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TRANSTORNO DE

HUMOR

Profa. Dra. Maria Angélica Sadir


angelicasadir@uol.com.br
Classificação
 DSM-V: Transtornos Depressivos constituem
um cluster independente dos transtornos
bipolares
 Sua prevalência é muito alta e tende a piorar
Critérios do DSM –V:
 Um dos sintomas deve ser 1 estado de humor
deprimido ou falta de prazer e interesse
 Estado de melancolia caracterizado pela
desesperança
A terapia comportamental

 Explica a depressão como a frequência


reduzida de comportamentos positivamente
reforçados
 O paciente aprende a monitorar seu humor e a
desenvolver atividades que possa realizar com
prazer
 Deve-se: diminuir a esquiva, aumentar a
consciência das suas E, torná-lo capaz de
assumir e manter compromissos e estimulá-lo a
agir no seu ambiente de forma produtiva
Vulnerabilidade à Depressão
 Modelo integrado: fatores ambientais e
disposicionais (multifatorial)
 Fatores orgânicos: hipersensibilidade do
sistema límbico
 Fatores situacionais são importantes como
desencadeantes e os fatores cognitivos como
moderadores dos efeitos do meio
 As características de personalidade podem ser
uma vulnerabilidade para aumentar a
probabilidade de ocorrência da depressão ou
uma imunidade (diminui probabilidade)
Características de personalidade
 Personalidade sociotrópica: valoriza relações
interpessoais, com ênfase em ser amado e aceito
 Personalidade autônoma: investe na independência
emocional, conquistas e liberdade de escolha
 Tanto os altamente sociotrópicos como autônomos
têm alto risco de depressão:
o Primeiros: desenvolvem quando percebem uma
perda na interação social
o Segundos: se deprimem diante da perda da
independência pessoal, controle ou mobilidade
Estilo parental
 O estilo parental também é relevante
 Os traumas infantis, como negligência física
e/ou emocional e abuso emocional, podem
representar 80% dos casos de depressão
 As práticas parentais podem moderar os efeitos
negativos ou dar origem a um estilo cognitivo
depressiogênico nos filhos
 Os pais têm papel importante na habilidade de
ver a vida mais positiva, na interpretação
saudável de eventos e na percepção de que é
capaz de lidar com o mundo de forma
competente
4 Níveis de Vulnerabilidade
1. Altamente vulneráveis: nasceram com
predisposição biológica e tiveram práticas
parentais e experiências de vida que prejudicaram
suas estratégias
2. As pseudo-vulneráveis: nasceram vulneráveis,
mas tiveram ambiente protegido e não colocaram
à prova sua capacidade de enfretamento
3. As resistentes: que possuem repertório de
estratégias e conseguem se reerguer
4. As resistentes criadas em ambientes saudáveis
aonde adquiriram e utilizam técnicas de
enfrentamento
A avaliação da depressão na
TREC
 Observamos 3 domínios afetados:
1) Âmbito social: relações e aprovação social –
sente-se amada, valoriza vínculos, é capaz de
confiar nos outros e cuidá-los
2) Âmbito autônomo: independência, autocontrole
– quer ter liberdade sem influências externas
3) Âmbito de merecimento: crenças de justiça e
moral – valoriza o tratamento justo e merecido
Avaliação do ABC
 Esses 3 âmbitos estão relacionados às
inferências que fazem do evento ativador (A)
 (A) Evento ativador: Situação percebida como
perda ou fracasso em várias situações, mais
comum no Âmbito autônomo ou social e
situações não merecidas
 (B) Crenças: Crenças de que as situações não
deveriam acontecer, avaliações catastróficas e
de intolerância à frustração
 (C) Consequencias: isolamento social,
afastamento reforços, dependência,
autodestrutivo, ruminação, queixoso
ABC em um caso de depressão (Lipp e org., 2019)

A B C
Acontecimento ativador Sistema de crenças Consequencias
O chefe comunica que hoje Demandas: Emoção:
será seu último dia de “Eu não deveria ter sido Depressão
trabalho demitido”
“Eu deveria ter me Comportamento:
Inferência: esforçado mais” Fica trancado em seu
“ Fui demitido porque não quarto, sem querer falar
sirvo pra nada” (percepção Catastrofização: com ninguém (isolamento
de fracasso) “É terrível que eu tenha social). Bebe até se
sido demitido. É a pior embriagar (C
coisa do mundo” autodestrutivo)

