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JEJUM INTERMITENTE | SANAR PÓS

1
SUMÁRIO

03
O que é?
09
Efeitos adversos do jejum
intermitente

03
Qual o seu objetivo? 10
Jejum intermitente x massa
magra

04
O que diz a literatura?
10
Resposta fisiológica

05
Como o jejum intermitente
atua a nível celular? 11
Contraindicações

06
Ciclo hormonal de 14
alimentação e jejum Orientações aos pacientes a
iniciarem a jejum

08
Benefícios do Jejum Intermitente 15
Referências
JEJUM INTERMITENTE | SANAR PÓS

O que é?
O Jejum intermitente é baseado na adoção de uma
rotina, com períodos fixos para alimentação e períodos
pré-determinados para se manter em jejum, com pouca
ou nenhuma ingestão calórica. Como padrão, o jejum
intermitente alterna períodos de jejum com períodos de
alimentação regular, porém a forma de fazê-lo varia de
acordo com a estratégia adotada.

Qual o seu objetivo?


O principal objetivo do jejum intermitente é a perda de
peso, mediante estratégias de dieta e períodos fixos de
alimentação.

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O que diz a literatura?


Estudos em animais e humanos mostraram que muitos
dos benefícios para a saúde do jejum intermitente não são
simplesmente o resultado da redução da produção de radicais
livres ou perda de peso. Em vez disso, o jejum intermitente
provoca respostas celulares adaptativas que são integradas entre
e dentro dos órgãos de uma maneira que há melhora da regulação
de glicose, aumento da resistência ao estresse e supressão da
inflamação. Durante o jejum, as células ativam vias que aumentam
as defesas intrínsecas contra o estresse oxidativo e metabólico e
aquelas que removem ou reparam moléculas danificadas.

Durante o período de alimentação, as células se envolvem em


processos de crescimento e plasticidade específicos do tecido.
No entanto, a maioria das pessoas consome três refeições por dia
mais lanches, ficando em jejum apenas durante o período de sono.

Não existe apenas uma dieta aplicada no jejum intermitente,


portanto, resultados divergentes são observados na literatura,
dependendo da quantidade de quilocalorias consumidas durante
o período de alimentação e de jejum, bem como da definição de
jejum intermitente adotada.

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Como o jejum intermitente


atua a nível celular?
O consumo total de energia, a composição da dieta, e a duração do jejum
entre as refeições contribuem para oscilações nas razões entre os níveis de
nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+) e NADH, entre ATP e AMP e entre
acetil-CoA e CoA (Coenzima-A).

Esses transportadores de energia intermediários ativam proteínas que regulam


a função celular e a resistência ao estresse, incluindo fatores de transcrição,
como proteínas FOX (forkhead box O, FOXO), Coativador 1 Alfa do Receptor
Ativado por Proliferador de Peroxissoma (PGC-1α) e fator nuclear derivado de
eritróide 2 (NRF2); quinases, tais como proteína quinase ativada por AMP (AMP
quinase, AMPK); e deacetilases como as sirtuínas (SIRTs). O jejum intermitente
desencadeia respostas e adaptações neuroendócrinas caracterizadas por
baixos níveis de aminoácidos, glicose e insulina.

A regulação negativa da via de sinalização do fator de crescimento semelhante


à insulina 1 (IGF-1) e a redução dos aminoácidos circulantes suprimem a
atividade do alvo mamífero da rapamicina (mTOR), resultando na inibição da
síntese proteica e estimulação da autofagia.

Durante o jejum, a proporção de AMP para ATP é aumentada e a AMP quinase


é ativada, desencadeando reparo e inibição de processos anabólicos. Acetil
coenzima A (CoA) e NAD+ servem como cofatores para modificadores
epigenéticos, como SIRTs. As SIRTs desacetilam proteínas FOX e PGC-1α,
resultando na expressão de genes envolvidos na resistência ao estresse e na
biogênese mitocondrial.

Coletivamente, o organismo responde ao jejum intermitente minimizando os


processos anabólicos (síntese, crescimento e reprodução), favorecendo os
sistemas de manutenção e reparo, aumentando a resistência ao estresse,
reciclando moléculas danificadas, estimulando a biogênese mitocondrial e
promovendo a sobrevivência celular, o que contribui para melhorias na saúde e
resistência à doença.

