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VIROLOGIA
Fernanda Stapenhorst
França
Diagnóstico das infecções
virais: métodos clássicos,
imunológicos e moleculares
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O diagnóstico correto de infecções virais é fundamental para o controle
dessas patologias. Embora diversos métodos já estejam disponíveis atual-
mente, novos métodos estão sendo desenvolvidos visando maior acurácia.
Neste capítulo, você verá as principais técnicas de diagnóstico clássico
de infecções virais, métodos de diagnóstico imunológico e métodos mo-
leculares, seus princípios e as principais infecções diagnosticadas por eles.
Immunoblotting HIV
Teste imunoenzimático
Uma das maneiras de se detectar anticorpos é pelo teste imunoenzimático
ou ELISA (do inglês Enzyme-Linked Immunosorbent Assay). Esse teste pode
ser utilizado tanto para a detecção de anticorpos quanto para a detecção de
antígenos (Figura 2) e envolve anticorpos conjugados com enzimas.
Para a detecção de anticorpos, o soro do paciente é adicionado a uma placa
previamente sensibilizada com um antígeno do vírus que se quer investigar.
Assim, caso o paciente possua anticorpos para esse vírus, ou seja, caso ele
tenha sido infectado ou imunizado para esse vírus, seus anticorpos irão ligar-
-se ao antígeno na placa de ensaio. Após, esse sistema é lavado, de forma
que tudo o que não reagiu irá ser removido da placa, e o que reagiu ficará
preso no antígeno que está aderido na placa. Em seguida, são adicionados
anticorpos anti-imunoglobulina humana conjugados com enzimas, de forma
que esse complexo irá ligar-se aos anticorpos do paciente, que, por sua vez,
estão ligados ao antígeno viral. Ao adicionar-se o substrato da enzima, esses
irão reagir de forma a produzir uma coloração no meio. Essa coloração pode
ser observada ou medida por um equipamento espectrofotométrico, de modo
que a presença de cor indica a presença de anticorpos para o vírus de interesse
no soro do paciente (Figura 2a).
Já para a detecção de antígenos, a placa é sensibilizada com anticorpos
específicos para o antígeno viral de interesse. Assim, a amostra é um espé-
cime como um lavado de garganta secreções que é adicionado à placa. Caso
o antígeno viral esteja presente na amostra, ele irá ligar-se ao anticorpo na
placa. O sistema é lavado, de forma que reste apenas o material que reagiu,
e são adicionados anticorpos anti-antígeno viral conjugados com enzima.
A adição do substrato enzimático leva à produção de cor, a qual indica a
presença do antígeno viral na amostra analisada (Figura 2b) (SANTOS;
ROMANOS; WIGG, 2002). Esse teste constitui o rastreamento primário
para o diagnóstico de infecção por HIV por meio da utilização de antígenos
desse vírus para a detecção de anticorpos no soro do paciente. Além disso,
o ELISA, para detecção de anticorpos específicos, é útil no diagnóstico de
infecções por EBV (vírus Epstein-Barr), CMV (citomegalovírus), vírus da
hepatite A e B, parvovírus, vírus da caxumba, da rubéola e do sarampo
(BROOKS et al., 2015).
Diagnóstico das infecções virais: métodos clássicos, imunológicos e moleculares 7
Imunofluorescência (IF)
Esta técnica utiliza anticorpos marcados com corantes fluorescentes, chamados
de anticorpos conjugados, para a detecção de antígenos ou anticorpos. Existem
dois tipos de imunofluorescência, a direta e a indireta.
A imunofluorescência direta é utilizada apenas para a detecção de antígenos,
em que um anticorpo conjugado, de especificidade conhecida, é adicionado
a uma lâmina de microscópio contendo células infectadas por vírus. Se o
vírus for aquele para o qual o anticorpo conjugado tem especificidade, esse
anticorpo irá ligar-se a ele e emitirá fluorescência, que pode ser observada pelo
microscópio de fluorescência. Se o anticorpo não for específico para aquele
vírus, não há a emissão da fluorescência, o que significa que aquelas células
não estão infectadas com o vírus para o qual o anticorpo testado apresenta
especificidade.
