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CRIME COM ESTILO


Noções sobre Estilística Forense



MSC. EDUARDO LIMA SILVA
APRESENTAÇÃO PESSOAL

● Perito Criminal
● Ex-Diretor-Geral do Instituto-Geral de Perícias-RS
● Diretor Acadêmico do Instituto Êxito
● Mestre em Administração
● Especialista em Segurança Pública
● Jornalista
● Engenheiro Civil
● Podcaster

eduardo.limasilva.10 perito.eduardo
INTRODUÇÃO
EVOLUÇÃO
● Origem da Escrita – 4.000 a.C. na Mesopotâmia
● Gutenberg – 1439 d.C, uso de tipos móveis na Europa
● Jobs e Wozniak – 1977, lançamento do Apple II
● Desde 2011 alguns estados americanos tornaram
facultativo às escolas ensinarem a escrita cursiva
E A GRAFOSCOPIA, ...
● Segundo Del Picchia Filho (2005), os problemas
documentoscópicos, “[n]aquilo realmente pertinente à
especialidade, resumem-se, em sentido amplo, a dois
apenas:
a) em saber se o documento é autêntico ou falso, parcial
ou totalmente;
b) quem seria seu autor ou responsável” (p.67).
... COMO FICA?
● No entanto, problemas correlatos são submetidos aos Peritos
que atuam na área na presunção de que eles são os mais
habilitados para se pronunciar sobre questões relativas a
documentos:
● “Assim, por exemplo, a determinação da autoria intelectual, isto
é, a identificação de quem, realmente, redigiu o contexto [...] [é]
matéria pertinente à Estilística, da qual o perito em documentos
extrairia os ensinamentos para a solução do problema” (Idem).
POSSIBILIDADES
● Textos Apócrifos
● Textos Plagiados
● Textos Anônimos
1. NOÇÕES ELEMENTARES
A ESTILÍSTICA FORENSE ENCONTROU O UNABOMBER

No dia 3 de abril de 1996 o FBI


prendeu Ted Kaczynski, o
Unabomber. O final da investigação
mais cara da história da agência
norteamericana só foi possível
devido ao perfil criado pela análise
linguística de Jim Fitzgerald no
manifesto que Kaczynski enviou
exigindo sua publicação.

https://www.fbi.gov/history/famous-cases/unabomber
ESTILÍSTICA FORENSE
● Subárea da Linguística Forense
● Definição do Black’s Law Dictionary:
➢ Técnica que utiliza a avaliação das características linguísticas
de textos, incluindo gramática, sintaxe, ortografia, vocabulário e
fraseologia, realizada por intermédio de uma comparação
material tanto em relação a autorias conhecidas como
desconhecidas, em uma tentativa de descobrir idiossincrasias
peculiares a certa autoria para determinar se os autores
poderiam ser idênticos
SOLANGE PELLAT X ESTILÍSTICA

Princípio Premissas de Variabilidade da


Fundamental da Linguagem da Estilística
Grafoscopia a) dois escritores de uma língua
O grafismo é não escrevem exatamente do
individual e mesmo modo;
inconfundível b) Um escritor não escreve do
mesmo modo todo o tempo
CONCEITOS CORRELATOS
Linguagem Dialeto Idioleto
Sistema interno que Variedade de Variedade de linguagem
os falantes e linguagem que desenvolvida pelo falante
escritores humanos aparece quando um individual como um
desenvolvem e grupo particular de agregado exclusivamente
utilizam para se falantes desenvolve padronizado de
comunicar padrões características
consistentes de uso linguísticas observadas
da linguagem, em seu uso de linguagem,
chamados muitas vezes chamado de
“características de "características
classe” na ciência individuais" na ciência
forense forense
Estilo: Deficiência que faz com que um
autor só consiga escrever como pode
(1973).”
O estilo é, em parte, a soma das escolhas
recorrentes que o escritor faz no processo de
escrita.

Refere-se àquelas escolhas que se tornam hábitos subconscientes de


escolha, isto é, seleção repetida de uma forma sobre outras formas
disponíveis. E escolhas podem ser descritas como variações dentro de uma
norma ou desvios de uma norma.
MARCADORES DE ESTILO
● É o nome dado ao resultado observável das escolhas
habituais e geralmente inconscientes que um autor
faz no processo de escrita.
VARIAÇÕES DENTRO DE
UMA NORMA

A língua portuguesa possui centenas


de palavras com dupla grafia
registradas em dicionários e no
Vocabulário Ortográfico publicado
pela Academia Brasileira de Letras.

Além disso, pode haver escolha de


forma. Exemplo: eu dou meu coração
a você ou eu te dou meu coração.
DESVIO DE UMA NORMA
OUTRAS CARACTERÍSTICAS

Por exemplo, em um
estudo de mais de 1.100
cartas nos Estados
Unidos, 514 escritores
registraram um número de
telefone.

