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ORIENTAÇÃO PARA ADAPTAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE MATERIAIS

Justificativa do trabalho de adaptação

Produzir materiais não é uma tarefa fácil. É um exercício com muitas especificidades, onde a criatividade e o
conhecimento sobre o aluno permeiam a construção todo o tempo. O principal objetivo da adaptação é
ajudar o aluno a criar suas próprias ferramentas para ter uma vivência potente no ambiente escolar. Assim,
devemos investir no aluno, conhecê-lo, compreender seu funcionamento, ter um olhar direcionado aos seus
interesses, dificuldades e habilidades. A partir disso, apostamos em identificar e produzir materiais
acessíveis para ele.

Devemos avaliar o que é fundamental que aquele aluno aprenda, afinal, acreditamos que a flexibilização do
currículo é uma das formas de tornar o conhecimento acessível a ele. Há conteúdos que serão apresentados,
outros não, outros poderão passar por alterações de forma de apresentação, propiciando o acesso do aluno
àquele conhecimento. O ideal é que esse processo se dê junto aos professores, já que acreditamos que eles
sabem melhor o que é importante ou não para o aluno. Futuramente acreditamos que os professores
estarão seguros para fazer essa adaptação de currículo junto à escola, sem precisar de nós como mediadores
dessa relação.

A adaptação de materiais se dá a partir de um material pronto, produzido pelo professor (provas, testes,
fichas e livros), no qual fazemos alterações que julgamos interessantes para o acesso do aluno àquele
material da turma. Já a criação de novos materiais não utiliza nenhum material dado pela escola como base
contextual. Criamos novos materiais quando avaliamos que as atividades oferecidas pela escola não dão
conta, no momento, do aprendizado do aluno.

Tanto a adaptação quanto a criação de materiais possuem norteadores que nos permitem seguir um
caminho em comum de acesso à criança/adolescente. Se acreditamos que todos têm direito e potencial para
aprender, e se sabemos que a maneira de apresentar o conteúdo muitas vezes não é interessante e
motivadora para as crianças/adolescentes, cabe a nós estreitar o laço do aluno com o aprendizado. Para que
isso seja possível, é importante que haja uma reflexão sobre o que necessário que a criança/adolescente
aprenda independente da dificuldade e deficiência que possuem. Ao adaptar um material devemos refletir
sobre algumas questões:

- Qual é o objetivo da adaptação que pretendemos fazer? O que quero trabalhar ao produzir esse
material?
- A adaptação é acessível a quem se dirige a produção?

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- Há dúvidas em relação ao conteúdo que será apresentado?

A partir disso, o trabalho criativo se inicia.

Norteadores para a adaptação

No intuito de proporcionar ferramentas para que o mediador possa construir suas adaptações de
forma mais segura e criativa, serão apresentados princípios gerais para adaptação de um material.
Conhecendo bem o aluno para quem se direciona a adaptação e seu objetivo, o mediador poderá
reconhecer o que cabe ou não para ele.

Ø Princípios gerais:

- Evitar excesso de informação no material: imagem + texto + introdução.

- Sempre limitar o espaço para os alunos escreverem – número de linhas ou contorno para a
realização de contas.

- Sempre tentar, quando possível, aproximar as questões ao cotidiano dos alunos.

- Definições de conceitos – sempre tentar construir definições simples, com palavras acessíveis e
dando exemplos. As imagens podem ajudar nesse momento.

- Diminuir a quantidade de questões, caso faça sentido.

- Eleger os conteúdos a serem trabalhados (flexibilização curricular)

- Simplificar o conteúdo.

Ø Redação

- A redação do texto deve obedecer todas as regras de ortografia vigente.


Não é necessário usar sempre letras maiúsculas. Utilize letras maiúsculas quando desejar chamar
atenção para alguma questão. O uso de letras maiúsculas de forma contínua não é algo comum

