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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

Com o inicio da pandemia COVID-19 em 2020, em Portugal, veio também mais tempo livre no
sentido em que nos encontrávamos em confinamento geral obrigatório. Com mais tempo livre,
já que, por exemplo, as horas despendidas em transportes diariamente para a faculdade
podiam ser agora direcionadas para outras questões. Decidi então, literalmente de um dia para
o outro, criar a CAD, Comunidade de Aficionados de Direito. Com que objetivo? Queria ligar os
estudantes de Direito de todo o país, queria divulgar e criticar as mais recentes notícias
jurídico-políticas, queria levar a cabo iniciativas que aproveitassem a todo e qualquer jurista,
professor, estudante, advogado, etc… Criei o site, a página no Instagram e assim se começou a
erguer o projeto. Entretanto, com as aulas online, pensei também em elaborar apontamentos
semanais e divulgar com os meus colegas, utópico para um trabalho a sós, mas perfeitamente
possível com a entreajuda dos meus colegas porque cada grupo de estudantes faria os
apontamentos semanais de cada cadeira. Porque fazer os apontamentos semanais? A resposta
é extensa, mas simples. Com a “obrigação” de preparar esses mesmos apontamentos, tenho
também um duplo dever de assistir às aulas, de perceber e apontar as mesmas, porque não o
fazendo, falharia comigo e com os restantes colegas com quem me comprometi a partilhar os
apontamentos. Desta forma, dividimos até pelos vários estudantes a tarefa de recolher os
escritos relativos às diversas matérias. É trabalhoso, mas, inevitavelmente, ao
preocuparmo-nos com nos próprios estamos também a ajudar todos os outros alunos. Ou seja,
no 1º ano, começamos apenas a partir de março com os apontamentos semanais, mas no 2º
ano, ano letivo 2020/2021, os apontamentos semanais começaram no inicio e acabaram
apenas no fim do ano letivo! Dito isto, pode conter falhas de escrita ou de direito, foi feito ao
longo do tempo por juristas em formação, entregue semanalmente, portanto, é compreensível
e pedimos também que quando notada alguma falha grave nesse sentido, que nos seja
comunicado. Este projeto ajudou também a impulsionar um ambiente saudável no curso de
Direito na nossa universidade, não que já não o houvesse, mas esta iniciativa só o veio
melhorar. Esperamos ainda que esta iniciativa inspire ad aeternum o maior número de
estudantes possíveis, já que ficou demonstrado que a entreajuda tem efeitos positivos para
todos nós. Se tiveres interesse em colaborar connosco, envia-nos mensagem no Instagram.
Somos vários estudantes da licenciatura em Direito com vontade de mudar, ajudar e com
disponibilidade em ser ajudados. Obrigado a todos aqueles que todos os dias se esforçam por
uma comunidade melhor, saudavelmente competitiva, consciente e dedicada.

João Paulo Silva, Fundador da Comunidade de Aficionados do Direito.

Resumos de Introdução à Economia (Frequência)

Índice:
Definição de economia 3
Relação entre a Economia e outros domínios do conhecimento 3
Necessidades económicas 5
Bem económico 5
Tipologia dos Bens 6
Utilidade económica 7
Custo económico 8

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Valor dos bens 9


Três problemas económicos fundamentais 10
Fatores produtivos 11
Funções económicas do Estado 11
Evolução do pensamento e dos factos económicos 12
Correntes mercantilistas 13
Fisiocratismo de Quesnay 15
Adam Smith (Escola Clássica Inglesa Otimista) 16
Malthus (Escola Clássica Inglesa Pessimista) 17
Escola Clássica Francesa de Jean-Baptiste Say 18
David Ricardo (Teoria do Salário e Teoria da Renda) 19
As criticas ao liberalismo: 20
Adam Muller 21
Teoria das forças produtivas de List 21
O intervencionismo de Sismondi e a legislação laboral 22
Pensamento socialista: 24
Socialismo utópico 24
O materialismo histórico e o socialismo 25
As doutrinas cristãs: 27
Reações e doutrinas cristãs (frederico Le Play) 27
Renovação do pensamento clássico: 28
Alfred Marshall 28
John Keynes 28
Produção 31
Fatores de produção 31
A empresa 33
O rendimento 33
Os mercados e os preços 34
A procura 35
Oferta 36
Os diferentes tipos de mercado 37
A moeda 38
O crédito 41
Diferentes tipos de crédito 41

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Títulos de crédito 43
Os bancos e as operações bancárias 45

1. Definição de economia:
● Economia está relacionada com os nossos rendimentos, com as nossas despesas
enquanto consumidores.

● Economia é o estudo das atividades de produção e de troca entre as pessoas.


Analisa os movimentos globais da produção, dos preços e do desemprego.

● Economia é a ciência da escolha, estudando as decisões das pessoas sobre a


utilização de recursos produtivos escassos ou limitados (ex: petróleo ou diamantes)

● Economia é o estudo de como os seres humanos se comportam na organização das


suas atividades de consumo e produção.

● Economia é o estudo da moeda, das taxas de juro, do capital e da riqueza.

● Economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade decidem empregar


recursos escassos que poderiam ter utilizações alternativas para produzir bens
variados e para os distribuir para o consumo, agora ou no futuro, entre as várias
pessoas e grupos de sociedade.

2. Relação entre a Economia e outros domínios do conhecimento:


a) Economia e sociologia:
● A sociologia tem por objeto de estudo uma categoria muito genérica de
fenómenos ou factos sociais.

● À economia interessa apenas uma categoria muito circunscrita de fenómenos


sociais: os fenómenos económicos.

● A sociologia é uma ciência auxiliar da economia na medida que permite obter


um enquadramento social dos fenómenos económicos.

b) A Economia e a História e as Relações internacionais:


● A História e as Relações internacionais estudam mudanças nas estruturas
sociais, económicas, políticas e demográficas ao longo do tempo. Cada vez mais
as relações internacionais são relações económicas.

● É evidente, portanto, a ligação entre as relações internacionais e a economia e


o estudo da economia.

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● É, igualmente, evidente, a ligação entre a História e a Economia: o estudo


histórico da economia e a economia enquanto objeto de estudo da História e
das ideias económicas.

c) Economia e Filosofia:
● A filosofia apresenta inúmeros pontos de contacto com a economia sobretudo
no domínio da chamada filosofia económica.

● A filosofia da ciência económica estuda os métodos de conhecimento em


economia, questionando a validade do discurso económico.

d) Economia e Ciência política:


● A economia está relacionada com a ciência política na medida em que estuda
os factos políticos, ou seja, todos aqueles factos sociais relacionados com o
acesso, titularidade, exercício e controlo do poder político.

● É importante o contributo da ciência política para o estudo dos sistemas e


regimes económicos na medida em que os regimes políticos, os sistemas de
governo, os sistemas de partidos e os sistemas eleitorais correspondem sempre
a esquemas determinados de organização económica.

e) Economia e o Direito:
● A economia é o objeto do Direito enquanto conjunto de normas reguladoras
das relações sociais com conteúdo económico, desde logo, as normas de direito
patrimonial privado que regulam institutos económicos fundamentais como a
liberdade contratual, a responsabilidade civil patrimonial e o cumprimento dos
contratos (direito das obrigações), o direito de propriedade (direitos reais) e a
transmissão dos bens por morte (direito das sucessões).

● Acrescem a estas normas aquelas que regulam a empresa enquanto instituição


económica fundamental, objeto do direito comercial, do direito da concorrência
e do direito da propriedade industrial.

3. Necessidades económicas:
● As necessidades humanas constituem a causa de toda a atividade económica, na
medida em que o homem se dedica à atividade económica porque tem
necessidade de satisfazer as suas necessidades.

● Entende-se por necessidade um estado psicológico de insatisfação por um desejo


de alcançar um meio de fazer cessar uma sensação desagradável provocando uma
sensação agradável.
⮚ Do conceito de necessidade integram-se os seguintes elementos:

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1. Insatisfação psicológica;
2. Conhecimento da existência de um meio suscetível de a fazer cessar;
3. Acessibilidade a esse meio;
4. Determinação de possuir esse meio.

● As necessidades primárias/essenciais são aquelas que decorrem da própria


natureza humana. São sentidas por todos e indispensáveis à sobrevivência (ex: o ar,
a água, a comida, etc.).

● As necessidades secundárias/de civilização são subjetivas. Aumentam


constantemente por fatores publicitários, de clima, de imitação social, de inovação
tecnológica, etc. Não resultam da natureza humana, variando de individuo para
individuo e de época para época, podendo ou não existir. (ex: o homem sente
necessidade de se deslocar de automóvel.).

● As necessidades individuais e coletivas distinguem-se consoante sejam sentidas


pelo Homem, independentemente ou não da vida em sociedade. Neste sentido,
será necessidade individual, por exemplo, a necessidade de alimentação e, será
uma necessidade coletiva, a de ter disponível uma eficaz rede de transportes ou
comunicações.

4. Bem económico:
● Um bem económico é todo e qualquer elemento apto à satisfação das
necessidades económicas do homem.
Para ser considerado um bem económico são necessárias quatro condições:
1. Existência de uma necessidade;

2. Existência de um objeto considerado apto para satisfazer essa mesma necessidade;

3. Acessibilidade: é essencial que o bem seja acessível ao Homem, ou seja, importa


que esse elemento possa ser aplicado na satisfação das necessidades humanas;

4. Raridade: os bens que existem em quantidades ilimitadas e que podem, por isso,
satisfazer até a saciedade não são bens económicos, mas sim bens livres. O que
distingue os bens livres dos bens económicos é determinado pelo facto destes
últimos existirem em quantidades inferiores às necessidades humanas. A raridade
tem então como fundamental consequência que para o homem utilizar um certo
bem económico é-lhe imposto algum esforço para o obter. Nas sociedades
modernas, baseadas nas trocas monetárias, a manifestação desse custo é o preço
dos bens.

5. Tipologia dos Bens:

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a) Bens produzidos: resultam de uma ação exercida pelo Homem, portanto, existem
em virtude da atividade humana (ex: um livro).

b) Bens naturais: existem independentemente da ação do homem (ex: a água).

c) Bens diretos (ou bens de consumo): podem ser utilizados imediatamente na


satisfação de uma necessidade ou porque são naturais ou porque atingiram a sua
última fase de transformação (ex: fruta e relógio, respetivamente).

d) Bens indiretos (ou bens de produção): são aqueles que, de forma imediata, não são
utilizáveis pelo homem pelo que, em si mesmos, não satisfazem nenhuma necessidade.
Desta forma, os bens indiretos dividem-se nos bens ditos potenciais que necessitam de ser
previamente transformados para poderem ser utilizados (ex: matérias-primas), e nos bens
instrumentais que servem para produzir outros bens; são instrumentos de produção (ex:
máquina).

e) Bens substituíveis: são aqueles que podem ser utilizados pelo consumidor na
satisfação da mesma necessidade económica.

1. Bens fungíveis: são os bens cuja substituição é perfeita, sendo indiferente ao


consumidor usar o bem A ou o bem B (ex: os exemplares da mesma edição).

