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Nome: Elis Mariane Santana de Oliveira Lima

R.A.: 22307800
Turma: 1A noturno
Texto: SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloísa. “Introdução ou ‘O Brasil fica bem
perto daqui”; em Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, pp. 13-20

No presente texto, as autoras Schwarcz e Starling, abordam um relato sobre a abolição da


escravidão de Lima Barreto. Ele foi um escritor que se definia e definia a sua literatura como
negra. Ele teve uma vida conturbada, foi internado duas vezes em um hospício. Lima Barreto
revela em seu relato as características persistentes da história brasileira desde a invasão do
Brasil. Uma dessas características é a nossa tortuosa construção de cidadania (SCHWARCZ e
STARLING, 2015, p. 13-14).

O livro propõe acompanhar as manifestações de civismo e entusiasmo público que se deram


por conta da Lei Áurea mencionada por Barreto. Essa lei foi resultado de pressão popular e
civil, e apesar de sua enorme importância, não inseriu a cidadania e direitos para a população
negra, formando um projeto de cidadania inconclusiva em uma república de valores falhados,
conforme Lima Barreto. É por isso que nossa história que ambiciona ser mestiça como os
brasileiros, prevê não só a mistura, mas clara separação. Numa nação que autoritarismo e
personalismo foram sempre fortes houve o enfraquecimento do exercício livre de poder
público, o desestímulo do fortalecimento das instituições e da luta por direitos. A violência
está embutida na história brasileira, país cuja vida social foi marcada pela escravidão. A
violência se espalhou, foi naturalizada e, malgrado o fim da escravidão legalmente, a
experiência e a dor se repõem no presente (SCHWARCZ e STARLING, 2015, p.14).

Mesmo que não existam formas de discriminação no corpo da lei, pobres e negros são mais
culpabilizados pela justiça, morrem mais cedo, têm menos acesso à educação superior ou
cargos superiores no mercado de trabalho. A herança da escravidão condiciona a nossa
cultura, nos classificamos em tons e meios-tons, quem enriquece geralmente embranquece e
vice-versa. Mestiçagem é uma espécie de representação nacional presente em toda a arte e em
todos os costumes do país. A mistura se consolidou a partir da violência e ainda há acessos
diferentes a ganhos estruturais no lazer, no emprego, na saúde, nas taxas de nascimentos e nas
abordagens policiais. A realidade brasileira foi totalmente condicionada pela separação e pela
mistura (Ibidem, p. 15).
As autoras defendem que há uma mania nacional de esperar pelo milagre do dia. Evento
chamado de “bovarismo” por Sérgio de Holanda, permite recusar o país real e imaginá-lo
diferente do que é em vez de planejar mudanças substantivas e duradouras por nos sentirmos
impotentes para modificá-lo. Esse conceito também explicaria a mania de olhar para o
espelho e se enxergar sempre diferentes. As ambiguidades constitutivas desses discursos
nacionais importam mais em nações com passado recente colonial, em que as identidades são
vistas como fenômenos essenciais e atemporais, quando não são. Seríamos o improviso que
dá certo. Além do bovarismo nacional também há o “familismo” nacional, costume de
transformar questões públicas em questões privadas, como chamar políticos pelo primeiro
nome ou por apelido (Ibidem, p. 16-17).

Boas ideologias são como tatuagem ou ideia fixa; parecem ter o poder de se sobrepor à
sociedade e gerar realidade. Daí vem a ideia de que o Brasil é um país avesso ao radicalismo e
parceiro do espírito pacífico, mesmo com as inúmeros revoltas registradas. O país sempre foi
definido pelo olhar exterior, estereótipos de falta de regras e excesso de ócio e festas.
Seríamos como uma periferia, hospitaleira e com valores exóticos, do mundo civilizado. O
Brasil carrega milagres, sempre tem um clima agradável, ausência de desastres naturais e
ódios declarados ou reafirmados no corpo da lei. A solução destes impasses contraditórios
poderia ser a ideia de canibalismo explorada por Oswald de Andrade em seu “Manifesto
Antropofágico” (1928), brasileiros se reinventariam e traduziriam as falhas em virtudes e
prognósticos (Ibidem, p.18).

Frei Vicente, nosso primeiro historiador, concluiu que os brasileiros só zelam pelo seu próprio
bem e não pela república. No entanto, as autoras defendem que há sim virtude republicana
entre os brasileiros. Criar percursos imaginários de construção de uma vida pública é um
remédio tipicamente brasileiro para driblar o impasse gerado no interior de uma sociedade que
se vale de muitos encontros e desencontros. Um país marcado por alta desigualdade social e
analfabetismo enquanto tem um dos sistemas mais modernos e confiáveis de aferição de votos
(Ibidem, p. 19).

A história do Brasil não pode ser contada em um único livro. Até porque não há nação cuja
história possa ser contada de forma linear, progressiva ou de uma só maneira. As autoras
afirmam que não pretendem contar uma história do Brasil, mas fazer do Brasil uma história.
Elas utilizam o gênero textual de biografia porque além de ser um gênero da historiografia, é a
evidência de profunda conexão entre as esferas pública e privada que quando bem articuladas
conseguem compor o tecido da vida tornando-a real para sempre (Ibidem, p. 20).

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