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Info 995 STF
Info 995 STF
Informativo 995-STF
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
ATO JURÍDICO PERFEITO
▪ A Lei nº 9.656/98 não pode ser aplicada aos contratos firmados anteriormente à sua vigência.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
▪ Entidade de classe que representa apenas parte da categoria profissional (e não a sua totalidade), não pode ajuizar
ADI/ADC
ADVOCACIA PÚBLICA
▪ É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos Procuradores dos Estados, observando-se, porém,
o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição.
DIREITO ELEITORAL
DIREITOS POLÍTICOS
▪ Eleitor não precisa levar o título no dia da votação, sendo suficiente documento de identificação com foto.
DIREITO CIVIL
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
▪ A busca e apreensão da alienação fiduciária em garantia, prevista no art. 3º do DL 911/69, é compatível com a
CF/88, não violando as garantias do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
DIREITO EMPRESARIAL
CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
▪ Compete à Justiça Comum julgar as controvérsias envolvendo, de um lado, o representante comercial e, de outro, a
representada.
DIREITO PENAL
ESTELIONATO
▪ A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019, retroage para alcançar os
processos penais que já estavam em curso?
DIREITO CONSTITUCIONAL
As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente
incidem sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos
que, firmados anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas
disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram
por manter os planos antigos inalterados.
STF. Plenário. RE 948634, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão
Geral – Tema 123) (Info 995).
Lei nº 9.656/98
A Lei nº 9.656/98 dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. É conhecida como a
“Lei dos Planos de Saúde”.
Um dos grandes debates envolvendo o tema diz respeito à possibilidade, ou não, de aplicação da Lei nº
9.656/98 aos contratos firmados anteriormente à sua vigência.
Esses dispositivos previam que a Lei nº 9.656/98 deveria incidir mesmo se o contrato tivesse sido
celebrado antes da sua vigência. Vejamos a sua redação:
Art. 10 (...)
§ 2º As pessoas jurídicas que comercializam produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º
desta Lei oferecerão, obrigatoriamente, a partir de 3 de dezembro de 1999, o plano-referência de
que trata este artigo a todos os seus atuais e futuros consumidores. (Redação dada pela MP 2.177-
44/2001)
Art. 35-E. A partir de 5 de junho de 1998, fica estabelecido para os contratos celebrados
anteriormente à data de vigência desta Lei que: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-
44/2001)
I - qualquer variação na contraprestação pecuniária para consumidores com mais de sessenta anos
de idade estará sujeita à autorização prévia da ANS;
Art. 2º Os arts. 3º, 5º, 25, 27, 35-A, 35-B, 35-D e 35-E da Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998,
entram em vigor em 5 de junho de 1998, resguardada às pessoas jurídicas de que trata o art. 1º a
data limite de 31 de dezembro de 1998 para adaptação ao que dispõem os arts. 14, 17, 30 e 31.
Nas palavras do Ministro Marco Aurélio, a vida democrática pressupõe segurança jurídica e não há
segurança jurídica se uma lei nova desrespeita o ato jurídico perfeito e acabado, como é o caso de um
contrato já assinado.
Não se pode aplicar uma lei nova para relações contratuais já consolidadas, considerando que essas regras
não existiam no momento da manifestação da vontade das partes.
permitida inclusão apenas de novo cônjuge e filhos, e vedada a transferência da sua titularidade,
sob qualquer pretexto, a terceiros.
§ 6º Os produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, contratados até 1º de janeiro
de 1999, deverão permanecer em operação, por tempo indeterminado, apenas para os
consumidores que não optarem pela adaptação às novas regras, sendo considerados extintos para
fim de comercialização.
§ 7º Às pessoas jurídicas contratantes de planos coletivos, não-optantes pela adaptação prevista
neste artigo, fica assegurada a manutenção dos contratos originais, nas coberturas assistenciais
neles pactuadas.
