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RESUMO PROVA 2 - Introdução ao Campo de Saúde Coletiva

ROSEN: Capítulo VI
FOUCAULT: Capítulo V e VI

I) ROSEN → capítulo VI (157 – 181)


→ O INDUSTRIALISMO E O MOVIMENTO SANITÁRIO (1830 – 1875)
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL → um dos fatores determinantes do desenvolvimento do mundo
moderno, e da organização e das ações da moderna Saúde Pública, foi a ascensão de uma economia
industrial (séc. XVIII). Com o crescimento do sistema industrial, eram necessários mais trabalhadores
que pudessem trabalhar nas fabricas = surgiu a necessidade da organização para proteger e atender à
saúde. A moderna Saúde Pública se originou na Inglaterra, já que foi o primeiro país industrial
moderno.

A ANTIGA LEI DOS POBRES → foi promulgada em 1601, durante o reinado da Rainha Elizabeth I.
Tinha como objetivo dar assistência aos pobres e mendigos, mas enfrentou críticas ao longo do tempo
= diziam que davam pouco $, incentivava a dependência do Estado, além das dificuldades financeiras
e de administração. Essa lei estabelecia que cada paroquia deveria cuidar dos seus pobres,
fornecendo-lhes assistência e suporte financeiro.

ASILOS DE TRABALHADORES → eram criados como centros de manufaturação, sob a forma de


asilos de trabalhadores, onde os pobres pudessem aprender a se sustentar. O primeiro asilo foi criado
em Bristol, em 1696, com crescimento contínuo a partir do início do século XVIII. Falharam no
quesito de lidar com a pobreza, no entanto, muitos planos e programas atraíram a atenção para
problemas de saúde, principalmente à assistência médica. A aprovação do Ato de Assentamento e de
Remoção, em 1662, limitou severamente a mobilidade dos trabalhadores pobres.

MOBILIZAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO → mudanças revolucionarias nas estruturas e na


política do governo (ato de 1834) que se enraizavam em considerações teóricas e práticas. Principal
desafio da Inglaterra: organizar e financiar a assistência ao pobre. Eram as freguesias que
administravam a assistência aos desvalidos, cada uma com sua própria autonomia. Os gastos anuais
subiam continuamente. A classe média industrial alegava que o sistema de assistência aos pobres era
o maior obstáculo a uma oferta perfeitamente elástica de trabalhadores para a indústria, e propunha o
fim da ajuda aos pobres sadios, e a liberação dos trabalhadores para atender a seus próprios interesses
econômicos.

A DOUTRINA DA NECESSIDADE FILOSOFICA → o conceito de necessidade filosófica estava na


fé e na ordem natural da sociedade, qualquer esforço para intervir nos processos sociais seria contrário
a natureza. JOSEPH PRIESTLEY: A pobreza e a ociosidade devem ser governadas pela razão e pela
necessidade, não por qualquer ajuda legal aos pobres, que serviria como incitação à ociosidade. O
governo deveria investir no aumento da educação, o que levaria ao aperfeiçoamento moral. Qualquer
tentativa de assistência através da Lei dos Pobres significava um obstáculo à autoajuda e um
impedimento ao progresso.
A VISAO DA ECONOMIA POLÍTICA → na era industrial, a economia política se desenvolveu
como a ciência das leis de funcionamento de um novo sistema econômico. Alguns economistas
diziam que a motivação da atividade econômica era guiada pela poderosa e invasiva forca do interesse
próprio, o poder da competição e o mecanismo de mercado. Os interesses dos indivíduos entravam em
harmonia e conduziam um sistema de cooperação espontânea, resultando em mais produtividade =
mais bem-estar. A Lei dos Pobres era considerada um empecilho antissocial e precisava ser removida
para que o potencial da iniciativa individual fosse alcançado, já que a autoajuda desses indivíduos
faria mais para melhorar a condição do pobre do que qualquer assistência legal.

BETHAM E OS FILOSOFOS RADICAIS → grupo de intelectuais dispostos a lidar com problemas


públicos usando base cientifica racional, mas havia certo grau de ingenuidade, apesar de terem
contribuído para o desenvolvimento das ciências sociais da época e exigirem inúmeras reformas.
Consciência da necessidade de criar o ambiente para que competição e mercado pudessem funcionar
bem, da necessidade de uma mão invisível guiando os homens em sua ação econômica e social: a mão
do legislador e do administrador (Bentham, Jeremy), no entanto, não era fácil coincidir os interesses
privados com os interesses públicos.