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Ciclo hormonal de
alimentação e jejum
Durante a adoção do jejum intermitente, e a depender da duração
do período de jejum e da dieta adotada, existe uma passagem
entre os períodos do ciclo de alimentação e jejum, que repercute
na liberação hormonal pelo corpo. Podem-se observar até quatro
estágios distintos:

1.
Após a alimentação, o corpo parte, no hormônio estimulador de
tem como objetivo a digestão e α-melanócito (α-MSH). O α-MSH,
absorção de nutrientes, no chamado assim como o AGRP agem no
estágio alimentado. Tais processos receptor da melanocortina-4 (MC4R)
resultam em uma elevação da expressado no núcleo paraventricular.
glicemia e na elevação da insulina, O α-MSH se liga e ativa esse receptor,
objetivando a internalização da gerando saciedade;
glicose sanguínea. Após a absorção

2.
de glicose necessária, o excedente
é transportado e armazenado nos Após 3 ou 4 horas, ocorre a transição
músculos e no fígado. para o estágio agudo de jejum,
que pode durar até 18 horas após
Simultaneamente, após a alimentação a alimentação. Nesse estágio há
existe uma redução dos níveis uma diminuição da insulinemia e
de grelina sanguínea, o hormônio da glicemia, a qual resulta em um
responsável pela sensação de fome, pico de glucagon e processos de
bem como elevação da leptina, que glicogenólise e gliconeogênese,
tem como efeito uma supressão do com o objetivo de manter a glicemia
apetite. através do gasto das reservas
corporais de glicogênio, ácidos graxos
A leptina age no núcleo arqueado, e aminoácidos;
inibindo os núcleos AGRP e NPY (os
quais são orexígenos), enquanto
estimula os neurônios de pró-
opiomelanocortina (POMC), os
quais são anorexígenos. Nesses
neurônios, ocorre o processamento
da POMC, mediada pela presença
de leptina, que é transformada, em

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3.
O estágio de jejum pleno se inicia com proteínas e moléculas que são
cerca de 18 horas após a alimentação conhecidas por influenciar a saúde
e pode perdurar por até 2 dias. Nesse e o envelhecimento. Estes incluem o
estágio, há a depleção quase que coativador 1α do receptor γ ativado
total dos estoques de glicogênio, pelo proliferador de peroxissomos
e um aumento do processamento (PGC-1α), fator de crescimento
de proteínas e triglicerídeos, de fibroblastos, dinucleotídeo de
mediante a gliconeogênese. A nicotinamida adenina (NAD+),
principal repercussão desse estado sirtuínas e ADP ribosil ciclase (CD38).
é o aumento da liberação de corpos Ao influenciar essas principais
cetônicos. Nesse estágio de cetose, vias celulares, os corpos cetônicos
existe o aparecimento de alguns produzidos durante o jejum têm
sintomas, como: efeitos profundos no metabolismo
sistêmico.
Redução do apetite

4.
Perda de peso
Hálito cetônico
Fadiga Após cerca de 48 horas da
Elevação dos níveis séricos e alimentação, o corpo entra no estágio
urinários de cetonas de jejum de longo termo, também
chamado de período de inanição.
É importante frisar que a cetose só é Nele ocorre uma queda crescente
alcançada com períodos superiores nos níveis de insulina, seguida
a 18h, não raramente superiores a 24 de elevações nos níveis de Beta-
horas, logo nem todas as estratégias Hidroxibutirato.
de jejum intermitente alcançam esse
estágio. Nesse estágio, os rins, além do fígado,
são recrutados para realização de
A mudança metabólica do uso de gliconeogênese. Além disso, há
glicose como fonte de combustível uma diminuição da utilização de
para o uso de ácidos graxos e corpos substrato protéico, principalmente de
cetônicos resulta em uma relação aminoácidos de cadeia ramificada,
de troca respiratória reduzida (a como forma de preservar o tecido
proporção de dióxido de carbono muscular.
produzido para oxigênio consumido),
indicando a maior flexibilidade
metabólica e eficiência da produção
de energia a partir de ácidos graxos e
corpos cetônicos.

Os corpos cetônicos não são apenas


combustível usado durante os
períodos de jejum; são moléculas
sinalizadoras potentes com efeitos
importantes sobre células e órgãos
Os corpos cetônicos regulam a
expressão e a atividade de muitas

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1500 Carboidrato

Gordura + Cetonas
Taxa de Oxidação (kcal/dia)

1250
Proteína

1000

750

500

250

0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35
Dias de jejum

O gráfico nos mostra de onde vem a energia para alimentar o nosso corpo desde o início do jejum.
No tempo zero, há uma mistura de energia proveniente de carboidratos, gorduras e proteínas.
No primeiro dia de jejum, o corpo começa inicialmente a queimar carboidratos (açúcar) para obter
energia.
Após acabar o estoque de glicogênio, o corpo começa a usar como fonte de energia os ácidos graxos
(corpos cetônicos).