2. Bens sucedâneos: possibilitam a substituição de necessidades ou bens, mas


essa substituição é imperfeita, não sendo indiferente ao consumidor o uso de
um ou de outro bem. O bem substituto proporciona um grau de satisfação
inferior ao do bem substituído (ex: manteiga e margarina).

f) Bens complementares: são aqueles que têm de ser utilizados em conjunto para a
satisfação de uma necessidade. Essa complementaridade pode ser absoluta,
quando tem origem em razões de origem técnica (ex: carro/pneus) ou relativa,
quando tem origem em razões de ordem psicológica, dependendo do gosto dos
consumidores. (ex: café/açúcar).

g) Bens de consumo: são aqueles que, com a sua utilização, deixam de existir como
bens da mesma espécie sendo, portanto, suscetíveis de uma única utilização (ex:
produtos alimentares; matérias primas).

h) Bens duradouros/de produção: são os bens que podem ser utilizados diversas
vezes pois cada utilização não implica a sua destruição. (ex: livros ou máquinas).

i) Bens não duradouros: são bens cuja utilização significa a sua destruição (ex: bens
de consumo).

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j) Bens duráveis: são os bens que podem ser armazenados sem se deteriorarem (ex:
toos os bens duradouros e alguns consumíveis - conservas).

k) Bens perecíveis: são bens que não podem ser armazenados pois o tempo altera as
suas qualidades (ex: legumes, frutas, flores).

l) Bens presentes: são aqueles que existem num determinado momento e acham-se
aptos nesse momento para a satisfação das necessidades.

m) Bens futuros: são aqueles que não têm ainda existência ou aptidão bastante num
certo momento, mas são esperados.

6. Utilidade económica:
● Os bens económicos, abrangendo bens materiais e serviços, constituem os meios
adequados à satisfação de necessidades económicas, permitindo, pelo seu
emprego, a obtenção de sensações de prazer ou afastamento de sensações
dolorosas. A suscetibilidade dos bens económicos satisfazerem necessidades
designa-se por: utilidade.

● Portanto, a utilidade económica consiste na especial vocação dos bens económicos


para satisfazerem necessidades. Sendo assim, a utilidade económica resulta da
posição de um ou mais sujeitos económicos que sentem necessidades e querem
satisfazê-las através do emprego de certos bens.

Utilidade total: a utilidade total de um bem é a utilidade do conjunto de bens que


podemos utilizar na satisfação das nossas necessidades. Assim, qualquer bem adicional
faz aumentar a utilidade total.

Utilidade marginal: a utilidade marginal de um bem é a utilidade da última dose de um


bem disponível para a satisfação de uma necessidade.
Exemplo:
Ao comprar: 1ª camisola – o grau de satisfação é o mais elevado;
2ª camisola – o grau de satisfação é elevado, mas menor;
3ª camisola – o grau de satisfação continua a diminuir;
4ª camisola – o grau de satisfação foi ainda menor. (é esta a ultima
dose uma vez que o consumidor atingiu o ponto de saciedade: está satisfeito com
as três camisolas que possui, não necessitando de mais nenhuma)
5ª camisola – não é necessária porque a necessidade está satisfeita,
logo, o consumidor racional recusa-a.

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● Concluindo, a utilidade total vai aumentando, pois, a utilidade (o bem-estar)


proporcionada por duas camisolas é superior à utilidade proporcionada por uma
camisola.

● Em contrapartida, a utilidade marginal vai diminuindo, pois, a satisfação sentida


com a terceira camisola é inferior àquela que foi sentida com a segunda, ou seja, a
utilidade marginal diminui porque a intensidade da necessidade vai diminuindo.

7. Custo económico:
● A utilidade dos bens económicos tem o seu reverso no respetivo custo de
aquisição. Desta forma, quando os bens nada custam a adquirir tratam-se de bens
livres, não económicos.

● O conceito de custo económico envolve duas componentes: uma positiva e outra


negativa.

● A componente positiva consiste na energia física e intelectual desenvolvida pelo


Homem para produzir o bem.

● A energia negativa traduz o sentimento de sacrifício, de pena, com que é


desenvolvida essa atividade económica.

● O conceito de custo económico é essencialmente subjetivo, pois varia de pessoa


para pessoa e de atividade para atividade. Há atividades onde a sensação de
penosidade não se verifica, pelo que nesses casos o custo terá apenas a sua
componente positiva.

8. Valor dos bens:


● Por valor entende-se uma apreciação, ou juízo, de um sujeito económico sobre
determinado bem. Tal juízo depende do custo e da utilidade conjuntamente.

● Adam Smith defende a Teoria do Valor-Trabalho ao fazer depender o valor dos bens
do seu custo de produção. O custo de produção corresponde para o produtor ao
preço da terra, do trabalho e o capital que foram utilizados na produção. Assim,
sendo o trabalho o principal fator de produção, é ele a fonte do valor dos bens.

● Distingue depois os conceitos de preço corrente (o preço dos bens no mercado) e


de preço natural (o preço correspondente ao custo de produção). E conclui que,
numa economia de mercado, existe uma tendência inevitável para o preço corrente

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se equivaler ao preço natural, ou seja, para que o preço dos bens no mercado
corresponda ao valor do respetivo custo de produção.

● De facto, uma alta de preços acima do custo (preço corrente superior ao preço
natural) proporciona lucros acrescidos aos produtores, fazendo, por isso, aumentar
a produção. Com o aumento da oferta, o preço no mercado terá tendência para
baixar, aproximando-se do custo de produção.

● David Ricardo acrescentou outras ideias inovadoras. Desde logo divide os bens em
reprodutíveis e em não reprodutíveis.

⮚ Quanto aos bens não reprodutíveis, como as obras de arte, o seu valor
depende da raridade e dos gostos daqueles que as desejam possuir.
Naturalmente que, aqui, o seu valor dependerá da utilidade esperada.

⮚ Os bens reprodutíveis são os bens que o trabalho do homem pode


reproduzir-se em quantidades ilimitadas, como uma mesa, e, aos quais se
aplica a teoria do valor-trabalho enunciada por Adam Smith.

● Segundo a visão marxista, Karl Marx afasta do custo de produção todos os


elementos alheios ao fator de produção trabalho que, para ele, é o único fator de
produção importante. Assim, o valor dos bens resulta do facto de serem produto
do trabalho humano e, a medida desse valor está na quantidade de trabalho.

● A formação do capital e a apropriação da terra não contribuem, portanto, para o


custo de produção. Marx considera que parte do preço que os capitalistas tiram
para si é uma mais-valia capitalista correspondente a um sobretrabalho.

9. Três problemas económicos fundamentais:


1. Que bens produzir e em que quantidades.
A sociedade tem que escolher entre milhares de bens e serviços e quais as quantidades
em que os vais produzir.
Qualquer país dispõe, num determinado momento histórico, de certos elementos
produtivos: trabalhadores terras, fábricas, tecnologia, capital. Assim, ao decidir que
bens produzir, a sociedade está a decidir como é que esses recursos vão ser utilizados
na produção de milhares de bens e serviços.

2. Como produzir esses bens.

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É indispensável levar a cabo uma escolha eficiente dos métodos produtivos. Se a


economia fizer as escolhas acertadas ficará mais perto da sua fronteira das
possibilidades de produção.
A eficiência produtiva verifica-se quando uma economia não pode aumentar a
produção de um bem sem reduzir a de outro, ou seja, está rigorosamente em cima da
linha de fronteira de produção.

3. Para quem produzir os bens.


Trata-se de saber como serão distribuídos os bens que foram produzidos e, como deve
ser repartida a riqueza gerada no país.
A riqueza produzida irá ser distribuída pelos cidadãos de forma equitativa ou desigual?
A questão acerca da justiça ou injustiça na repartição da riqueza é precisamente
analisada no âmbito deste terceiro problema económico fundamental.

Resposta aos problemas económicos fundamentais:


● Para o primeiro problema a resposta é dada pelos consumidores quando
diariamente fazem as suas escolhas económicas, optando por comprar o bem A ou
o bem B.
Se num certo mercado a procura agregada aumenta, a oferta será insuficiente para
satisfazer todas as necessidades já que as empresas planeiam a produção dos bens em
função da procura esperada.
Perante este cenário, o preço terá tendência para aumentar pois, só assim, se fará a
seleção entre a procura excessiva.
A subida dos preços fará aumentar os lucros das empresas, aumentando a produção:
quanto maior quantidade de bens produzir e vender àquele preço, mais lucros obterá a
empresa e o lucro é o seu objetivo principal.

● Para o segundo problema a resposta é fornecida pela concorrência entre as


empresas. Na economia de mercado as empresas não controlam os preços. Estes
formam-se no mercado em função da oferta e da procura.
Quanto menos eficiente for a produção, maiores serão os custos de produção da
empresa e, consequentemente, menores serão os ganhos.
Quanto mais eficientes forem os métodos de fabrico, menores serão os custos e
maiores serão os ganhos.

● Para o terceiro problema é necessário saber como é repartida a totalidade do


produto nacional entre os indivíduos e as famílias. A distribuição da riqueza na
economia de mercado é realizada por 4 vias diferentes:

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1. pelos salários pagos aos trabalhadores;


2. pelas rendas pagas aos proprietários;
3. pelos juros dos capitalistas;
4. pelos lucros dos empresários.

10.Fatores produtivos:
1. Terra: que consiste no solo utilizado nas atividades rurais ou na implantação de
estradas ou edifícios. Corresponde, também, aos recursos naturais como o
petróleo, o carvão, o sol e o vento.
⮚ Remuneração da terra: renda.

2. Trabalho: é o tempo humano consciente despendido na produção de um bem.


⮚ Remuneração do trabalho: salário.

3. Capital: são as disponibilidades monetárias produtivas. Consiste em bens duráveis,


produzidos pela economia para serem empregues na produção de outros bens (ex:
máquina industrial).
⮚ Remuneração do capital: juro.

11.Funções económicas do Estado:


Eficiência:
Visa corrigir as falhas do mercado em situações de monopólio, oligopólio e
externalidades.
⮚ Monopólio: situação em que uma única empresa detém o mercado de um
determinado produto ou serviço.

⮚ Oligopólio: situação em que existe mais que uma empresa que detém o
mercado de um determinado produto ou serviço (ex: telemóveis – Samsung,
Apple, etc.)

⮚ Externalidades: verificam-se sempre que empresas ou pessoas impõem custos


ou benefícios a outras sem pagar a respetiva indemnização ou efetuar o devido
pagamento.

❖ Um custo sem pagar a respetiva indemnização é uma externalidade


negativa. Esta pode ser a nível local (poluição rio Leça) ou mundial (buraco
na camada de ozono).

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❖ Se há um beneficio e não é pago nenhum tipo de pagamento por esse


beneficio então há uma externalidade positiva (ex: criação de postos de
trabalho num hospital, escola, etc.).

Equidade:
É uma preocupação da sociedade em relação aos mais desfavorecidos, através de
politicas sociais de redistribuição (ex: medidas de segurança social, como o subsidio de
desemprego, fundo comunitário da EU, etc.).

Estabilidade:
É uma preocupação de qualquer país promover o crescimento económico e manter
uma balança comercial se não favorável, pelo menos, equilibrada, combatendo as altas
taxas de juro e o desemprego, promovendo o emprego e implementando medidas de
crescimento económico.