§ 8º A ANS definirá em norma própria os procedimentos formais que deverão ser adotados pelas
empresas para a adaptação dos contratos de que trata este artigo.
As relações jurídicas livremente pactuadas, com o uso da autonomia da vontade, devem dar valor à
segurança jurídica, conferindo-se estabilidade aos direitos subjetivos e, mais ainda, conhecimento
inequívoco das regras às quais todos estão vinculados, bem como a tão importante previsibilidade das
consequências de suas respectivas condutas.
Nesses termos, dentro do debate sobre a possibilidade de retroatividade da Lei nº 9.656/98 a negócios
jurídicos anteriores à sua vigência, devem ser aplicáveis as previsões constitucionais que preservam o ato
jurídico perfeito, a segurança jurídica e, por sua relevância, a autonomia da vontade e a liberdade de
contratar.
Além disso, o entendimento que tem sido consolidado no STF ao longo dos anos é contrário à possibilidade
da retroatividade da lei nova, assegurando a máxima efetividade da norma constitucional carreada pelo
art. 5º, XXXVI, da CF/88, ressalvada a aplicação da chamada retroatividade mínima, em situações
excepcionais, a permitir que sejam temperadas para o futuro algumas relações jurídicas constituídas no
passado.
Desse modo, os contratos de planos de saúde firmados antes do advento da Lei nº 9.656/98 podem ser
considerados atos jurídicos perfeitos, e, como regra geral, estão blindados às mudanças supervenientes
das regras vinculantes.
Ademais, nos termos do art. 35 da Lei nº 9.656/98, assegurou-se, aos beneficiários dos contratos
celebrados anteriormente ao início de sua vigência, a possibilidade de opção pelas novas regras, tendo o
§ 4º do mencionado dispositivo proibido que a migração fosse feita unilateralmente pela operadora.
Em suma:
As disposições da Lei nº 9.656/1998, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem
sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados
anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos
beneficiários que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos
inalterados.
STF. Plenário. RE 948634, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral –
Tema 123) (Info 995).
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Entidade de classe que representa apenas parte da categoria profissional
(e não a sua totalidade), não pode ajuizar ADI/ADC
Importante!!!
A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui
legitimidade ativa para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade.
Por esse motivo, a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem
legitimidade para a propositura de ADI na medida em que constitui entidade representativa
de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os auditores fiscais federais e
municipais.
STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
ADI e ADC propostas por confederação sindical e entidade de classe de âmbito nacional
A Constituição Federal estabelece, em seu art. 103, o rol de legitimados para a propositura de ações de
controle concentrado de constitucionalidade. Veja o que diz o inciso IX:
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade:
(...)
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
Requisitos
Para que as confederações sindicais e as entidades de classe possam propor ADI e ADC, o STF exige o
cumprimento dos seguintes requisitos:
a) a caracterização como entidade de classe ou sindical, decorrente da representação de categoria
empresarial ou profissional;
b) a abrangência ampla desse vínculo de representação, exigindo-se que a entidade represente toda a
respectiva categoria, e não apenas fração dela;
c) o caráter nacional da representatividade, aferida pela demonstração da presença da entidade em
pelo menos 9 (nove) estados brasileiros; e
d) a pertinência temática entre as finalidades institucionais da entidade e o objeto da impugnação.
STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
A jurisprudência do STF exige, para a caracterização da legitimidade ativa das entidades de classe e
confederações sindicais nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, que a entidade
represente toda a respectiva categoria, e não apenas fração dela.
Por esse motivo, a Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para
a propositura de ADI na medida em que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria
profissional, já que não abrange os auditores fiscais federais e municipais.
(Procurador de Contas TCE/PA 2019 CEBRASPE) Tem legitimidade para o ajuizamento de ação direta de
inconstitucionalidade entidade de classe que represente fração de categoria funcional, desde que atue
em âmbito nacional. (errado)
ADVOCACIA PÚBLICA
É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos Procuradores dos Estados,
observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição
Importante!!!