SR. CHADWICK → uma das primeiras ações do parlamento reformado foi a de nomear uma
Comissão Real para investir a prática e administração da Lei dos Pobres, e Edwin Chadwick,
discípulo de Bentham, foi nomeado primeiro como assistente da comissão e, depois como chefe. Ele
acreditava que o benthamismo e a política econômica clássica se fundiram para produzir uma filosofia
social pronta a ser levada à ação por circunstâncias propicias.

A NOVA LEI DOS POBRES → o relatório da Comissão apareceu em 1834. Ato de Emenda à Lei
dos Pobres (1834): incorporou e efetivou os princípios do relatório. O Ato era dividido em: 1. as
relativas aos princípios de administração da assistência, 2. as relativas à máquina administrativa
criada. Os princípios de concessão eram restritivos, ninguém poderia receber ajuda fora de asilos
comerciais. LADO ADMINISTRATIVO: assegurar centralização. FUNCIONARIOS: três
comissários de governo e um secretario pago que constituíam a comissão central da Lei dos Pobres,
eram eles que ordenavam e orientavam funcionários locais na administração da Lei. Principal objetivo
do Ato: reduzir os pobres, e esse objetivo foi atingido.

A lógica do sistema de mercado estabelecido pela reforma da Lei dos Pobres (de 1834) fez com que
os homens da década seguinte começassem a olhar para os problemas da vida comunitária com
ansiedade.

CRESCIMENTO URBANO E PROBLEMAS DE CIDADE → a criação de fabricas e de um


ambiente urbano fizeram necessários novos meios de prevenção à doença e proteção a saúde.
MANCHESTER: febres epidêmicas surgiram, e chegaram à conclusão que fabricas e moradias
congestionadas favoreciam o surgimento e difusão de doenças.
INVERNO DE 1795: disseminação do tifo exantemático, que levou a formação de um Conselho de
Saúde, que falhou devido a oposição ao programa e a negligência. Essa situação se manteve inalterada
em todo o país. O crescimento populacional deteriorava acabava com as condições de saúde, e esse
rápido crescimento refletiu na taxa de mortalidade, além de não haver residência para toda a
população, muitos viviam em distintos urbanos superpovoados. As mudanças sociais que
acompanhavam o crescimento das comunidades urbanas tendiam a acentuar, e a prolongar, a
aglomeração, a congestão e a negligência nos distritos mais pobres

Muitas cidades se caracterizavam pela quantidade de bares. Até 1845, Manchester não tinha nenhum
meio de recreação de lazer. públicos. Muitas cidades se caracterizavam pelo número excessivo de
bares. Em 1848, Birmigham tinha um botequim para cada 166 habitantes.

Havia pouco interesse em tomar medidas sanitárias, pois acreditavam que a renda não era o suficiente.
Tinha muito esgoto, lixo na rua, as casas em bairros mais pobres não possuíam descargas, até mesmo
privadas, usavam uma espécie de tina que era esvaziada toda manhã.

Mais de 70% da população era composta por trabalhadores, e mais de 60% desses trabalhadores
viviam em condições insalubres.

Londres estava em uma situação um pouco melhor que as outras comunidades, mas não estava imune
as condições degradantes. França, Bélgica, Prússia e EUA (onde quer que o novo sistema industrial
tenha se inserido): precisavam de uma reforma sanitária.

MENOS DOENCAS, MENOS IMPOSTOS! → novas comunidades cresciam = mais pessoas


tomavam consciência de suas características. O efeito das novas cidades sobre a saúde começou a se
evidenciar em 1830. Uma série de epidemias em Manchester chamou atenção para as cidades, e no
final do séc. XVIII surgiu a preocupação com os trabalhadores das fabricas.
O parlamento se ocupou do assunto. 1802: Robert Peel, dono de uma fábrica, conseguiu a aprovação
do Ato da Saúde e da Moralidade dos Aprendizes, que tinha como objetivo melhorar as condições de
trabalho das crianças nos engenhos de algodão. Apesar de ter sido ineficaz, esse ato quis estabelecer
que o Estado se interessava na saúde e no bem-estar dos trabalhadores. 1830: movimento pela reforma
das fabricas. 1833: Ato das Fabricas, início da legislação fabril na Grã-Bretanha, a atenção não foi
somente para os aspectos do trabalho, mas também para mostrar as condições de vida dos
trabalhadores.
Epidemia de Cólera (1831 e 1832) → fortaleceu o interesse pela situação das cidades e dirigiu olhares
para a saúde no momento mais agudo, mostrando que a doença atingia com maior frequência mais
pobres e os locais que sofriam com a negligência de medidas sanitárias, mas também era importante
ressaltar que a doença não se limitava as classes mais baixas. O estímulo final veio com a Nova Lei
dos Pobres, que concentrou a atenção nos problemas de saúde das comunidades urbanas.
Criação da Comissão de Lei dos Pobres (1834) → levantou o instrumento que ampliaria a questão
sanitária e os meios para enfrentá-la. Chadwick era secretário da Comissão. Apesar de ter sido criada
para reduzir a taxa de pobres, ele tinha uma percepção muito mais profunda das causas da miséria. Ele
também tinha um conceito de ação social preventiva que poderia se aplicar aos problemas de pobreza
e doença, e era o único que investigava a saúde da população indigente. Chegou à conclusão de que as
medidas sanitárias surgiram como consequência. A miséria é a consequência de doenças pelas quais
não se podia responsabilizado e ser a doença um fator de aumento do número dos pobres, concluiu ser
econômico tomar medidas profiláticas.
Concepção Sanitária, Chadwick → o estado do ambiente físico e social afetava a saúde para bem ou
para o mal.

