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Cálculo da superelevação para uma curva circular horizontal

* Iran Carlos Stalliviere Corrêa


Departamento de Geodésia
Instituto de Geociências-UFRGS
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91501-970 Porto Alegre-RS
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vação (e) deverá estar compreendido entre os seguintes valores:


Resumo

O presente trabalho trata da determinação da superelevação a


ser aplicada a uma curva circular horizontal de uma estrada para
que a força centrífuga seja vencida por um veículo que por ela Se o coeficiente de atrito transversal (f) for igual a zero, o veículo
trafegar. será equilibrado exclusivamente pelo efeito da superelevação.

O processo apresentado é simples e de fácil obtenção, permitindo


estabelecer segurança ao tráfego da rodovia.

Introdução Se o coeficiente de atrito transversal (f) for o máximo (fmax), o


veículo será equilibrado pela contribuição de todo o atrito lateral.

Este trabalho trata da determinação da superelevação que uma
curva horizontal circular deve apresentar para que a mesma per-
mita o deslocamento de um veículo, vencendo a força centrífuga e
tornando o deslocamento do veículo seguro.
Se plotarmos em um gráfico os valores da superelevação (e), em
A aplicação da superelevação em uma curva horizontal circular de função da curvatura (C), a qual é obtida pelo inverso do raio (R),
uma estrada se faz necessária a partir do raio mínimo desta curva,
observa-se que os valores de “e” que venham a satisfazer a equa-
que a torne segura aos veículos que por ela trafegarem.
ção, se encontram num paralelogramo, definido pelas linhas cor-
Pretende-se aqui apresentar o desenvolvimento simplificado para respondentes aos valores de e=0; e=emax; f=0 e f=fmax.
a determinação da superelevação a ser aplicada em uma curva
horizontal circular. Qualquer valor da superelevação que esteja no interior do para-
lelogramo, atenderá às exigências mínimas de estabilidade dos
Desenvolvimento veículos na curva.

Na elaboração de um projeto de estrada, nos deparamos com inú- Os valores máximos admissíveis para os coeficientes de atrito
meras seções da estrada onde devem ser locadas curvas horizon-
transversal (f) são fornecidos pelo DNER em função da velocidade
tais circulares ou mesmo curvas horizontais de transição.
a ser aplicada na estrada (Tabela I).
Estas curvas, dependendo da velocidade a ser aplicada a estrada,
deverão estas apresentar uma superelevação. Tabela I

A superelevação imposta a uma curva circular é a inclinação trans- V(km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
versal que a mesma deve apresentar a fim de que os veículos que f=ft 0,20 0,18 0,16 0,15 0,15 0,14 0,14 0,13 0,12 0,11
passarem pela mesma, possam vencer a força centrífuga (Fc) de-
senvolvida nos veículos, impedindo q derrapagem dos mesmos.
* Fonte DNER
A força centrífuga (Fc) é função do raio de curvatura (R) e da velo-
cidade imposta ao veículo (V). A AASHTO recomenda a seguinte equação para a determinação
do coeficiente de atrito transversal de acordo com a velocidade
Para uma determinada velocidade (V), o raio de curvatura (R), a (km/h) controlada.
superelevação (e) e o coeficiente de atrito transversal (f), formam
um conjunto de valores interelacionados, cuja equação pode ser
expressa por:

Os valores máximos adotados para a superelevação são determi-


nados em função das condições climáticas, topográficas, localiza-
ção da área, se rural ou urbana, e frequêcia de tráfego lento no
Para um dado raio (R) e uma velocidade (V), o valor da superele- trecho considerado.
O cálculo do raio mínimo (Rmin) de uma curva circular horizontal
pode ser determinado da seguinte maneira:

logo

O raio mínimo de curvatura (Rmin) horizontal é o menor raio da


curva que pode ser percorrido nas condições limite, com a velo-
cidade diretriz e a taxa máxima de superelevação admissível, em
condições aceitáveis de segurança.

Devido à força centrífuga (Fc), um veículo em trajetória circular é


forçado para fora da curva. Esta força é compensada pelas com-
ponentes do peso do veículo (P) devido à superelevação da curva
e pelo atrito dos pneus à superfície do pavimento.

Nos casos normais de rodovias rurais o coeficiente de atrito trans-


versal (f) e o valor (superelevação) são pequenos, de tal
Figura 01 - Esquema explicativo da superelevação em uma curva circular modo que o produto de se aproxima de zero. Logo se
horizontal temos:

Na figura 01 temos:

CG =centro de gravidade
Como “R” é dado em metros (m), a velocidade “V” em quilômetros
Fa = força de atrito que atua sobre as faces dos pneus em contato por hora (km/h) e a aceleração da gravidade é g=9,8m/s2 temos:
com a pista;

Fc = força centrífuga, que é horizontal e atua sobre o centro de


gravidade do veículo e pode ser decomposta em:

Ft = Fc.cos (força tangente à pista)


Fn = Fc.sen (força normal à pista)
P = força peso do veículo, a qual é vertical e atua
sobre o centro de gravidade do veículo, e pode
ser decomposta em: Esta equação exprime a relação geral entre qualquer valor de raio
Pt = P.sen (peso tangente à pista) da curva circular horizontal (R), superelevação (e), velocidade (V)
e o coeficiente de atrito transversal (f).
Pn = P.cos (peso normal à pista)
O termo (e + f) é uma expressão algébrica podendo ser positiva ou
Na representação a seguir o valor da velocidade (ν) é representa- negativa, conforme a declividade da pista.
do em metros por segundo. Pela figura 1 podemos dizer:
Adotando-se o valor máximo admissível para e superelevação
(emax) e o coeficiente de atrito transversal (fmax), pode-se calcular
o raio mínimo (Rmin) admissível para uma dada curva a uma velo-
cidade predeterminada.

Levando-se em consideração que o ângulo “α” é pequeno, pode-


mos considerar que o e que , logo:
A equação obtida permite calcular a taxa de superelevação para Bibliografia
raios acima do mínimo.
AASHTO. 1984. A Policy on Geometric Desing of Highways and
O DNER estabelece uma tabela (Tab. II) para os valores dos raios Streets. Washington, D.C.
acima dos quais a superelevação é indispensável, com relação à
velocidade adotada para a estrada. DNER. 1975. Normas para projetos geométricos de estradas de
rodagem. Rio de Janeiro, RJ.
Tabela II
DNER. 1978. Instruções para superelevação e superlargura em
V (km/h) 30 40 50 60 70 80 90 100
projetos rodoviários. Rio de Janeiro, RJ.
R (m) 450 800 1250 1800 2450 3200 4050 5000
DNER. 1978. Manuais de serviços de consultoria para estudos de
projetos rodoviários. Rio de Janeiro, RJ.
Conclusão
DNER. 1979. Instruções para projetos geométricos em rodovias
A metodologia aqui apresentada para a determinação da supere- rurais. Rio de Janeiro, RJ.
levação de uma curva circular horizontal é relativamente simples e
de fácil obtenção, sendo seu resultado eficaz e preciso. LEE, S. H. 2020. Introdução ao Projeto Geométrico de Rodovias.
Ed da UFSC. Florianópolis, SC. 418p.
O processo pode ser aplicado a qualquer caso de curva circular
horizontal. O processo de obtenção dos demais parâmetros para PONTES FILHO,G. 1998. Estradas de rodagem: projeto geométri-
a determinação da superelevação de uma curva circular horizontal co. GP-Engenharia. Instituto Panamericano de Carreteras Brasil.
é obtido pelas tabelas elaboradas pelo DNER. São Carlos-SP. 432p.

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