12.Evolução do pensamento e dos factos económicos


História do pensamento económico:
Economias primitivas:
As economias primitivas estão formuladas em três estádios:
1. Num primeiro estádio os povos começam por assegurar a sua subsistência
dedicando-se a atividades venatórias (caça e pesca).

2. Num segundo estádio começam a conservar e a domesticar os animais capturados


e dedicam-se, também, à pastorícia.

3. Num terceiro estádio procuram na agricultura o seu meio de subsistência.

● Estas economias primitivas caracterizam-se pela coexistência entre a iniciativa


privada e a pública.

Economias medievais:
O cristianismo e as suas conceções económicas:
● O cristianismo transformou as conceções económicas dos povos convertidos pelo
seu desprendimento de riquezas materiais.

● Trouxe conselhos quanto ao justo preço e ao justo salário. Formulando as teorias


do justo preço e do justo salário:

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⮚ O justo preço é a remuneração equitativa correspondente ao serviço prestado


pelo bem vendido ao respetivo comprador;

⮚ O justo salário é aquele que permitisse ao trabalhador e à sua família viverem


de harmonia com a sua condição e, assim, com uma boa margem para a
constituição de uma pequena reserva para fazer face a necessidades futuras.

13.Correntes mercantilistas:
Deve-se a Adam Smith a designação de mercantilismo. O ouro e a prata vindos da
América levaram à convicção de que a riqueza de um país provém desses materiais.
Tratava-se de acumular esses mesmos metais preciosos no interesse do próprio país na
base de uma política económica traçada pelo poder central.

Mercantilismo Bulionista ou Espanhol:


● Para a Espanha que tinha acesso direto, pelo domínio politico reconhecido por
Roma, ao ouro e prata da América, a orientação mercantilista limitava-se a orientar
a conservação do referido metal precioso.

● O Bulionismo tem, assim, por finalidade a proibição absoluta da saída do ouro e da


prata quer em barra, quer em moeda. Tratava-se de, portanto, de evitar a saída dos
metais preciosos para o estrangeiro, mantendo uma balança comercial favorável.

Mercantilismo Industrial ou Francês ou Colbertismo:


● O objetivo do mercantilismo industrial foi o de captar ouro do estrangeiro através
das exportações.

● França não tinha acesso direto aos metais preciosos encontrados no novo mundo.
Convinha, assim, desenvolver relações económicas que atraíssem para o seu
território os metais preciosos que não tinha acesso.

● Desta forma, Colbert industrializou a França, procurando garantir grandes entradas


de ouro através da venda de produtos manufaturados.

● O fundamental era assegurar o saldo favorável da balança comercial: a saída do


ouro para comprar matérias-primas devia ser inferior à entrada do ouro resultante
das vendas ao estrangeiro. Para tal exigia-se uma forte intervenção do Estado na
economia.

● Assim se pode concluir que, datam desta época a criação das grandes indústrias de
produtos de luxo que ainda hoje caracterizam a economia francesa. Estas indústrias
de bens de luxo correspondem a sedas, tapeçarias, porcelanas, perfumes. Pela
exportação desses artigos, França obtinha, então, os pretendidos metais preciosos.

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Mercantilismo Inglês ou da Balança Comercial ou do Ato de Navegação de


Cromwell de 1650:
● O mercantilismo comercial baseou-se no desenvolvimento da atividade comercial.

● Para alcançar este objetivo a Inglaterra privilegiou o comércio marítimo como o


grande intermediário do comércio mundial.

● O Ato de Navegação de Cromwell atribuiu à marinha inglesa o monopólio do


comércio entre a Inglaterra e os outros países, proibindo que as mercadorias
estrangeiras fossem desembarcadas em portos ingleses por navios que não fossem
nacionais do país.

● A política mercantilista inglesa, como todas as políticas mercantilistas da época,


visou a obtenção e a conservação de metais preciosos.

Mercantilismo em Portugal:
O Mercantilismo em Portugal conheceu duas principais fases:
1. Entre a descoberta do caminho marítimo para a Índia e a perda da independência,
com o predomínio de um mercantilismo comercial e marítimo.
⮚ O comércio de produtos do Oriente praticado por Portugal afetou a posição
comercial das cidades italianas pois o custo do transporte marítimo de tais
produtos era cerca de 1/5 do custo do transporte terrestre.

2. O Mercantilismo Industrial: foi descoberto ouro no Brasil. Este ouro veio permitir o
renascimento económico após a crise da dominação filipina que, entre outras
consequências, implicou a perda da hegemonia portuguesa no comércio
internacional para os holandeses.

⮚ Na fase do mercantilismo industrial importa destacar que o Conde de Ericeira


fundou as indústrias de lanifícios e de calçado. E que foi também criada uma
política de desenvolvimento das indústrias das sedas, da exploração do ferro
exercendo-se, ainda, um apertado controlo sobre o comércio internacional.

14.Fisiocratismo de Quesnay:
● A Fisiocracia teve como ideia fundamental a defesa de uma ordem natural que
comandava a economia. A economia seria dirigida por leis naturais que, tendo
origem divina, seriam, por isso mesmo, inalteráveis. A vontade e a ação do Homem
não as podiam contrariar. A figura mais destacada do fisiocratismo foi François
Quesnay.

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O pensamento fisiocrático repousa em duas ideias fundamentais:


1. A agricultura é a única atividade económica criadora de riqueza, já que as outras
apenas a transformam (indústria) ou transportam (comércio).

● Para os fisiocratas só há riqueza nova quando há criação de matéria nova: o homem


recebe da terra um bem novo (trigo) diferente do bem que a terra lançou
(semente). Daí a criação de riqueza nova, de matéria nova, que antes não existia na
economia.

● Desta forma, a Indústria não cria riqueza nova apenas transforma a matéria já
existente e, o comércio também não cria riqueza nova só a transporta, facilitando o
acesso dos consumidores aos bens produzidos.

● Pelo contrário, a Agricultura proporciona ao homem um produto liquido – o valor


do bem que a terra entrega à sociedade (o alor do trigo) é superior ao valor dos
bens utilizados na sua produção (o valor das sementes e dos adubos).

2. O Estado não deve intervir na economia, pois tal intervenção será sempre
perturbadora da ordem natural. As únicas tarefas que deviam caber ao Estado
seriam a defesa do território e a administração da justiça.

Segundo Quesnay, a sociedade era composta por três classes sociais:


1. Classe produtiva;
2. Classe dos proprietários;
3. Classe estéril.

1. A classe produtiva seria constituída apenas por aqueles que cultivavam a terra
porque desta provinha toda a riqueza.

2. A classe dos proprietários seria constituída pelos donos das terras e dos outros
bens de produção.

3. A classe estéril inclua todos aqueles que se dedicavam a todas as outras


atividades diversas da agricultura (ex: a indústria e o comércio), o que não
significa que estas não sejam necessárias, mas são alheias à terra e por isso não
criam riqueza nova. Apenas da agricultura resulta um produto, conjunto do
trabalho, do produtor e das forças da natureza.

● Sendo a terra a única criadora de riqueza nova e de um produto liquido, deveria ser
apenas pela terra que se deveria incluir um imposto, não no sentido de prejudicar
os agricultores, pois, segundo o fisiocratismo, os agricultores deveriam transferir o
peso económico do imposto para todos os outros setores que consumissem os
produtos agrícolas.

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15.Adam Smith (Escola Clássica Inglesa Otimista):


● A construção de Adam Smith assenta no pressuposto da existência de uma ordem
natural da economia. Sendo convictamente contra a intervenção do Estado que não
deve exercer tarefas económicas.

● Para Adam Smith, é a mão invisível que assegura o equilíbrio e o bem-estar


coletivo. Este equilíbrio resulta naturalmente da livre concorrência entre os agentes
económicos no mercado.
Desta forma, o modelo económico liberal repousa em dois grandes princípios:
1. Liberdade da empresa, isto é, liberdade de iniciativa privada, sendo permitido a
qualquer um dedicar-se à atividade económica que melhor lhe aprouver.

2. Liberdade de concorrência: a liberdade de ação dos sujeitos económicos é uma


condição indispensável para o progresso social.

● Portanto, para Adam Smith, os governantes deveriam abster-se de intervir na vida


económica.

● Segundo Adam Smith, as tarefas do Estado prendem-se apenas com a defesa


nacional, a administração da justiça e as infraestruturas indispensáveis ao
funcionamento da economia.

● De realçar que ele criticou o protecionismo estadual. Seria através do livre


cambismo, pela ampla circulação de mercadorias e valores entre as nações que se
conseguiria um alto nível de bem-estar económico.
O estado deveria, ainda, acertar as despesas públicas nos impostos. Quanto aos
impostos anunciou quatro regras:
1. Regra da justiça: cada um deve contribuir para o Estado na proporção das suas
possibilidades.
2. Regra da certeza: o montante do imposto deve ser claramente definido de modo a
não deixar margem para dúvidas ou para critérios menos transparentes.
3. Regra da comodidade: o imposto deve ser cobrado nas épocas e pelos meios mais
convenientes para os contribuintes.
4. Regra da economia: o imposto absorverá a menor parcela possível do património
do contribuinte.

● Enquanto que os fisiocratas atribuíram posição cimeira ao fator de produção terra,


para Adam Smith o fator produtivo dominante é o trabalho.

17
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Um país será tão mais rico quanto maior for a produtividade da sua força de
trabalho e não por motivos relacionados com a acumulação de metais preciosos,
como erradamente pensavam os mercantilistas.

● Adam Smith formulou, pela primeira vez, a classificação dos fatores de produção:
terra, trabalho, capital. Destacando o trabalho como o mais importante uma vez
que, sem ele todos os outros fatores seriam inúteis.

● Por outro lado, se o trabalho está na origem da riqueza, o progresso económico


depende da divisão do trabalho, o que significa que cada trabalhador deve escolher
a profissão para a qual tenha melhores aptidões e especializar-se apenas nessa
atividade sem se dedicar a várias.

● Desta forma, todos os Estados pela divisão do trabalho, pela especialização e pela
livre troca de produtos entre eles, alcançariam os mais elevados níveis de
progressos.

16.Malthus (Escola Clássica Inglesa Pessimista):


● A importância económica da obra de Malthus está relacionada com a análise da
relação entre o crescimento da população e a produção agrícola de bens
necessários para a alimentar.

● Para Malthus a miséria da maioria da população é um fenómeno natural, e com


tendência para um contínuo agravamento, na medida em que é consequência
direta da diferença entre o ritmo de crescimento da população e o ritmo de
crescimento da produção agrícola.

● Até ao século XIX as guerras e epidemias tinham dizimado a população e


consequentemente tinham posto um travão no crescimento da humanidade.
Por isso, para o futuro, Malthus defendeu duas medidas:

1. O Estado devia diminuir a política de assistência social aos mais desfavorecidos.


Entendia Malthus que embora fossem medidas bem-intencionadas, eram
contraproducentes pois asseguravam meios de subsistência a quem os não tinha
permitindo-lhes casar, ter filhos, multiplicando assim a miséria.