Já a imunofluorescência indireta pode ser utilizada para a detecção tanto
de antígeno quanto de anticorpo. Nesse teste, anticorpos não marcados são
adicionados à lâmina contendo células infectadas. Após um tempo de incu-
bação, a lâmina é lavada, removendo anticorpos não ligados. Em seguida, um
anticorpo anti-imunoglobulina conjugado é adicionado e, após a incubação,
a lâmina é observada no microscópio de fluorescência. Se os anticorpos da
primeira etapa se ligaram ao antígeno, serão reconhecidos pelos anticorpos
10 Diagnóstico das infecções virais: métodos clássicos, imunológicos e moleculares
Aglutinação passiva
Este teste baseia-se no princípio da aglutinação direta, que consiste no agrupa-
mento de antígenos livres pela ligação de anticorpos específicos. Na aglutinação
passiva, o antígeno é artificialmente ligado a uma partícula carreadora, que pode
ser uma hemácia ou uma partícula de látex e que apresenta, em sua superfície,
anticorpos específicos para o antígeno de interesse. Assim, essas partículas se
agrupam pela ligação dos anticorpos em sua superfície aos antígenos.
Esse teste é utilizado para a detecção de vírus ou antígenos virais, em que
as partículas cobertas com anticorpos são adicionadas a uma suspensão de
vírus. Se os anticorpos forem específicos para aquele vírus, as partículas se
aglomeram, sendo visíveis a olho nu. Essa técnica também pode ser utilizada
para a detecção de anticorpos, na qual as partículas carreadoras carregam
antígenos virais conhecidos e são misturadas com o soro de um paciente. Caso
o paciente apresente anticorpos para aqueles antígenos, haverá a aglutinação
das partículas (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2002).
mente estendida e solúvel. Esse gel em que a amostra foi aplicada é submetido
a uma voltagem, de forma que as proteínas, agora carregadas negativamente,
migrem em direção ao polo positivo do gel, separando-as em bandas. Essas
bandas são, então, transferidas para uma membrana de nitrocelulose, também
por meio da aplicação de voltagem. As bandas na membrana são cortadas em
tiras, de forma que cada tira serve como um antígeno para o immunoblotting, em
que uma banda do antígeno é relacionada com uma proteína do vírus intacto.
Assim, o soro do paciente reage com as proteínas das bandas, de modo que,
se há o anticorpo para aquele antígeno, será formado o complexo antígeno-
-anticorpo. Faz-se, então, uma reação imunoenzimática, adicionando-se um
anticorpo anti-imunoglobulina conjugado a uma enzima, o qual irá emitir uma
fluorescência que pode ser detectada (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2002).
Esse teste é muito utilizado para a confirmação de um resultado positivo
do ELISA para HIV, medindo a presença de anticorpos contra esse vírus no
soro do paciente (BROOKS et al., 2015).
Métodos moleculares
Outros tipos de métodos diagnósticos para infecções virais envolvem a biologia
molecular do vírus, como a identificação de sequências do ácido nucleico viral.
As técnicas moleculares podem ser divididas em métodos para detecção, de-
terminação da sequência, quantificação do ácido nucleico viral e genotipagem
com comparação do genoma viral (SANTOS; ROMANOS; WIGG, 2002).
Figura 4. Reação de PCR. A cada ciclo, os primers anelam-se na fita molde de DNA para
que a DNA-polimerase possa fazer o alongamento utilizando dNTPs e sintetizando novas
fitas. Cada molécula de DNA formada em um ciclo é utilizada como molde para o próximo,
havendo um aumento exponencial no número de moléculas de DNA.
Fonte: Khan Academy (2018, document on-line).
Diagnóstico das infecções virais: métodos clássicos, imunológicos e moleculares 13
Reação de hibridização
Estas três técnicas são semelhantes entre si: o Southern blot é utilizado para
detectar DNA, o Northern blot, para RNA e o Dot blot, para DNA ou RNA.
