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Lição 5 - 4

Ressurreições anteriores à cruz

Nesta semana estudamos as evidências de que a morte não é o destino final e inexorável de cada ser humano. Elencamos as
ressurreições que ocorreram antes da ressurreição do Messias. Podemos tirar duas principais lições desse estudo: a primeira,
como já dito, é que a morte pode ser vencida, e a segunda é que não existe vida consciente na morte. Vamos refletir sobre
essas duas lições, iniciando pela segunda.

O ato divino de ressuscitar alguém é uma invasão no reino da morte, retirando a pessoa dali. Se a pessoa estivesse consciente,
seria esperado que ela narrasse detalhes de sua passagem por ali, de seu tempo naquele lugar. Agregue-se aqui a curiosidade
da humanidade pelo que lhe teria acontecido, as histórias seriam recheadas de narrativas com a vida após a vida. Ademais,
seria uma excelente oportunidade para reforçar a ideia de recompensa e castigo, mostrando-os por meio das pessoas que os
tivessem vivido. Por tudo isso, o silêncio narrativo nas páginas das Escrituras é ensurdecedor e se explica apenas pela
harmoniosa corrente do pensamento antropológico bíblico, que declara não haver consciência na morte (Ec 9:5).

Por outro lado, a existência de ressurreições aponta para a transitoriedade da morte. De fato, a morte, em nossa realidade,
parece final e implacável. Não vemos saída alguma para a morte e o ditado popular é claro e lúgubre: “Para tudo existe saída,
exceto para a morte.” Por isso, a aproximação do momento de morrer causa tanta angústia e, ao mesmo tempo, curiosidade.
No ano de 2021, fui submetido a uma cirurgia cardíaca, após descobrir um estreitamento de artérias que poderiam me causar
um infarto. Na verdade, de acordo com os exames, sofri um infarto de pequena monta em algum tempo passado, e o corpo
conseguiu se recuperar. Bem, qualquer cirurgia é complexa, mas uma cirurgia cardíaca é assustadora. Meu coração foi parado
por 1 hora e 10 minutos, sendo uma máquina a responsável por me manter vivo. A cirurgia, prevista para 3 horas, durou 7, e
houve complicações pós-cirúrgicas, que baixaram minha pressão para seis, levando os médicos e enfermeiros a acreditar que
eu não sobreviveria. Mas sobrevivi. Lembro-me deles tentando me acordar para desentubar e as palavras do médico: “Não
queremos te perder”. Lembro-me das enfermeiras dizendo que minha pressão estava caindo, enquanto os batimentos
subiam. A batalha pela vida foi, ao fim, vencida.

Nos dias anteriores à cirurgia, a maior parte da minha preparação foi espiritual. Solicitei que o Pr. Rogel Tavares fizesse minha
unção. Fizemos um culto de entrega, conversamos com a família, com os filhos. Confio na medicina, mas sabia dos riscos e nos
preparamos, de maneira firme, para o reencontro caso me acontecesse algo. A angústia da morte. Ela nos solapa a alegria e
enche o coração de tristeza e ansiedade. A uma tão grande angústia, apenas uma esperança imensa pode se sobrepor: a da
ressurreição. E cada narrativa de ressurreições nas Escrituras são uma declaração de que a morte não precisa ser o fim.
Mesmo que não haja uma vida na morte, haverá vida sem morte!

Cremos que o primeiro a experimentar essa esperança transformada em realidade foi Moisés, conforme extraímos do relato
de Judas 9 e Mateus 17. Não obstante, muitos cristãos não entendem que Moisés tenha ressuscitado e questionam esse
entendimento. Por isso, quero me deter rapidamente nas evidências de que essa ressurreição tenha de fato ocorrido.