2. Mais importante seria o controlo dos nascimentos. Só os cidadãos com recursos


suficientes para assegurarem o sustento dos seus filhos é que deveriam constituir
família. Os outros deveriam abster-se de casar.

17.Escola Clássica Francesa de Jean-Baptiste Say:


● Jean Baptiste Say foi o autor mais destacado da Escola Clássica Francesa.

18
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Ele partiu das mesmas ideias de Adam Smith – ordem natural da economia, livre
iniciativa privada, livre concorrência, não intervenção do Estado na economia – mas
criticou o conceito de produção.

● Para Adam Smith, o trabalho, principal fator de produção, dividia-se por: trabalho
produtivo (fabricação de bens materiais) e improdutivo (o trabalho dos
funcionários, das profissões liberais, os serviços).

● Say, pelo contrário, inclui no trabalho produtivo a produção de todos os bens,


materiais e imateriais, dado que estes últimos são também objeto de transação no
mercado, estando, por isso, sujeitos à lei da oferta e da procura.

● Com base nestas ideias, Say defendeu uma teoria do valor dos bens
(valor-utilidade) diversa da de Smith (valor-trabalho): o valor depende não só do
custo de produção (que influencia a oferta), mas também da utilidade dos bens, do
serviço que eles prestam ao homem (que influencia a procura).
● Esta visão relativa à produção económica e ao valor dos bens consumou a base
para as suas duas principais teorias: teoria da produção e lei dos mercados.

● A teoria da produção de Say desenvolve-se a partir do principio de que, sendo a


produção a criação de utilidades económicas, ela é concretizada através da
conjugação de três fatores de produção: a terra (e os outros elementos naturais), o
trabalho (o esforço do homem dedicado à produção) e o capital (as
matérias-primas, os instrumentos de produção e a moeda necessária para comprar
todos os fatores de produção).

● A sua contribuição de maior relevo para a evolução do pensamento económico foi


a lei do mercado: no mercado, os produtos trocam-se por outros produtos e, a
moeda é apenas a intermediária dessas trocas.
● Ao defender que a moeda desempenha apenas essa função, Say tem uma visão
redutora da moeda, pois os sujeitos económicos não utilizam a moeda só para a
compra de bens no mercado, mas também para a entesourarem, ou seja, para
constituírem reservas de valores.

● Say defende, também, que se deve desenvolver a mecanização das empresas uma
vez que, quanto maior for a produção, maior será o nível de satisfação das
necessidades, não sendo possível, desta forma, uma crise de sobreprodução.

● Quando há produção em excesso ou em falta face às necessidades da procura, o


mercado resolverá automaticamente este desequilíbrio através do mecanismo dos
preços.

18.David Ricardo (Teoria do Salário e Teoria da Renda):

19
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Segundo a teoria do salário, David Ricardo afirma que todos os bens têm um preço
corrente e um preço natural.

● O preço natural deveria corresponder ao mínimo necessário à sobrevivência do


trabalhador, de forma que lhe permitisse constituir uma família e reproduzir-se.
Assim, o mínimo de subsistência era constituído pela quantidade de bens e artigos
de primeira necessidade que o trabalhador, por costume, tinha como
indispensável.

● O preço corrente era o resultado do encontro entre a oferta e a procura de


trabalho no mercado, ou seja, o salário recebido pelo trabalhador.

● Tal como acontece com todos os bens, também com o trabalho do homem existe,
segundo David, uma tendência inevitável para o preço corrente se aproximar do
preço natural.
Deste cenário se extrai a conclusão pessimista da teoria do salário:
⮚ Existe uma tendência natural, logo inevitável, para que os salários se situem a
um nível muito baixo, contribuindo, assim, para as péssimas condições de vida
da maioria da população.

● A teoria da renda seria o beneficio dos agricultores das terras mais férteis em
relação aos outros agricultores.

● Quando o homem deixou de ser nómada para se fixar à terra vivendo do seu
cultivo, escolheu, naturalmente, as melhores terras, ou seja, as que tendo maior
qualidade, mais e melhor produzem. Logicamente que com o crescimento da
população tornou-se necessário produzir cada vez mais.

● O homem foi assim obrigado a alargar a área de cultivo para terras que
apresentam, agora, menor qualidade, o que implicou um maior esforço, logo um
maior custo de produção.

⮚ Os agricultores das terras mais férteis cultivam com um custo de produção de


100, os de média fertilidade cultivam com um custo de produção de 150 e, os
de baixa fertilidade, cultivam com um custo de produção de 200.

● O preço no mercado irá formar-se em função do custo de produção mais alto, o que
permite um beneficio adicional para os proprietários das terras mais férteis.

● Concluindo, existe uma tendência natural para o continuo aumento dos preços dos
bens agrícolas. E, só um grupo de pessoas lucra com essa situação: os proprietários
das terras.

20
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

19.As criticas ao liberalismo:


Durante o século XIX multiplicaram-se as doutrinas criticas do liberalismo que podem
ser distribuídas por três grandes grupos:

1. Doutrinas que, sem porem em causa os princípios fundamentais da economia de


mercado, nomeadamente a propriedade privada, criticam as ideias liberais em
determinados aspetos concretos como seja o livre cambismo ou a não intervenção
do Estado na economia. Procuram melhorar o sistema de mercado e não
substituí-lo:
● A corrente nacionalista de Frederico List;
● A corrente Sentimental de Sismondi.

2. Doutrinas socialistas cujo principal objetivo é a defesa de um novo modelo


económico, radicalmente diferente do modelo da economia de mercado,
condenando assim a propriedade privada, a livre concorrência e o trabalho
assalariado:
● O Socialismo utópico;
● O socialismo Marxista de Karl Marx.

3. Doutrinas influenciadas pelo pensamento cristão que, simultaneamente, criticam o


liberalismo e o socialismo:
● A Reforma social de Le Play;
● A doutrina social da Igreja.

Escola de Reações Nacionalistas – Alemanha:


● As reações contra o liberalismo iniciaram-se com os economistas alemães. O
liberalismo de Adam Smith servia essencialmente os interesses da Inglaterra, em
consequência do desenvolvimento das suas indústrias.
1. Adam Muller;
2. Frederico List.

Adam Muller:
● Segundo Adam Muller, a propriedade da terra só poderia entender-se no interesse
de toda a comunidade. Os interesses e os direitos individuais subordinavam-se ao
interesse comum.

● A riqueza não residia nos bens materiais, mas antes nas forças suscetíveis de
assegurar essa mesma produção. Os valores imateriais também se incluíram nessa
riqueza.

Este enunciou 4 fatores de produção:


1. Terra;
2. Trabalho;
3. Capital material;

21
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

4. Capital espiritual.

● Para Muller, a liberdade do comércio era incompatível com os interesses da


Alemanha na época, servindo, apenas, os interesses da Inglaterra.

Teoria das forças produtivas de List:


● A corrente nacionalista teve lugar na Alemanha quando se colocou a questão das
relações económicas com o exterior.

● Devido ao facto de ser um país economicamente atrasado, dado que a Revolução


Industrial aí chegou mais tarde do que a outros países europeus, a Alemanha
sempre conheceu um forte intervencionismo estatal na economia decorrente de
governos autocráticos das ideias liberais que vingavam em Inglaterra e em França.

● Na reação nacionalista contra o liberalismo destacou-se Frederico List que


desenvolveu uma teoria assente nas seguintes ideias:

⮚ O livre cambismo serve os interesses económicos de Inglaterra, país mais


desenvolvido, não serve os interesses da Alemanha, país essencialmente
agrícola.

⮚ Face ao atraso industrial, a Alemanha devia praticar um protecionismo


aduaneiro (barreiras alfandegárias), para garantir o seu desenvolvimento.

● Se a Alemanha deixasse entrar livremente os produtos ingleses, estes com preços


mais baixos e com melhor qualidade do que os produzidos no país, impediriam o
crescimento da indústria alemã.

● Só o protecionismo aduaneiro, com as barreiras aos produtos estrangeiros,


tornando-os mais caros, é que permitiria o desenvolvimento da indústria nacional
que estava agora a dar os seus primeiros passos.

● O sacrifício que é pedido ao povo alemão será compensado pelo benefício que a
geração seguinte irá usufruir.

● O protecionismo aduaneiro defendido por List é transitório, daí ser designado de


protecionismo aduaneiro educativo, isto é, para permitir que a indústria nacional
alemã se pudesse desenvolver e crescer.

● Assim, para List, as indústrias alemãs teriam que ser protegidas por fortes barreiras
aduaneiras até alcançarem o nível suficiente para fazer face à concorrência de
outros terceiros países.

22
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Esta seria uma teoria que definia os fatores suscetíveis de assegurar a continuidade
no ritmo de produção. Estes fatores não respeitariam só os bens materiais, quer
bens diretos ou indiretos, mas também a instituições politicas e jurídicas.

● Era inaceitável a construção de Adam Smith, que se cingia aos bens materiais e que
considerava improdutivos os cientistas, os professores, os diplomatas e os médicos
que, embora não produzam bens materiais, concorrem para o desenvolvimento das
forças produtivas da nação.

O intervencionismo de Sismondi e a legislação laboral:


● A corrente sentimental reagiu contra o liberalismo por força da contradição visível
entre a ordem natural da economia, fonte de progresso e bem-estar, de acordo
com os liberais, e a miséria das classes trabalhadoras no inicio do séc. XIX, em
consequência dos baixos salários, das 15/16h por dia de trabalho em condições
desumanas, 6 dias por semana e o elevado trabalho infantil com a utilização
indiscriminada das crianças nas fábricas.

● Crítica, pois, o alheamento do Estado face a estes problemas, exigindo a sua


intervenção na economia. Defende, então, os seguintes pontos:

1. Defesa da intervenção do Estado no campo laboral:

● O esforço contínuo da concorrência exige às empresas a permanente diminuição


dos custos e o fator de produção, cujo custo mais facilmente pode ser reduzido
pelas empresas, é o fator de trabalho. Os baixos salários, o trabalho infantil, o
desemprego e o aumento do horário de trabalho são meios eficazes para a
diminuição do custo de produção das empresas.

● O que Sismondi exige é a intervenção do Estado no mundo do trabalho através de


uma legislação que estabeleça regras na sua organização, sobretudo, no que diz
respeito ao trabalho infantil, ao horário de trabalho, etc. Por este motivo, Sismondi
é considerado o pai da legislação laboral dos nossos dias.
2. Defesa da intervenção do Estado na distribuição da riqueza:

● A política da distribuição da riqueza tinha em vista a correção das desigualdades


sociais. Sismondi critica os liberais por terem centrado as suas atenções na
produção de riqueza em detrimento da sua distribuição.

● O Estado devia, pois, intervir para tornar mais justa essa distribuição, garantindo
rendimentos a quem não os tinha: os desempregados, os doentes e os idosos.
Sismondi foi, assim, o defensor de uma política de proteção social, nas vertentes do
desemprego, da velhice e da doença.

3. Defesa da propriedade privada e da economia de mercado:

● Sismondi defendeu a propriedade privada e o regime de economia de mercado.


23
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● O modelo da pequena propriedade com a união entre o trabalho e a propriedade


(ou seja, proprietário e trabalhador são a mesma pessoa) é para si o mais
apropriado.

