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7.1.1. Avaliação Nutricional Subjetiva Global (ANSG) ............................... 57
7.1.2. Mini Avaliação Nutricional (MAN)..................................................... 57
7.1.3. NRS 2002 (Nutritional Risk Screening – 2002) ................................ 58
7.2. Anamnese Nutricional ......................................................................... 59
7.2.1. Histórico pessoal.............................................................................. 59
7.2.2. Histórico pessoal de hábitos alimentares ......................................... 60
7.2.2.1. Dietas Especiais ........................................................................ 61
7.2.3. Distúrbios do sono ........................................................................... 75
7.2.3.1. Padrão normal do sono ............................................................. 75
7.2.3.2. Ritmo circadiano ........................................................................ 77
7.2.3.3. Distúrbios do sono ..................................................................... 79
8. COMPOSTOS BIOATIVOS E ALIMENTOS FUNCIONAIS ......................... 83
8.1. Conceitos, Classificação e Aplicações. ............................................. 83
8.2. Compostos Bioativos .......................................................................... 90
8.3. Alimentos Funcionais e Compostos Bioativos na aplicação clínica
.................................................................................................................... 101
8.3.1. Câncer ........................................................................................... 101
8.3.2. Atividade Física.............................................................................. 102
8.3.3. Obesidade ..................................................................................... 103
8.3.4. Diabetes......................................................................................... 105
8.3.5. Doenças Cardiovasculares ............................................................ 106
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 107
1. HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO
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constituições físicas ou enfermidades presentes (ABREU et al., 2001;
CARNEIRO, 2005).
Atualmente, o crescente número de doenças crônicas, relacionadas ao
excesso ou à falta de alimentos, tornou-se um problema de saúde pública. Visto
que tais doenças são resultantes, muitas vezes, de mudanças no
comportamento alimentar e no estilo de vida da sociedade contemporânea, uma
retrospectiva histórica dos padrões alimentares fornecem subsídios para uma
reflexão do atual panorama mundial da alimentação.
No primeiro período da Pré-História, chamado de Período Paleolítico (do
surgimento da humanidade até 8.000 anos a.C.), a alimentação variava de
acordo com a região. Em muitas regiões, metade das calorias era proveniente
de alimentos de origem animal e metade de alimentos de origem vegetal,
especialmente, das frutas, hortaliças folhosas, tubérculos, raízes, sementes e
nozes (SABRY; SÁ; SAMPAIO, 2010).
Entretanto, por depender do ambiente onde se desenvolviam, os
alimentos de origem vegetal estavam distribuídos irregularmente. Além disso, o
clima era temperado, mas, frequentemente enfrentavam períodos de inverno e,
desta forma, muitos alimentos de origem vegetal não eram disponíveis. Por esse
motivo, alguns autores chegam a afirmar que, na Era Paleolítica, somente 14%
da sociedade dos caçadores-coletores obtinha mais do que 50% de suas calorias
de fontes vegetais e que o consumo predominante era de carnes (SABRY; SÁ;
SAMPAIO, 2010).
Estima-se, então, que o consumo diário de carne do homem do paleolítico
era em torno de 745g, de fontes predominantes como carnes de herbívoros,
mamíferos marítimos, aves e peixes e que tal consumo não se restringia à carne,
mas também aos órgãos, tutano e gordura animal, especialmente, durante os
meses de inverno (SABRY; SÁ; SAMPAIO, 2010).
Vale ressaltar que todos os alimentos consumidos diariamente pelos
antigos ancestrais eram colhidos ou caçados de plantas e animais silvestres em
seu ambiente natural (SABRY; SÁ; SAMPAIO, 2010), portanto, a atividade física
era intensa.
Já no Período Neolítico (de 8.000 até 5.000 anos a.C.), com a diminuição
do número dos grandes animais pelo aumento da caça; com as mudanças no
clima e com o crescimento das populações, houve uma inevitável mudança no
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padrão alimentar ao se iniciar a criação/domesticação de animais e a agricultura
(SABRY; SÁ; SAMPAIO, 2010).
Dessa forma, em poucos milênios, o consumo de carne diminuiu
drasticamente, enquanto que os alimentos vegetais passaram a constituir mais
de 90% da alimentação. O tipo de carne consumida também foi modificado (de
carne de animais silvestres para carne de gado), assim como, os produtos
lácteos foram introduzidos na alimentação. O sal apareceu na conservação dos
alimentos e como condimento (SABRY; SÁ; SAMPAIO, 2010; ABREU et al.,
2001). Tais alterações no consumo modificaram também, inevitavelmente, os
nutrientes ingeridos. Como não precisavam mais constantemente buscar
alimentos tornaram-se sedentários.
No último período da Pré-História, denominado de Idade dos Metais (por
volta de 5.000 até 4.000 anos a.C.), houve grande desenvolvimento tecnológico
na metalurgia, o que propiciou a produção de ferramentas mais eficazes para a
agricultura, assim como, para a pesca e caça. Com isso, as pequenas aldeias
de agricultores transformaram-se em núcleos urbanos, organizadas em Estados,
submetidas a uma autoridade política e inicia-se a divisão da sociedade em
diferentes camadas econômicas e sociais, que interferem diretamente no tipo de
alimento a ser consumido. Além disso, com bem menos esforço físico para
prover o sustento, o sedentarismo começa a fazer parte do estilo de vida das
pessoas.
A Idade Antiga é o período da história que segue a Pré-História (de 4.000
anos a.C. até 5 anos d.C.). Engloba, portanto, a alimentação tanto dos egípcios
que tinham uma alimentação bastante variada com vinho, mel, carnes, ovos e
frutos, quanto do povo hebreu expulso do Egito, que consumiram o pão sem
fermento por muito tempo (com o simbolismo de o fermento significar corrupção
e deterioração), até os grandes banquetes gregos e romanos (símbolo de poder
e riqueza).
Durante a Idade Média descobriu-se o uso do vinagre para o preparo das
conservas; difundiu-se o consumo do café, especialmente, entre os muçulmanos
que não podiam beber vinho; os chineses elaboraram uma massa à base de
farinha de trigo, que depois foi utilizada pelo mundo todo como macarrão e o
arroz, trazido da Ásia, espalhou-se pelo mundo todo.
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Na Idade Moderna ocorreu o intercâmbio cultural de alimentos entre
europeus, asiáticos, americanos e africanos, devido às grandes navegações e
às colonizações. Na gastronomia, desenvolvimento de vários tipos de molhos;
junção de açúcar e frutas a pratos salgados; crescimento de casas de café, chá
e chocolate e, por fim, a França se afirma como cozinha e espalha seus
costumes a outros países, especialmente, o de dar grande importância para o
uso da manteiga.
Durante a história, o poder econômico e o monopólio do comércio
passaram por vários povos e nessas conquistas e descobertas houve um
intercâmbio de cultura, hábitos, culinária e conhecimentos. Entretanto, a
distribuição de alimentos sempre foi bastante desigual no mundo, e afetou de
forma importante os padrões de consumo das populações (ABREU et al., 2001).
Normalmente, o que os livros contam são os hábitos da realeza, dos
governantes, e não da maioria da população.
Atualmente, estamos na Idade Contemporânea, ou Pós-Modernidade,
que se iniciou em 1789, ano da Revolução Francesa. Para satisfazer as
exigências da vida atual, adotou-se a nouvelle cuisine (cozinha nova), com
preparações bem mais simples, com pouco tempo de cozimento e menus bem
menores do que os servidos nos banquetes no século XIX.
Foi neste período da história, também, que a industrialização tomou conta
e mudanças alimentares ocorreram. Surgiram os fast foods, o self service, os
restaurantes de hotéis. A globalização e o desenvolvimento tecnológico
permitiram o acesso, em qualquer lugar do mundo, às preparações dos mais
diversos países. As pessoas começaram a trabalhar longe e a fazer suas
refeições fora de casa. Assim, a refeição foi deixando de ser um ritual familiar e
adquiriu um caráter mais individualizado.
Houve aumento do volume de produção de grãos no mercado mundial,
mas não aumento da acessibilidade a esses alimentos por parte da maioria da
população do planeta. A produção de alimentos é a maior de todos os tempos e
o meio técnico de transportá-los e conservá-los é o mais eficiente, mas ainda há
fome e subnutrição nos dias atuais (CARNEIRO, 2005; ABREU et al., 2001). Ao
mesmo tempo em que o excesso de peso e as doenças associadas a ele
aumentam exponencialmente.
7
2. PADRÕES NUTRICIONAIS NO BRASIL E NO MUNDO
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alimentar, baseado em carne e carboidratos simples, também provoca a
demanda de uma produção agrícola voltada para a forragem animal (do qual a
soja é um dos exemplos flagrantes), com graves consequências sociais e
ambientais (CARNEIRO, 2005).
Análises a partir de inquéritos das décadas de 1970, 1980, 1990 e nos
anos mais recentes apontam que os padrões três e quatro ocorrem
simultaneamente. Enquanto ocorre diminuição de desnutrição, ainda permanece
grande número de pessoas com fome. Além disso, aumenta o número de
pessoas com excesso de peso, mas que apresentam carências nutricionais
específicas (MONTEIRO, 2003).
A Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos
maiores problemas de saúde pública no mundo. Declara que desde 1975, a
obesidade quase triplicou em todo o mundo. Em 2016, mais de 1,9 milhão (39%)
de adultos (com 18 anos ou mais) estavam acima do peso, dos quais mais de
650 milhões (13%) eram obesos. Com relação às crianças, 41 milhões menores
de 5 anos de idade estavam acima do peso ou obesas e havia mais de 340
milhões de crianças e adolescentes (de 5 a 19 anos) com sobrepeso ou
obesidade (WHO, 2018).
A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com
sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com
sobrepeso e obesidade no mundo poderá chegar a 75 milhões (ABESO, 2016).
A Figura 1 apresenta a prevalência de obesidade (IMC > 30 kg/m2) em
adultos (maiores de 18 anos), de 1975 a 2014, pelas regiões do mundo. Chama
a atenção o aumento da obesidade entre os africanos e asiáticos no período
citado.
O estudo do papel da migração tem sido importante para explicar esta alta
prevalência na população africana, pois as mudanças no estilo de vida que
ocorreram após a migração ajudam a identificar os principais fatores
predisponentes, que estão relacionados a questões ambientais (dieta, atividade
física e estresse); genéticas (mais de 80 locus são associados à obesidade
poligênica, mas esses locus explicam uma pequena fração de herdabilidade); e
epigenéticas (o estilo de vida pode afetar a epigenética, os mecanismos
celulares que regulam a expressão gênica. Se uma pessoa começa fumar ou
fizer mudanças na dieta ou atividade física, esse comportamento pode induzir
9
alterações epigenéticas que podem aumentar o risco para a saúde) (NATIONAL
ACADEMIES OF SCIENCES, ENGINEERING AND MEDICINE, 2019).
FONTE: Ritchie e Roser, 2018. Apresentado por Vasanti Malik, 9 de outubro de 2018. In: National
Academies of Sciences, Engineering, and Medicine 2019. Current Status and Response to the Global
Obesity Pandemic: Proceedings of a Workshop. Washington, DC: The National Academies Press.
https://doi.org/10.17226/25273.
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Figura 2. Percentual de homens (≥ 18 anos) com obesidade (IMC ≥ 30 kg/m 2),
segundo as capitais dos estados brasileiros e o Distrito Federal. Vigitel, 2017.
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e prevenção à má nutrição infanto-juvenil, 2 milhões e 400 mil crianças de 0 a 5
anos sofrem com a desnutrição, representando 1 em cada 8 crianças.
Considerando o déficit estatural, que reflete a cronicidade da desnutrição, o
Brasil apresenta percentuais mais altos do que aquele esperado em uma
população saudável de referência, que é de 2,3% (PEREIRA et al., 2017).
Aos profissionais da saúde fica o desafio de reduzir as carências
nutricionais e, consequentemente, a desnutrição, mas também o de promover
hábitos alimentares saudáveis desde a infância, a fim de modificar o perfil
nutricional, epidemiológico e de mortalidade da população.
Diante do cenário apresentado no quarto padrão, surge o quinto padrão
que é o de mudanças comportamentais. Neste padrão, há uma tentativa de
resgate de cultura alimentar e de hábitos alimentares mais saudáveis, no intuito
de prevenir as DCNT e prolongar a vida. Neste período, está em evidência
políticas governamentais e ações que visam privilegiar uma alimentação mais
saudável, com menos alimentos industrializados e mais alimentos in natura
(SOARES, 2003). Exemplo disso foi a elaboração das duas edições do Guia
Alimentar para a População Brasileira, pelo Ministério da Saúde, em 2006 e
2014.
Cabe ressaltar que neste quinto padrão, as recomendações que buscam
a prevenção das doenças se baseiam em padrões alimentares ou em modelos
de dietas tradicionais que possuem uma cultura alimentar consolidada e onde as
pessoas não convivem com situações de insegurança alimentar e nutricional,
como por exemplo, a dieta mediterrânea. Dessa forma, preconiza-se o consumo
de grandes quantidades de alimentos de origem vegetal; com alimentos pouco
processados e de produção local; pequena quantidade de carnes, laticínios e
outros produtos de origem animal; e baixo consumo de alimentos com excesso
de gorduras, açúcares e sal (BRASIL, 2006; GARCIA, 2001).
Entretanto, Garcia (2001) alerta que a transposição de modelos de dietas
na perspectiva de se adotar uma alimentação saudável parece ser menos
consistente do que a proposição de valorização da estrutura culinária nativa,
resgatando e valorizando suas peculiaridades. É mais válido esse resgate
cultural do que a importação de um modelo de dieta.
