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07/03/23, 16:49 A Era do Ferro: Uma cultura militante da força | by Ricardo C.

Thomé | O Conselho | Medium

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Ricardo C. Thomé Follow

Apr 14, 2020 · 8 min read

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A Era do Ferro: Uma cultura militante da força


Um antídoto agressivo contra a pós-modernidade.

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D iante de um contexto globalizado de esfacelamento das identidades locais,


secularização do indivíduo humano e guerra cultural contra o arquétipo
masculino, o ambiente virtual tem sido uma ferramenta de difusão de contra
cultura e conexão entre aqueles de pensamento dissidente. Iniciado como forma de

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protesto contra a emasculação da mente e do corpo, a chamada Militant Culture


Strength tem tomado forma por volta de 2010 nas redes sociais como forma de
unificar o debate crítico sobre a masculinidade moderna, a sociedade liberal e o
modo de vida contemporâneo. A tag logo ganhou derivações, e rostos comuns.

A Operation Werewolf — e seu fundador (o atleta fitness Paul Waggener) — foi uma
das principais difusoras dessas ideias, aglutinando simpatizantes e reforçando a
estética e os princípios da causa. O autor norte-americano Jack Donovan (A Way of
Man, 2012) também é figura frequente dentro da pauta, expressando em suas obras
uma espécie de culto a masculinidade e necessidade do tribalismo como
ferramenta de resistência a degeneração do mundo moderno, como descrita por
ele. A produção de textos, livros e material audiovisual logo alcançaria públicos
estrangeiros ganhando adeptos e curiosos da ação online que, em sua propaganda,
unia pautas masculinas, tradicionalismo, regionalismo, estética própria, artes
marciais, levantamento de peso e ritualística esotérica. Tags como
#militantculturestrength e #operationwerewolf ou #opww logo evidenciariam não
apenas uma convergência de pautas, mas uma filosofia de vida. Esta que chamarei
aqui de Cultura do Ferro.

Um culto à masculinidade.

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Críticos do modo de vida predominante nas grandes metrópoles modernas


simbolizada pelo consumismo, inocuidade espiritual, entretenimento vazio,
alimentação pré-fabricada, infantilização do emocional do homem e aviltamento
propagandístico da masculinidade, a Cultura do Ferro busca o reavivamento do
homem em seu estado primal, se distanciando destes elementos e se aproximando
mais da natureza e do desenvolvimento físico do corpo. Um primitivismo
controlado que tem o objetivo de desintoxicar a mente daquilo que se entende por
contemporaneidade.

Físico Militante.

Propondo um antagonismo a emasculação do indivíduo moderno, a Cultura do


Ferro tem por princípio básico a busca por uma estética que espelhe força,
presença e preparo. Você não pode ser um homem de aparente força externa e
ideias vazias, mas o oposto também é verdade. Buscando um equilíbrio entre estes
pontos, a causa busca tornar o seu próprio corpo um difusor moral de suas ideias,
evitando a todo custo que suas palavras e atitudes não estejam em concordância. A
prática de exercícios e artes marciais é um dos pontos de partida. Como cultura
militante, é importante o convencimento através do exemplo e também da
aparência, e o treino do próprio corpo é parte essencial desse propósito,
demonstrando em meio a decadente modernidade esguia que sua força mental
transborda também através de seu físico.

Tribalismo.

Sinalizando uma antítese à globalização, a ação busca incentivar a prática do


tribalismo, que neste contexto significa o reforço dos laços e das culturas locais.
Cientes de que a ambição de mudar o mundo focando em problemáticas globais só
alimentam a frustração e a inércia, os militantes e simpatizantes da Cultura do
Ferro veem o envolvimento em atividades comunitárias locais a chave para
preencher o homem de significado e utilidade, formando irmandades e criando
ligações reais com pessoas reais na busca de propósitos e estilos de vida similares.
Tribalismo tem a ver com a consciência do número de pessoas que podemos
influenciar e escala que podemos atingir como indivíduos. Ao invés de lutar pelo
mundo, lutar por sua comunidade, por sua irmandade, pelos seus.