4. Limitação do uso das máquinas:

● Sismondi considerou que as crises de sobreprodução eram geradas por 2 fatores:

1. O progresso contínuo da industrialização levando a um aumento da produção


das empresas.

2. O fraco poder de compra das populações em virtude dos baixos salários e do


elevado desemprego.

● Isto significava que cada vez as empresas produziam mais, mas essa produção não
era vendida no mercado pela ausência de compradores.

● Perante esta situação, Sismondi exigiu que o Estado controlasse e limitasse o uso
das máquinas, defendendo a maior utilização de mão de obra.

20.Pensamento socialista:
1. Reações socialistas:

● As reações socialistas surgiram devido à extrema miséria das classes operárias em


consequência da industrialização.

● Os salários dos trabalhadores eram bastante reduzidos e a situação ainda foi


agravada, no plano social, pelos hábitos de luxo ostentados pelos novos ricos
benificiários dessa mesma industrialização.

Socialismo utópico:
● O associacionismo correspondeu a um conjunto de ideias que se esforçaram por
encontrar um modelo de sociedade que suprimisse as injustiças do sistema
capitalista.

● Teve como ideia fundamental a substituição do principio liberal do individualismo


económico pelo principio da associação entre os homens.

● Robert Owen foi um riquíssimo industrial escocês que, nas suas fábricas, proibiu o
trabalho infantil e diminuiu o horário de trabalho de 17 para 10 horas por dia.

24
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

Utilizou a sua fortuna para financiar um modelo económico baseado na


propriedade comum dos meios de produção.

● Segundo ele, o lucro era a principal causa das desigualdades sociais, de forma que,
se abolisse o lucro desapareceriam tais desigualdades. Ora, como o lucro se
expressava em moeda, o fim da moeda implicaria o fim do lucro.

● Para concretizar esta ideia criou armazéns de troca de trabalho, onde os sociais
trocavam a sua produção por vales de trabalho que depois utilizavam na compra
dos bens de consumo.

● Esta experiencia falhou, contudo, não impediu um modelo de empresa cooperativa


destinado à compra de bens de consumo.

● Os 28 operários que foram os pioneiros a estabelecer o principio da repartição dos


lucros proporcionalmente às compras de cada sócio continua hoje a constituir um
ponto fundamental do movimento cooperativo.

● O contribuo de Robert Owen para a evolução das ideias económicas é justamente


de ter sido o embrião de um novo modelo de empresa, totalmente distinto da
empresa privada, que é a empresa cooperativa.

O materialismo histórico e o socialismo:


O materialismo Histórico de Karl Max e as suas teorias económicas inspiradas em David
Ricardo
● O Marxismo procura demonstrar que o capitalismo representa uma fase histórica
da evolução da humanidade a que se seguirá, inevitavelmente, o socialismo e
depois o comunismo.

● As relações de produção capitalistas, baseadas na apropriação privada dos meios


de produção, cederão o seu lugar às relações de produção socialistas caracterizadas
pela apropriação coletiva dos meios de produção.
● Esta evolução é comandada pela luta de classes que, segundo Marx, é o verdadeiro
motor da história.

● Para o marxismo, o capitalismo é então um regime socialmente injusto, mas que


está, como referido, historicamente condenado.
Esta construção de Karl Marx assenta em 2 teorias fundamentais:
1. A da concentração capitalista;
2. A da mais valia.

Teoria da mais-valia:
● O caráter socialmente injusto do regime capitalista resulta da exploração do
homem pelo homem e é explicado através da teoria da mais-valia.

25
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Existe uma clara diferença entre o valor dos bens vendidos no mercado pelo
capitalista e o salário pago ao operário, ou seja, há uma diferença entre o valor do
tempo de trabalho (salário) e o valor criado por esse tempo de trabalho.

● Na realidade, a lei da propriedade privada assegura aos capitalistas a propriedade


sobre os bens produzidos nas fábricas, o produto do trabalho dos operários, que
depois é vendido pelos capitalistas por um valor necessariamente superior aos
salários pagos, pois doutra forma a empresa daria prejuízo e a lógica das empresas
privadas é o lucro e não o prejuízo.

● Essa diferença corresponde à mais-valia que surge deste modo como a expressão
monetária do lucro do capitalista.

● É precisamente aqui que radica o caráter explorador e injusto do regime já que os


capitalistas conseguem auferir rendimentos sem trabalhar. Esta exploração só
terminará quando acabar o principio da propriedade privada.

● Este conceito de mais-valia está associado ao conceito de sobretrabalho que


corresponde, na lógica marxista, ao trabalho não remunerado.
● O sobretrabalho dá origem à mais valia pois aquilo que o trabalhador produz por
dia na fábrica tem, no mercado, um valor correspondente a, por exemplo, 6 horas
de trabalho e, na realidade, o trabalhador trabalha não 6, mas sim 12 horas por dia,
pelo que as restantes 6 horas correspondem a trabalho não remunerado. Em suma,
a fonte de lucro do capitalista.

Teoria da concentração capitalista:


● O regime capitalista está historicamente condenado porque é inevitável a
passagem do capitalismo para o socialismo.

● Esta inevitabilidade resulta do facto de o capitalismo vir a ser destruído pelas forças
que ele próprio gerou, isto é, são as próprias leis do seu funcionamento que
conduzirão à sua destruição. Para demonstrar tal ideia, Marx formulou a Teoria da
Concentração Capitalista.

● A lógica da empresa privada é o lucro. O objetivo de qualquer empresa é, pois, o de


aumentar a sua dimensão, para ver também aumentados os seus lucros.

● O processo de crescimento capitalista é feito à custa das outras empresas, através


do processo de concentração capitalista.

● O processo de concentração tem como imediata consequência a progressiva


diminuição do número de empresas (logo, de capitalistas) e o aumento do número
de assalariados, pois, os empresários cujas empresas foram absorvidas ou expulsas
do mercado tornaram-se empregados das empresas que sobreviveram e
cresceram.

26
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Por outro lado, o esforço contínuo de aumento dos lucros, assegurado através da
diminuição dos custos de produção e de métodos mais eficazes de produção,
obriga as empresas a envolverem-se em processos de mecanização.

● A industrialização, com a substituição dos homens pelas máquinas, gera


desemprego e o desemprego, com o aumento da oferta de trabalho, é a melhor
garantia para baixos salários.

● Por um lado, tínhamos os empresários, os capitalistas benificiários dessa


industrialização, cada vez mais ricos e poderosos. Pelo contrário, tínhamos os
trabalhadores, cada vez mais pobres, o que estaria na origem das crises
económicas uma vez que faltava poder de compra às massas para absorverem os
bens produzidos.

● O número de proletários crescia sempre e, num determinado momento, esses


mesmos proletários, por uma via revolucionária em grande número, fariam cessar
o estado das coisas, entregando à comunidade os meios de produção. Era a
ditadura do proletariado.

21.As doutrinas cristãs


Reações e doutrinas cristãs (frederico Le Play):
● Frederico Le Play foi um dos autores que procurou apresentar uma via intermédia
entre o binómio liberalismo/socialismo, encarando as questões económicas à luz
dos princípios da moral cristã.

Na doutrina da Reforma Social, Frederico tomou como ponto de partida duas grandes
ideias:
1. Intervenção económica do Estado é, em regra, ineficaz, e, portanto, deve
prevalecer a iniciativa privada no campo económico, afastando-se, assim,
radicalmente, os socialistas.

2. O individualismo económico defendido pelos liberais é ilusório, pois, o homem é


um ser social e não um ser isolado que atua a pensar apenas nos seus próprios
interesses. O Homem vive, na sociedade, integrado em comunidades. A primeira e
mais importante das quais é a família e está ligado a elas por um conjunto de
deveres morais e naturais.

● O estudo da estrutura familiar é fundamental na obra de Le Play dado que ao


considerar a família como a célula fundamental da sociedade defendeu que a
coesão e a estabilidade social dependem da coesão e estabilidade familiar. Assim,
tudo o que de bom ou mau for vivido no seio da família repercutir-se-á na estrutura
social.

27
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

Ao estudar os diferentes tipos familiares que se sucederam ao longo dos séculos, Le


Play distinguiu os seguintes:
1. Família patriarcal: em que a autoridade do pate familias é absoluta e em que, à
data da sua morte, todo a sua autoridade, bem como todo o seu património, é
transferido, em bloco, para o filho primogénito, mantendo-se, os restantes, sob
a sua autoridade.

2. Família-tronco: é caracterizada pelo facto de o chefe de família ser livre de


escolher qual dos filhos herdará todo o seu património, optando, deste modo,
pelo mais capaz e competente. Os outros filhos, após a sucessão, abandonarão
a família, constituindo as suas próprias famílias e patrimónios.

3. Família-dispersa: impregnada dos princípios de igualdade, fruto da Revolução


Francesa, implica que em cada geração o património familiar seja dividido em
tantas partes quanto o número de herdeiros. A família perde, geração após
geração, a sua base económica.

● O modelo de família defendido por Le Play foi a família-tronco porque preservava a


base económica da família, não a destruindo a cada geração que passasse e,
porque estimulava o espírito de iniciativa económica, pois os filhos que nada
recebiam viram-se obrigados a formar os seus próprios territórios, garantindo,
assim, o progresso económico.

22.Renovação do pensamento clássico:


● A renovação da Escola Clássica resultou, sobretudo, da obra de dois economistas
ingleses:

1. Alfred Marshall;
2. John Keynes.

Alfred Marshall:
● Marshall recusou a visão, tipicamente clássica, de que existem leis económicas
imutáveis e, por isso, válidas para todos os tempos. Sendo a realidade económica
uma realidade dinâmica, em constante evolução, as leis económicas têm que
acompanhar essa evolução. Há necessidade de, permanentemente, adaptar as
teorias económicas às constantes mutações da economia.

● Marshall introduz o elemento tempo no processo de formação dos preços,


afirmando que se é verdade que o preço no mercado varia em função da oferta e
da procura, também é verdade que a influência de uma e de outra varia consoante
o momento temporal analisado.

● Relativamente à teoria da produção, a sua novidade resulta de uma nova


classificação dos fatores de produção: terra, trabalho, capital e organização.

28
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● A organização consiste na atividade empresarial enquanto núcleo essencial da


economia de mercado.

● Com esta classificação há agora total correspondência dos fatores de produção e as


respetivas remunerações (terra – renda; trabalho – salário; capital – juro;
organização – lucro).

John Keynes:
● O seu nome e a sua obra ficarão para sempre ligados ao advento de um novo
modelo económico, o modelo das economias de mercado mistas.

● As economias mistas, baseadas na iniciativa económica privada, mas com um claro


dirigismo estatal, desenvolveram-se após a Grande Depressão dos anos 30.

● Para Keynes, o objetivo natural de qualquer país é o de procurar alcançar o pleno


emprego das forças produtivas, com vista a obter o maior rendimento possível.

● Keynes demonstrará, então, na sua teoria do pleno emprego, que uma economia
de mercado organizada de acordo com o modelo liberal (sem intervenção do
Estado), é incapaz de atingir o pleno emprego, mantendo-se sempre numa situação
de subemprego dos fatores de produção. Só com a intervenção do Estado é que
esta insuficiência poderá ser superada.