Nesse sentido, é válido citar o movimento ecogastronômico denominado
Slow Food (comida sem pressa), que se constitui em oposição à chamada fast
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food, ícone da cultura industrial e urbana. O Slow Food é outro exemplo
relacionado ao quinto padrão alimentar, pois busca a promoção de uma cultura
gastronômica e resgata a educação do gosto, assim como, defende a
biodiversidade das espécies comestíveis e dos saberes culinários tradicionais,
ambos fortemente vinculados à agricultura familiar (CARVALHO, 2001).
SAIBA MAIS:
O Movimento Slow Food teve como evento fundador uma mobilização em resposta à
abertura de um McDonald’s na Piazza Di Spagna, em Roma. Iniciou na Itália, mas, atualmente,
conta com apoiadores em 150 países e tem como princípio básico o direito ao prazer da
alimentação, utilizando produtos artesanais, produzidos de forma que respeite tanto o
meio ambiente quanto as pessoas responsáveis pela produção, os produtores. O Movimento
opõe-se à tendência de padronização do alimento no Mundo, tanto que criou a “Arca do
Gosto”, um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase
esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos e que estão em risco de
desaparecer. Para saber mais, acesse: www.slowfoodbrasil.com
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3. RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS
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quantidade de frutas e vegetais, além de considerável proporção de leite para
lactentes e crianças (AMÂNCIO; FISBERG; MARCHIONI, 2007).
No período de 1929 a 1935, em função da crise econômica, um grande
número de conferências foi proferido sobre alimentação, nas quais foram
levantadas questões sobre padrões dietéticos (AMÂNCIO; FISBERG;
MARCHIONI, 2007).
Em 1938, o Canadá estabeleceu a recomendação para ingestão de
nutrientes para sua população, denominada como Recommended Nutrient
Intakes (RNI), em português, Ingestões Recomendadas de Nutrientes. As RNIs
foram revisadas periodicamente até 1990 (COMINETTI; COZZOLINO, 2017).
Em 1943, foi publicada a primeira edição da Recommended Dietary
Allowances (RDA), em português, Ingestão Dietética Recomendada, pelo Food
and Nutrition Board (FNB) para a população dos Estados Unidos, durante a II
Guerra Mundial. Tinha finalidade de servir como meta para a boa nutrição e como
padrão de medida por meio do qual seria possível medir o progresso até o
alcance da meta. As RDAs foram revisadas e publicadas periodicamente, sendo
que em 1989, foi publicada a décima e última edição (MOREIRA et al., 2012).
Em 1990, a Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN)
adaptou as recomendações nutricionais para a população brasileira (MOREIRA
et al., 2012).
Nas últimas revisões das RDAs e RNIs, pelos Estados Unidos e Canadá,
cientistas destes países, em conjunto, decidiram estabelecer uma nova estrutura
para as recomendações existentes, o que culminou no estabelecimento das
Dietary Reference Intakes (DRIs), em português, Ingestões Dietéticas de
Referência (COMINETTI; COZZOLINO, 2017).
As DRIs não foram publicadas em um único volume, abrangendo todos
os nutrientes, mas sim aos poucos, como relatórios sobre grupos de nutrientes,
sendo que o primeiro ocorreu em 1997, com os valores de referência para cálcio,
fósforo, magnésio, vitamina D e flúor (MOREIRA et al., 2012).
Vale ressaltar que as DRIs também são revisadas periodicamente
conforme evidências científicas atualizadas sobre os padrões alimentares e
nutricionais da população e a repercussão destes no risco de desenvolvimento
de doenças, como foi o caso dos valores de referência para cálcio e vitamina D,
em 2011, e mais recentemente, de sódio e potássio, em 2019 (IOM, 2011;
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NATIONAL ACADEMIES OF SCIENCES, ENGINEERING, AND MEDICINE,
2019).
Visto que, atualmente, não existem recomendações nutricionais
desenvolvidas em nível nacional, preconiza-se a utilização das DRIs como
valores de referência em pesquisas e na prática clínica.
Entretanto, é fundamental compreender o que são as DRIs e quais são os
seus objetivos para que tanto o diagnóstico quanto a orientação dietética sejam
confiáveis (MOREIRA et al., 2012). Além disso, para a interpretação dos dados
para a população brasileira, alguns aspectos devem ser considerados, como: 1)
a ingestão alimentar com seu erro associado; 2) as possíveis interações,
considerando os hábitos alimentares das diferentes regiões; 3) o grau de
morbidade da população; 4) as diferenças étnicas e 5) os perfis antropométricos.
Por fim, sempre que possível, devem-se associar os dados disponíveis de
ingestão alimentar com o perfil nutricional bioquímico e clínico do indivíduo
(COMINETTI; COZZOLINO, 2017).
16
os indivíduos saudáveis de um determinado grupo de mesmo sexo e estágio de
vida. Sua determinação é feita com base na EAR.
17
Os métodos disponíveis para medir o gasto de energia de forma precisa
(calorimetria direta e indireta), geralmente, não são viáveis na prática clínica,
pelo seu acesso e custo. Desta forma, para cálculo das necessidades
energéticas totais, utiliza-se na prática clínica fórmulas que contribuem para
estipular a necessidade de energia.
A necessidade energética total de um indivíduo é composta pelos valores
da Taxa Metabólica Basal (TMB), da atividade física (ou atividade voluntária), do
efeito térmico dos alimentos e da termorregulação.
Por metabolismo basal compreende-se a soma dos gastos calóricos com
todas as atividades involuntárias que são necessárias para manter a vida. O
metabolismo basal compõe em 60 a 75% do gasto energético diário. A atividade
física voluntária corresponde às atividades intencionais (correr, andar, cantar,
sentar) e é a mais variável na composição do gasto energético, pois depende do
padrão de atividade individual diária e da ocupação, podendo ser de 15 a 30%
do gasto energético diário.
O Efeito Térmico do Alimento (ETA) também chamado de Ação Específica
do Alimento refere-se ao custo metabólico para digerir, absorver e estocar
nutrientes ingeridos. De acordo com os macronutrientes ingeridos, sofre variação
no gasto energético diário (por exemplo, proteínas tem maior efeito térmico dos
alimentos do que o grupo de gorduras), mas de maneira geral, determina-se de
5 a 10% para o ETA.
Por fim, a termorregulação ou termogênese facultativa refere-se a
modificação do gasto de energia decorrentes de mudanças de temperatura e
corresponde a menos de 10% do gasto energético diário. Além disso, possui
pequena influência, devido aos recursos usados para regulação térmica
(casacos, aquecedores, etc.).
Para fins de cálculo de necessidade energética, as fórmulas preditivas
consideram apenas a Taxa Metabólica Basal e o fator atividade, a fim de não
superestimar o cálculo.
As DRIs estabeleceram fórmulas para a estimativa da necessidade
energética, denominadas Estimated Energy Requirement (EER) ou Necessidade
Energética Estimada (NEE). A NEE é definida como a quantidade de energia
contida nos alimentos para manutenção do balanço energético em um indivíduo
com determinada idade, gênero, peso, estatura e nível de atividade física, de
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modo a manter boa saúde. A NEE para gestantes e lactantes também inclui as
necessidades associadas com a deposição de tecidos e com a produção de leite
(CUPPARI, 2005).
O conceito de NEE foi criado para calcular as necessidades energéticas
de indivíduos saudáveis, de forma a manter o peso corpóreo compatível com
boa saúde. Para tanto, as equações foram criadas a partir de um banco de dados
contendo valores do gasto energético de 24 horas, avaliado pelo método da água
duplamente marcada (CUPPARI, 2005).
Sexo masculino:
NEE= 662 – (9,53 x idade) + CAF x [(15,91 x peso) + (539,6 x estatura)]
Onde: Idade em anos, peso em kg, estatura em metros.
CAF = Coeficiente de Atividade Física
CAF = 1 se NAF sedentário (≥1 < 1,4);
CAF = 1,11 se NAF leve (≥1,4 < 1,6);
CAF = 1,25 se NAF moderado (≥1,6 < 1,9);
CAF = 1,48 se NAF intenso (≥1,9 < 2,5);
NAF: Nível de Atividade Física. Consultar o quadro 1 para saber quais as
atividades correspondentes a cada NAF.
Sexo feminino:
NEE = 354 – (6.91 x Idade) + CAF x [(9.36 x Peso) + (726 x Estatura)]
Onde: Idade em anos, peso em kg, estatura em metros.
CAF = Coeficiente de Atividade Física
CAF = 1 se NAF sedentário (≥1 < 1,4);
CAF = 1,12 se NAF leve (≥1,4 < 1,6);
CAF = 1,27 se NAF moderado (≥1,6 < 1,9);
CAF = 1,45 se NAF intenso (≥1,9 < 2,5);
NAF: Nível de Atividade Física. Consultar o quadro 1 para saber quais as
atividades correspondentes a cada NAF.
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Quadro 1. Atividades físicas relacionadas a cada Nível de Atividade Física
(NAF).
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3.4. Necessidades de macronutrientes
Nutrientes
Grupo etário Gordura Ácido linoleico Ácido linolênico
(anos) Carboidrato Proteína
Total (n-6) (n-3)
(% VCT) (% VCT)
(% VCT) (% VCT) (% VCT)
1–3 45 – 65 5 – 20 30 – 40 5 – 10 0,6 – 1,2
4–8 45 – 65 10 – 30 25 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. 9−13 45 – 65 10 – 30 25 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. 14−18 45 – 65 10 – 30 25 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. 19−30 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. 31-50 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. 50-70 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Masc. > 70 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fem. 9−13 45 – 65 10 – 30 25 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fem. 14−18 45 – 65 10 – 30 25 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fem. 19−30 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fem. 31-50 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fem. 50-70 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
21
Fem. > 70 45 – 65 10 – 35 20 – 35 5 – 10 0,6 – 1,2
Fonte: IOM (2002, 2005).
22
3.5. Necessidades de micronutrientes
23
3.6. Utilização das DRIs para avaliação da ingestão de nutrientes para
indivíduos
24
As dificuldades em obter a ingestão habitual.
O que se consegue avaliar é a adequação aparente, ou seja, a estimativa
da ingestão dietética total comparada à estimativa das necessidades do
indivíduo.
Existe a chamada VARIAÇÃO INTRAPESSOAL, que explica a variação
de consumo de nutrientes no dia a dia.
Existe a variabilidade de consumo de acordo com cada nutriente, que
pode ser subestimada ou superestimada a partir da ingestão habitual.
O segundo passo na avaliação individual é escolher a DRI apropriada
para utilizar como padrão de referência. Como a informação acerca da
necessidade individual é rara ou mesmo indisponível, a melhor estimativa
é a EAR.
25
Fonte: (COMINETTI; COZZOLINO, 2017, p. 23).
26
Por fim, para avaliar a PROBABILIDADE de adequação ou de
inadequação do consumo de cada nutriente utiliza-se a fórmula:
R = D / DPD
Onde:
D = Mi - EAR e
27
Fonte: (COMINETTI; COZZOLINO, 2017, p. 25).
Para exemplificar:
Supondo que a ingestão habitual de folato de um homem de 55 anos de
idade tenha sido verificada por meio da aplicação de três registros alimentares
de dias não consecutivos e o resultado médio foram 410 µg/dia. Os dados
necessários para a realização do cálculo de adequação são:
Mi = Média da ingestão individual = 410 µg/dia
EAR de folato (homem 51 a 70 anos) = 320 µg/dia (consultar documentos das
DRIs)
Calcular D (diferença entre a ingestão média e a EAR)
D = 410 µg – 320 µg
D = 90 µg/dia
28
3. Calcular o DPD:
Assim:
29
quando, na avaliação de vários dias, a média for igual ou superior a RDA ou
quando, na avaliação de poucos dias, a ingestão for muito superior a RDA.
Quando a EAR para o nutriente não foi estabelecida, e somente a AI está
disponível, a abordagem descrita anteriormente não pode ser utilizada da
mesma forma.
A AI representa uma ingestão (não uma recomendação) que
provavelmente excede a atual (mas não conhecida) necessidade de quase todos
os indivíduos saudáveis em um mesmo estágio de vida e sexo.
Entretanto, devido a natureza dos dados usados para estabelecer as AIs
seus valores, provavelmente, excederiam as RDAs caso essas pudessem ser
estabelecidas. Dessa forma, a comparação da ingestão habitual com a AI
permite concluir apenas se a ingestão excede ou não a AI. Para tanto, utiliza-se
um teste Z para avaliar qual a probabilidade da ingestão ser verdadeiramente
superior a AI.
Onde:
Mi = média da ingestão observada
DPi = desvio padrão da ingestão
n = número de dias de avaliação da ingestão
30
Quadro 7. Valores selecionados de Z e o nível de confiança associado
concluindo-se que a ingestão habitual é maior que a AI ou menor que a UL
31
Para a prescrição dietética de suplementos nutricionais, o nutricionista
deve respeitar os níveis máximos de segurança, regulamentados pela ANVISA
(Ingestão Diária Recomendada – IDR) e na falta destes, deve respeitar os
valores definidos como “Tolerable Upper Intake Level (UL)”, ou seja, Limite de
Ingestão Máxima Tolerável (das DRIs).
A Ingestão Diária Recomendada (IDR) é a quantidade de proteína,
vitaminas e minerais que deve ser consumida diariamente para atender às
necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos e grupos de pessoas de
uma população sadia, conforme a Resolução RDC nº 269, de 22 de setembro
de 2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Esta Resolução contém três tabelas. A primeira refere-se aos valores de
Ingestão Diária Recomendada de proteína, vitaminas e minerais para Adultos; a
segunda para Lactentes e Crianças; e a terceira para Gestantes e Lactantes. Os
valores de IDR descritos nestas tabelas são utilizados como parâmetro para
enquadrar os suplementos vitamínicos e/ou minerais como medicamento ou
alimento.