Espiritualidade e ancestralidade da terra.

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O tribalismo nos leva a assimilação dos símbolos e crenças locais, valorizar o solo
de onde veio e suas raízes históricas ou mitológicas. Waggener e Donovan — além
de difusores da ideia, pertencem ao grupo militante Wolves of Vinland — adotaram a
simbologia e ritualística do paganismo nórdico, é notável a influência das
mitologias pré-cristãs em suas ideias e estética, um esoterismo importado da
Escandinávia para o estilo de vida do grupo ao qual pertencem. Mas não se engane,
apesar da religião dos seus difusores, o culto ao ferro não se restringe a simbologia
nórdica, sua proposta é ser adaptável a localidade daquele que o pratica, por esse
motivo irá variar com a geografia, de grupo para grupo, superando assim a barreira
nacional, étnica ou religiosa.

Igualdade é um falso deus.

A realidade contemporânea vive uma errônea ideia de equanimidade. A indústria


midiática, através de políticas transnacionais e entretenimento como ferramenta de
controle de hábitos, busca o apagamento das culturas locais e das diferenças de
gênero, credo e comportamentais no intuito de nos igualar forçosamente, criando
assim um indivíduo universal, sem história, raízes ou particularidades. Críticos dos
ideais democráticos, a Cultura do Ferro se aproxima muito mais de uma vertente
aristocrática, de que os melhores naturalmente se sobressaem e por isso merecem
suas posições de influência; neste sentido, a fragilidade e o vitimismo são
duramente criticados na militância, isso porque a ação, como mencionado, busca se
aproximar do estado natural do homem, da natureza em si, e nela a democracia não
existe, mas sim a força do mais apto, do melhor.

A filosofia por trás da ação.

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Entre os autores mais comumente mencionados dentre os adeptos desta ideia, seja
nos textos, propagandas ou livros, estão os tradicionalistas Julius Evola (Revolt
Against the Modern World), Kris Kershaw e Oswald Spengler (The Decline of the
West); suas obras versam sobre a decadência moral da sociedade liberal, da
destruição de signos e valores importantes para a manutenção daquilo que é eterno
e elevado. Como é perceptível, tais ideias se conectam com os princípios da Militant
Culture Strenght, por esse motivo autores da corrente filosófica tradicional são
recorrentes nos materiais produzidos pelos grupos.

A mitologia do “werewolf” é parte do treinamento de


jovens guerreiros através do mundo Indo Europeu
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(…) o menino simbolicamente morre, dentro de um


período de aprendizado, se preparando para o
momento em que irá se tornar parte da tribo, ter sua
mulher, terra e sua própria prole. — escreve
Kershaw.

Na vertente do esoterismo, derivados dos ensinamentos da autora Helena Blavatsky


(escritora que influenciou muitas ideias de Evola) são um ferramental teórico
evidente para a premissa da aceitação de diversas crenças, visto que a autora,
através de um exercício de mitologia comparada, entende que cada crença ou
mitologia possui elementos similares para a busca do ascetismo espiritual,
elemento esse também contido no modo de vida dos adeptos do ferro, respeitando
assim a particularidade ancestral e espiritual das mais diversas culturas.

Na história, partindo da ideia de que a modernidade é carente de figuras


exemplares e heróis ou ídolos — agora fabricados pela mídia e esvaziados de
qualquer virtude — os grandes conquistadores do passado são alvos de respeito e
menções, figuras como Átila, o Huno, ou ao príncipe romeno Vlad Tepes (Drácula)
O Empalador, são algumas das personalidades citadas, buscando resgatar homens
reais que inspirem força através de seus feitos por seus povos e culturas. Tudo
orbitando dentro da ideia do culto ao arquétipo masculino de força, regionalismo e
ancestralidade.

