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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS

Vídeo "Heidegger na prática clínica" e conexão com o artigo: “Dasein, o


entendimento de Heidegger sobre o modo de ser humano”.
 
Através do vídeo assistido, "Heidegger na prática clínica”, compreende-se de
forma bem clara como a teoria de Heidegger pode contribuir para a área clínica.
Sendo uma força contrária a um tecnicismo da clínica atual, que acaba por não
revelar um lado mais humano, que é o existencial. Com a leitura do artigo, “Dasein,
o entendimento de Heidegger sobre o modo de ser humano”, podemos entender
como se inicia esse pensamento, que pode ser refletido nos dias atuais.

Numa época em que predominavam a psicanálise e o


comportamentalismo, a psicologia influenciada por Heidegger, que
viria a ser conhecida como fenomenológico-existencial, procurava
entender o homem em seus próprios termos, descartando analogias
naturalistas e mecanicistas e enfatizando a liberdade ou a autonomia
do homem.” (ROEHE; DUTRA, 2014, p.106)

Essa concepção possibilita a reflexão sobre as descobertas atuais, sobre a


forma que são tratados os transtornos e problemas de saúde mental, problemas
esses que são vistos por Heidegger como tendo uma raiz de caráter existencial.
Possibilitando a reflexão sobre os transtornos mentais, ligados a necessidade de se
trabalhar questões existenciais. Essas ideias podem ser consideradas como
oposição necessária à era da técnica que vivemos no meio psicológico e
psicoterapêutico. Dessa forma um dos pontos importantes para o uso dessa
concepção na clínica seria o caráter hermenêutico, em que o homem interpreta e
compreende sua própria existência, a si mesmo, ele não é algo pronto que depende
certos mecanismos determinados pelo social ou hereditário, sendo que, o que o
sujeito é ,depende do que ele acredita que é, e do quer vir a ser.

A descrição do modo de ser humano que Heidegger realiza mostra


que o homem está em relação com seu próprio ser, ou seja, o ser do
homem é uma questão para ele mesmo, porém não – na maior parte
do tempo – uma questão racional que gera uma resposta, uma
conclusão, trata-se de uma questão/relação com o próprio ser que se
conclui apenas provisoriamente no fazer cotidiano da existência: [...].
Ou seja, conforme Heidegger (1927/2006), a essência do ser
humano está em sua existência. (ROEHE; DUTRA, 2014, p.107)
 
 
Nesse contexto compreende-se que o objetivo final da clínica não está voltado
a cura de uma doença, mas tem o objetivo que o paciente consiga compreender a si
mesmo, levar o mesmo a se libertar de coisas que o afetam, como uma depressão,
ansiedade, que estão relacionado a forma que o sujeito compreende a si mesmo.
Dessa forma vemos a importância de o Dasein ser-ía, termo criado por Heidegger,
como modo ser humano.

O Dasein é o ente que, sendo, descobre, revela o Ser (o que e como


algo é) a partir de sua condição existencial. O Dasein é o ente para o
qual o Ser se mostra. Em virtude de sua compreensão do Ser, ainda
que informal, vaga, o ser humano é ontológico. (ROEHE; DUTRA,
2014, p.107)
 
 
Assim, problemas existenciais devem ser investigados, então diferente das
clínicas focam na doença para curá-la, para Heidegger, é necessário entender como
aquilo afeta o indivíduo e como chegou àquele ponto, compreender que aquilo é
apenas uma parte do mesmo, que não o define. Dessa forma, sem um objetivo de
cura e foco em uma determinada doença o terapeuta se coloca em um nível próximo
do paciente, com o objetivo de fazê-lo refletir.

O processo saúde-doença transcende a individualidade corporal, ele


alcança os espaços que dizem respeito à vida humana. [...]. Há um
entendimento de que o homem não é uma unidade material
autossuficiente, dentro da qual um processo biomecânico gera saúde
ou doença. Os limites do ser humano não se esgotam no seu corpo,
uma vez que o Dasein é-no-mundo. O ser humano está vinculado de
tal maneira àquilo que lhe é transcendente, que apenas a
consideração do corpo não é suficiente para dar conta de um
entendimento da saúde humana; porque, conforme Heidegger
(1927/2006), não se compreende o homem considerando-o, apenas,
na forma de uma individualidade que ocupa um espaço natural.
(ROEHE; DUTRA, 2014, p.112)
 