Caso a IDR de todas as vitaminas e/ou minerais presentes na fórmula
esteja entre 25 % a 100 % o produto é considerado alimento. Caso a IDR de,
pelo menos, uma das vitaminas e/ou minerais presentes na formulação esteja
acima de 100% o produto é classificado como medicamento.
Além disso, o nutricionista tem competência legal para prescrever os
produtos denominados polivitamínicos e/ou poliminerais, desde que estejam
classificados como de “Venda Sem Exigência de Prescrição Médica”, conforme
determina a Portaria SVS/MS nº 40/1998. Esta Portaria é um Regulamento que
estabelece normas para Níveis de Dosagens Diárias de Vitaminas e Minerais em
Medicamentos e traz em seu Anexo os Níveis Máximos de Segurança.
Para ilustrar a diferença entre Suplementos Vitamínicos e/ou Minerais e
Medicamento a base de Vitaminas e/ou Minerais, o Conselho Regional de
Nutricionistas da 1ª Região, elaborou um material educativo (Figura 4).
32
Fonte: O nutricionista e a prescrição de suplementos nutricionais. CRN1. Set/2014. Disponível em: <
http://www.crn1.org.br/wp-content/uploads/2015/04/CRN1-Suplementos.pdf?x53725>
33
base de vitaminas ou minerais ou aminoácidos ou proteínas isolados ou
associados entre si, para uso oral, com indicações terapêuticas bem
estabelecidas e diferentes das alegações estabelecidas para suplementos
alimentares.
Os medicamentos específicos deverão seguir os critérios da RDC nº
98/2016 para serem considerados isentos de prescrição.
Embora a categoria de suplementos alimentares tenha sido criada em 27
de julho de 2018, com a publicação da RDC 243, foi previsto um prazo de
adequação de 5 anos, que se encerra em julho de 2022. Dentro desse prazo, os
produtos que eram enquadrados em outras categorias e estavam regularizados
junto à vigilância sanitária podem ser comercializados de acordo com a regras
anteriores, desde que não sejam alteradas as condições dessa aprovação.
Entretanto, o processo de adequação desses produtos em transição deve
ser de maneira integral e em ato único, em outras palavras, caso a empresa
responsável tenha o interesse de incorporar algum requisito das regras atuais,
ela deverá atender aos demais itens. Não foi prevista a possibilidade de uma
adequação progressiva.
Em relação ao produtos registrados, a adequação às novas regras requer
a aprovação da Anvisa.
Os novos produtos, ou seja, aqueles que foram desenvolvidos depois de
27 de julho de 2018 devem atender na íntegra aos requisitos da RDC nº
243/2018.
Quando indicada, a prescrição deve apresentar especificação técnica do
produto (e não a marca), o esquema posológico, ou seja, a indicação de via de
administração, dose, horário de administração e o período de uso. Deve conter
ainda, nome do paciente, local, data e carimbo do nutricionista com número do
CRN e inscrição, além do telefone e endereço completo do local de atuação do
profissional.
34
4. GUIAS ALIMENTARES
35
de deficiência de micronutrientes e da frequência do consumo de alimentos de
baixa qualidade nutricional (BARBOSA et al., 2008).
É nesse sentido que foi construída a segunda edição do Guia Alimentar
para a População Brasileira (2014). A primeira edição, publicada em 2006,
apresentou as primeiras diretrizes alimentares para esta população. Entretanto,
diante das transformações sociais vivenciadas pela sociedade brasileira, que
impactaram sobre as condições de saúde e nutrição, fez-se necessária a
apresentação de novas recomendações (BRASIL, 2014).
Assim, a nova edição se constitui como instrumento para apoiar e
incentivar práticas alimentares saudáveis no âmbito individual e coletivo, bem
como para subsidiar políticas, programas e ações que visem a incentivar, apoiar,
proteger e promover a saúde e a segurança alimentar e nutricional da população
(BRASIL, 2014).
Um guia alimentar pode incluir dois elementos: mensagens e gráficos. O
propósito do gráfico é facilitar a transmissão e a memorização de mensagens
contidas nos guias, ajudar o grupo populacional alvo a recordar facilmente que
alimentos devem ser incluídos na dieta e em quais proporções (LANZILLOTTI et
al., 2005).
Foram testadas várias formas de apresentar os alimentos: em pilhas, em
utensílios (xícara, tigela, prato), em carrinho de supermercado e, como pirâmide,
que foi adotada pelo United States Department of Agriculture (USDA) dos
Estados Unidos de 1992 a 2011 e que ficou muito conhecida no Brasil, também,
por ter sido adaptada à população brasileira (PHILIPPI et al., 1999; PHILIPPI,
2008).
Atualmente, diversos ícones ainda ilustram os Guias Alimentares de
diferentes países como, por exemplo, o prato no Reino Unido, o pião no Japão,
o pote (em formato de panela) em Honduras e o modelo de dupla pirâmide na
Itália (Figura 5) (FAO, 2016).
36
Figura 5. Exemplos de ícones utilizados nos Guias Alimentares de diferentes
países. Fonte: FAO (2016).
Itália Honduras
37
proposta americana para o Brasil, mantendo a estrutura da pirâmide, pois de
acordo com os autores, ela expressava de forma clara a escolha dos alimentos
que deveriam ser consumidos, mas adequando os alimentos aos disponíveis no
país e aos hábitos alimentares.
Em 2006, como parte da responsabilidade governamental em promover a
saúde, o Ministério da Saúde publicou a primeira edição do Guia Alimentar para
a População Brasileira que continha as primeiras diretrizes alimentares oficiais
para a nossa população. Era destinado a todas as pessoas envolvidas com a
saúde pública e para as famílias. Continha mensagens centrais para, em um
único conjunto, promover saúde e prevenir doenças crônicas não transmissíveis,
má nutrição em suas diferentes formas de manifestação e doenças infecciosas
(BRASIL, 2006).
Já nesta primeira edição optou-se por não colocar a representação gráfica
da pirâmide alimentar (por críticas quanto à sua interpretação), embora os seus
princípios se baseassem na explicitação e variação das quantidades de
alimentos, fazendo menção às porções alimentares e quilocalorias, por grupos
de alimentos, que eram os mesmos da pirâmide alimentar adaptada à população
brasileira (MENEGASSI et al., 2018). Em suma, este guia apresentava, ainda,
orientações com o objetivo central de quantificar o consumo de nutrientes,
utilizando a abordagem dos grupos de alimentos da pirâmide alimentar.
Visto que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os
governos atualizem periodicamente suas diretrizes nacionais sobre alimentação
e nutrição, a partir de 2011, o Ministério da Saúde iniciou o processo de
atualização para uma nova edição do guia (BRASIL, 2014).
Então, em 2014, foi lançada a segunda edição do Guia Alimentar para a
População Brasileira, em substituição à versão anterior, e com a intenção que
fosse utilizado amplamente nos espaços de promoção da saúde, como casas
das pessoas, unidades de saúde, escolas, centros comunitários, centros de
referência de assistência social, sindicatos, centros de formação de
trabalhadores, sedes de movimentos sociais, entre outros (BRASIL, 2014).
Esta edição ganhou notoriedade nacional e internacional* por apresentar
um novo paradigma quanto à dimensão da alimentação saudável. As
orientações vão além das especificidades biológicas e da abordagem
medicalizada das prescrições alimentares para adotar o grau e a finalidade do
38
processamento dos alimentos como definidor das escolhas alimentares (CRN2,
2016), tanto que o primeiro princípio deste guia é “Alimentação é mais que
ingestão de nutrientes”, demonstrando que
Figura 6. Três grandes eixos que regem a prática alimentar dos indivíduos, de
acordo com a segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira.
39
Fonte: ROCHA, M. Guia Alimentar para a População Brasileira. IV Jornada de Atualização Técnica de
Fiscais do Sistema CFN/CRN. São Paulo. 25 nov 2015. Disponível em: < http://www.cfn.org.br/wp-
content/uploads/2015/12/Guia-Alimentar-da-Populacao-Brasileira.pdf>
40
culinárias, tempo e publicidade e propõe soluções; e, por fim, sintetiza as
recomendações na forma de “Dez Passos para uma Alimentação Adequada e
Saudável” (BRASIL, 2014).
SAIBA MAIS:
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) tem um site
sobre Guias Alimentares que serve como uma plataforma para a troca de informações sobre
guias alimentares a nível global. O site contém guias de mais de 60 países e vai se expandindo
e atualizando regularmente. Também contém um grande número de manuais, materiais
educativos e informes científicos sobre o desenvolvimento e implementação de guias
alimentares.
Vale a pena conferir. Acesse: http://www.fao.org/nutrition/educacion-nutricional/food-dietary-
guidelines/home/es/
41
5. SISTEMA IMUNE
42
5.1. Imunidade inata
43
Durante sua vida útil, as DCs imaturas migram da medula óssea pela
corrente sanguínea, atingindo tecidos periféricos como a pele, onde se tornam
residentes. Após o contato com o antígeno, é que se tornam ativadas e migram
pelos vasos linfáticos até os órgãos linfoides secundários. Um aspecto curioso é
que as DCs são as primeiras células a chegar a um sítio infeccioso, precedendo
até mesmo os neutrófilos (CRUVINEL et al., 2010).
As células Natural Killer (NK) são células exterminadoras naturais que tem
a função de eliminar células anormais do hospedeiro que se acredita que
apareçam constantemente durante toda a vida de um indivíduo (SHILS et al.,
2003). Elas têm origem na medula óssea, a partir de um progenitor comum aos
linfócitos, e são uma importante linha de defesa inespecífica, reconhecendo e
lisando células infectadas por vírus, bactérias e protozoários, bem como células
tumorais (CRUVINEL et al., 2010).
O Sistema Complemento (SC) é um conjunto de mais de 20 proteínas
plasmáticas, sintetizadas principalmente no fígado, importantes para a
integração dos mecanismos efetores da imunidade inata e adaptativa. Essas
proteínas, ao serem ativadas, interagem entre si de forma sequencial, originando
uma série de reações em cascata, com produção de diferentes fragmentos
proteicos, ou mediadores, que contribuem para diferentes efeitos biológicos, tais
como destruição de membranas celulares, o aumento da atividade fagocitária
celular e a indução de reações inflamatórias. Existem três vias de cascata do
SC: clássica, alternativa e via das lectinas ligadoras de manose (MBL)
(CRUVINEL et al., 2010; MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON, 1999; SHILS et al., 2003).
Fagocitose, liberação de mediadores inflamatórios, ativação de proteínas
do sistema complemento, bem como síntese de proteínas de fase aguda,
citocinas e quimiocinas são os principais mecanismos na imunidade inata. Os
mediadores da resposta inflamatória são variados e derivam de precursores
plasmáticos e celulares (Quadros 8 e 9) (CRUVINEL et al., 2010).
44
Bradicinina Sistema calicreínacininas Peptídeo vasoativo que causa vasodilatação,
aumento de permeabilidade vascular e estímulo
de terminações dolorosas.
C3 e C5 Sistema Complemento C3a e C5a estimulam liberação de histamina,
C3b atua como opsonina.
C5a tem ação quimiotática para fagócitos.
Fator XII (Fator de Fígado Ativado por contato no tecido lesado, ativa os
Hageman) sistemas das calicreínacininas, da coagulação e
o sistema fibrinolítico.
Plasmina Sistema fibrinolítico Enzima capaz de quebrar coágulos de fibrina, o
componente C3 do Complemento, e ativar o fator
XII.
Trombina Sistema da coagulação Promove a quebra de fibrinogênio em fibrina e
ligase a receptores que levam à produção de
mediadores da inflamação como quimiocinas e
óxido nítrico.
Fonte: (CRUVINEL et al., 2010, p. 444)
45
crônica, em geral, ocasionada por persistência do estímulo tóxico, o processo
inflamatório se mantém e sofre alterações qualitativas, caracterizadas por
mudança progressiva nos elementos celulares e solúveis que infiltram o tecido
(CRUVINEL et al., 2010).
46
regiões constantes das imunoglobulinas são limitadas e podem-se identificar
cinco tipos: IgG, IgA, IgM, IgD e IgE (MARTÍNEZ; ALVAREZ-MON, 1999).
Embora as principais células envolvidas na resposta imune adquirida
sejam os linfócitos, as células apresentadoras de antígenos (APCs)
desempenham papel fundamental em sua ativação, apresentando antígenos
associados a moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC,
major histocompatibility complex) para os linfócitos T (CRUVINEL et al., 2010).
As principais características da imunidade adquirida são: especificidade e
diversidade de reconhecimento, memória, especialização de resposta,
autolimitação e tolerância a componentes do próprio organismo (CRUVINEL et
al., 2010).
47
6. IMUNONUTRIÇÃO E OTIMIZAÇÃO DAS DEFESAS DO ORGANISMO
48
No processo de carcinogênese, os principais mecanismos dos ácidos
graxos ômega-3 incluem: supressão da biossíntese dos eicosanoides derivados
do ácido araquidônico; impacto na proliferação celular, apoptose, disseminação
de metástases e angiogênese; influência na atividade do fator de transcrição
nuclear, na expressão gênica e nas vias de transdução de sinais; alteração no
metabolismo do estrogênio; aumento ou diminuição da produção de radicais
livres; e envolvimento em mecanismos relacionados à sensibilidade à insulina e
à fluidez das membranas (FORTES; WAITZBERG, 2011).
Por essas razões, a suplementação com ômega 3 tem sido estudada em
pacientes oncológicos e cirúrgicos.
Em pacientes com queixa de anorexia e perda de peso, o ômega 3
apresenta benefícios como redução da degradação proteica induzida pelo fator
de indução da proteólise, prevenção do turnover proteico hepático, inibição da
IL-6 e inibição do fator tumoral mobilizador de lipídio (SOUZA; GALLON, 2017).