● O rendimento nacional de um país depende, não só de níveis elevados de produção


de bens e serviços, mas também de altos níveis de procura.

● Ora, se a procura for fraca, os preços têm tendência para baixar. As empresas
produzirão então menos quantidades, sendo obrigadas a desinvestir, originando
desemprego e fazendo com que os rendimentos dos particulares diminuam o que
agravará a queda da procura.

● Pelo contrário, se a procura for elevada, as empresas vão produzir mais, investindo
também mais, contratando mais trabalhadores, pelo que haverá mais rendimento
disponível, contribuindo para que a procura se mantenha em níveis elevados.

● A utilização pelos particulares do seu rendimento disponível é então um dos


elementos chave para a “saúde” da economia. Keynes considera que a propensão
para o consumo e o investimento são formas produtivas da utilização do
rendimento pois ambas contribuem para o pleno emprego. Pelo contrário, a
preferência pela liquidez é improdutiva pois não cria empregos, não contribui para
o pleno emprego.

Keynes tem 3 teorias:

29
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

1. Preferência pela liquidez;


2. Eficácia ou Eficiência marginal do capital;
3. Efeito do Multiplicador.

1. Preferência pela liquidez:


● Desejo de possuir moeda em estado liquido (pronta a ser utilizada), não a
canalizando nem para o consumo nem para o investimento, o que é justificado por
3 motivos:

a) Motivo da precaução: a moeda é conservada para fazer face a necessidades


imprevistas;
b) Motivo da transação: a moeda serve para adquirir bens no futuro;
c) Motivo da especulação: a moeda é conservada para fins especulativos.

2. Eficácia ou Eficiência marginal do capital:


● Corresponde à diferença entre os rendimentos esperados pelo capitalista e as taxas
de juro.

● Keynes não acreditava que as taxas de juro mais baixas representassem o


instrumento mais eficaz para estimular o investimento. Keynes determina o
funcionamento do sistema económico capitalista com o aumento da moeda
capitalista em circulação. Para Keynes a eficiência ou eficácia marginal do capital
exprime a relação entre a taxa de juro dos capitais e a reprodutividade dos
investimentos.

● Se a taxa de juro for baixa, os comerciantes e os industriais obterão dos


investimentos realizados, créditos superiores aos juros que têm de pagar,
alcançando, assim, uma margem de lucro.

● Se a taxa de juro for elevada, os empresários, conscientes dos riscos de não


conseguirem rendimentos que cubram os juros, perdem expectativas de lucro e
acabarão por não realizar investimentos.

● Para Keynes, um ritmo satisfatório de investimentos reclamaria taxas de juros


baixas/baratas.

3. Efeito do Multiplicador:

● No modelo do efeito multiplicador keynesiano, um aumento do investimento


privado provocaria uma expansão do produto e do emprego. Uma diminuição do
investimento provocará a sua contração.

30
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● A taxa de juro influência o investimento. O investimento é uma aposta no futuro.


Um aumento no investimento provocará um acréscimo ampliado ou multiplicador
do Produto Nacional Bruto.

● Este efeito ampliado do investimento sobre o produto tem o nome de


multiplicador. Multiplicador é, assim, o coeficiente numerário que indica a
dimensão do aumento verificado no produto em resposta a cada aumento unitário
do investimento. (Por exemplo, um aumento do investimento de 100mil € provocar
um acréscimo do rendimento de 300mil€, o multiplicador será 3).

● Esta teoria foi desenvolvida por Keynes no sentido de demonstrar que i aumento
do investimento provoca um aumento no rendimento.

23.Produção:
A produção de bens comporta dois conceitos:
1. Produção em sentido técnico: consiste na atividade material de transformação de
um bem para o tornar útil à satisfação das necessidades económicas. A ideia-base é
transformação física de um objeto.

2. Produção em sentido económico: todo e qualquer ato de produção que torne um


bem útil à satisfação das nossas necessidades. A ideia-base é, agora, a da satisfação
das necessidades humanas, estando, assim, obrigada não só à produção de bens
materiais (produção em sentido técnico), mas, também, à produção de bens
imateriais ou serviços.

O nível de produção de um país pode ser medido de duas maneiras diferentes:


1. Em espécie: indica o número de unidades, o peso ou volume dos bens
produzidos;
2. Em valor: indicando, em termos monetários, o valor dos bens produzidos,
constituindo, a moeda, o valor padrão.

24.Fatores de produção:
Trabalho:
● Consiste no esforço humano tendente à satisfação das necessidades económicas.
Trata-se, assim, de uma atividade racional de combate à raridade dos recursos.

Classificação do trabalho:
⮚ O trabalho independente é aquele que um sujeito económico realiza por conta
própria, sem submissão de outrem.

31
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

⮚ O trabalho subordinado/assalariado é o trabalho dependente de uma orientação


estranha ao próprio trabalhador.
⮚ O trabalho intelectual é quando o esforço desenvolvido é predominantemente de
espírito/mental.
⮚ O trabalho manual é quando o esfoço desenvolvido é predominantemente
muscular/físico.
⮚ O trabalho de invenção consiste na descoberta de novos bens ou serviços.
⮚ O trabalho de direção consiste na organização da atividade empresarial no sentido
de produzir bens ou serviços.
⮚ O trabalho de execução é o trabalho intelectual ou manual que tem como objetivo
o cumprimento das determinações da direção.

● Dois importantes conceitos relativos ao estudo do trabalho enquanto fator de


produção são a divisão do trabalho (consiste na especialização dos trabalhadores
em determinadas tarefas que, deste modo, não vêm o seu trabalho disperso por
diferentes atividades) e a racionalização do trabalho (consiste na organização do
trabalho do homem, segundo critérios científicos).

O capital:
● O capital são disponibilidades monetárias reprodutíveis.

O capital pode ser estudado sob diversas perspetivas:


Capital em sentido económico: consiste no conjunto de bens indiretos que, utilizados
no processo produtivo, servem para aumentar a produtividade do trabalho do Homem.
Neste sentido, o capital é um fator de produção derivado, pois, resulta do trabalho do
Homem e é composto por um conjunto de bens de diversas naturezas (moeda,
máquina, matérias-primas, etc.).

⮚ Capital fixo: é aquele que pode ser utilizado mais do que uma vez no ato de
produção (ex: bens de produção duradouros, como as máquinas). A este está
aplicado o processo de amortização, que consiste na reintegração do seu valor em
função do período de utilização.

⮚ Capital circulante: é aquele que se destrói através da sua própria utilização, isto é,
que só pode ser utilizado apenas uma vez, necessitando, por isso de contínua
renovação (ex: matéria-prima).

O capital em sentido jurídico: o capital é um conjunto de direitos que facultam ao


respetivo titular a obtenção de rendimentos não decorrentes do trabalho: direitos de
propriedade sobre bens que permitem auferir lucros; direitos de crédito resultantes de
um empréstimo que permitem receber lucros.

32
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

O capital em sentido contabilístico: é constituído por um conjunto de bens cujo valor


se mantém constante através da respetiva amortização. Este conceito formou-se no
plano de vida das empresas.

Formação do capital:
● Sendo um fator de produção derivado, o capital resulta do trabalho do homem,
formando-se através do investimento que, por sua vez, é uma ação que tem por
objetivo criar bens de produção.

● Por outro lado, qualquer investimento exige previamente um ato de poupança. A


poupança permite reunir os meios indispensáveis para concretizar esse
investimento. O processo de formação do capital desenvolve-se, assim, ao longo de
três etapas: poupança – investimento – capital.

25.A empresa:
● Numa economia de mercado, a empresa é o local de coordenação dos fatores de
produção com vista a produzir ou a distribuir bens ou serviços.

● De um cenário inicial, em que existiam sobretudo unidades económicas sob a


forma de empresas individuais, a economia capitalista evoluiu para a figura das
sociedades (empresas coletivas) que, em Portugal, se distribuem por três setores
da propriedade:

1. Setor privado: em que a propriedade ou a gestão são privadas;


2. Setor público ou setor empresarial do Estado;
3. Setor cooperativo e social: caracterizado pela gestão coletiva, em que se destacam
as empresas cooperativas.
A intervenção das empresas no mercado revela uma tendência atual para dois tipos de
comportamentos:

1. As concentrações das empresas: levando à construção de grandes unidades


económicas.
● O processo de concentração empresarial, pela diminuição do número de empresas
no mercado e pelo aumento do poder económico, é fiscalizado pelas autoridades
nacionais de defesa de concorrência que exigem a notificação das operações de
concentração de empresas.

2. As coligações das empresas: através da celebração de acordos de diversa natureza.

● As coligações de empresas são acordos entre empresas jurídica e economicamente


independentes, formalizados ou não através de um contrato, suscetíveis de

33
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

restringirem a concorrência num determinado mercado. A lei proíbe, assim, que


duas ou mais empresas combinem preços, reparem mercados, recusem vendas.

26.O rendimento:
Rendimento nacional: é o fluxo de bens e serviços produzidos por um país numa
economia ao longo de um determinado período de tempo.
● O estado do Rendimento Nacional pode ser efetuado com base quer na soma dos
bens e dos serviços produzidos, dando-nos indicações relativas à natureza e às
quantidades desses bens, quer na soma do valor desses bens e serviços no
mercado com base no respetivo preço. No primeiro caso teremos o Rendimento
Real e, no segundo, o Rendimento Monetário.

● Os dados do Rendimento Nacional são úteis para comparar diferentes níveis de


desenvolvimento entre países ou regiões. Assim, o bem-estar dos cidadãos de um
certo país será avaliado em função dos valores do rendimento nacional desse país.
Produto nacional: é o somatório dos produtos de todas as unidades económicas do
país.
Produto interno: é o produto que não circula para outro país e será produto interno
bruto ou liquido consoante tenham sido deduzidas ou não as depreciações de capital.
Rendimento pessoal: abatendo-se ao rendimento nacional os lucros não distribuídos,
os impostos e as contribuições para a segurança nacional apuram-se o rendimento
pessoal. Se a este rendimento pessoal forem deduzidos os impostos que recaem sobre
as pessoas físicas determina-se o rendimento disponível.

27.Os mercados e os preços:


Preço:
● O preço é a expressão monetária do valor dos bens.
O preço é, assim, resultado de uma dupla avaliação:
1. Do vendedor disposto a vender o bem pelo melhor preço;
2. Do comprador disposto a comprá-lo ao melhor preço possível.
Esta dupla avalização ocorre no mercado.
Os mercados podem dividir-se em dois grandes grupos:
1. Mercados de concorrência perfeita;
2. Mercados de concorrência imperfeita.

Características do mercado de concorrência perfeita:


1. Atomicidade do mercado:

34
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

⮚ Existência de um grande número de agentes económicos de dimensão semelhante,


quer do lado da oferta, quer do lado da procura, sem poder para influenciarem
pela sua ação os preços no mercado. Consequentemente, os preços dos bens
formam-se livremente no mercado.

2. Transparência do mercado ou fluidez:

⮚ A informação sobre os preços circula livremente no mercado, tendo os vendedores


e os compradores conhecimento de todos os fatores significativos do mercado,
podendo, desta forma, fazer livremente as suas opções, isto é, existe liberdade de
negociação das transações.