É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos,
observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição.
STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.
PGE
Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal são os responsáveis pela representação judicial e pela
consultoria jurídica das respectivas unidades federadas, nos termos do art. 132 da CF/88:
Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o
ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos
Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria
jurídica das respectivas unidades federadas.
Tais leis são constitucionais? É possível que os honorários de sucumbência sejam pagos aos Procuradores
dos Estados?
SIM. A natureza constitucional dos serviços prestados pelos advogados públicos possibilita o recebimento
da verba de honorários sucumbenciais, nos termos da lei, desde que submetido ao mencionado teto
remuneratório.
Ex: vamos supor, hipoteticamente, que o teto remuneratório está em R$ 40 mil. Imaginemos que o
subsídio do Procurador do Estado seja R$ 34 mil. No mês de outubro, a divisão dos honorários devidos aos
advogados públicos federais rendeu R$ 10 mil para cada membro. Esse Procurador, que já recebe
mensalmente R$ 34 mil, só terá direito a R$ 6 mil de honorários porque, se recebesse acima disso,
ultrapassaria o teto.
2) os titulares dos honorários sucumbenciais são os profissionais da advocacia, seja pública ou privada
Nesse sentido, vale a pena relembrar o art. 23 da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da OAB) e o art. 85, § 19 do
CPC/2015:
Art. 23. Os honorários incluídos na condenação, por arbitramento ou sucumbência, pertencem ao
advogado, tendo este direito autônomo para executar a sentença nesta parte, podendo requerer
que o precatório, quando necessário, seja expedido em seu favor.
3) o art. 135 da CF/88, ao estabelecer que a remuneração dos procuradores estaduais se dá mediante
subsídio, é compatível com o regramento constitucional referente à advocacia pública
Os advogados públicos são remunerados por subsídio. Isso decorre do art. 39, § 4º e do art. 135 da CF/88:
Art. 39 (...)
§ 4º O membro de Poder, o detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários
Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única,
vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação
ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.
Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo
serão remunerados na forma do art. 39, § 4º.
Assim, o art. 39, § 4º, da Constituição Federal não constitui vedação absoluta de pagamento de outras
verbas além do subsídio (STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz
Fux, julgado 14/8/2019).
Em suma:
É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por procuradores de estados-membros,
observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas
remuneratórias recebidas mensalmente.
STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI 6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS, ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel.
Min. Rosa Weber, julgados em 19/10/2020 (Info 995).
O mesmo entendimento acima explicado vale para os advogados públicos federais: STF. Plenário. ADI 6053,
Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping).
Desconheço ações propostas contra leis municipais que tratem sobre honorários advocatícios devidos a
Procuradores dos Municípios. No entanto, penso que se aplica a mesma conclusão acima exposta, ou seja,
também deverão respeitar o teto remuneratório.
DIREITO ELEITORAL
DIREITOS POLÍTICOS
Eleitor não precisa levar o título no dia da votação,
sendo suficiente documento de identificação com foto
A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao
exercício do sufrágio.
STF. Plenário. ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
Decisão cautelar
Ainda em 2010, o STF deferiu medida cautelar para dar ao art. 91-A interpretação conforme à Constituição
Federal, no sentido de que apenas a ausência de documento oficial de identidade com fotografia impede
o exercício do direito de voto.
Em outras palavras, o STF afirmou que o eleitor não precisaria apresentar título de eleitor e documento
de identificação com foto. Não precisa dos dois. Basta o documento de identificação com foto.
STF. Plenário. ADI 4467 MC, Rel. Ellen Gracie, julgado em 30/09/2010.
Julgamento definitivo
Em 2020, o STF, apreciou definitivamente o tema, confirmou a medida cautelar e julgou procedente o
pedido formulado. Ficou decidido que:
A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao exercício do
sufrágio.