Fonte: The Routledge


Handbook
of Forensic Linguistics
A análise do estilo é realizada usando um modelo
ou uma combinação de dos seguintes modelos:
semelhança, consistência e população.
MODELO DE SEMELHANÇA

É usado quando fatores Por exemplo, um ex-marido que tenta


externos restringem os obter a custódia de seus filhos escreve
candidatos à autoria. No cartas difamando sua ex-esposa, e ele é
caso, tarefa é excluir ou a única pessoa além dela que tem
identificar apenas um ou conhecimento dos eventos relacionados
poucos escritores suspeitos. nas cartas.
MODELO DE CONSISTÊNCIA

É usado para Esta pode ser a Estabelecer a


determinar se vários principal tarefa em consistência de um
escritos são de um casos envolvendo grupo de escritos é
mesmo autor. um grupo de escritos frequentemente o
com uma ou mais primeiro passo em um
autorias conhecidas, caso de semelhança
mas outras de quando as
autoria questionada. circunstâncias externas
não demonstram a
autoria comum de um
corpo de escritos
questionados.
MODELO POPULACIONAL

É usado Neste exemplo, o Por exemplo, um


ocasionalmente em modelo de governador da
contextos forenses semelhança é usado Califórnia recebeu uma
quando o grupo de repetidamente em carta descrevendo as
autores candidatos é um possível autor escapadas sexuais do
grande, isto é, não se após o outro até que diretor de uma grande
limita a apenas um todos sejam agência estadual. Os
ou dois escritores excluídos. escritos de todos os
suspeitos. funcionários do
escritório foram
analisados para
sistematicamente
excluir todos, exceto
um, como o escritor de
cartas.
A análise do estilo é descritiva (análise qualitativa)
e mensurável (análise quantitativa).
DESCRIÇÃO DE ESTILO

É o primeiro passo A evidência A pesquisa qualitativa


na análise de estilo. qualitativa é pode ser rigorosa se
A mensuração do geralmente mais condicionada pelo
estilo é baseada na “demonstrável” do enquadramento de
descrição e que os resultados questões de pesquisa,
categorização dos quantitativos. As observação sistemática,
elementos descobertas resultados diretos da
linguísticos. qualitativas apelam observação, métodos
para o senso não confiáveis de descrição
matemático mantido e análise e
pelos juízes. interpretação válida dos
resultados.
MENSURAÇÃO DE ESTILO
Vários Existem vários Testes básicos que se
pesquisadores têm marcadores de estilo prestam a avaliar o
trabalhado em na língua significado de relação
aspectos de portuguesa: figuras de variáveis:
quantificação de de estilo, distribuições de
elementos textuais, interjeições, vícios frequência, erro padrão
especialmente de linguagem, uso de de diferença, teste t,
aqueles relacionados sinais gráficos, análise de variância,
à seleção e ao numerais, sintaxe, teste de proporção,
significado de ortografia, coeficiente de
marcadores de conjunções, correlação, cálculos de
estilo. advérbios, tempos probabilidade de
verbais, preposições, ocorrência, etc.
locuções,
expressões, etc.
2. ALGUNS EXEMPLOS
DESCRIÇÃO DE ESTILO:

Formato esquemático de apresentação do conteúdo, por meio do qual os


textos são expostos por intermédio de um discurso coloquial, informal,
simples, sem rebuscamento, bastante explicativo.

MENSURAÇÃO DE ESTILO:
EXPRESSÕES FORMADAS POR
TEXTO PADRÃO TEXTO QUESTIONADO EXPRESSÕES CORRELATAS
DUAS PALAVRAS
PODEM SER, PODENDO SER, POSSA
SER, PODERÁ SER, PODERÃO SER,
PODE SER 96 lançamentos 60 lançamentos
PODE TAMBÉM SER, PODE ATÉ
SER, etc.
CASO, EM CASO, NESTE CASO,
NO CASO 51 lançamentos 44 lançamentos
NESSE CASO, etc.
POR EXEMPLO 47 lançamentos 35 lançamentos -
DEVE SER 44 lançamentos 26 lançamentos DEVENDO SER, DEVERIA SER, etc.
VEZ QUE 26 lançamentos 31 lançamentos -
OU SEJA 25 lançamentos 25 lançamentos -
DE ACORDO 23 lançamentos 23 lançamentos -
USO DE CONJUNÇÕES ADVERSATIVAS

Este atributo tem como característica a sua universalidade, pois são


utilizados em qualquer tema. Além disso, o seu uso é na maior parte das
vezes feito de forma inconsciente pelo autor, o que faz das suas
frequências uma característica personalíssima.

As conjunções adversativas pesquisadas foram: MAS, PORÉM, CONTUDO,


APESAR DE (e correlatas), AO PASSO QUE, TODAVIA, ENTRETANTO, NO
ENTANTO, EM TODO CASO, NÃO OBSTANTE e SENÃO.