Benefícios do Jejum
Intermitente
Os benefícios do jejum intermitente foram observados principalmente durante a
adoção de 3 estratégias específicas: alimentação tempo-restrita, jejum em dia
alternado e o jejum periódico.

A alimentação tempo-restrita (time-restricted feeding), restringe toda a alimentação


do dia para o período da manhã e início da tarde, devendo-se manter o jejum pelo
restante da tarde e noite daquele dia.

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Já o jejum em dia alternado (Alternate-day fasting), como o próprio nome descreve,


se baseia na adoção de um dia com alimentação regular, seguido de um dia de
jejum total.

Finalmente, o jejum periódico (periodic fasting), consiste em um período de jejum


superior ou igual a 48 horas, no qual a pouco ou nenhum consumo calórico,
seguido de um período de ingesta por pelo menos uma semana.

Os principais benefícios encontrados foram:


Perda de peso;
Redução da gordura visceral;
Diminuição de risco cardiovascular;
Diminuição da pressão arterial sistêmica;
Redução da resistência insulínica;
Redução nos marcadores inflamatórios, como a Proteína C reativa;
Controle glicêmico;
Controle da artrite reumatóide (Longo & Panda, 2016);

Efeitos adversos do jejum


intermitente
Como principais efeitos adversos, Irritabilidade, alterações do
podemos citar: humor e redução da concentração
e atenção são mais comuns no
Fome, sendo está mais comum sexo feminino e ocasionadas pela
e presente nos primeiros dias adoção hipoglicemia;
do jejum intermitente; Fadiga também está associada
Cefaleias, principalmente em a hipoglicemia, entretanto alguns
região frontal de baixa a moderada estudos apontam que essa pode
intensidade, sendo também mais ser reduzida com a adoção do jejum
comum nos primeiros dias; intermitente, a partir do momento que
Sintomas gastrointestinais, o corpo se adequa a estratégia;
como diarréia, náuseas, inchaços Mau hálito resultante do
e constipação, sendo a última acúmulo de corpos cetônicos, em
resultante da baixa ingesta suma da cetona, em períodos de jejum
alimentar podendo ser associada a pleno;
desidratação. É necessário, dessa Distúrbios do sono, como
forma, manter uma hidratação insônia e dificuldade em manter um
adequada, conjuntamente a uma dieta sono profundo. No entanto, alguns
rica em fibras de maneira profilática; estudos, principalmente sobre o jejum

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em dias alternados, mostram que não relação entre a técnica e o sono;


Desidratação, durante os primeiros dias de jejum há a excreção intensa
de sódio e água na urina, em um fenômeno chamado de diurese ou natriurese do
jejum;
Desnutrição, sendo essa dependente da dieta associada aos períodos de
jejum, sendo mais intensa em dietas desbalanceadas ou pobres em nutrientes.

Jejum intermitente x
massa magra
Praticar jejum intermitente faz perder massa magra? A resposta é não.

Pessoas saudáveis não têm perda de massa magra em jejuns curtos. O que a
literatura diz é que até o terceiro dia o corpo tem a capacidade de conservar e
manter a massa magra. Portanto, jejuns curtos ou até 72 horas não tem perda de
massa magra.

Resposta fisiológica

1. 3.
O jejum aumenta a produção Aumenta LH, aumenta a
de IGF1; sensibilidade androgênica e assim
aumenta a testosterona;

2.
4.
Aumenta hormônio GH;
Diminuição da resistência à insulina
favorecendo o aumento natural da
testosterona.

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Contraindicações
O jejum intermitente é contraindicado nas seguintes ocasiões:

Grávidas e mulheres durante o período de amamentação;


Crianças e adolescentes, existem, no entanto, estudos que mostram
benefício em crianças com epilepsia;
Pacientes com graus de demência;
Pacientes com passado de transtornos alimentares;
Pacientes com imunodeficiências;
Idosos com quadros de astenia;
Pacientes com histórico de síndrome pós-concussão ou histórico de
lesão traumática em crânio;
Pacientes que são muito suscetíveis aos efeitos adversos do jejum
intermitente;
Pacientes sarcopênicos;
Doenças que levam ao catabolismo;
IMC < 18;
Pacientes susceptíveis a hiperalimentação após o período do jejum.

Em pacientes diabéticos, é importante a monitorização e acompanhamento


cuidadoso, como forma de prevenir hiper ou hipoglicemias durante a adoção
da estratégia. Ademais, ao se adotar o jejum intermitente, é necessário
individualizar a situação clínica de cada paciente e fazer um acompanhamento
multidisciplinar com nutricionista e psicólogo.

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Podemos orientar os
pacientes a iniciarem a
jejum da seguinte forma:

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Referências
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