STF. Plenário. ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
Conforme vimos acima, o art. 91-A da Lei nº 9.504/97, com a redação dada pela Lei nº 12.034/2009, com
o objetivo de combater a fraude eleitoral, determinou, para o exercício do sufrágio, a apresentação
concomitante do título eleitoral e de documento oficial com foto.
Ocorre que essa exigência não é proporcional. Analisando a questão sob o prisma do princípio da
proporcionalidade, conclui-se que a exigência do documento oficial com foto para identificação do eleitor
já é medida suficiente e adequada para garantir a autenticidade do voto, sendo desnecessária a exigência
do título.
Essa dupla exigência idealizada pela Lei nº 12.034/2009 para frear as investidas fraudulentas criou óbice
desnecessário ao exercício do voto pelo eleitor. Isso porque, com a imposição da limitação, alguns
eleitores, regularmente alistados, seriam alijados de participar do processo eleitoral caso não estivessem
portando o título eleitoral no dia da votação, com eventuais reflexos na soberania popular e no próprio
processo democrático.
Biometria
Vale ressaltar que a preocupação do legislador com o documento exigido no dia da votação perdeu muita
força com o advento da biometria.
A biometria, implementada após a Lei nº 12.034/2009, garantiu uma maior segurança e efetividade para
a identificação do eleitor.
Aplica-se ao caso a chamada “proibição do retrocesso”, uma vez que a sociedade já conquistou o direito
à autenticidade do voto, mediante a identificação do eleitor pela biometria, bem assim, de forma
secundária, por documento com fotografia, a afastar qualquer entendimento segundo o qual a ausência
do título eleitoral, no momento da votação, impede o exercício do voto.
A despeito disso, a discussão não foi de todo esvaziada.
Há situações em que os eleitores serão identificados pelo modo tradicional, mediante apresentação de
documento com foto. Podemos citar três situações:
a) eleitores ainda não cadastrados biometricamente;
b) inviabilização na utilização da biometria no dia da votação, por indisponibilidade momentânea ou
ocasional do sistema ou impossibilidade de leitura das informações datiloscópicas do eleitor (impressão
digital); ou
c) para o eleitorado geral, em situações excepcionais, como a que ocorreu nas eleições municipais de 2020,
ante o cenário deflagrado pela pandemia da Covid-19.
DIREITO CIVIL
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
A busca e apreensão da alienação fiduciária em garantia, prevista no art. 3º do DL 911/69, é
compatível com a CF/88, não violando as garantias do devido processo legal,
do contraditório e da ampla defesa
Importante!!!
O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, sendo
igualmente válidas as sucessivas alterações efetuadas no dispositivo.
STF. Plenário. RE 382928, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 22/09/2020 (Info 995 – clipping).
Alienação fiduciária
“A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em confiança,
aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição financeira, em
regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a ocorrência de
determinado fato.” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:
Método, 2012, p. 565).
Regramento
O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts. 1.361 a 1.368-
B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:
• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;
• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº 4.728/65 e
Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de financiamento
bancário com garantia de alienação fiduciária.
Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC aplicam-se apenas de forma subsidiária:
Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade fiduciária submetem-
se à disciplina específica das respectivas leis especiais, somente se aplicando as disposições deste
Código naquilo que não for incompatível com a legislação especial.
Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o credor quando o credor fiduciário for
bens IMÓVEIS
fiduciário for instituição pessoa natural ou jurídica (sem
financeira ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei nº 9.514/97
Decreto-Lei nº 911/69 (arts. 1.361 a 1.368-B)
Notificação do devedor
O credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra em débito,
comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa ajuizar ação de
busca e apreensão. Confira:
Súmula 245-STJ: A notificação destinada a comprovar a mora nas dívidas garantidas por alienação
fiduciária dispensa a indicação do valor do débito.
Como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada por intermédio do Cartório
de Títulos e Documentos?
NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo, não precisa
ser realizada por intermédio do Cartório de RTD.