O argumento estético, um modo de vida.

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Monocromática, soturna e visualmente transgressora. A Cultura do Ferro é acima


de tudo um estilo de vida, algo a ser praticado e não pensado, por este motivo a
identidade estética acaba possuindo um papel importante na divulgação da pauta,
sobretudo online, e esta definitivamente tem o seu lugar.

Cultura Fitness.

Adeptos com portes físicos agressivos, halterofilismo, treinamentos de artes


marciais em grupos ou pares, de expressões firmes e evidencias de uma vida
devotada ao desenvolvimento do corpo são partes da imagética da ideia. Uma
expressão visual anti fragilidade, pertinente a principal mensagem da ação.

Irmandade, tradição, metal e estrada.

Resgatando a expressão agressiva masculina de subgêneros do metal, as vestes


pretas, correntes, capuzes, botas, jaquetas e desenhos sobre a pele compõem o
imaginário estético de um movimento que se propõe a passar a ideia de um
barbarismo, um homem no limite entre a suavidade da civilidade e a fúria de um
físico hostil, um estilo comum dentro de motoclubes ao redor do mundo, tendo em

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comum, além das vestes, um senso de irmandade entre os membros. Tudo isso
envolto em influências musicais que transitam entre o black metal e o neofolk, com
letras que remetem a períodos históricos de guerras, grandes impérios, mensagens
sobre ancestralidade e mitologias variadas.

Morte, guerra e sacrifício.

Não uma veneração da morte, mas a lembrança de que se morrerá, para não teme-
la; não um culto a guerra, mas a lembrança de que ela é inevitável, pois é uma
constante. Trata-se da guerra contra si mesmo, não contra o mundo, trata-se da
morte do seu lado mais fraco, não daquela literal. É sobre entender que a dor, o
sangue, o sacrifício e o suor são sinais de que você está vivo, e por isso são bons, são
desejados. Cicatrizes, marcas e desenhos no corpo que comuniquem isso são
evidências de “guerras” passadas, e acolhidas por isso.

Por uma masculinidade militante.

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Aqueles que passam os olhos superficialmente sobre o ideal da Cultura Militante do


Ferro naturalmente tem uma reação adversa, os pensariam como extremistas ou
mesmo violentos: são homens de força, carregados de desenhos pelo corpo e
simbologia interna, de vestes agressivas e ar propositalmente sombrio e dúbio, mas
tal aparência esconde um forte senso de irmandade entre homens, de revolta
imagética contra o mundo exterior, de contraponto a polida e dócil modernidade,
que ao mesmo tempo que critica tal postura destrói ela mesma seus símbolos e
raízes. Homens organizando entre si rotinas de exercícios intensos, dietas, lutas
marciais, suporte mútuo, praticando sua visão particular comum de fé e
aprimorando a si mesmos, independendo da aprovação da sociedade para isso, sem
— claro— deixar de passar a sua mensagem a ela.

Independente da controvérsia que seus idealizadores possam representar (seja por


seus históricos individuais ou visão de mundo), talvez as maiores lições que se pode
tirar da Cultura do Ferro são três, a primeira é (a despeito do sedentarismo urbano)
não deixar de aprimorar o corpo, de se conectar com sua “besta interior”, pois ele é
um reflexo do tipo de vida que você escolheu; a segunda é: forme uma “gangue”,
não preencha sua mente com problemas globais que não tem poder algum para
resolver, ao invés disso, forme uma irmandade dentre os de sua comunidade,
fortaleça os laços, sua ancestralidade e cultura local, e crie ali o seu próprio mundo,
independente do que acontecer no exterior, proteja os seus, fortaleça os teus,
defenda-se com os teus da degradação cultural da modernidade; e a terceira é: não
tenha medo de exercer e trabalhar a sua masculinidade interior.

Mantenha os irmãos perto. Forme uma tribo.

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