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De Ana-e-seu-Bebê à Ana: Um Percurso Clínico com Winnicott

Segundo Winnicott, o nascimento de um bebê desencadeia em sua mãe


mudanças que permitam que esta exerça suas funções fundando condições facilitadores
ao desenvolvimento do seu filho. No entanto, o prazer que a mãe sente ao cuidar do
filho irá depender de não haver tensões nem preocupações causadas por diversos fatores
que podem ser internos ou externos.

É necessário que a mãe e a criança nos estágios iniciais entrem em um estado de


identificação, o que ocorre no caso de ana-e-seu-bebê, onde mesmo apresentando um
impasse a essa relação primordial (mãe-filho) Ana e seu bebê retratam planos
defensivos, o bebê adoecendo fisicamente e Ana adoecendo psiquicamente, o que
demonstra a identificação e a fusão de ambos, mesmo que de uma forma não-saudável,
refletindo o estado materno de confusão, insegurança e angústia.

Transcorrer clínico

Ana possuía um relacionamento estável e formalizado há 10 anos, o bebê era o


segundo planejado e desejado filho, ela possuía um emprego estável, 5 meses de licença
maternidade e horários de trabalhos flexíveis, além de um salário razoável e creche para
o bebê.

Ana sentia-se fragmentada, despedaçada, confusa e desorientada. Sua vida abria-


se para ela como um enigma, estando confusa quanto à sua profissão, seu casamento,
sua capacidade de ser mãe.

Há anos mudara de sua cidade buscando desfazer uma relação amorosa que a
fizera sofrer. Depois retornou a sua cidade natal acompanhada do atual marido, o que
produziu deslocamentos.

Havia um embaraço em seu casamento, Ana não se sentia plenamente casada e


pressentia o “fantasma” da ex-mulher do atual marido. Suas vidas pareciam
compartimentos fragmentados, separados, divididos, organizados como viveres
paralelos e não integrados.

Ana não havia conseguido estabelecer a construção de um lugar genuinamente


seu, em todos os campos parecia não ocupar um “lugar” seu, assim, não conseguia
representar também um “lugar” de referência para o filho.
Ana apresentava um grande afastamento entre o sentir e o pensar, o qual trazia
em consequência a perda do sentido do viver, um esvaziamento no sentido da
existência.

No entanto, Ana buscou ajuda e foi observado que o bebê estava constantemente
inquieto, apresentando desconforto e agitação. O bebê exigia e, simultaneamente,
rejeitava o seio da mãe, através das reações corporais do bebê é possível notar que o
holding não ocorria suficientemente.

Holding: representa o protótipo de todos os cuidados com o bebê. Diz


respeito a segurança e confiança, o que é fundamental para que o bebê possa se
construir como pessoa, com recursos egóicos estruturados.

O holding é fundamental para o crescimento emocional de um bebê, tendo em


vista que apenas a presença materna não é suficiente para construção de uma
experiência à dois, que para o bebê representa o dilema entre viver e morrer, então o
holding dá ao bebê a possibilidade de ser, de existir.

Para Winnicott corpo e psique podem se vincular, mas nem todos conseguem
realizar está tarefa, o que diferencia um desfecho do outro será o cuidado que a criança
recebe durante os primeiros meses de vida., o que constitui o campo psicossomático.
Assim podemos entender a importância do ambiente para o desenvolvimento
fisiológico, emocional e afetivo do bebê, tendo em vista que quando ele é cuidado por
um ambiente assim ele consegue concluir a tarefa de personalização.

A procura do bebê pelo seio de Ana e pela confirmação de sua presença física
inferem que a personalização ainda é precária e que o bebê precisa constantemente
reafirmar o seu existir, deixando claro a insuficiência do holding.

Transferência e transicionalidade

Segundo Freud, não a como escapar da transferência e é através dela que ocorre
a transformação psíquica, na medida em que por meio dela há a reatualização dos
processos inconscientes.
Para Ana e seu bebê, a terapeuta assumiu o espaço de sustentação e segurança,
dessa forma surge a necessidade de que o setting analítico constituísse um lugar de
confiança, relativo à função materna, um holding.

Jogo de espátula

A transferência da psicóloga: Momentos de recordação, de revivência, das


próprias experiências e vivências.

Bebê - elo entre Ana e terapeuta. “por alguns minutos nós duas nos
endereçávamos ao bebê e fazíamos dele um elo entre nós, um objeto transicional
nosso.”

Questionamentos da analista – “Era psicanálise? Era resistência


contratransferencial? Estava saindo da minha posição?... comecei a pensar que tal
situação era a necessária para promover a transformação naquele caso singular.”

Assume o lugar da mãe suficientemente boa, todavia, sem trazer suas próprias
experiencias maternas e nem interpretações sobre como Ana desempenhava sua
maternidade. “escolhi ouvi-la, indagar sobre o seu cotidiano com o bebê, comentar
alguns procedimentos, e ouvir, ouvir, ouvir...” A terapeuta passa a sustentar com a sua
presença e dedicação o que Ana não estava conseguindo fazer, permitindo a abertura do
campo da transicionalidade para ambos.

- Análise se faz na interpretação de duas áreas lúdicas: do paciente e do analista.

Através do prazer que a analista tinha em vivenciar o exercício da maternidade,


dando abertura ao “brincar de mãe”, possibilitou-se o crescimento e desenvolvimento
emocional de Ana e seu bebê.

Conceitos de Winnicott que podem ter contribuído com o processo terapêutico de


Ana e seu bebê

Objeto transicional: Winnicott introduziu o conceito de objeto transicional, que é


um objeto de apego, como um cobertor ou um brinquedo de pelúcia, que auxilia a
criança na transição da dependência absoluta para a independência gradual. No contexto
clínico, o terapeuta pode ter explorado a importância de um objeto transicional na
relação entre Ana e seu bebê, tendo em vista a dificuldade do bebê em se separar de Ana
durante o horário da creche, por exemplo.

Ambiente facilitador: Winnicott enfatizou a importância de um ambiente


facilitador, onde o bebê se sente seguro e amado. O terapeuta pode ter trabalhado com
Ana para criar um ambiente propício ao crescimento emocional e à interação saudável
com seu bebê.

É importante ressaltar que, sem detalhes específicos do estudo, essas


informações são de natureza geral e não se aplicam diretamente ao caso de "Ana-e-seu-
Bebê à Ana: Um Percurso Clínico com Winnicott". No entanto, esses são alguns dos
conceitos-chave de Winnicott que podem ter sido explorados no estudo para entender e
promover o bem-estar de Ana e de seu bebê.

Referências

Pinheiro, N. N. B. (2013). De Ana-e-seu-bebê à Ana: um percurso clínico com


Winnicott. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 29, 355-360.

Iungano, E. M., & Tosta, R. M. (2009). A realização da função materna em casos


de adoecimento da criança. Boletim Academia Paulista de Psicologia, 29(1), 100-119.

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