O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?
NÃO. Não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário (§
2º do art. 2º do DL 911/69).
Para a constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que seja entregue no
endereço do devedor, ainda que não pessoalmente.
Vale ressaltar que as ações de busca e apreensão e de execução não podem ser ajuizadas
concomitantemente (STJ REsp 576.081/SP). Caberá, portanto, ao credor fiduciário optar pelo ajuizamento
de apenas uma delas.
Na esmagadora maioria dos casos, o mutuante prefere ingressar com a ação de busca e apreensão porque
é muito mais vantajosa e eficiente do que propor uma execução.
Vamos assim imaginar que o Banco “X” ingressou com uma ação de busca e apreensão contra Antônio.
Vejamos abaixo o que acontece:
Concessão da liminar
O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que comprovada a
mora ou o inadimplemento do devedor. É o que prevê o art. 3º do DL 911/69, com redação dada pela Lei
nº 13.043/2014:
Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a mora, na forma
estabelecida pelo § 2º do art. 2º, ou o inadimplemento, requerer contra o devedor ou terceiro a
busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente,
podendo ser apreciada em plantão judiciário. (Redação dada pela Lei nº 13.043/2014)
Votos vencidos
Ficaram vencidos os Ministros Marco Aurélio (Relator), Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber.
DIREITO EMPRESARIAL
É considerado um negócio jurídico com natureza de “colaboração empresarial por aproximação” de forma
que o representante auxilia na circulação e distribuição dos produtos e serviços do representado nos
mercados consumidores.
Exemplo
A empresa “XX” é representante comercial da indústria “ZZ”. Isso significa que “XX” irá em busca de
clientes para adquirir os produtos da indústria “ZZ”, anotando os pedidos e os transmitindo para o
representado a fim de que ele providencie a venda.
Como contraprestação, o representante recebe uma comissão consistente em um percentual sobre as
vendas intermediadas.
Regulamentação
Essa espécie de contrato está regulada pela Lei nº 4.886/65, chamada de “Lei de Representação
Comercial”.
Trata-se, portanto, de contrato típico, em que os direitos e obrigações das partes estão dispostos em lei.
DIREITO PENAL
ESTELIONATO
A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019,
retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso?
Importante!!!
A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019,
retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse
denúncia oferecida, será necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na
continuidade do processo?
NÃO. É a posição amplamente majoritária na jurisprudência.
Não retroage a norma prevista no § 5º do art. 171 do CP, incluída pela Lei 13.964/2019
(“Pacote Anticrime”), que passou a exigir a representação da vítima como condição de
procedibilidade para a instauração de ação penal, nas hipóteses em que o Ministério Público
tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor do novo diploma legal.
A retroatividade da representação prevista no § 5º do art. 171 do CP deve se restringir à fase policial.
A exigência de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta
os processos que já estavam em curso quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019.
Assim, se já havia denúncia oferecida quando entrou em vigor a nova Lei, não será necessária
representação do ofendido.
STJ. 5ª Turma. HC 573.093-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/06/2020 (Info 674).
STF. 1ª Turma. HC 187341/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020 (Info 995).
STF. 2ª Turma. ARE 1230095 AgR, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 24/08/2020.
Registre-se a posição minoritária da 6ª Turma do STJ, que deve ser superada em breve:
A retroatividade da representação prevista § 5º do art. 171 alcança todos os processos em curso.
A exigência de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, afeta não apenas
os inquéritos, mas também os processos em curso, desde que ainda não tenham transitado em
julgado.
Assim, mesmo que já houvesse denúncia oferecida quando a Lei entrou em vigor, o juiz deverá intimar
a vítima para manifestar interesse na continuidade da persecução penal, no prazo de 30 dias, sob
pena de decadência.
STJ. 6ª Turma. HC 583.837/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 04/08/2020 (Info 677).
