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E. E. E. F.

JUSTINO ALBERTO TIETBOEHL 


Educação de Jovens e Adultos – EJA
Língua Portuguesa – Profª Maura Schwanck Maia

Pandemia afeta saúde mental de crianças e jovens


Reações e sintomas podem ser mais difíceis de serem detectados

A pandemia do novo coronavírus afetou não


só a saúde mental dos adultos, mas também
das crianças e adolescentes. É o que afirma
o professor de Psiquiatria da Infância e
Adolescência da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FM-USP),
Guilherme Polanczyk. “A pandemia, e todo o
contexto que a acompanha, têm gerado
situação de estresse em crianças,
adolescentes e adultos. Como as crianças e adolescentes são menos infectados e como, muitas
vezes, o sofrimento deles fica mais despercebido, eles tendem a ser mais negligenciados”, disse o
especialista.
Segundo o médico, sintomas como irritabilidade, mudanças de humor, insônia, dificuldade de
concentração podem ser fáceis de se identificar em adultos, mas apresentam diversas nuances
quando se trata de crianças e adolescentes.
Polanczyk analisa que a idade da criança também interfere na forma como ela reage à
pandemia. As crianças menores, por serem mais dependentes dos pais, vão lidar com a pandemia
muito em função de como os pais estão lidando e como o ambiente está organizado. “As crianças
maiores sentem falta dos amigos. Elas já têm capacidade maior de compreensão de uma forma
autônoma, muitas vezes não completamente adequada, ou de uma forma não completamente
realista, e podem interpretar de forma mais catastrófica algumas situações”, disse.
O professor defendeu a retomada das aulas presenciais ou híbridas, desde que garantidas
as medidas de segurança aos alunos e profissionais da educação, porque representa uma nova fase
de desenvolvimento para os pequenos. “É preciso sensibilidade para poder explicar para as crianças
o que está acontecendo, mostrar a importância de enfrentar, eventualmente, o desconforto social ou
o medo da contaminação, e que esse cenário é combatido com os cuidados de higiene, por
exemplo”.
Polanczyk disse que crianças que apresentam sintomas como dificuldade para dormir,
relatos de preocupação, alterações de comportamento e até queixas de dor física merecem atenção
especial. Os pais devem ficar atentos a qualquer um desses sinais e buscar a ajuda de um
profissional de saúde.
Sofrimento indireto
Em sua prática médica psiquiátrica diária, o professor de Psiquiatria da Escola Médica da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Daniel Monnerat, disse que, apesar de
estatisticamente as crianças serem menos infectadas, elas acabam sofrendo indiretamente, primeiro
com uma “menor” preocupação dos seus familiares em termos delas estarem com menor fruição,
aproveitando menos as rotinas diárias.
Segundo, elas acabam sofrendo, indiretamente, por estarem reclusas, mais introspectivas,
vivendo uma vida mais caseira porque os pais, por serem adultos, ao cumprirem as medidas de
isolamento para não infectarem outras pessoas, ficam mais tempo em casa e isso interfere na
socialização dos menores, nas atividades lúdicas, recreativas. “Por tabela, essas crianças acabam,
de alguma forma, sofrendo por essa reclusão que se impôs a todos nós pela pandemia da covid-19”.
Monnerat explicou que, para afirmar que o maior efeito da pandemia se dá em crianças
maiores ou menores, é preciso analisar como era o estilo de vida diária dessas crianças e
adolescentes pré-pandemia. Muitas vezes, alguns deles já eram mais introspectivos, mais caseiros,
usavam ferramentas, como redes sociais e internet, para fazer contatos com os amigos. Para esses,
o isolamento pode não ter afetado muito o modus operandi (modo de agir) que eles tinham
anteriormente.
Quadros de depressão
Por outro lado, segundo o professor da PUC Rio, para aqueles adolescentes que faziam
viagens e socializavam nos finais de semana, com certeza esse isolamento e os critérios mais
rígidos que a população está enfrentando, sobretudo este ano, a pandemia está sendo mais difícil.
Monnerat observou ainda que para pacientes que já tinham algum diagnóstico psiquiátrico, a
pandemia pode exacerbar esses sintomas, fazendo com que eles precisem de mais atendimento
médico, com intervenção de medicamentos mais incisiva e, quando isso não é realizado, pode fazer
com que quadros de depressão, de ansiedade e de rejeição se acentuem.
Monnerat reforçou a necessidade de os pais e responsáveis explicarem às crianças que as
medidas de isolamento social impostas pelas autoridades sanitárias não são um castigo, mas foram
determinadas pensando na coletividade. “Eu acredito que as crianças tendem a sofrer menos,
porque elas estão sendo sensibilizadas, desde o começo da pandemia, a pensar no coletivo. Mas se
são crianças que vivem em família com algum desfalque emocional, com ausência de progenitores e
vivem mais à deriva, no sentido emocional e educacionalmente falando, elas já estão sofrendo muito
e sofrerão mais ao perceberem que poderão retomar as atividades”. É preciso contextualizar os
casos e entender os anseios dessas crianças e jovens, disse.
Publicado em 21/03/2021 - 18:33 Por Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro
Edição: Fábio Massalli

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