IMUNDÍCIE, DOENCA, DESAMPARO E EXIGENCIAS DE REDUCAO NO PESO DA


ASSISTENCIA AOS POBRES SAO AS RAIZES DO MOVIMENTO PELA REFORMA SANITARIA.

AS CONDICOES SANITARIAS DO POVO → James Philips Kay, Neil Arnott e Thomas


Southwood Smith (além do Chadwick) se preocupavam com problemas de saúde em comunidades
urbanas e desempenharam uma parte muito importante no movimento pela reforma sanitária.
Febre tifoide, tifo e febres → Ao fim do século XVIII, as doenças desse grupo tinham sido
praticamente cessadas. Mas, no séc. XIX, houve surtos graves, na Irlanda, na Escócia e na Inglaterra.
esses surtos ocasionavam uma perda econômica, negativa para toda a comunidade. Prejuízo por não
trabalhar, gastos com cuidados médicos e de enfermagem, gastos com o funeral, etc. Reconhecer os
custos econômicos forneceu estímulo para melhorar a saúde pública.
Inquéritos sanitários → públicos e privados, do século XIX. Já se conhecia o inquérito como
instrumento para obter informações durante o séc. XVIII, e início do séc. XIX, em particular sob a
forma de inquérito regional de saúde, ou topografia médica, ou com propósitos mais específicos:
estudos de Howard, na investigação, de Percival, sobre a febre entre operadores fabris, em
Manchester, e no exame da Lei dos Pobres. A França era líder da Saúde Pública, no início do século
XIX.
Para os primeiros trabalhadores da Saúde Pública, esses princípios se constituíam na lei e no
evangelho do trabalho comunitário. Todo programa de saúde em um país subdesenvolvido se apoia
muito, ainda hoje, nos princípios estabelecidos por Chadwick mais de cem anos atrás.
O relatório provou, que a doença, em especial a doença comunicável, é relacionada com a imundície
do ambiente, falta de escoamento, de abastecimento d'água e de remoção de lixo das casas e das ruas.
O problema da saúde pública se reorientou e passou a ser considerado mais de Engenharia do que de
Medicina. Desde então, a imundície deixou de ser um assunto apenas particular, e se ergueu ao nível
de um importante inimigo da saúde comunitária.
Havia a necessidade de um órgão administrativo para empreender um programa preventivo. Grandes
medidas preventivas: drenagem, limpeza das ruas e das casas, através de suprimento d'água e de
melhor sistema de esgotos e, em especial, a introdução de modos mais baratos e mais eficientes de
remover da cidade todos os refugos nocivos. Chadwick fez seu trabalho ao indicar que a doença
resulta da negligência de medidas administrativas apropriadas.