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socialmente, além de parecer um mar de letras, e por esse motivo não pode ser adotada como única
forma de comunicação.
- Os signos de pontuação ajudam a ordenar, hierarquizar e enfatizar ideias. Eles precisam ser
utilizados.
O ponto deve ser o signo ortográfico para separação de conteúdos. É preferível o uso de ponto ao
invés de vírgula para separar e diferenciar melhor ideias articuladas.
- Devem ser evitadas: reticências, ponto e vírgula, dois pontos, parênteses, aspas e travessões. O
significado dessas pontuações, normalmente, é desconhecido.
- Para indicar diálogos, sugerimos o recurso dos balões de conversa, como nas histórias em
quadrinhos.
- Para números é recomendável escrever sempre os numerais, não sendo indicado escrever por
extenso.
- Evitar o uso de números ordinais e algarismos romanos. Em caso de números grandes, podem ser
substituído por numerais arredondados, ou substituir pelas palavras: muitos, alguns, vários etc.
- Devem ser evitadas estruturas de frases e organizações gramaticais complexas, pois dificulta a
compreensão das ideias.
- O uso de tempos e modos verbais, tais como futuro do presente, futuro do pretérito, subjuntivo,
condicional e pretérito mais que perfeito devem ser evitados, pois não são de uso comum do
cotidiano.
- Deve-se usar formas afirmativas e evitar formas negativas ou de sentidos ambíguos.
- Deve-se priorizar palavras mais curtas, com o menor número de sílabas e com as sílabas menos
complexas.
- Vocábulos de uso cotidiano e próximos da linguagem falada devem ser sempre utilizados.
- Palavras com sentido preciso devem ser priorizadas.
- Palavras genéricas e de significado vazio devem ser evitadas.
- Se for necessário usar palavras menos comuns e mais complexas, elas devem ser explicadas através
de contextualização, apoio de imagens e explicação de seu significado.
- Linguagem figurada, metáforas e provérbios devem ser evitados, pois exigem interpretação.
- Conceitos abstratos devem ser evitados. Quando forem usados, é necessário utilizar ilustrações com
exemplos práticos do dia-a-dia para explicitar a ideia.
- O uso de percentagem para expressar probabilidade ou proporção deve ser evitado. Uma sugestão é
usar muito ou pouco.

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- A quantidade de texto e de ideias, em cada folha, deve ser limitada.
- O texto precisa estar apresentado de forma atrativa.
- Deve ser priorizada uma única fonte de letra. Deve-se utilizar uma fonte clara, como Arial, Calibri,
Tahoma e Verdana. Fontes que simulem uma letra manuscrita devem ser evitadas.
- Efeitos tipográficos como adornos, diversas cores e sombras devem ser evitados.
- O uso, sem exageros, de negritos e sublinhados deve ser usado para destacar palavras.
- O fundo branco com letra preta deve ser, prioritariamente, utilizado.

Ø Enunciados/ Comandos:

- Enunciados simples e objetivos: que contenha somente o necessário para a criança/adolescente


compreender o que está sendo pedido.

- Enunciados com comandos decompostos: Não ter mais de uma pergunta por enunciado. Em casos
de vários pedidos, dividir as perguntas em subitens a,b, e c. O intuito é auxiliar o aluno a se organizar
em relação ao que se é solicitado.
- Comandos: Nos enunciados, podemos utilizar comandos simples, com caixa alta e negrito, para
facilitar na concentração e entendimento do que se pede no exercício. Exemplos: Escreva, responda,
reconheça, marque, sublinhe, circule, porque, coloque, copie, complete, faça um X, pinte e etc.

- Começar o enunciado com uma afirmativa que resuma ou se remeta a explicação do texto.

- Colocar no enunciado uma dica para ajudar a resolver a questão - como a definição do que se pede.

Ø Utilização de imagens:

- Utilizar imagens na adaptação de materiais não tem como foco ilustrar a atividade. O intuito é que
essa imagem represente o texto, o problema ou o enunciado; que possa auxiliar a
criança/adolescente na compreensão ou, em outros momentos, até mesmo substituir a leitura da
escrita.

* Em casos onde o objetivo é tornar a atividade mais lúdica e convidativa, podemos utilizar imagens
ilustrativas, porém evitar imagens que confundam o conteúdo da adaptação.

- Imagens sempre contextualizadas – referentes de fato ao assunto ou lugar a qual se refere, inclusive
da mesma época.

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- Imagens sempre claras sem o objetivo de produzir diferentes interpretações.

Ø Textos

- Redução do texto: Ao reduzir um texto, damos prioridade para as informações relevantes e


necessárias para que se compreenda o contexto da narrativa e se responda as questões. Retirar
“partes irrelevantes” é tornar o texto objetivo e com foco.

- Resumo do texto: Em situações onde o texto é grande, mas a narrativa relevante pode ser reduzida
em poucas palavras, o resumo pode ser uma boa ferramenta. O resumo pode substituir o texto,
como pode ser colocado no final do texto como auxílio de entendimento do que foi lido
previamente.

- Substituição do texto: Quando observado que o texto é complexo ou que pode haver um outro
texto mais simples que abranja o mesmo tema ou história, a substituição do texto é uma opção
bacana.

- Adaptação do texto: nos casos em que houver mudança nos textos, seja redução ou mudança de
palavras e frase, é indispensável que se coloque na referência "adaptado de:".

* Na redução e resumo do texto é fundamental que como base tenhamos a produção de frases
curtas, simples e objetivas. Além disso, a simplificação do vocabulário também auxilia na facilidade
de compreensão do texto.

