2)

EPAMIG. Cultivo protegido de hortaliças em solo e hidroponia. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20,
n. 200/201, 1999.

27
FAQUIN, V.; FURTINI NETO, A.E.; VILELA, L.A.A. Produção de alface em hidroponia. Lavras:
DCS/UFLA, 1996. 50p.

FURLANI, P.R. Instruções para o cultivo de hortaliças de folhas pela técnica de hidroponia - NFT. Campinas:
Instituto Agronômico, 1998. 30 p. (Boletim Técnico, 168).

FURLANI, R.M.C.; FURLANI, P.R. Composição e pH de soluções nutritivas para estudos fisiológicos e
seleção de plantas em condições nutricionais adversas. Campinas: Instituto Agronômico, 1988 (Boletim
Técnico, 121).

FURLANI, P.R.; SILVEIRA, L.C.P.; BOLONHEZI, D.; FAQUIN, V. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas:
Instituto Agronômico, 1999 (Boletim Técnico, 180).

HOAGLAND, D.R. & ARNON, D.I. The Water-Culture Method for Growing Plants without Soil. Berkeley,
California Agricultural Experiment Station, 1950. (Circular 347).

MALAVOLTA, E. Elementos de Nutrição Mineral de Plantas. São Paulo: Ceres, 1980. 251p.

NOVAIS, R.F.; NEVES, J.C.L. & BARROS, N.F. Ensaio em ambiente controlado. In: OLIVEIRA, A.J. et al.
(Coord.). Métodos de Pesquisa em Fertilidade do Solo. Brasília: EMBRAPA-SEA, 1991. p.189-253.
(EMBRAPA-SEA. Documentos 3).

RESCH, H.M. Cultivos hidropônicos: nuevas tecnicas de produccion. Madrid: Mundi-Prensa, 1997. 509 p.

ROSSI, C.; FAQUIN, V.; RAMOS, A.A. et al. Níveis de adubação NPK para o milho e feijão em
experimentos de casa de vegetação. I. Produção de matéria seca. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE
FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLANTAS, 21, Petrolina, 1994. Anais. Petrolina: SBCS, 1994.
p.293-294.

VALE, F.R. & FAQUIN, V. Aspectos Básicos para Cultivo de Plantas em Solução Nutritiva.

DCS/UFLA, Lavras, 1997. 15p. (Ap

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