Estelionato
O crime de estelionato está tipificado no art. 171 do CP:
Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
A norma que altera a espécie de ação penal de um crime é norma de direito material ou processual? (ex:
a lei determina que o crime “X” deixará de ser de ação penal pública condicionada e passará a ser de
ação pública incondicionada)
As normas que tratam sobre a “ação penal” possuem natureza híbrida, ou seja, são normas de direito
processual penal que, no entanto, também apresentam efeitos materiais (influenciam no direito penal).
A lei que dispõe sobre o tipo de ação penal aplicável a cada crime possui influência direta no jus puniendi (direito
de punir do Estado), pois interfere nas causas de extinção da punibilidade, como a decadência e a renúncia ao
direito de queixa. Logo, a lei que disciplina a espécie de ação penal possui também efeito material.
E as normas híbridas?
As leis híbridas, como possuem reflexos penais, recebem o mesmo tratamento que as normas penais no
que tange à sua aplicação no tempo.
Logo, as normas híbridas não retroagem, salvo se para beneficiar o réu.
Desse modo, a norma que altera a espécie de ação penal de um crime não retroage, salvo se for para
beneficiar o réu.
Ex: antes da Lei nº 9.099/95, o crime de lesão corporal leve era de ação penal pública incondicionada;
depois da Lei, esse delito passou a ser de ação penal pública condicionada. Isso é mais benéfico para o réu
que responde ao processo? Sim, porque na ação penal pública condicionada existe a possibilidade de
renúncia e de decadência, que não são permitidas na ação pública incondicionada. Logo, a lei foi retroativa
nesse ponto.
Ex2: o crime de injúria racial era de ação penal privada e, por força da Lei nº 12.033/2009, passou a ser de
ação penal pública condicionada à representação. Essa Lei é mais benéfica para o réu? Não, porque limita
as causas de extinção da punibilidade. Logo, para as pessoas que cometeram o delito antes da Lei nº
12.033/2009, a ação continua sendo privada, não retroagindo a lei.
Isso significa que essa alteração irá retroagir para alcançar fatos anteriores à sua vigência?
SIM. O § 5º do art. 171 do CP apresenta caráter híbrido (norma mista) e, além disso, é mais favorável ao
autor do fato. Logo, tem caráter retroativo.
A dúvida, no entanto, reside na extensão dessa retroatividade:
A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para
alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será
necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo?
NÃO. É a posição amplamente majoritária na jurisprudência.
Não retroage a norma prevista no § 5º do art. 171 do CP, incluída pela Lei 13.964/2019 (“Pacote
Anticrime”), que passou a exigir a representação da vítima como condição de procedibilidade para a
instauração de ação penal, nas hipóteses em que o Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da
entrada em vigor do novo diploma legal.
Registre-se a posição minoritária da 6ª Turma do STJ, que deve ser superada em breve:
A retroatividade da representação prevista § 5º do art. 171 alcança todos os processos em curso.
A exigência de representação no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, afeta não apenas os
inquéritos, mas também os processos em curso, desde que ainda não tenham transitado em julgado.
Assim, mesmo que já houvesse denúncia oferecida quando a Lei entrou em vigor, o juiz deverá intimar a
vítima para manifestar interesse na continuidade da persecução penal, no prazo de 30 dias, sob pena de
decadência.
STJ. 6ª Turma. HC 583.837/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 04/08/2020 (Info 677).
PRISÃO PREVENTIVA
O descumprimento da regra do parágrafo único do art. 316 do CPP
NÃO gera, para o preso, o direito de ser posto imediatamente em liberdade
Importante!!!
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica
automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a
reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).
Não havia parágrafo único do art. 316. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva,
deverá o órgão emissor da decisão revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 90
(noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal.
O descumprimento da regra do parágrafo único do art. 316 do CPP gera, para o preso, o direito de ser
posto imediatamente em liberdade?
NÃO. A inobservância do prazo de 90 dias do parágrafo único do art. 316 do CPP não implica automática
revogação da prisão preventiva.