Ø Questões relacionadas ao texto

Como evitar que a criança/adolescente tenha que retornar ao texto para achar a resposta da
questão? Como auxiliá-la?

- Dar ênfase às partes principais: Trechos do texto podem estar sublinhados ou enfatizados com
negrito. Na hora de fazer a questão fazer referência ao “trecho sublinhado” ou “trecho em negrito”.

- Transcrever o trecho na questão: Quando o mais importante for que o aluno consiga interpretar o
texto, transcrever o trecho aonde se encontra a resposta da questão em cima desta pode se tornar
interessante e um modo de avaliar se o aluno compreende ou não o que é solicitado.

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- Sublinhar no texto: Se o objetivo for encontrar no texto algo pedido na questão, ao invés de
reescrever o trecho, podemos ter como ferramenta a ação de sublinhar no texto.

- Contexto e Cotidiano: Textos, problemas e questões que envolvam o contexto, o cotidiano e


interesses da criança/adolescente são sempre mais interessantes e convidativos à elas.

Ø Tamanho das adaptações

- Interessante que o tamanho da adaptação vá de acordo com o funcionamento da


criança/adolescente e que este seja escolhido com foco na produtividade dela. Não é intenção que a
adaptação se torne exaustiva e que o rendimento diminua por isso. Devemos avaliar as condições
dos alunos que a adaptação será direcionada e avaliar a quantidade ideal.

- Diminuição e exclusão de exercícios: Em casos onde haja repetição de exercícios que abranjam o
mesmo conteúdo ou até mesmo a presença de exercícios que não julgamos importantes ou
possíveis para a criança/adolescente, a ferramenta de diminuir os exercícios pode ser potente.

Ø Formatação e funcionamento

- Folhas: Evitar folhas frente e verso em alguns casos. Se a criança ou adolescente possui alguma
questão espacial, por exemplo, é interessante evitar a folha frente e verso. Ao mesmo tempo este
recurso pode diminuir o tamanho da atividade adaptada, podendo então, diminuir a ansiedade da
criança/adolescente. É fundamental avaliar a potência da folha frente e verso antes de utilizá-la.

- Avaliar a melhor orientação das folhas (paisagem ou retrato).

- O tamanho da letra (grande, pequena), espaçamento (com ou sem) e organização das questões
(espaçadas ou não) devem ser formatadas para melhor compreensão da criança/adolescente.

* Em alguns casos, a entrega das folhas serem separadas, de acordo com a realização das atividades
pode ser um instrumento facilitador na organização e amenizador de ansiedade do aluno.

Ø Propostas simples de exercícios

- Múltipla Escolha, onde as opções são apresentadas e a criança/adolescente é convidada a fazer um


exercício de reconhecimento.

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- Raciocínio em opções: Questões onde o raciocínio está decomposto em opções pode auxiliar o
aluno a traçar o caminho a ser percorrido.

- Resumo de livros: Livros didáticos muitas vezes são poluídos de imagens e informações, muitas
vezes irrelevantes para a aprendizagem do aluno. Por isso, o resumo de livros é um ótimo recurso
para simplificar a apresentação escrita do conteúdo. Este resumo pode ser em forma de perguntas e
respostas, como também com pequenas frases e imagens.

- Utilização de material concreto: Utilizar materiais concretos na apresentação de materiais


abstratos e subjetivos é sempre de grande utilidade.

- Exercícios de reconhecimento: Reconhecer imagens, trechos e conteúdos, são também formas de


aprender.

- Preencher lacunas com palavras ou letras no Box: É também um exercício de reconhecimento.

- Ligar colunas, imagens ou conceitos: Exercício de associação muito potente para diversos
conteúdos, auxilia também no reconhecimento.

- Verdadeiro ou Falso: Recurso utilizado principalmente em disciplinas com conteúdos maiores e


abrangentes.

- Diminuição de números, mantendo o que o raciocínio do exercício: Ao visualizar um exercício,


podemos avaliar o que o exercício está medindo de conhecimento, manter esse raciocínio, porém
diminuir os números para torná-lo acessível à criança.

Ø Atividades lúdicas:

- Atividades lúdicas no meio de outras atividades podem ocupar várias funções. Além de estreitar o
laço do aprendizado com a criança/adolescente, por serem interessantes e motivadoras, podem
ocupar também uma função de “descanso” e “leveza” no meio de atividades mais complexas.
Atividades mais simples, com cores, demandas de pinturas e desenhos podem auxiliar o aluno a
continuar a realização das atividades, pois representam momentos de menos trabalho mental, se
tornando uma forma de relaxar. Porém, essas atividades lúdicas podem ter por trás
intencionalidade de alguma aprendizagem.

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