Em pacientes oncológicos, a utilização de fórmulas especiais contendo
ácidos graxos ômega 3 têm demonstrado influência positiva sobre o estado
nutricional no pós-operatório, ajudando a prevenir a desnutrição proteico-calórica
e melhorando os parâmetros nutricionais (níveis de proteínas séricas, peso
corporal e massa magra). Consequentemente, há melhora, do sistema
imunológico e das respostas inflamatórias, repercutindo na redução das
complicações infecciosas e do tempo e permanência hospitalar, além de melhora
da cicatrização (SOUZA; GALLON, 2017).
A suplementação com ácidos graxos ômega-3 demonstrou efeitos
favoráveis em pacientes submetidos à cirurgia de grande porte, por minimizar a
magnitude da resposta inflamatória e pela modulação da resposta imune, além
de promoverem a redução da agregação plaquetária, atividade de coagulação e
produção de citocinas (FORTES; WAITZBERG, 2011).
6.2. Glutamina
49
essencial, porém, em situações críticas, como cirurgia, trauma e exercício
extenuante, torna-se um aminoácido essencial, visto que a sua síntese não supre
as necessidades orgânicas (FORTES; WAITZBERG, 2011).
Entre suas muitas funções metabólicas essenciais a glutamina é substrato
para energia da maioria das células, especialmente para os enterócitos e
linfócitos; e é também um precursor de glutamato, em particular, de glutationa,
um importante antioxidante celular (OLIVEIRA et al., 2010). Tais funções podem
ser afetadas pela deficiência de glutamina.
Outras funções da glutamina incluem: proliferação e desenvolvimento de
células imunitárias, equilíbrio ácido-básico, transporte de amônia entre os
tecidos, doação de esqueletos carbonados para a gliconeogênese, dentre outras
(FORTES; WAITZBERG, 2011).
Nas situações hipermetabólicas, a suplementação com glutamina tem
sido recomendada, pelos potenciais efeitos benéficos: aumento da síntese de
glutationa, potencializando as defesas antioxidantes; manutenção da integridade
da mucosa intestinal (fonte energética para enterócitos), evitando a translocação
bacteriana; elevação da síntese de proteínas da resposta inflamatória,
atenuando o processo inflamatório; e preservação da função imune, servindo de
fonte energética para linfócitos e precursores de citocinas (PACÍFICO; LEITE;
CARVALHO, 2005).
O uso de glutamina em pacientes cirúrgicos está associado à diminuição
da taxa de complicações infecciosas no pós-operatório, do tempo de internação
e, além disso, pode melhorar o balanço nitrogenado. Além disso, a ingestão de
glutamina, no pré-operatório, atenua a resistência à insulina, melhora sua
sensibilidade periférica com consequente redução da hiperglicemia, favorece
maior disponibilidade de glicose e, ainda, estimula diretamente a produção de
insulina pelas células beta do pâncreas no pós-operatório (DOCK-
NASCIMENTO; AGUILAR-NASCIMENTO; WAITZBERG, 2012).
6.3. Arginina
50
de vários hormônios, como hormônio de crescimento, glucagon e insulina, que
possuem efeito modulatório na resposta imunitária, além de ser precursora da
síntese de poliaminas e ácidos nucléicos, ambos indispensáveis para a
proliferação e diferenciação celular (FORTES; WAITZBERG, 2011).
Esse aminoácido pode reduzir a produção de mediadores pró-
inflamatórios, como IL-1, IL-6 e FNT-α, no sítio da injúria, e melhorar a imunidade
celular (linfócitos CD4, CD8), bem como acelerar o crescimento tecidual após
trauma ou infecção (FORTES; WAITZBERG, 2011).
A arginina é conhecida por promover a proliferação de células T, benéficas
na cicatrização após cirurgias. E o reforço imunitário com arginina no pré-
operatório melhora as respostas imunes e inflamatórias pós-operatórias.
(SOUZA; GALLON, 2017).
Dietas enriquecidas com arginina são capazes de reduzir as taxas de
infecções no pós-operatório de pacientes oncológicos; melhorar o estado
nutricional e a função imune celular de pacientes críticos; promover aumento no
volume do timo e na função de macrófagos e células NK5; reduzir a excreção de
nitrogênio e a perda de peso, com melhora significativa do balanço nitrogenado
(FORTES; WAITZBERG, 2011; SOUZA; GALLON, 2017).
51
sistema imunológico por meio do aumento do número de linfócitos e leucócitos
no GALT e elevação da secreção de IgA, assim como sua concentração no
tecido (FONSECA; COSTA, 2010).
Os probióticos, por sua vez, são microrganismos vivos que, quando
consumidos regularmente em quantidades suficientes, produzem efeitos
benéficos ao equilíbrio da microbiota intestinal. Eles podem atuar tanto sistema
imune inato quanto no adaptativo, por meio de imunidade humoral ou celular
(FONSECA; COSTA, 2010).
As bactérias probióticas ocupam os sitos de ligação (receptores ou pontos
de ligação) na mucosa intestinal, formando um tipo de barreira física às bactérias
patogênicas. Essas bactérias não conseguem se ligar a esses receptores e,
consequentemente, são excluídas por competição. Além disso, os probióticos
atuam com outros mecanismos, como: regulação da produção de citocinas;
aumento da liberação da secreção de IgA; produção de agentes antibactericidas
conhecidos como bacteriocinas; e aumento da junção entre as células para
prevenir a invasão de bactérias intracelulares (FONSECA; COSTA, 2010).
Por fim, a combinação de probiótico e prebiótico denomina-se simbiótico
e parece que a utilização combinada dos dois é mais benéfica do que em
separado. O uso de simbiótico é capaz de otimizar os resultados em relação aos
probióticos em termos de imunomodulação e controle bioecológico intestinal.
Neste sentido, propõe-se que os efeitos clínicos de um único probiótico seriam
menores que os de múltiplos probióticos, que por sua vez seriam inferiores aos
efeitos obtidos de um simples simbiótico e de uma mistura simbiótica de múltiplos
probióticos e prebióticos (FONSECA; COSTA, 2010).
6.5. Antioxidantes
52
Um dos componentes importantes da defesa antioxidante são as enzimas
(antioxidantes enzimáticos): superóxido-dismutase (dependente de cobre, zinco
e manganês), glutationa peroxidase (dependente de selênio) e catalase, que são
sintetizadas pelo próprio organismo. Além de suprimirem o componente
inflamatório, os antioxidantes podem estimular a resposta imunológica celular,
ocorrendo o inverso quando as defesas antioxidantes estão diminuídas (SARNI
et al., 2010).
Os antioxidantes não enzimáticos são essencialmente ingeridos por
diversas fontes alimentares, especialmente, frutas, legumes e vegetais, e
representados pelos oligoelementos (Zn, Fe, Se) e vitaminas C (ácido
ascórbico), E (α-tocoferol) e A (carotenoides) (SARNI et al., 2010).
Nas formas clínicas de desnutrição, tipo kwashiorkor, há um desequilíbrio
entre a produção de radicais livres (RL) e sua eliminação. É devido ao aumento
de RL circulantes que há formação de edema nas formas graves de Desnutrição
Energético-Proteica, pois desencadeia um aumento na permeabilidade
endotelial (SARNI et al., 2010).
O estresse oxidativo é prejudicial na inflamação sistêmica, como na
sepse, pois o descontrole na produção de RL pode ocasionar lesões à distância.
Assim, na desnutrição, o comprometimento na função imune aliado à
exacerbação do estresse oxidativo podem contribuir para a ocorrência de
processos infecciosos sistêmicos e graves o que eleva sobremaneira a
morbimortalidade (SARNI et al., 2010).
6.5.1. Vitamina C
6.5.2. Vitamina E
53
A deficiência reduz a proliferação de linfócitos e as funções dos fagócitos,
enquanto a suplementação em indivíduos saudáveis aumenta a proliferação de
linfócitos, a produção de IL-2, a atividade das células NK e as funções
fagocíticas.
6.5.3. -caroteno
6.5.4. Selênio
6.5.5. Zinco
54
(metaloproteinases) que ativam fatores antimicrobianos em células de Paneth
(intestino). Mantém e melhora a integridade da mucosa intestinal (proteínas tight-
junction).
6.5.6. Cobre
6.5.7. Ferro
55
7. RASTREAMENTO, AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO PARA O
DIAGNÓSTICO DO ESTADO NUTRICIONAL
56
Existem vários métodos de triagem nutricional. Araújo et al. (2010)
encontraram doze métodos de triagem nutricional descritos na literatura,
entretanto, alguns se destacam pela maior relevância técnico-científica.
57
A Mini Avaliação Nutricional (MAN) consiste em um questionário dividido
em duas partes, a primeira denominada Triagem (MAN-SF) e a segunda
denominada de Avaliação Global (MAN).
A Triagem é composta por questões que englobam alterações da ingestão
alimentar (por perda de apetite, problemas digestivos ou dificuldade de
mastigação ou deglutição), perda de peso, mobilidade; ocorrência de estresse
psicológico ou doença aguda, problemas neuropsicológicos e IMC.
A Avaliação Global inclui, por sua vez, questões relativas ao modo de vida,
lesões de pele ou escaras, medicação, avaliação dietética (perguntas relativas
ao número de refeições, ingestão de alimentos e líquidos e autonomia na
alimentação), auto-avaliação (autopercepção da saúde e da condição
nutricional) e duas medidas antropométricas, o perímetro braquial e o de perna.
Faz-se inicialmente a Triagem, que determina se existe ou não
possibilidade de desnutrição e, caso exista, o questionário deve ser continuado.
Caso contrário, não há necessidade do preenchimento do restante do formulário.
O questionário completo pode ser preenchido em cerca de 10 minutos. De
acordo com o preenchimento do formulário e com a soma do escore obtido,
classifica-se o paciente em: normal (ou sem risco de desnutrição), em risco
nutricional e desnutrido.
Por ser uma triagem validada para idosos, é muito utilizada para avaliar
idosos institucionalizados em Instituições de Longa Permanência de Idosos
(ILPIs).
58
pacientes clínicos, cirúrgicos e demais presentes no âmbito hospitalar,
abrangendo todas as condições mórbidas.
Uma dificuldade é a quantificação da dieta ingerida que é feita em quartis
(entre 50%-75%, 25%-50% e 0%-25%). A informação da ingestão atual em
instrumentos de triagem deve ser obtida por informações qualitativas, indiretas
e rápidas. Por esse motivo, o entrevistador que aplicar a NRS 2002 deve ser
devidamente treinado, a fim de minimiza os erros relacionados à coleta de dados
(RASLAN et al., 2008).
59
trabalho, na família nos últimos seis a doze meses que podem estar relacionados
com o problema.
Além disso, buscar problemas de saúde apresentados na infância; testes
de alergia e outros exames realizados e resultados; uso de medicamentos
(tempo, dose e tipo); histórico familiar de saúde e doença, especialmente, pais e
irmãos; tipo de ocupação; lazer e atividade física. Enfim, quanto mais informação
tiver sobre o paciente, mais completo será o diagnóstico nutricional.
60
habitual. Dessa forma a coleta de dados se daria pelas informações do
recordatório de 24 horas (alimento/tipo/marca e quantidade) mais as
informações do QFA (frequência semanal e substituições), conforme mostra a
Figura 7.
a) Alimentação Vegetariana/Vegana
61
movem os brasileiros a serem vegetarianos (SLYWITCH, 2012; SIQUEIRA;
MENDES; ARRUDA, 2007).
O número de vegetarianos no Brasil vem aumentando nos últimos anos,
especialmente, em algumas regiões metropolitanas, com crescimento de 75%
de 2012 para 2018. De acordo com uma pesquisa de opinião encomendada pela
SVB para o IBOPE Inteligência, em abril de 2018, 14% da população brasileira
se declarou vegetariana, representando quase 30 milhões de adeptos a esta
opção alimentar (SOCIEDADE VEGETARIANA BRASILEIRA, 2018).
De acordo com a ADA (American Dietetic Association), Associação
Dietética Americana, as dietas vegetarianas, se bem planejadas, são
apropriadas durante todos os estágios dos ciclos de vida, incluindo a gravidez
(PICCOLI, 2015). Inclusive, há indicação de que as dietas vegetarianas
oferecem vantagens significativas em relação às dietas onívoras, principalmente,
devido ao reduzido teor de gorduras saturadas, de colesterol, de proteína animal,
e por apresentarem maior conteúdo de fibras, carboidratos complexos e
antioxidantes, que exercem impacto positivo na prevenção e no controle de
doenças crônicas não transmissíveis (SIQUEIRA; MENDES; ARRUDA, 2007).
A adequação das dietas vegetarianas ocorre pela variedade de alimentos
que as compõem. Quanto maior a diversificação, maior é a chance de que todos
os nutrientes sejam fornecidos.
Com relação às proteínas, a grande preocupação consiste no fato das
proteínas provenientes de vegetais não conterem em sua composição todos os
aminoácidos essenciais, limitando a síntese de proteínas no organismo. Além
disso, as proteínas de origem vegetal são de 10 a 30% menos digeridas do que
as de origem animal e, por isso, não são aproveitadas com a mesma eficiência
(MAROTE, 2013).
O Índice de Aminoácidos Corrigido por Digestibilidade de Proteína
(PDCAAS) é um método que avalia a propriedade de uma proteína alimentar
baseando-se na sua composição em aminoácidos e respectiva digestibilidade.
Os PDCAAS do trigo, grão-de-bico e leite são 42%, 80% e 100%
respectivamente, evidenciando a melhor qualidade das proteínas animais.