Intolerância à frustração: Cognições:


“Não aceito que fui Pensa constantemente nas
demitido” coisas que “fez de errado”
no trabalho (ruminação)
Avaliação global de valor:
“Ter sido demitido mostra
como eu sou inútil e um
fracasso”
Características Cognitivas
(vão depender do âmbito afetado)

 Tendem a exagerar aspectos negativos e


consequencias da perda, do fracasso ou
desmerecimento percebido
 P negativos em relação a competência e
capacidade para atingir metas –”deveria ser fácil
conseguir, como não o é, sou inútil”
 Sensação de desamparo e incompreensão
 Desesperança: futuro doloroso
 Percepção de si dependente (autônomo) ou
desconectado (social)
 Mundo injusto (merecimento)
Distorções cognitivas comuns
1. Absolutismo : tudo ou nada
2. Supergeneralização: concluir que algo que ocorreu
uma vez irá ocorrer sempre
3. Abstração seletiva: tendem a selecionar evidências
de seu mau desempenho
4. Inferência arbitrária: conclusão antecipada e com
pouca base em envidências
5. Maximização ou minimização: tende a elevar o
significado de determinados eventos negativos e
diminuir os positivos
6. Personalização: eventos externos são
interpretados como falha pessoal
Emoções secundárias
 Resposta emocional vem acompanhada de
emoções como culpa e vergonha

 Se sente fracassada também por ter depressão


OBJETIVOS DO TRATAMENTO

 Psicoeducação da depressão e TCC


 Desenvolver e aumentar a capacidade de
identificar sentimentos
 Identificar e combater crenças irracionais,
respostas cognitivas e comportamentais delas
 Eliminar a idéia ou comportamento suicida
 Desenvolver estratégias apropriadas de
resolução de problema e habilidades sociais
 Diminuir a ansiedade
 Auto-controle: conquista progressiva de
objetivos e o auto-reforço
OBJETIVOS TERAPÊUTICOS

 Ajudá-lo a ser mais ativo e ter atividades prazerosas


 Eliminar avaliações globais de valor, promovendo
aceitação incondicional
 Aprender a debater a tendência à autoavaliação
ligada a critérios externos (aceitação ou ganhos
sociais)
 Reduzir intolerância à frustração e decisões mais
assertivas
 Promover a socialização
Plano geral de tratamento
 Avaliação:
o Cognitiva, comportamental e interpessoal

o Testes e outras avaliações

o Avaliação do risco de suicídio

o Uso de medicação

 Estabelecimento de objetivos e metas


 Familiarização do modelo cognitivo
 Formulação cognitiva do caso
 Intervenções cognitivas e comportamentais
 Prevenção de recaída
 Término do tratamento Modificado de Leahy e Holland, 2000
Debate lógico: “Não deveria ser demitida,
sou um fracasso”
 Mostrar que sua maneira de pensar carece de sentido
e consistência
 Todas as pessoas que são demitidas são um
fracasso?
 Faz sentido pensar que, por estar desempregado,
todas suas qualidades desapareceram?
 O que acontece com todos os êxitos anteriores à
demissão?
 O que um juiz pensaria sobre isso?
 O que alguém que confia diria ou pensaria?
 Poderia pensar: “Não gostaria que isso tivesse
acontecido, mas não significa que sou um fracasso”
Debate pragmático

 Ajudar a determinar benefícios ou funções de


manter crenças irracionais
 Como continuar pensando que é um fracasso e
inútil te ajuda?
 Aonde você acha que vai terminar se continuar
pensando assim?
 Isso traz algum benefício para tua vida?
 Você acha que isso vai te ajudar a conseguir um
novo trabalho, ou dificulta?
 Pensar assim faz com que se sinta bem ou te
deixa mais deprimido?
Debate empírico
 Verifica falta de evidências
 Quais são as provas que demonstram que ter
sido demitido faz de você um fracasso?
 É realista pensar que, porque foi demitido, você
nunca mais poderá conseguir outro emprego?
Quanto tempo já ficou sem trabalho?
 Qual a probabilidade de seus filhos passarem
fome porque você está desempregado neste
momento?
Eventos vitais negativos