O art. 316, parágrafo único, do CPP insere-se em um sistema, que deve ser interpretado harmonicamente,
sob pena de se produzirem incongruências deletérias à processualística e à efetividade da ordem penal.
O parágrafo único precisa ser interpretado em conjunto com o caput. Logo, para que o indivíduo seja
colocado em liberdade, o juiz precisa fundamentar a decisão na insubsistência dos motivos que
determinaram a decretação da prisão preventiva, e não no mero decurso de prazos processuais.
O simples fato de ter passado o prazo não significa que a prisão se tornou ilegal
O Supremo Tribunal Federal não concorda com interpretações que associam, automaticamente, o excesso
de prazo ao constrangimento ilegal da liberdade. Isso porque:
a) deve-se analisar a razoabilidade concreta da duração do processo, aferida à luz da complexidade de
cada caso, considerados os recursos interpostos, a pluralidade de réus, crimes, testemunhas a serem
ouvidas, provas periciais a serem produzidas etc.;
b) a Constituição Federal impõe o dever de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX), que devem
sempre se reportar às circunstâncias específicas dos casos concretos submetidos a julgamento, e não
apenas aos textos abstratos das leis.
À luz desta compreensão jurisprudencial, o disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP não conduz à
revogação automática da prisão preventiva.
Não se trata de prazo prisional, mas sim prazo para prolação da decisão judicial
O parágrafo único do art. 316 não fala em prorrogação da prisão preventiva, não determina a renovação
do título cautelar. Apenas dispõe sobre a necessidade de revisão dos fundamentos da sua manutenção.
Logo, não se trata de prazo prisional, mas sim de prazo fixado para a prolação de decisão judicial.
Desse modo, a ilegalidade decorrente da falta de revisão a cada 90 dias não produz o efeito automático
da soltura, porque a liberdade, à luz do caput do dispositivo, somente é possível mediante decisão
fundamentada do órgão julgador, no sentido da ausência dos motivos autorizadores da cautela, e não do
mero transcorrer do tempo.
Em suma
A inobservância do prazo nonagesimal previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo
Penal não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado
a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) As disposições da Lei nº 9.656/98 (Lei dos Planos de Saúde), à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição
Federal, somente incidem sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os
contratos que, firmados anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas
disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por
manter os planos antigos inalterados. ( )
2) A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa
para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. ( )
3) (Procurador de Contas TCE/PA 2019 CEBRASPE) Tem legitimidade para o ajuizamento de ação direta de
inconstitucionalidade entidade de classe que represente fração de categoria funcional, desde que atue
em âmbito nacional. ( )
4) É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por procuradores de estados-membros,
observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas
remuneratórias recebidas mensalmente. ( )
5) A ausência do título de eleitor no momento da votação constitui óbice legítimo ao exercício do sufrágio.
( )
6) O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69, que trata sobre a busca e apreensão da alienação fiduciária, não foi
recepcionado pela Constituição Federal. ( )
7) Preenchidos os requisitos dispostos na Lei nº 4.886/65, compete à Justiça Comum o julgamento de
processos envolvendo relação jurídica entre representante e representada comerciais, uma vez que não
há relação de trabalho entre as partes. ( )
8) O juiz poderá, sempre a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da investigação ou
do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se
sobrevierem razões que a justifiquem. ( )
9) A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática
revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a
atualidade de seus fundamentos. ( )
10) Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua
manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a
prisão ilegal. ( )
Gabarito
1. C 2. C 3. E 4. C 5. E 6. E 7. C 8. E 9. C 10. C
OUTRAS INFORMAÇÕES
OUTRAS INFORMAÇÕES
12 A 16 DE OUTUBRO DE 2020
Resolução STF nº 706, de 15.10.2020 - Dispõe sobre o aprimoramento da segurança e transparência na distribuição de
processos no Supremo Tribunal Federal.