Entretanto, as leguminosas (no caso, o grão-de-bico, 80% de PDCAAS)
aproximam-se muito bem da qualidade de uma proteína de origem animal como
o leite (100%). Outras fontes de proteínas vegetais que apresentam alta
62
qualidade proteica comparada às proteínas de origem animal são a soja, a
quinoa e o amaranto (MAROTE, 2013; GUIMARÃES; VIEIRA, 2018).
Portanto, para atender a demanda proteica dos veganos é de extrema
importância a ingestão variada de proteínas vegetais, equilibrando o consumo
entre cereais e leguminosas diariamente, a fim de equilibrar os aminoácidos
deficientes em um ou outro grupo. Vale ressaltar que os dois grupos alimentares
não precisam estar na mesma refeição, mas precisam ser ingeridos no mesmo
dia e que o grupo das carnes deve ser substituído pelo grupo das leguminosas
pelo melhor valor de PDCAAS (MAROTE, 2013; GUIMARÃES; VIEIRA, 2018).
Com relação ao ferro, a absorção de ferro não heme é inibida pelo ácido
fítico, encontrado nos grãos não fermentados, legumes, lentilhas e frutos secos;
pelos polifenóis, encontrados no chá, café, vinho tinto, vários cereais, vegetais e
especiarias; pela proteína de soja; e pelos ovos. O cálcio é também considerado
um inibidor da absorção de ferro heme e não heme (MAROTE, 2013).
Estudos realizados nas décadas de 80 e 90 verificaram valores mais
baixos de ferritina plasmática, hemoglobina e hematócrito em vegetarianos,
comparativamente aos não vegetarianos, especialmente em mulheres, estando,
no entanto, dentro dos limites da normalidade. Tais dados sugerem que há uma
resposta adaptativa do organismo à absorção de ferro não heme e que como
não são conhecidos efeitos deletérios na saúde, decorrentes de baixas reservas
de ferro sem anemia, a suplementação com ferro deve ser preferencialmente,
individualizada e realizada de acordo com os níveis de hemoglobina, e não
generalizada a todos os que praticam dietas vegetarianas (MAROTE, 2013).
SAIBA MAIS:
A absorção de ferro nas das dietas vegetarianas pode ser otimizada através da seleção e
combinação adequada dos alimentos, assim como, por técnicas de preparação alimentar:
- Utilizar frutas e legumes em abundância: a vitamina C e os ácidos orgânicos melhoram a
disponibilidade do ferro ingerido e amenizam o efeito do ácido fítico (que dificulta a absorção
do ferro, cálcio e zinco) presente nos grãos.
- Numa refeição rica em ferro, evitar consumir alimentos que contenham componentes que
dificultam a absorção desse mineral: chás (mesmo que seja de ervas), café, ácido fítico e
laticínios.
- Deixar feijões, cereais e sementes de molho na água durante oito horas antes do cozimento
para reduzir o teor de ácido fítico.
63
- Algumas proteínas presentes em ovos e derivados lácteos prejudicam a absorção do ferro.
- O cálcio dificulta a absorção de ferro. Como é quase impossível separar os alimentos ricos
em ferro dos ricos em cálcio (especialmente quando se trata de verduras), atentar-se às doses:
menos de 40mg de cálcio não inibem a absorção do ferro. A inibição máxima só ocorre quando
há 300mg de cálcio na refeição.
64
Estima-se que 50 a 60% dos vegetarianos apresentam níveis séricos
baixos de vitamina B12. Portanto, deve-se avaliar e acompanhar os níveis
séricos. A suplementação pode ser feita sob a forma de cápsulas vegetais ou
gotas. Atenção às cápsulas no caso de manipulação, pois as comumente
utilizadas pelas farmácias são de origem animal. A vitamina B12 dos
suplementos é obtida por cultura de bactérias em laboratório (SLYWITCH, 2012).
b) Alimentação Macrobiótica
65
nível de atividade física, ambiente, alimentação tradicional, padrões culturais
alimentares e disponibilidade de alimentos (SILVA; MENDES, 2008).
A dieta macrobiótica zen foi inicialmente proposta por George Ohsawa,
profeta japonês, filósofo e conferencista, que viveu a maior parte da sua vida em
Paris e morreu em 1966, aos 73 anos de idade. Ela representa um exemplo
extremo da tendência para os alimentos naturais e a filosofia gira em torno de
um sistema nutricional com o objetivo de prevenir e curar qualquer doença,
desde caspa até câncer. É constituída por 10 etapas de restrição alimentar que
progridem de -3 a 7, com a eliminação gradual de produtos de origem animal,
frutos e vegetais. Na dieta -3, os cereais constituem 10%, os vegetais 30%, a
sopa 10%, os produtos de origem animal 30%, as saladas e frutas 15%, e as
sobremesas 5% da refeição. Contudo, na dieta 7, os cereais constituem 100%
da refeição, nomeadamente o arroz integral.
Após ser considerada uma ameaça à vida humana, a dieta macrobiótica
zen sofreu uma adaptação por Michio Kushi e ficou denominada como dieta
macrobiótica moderna ou dieta macrobiótica padrão (SILVA; MENDES, 2008).
A dieta macrobiótica padrão apresenta as seguintes proporções de
alimentos, que devem ser ingeridos diariamente, não sendo necessário incluir
alimentos de todas as categorias numa só refeição: 40-60% de cereais integrais
em grãos; 20-30% de vegetais (sendo que um pequeno volume de pickles não
temperados deve ser consumido diariamente, especialmente, no inverno); 5-
10% de leguminosas e algas marinhas; e 5-10% de sopas (SILVA; MENDES,
2008).
Os alimentos que devem ter consumo ocasional são: peixe de carne
branca de uma a três vezes por semana, mas correspondendo a 5 a 10% do
consumo alimentar desse dia; frutas ou sobremesas de frutas podem também
ser consumidas duas ou três vezes por semana; como adoçantes podem ser
usados xarope de arroz, malte de cevada e mirin (tipo de saquê doce); e
sementes e oleaginosas ligeiramente torradas podem ser utilizadas
ocasionalmente como lanches (SILVA; MENDES, 2008).
Como bebidas recomendadas para uso diário, consideram-se alguns chás
(cevada tostada e dente-de-leão); “café” de cereais (malte, principalmente); e
qualquer chá tradicional não aromático e não estimulante. Também é
66
recomendada ingestão de quantidades moderadas de água na temperatura
ambiente e não fria (SILVA; MENDES, 2008).
Deve-se evitar os seguintes alimentos e bebidas: carne, gordura animal,
ovos, aves, produtos lácteos (incluindo manteiga, iogurte, sorvete, leite e queijo),
açúcares refinados, chocolate, melaço, mel, outros adoçantes, ou alimentos que
os contenham, e baunilha; frutas tropicais e suco de frutas, refrigerantes, bebidas
adoçadas artificialmente, café, chá corado, e todos os chás aromáticos ou
estimulantes como o de menta ou hortelã; todos os alimentos com corantes ou
conservantes ou tratados quimicamente; todos os grãos refinados ou polidos,
farinhas e seus derivados; alimentos processados incluindo todos os enlatados,
congelados e alimentos irradiados; condimentos picantes; e qualquer alimento
aromático ou estimulante, vinagre artificial e bebidas alcoólicas fortes (SILVA;
MENDES, 2008).
Michio Kushi propôs, em 2001, a pirâmide alimentar macrobiótica (Figura
8).
67
Nos últimos anos, as dietas Low Carb (LC) surgiram como um meio
controverso e popular de conseguir perda de peso e controle do diabetes
(NILSSON et al., 2013).
São muitos os tipos de dietas low carb, entre elas a dieta Atkins, a
cetogênica e a dieta da zona - cada uma propondo restrições específicas quanto
à ingestão de carboidratos (algumas mais severas, outras mais brandas).
Tecnicamente, em publicações científicas, utiliza-se a sigla HPLC (do
inglês: high-protein, low-carbohydrate ou alta proteína, baixo carboidrato) para
se referir a regimes alimentares desse tipo (ALMEIDA, 2017).
O princípio da utilização da dieta LC baseia-se no fato de que havendo
uma grande restrição de carboidratos, com a sua resultante cetose, há uma
oxidação lipídica, promovendo um efeito de saciedade e aumento do gasto
energético, fatores que devem promover um balanço energético negativo e
consequente perda de peso (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
Para perda de peso, estudos que utilizaram estratégias extremamente ou
mais modestamente reduzidas no teor de carboidratos (por exemplo, 28% de
carboidratos; 9% de proteína e 63% de gordura; ou 44% de carboidratos; 18%
de proteína e 38% de gordura) encontraram resultados tão eficazes quanto às
dietas tradicionais de baixa caloria/baixo teor de gordura pelo período de até dois
anos (NILSSON et al., 2013).
De acordo com Hite et al. (2011), a dieta low carb é baseada em limites
de ingestão diária de 30 a 130g de carboidratos. Estudos de revisão apontam
que esta prática favorece a perda de peso e gordura corporal, assim como,
diminui o risco de doenças cardiovasculares (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
Os resultados de ensaios clínicos randomizados pesquisados por Nilsson
et al. (2013) também apoiaram a melhora nos parâmetros metabólicos e de
lipídeos sanguíneos de indivíduos após uma dieta low carb, apesar da elevação
dos marcadores de estresse e inflamação, visto que essas alterações podem
diminuir o risco de doenças crônicas graves, como doenças cardiovasculares e
câncer.
A dieta LC promove uma redução nos níveis de insulina e sensibilidade a
ela, fato este que também está relacionado à perda de peso, visto que a insulina
68
é um hormônio anabólico, que induz a lipogênese (VARGAS; PESSOA; ROSA,
2018).
No entanto, em longo prazo, os efeitos da redução de carboidratos em
diferentes graus e consequente aumento do consumo de vários tipos de proteína
e/ou gordura, para resultados de saúde, e câncer em específico, são
amplamente desconhecidos (NILSSON et al., 2013).
Vargas, Pessoa e Rosa (2018) realizaram um estudo com o objetivo de
avaliar o efeito da dieta low carb na composição corporal de mulheres praticantes
de atividade física. Como protocolo foi estabelecido a quantidade máxima de
consumo diário de 80g de carboidratos para todas as participantes, por dois
meses, sendo que estas controlavam o consumo com base em um exemplo de
dia alimentar e uma lista de substituição de alimentos, entregues e orientadas
pelas pesquisadoras. O controle foi feito apenas em relação aos carboidratos,
os demais macronutrientes eram de livre consumo.
Como parte dos resultados, as autoras apresentaram que houve um alto
percentual de desistência das participantes e que a justificativa foi a dificuldade
em controlar a quantidade de carboidratos a serem consumidos, especialmente,
durante o período de inverno (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
Wan et al. (2017) compararam três dietas diferentes em um estudo clínico
randomizado realizado em uma população chinesa com sobrepeso, mas sem
características da síndrome metabólica. Uma das dietas foi LF-HC (hipolipídica
20% e normoglicídica 66% de carboidratos); outra dieta foi normolipídica e
normoglícidica MF-MC (30% de gordura, 56% de carboidratos); e a última dieta
foi hiperglicídica e normoglicídica HF-LC (40% de gordura e 46% carboidratos).
Cerca de 300 indivíduos foram randomizados nos três tratamentos e após 6
meses, a redução do peso corporal foi significativamente maior no grupo LF-HC
durante todo a intervenção (0,5 kg maior que a MF-MC e 0,7 kg maior que no
grupo HF-LC). Os efeitos nos fatores de risco cardiometabólicos foram
semelhantes nas três dietas.
Estes resultados do estudo de Wan et al. (2017) demonstram uma
descoberta recente: que a eficácia das dietas LC depende do metabolismo
glicídico dos participantes com excesso de peso. Resumidamente, indivíduos
normoglicêmicos perderam mais peso com uma dieta rica em carboidratos com
baixo teor de gordura, enquanto indivíduos pré-diabéticos são muito mais
69
suscetíveis a perder peso em uma dieta com mais foco na qualidade dos
carboidratos, ou seja, menor índice glicêmico, mais fibras e grãos integrais.
Vale lembrar que os participantes do estudo de Wan et al. (2017) tinham
idade média de 23 anos, IMC médio de 21,8 kg/m2 e glicemia de jejum dentro da
normalidade. Portanto, uma população caracterizada como saudável e sensível
à insulina; um grupo que na verdade poderia ter uma melhor capacidade de
resposta na dieta pobre em gorduras e rica em carboidratos mesmo.
Notavelmente, esses efeitos são bastante pronunciados mesmo em
condições de ad libitum, ou seja, sem colocar nenhum limite na ingestão calórica.
Para diabéticos com sobrepeso e obesos, é essencial uma redução na
quantidade de carboidratos, e para esse grupo uma quantidade relativamente
maior de proteínas e gorduras na dieta é benéfica para o controle de peso e o
status glicêmico. Fica evidente, portanto, que não existe uma dieta adequada
para todos, e que uma abordagem dietética personalizada é necessária.
d) Jejum intermitente
70
Dessa forma, são omitidas as três refeições principais corriqueiras e
realizadas apenas duas refeições: uma ao final do dia para a quebra do jejum e
outra antes do amanhecer para auxiliar no cumprimento do jejum (VEJA, 2015).
Portanto, no Ramadã, os muçulmanos ficam, aproximadamente, 12 horas de
jejum por dia. Mas, os protocolos para as dietas de JI, são os mais diferenciados
possíveis, desde 12 horas mesmo, até 60 horas (AZEVEDO; IKEOKA;
CARAMELLI, 2013).
No estudo de Vargas, Pessoa e Rosa (2018), foi utilizado um protocolo de
4:3, sendo quatro dias da semana de alimentação ad libitum (sem colocar
nenhum limite na ingestão calórica) e três dias de jejum de 16 horas. Neste
estudo especificamente, 60% das participantes desistiram e responderam como
fato determinante para isto que não conseguiam ficar o tempo proposto em
jejum.