3. Homogeneidade dos produtos:

⮚ Os produtos acabados são iguais, só os preços é que os distingue, pelo que o


consumidor, numa atitude racional, optará sempre pelo mais barato.

4. Livre acesso ao mercado:

⮚ O mercado terá que ser livre para a criação de empresas, não devendo existir
obstáculos à instalação de novas empresas no mercado, seja pela ação da lei, que
muitas vezes proíbe a criação de empresas privadas em certos setores básicos da
economia, ou pela ação das grandes empresas instaladas no mercado que, pela sua
força, tendem a contrariar a chegada de novos agentes económicos/novas
empresas.

5. Mobilidade dos fatores de produção:

⮚ Os fatores de produção, capital e trabalho, são livres de se deslocarem entre os


diversos setores da economia, abandonando aqueles onde a oferta é excessiva e os
preços estão a descer, para se instalarem naqueles em que a oferta é escassa e, por
essa razão, os preços estão a subir.

Mercados de concorrência imperfeita:


● Este cenário de concorrência perfeita não encontra correspondência na realidade
concreta dos nossos dias, pelo que a generalidade dos mercados funciona hoje em
situação de concorrência imperfeita.

● Em muitas áreas da economia a atomicidade não existe, surgindo mercados de


monopólio, ou mais frequentemente de oligopólio (poucas grandes empresas); a
homogeneidade dos produtos é hoje uma pura ilusão, a evolução tecnológica
caminhou no sentido da diferenciação dos produtos; a transparência é também
uma ilusão, dada a dimensão dos mercados, a informação não é completa; o livre
acesso pode ser dificultado pela ação da lei; a mobilidade dos fatores de produção

35
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

não se efetua com a facilidade com que os clássicos a defendiam, na verdade, a


especialização do trabalho dificulta a sua mobilidade.

28.A procura:
● A procura é a quantidade de bens que um sujeito deseja adquirir, e para cuja
compra possui capacidade financeira.

● É uma evidência do mercado que as quantidades de bens que se deseja adquirir


dependem dos preços, existindo uma relação entre os preços e as quantidades
procuradas. A essa influencia dos preços chama-se Curva da Procura.

● A procura varia na razão inversa do preço: diminui com a subida do preço.

● Para um comprador racional, as quantidades de bens procurados varia em função


dos preços, isto é, quanto mais baixos forem os preços mais elevada será a sua
procura, e vice-versa.
Elasticidade da procura:
● A procura diz-se elástica quando varia na razão inversa dos preços (ex: se no
mercado da habitação perante a diminuição do preço das casas se vendem mais
casas, é sinal de que a procura é elástica).

● Esta mesma elasticidade explica-se através do efeito do rendimento e do efeito de


substituição.

⮚ No efeito de substituição, ao aumentar o preço de um bem, os consumidores


desviam o consumo para os bens sucedâneos daquele cujo preço aumentou
(ex: se aumentar o preço do bem A, o consumidor vai substitui-lo por outro
semelhante cujo preço não aumentou).

⮚ Efeito de rendimento: o aumento dos preços de um bem traduz-se numa


redução do rendimento real do comprador, afetando, assim, o seu poder de
compra (com a mesma quantidade de dinheiro compram-se, agora, menos
bens), restringindo as suas aquisições.

Inelasticidade da procura:
● São exceções em que mesmo que os preços aumentem, a procura não diminui.
1. No mercado dos bens essenciais;
2. No mercado dos bens de luxo;
3. No mercado dos bens insignificantes ou de preço muito reduzido.

29.Oferta:

36
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● A oferta é a quantidade de bens e serviços que um sujeito está disposto a vender


no mercado a determinado preço.

● À relação entre o preço dos bens e a oferta desses bens dá-se o nome de Curva da
Oferta.

● Com preços mais elevados, os vendedores estão dispostos a vender mais


quantidades e, inversamente, com os preços mais baixos diminuirá a oferta.

● Num mercado, a oferta varia na razão direta dos preços, isto é, quando o preço
sobre a oferta aumenta.

Elasticidade e inelasticidade da oferta:


● A oferta é elástica quando varia no mesmo sentido dos preços.

● A oferta é inelástica quando, por exemplo, se mantém apesar do preço baixar.


Efeito de substituição e de rendimento:
● O efeito de substituição contribui para a elasticidade da oferta pois, se os preços
estão a cair, os vendedores irão recusar vender a um preço tão baixo e preferirão
esperar por melhores preços no futuro, ou seja, adiam a venda, substituindo-a pela
armazenagem.

● O efeito de rendimento, que pode muitas vezes contribuir para que a oferta seja
inelástica, irá obrigar o vendedor a vender mais quando os preços baixarem pela
necessidade de obter um certo nível de rendimento.

● Por vezes, face a uma diminuição dos preços, os vendedores pretendem desfazer-se
das suas mercadorias para não as perderem. É o que acontece com os bens
perecíveis que, se não forem vendidos, mesmo que a um baixo preço, irão se
deteriorar. Nestes casos é preferível vender a um baixo preço do que não vender.

30.Os diferentes tipos de mercado:


Monopólio: é um mercado caracterizado pela existência de uma só empresa a vender
um bem ou a prestar um serviço.
Existem três tipos de monopólio:
1. Monopólio legal: cuja origem é a lei. São os mais frequentes pois os Estados estão
obrigados a desmantelar os seus monopólios legais.

2. Monopólio natural: resultam da raridade absoluta de certos bens. Surgem por


vezes, no mercado de certas matérias-primas. Só uma empresa a elas tem acesso
devido à sua extrema escassez.

37
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

3. Monopólio de facto: resultam do comportamento das empresas no mercado.


Podem ocorrer pelo facto de as empresas terem eliminado a concorrência, por via
da fusão, da concentração ou da expulsão do mercado.

Oligopólio: apresenta-se como o mercado de concorrência imperfeita mais frequente,


caracterizando-se pela existência de poucas grandes empresas a venderem um bem ou
a prestarem um serviço face a uma multiplicidade de compradores.
a) Oligopólio legal: todas as economias modernas têm o regime do registo das
patentes. Quando uma empresa descobre um método de produzir um bem de
forma inovadora, a lei permite-lhe registar essa patente. Só ficarão no mercado
aquelas empresas que investirem na investigação e registarem as suas inovações
em novas patentes.

b) Oligopólio de facto: pode resultar de 2 motivos:


1. O mais frequente encontra-se nos setores económicos onde são necessários
avultados investimentos para manter uma empresa. Essas verbas estão ao
dispor de qualquer investidor.

2. Por vezes, surgem oligopólios de facto em virtude de as empresas instaladas


dificultarem a entrada de novas empresas concorrentes. Face a esta posição
concertada, os potenciais investidores poderão ter receio em avançar.

31.A moeda:
A moeda tem 3 funções:
1. Instrumento geral de troca: essa “troca” no mercado é usada como meio de
pagamento, ou seja, nesse mercado os agentes económicos aceitam entregar bens
em troca dessa coisa porque sabem que com ela podem adquirir outros bens.

2. Medida comum de valores: no mercado, o valor de todos os bens e de todos os


serviços exprime-se nessa unidade monetária (preço do bem);

3. Reservatório de valores: acumular a moeda é acumular capacidade aquisitiva de


bens no futuro. A moeda pode ser utilizada nas transações hoje, como amanha, é,
por isso, um reservatório de valores.

Diferentes tipos de moeda:


1ª Moeda – Moeda metálica:
● Inicialmente, o homem utilizou os animais como moeda. Contudo, aos poucos,
todas as comunidades começaram a preferir os metais – no inicio ferro depois

38
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

cobre. A preferência pela moeda de metal teve a ver com a sua durabilidade,
facilidade de transporte e maior divisibilidade.

● Os metais preciosos não são só usados para fins monetários e pelas suas
qualidades intrínsecas, mas, também, devido à sua raridade, elevada procura,
facilidade de transportes, facilidade de conservação e grande valor específico.

● No inicio, os metais eram pesados no momento da transação. Depois, seguia-se a


cunhagem (amoedação do metal), que consistia na aposição de uma marca no
metal atestando o seu peso e, assim, o seu valor.

● As operações de amoedação acabaram por constituir atos do poder político, pois os


príncipes viram o inconveniente da cunhagem privada da moeda porque, essa
mesma cunhagem privada, não estabelecia um ambiente de confiança e, viram
todas as vantagens que o exclusivo da cunhagem da moeda traria para o erário
público.

● Durante séculos, circularam no mercado moedas de ouro e prata, tendo existido


dois grandes sistemas monetários: o monetalismo ouro (moeda oficial era o ouro),
ou monetalismo prata (moeda oficial era a prata), ou bimetalismo (moeda oficial
era ouro e prata), ou o duplo estalão (ouro e prata).

2º moeda – Moeda-papel:
● O aparecimento da moeda-papel, que corresponde à nota de banco, surge no
mercado com o aparecimento dos bancos.

● A moeda papel apresentava mais vantagens em relação à moeda metálica: era


mais cómoda, menos pesada, menos volumosa e a sua impressão era mais fácil e
menos dispendiosa.

● A raridade dos metais preciosos levou à utilização da moeda-papel, que consistia


num tipo de crédito que desempenhava funções monetárias.

● Esta moeda-papel, inicialmente, era uma moeda-papel representativa, pois as


notas emitidas pelos bancos representavam exatamente o valor do ouro ou da
prata depositados.

● Tinha, atrás de si, igual quantidade de moeda metálica, mas, essa moeda-papel
representativa, alargou o seu volume de circulação.

● Face à impossibilidade de todos os depositantes procederem, simultaneamente, ao


levantamento de todos os seus depósitos decidiram rentabilizar o ouro parado,
emprestando-o aos empresários para o financiamento dos seus negócios.

39
1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Tornou-se, assim, em moeda-papel fiduciária, que por sua vez, já não representava
os valores existentes nos bancos, circulava com base de confiança e tinha uma
cobertura metálica parcial.

● A moeda-papel alargou o seu volume monetário de circulação. Ao mesmo tempo,


existe um excesso de emissão da moeda.

● Com o objetivo de conceder maior garantia ao sistema bancário, o Estado interveio,


obrigando os bancos a terem imobilizada uma percentagem de valor dos depósitos,
não inferior a um terço, medida a que se chamou a regra do terço.

● Com uma cobertura inferior a esse um terço entra-se no regime da


inconvertibilidade e a moeda passa a designar-se por papel-moeda.
3º Moeda – Moeda escritural ou Moeda bancária:
● A moeda escritural ou moeda bancaria é constituída pelos saldos dos depósitos à
ordem.

● Quase moeda: a quase moeda é constituída pelos depósitos a prazo ou com


pré-aviso. Neste âmbito não existe uma utilização direta/imediata, mas sim
indireta/mediata dado que só se pode dispor do saldo no fim de um determinado
prazo.

32.Teorias do valor da moeda:


Teoria nominalista:
● O valor da moeda correspondia ao seu valor nominal, isto é, a moeda tem o valor
que dela própria consta.