 O que, de fato, ocorreu? Que P estes eventos


geraram? (Examine as evidências, veja pelo
continum, divida as responsabilidades entre
todos). Quais distorções estão envolvidas?
(Revise a lista das mais comuns). O que vc
pode extrair ou aprender deste evento? Como
vc irá se sentir daqui a 1 semana, 1 mês, 1ano?
Inatividade

 Quais os custos e benefícios de manter-se


inativo? E de ficar mais ativo? Que alternativas
de atividade vc poderia considerar? (Use
programação de atividades e de recompensas
e gratificações). Seu humor varia com a
atividade? Com que vc poderia interagir?
(Desenvolva objetivos a curto e longo prazo)
Tristeza

 Se vc fica em casa isolado, está ruminando e


focalizando em memórias negativas? Vc está
gastando muito tempo sozinho e inativo? Tente
lembrar de C e experiiências gratificantes que
vc já teve ou que gostaria de ter nas quais vc
possa se engajar agora
Falta de prazer

 Se vc estivesse motivado, que atividade


prazerosa gostaria de fazer? Se vc soubesse
que ela poderia ajudar a melhorar seu humor e
sua evolução, vc a faria? É possível que sua
motivação venha depois de realizá-las? Vc
estaria disposto a investir nessa possibilidade?
Há alguma atividade que goste mais do que
outras?
Desesperança

 Quais P, C e situações vc acha que não


mudarão? Qual a razão para pensar assim?
Alguma vez isso mudou, por que? O seu humor
negativo está sempre igual ou muda? A
mudança positiva do seu humor está associada
a alguma coisa? Vc estaria disposto a
experimentar uma postura diferente diante da
mudança? Levaria em consideração pequenas
melhoras como que valem a pena tentar?
Indecisão

 Quais são as alternativas que vc está


considerando? Pese custo e benefício de cada
uma, agora e no futuro. Vc está presumindo
que deve achar a solução perfeita? Como vc
lidará com as coisas negativas se
acontecerem?
Isolamento social

 Quais são os custos e benefícios de interagir


com os outros? Que tipo de distorção cognitiva
está envolvida? Acha que as pessoas irão
rejeitá-lo? Vc é queixoso quando está com os
outros? Vc os gratifica de alguma forma? Que
tipo de prazer e habilidade vc poderia obter ao
programar atividades com os outros?
Ideação suicida

 Quais são algumas razões para viver? Se não


estivesse deprimido, que coisas poderiam te
gratificar? Está disposto a fazer algumas coisas
para ver se os P suicidas diminuem?
(Estabelecer contrato de P, atitudes e
envolvimento da família)
Outras estratégias terapêuticas
 Auto instrução
 Ativação comportamental
 Planejamento de atividades
 Imaginação/ Distração
 Relaxamento
 Biblioterapia
 Ensaio de novas crenças racionais
 Atividades prazerosas
 Atividade física
Caso clínico
 Carolina, 38 anos, casada e 3 filhos
 Queixa: problemas de relacionamento afetivo
 Marido saiu de casa há 2 meses por traição
 Deprimida, desesperançosa, dependente,
pessimista ao futuro e desvalorizada
 Abuso de comida e álcool, higiene pessoal
descuidada, ruminação e isolamento social
 Psicoeducação e Modelo ABC
ABC de Carolina
Tratamento
 Planejamento de atividades: prazer, aumenta
autoeficácia e se mantém ativa
 Debate de crenças irracionais
 Ensaio de crenças racionais
 Relaxamento
 Distração para ruminações
 Atividade física
Referências Bibliográficas:
 Beck, A. e col. A Terapia Cognitiva da
Depressão. Artes Médicas, 1997.

 Cuche, H. e Gerard A. Não agüento mais. Ed.


Papirus.

 Lacerda, A. (org). Depressão: do neurônio ao


funcionamento social. Artmed, 2009.

 Knapp, P. e col. Terapia cognitivo-


comportamental na prática psiquiátrica. Ed
Artmed, 2004.

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