Outro ponto a ser falado é sobre o pensamento meditativo, que ao contrário
do pensamento calculador, que visa respostas objetivas através de métodos,  não
sendo na psicoterapia suficiente, pois estamos falando de emoções, que é muito
individual de cada uma, não tendo uma regra para tal processo, possuindo histórias
e sentimentos próprios, assim o pensamento meditador não tem pressa de chegar a
nenhum lugar, mas sim, que o sujeito reflita sobre si, sobre sua existência.
Compreendemos também que a reflexão, aqui dita, não é sinônimo de uma crítica.
Aprendemos a relação das tonalidades afetivas, na qual vão nos fazer observar o
ser humano em uma perspectiva onde os sentimentos e afetividade é colocada em
primeiro lugar na psicoterapia, não sendo um inconsciente, mas algo esquecido, no
qual pode ser trazido à tona.

O Dasein é envolvido no mundo, é interessado, em função de outra


estrutura existencial, a disposição afetiva. Esta é a condição
ontológica de manifestações ônticas como o humor. Humor diz
respeito a como alguém está, como se encontra ou “como vai”. O ser
humano não existe num estado neutro, numa atitude teórica diante
da realidade, pelo contrário, o que se mostra na abertura do aí já
aparece vinculado a uma tonalidade afetiva. As coisas do mundo, os
outros e o seu próprio ser fazem diferença para o Dasein, podem
tocá-lo de alguma maneira. Mesmo o desinteresse ou a não
atribuição de importância a algo ou a alguém é um modo de ser
afetado pelo mundo. (ROEHE, DUTRA, 2014, p.108)
 
Compreende-se assim que Heidegger mostrou que o ser humano não deve
ser reduzido a uma a ideia de mente e corpo, através do conceito de ser-no-mundo,
onde o ser humano e o mundo estão conectados, com a utilização do termo Dasein,
que possibilita que o sujeito apareça enquanto indivíduo, apesar das limitações, pois
entendemos que o ser humano modula sua identidade pelo que está posto na
sociedade, e o Dasein possibilita mostrar as particularidades do mesmo, o
individualizando da cultura, que possibilita entender que sua essência está na sua
existência. Conecta-se a importância da estrutura afetiva, pois o ser humano não é
neutro, mesmo o desinteresse é uma forma de ser afetado pelo mundo. Nesse
sentido, o humor vem com o objetivo de fazer com o dasein se identifique com
algumas coisas e não se identifique com outras, que resulta na forma em que o
sujeito é afetado pelo mundo.
No sentido clínico, colocado pelo vídeo e relacionado ainda mais com ao
artigo, ve-se que a compreensão do ser humano de si mesmo, está ligado a como
ele lida com sua própria existência e essa compressão abre possibilidades, onde o
Dasein não se limita ao  "aqui e agora" ,pois existe possibilidade do que o se pode
vir a ser. Vemos que a mudança pode começar no sentimento de angústia, onde o
Dasein sente estranheza por uma determinada situação, que pode ser cultura,
familiar, onde o sujeito está inserido, rompendo com a segurança dada pela
impessoalidade que esconde o Dasein, que faz com que o indivíduo veja ele
mesmo, mais livre para a liberdade de escolha. Nesse sentido temos a importância
da consciência, que possibilita ao Dasein conseguir ouvir a si mesmo. Entendemos
assim, que o Dasein é sempre possibilidade de vir a ser algo e na estrutura
existencial chamada “cura”, que lava a capacidade de se projetar nas possibilidades,
nesse processo o ser humano percebe-se com relação ao tempo, " antecede-se
(futuro), desde onde já se está (passado), a fim de lidar com o que vem ao encontro
no mundo (presente)" .
Diante do que foi visto até aqui, seria possível dizer que a afetividade e a
capacidade de reflexão podem ser tidas como centro de uma psicoterapia
fundamentada nas concepções de Heidegger, com objetivo de um encontro do
indivíduo consigo, ou seja, em que o Dasein estabelecer um certa individualização
do sujeito para além do que é posto pela sociedade e ambiente, proporcionando que
o mesmo através da reflexão de si, da relação com as emoções, possa compreender
o que está causando o sofrimento e encontrar sentido para sua existência.

Referência:

ROEHE, Marcelo Vial; DUTRA, Elza. Dasein, o entendimento de Heidegger sobre o


modo de ser humano. Av. Psicol. Latinoam. [online]. 2014, vol.32, n.1, pp.105-113.

 
TOSO, André. HEIDEGGER NA PRÁTICA CLÍNICA. Youtube, 27 de jun. 2020.
Disponível em: HEIDEGGER NA PRÁTICA CLÍNICA
.

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