Resultados semelhantes são encontrados em outros estudos, visto que a
maioria dos indivíduos tende a desenvolver dores de cabeça, tonturas e
irritabilidade se a dieta for prescrita por um período superior a algumas semanas
(AZEVEDO; IKEOKA; CARAMELLI, 2013).
Nos seres humanos, um período de 12 a 24 horas de jejum resulta em
diminuição de 20% ou mais da glicemia e depleção do glicogênio hepático.
Assim, é utilizada como fonte de energia a glicose não hepática e dos corpos
cetônicos, derivados da β-oxidação de ácidos graxos livres liberados na corrente
sanguínea pelas células adiposas e também pela conversão de aminoácidos
cetogênicos (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
O JI propicia maiores melhorias na sensibilidade à insulina e controle de
peso, quando comparado à restrição calórica diária. Este tipo de intervenção tem
efeitos metabólicos positivos, já que inclui uma restrição energética mais
profunda, mesmo que seja aplicada por curtos períodos repetidos. Além disso,
após um período de 8 semanas de uma dieta de dias alternados de jejum, houve
perda de peso, de gordura corporal, diminuição dos níveis de triglicerídeos, de
colesterol total e de LDL-c, não havendo alteração no HDL-c, o que sugere que
a dieta pode contribuir para a diminuição de doenças cardiovasculares, além do
controle de peso (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
Com relação aos efeitos da frequência das refeições sobre a perda de
peso e composição corporal, o aumento do número de refeições diárias é uma
71
estratégia benéfica para a redução de gordura corporal, tendo como justificativa
a crença popular, pois não são encontradas diferenças na termogênese induzida
por dieta com menor número de refeições (2-3 por dia). Todavia a oxidação de
gordura de 24 horas é maior na condição de 3 refeições, em relação a dietas
com maior número (VARGAS; PESSOA; ROSA, 2018).
A figura 9 apresenta os alvos potenciais para intervenções usando jejum
intermitente (JI) e o impacto da estratégia em cada caminho diferente do
organismo, a partir da revisão realizada por Azevedo, Ikeoka e Caramelli (2013).
Portanto, estudos experimentais recentes têm elucidado a modulação do
metabolismo por jejum intermitente. Testes com animais têm mostrado
alterações positivas no metabolismo glicídico (valores menores de glicemia e
insulinemia) e lipídico (redução no volume de gordura visceral e aumento nos
valores de adiponectina plasmática), além de uma maior resistência ao estresse.
Apesar dos estudos disponíveis apresentarem populações muito reduzidas,
observaram-se resultados positivos com esta intervenção também na saúde
humana. Os resultados indicam melhorias no perfil lipídico, redução de respostas
inflamatórias, com redução na liberação de adipocinas inflamatórias e alterações
na expressão de genes relacionados com a resposta inflamatória e de outros
fatores. Em indivíduos obesos observou-se uma melhor adesão ao jejum
intermitente em relação a intervenções tradicionais (restrição calórica), além da
redução no estresse oxidativo desta população (AZEVEDO; IKEOKA;
CARAMELLI, 2013).
Dessa maneira, por se tratar de uma intervenção viável e acessível para
a maioria dos indivíduos, novos estudos clínicos são necessários para testar a
eficácia desta intervenção na prevenção e no controle de doenças metabólicas
e cardiovasculares (AZEVEDO; IKEOKA; CARAMELLI, 2013).
72
Fonte: (AZEVEDO; IKEOKA; CARAMELLI, 2013, p. 170).
e) Dietas da Moda
73
participantes permaneceram com o peso reduzido foi muito curto (menos de 1
mês).
A perda rápida de peso (média de 20 kg em 12 a 16 semanas), prometida
por dietas altamente restritivas, é recuperada também em um curto período de
tempo, ocasionando o denominado efeito sanfona. Tais dietas não fornecem
todos os nutrientes necessários ao bom funcionamento do organismo, gerando
estresse ao corpo e perda de água e eletrólitos, que ao receber novamente a
dieta habitual leva inevitavelmente ao ganho de peso (ARAÚJO; FORTES;
FAZZIO, 2013).
As dietas com baixo aporte energético podem auxiliar no aumento de
cetonas urinárias, interferindo na liberação renal de ácido úrico, e,
consequentemente, os níveis séricos desse ácido serão elevados. O aumento
de colesterol sanguíneo pode ocorrer devido a grande mobilização de gordura
corporal, podendo ocasionar cálculo biliar e doenças cardiovasculares
(ARAÚJO; FORTES; FAZZIO, 2013).
Além disso, os praticantes de dietas da moda podem sofrer redução na
concentração de hormônios da tireoide, alterações no débito cardíaco e
frequência cardíaca e, consequentemente, na pressão arterial, que já são fatores
de risco nos indivíduos com excesso de peso (ARAÚJO; FORTES; FAZZIO,
2013).
Entre os sintomas mais comuns apresentados pelos praticantes durante
a realização de dietas restritivas estão fraqueza, fome, tontura e irritabilidade,
decorrentes do déficit de nutrientes, energia e água (ARAÚJO; FORTES;
FAZZIO, 2013).
No estudo de Braga, Coletro e Freitas (2019), analisaram-se
quantitativamente 15 cardápios de dietas disponíveis em blogs e sites intituladas:
Low Carb, Dieta Sem Glúten e Jejum Intermitente utilizando o software Virtual
Nutri. Os nutrientes analisados foram: carboidratos, fibras, proteínas, lipídios,
iodo, sódio, cálcio, magnésio, ferro, zinco, manganês, potássio, fósforo, cobre,
selênio, vitaminas A, C, B6, B12, D, niacina e folato.
Após o cálculo, os nutrientes tiveram seus valores comparados com
recomendações diárias de ingestão das DRIs para adultos da faixa etária de 19
a 50 anos. O percentual de adequação foi feito baseado em uma dieta de
74
2000kcal para indivíduos saudáveis, de acordo com o preconizado pela
Organização Mundial da Saúde (BRAGA; COLETRO; FREITAS, 2019).
As autoras encontraram como resultados que a maioria dos cardápios
teve sua composição de macro e micronutrientes aquém do determinado pela
Organização Mundial da Saúde e das recomendações das DRIs para adultos de
19 a 50 anos e concluíram que o seguimento dessas dietas em longo prazo pode
ser um fator de risco a diversas doenças carenciais que pode trazer perigos à
saúde dos indivíduos (BRAGA; COLETRO; FREITAS, 2019).
75
Em condições normais, um indivíduo inicia o sono noturno pelo estágio I
do sono NREM, após um tempo de latência aproximada de 10 minutos. Passado,
aproximadamente, 90 minutos acontece o primeiro sono REM, que costuma ter
curta duração no início da noite (5 a 10 minutos), completando-se o primeiro ciclo
NREM-REM do sono noturno. A saída do sono REM pode se fazer com intrusão
de microdespertares (3 a 15 segundos de duração), sem um despertar completo
do paciente (FERNANDES, 2006; NEVES et al., 2013).
Portanto, durante uma noite de 8 horas de sono, cumprem-se cerca de 5
a 6 ciclos de sono NREM-REM. Os despertares podem ocorrer a qualquer
momento durante o sono, a partir de qualquer estágio, seja de forma espontânea,
ou eventualmente provocada por fatores extrínsecos (exemplo: ruído) ou
eventos patológicos (como apneias), e é comum que o indivíduo não tenha
consciência destes despertares (FERNANDES, 2006).
A chamada eficiência de sono compreende a proporção do tempo em que
um indivíduo dorme, em relação ao tempo total e que se manteve na cama para
o sono noturno. É considerada normal a partir de 85%. Entretanto, uma eficiência
de 100% é rara, considerando-se a presença de despertares noturnos, mesmo
que inconscientes (FERNANDES, 2006).
A necessidade diária de sono varia de acordo com a idade e de forma
individual (Quadro 10).
Quadro 10. Necessidade média diária de sono, de acordo com os ciclos de vida.
76
A maioria dos adultos não se sente completamente refeito de sua
necessidade de sono com menos de 7 horas por dia, embora as demandas
socioculturais habitualmente o impinjam a dormir menos do que sua necessidade
endógena. Pessoas com necessidade de sono muito reduzida como 3 horas/dia,
sem qualquer comprometimento físico, mental ou intelectual, são raras
(FERNANDES, 2006).
Nos idosos, pode haver mudanças na arquitetura do sono: o sono IV não
mais se registra, há redução de sono III e aumento do número de despertares
noturnos. Por esse motivo, alguns idosos são mais sonolentos durante o dia,
sem relação necessária com uma patologia definida (FERNANDES, 2006).
77
núcleo também obedece a um ritmo circadiano, com genes que são expressos
durante o dia e genes que são expressos durante a noite (FERNANDES, 2006;
PARAGINSKI, 2014).
Ao escurecer, a ausência de luz provoca modificações em algumas
células da retina que são exclusivamente responsáveis pela percepção das
variações ou modificações na luminosidade. Essas células disparam sinais para
ativar o NSQ. Esse núcleo, por sua vez, faz com que o gânglio cervical superior
libero o neurotransmissor noradrenalina que estimula a glândula pineal a
produzir e secretar a melatonina a partir do aminoácido triptofano. A melatonina
é o hormônio responsável pela sinalização do inicio da noite e da sua duração.
Ela também é responsável por uma serie de outros eventos que preparam o
nosso organismo para repouso (FERNANDES, 2006; PARAGINSKI, 2014).
Sendo assim, a luz ou a ausência dela é reconhecida pelo nosso relógio
central e é o sinal para iniciar e terminar o processo. Por exemplo, a principal
enzima envolvida na síntese na melatonina, a N-acetiltransferase, é estimulada
pela ausência de luz, e a presença da luz faz com que ela seja eliminada (Figura
10) (FERNANDES, 2006; PARAGINSKI, 2014).
É importante ressaltar que pesquisas com células NSQ revelaram que
elas são capazes de manter seu próprio ritmo na ausência de sinais externos.
Isso significa que o ritmo é gerado endogenamente em cada pessoa. Se cada
pessoa gera seu próprio ritmo, existem diferenças de um indivíduo para outro,
podendo acarretar diferenças que podem variar de adaptação mais rápida ou
mais lenta a fuso horário e até maior presença de sintomas depressivos em
pessoas com determinado perfil cronobiológico.
78
Fonte: PARAGINSKI (2014). Disponível em:< https://www.ucs.br/site/revista-ucs/revista-ucs-15a-
edicao/no-ritmo-do-relogio-biologico/>. Acesso em: 21/08/19.
Enquanto a melatonina tem seu pico máximo nas primeiras horas da noite,
participando da tendência do indivíduo a conciliar o sono; nas primeiras horas da
manhã, há aumento da secreção do hormônio tireoideano, de cortisol e de
insulina, que são facilitadores da vigília. Juntamente com os hormônios, a curva
de variação da temperatura corporal interna sofre mudanças em torno de meio
grau centígrado nas 24 horas, suficiente para facilitar ou dificultar a ocorrência
de sono (FERNANDES, 2006).
O hormônio do crescimento tem seu pico de secreção durante o sono NREM de
ondas lentas, assim como a testosterona e o hormônio antidiurético, o que pode
se relacionar com a necessidade de reduzir a produção de urina durante a noite,
evitando-se o despertar causado pela plenitude vesical (FERNANDES, 2006).
79
De acordo com a 3ª edição da Classificação Internacional de Transtornos
do Sono (ICSD-3), os distúrbios do sono são classificados em sete grandes
grupos: 1. Transtorno de Insônia; 2. Transtornos Respiratórios Relacionados ao
Sono; 3.Transtornos de Hipersonolência Central; 4. Transtorno do Ritmo
Circadiano de Sono-Vigília; 5. Parassonias; 6. Transtornos do Movimento
Relacionado ao Sono; e 7. Outros Transtornos do Sono. Ainda é apresentado no
Apêndice, algumas condições médicas e neurológicas relacionadas ao sono
(Quadro 11) (NEVES; MACEDO; GOMES, 2017).
Com relação ao tratamento, é necessário primeiramente reconhecer a
causa do transtorno e/ou sua comorbidade e verificar se o paciente segue as
regras básicas de higiene do sono. Se necessário, deve ainda considerar o
tratamento farmacológico dependendo do caso. A higiene do sono visa melhorar
atividades e atitudes cotidianas que irão afetar a quantidade, a qualidade e o
tempo de sono. Assim, combina aconselhamento sobre os aspectos
homeostáticos, de adaptação e de controle circadiano do sono (NEVES;
MACEDO; GOMES, 2017).
80
Quadro 11. Transtornos do sono de acordo com a 3ª edição da Classificação
Internacional de Transtornos do Sono (ICSD-3).
Para uma boa higiene do sono Neves, Macedo e Gomes (2017) citam:
81
3. Controlar comida e bebida (evitar refeições pesadas 2 horas antes de dormir,
mas não ir para a cama com fome, tentar não beber muito líquido próximo da
hora de dormir, evitar usar álcool como auxílio para dormir, limitar o uso de
cafeína para uma ou duas bebidas por dia, o mais tardar até 4 horas antes de
dormir);
4. Estabelecer rotina antes de dormir (utilizar práticas relaxantes no pré-sono
enquanto se prepara para ir para a cama);
5. Criar ambiente adequado do quarto (propício ao sono, com sons / luzes /
temperatura agradáveis e limitados);
6. Limitar cochilos diurnos (até 1 hora, a menos que esteja privado de sono);
7. Fazer exercício físico (regular é desejável, mas a atividade física vigorosa deve
ser evitada próximo à hora de dormir);
8. Evitar preocupação e ansiedade (por exemplo: pensamentos que possam
desencadear preocupação ou ansiedade antes de dormir).