Essas técnicas são muito parecidas com o immunoblotting ou Western
blot, mas utilizam a hibridização de sondas em vez de anticorpos para a
detecção do material genético. Assim, a sequência de ácido nucleico de inte-
resse é separada por eletroforese em gel e transferida para uma membrana,
e a detecção é feita pela adição de sondas marcadas com radioisótopo ou
enzima na membrana. O Dot blot é utilizado para análises de um grande
número de amostras. Apesar de serem muito úteis na pesquisa, o Southern
e o Northern blot levam muito tempo e requerem pessoal especializado,
não sendo muito utilizados em laboratórios de diagnóstico (SANTOS;
ROMANOS; WIGG, 2002).
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https://goo.gl/3ge7oi
nados com o estágio da doença, de forma que pacientes com baixos níveis
permanecem assintomáticos e saudáveis por longos períodos de tempo. Além
disso, a dosagem da carga viral tem sido utilizada para predizer a doença CMV
após transplante, bem como para predizer o desenvolvimento de desordens
proliferativas pós-transplante para infecções por EBV (SANTOS; ROMANOS;
WIGG, 2002).
Esse tipo de metodologia também é utilizado como um indicador da resposta
terapêutica para infecções por HIV, visto que a terapia visa reduzir os níveis
plasmáticos de RNA viral a zero pelo maior tempo possível. Além disso,
técnicas de quantificação de ácido nucleico viral auxiliam a avaliação do
risco de transmissão vertical, visto que esse risco aumenta com o aumento de
níveis do material genético viral em fluidos corporais (SANTOS; ROMANOS;
WIGG, 2002).
Uma das técnicas mais comumente utilizadas na quantificação do ácido
nucleico viral é a PCR. Essa técnica, conforme comentado anteriormente,
pode ser utilizada para a detecção qualitativa; mas, a partir de modificações,
ela pode ser utilizada para a detecção quantitativa do material genético
viral. A principal forma de se realizar a quantificação por essa técnica é
mediante a PCR em tempo real, também chamada de PCR quantitativo
(qPCR). A PCR em tempo real utiliza sondas fluorescentes para monitorar
a amplificação do DNA em tempo real, bem como para sua quantificação.
Para a realização dessa técnica, são adicionadas sondas fluorescentes que
se ligam ao DNA, cuja emissão de fluorescência aumenta com essa ligação.
Essa sonda pode ser específica ou não específica para uma sequência.
A sonda SYBR Green é não específica, emitindo fluorescência ao ligar-se
a DNA dupla fita. Assim, esse tipo de sonda monitora apenas a quantidade
de DNA dupla fita. Já a sonda TaqMan (Figura 5) é sequência-específica,
garantindo, portanto, que a sequência de interesse está sendo amplificada.
Essa sonda consiste em dois fluoróforos ligados por uma sequência de DNA
que se hibridiza com o meio da sequência-alvo. Quando esses fluoróforos
estão ligados na sonda, não há a emissão de fluorescência. Quando a sonda
se liga ao DNA-alvo, a Taq polimerase corta a sonda em nucleotídeos,
soltando os fluoróforos e permitindo a liberação da fluorescência, a qual
pode ser detectada. Assim, a fluorescência está diretamente relacionada com
a quantidade de sequências específicas que foram amplificadas (CLARK;
PAZDERNIK, 2012).
16 Diagnóstico das infecções virais: métodos clássicos, imunológicos e moleculares
ALBERTS, B. et al. Biologia molecular da célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
BROOKS, G. F. et al. Microbiologia médica: de Jawetz, Melnick & Adelberg. 26. ed. Porto
Alegre: Penso, 2015.
CLARK, D. P.; PAZDERNIK, N. J. Molecular Biology. 2. ed. Amsterdam: Academic Cell, 2012.
KHAN ACADEMY. Polymerase Chain Reaction. 2018. Disponível em: <https://www.
khanacademy.org/science/biology/biotech-dna-technology/dna-sequencing-pcr-
-electrophoresis/a/polymerase-chain-reaction-pcr>. Acesso em: 15 out. 2018.
LEVINSON, W. Microbiologia médica e imunologia. 13. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2016.
SANTOS, N. S. O.; ROMANOS, M. T. V.; WIGG, M. D. Introdução à virologia humana. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
Leitura recomendada
LOEFFELHOLZ, M. et al. Clinical virology manual. 5. ed. Washington: ASM Press, 2016.
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