PADRÃO X QUESTIONADO
CASO DE JONBENÉT RAMSEY

JonBenét Ramsey, de seis anos, foi


encontrada morta em sua casa em
26 de dezembro 1996. Antes dela ser
encontrada, uma carta de resgate de
três páginas foi descoberta na casa
dos Ramsey, precipitando a busca
pela criança desaparecida.
CASO DE JONBENÉT RAMSEY

No início de janeiro de 1997, os O procurador distrital, por razões


advogados de John e Patricia aparentemente relacionadas com outras
Ramsey anteciparam a evidências, estava focado menos em
necessidade de determinar se cada John Ramsey e mais em Patricia Ramsey
pai poderia ser excluído como o como a escritora potencial da carta de
escritor da carta de resgate. resgate. Achados linguísticos em relação
Portanto, eles procuraram à carta de resgate foram relatados pela
assistência, solicitando uma primeira vez aos seus advogados em
análise estilística forense da nota janeiro de 1997.
de resgate questionada vis-à-vis
com os escritos de referência
conhecidos de cada pai.
“Uma imagem vale 

mais que mil palavras”
CASO DE JONBENÉT RAMSEY

Patricia Ramsey foi excluída como


a autora da carta de resgate
questionada.
3. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
COMO ASSIM?
A Inteligência Artificial também é utilizada para programação de
máquinas que aprendem características estilísticas e são capazes
de identificar a autoria de textos.

A identificação ocorre por meio de análise estatística da frequência


de palavras e caracteres. Existem vários métodos para isso.

Um deles é máquina de vetores de suporte (SVM, do inglês: support


vector machine), que é um conjunto de métodos que analisam os
dados e reconhecem padrões, usado para classificação e análise de
regressão.
SVM

O estilo do auto é interpretado como


a fusão de dois gráficos, um cujo
eixo horizontal é ordenado conforme
a frequência das palavras e outro
conforme a frequência com que elas
se combinam.

Deseja-se obter uma reta que


expresse a frequência média dos
termos como o autor os utiliza.
ESTUDOS HOMÉRICOS

Questões de autoria e estilística têm


sido parte dos estudos sobre Homero
(928-898 a.C.), poeta épico da Grécia
Antiga, ao qual tradicionalmente se
atribui a autoria dos poemas Ilíada e
Odisseia. A especulação sobre
proveniência deles e a identidade do
autor acompanharam a sua
transmissão ao longo da história.
POSIÇÕES HISTÓRICAS
No auge da filologia do século XIX, alguns argumentavam em favor de um
único autor (ou um para cada trabalho), que havia escrito os dois poemas
essencialmente em sua forma atual; outros viam evidências estilísticas de
múltipla autoria, frequentemente imaginada como a intromissão
incompetente dos “redatores” tardios e o acréscimo de material de segunda
categoria em torno do trabalho do mestre original.
 
Hoje, a ênfase mudou um pouco, para a questão da alfabetização do
compositor e o grau de deliberação autoral. Alguns ainda vêem os poemas
homéricos como o produto criativo de um único artista, enquanto outros os
vêem como culminação de uma longa linha de recomposição em
performances variadas.
ESTUDO DE FORSTALL-SCHEIRER
Diferença estilística entre os dois poemas e sua heterogeneidade interna,
usando uma combinação de SVM e PCA (Análise de Componentes
Principais, um procedimento estatístico que converte um conjunto de
observações de variáveis, possivelmente correlacionadas, em um conjunto
de valores de variáveis linearmente não correlacionadas, chamadas
componentes principais).
“Uma imagem vale 

mais que mil palavras”
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
● A Estilística Forense tem pouco mais de meio século de
existência, mas tende a ser uma área que crescerá muito nos
próximos anos pelo desuso da escrita a mão.

● Ela ainda apresenta problemas e limitações ligados a questões


como arbitrariedade, subjetividade e falta de rigor estatístico.

● No entanto, o primeiro passo superar isso é o compartilhamento


de informações, esperando que mais cientistas forenses, em
especial, os documentoscopistas, se agreguem na construção
desse conhecimento.
REFERÊNCIAS
● BLACK, Henry Campbell, NOLAN, Joseph R., NOLAN-HALEY, Jacqueline M.
Black’s Law Dictionary. 6 ed. St. Paul: West Publishing, 1990.
● DEL PICHIA FILHO, José, DEL PICHIA, Celso M. R., DEL PICHIA, Ana Maura G.
Tratado de Documenstocopia: Da falsidade documental. 2 ed. São Paulo: Pillares;
2005.
● FORSTALL, Christopher, SCHEIRER, Walter. Features From Frequency: Authorship
and Stylistic Analysis Using Repetitive Sound. In: Journal of the Chicago
Colloquium on Digital Humanities and Computer Science. Chicago, v. 1, n. 2,
2010.
● MCMENAMIN, Gerald R. Forensic Linguistics: Advances in Forensic Stylistics.
Boca Raton: CRC Press; 2002
● MCMENAMIN, Gerald R. Forensic stylistics: Theory and practice of forensic
stylistics. In: Coulthard, Malcolm, Johnson, Alison (Eds.). The Routledge
Handbook of Forensic Linguistics. New York: Routledge, 2010. cap.32, p.487-507.
● PELLAT, Edmond Solange. Les lois de l’écriture. Paris: Libraire Vuibert; 1927.
Do Estilo: Se alguém acha que está
escrevendo muito bem, desconfia...
O crime perfeito não deixa vestígios
(1977).”
Disponível em:

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