SAIBA MAIS:
Considera-se que alguns transtornos alimentares, como a síndrome do comer noturno (SCN)
e o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP), estão relacionados com um atraso
no ritmo circadiano da ingestão alimentar e saciedade prejudicada. Saiba mais sobre o
assunto, lendo o artigo: “Transtornos alimentares e padrão circadiano alimentar: uma revisão”,
de Bernardi et al. (2009).
82
8. COMPOSTOS BIOATIVOS E ALIMENTOS FUNCIONAIS
83
Quadro 12. Produtos aprovados como FOSHU (somente no Japão).
84
poliálcool e a redução de cárie dentária; fibras solúveis e redução de doenças
coronárias do coração (NITZKE, 2012).
De acordo com Nitzke (2012), em 6 de janeiro de 2000, a FDA publicou
uma regra final, definindo os tipos de declarações que podem ser usadas no
rótulo e na rotulagem de suplementos alimentares sem revisão prévia pela
agência. O FDA estabeleceu três categorias de alegações relacionadas às
propriedades funcionais dos alimentos, que são:
85
alegação não foi avaliada pelo FDA e que o alimento não diagnostica, trata, cura
ou previne nenhuma doença, pois estas são prerrogativas dos medicamentos
(NITZKE, 2012).
86
de uma dieta variada e balanceada e um estilo de vida saudável; a quantidade
do alimento e o padrão de consumo necessário para alcançar o benefício
proposto; quando apropriado, indicação para pessoas que devam evitar o uso
do alimento; e um aviso sobre produtos que poderão apresentar um risco à
saúde se for consumidos em excesso (NITZKE, 2012).
As alegações nutricionais eram em número de 24 no documento de 2007,
mas foram aumentadas para 30 em 2010, quando foram definidas as alegações
de saúde permitidas. Um exemplo de alegação nutricional permitida é o de
possuir altos teores de ácidos graxos Ômega-3, que só pode ser divulgado
quando o produto contiver no mínimo 0,6 g de ácido alfa linolênico por 100g e
por 100kcal, ou no mínimo 80mg do somatório de ácido eicosapentaenóico e
ácido docosaexaenóico por 100g e por 100kcal (NITZKE, 2012).
87
alimentares e deverão se adequar aos novos requisitos adotados na legislação
(BRASIL, 2019).
Assim, A RDC nº 243/2018 revogou integralmente a seguintes normativas:
88
Embora a Resolução nº 16/1999, que aprova o regulamento técnico de
procedimentos para registro de alimentos e ou novos ingredientes, continue
vigente, essa norma não será mais aplicável à regularização de produtos
apresentados em formas farmacêuticas destinados a pessoas saudáveis, uma
vez que o item 4.2 da Resolução nº 16/1999 foi revogado pela RDC nº 243/2018
(BRASIL, 2019).
Portanto, os produtos em formas farmacêuticas destinados a indivíduos
saudáveis não poderão mais ser enquadrados na categoria de novos alimentos
e novos ingredientes e deverão seguir os procedimentos específicos para
inclusão nas listas positivas de suplementos alimentares (BRASIL, 2019).
A Resolução nº 16/1999 continuará a ser aplicada aos alimentos que não
possuem histórico de consumo no país e aos ingredientes destinados a adição
em alimentos convencionais (BRASIL, 2019).
De forma similar, a Resolução nº 19/1999, que aprova o regulamento
técnico de procedimentos para registro de alimento com alegação de
propriedades funcionais e ou de saúde em sua rotulagem, permanece vigente,
mas não será mais utilizada para regularização de alimentos em formas
farmacêuticas destinados a pessoas saudáveis com alegações de propriedades
funcionais ou de saúde. Essa normativa continuará a ser aplicável aos alimentos
convencionais com alegações de propriedades funcionais ou de saúde como,
por exemplo, um pão adicionado de fibras alimentares que veicule uma alegação
de propriedade funcional (BRASIL, 2019).
A ANVISA somente permite veiculação de representações quanto à
existência de relação entre consumo de determinado alimento (ou algum
elemento constituinte) e promoção da saúde case sejam atendidas diretrizes
básicas para comprovação de propriedades funcionais ou de saúde
estabelecidas na Resolução n. 18, de 30 de abril de 1999. Além da segurança
do alimento, as diretrizes visam garantia de comprovação científica de
evidências quanto às alegações, evitando indução do consumidor ao engano. As
alegações podem descrever papel fisiológico do nutriente ou não nutriente no
crescimento, desenvolvimento e funções normais do organismo. As alegações
podem, ainda, fazer referência à manutenção geral da saúde e à redução do
risco de doenças (LAJOLO, 2018).
89
Como diferenciar uma indicação terapêutica de alegações estabelecidas
para suplementos alimentares para correta regularização de produtos na área
de medicamentos e alimentos? A partir da publicação do novo marco de
suplementos alimentares serão considerados medicamentos específicos
somente os produtos com indicações terapêuticas bem estabelecidas e
diferentes das alegações estabelecidas para suplementos alimentares (BRASIL,
2019).
Para diferenciar tais indicações é necessário esclarecer que alegações
estabelecidas para alimentos são aquelas que descrevem o papel metabólico e
fisiológico do constituinte no organismo humano (ex. A vitamina D auxilia na
absorção de cálcio e fósforo). Em contrapartida, alegações medicamentosas
descrevem o efeito da substância no tratamento, cura ou profilaxia da doença
(ex. A vitamina D auxilia no tratamento da osteoporose) (BRASIL, 2019).
a) Fitoquímicos
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flavonóides (flavonóis, flavonas, flavanóis, flavanonas, antocianidinas e
isoflavonóides), estibenos, cumarinas e taninos; alcaloides; fitoesteróis;
compostos nitrogenados (derivados da clorofila, aminoácidos e aminas) e
compostos organossulfurados: (isotiocianatos, indoles, compostos de enxofre
alílicos) (Figura 11). Os fitoquímicos mais estudados são os compostos fenólicos
e os carotenoides (BAENA, 2015; FERREIRA; ABREU, 2007).
Os fitoquímicos presentes nos alimentos integrais também apresentam a
hipótese de prevenção de doenças crônicas por seus agentes antioxidantes.
Esta associação está fundamentada em sólidas evidências epidemiológicas que,
consistentemente, demonstraram a forte associação do consumo de frutas,
verduras e grãos integrais com a redução do risco de doenças crônicas.
Contudo, os esforços para identificar e isolar os compostos responsáveis pela
prevenção das doenças crônicas ainda são inconsistentes (BAENA, 2015).
A suplementação com fitoquímicos isolados não reproduz os resultados
observados com os alimentos integrais. Em alguns casos, a prescrição de
compostos isolados até aumentou a incidência e a mortalidade de doenças
crônicas. A explicação mais aceita para esta diferença de bioatividade e/ou de
biodisponibilidade estaria nas ações aditivas e sinérgicas dos inúmeros
elementos presentes nos tecidos vegetais que compõem os alimentos ou ainda
na combinação dos alimentos de um padrão alimentar (BAENA, 2015).
Assim, a sinergia dos elementos que compõem os alimentos integrais e
não a ação de um composto isolado seria responsável pela atividade
antioxidante e anti-inflamatória que reduzem o risco de doenças crônicas.
Segundo alguns autores, este equilíbrio de elementos contidos nos tecidos
vegetais (fitoquímicos, micronutrientes e fibras) seria o resultado do processo
evolutivo interespécies e da aquisição de hábitos culturais e não pode ser
reproduzido por uma simples pílula (BAENA, 2015).
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Figura 11. Principais classes de fitoquímicos naturais.
b) Terpenóides
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O Brasil considerado como um dos 17 países mais diversos do planeta
apresenta uma extensa diversidade florística e, dessa forma, fornece uma
abundante extração de óleos essenciais obtidos da flora nativa como, por
exemplo, o óleo essencial de andiroba, cajá, copaíba, cupuaçu e pau rosa,
largamente utilizados na medicina popular (FELIPE; BICAS, 2017).
De forma geral, os óleos essenciais são constituídos majoritariamente por
terpenos ou seus derivados. Tais substâncias constituem-se como um extenso
grupo de moléculas orgânicas produzidas como metabólitos secundários,
principalmente, em plantas para evitar injúrias promovidas por agentes externos.
Por este motivo, os terpenos apresentam reconhecida atividade antimicrobiana.
Além das plantas, esses compostos também podem ser produzidos por animais
e microrganismos, como fungos e bactérias (FELIPE; BICAS, 2017).
Quimicamente, os terpenos podem ser definidos como “alcenos naturais”,
isto é, apresentam uma dupla ligação carbono-carbono sendo caracterizado
como um hidrocarboneto insaturado. Por outro lado, se um terpeno contém
oxigênio, o mesmo é denominado de terpenoide, podendo apresentar diferentes
funções químicas, entre as quais: ácidos, álcoois, aldeídos, cetonas, éteres,
fenóis ou epóxidos terpênicos (FELIPE; BICAS, 2017).
Apesar de apresentarem diferenças estruturais entre si, todos os
terpenos/terpenoides são basicamente estruturados em blocos de cinco
carbonos, unidades de isopreno (C5H8), normalmente, ligadas entre si pela
ordem “cabeça-a-cauda”, o que caracteriza a chamada “regra do isopreno”. Os
chamados “terpenos irregulares” são aqueles com ligações diferentes, como por
exemplo, o β-caroteno, que apresenta uma ligação “cauda-a-cauda”. Terpenos
cíclicos, como o limoneno, também podem apresentar outras ligações (“ligações
cruzadas”) (FELIPE; BICAS, 2017).
Dessa forma, os terpenos podem ser classificados de acordo com a
quantidade unidades de isopreno que sua estrutura possui em: hemiterpenos,
monoterpenos, sesquiterpenos, diterpenos, triterpenos, tetraterpenos e
politerpenos (FELIPE; BICAS, 2017).
No que diz respeito aos tetraterpenos ou carotenoides, esses compostos
são pigmentos de ampla distribuição na natureza, responsável por conferir a
coloração de diferentes plantas, vegetais e alimentos (Tabela 4). O espectro de
cores vai do amarelo ao vermelho. Existe uma extensa variedade de
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tetraterpenos descritos, sendo os mesmos divididos em carotenos (terpenos) e
xantofilas (terpenoides) (FELIPE; BICAS, 2017).
c) Compostos nitrogenados
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Glicobrassicina, sulforofano, indol-3-carbinol são substâncias desse
grupo. Estimulam a atividade de enzimas da fase II (enzimas P450, responsáveis
por processos de desintoxicação), alteram o metabolismo de estrogênios pelo
desvio do sítio de hidroxilação e diminuem a metilação do DNA. Essas
substâncias encontram-se em hortaliças da família das crucíferas (repolho,
couve, couve-flor, brócoli, couve-de-bruxelas, mostarda) e em rabanete (VIEIRA,
2003).
Consumir alimentos ricos em compostos nitrogenados é uma forma de
proteção contra carcinogênese e mutagênese. Os glucosinolatos contêm enxofre
e estão presentes em alimentos como brócolis, couve-flor, repolho, rabanete,
palmito e alcaparra, sendo ativadores das enzimas de detoxificação do fígado
(LOBO; VELASQUE, 2016).
Os glicosinolatos são metabólitos secundários cujas propriedades únicas
foram observadas no início do século XVII e despertam interesse até os dias
atuais. Seus produtos de hidrólise recebem destaque pelas suas propriedades
biológicas. Inúmeros estudos têm demonstrado o elevado potencial desses
compostos como mecanismo de defesa das plantas contra patógenos e insetos
herbívoros. Outros trabalhos demonstram seu potencial no combate de diversas
enfermidades em organismos vivos, como alguns tipos de câncer em seres
humanos (VALERIO, 2017).
Atualmente, são conhecidos cerca de 150 tipos de glicosinolatos
encontrados nos vegetais da família Brassicaceae, número este que vem
crescendo com o decorrer do tempo. Acredita-se que ainda exista uma
quantidade significativa de estruturas ainda não identificadas (VALERIO, 2017).
Vale ressaltar, que um fator importante a ser considerado na
disponibilidade dos produtos dos glicosinolatos é o cozimento, processo
comumente utilizado para o consumo dessas hortaliças. As altas temperaturas
a que são submetidos os alimentos em geral, podem diminuir a disponibilidade
dos produtos, já que a enzima responsável pela hidrólise e formação dos
mesmos é inativada sob estas condições (VALERIO, 2017).
O paladar humano identifica que os alimentos fonte de glicosinolatos
possuem sabor e odor característicos definidos como pungente ou picante. Este
fato se deve à presença do grupo sulfato na estrutura do glicosinolato que
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condiciona um caráter ácido muito acentuado a esses alimentos (VALERIO,
2017).
Cada aminoácido precursor dos glicosinolatos dá origem a um tipo
diferente de estrutura da cadeia lateral que é encontrado em uma fonte alimentar
específica. Por exemplo, o brócolis, amplamente consumido em várias partes do
mundo, apresenta alta concentração dos glicosinolatos glicorafanina,
glicoiberina, glicobrassicina, 4-metoxiglicobrassicina e neoglicobrassicina. O
repolho apresenta o glicosinolato glicobrassicina enquanto que na couve de
Bruxelas, o glicosinolato progoitrina é predominante. As estruturas principais
encontradas no nabo são gliconapina e a glicobrassicanapina. Para o rabanete
são três os glicosinolatos principais: [glicosinolato de 4-(metilsulfinil)
butila],glicorafanina e [glicosinolato de 4-(metilsulfinil) 3-
butenila],glicorafenina,nas sementes, e glicosinolato de 4-(metiltio)-3-butenila,
presente na raiz (VALERIO, 2017).
d) Compostos Fenólicos
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crescimento e indução de apoptose em várias linhas celulares tumorais
(FERREIRA; ABREU, 2007).