● Independentemente da quantidade de ouro de que a moeda era feita, o seu valor


correspondia àquele que lhe era atribuído no momento da cunhagem.

Teoria metalista:
● Em oposição à teoria nominalista, o valor da moeda corresponderia ao valor da
mercadoria, do metal (ouro ou prata) de que era feita.

Teoria quantitativa:
● O valor da moeda depende da sua quantidade. A moeda valerá mais, quanto mais
rara ou menos abundante for.

33.Inflação:
● A inflação é todo e qualquer aumento significativo e continuado no tempo da
massa monetária, que corresponde um elevado nível de preços.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

34.Deflação:
● A deflação corresponde à situação inversa à da inflação, ou seja, a toda e qualquer
contração dos meios de pagamento da moeda, não compensada por reduções do
nível de transações tendendo, assim, para uma redução do nível geral dos preços
dos bens e serviços.

35.O crédito:
Elementos do crédito:
a) O crédito é uma operação de troca de bens no mercado entre dois sujeitos
económicos. Portanto, a noção de crédito pressupõe uma troca. Troca essa que
pode ser a pronto (quando a prestação e a contraprestação ocorrem no mesmo
momento), a termo (quando a prestação e a contraprestação também são
simultâneas, todavia a troca é diferida no tempo) ou a crédito (que tem como
característica essencial não existir simultaneidade nas prestações, uma precede a
outra. Primeiro verifica-se a prestação do sujeito ativo – o credor – e só mais tarde
a prestação do sujeito passivo – o devedor).

b) Se o tempo separa as duas prestações, a operação exige o pagamento de um juro


por parte do devedor. Por um lado, o juro corresponde ao preço que o devedor
paga pela utilização antecipada de um bem. Por outro, sendo as prestações
separadas pelo tempo e, dado que o tempo influencia o valor dos bens, o juro
existe para que as duas prestações tenham um valor equivalente.

c) O crédito é uma operação baseada na confiança entre as partes. Daí que o crédito
só se concretize porque o sujeito que entrega um bem, acredita que a outra parte
entregará a sua prestação no futuro.

d) O crédito é obrigatoriamente uma operação de caráter oneroso. Nessa operação


intervém a moeda que pode estar presente numa só prestação (venda a crédito de
bens) ou nas duas (empréstimo em dinheiro).

36.Diferentes tipos de crédito:


O crédito destina-se ao consumo e à produção ou ao investimento.

a) Crédito ao consumo:
● Este tem em vista a aquisição de bens de consumo.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Assim, são fornecidos bens presentes imediatamente utilizáveis ou moeda com a


qual os podem obter e, só mais tarde, em momento posterior, pagarão em dinheiro
ou em espécie, o valor correspondente àqueles bens imediatamente recebidos.

● Se o devedor não for empresário nem industrial presume-se que o crédito se


destina ao consumo.

b) Crédito à produção:
● É o crédito celebrado pelas empresas, tendo em vista a prossecução dos seus
negócios.
● Os empresários que não dispõem de capitais suficientes para os planos de
produção estabelecidos, recorrem ao crédito dispondo-se a reembolsar os credores
depois de venderem os bens produzidos.
Dentro do crédito à produção podem surgir dois cenários diferentes:
1. O crédito pode destinar-se à criação de uma nova empresa. Quando assim é
estamos perante o crédito para despesas de primeiro estabelecimento.

2. O crédito pode também ser contraído pelas empresas, para lhes permitir o normal
desenvolvimento da sua atividade (pagar a fornecedores). É o caso do crédito para
fundo de maneio.

c) Crédito a curto prazo:


● Quando o tempo que separa as prestações não ultrapassa, em regra, dois anos.

● É quando o crédito é orientado para a produção. Visa constituir ou reforçar o fundo


de maneio das empresas e logo que tenha realizado cobranças respeitantes aos
fornecimentos realizados, o empresário poderá reembolsar os seus credores.

d) Crédito a longo prazo:


● É utilizado nas operações com duração superior a 10 anos.

● O crédito a longo prazo destina-se a fazer face a despesas de 1º estabelecimento de


instalação de empresa e, só passado um período mais ou menos longo, o
empresário poderá reembolsar pela acumulação de rendimento de exercícios
anuais excessivos.

e) Crédito privado e crédito público:


● Quando o devedor é um particular, o crédito é privado.
● Quando o devedor é uma entidade pública, o crédito é público.

f) Crédito pessoal e crédito real:

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● O crédito pessoal ocorre quando a confiança do credor no devedor é grande, ou,


em casos em que as quantias envolvidas no crédito não são muito significativas.
Tem como característica principal a circunstância do credor não exigir ao devedor
garantias especiais. Este assume o compromisso de pagar certo valor em certa
data. Se porventura não honrar o seu compromisso, o credor concorrerá ao lado de
outros credores para se fazer pagar.

● O crédito real acontece quando a confiança do credor no devedor é menor ou


quando os montantes envolvidos são muito elevados. O credor exige agora
garantias especiais. Essas garantias consistem na afetação de certos bens do
património do devedor à divida em causa.

⮚ Quando esses bens são imóveis, é feita uma hipoteca, caso sejam bens móveis
(entrega de ações de uma empresa como garantia), são dados em penhor.

⮚ Se o devedor não saldar a divida, o credor pagar-se-á com os bens que foram
entregues como garantia.

37.Títulos de crédito
● São documentos que titulam uma dívida, contendo a promessa de pagamento do
devedor e que, por isso mesmo, são indispensáveis para que o credor possa fazer
valer os seus direitos, em caso de incumprimento do devedor.

a) Títulos de crédito nominativos:


● O exemplo típico são as obrigações emitidas pelas empresas. Quando uma empresa
vende obrigações está a contrair crédito. As obrigações nominativas contêm o
nome do credor e, nos livros da empresa, está esse registo. Para um título
nominativo ser transmitido, são, pois, necessárias duas operações: é necessário
primeiro alterar o nome do credor no título e, depois, alterar o registo da empresa.

● Concluindo, o título de crédito nominativo é aquele do qual consta o nome do


respetivo credor e cuja transmissão exige que se proceda ao registo.

b) Títulos de crédito ao portador:


● Os títulos de crédito ao portador caracterizam-se por não indicarem o nome do
credor, transmitindo-se por mera tradição.

● A simples entrega a um outro sujeito concretiza a transmissão do título, facilitando,


de forma assinalável, a circulação do crédito.

● Concluindo, o título de crédito ao portador transmite-se sem qualquer formalidade,


como por exemplo, com um cheque ou notas de banco.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

c) Títulos de crédito à ordem:


● Têm como principal característica o facto de indicarem o nome do credor, mas não
estarem registados em quaisquer documentos sendo, por isso, mais facilmente
transmissíveis.

● Os títulos à ordem transmitem-se por endosso que é uma declaração de


transferência do título que o credor escreve no respetivo verso, cedendo a outro
sujeito a posição de sujeito ativo naquela relação de crédito.

O endosso pode ser efetuado de duas maneiras diferentes:


1. Nuns casos, o credor ao transmitir o título, indica expressamente o nome do futuro
credor. Estamos perante o endosso propriamente dito.

2. Noutros casos, não é indicado o nome do futuro credor, limitando-se o sujeito que
o transmite a assinar no verso do título. É o endosso em branco.
Os títulos de crédito à ordem mais importantes são a letra, a livrança, o warrant e o
cheque.

Letra:
● É um título de crédito em que o credor, dito sacador, emite uma ordem de
pagamento ao devedor (sacado), para num determinado dia (data de vencimento),
pagar certa quantia a seu favor (credor), ou a quem o sacador indicar no título
(tomador).

● As letras são vulgarmente utilizadas na atividade comercial, como garantia das


empresas que vendem a crédito.

Livranças:
● Tem como grande diferença em relação à letra tratar-se de uma promessa de
pagamento que o devedor (subscritor da livrança), assume ao comprometer-se a
pagar certa quantia, em certo dia, ao credor (beneficiário da livrança).

● As livranças são a forma privilegiada de estabelecimento das relações de crédito


entre os bancos e os particulares.

Warrant:
● É um título representativo do direito a mercadorias depositadas em armazéns da
alfândega.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● Após o depósito das mercadorias, em regime de armazém geral, o proprietário


recebe dois documentos, um que corresponde ao respetivo título de depósito
(identifica o proprietário e atesta que mercadorias foram depositadas) e um outro,
o warrant, que ele pode utilizar como garantia de um empréstimo, entregando-o a
um seu credor, para concretizar essa relação de crédito.

● As mercadorias só podem ser levantadas com a apresentação dos dois documentos


pelo que, enquanto durar a dívida, não poderá o proprietário a elas ter acesso.

Cheque:
● O cheque é um título de crédito à ordem quando indica o nome do credor.

● O sacador (quem emite o cheque) dá uma ordem ao sacado (o banco) para pagar
certa quantia ao tomador, aquele cujo nome é indicado no cheque.

● A diferença entre o cheque e a letra ou a livrança consiste no facto do cheque ser


pagável à vista.

38.Os bancos e as operações bancárias:


Operações bancárias passivas:
● As operações bancárias passivas são aquelas em que os bancos surgem na condição
de devedores.

● São sujeitos passivos (devedores) face aos particulares (credores) que lhes
fornecem os seus capitais.

● A operação bancária típica é o depósito bancário, seja a ordem, a prazo o com


pré-aviso. Os bancos são, pois, devedores face aos particulares que lhes entregam
os seus valores, estando obrigados a restituir tais importâncias sempre que os
depositantes o solicitem.

● São também operações bancárias passivas a tomada firme de ações (os bancos
asseguram a compra de ações a emitir por certas empresas que, posteriormente
colocam no mercado vendendo-os ao público em geral), as funções de
administração de bens particulares ou ainda a cobrança de valores em nome de
particulares.

Operações bancárias ativas:


● São aquelas em que o banco surge como credor face aos particulares, a quem
concedem crédito.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

● A operação bancária de concessão de crédito, qualquer que seja a sua natureza, é


tipicamente uma operação ativa, pois, os particulares são devedores dessas
importâncias face aos bancos.
Dentro das operações bancárias ativas destacam-se o desconto e o redesconto.

Desconto:
● O desconto constitui a mais importante operação bancária ativa, contrapondo-se
como tal ao depósito.

● No desconto o banco antecipa o vencimento de um título de crédito, descontando


um juro (taxa de desconto), mediante o endosso desse título.

Redesconto:
● Envolve também a antecipação da data de vencimento de um título de crédito,
mediante o pagamento de uma taxa de juro (taxa de redesconto), numa operação
entre bancos ou entre um banco comercial e o Banco Central. Se um banco precisa
de liquidez pode (re)descontar títulos de crédito junto de outros bancos ou do
Banco Central.

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1º ano de DireitoIntrodução à EconomiaCAD

AGRADECIMENTOS:
Adriana Borges

Ana Rita Alves

David Silva

Eduardo Leão

Érica Araújo

Gabriel Pinho

João Paulo Silva

Manuela

Marlene Ferreira

Matilde Campos

Miguel Ledo

Pedro Gomes

Apontamentos realizados por membros da CAD. Pedimos que qualquer erro de escrita ou de
direito verificado seja comunicado a um dos membros para posterior correção.

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