A COMISSAO REAL PARA INVESTIGAÇÃO DA SITUAÇÃO DAS CIDADES GRANDES →


sua criação foi consequência do relatório. O relatório da comissão representou para a Saúde Pública o
mesmo que o relatório da Lei dos Pobres para a assistência pública. A Comissão mostrava a
superpopulação e congestão, pobreza, crime, insalubridade e mortalidade alta, em geral conviviam.
1840: Comitê Especial da Saúde das Cidades → dirigiu a primeira investigação publica no assunto e
lançou um relatório. Propunha a nomeação de corpos de saúde permanentes em todas as comunidades
urbanas acima de tal tamanho, e em cidades, um inspetor, sistema de esgotos em geral e de um ato
para regulamentação de construções futuras. Sugeria, também, atenção ao abastecimento de água,
inspeção e regulamentação das hospedarias, superlotação de cemitério.
A Comissão Real apresentou dois relatórios ao parlamento, tendo como objetivo nova legislação, que
sugeria que o governo deveria aceitar sua responsabilidade pela saúde pública e na criação de um
novo departamento governamental. A Comissão propôs, ainda, que em cada localidade as
providências necessárias quanto à imundície que eram expostos, além de uma legislação reguladora
das larguras e edificações e ruas.
As revelações da Comissão não surpreenderam o público, e o governo não tomou as providencias
necessárias rapidamente.
1844: Associação da Saúde das Cidades → dedicada à reforma sanitária, cujos objetivos estavam em
disseminar conhecimentos sobre condições urbanas e organizar a opinião pública para apoiar a ação
legislativa em favor da saúde pública.
1846: Lorde Lincoln envia à Câmara dos Comuns um projeto de lei para melhorar as condições
sanitárias das comunidades urbanas, mas a votação foi adiada. Um ano depois, Visconde Morpeth
enviou um novo projeto e nada aconteceu, devido a oposição de quem teria seus interesses
pecuniários afetados e por falhas na proposta.
1846 – Liverpool: tinha condições sanitárias muito ruins e se deparou com irlandeses famintos e
doentes. Buscou ajuda do governo e o parlamento aprovou o Ato Sanitário de Liverpool, que deu ao
Conselho da cidade o poder de nomear um Médico da Saúde Pública, um Engenheiro Municipal e um
Inspetor de incômodos. Outras medidas: Ato da Remoção de Incômodos e de Prevenção de Doenças,
Ato dos Banhos e Lavanderias e o Ato das Cláusulas de Melhoria das Cidades (1847). Essas medidas
compõem o Ato da Saúde Pública (1848).

O CONSELHO GERAL DE SAUDE → como não havia repartição central que pudessem recorrer em
caso de orientação ou auxílio, os esforços das autoridades foram impedidos, fez-se necessária a
criação de um conselho, em 1848, mas ficou parecido com a comissão. Tinha poderes para estabelecer
conselhos locais de saúde, dava autoridade para os conselhos locais cuidarem do abastecimento de
água, sistema de esgoto, controle de comércios, regulamentação de cemitérios, etc.
A maioria das propostas do conselho recebiam oposição, e o conselho foi perdendo cada vez mais
popularidade, e chegou ao fim em 1854.

PAPEL DA MEDICINA NA MELHORIA DA SAUDE PUBLICA → no início da reforma sanitária


na Inglaterra, no séc. XIX, chegaram à conclusão de que o impulso para a reforma sanitária não veio
dos médicos, apesar de alguns terem sido importantes para os problemas comunitários. O
conhecimento médico não poderia contribuir tanto para a alta propagação de doenças transmissíveis.
A legislação sobre saúde e higiene resultou de uma variedade de forças no interior da ordem
econômica e social, não da preocupação pelo bem-estar do pobre.
1838: William Farr → seus relatórios forneciam informações usadas em campanhas contra as
doenças.
As comunidades se dedicaram a resolver deficiências sanitárias, mas não consideraram outras
carências. As mesmas características indesejáveis das décadas de 1830 e 1840 continuavam expostas
30 anos depois. Com experiência e conhecimento, os sanitaristas insistiam em uma reforma ou outras
soluções semelhantes.
A legislação sanitária era fraca, concediam poderes as autoridades locais, mas não havia nenhuma
obrigação de cumprimento e nem todas as autoridades se interessavam em cumpri-las.
1848: estabelecimento do Conselho Geral de Saúde, extinto em 1858 (a supervisão da saúde pública
passou para o Conselho Privado, até 1871).
1871: criação do Conselho do Governo Local.
1875: aprovação do Ato de Saúde Pública.
1855: aprovação de um projeto de lei que reconhecia a existência de necessidades comuns em uma
grande área urbana.

CONSELHO PRIVADO → investigar assuntos da saúde e preparar relatórios. Jonh Simon enfrentou
problemas como: cóleras, diarreia, desinterias, difteria, tuberculose, etc. Ele tinha um olhar amplo
para a saúde da comunidade, considerando fatores como moradias, condições de trabalho, emprego de
mães, nutrição dos pobres, fatores que caracterizavam a comunidade industrial urbana no séc. XIX.
1869: nomeou-se uma Comissão Real para estudar a administração sanitária da Inglaterra.
1871: a Comissão recomendou a criação de um departamento: administração da Lei dos Pobres +
Saúde Pública.

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