Para além destes estudos, a capacidade antioxidante de compostos
fenólicos presentes em outras matrizes como a azeitona de mesa ou as folhas
de oliveira também tem sido estudada (FERREIRA; ABREU, 2007).
Os cogumelos são também conhecidos como alimentos funcionais e
como uma fonte para o desenvolvimento de fármacos e nutracêuticos,
nomeadamente de compostos antioxidantes. Efetivamente, os cogumelos
contêm vários compostos fenólicos reconhecidos como excelentes antioxidantes
devido à sua capacidade para bloquear radicais livres por transferência de um
único elétron e à propriedade redox dos seus grupos hidroxilos fenólicos
(FERREIRA; ABREU, 2007).
As flavanonas são as maiores contribuintes no total de flavonoides
ingeridos, principalmente oriundas do consumo de laranja. Dentre as fontes de
antocianinas, destaca-se o feijão e o açaí (LAJOLO, 2018).
O processamento dos alimentos pode ter grande impacto na composição
de flavonoides. Por exemplo, o feijão é consumido após tratamento térmico, o
que leva a degradação térmica das antocianinas a ácidos fenólicos, reduzindo
de forma significativa o conteúdo deste composto no alimento pronto (LAJOLO,
2018).
Da mesma maneira que a microbiota intestinal afeta a biodisponibilidade
de flavonoides, uma dieta rica em flavonoides pode também afetar a composição
desta (LAJOLO, 2018).
e) Prebióticos e probióticos
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adicionais à saúde do hospedeiro. Esses componentes atuam mais
frequentemente no intestino grosso, embora eles possam ter também algum
impacto sobre os microrganismos do intestino delgado (SAAD, 2006).
Os prebióticos avaliados em humanos constituem-se dos frutanos e dos
galactanos (SAAD, 2006).
Dentre as fibras da dieta estão incluídos os oligossacarídeos e outros
carboidratos não digeríveis. A inulina e a oligofrutose, denominadas de frutanos,
são fibras solúveis e fermentáveis, as quais não são digeríveis pela alfa-amilase
e por enzimas hidrolíticas, como a sacarase, a maltase e a isomaltase, na parte
superior do trato gastrintestinal (SAAD, 2006).
Como os componentes da fibra da dieta não são absorvidos, eles
penetram no intestino grosso e fornecem substrato para as bactérias intestinais.
As fibras solúveis são normalmente fermentadas rapidamente, enquanto as
insolúveis são lentamente ou apenas parcialmente fermentadas. A extensão da
fermentação das fibras solúveis depende de sua estrutura física e química. A
fermentação é realizada por bactérias anaeróbicas do cólon, levando à produção
de ácido lático, ácidos graxos de cadeia curta e gases. Consequentemente, há
redução do pH do lúmen e estimulação da proliferação de células epiteliais do
cólon (SAAD, 2006).
Já probiótico pode ser definido como microrganismos vivos que, quando
administrados em quantidade adequadas, conferem benefício à saúde do
hospedeiro. Desse modo, os suplementos probióticos são utilizados com a
finalidade de reconstituir as comunidades microbianas encontradas em um
indivíduo e restaurar as interações dos mesmos com o hospedeiro, promovendo
uma melhor saúde. Durante a seleção deste probiótico é importante considerar
que a seleção das cepas ou a combinação delas deve ser bem definida e ter
efeito específico (LAJOLO, 2018).
Bactérias pertencentes aos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium e, em
menor escala, Enterococcus faecium, são mais frequentemente empregadas
como suplementos probióticos para alimentos, uma vez que elas têm sido
isoladas de todas as porções do trato gastrintestinal do humano saudável. O íleo
terminal e o cólon parecem ser, respectivamente, o local de preferência para
colonização intestinal dos lactobacilos e bifidobactérias (SAAD, 2006).
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Dentre as bactérias pertencentes ao gênero Bifidobacterium, destacam-
se B. bifidum, B. breve, B. infantis, B. lactis, B. animalis, B. longum e B.
thermophilum. Dentre as bactérias láticas pertencentes ao gênero Lactobacillus,
destacam-se Lb. acidophilus, Lb. helveticus, Lb. casei - subsp. paracasei e
subsp. tolerans, Lb. paracasei, Lb. fermentum, Lb. reuteri, Lb. johnsonii, Lb.
plantarum, Lb. rhamnosus e Lb. salivarius (SAAD, 2006).
Os mecanismos de ação dos probióticos podem ocorrer em três níveis. O
primeiro ocorre no lúmen intestinal onde bactérias probióticas podem interferir
no crescimento ou sobrevivência de microrganismos patogênicos por um
mecanismo denominado exclusão competitiva. No segundo nível, bactérias
probióticas podem interagir com o muco intestinal e o epitélio e são capazes de
aumentar a função barreira e a resposta imune da mucosa. Já no terceiro nível,
podem atuar na resposta imune sistêmica e em outros órgãos em potencial,
como o cérebro. Os probióticos provenientes da dieta, como os lactobacilos e as
bifidobactérias, exercem suas ações no intestino delgado e no cólon,
respectivamente, resultando em efeitos probióticos. Desse modo, os probióticos
poderiam ser utilizados na redução do risco ou no tratamento de determinadas
doenças como infecções intestinais e urogenitais, cáries dentárias, periodontite,
reações alérgicas, doença inflamatória intestinal, síndrome do intestino irritável,
entre outras (LAJOLO, 2018).
A utilização de prebióticos e probióticos mostra uma ação benéfica para a
manutenção da saúde e também o tratamento de doenças do trato
gastrointestinal. No entanto, são necessários mais estudos com desenhos
controlados e multicêntricos para que seja possível compreender melhor o papel
destes probióticos específicos em diferentes populações (LAJOLO, 2018).
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Alternativamente, esse efeito simbiótico pode ser direcionado às diferentes
regiões "alvo" do trato gastrintestinal, os intestinos delgado e grosso. O consumo
de probióticos e de prebióticos selecionados apropriadamente pode aumentar os
efeitos benéficos de cada um deles, uma vez que o estímulo de cepas probióticas
conhecidas leva à escolha dos pares simbióticos substrato-microrganismo ideais
(SAAD, 2006).
Atualmente, as bebidas são a categoria de alimentos funcionais mais
ativas, devido à conveniência e demanda do consumidor em relação à
embalagem, distribuição e estocagem. Dentre as inovações em produtos
funcionais, destacam-se os alimentos contendo probióticos, cujos benefícios
estão relacionados ao equilíbrio da microbiota intestinal, à melhor absorção de
nutrientes, a regulação do sistema imune, a prevenção de doenças inflamatórias
do intestino, a diminuição de alergias, entre outros benefícios (BARBOSA;
GALLINA, 2017).
Leite e produtos lácteos são excelentes veículos para estes
microrganismos, sendo principalmente incorporados em iogurtes, queijos e
sorvetes. No entanto, para conferir benefícios à saúde, as bactérias probióticas
devem chegar ao intestino vivas e em quantidades suficientes, em torno de 6 a
7 log UFC/g (BARBOSA; GALLINA, 2017).
Alguns autores sugerem níveis de probióticos de 106 UFC/ mL ou entre
107 e 108 UFC/mL para atingir níveis terapêuticos. Já a Federação Internacional
de Laticínios (IDF) recomenda uma quantidade mínima de 10 7 UFC por g de
produto consumido. Vários autores propõem que a dose diária mínima da cultura
probiótica considerada terapêutica seja de 108 a 109 UFC, o que corresponde ao
consumo de 100 g de produto contendo 106 a 107 UFC/g (BARBOSA; GALLINA,
2017).
O iogurte é um alimento convencional, já conhecido por suas
propriedades terapêuticas, nutricionais e sensoriais. É obtido através da
fermentação do leite, em que se utilizam as bactérias Lactobacillus delbrueckii
subsp. bulgaricus e Streptococcus thermophilus. Nos últimos anos, iogurtes têm
sido reformulados para incluírem estirpes de L. acidophilus e espécies de
Bifidobacterium em adição aos microrganismos convencionais do iogurte. O bio-
iogurte é um iogurte que contém microrganismos probióticos vivos, cuja
presença pode proporcionar a alegação de efeitos benéficos para a saúde,
100
sendo um veículo potencial pelo qual os consumidores podem tomar células
probióticas (BARBOSA; GALLINA, 2017).
Verifica-se uma tendência em fortificar produtos lácteos com frutas, no
intuito de melhorar o valor nutricional e sensorial. Algumas pesquisas sugerem
que o suco de frutas poderia servir como um bom meio para ingredientes
funcionais, como os probióticos (BARBOSA; GALLINA, 2017).
Novos produtos e matérias-primas para aplicação de probióticos são a
principal área de pesquisa e desenvolvimento para o mercado de alimentos
funcionais. As inovações tecnológicas atuais incluem a busca de soluções para
os problemas de estabilidade e viabilidade de probióticos em novas matrizes
alimentares, como frutas, cereais e outros vegetais (BARBOSA; GALLINA,
2017).
8.3.1. Câncer
101
proliferação celular/apoptose, bem como regular o metabolismo hormonal e
efeitos antibacterianos e antivirais (BAENA, 2015).
102
principalmente, os riscos do aparecimento de infecções virais e bacterianas de
vias aéreas superiores e inferiores, durante períodos de treinamento mais
intensos (BARBOSA; CARDOSO, 2015).
Atletas que consomem regularmente o chá verde (que possui substâncias
antioxidantes) pode atrasar a fadiga muscular, aumentando a capacidade de
tolerar o esforço e melhora a performance (BARBOSA; CARDOSO, 2015).
Por fim, as frutas vermelhas possuem elevada concentração de vitaminas
e compostos bioativos, dentre os quais vitamina C, antocianinas, quercetina e
elagitaninos, que vão exercer importantes ações antioxidante e anti-inflamatória
para o atleta e modular o estresse oxidativo induzido pelo exercício. No Brasil,
uma opção extremamente interessante para indicar seria a jabuticaba, uma das
maiores fontes de antioxidantes entre as frutas vermelhas (BARBOSA;
CARDOSO, 2015).
8.3.3. Obesidade
103
a) Resveratrol: o resveratrol (trans-3,5,4’-triidroxiestilbeno) é uma fitoalexina
composta por dois anéis fenólicos unidos por uma dupla ligação. Esse composto
existe em duas isoformas: trans-resveratrol e cis-resveratrol, sendo o trans-
resveratrol a forma mais estável, a qual é encontrada em uvas, bem como no
vinho tinto.
104
sua ingestão isolada, na forma de suplementos (BASTOS; ROGERO; ARÊAS,
2009).
8.3.4. Diabetes
105
A cebola (Allium cepa L.) e alho (Allium sativum L.) são alimentos
amplamente utilizados para aplicações medicinais ou funcionais. São fontes de
fitoquímicos utilizados no tratamento e na prevenção de doenças, incluindo
câncer, doença cardíaca coronária, obesidade, hipercolesterolemia, diabetes,
hipertensão e distúrbios do trato gastrointestinal (ZAPAROLLI et al., 2013).
O alho possui um teor considerável de selênio agindo como antioxidante
e aliina que apresenta ação hipotensora e hipoglicemiante. Já a cebola, é rica
em flavonóide quercetina, que apresenta propriedade relacionada à saúde
devido ao alto poder antioxidante (ZAPAROLLI et al., 2013).
É importante ressaltar que existem inúmeras variáveis que interferem na
glicemia e que a quantidade consumida desses alimentos deve ser analisada
com cautela, junto a um plano alimentar individualizado às necessidades de cada
paciente (ZAPAROLLI et al., 2013).
106
Os efeitos dos polifenóis na saúde vêm sendo estudados há muito tempo,
em particular na saúde cardiometabólica. No entanto, há uma grande dificuldade
em demonstrar os efeitos relevantes desses compostos bioativos em virtude de
fatores como a variabilidade interindividual (LAJOLO, 2018).
Além dos polifenóis, outros compostos bioativos de alimentos como os
carotenoides, os fitoesteróis e os glucosinolatos desempenham um papel
benéfico para a saúde cardiometabólica. No entanto, estudos mostram que há
uma grande variação interindividual na resposta ao consumo desses compostos,
sugerindo que esses efeitos benéficos podem ocorrer de forma mais significativa
em alguns indivíduos do que em outros. Os principais determinantes
responsáveis por essa variação podem ser fatores genéticos ou não genéticos
como idade, sexo, estilo de vida e a microbiota intestinal. Estes fatores podem
afetar a biodisponibilidade destes compostos bioativos e, consequentemente, a
sua resposta biológica (LAJOLO, 2018).
Evidências mostram que o microbioma humano possui três diferentes
enterotipos ou três tipos de bactérias dominantes (Bacteroides, Prevotella e
Ruminococcus) e que a interação de cada um destes com polifenóis pode
resultar em diferentes respostas aos efeitos destes compostos à saúde. No
entanto, este tema ainda se encontra em discussão na comunidade cientifica
(LAJOLO, 2018).
Por sua vez, os fitoesteróis, compostos bioativos que possuem estrutura
química similar ao colesterol, também são indicados para o tratamento da
hipercolesterolemia e parecem ser tão importantes para a redução do colesterol
quanto a redução do consumo de gordura saturada. Estes compostos interferem
na solubilização micelar do colesterol no intestino, reduzindo a eficiência da sua
absorção, e por sua vez sofrem refluxo através das proteínas transportadoras
ABCG5 e ABCG8. Há evidências consistentes de que a ingestão de 2g de
fitoesteróis por dia está associada à redução de 8 a 10% no LDL colesterol
(LAJOLO, 2018).
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