Primeiro, Judas 9 relata uma “contenda” entre Miguel e o diabo. Miguel é o nome pelo qual Jesus é mencionado em
momentos crucias e de batalha (Cf. Dn 10:13; 12:1, 2; Ap. 12:7-9). Em ao menos um outro texto, ele é diretamente ligado com
a ressurreição dos mortos. Em Daniel 12, a ressurreição dos mortos ocorre como resultado da ação de Miguel, que Se levanta
para defender Seu povo. Ainda em Daniel, no capítulo 10, é mencionada uma batalha com o príncipe do reino da Pérsia, em
uma possível referência ao poder demoníaco que se interpunha aos planos de Deus. A vitória nessa batalha adveio pela
presença de Miguel. O capítulo 11 de Daniel, por sua vez, narra as várias batalhas que o povo de Deus teria que enfrentar no
meio das batalhas humanas, as quais, certamente produziriam muitas mortes, tanto dos fiéis, quanto de seus inimigos. É nesse
contexto, das mortes nas batalhas, que é reintroduzida a figura de Miguel, como fechando o arco de batalhas e morte aberto
no capítulo 10:13, com a promessa da ressurreição. Logo, parece claro que Miguel está envolvido nas batalhas com o objetivo
de proteger Seu povo não apenas das dores da batalha em si, mas para lhe proporcionar a ressurreição, quando caídos nessas
batalhas, e para trazer os inimigos de volta à vida para julgá-los.

É interessante que, em 1 Tessalonicenses 4:15-17, ainda que Miguel não seja mencionado diretamente, há a menção a um
Arcanjo, cuja voz parece chamar os mortos à vida, enquanto em João 5:28, 29, é a voz de Cristo que chama os mortos à vida.
Aplicado ao caso de Judas 9, essa é uma forte evidência de que ali a batalha não foi meramente pelo corpo morto, mas pela
ressurreição de Moisés.

Em segundo lugar, os termos disputar e contender, em Judas 9 parecem indicar mais do que apenas uma discussão. O grego
diakrino é usado também em contexto de disputa judicial ou legal. Por exemplo, esse termo ocorre na Septuaginta em
Ezequiel 20:35 e em Atos 11:2. Em Marcos 9:34, encontramos o termo dielegeto, com o sentido de argumentação. Isto posto,
é possível que o texto esteja falando de uma disputa judicial entre o acusador e Miguel, como Defensor de Moisés. Dessa
forma, não faria sentido algum a disputa ser apenas pelo direito de enterrar Moisés ou pelo corpo morto, uma vez que a
morte já é a sentença comum de todos. Algo maior deve estar envolvido, que não é comum a todos, mas depende de uma
decisão legal. No contexto de uma cena semelhante, em Zacarias 3, a argumentação entre o acusador e o Anjo do Eterno se dá
em razão de Josué, e a sentença inicia com uma declaração, no verso 2, que no grego da Septuaginta é a mesma de Judas 9:
epitimesai kyrios, ou “o Eterno te repreenda”. O resultado dessa disputa nos versos 4 e 5 de Zacarias 3 foi que Josué foi
vestido com vestes brancas, um símbolo apocalíptico de ressureição. Não seria demais, portanto, sugerir que a disputa em
Judas 9 fosse também pelo direito de Moisés vestir as vestes brancas dos ressuscitados.

Terceiro, em Romanos 5:14 é dito que a morte reinou de Adão até Moisés. Por qual razão? Alguns têm sugerido que o texto se
refira à entrega da lei e à aliança mosaica, o que é verdade, mas não faz jus ao todo do texto, porque não explica como a lei
teria encerrado o domínio da morte. A única explicação plausível é que alguém teria sido retirado do domínio da morte,
interrompendo, assim, seu reino ditatorial. Aliada a outras evidências que já elencamos, o texto é um indicativo poderoso da
ressurreição de Moisés.

Por fim, a tradição judaica preservou lendas que apontam a que algo especial aconteceu com Moisés. Sua morte foi cercada
de histórias de disputa. Numa delas, Moisés contende com o anjo da morte, enviado para levá-lo, pois não aceitava a morte.
Em outras, Moisés escapa com o auxílio dos elementos naturais. Em outra, os anjos tinham medo de vir ter com ele e anunciar
sua morte, sendo necessário o próprio Deus vir para fazê-lo. É impossível descrever todas as tradições nesse texto, mas o
leitor pode encontrar na internet várias narrativas do Midrash contando os últimos momentos de Moisés e as tradições
referidas. O importante a ser mencionado é que todas mostram algo especial nos eventos que circundam a morte de Moisés.
Josefo chega a mencionar que Moisés não morrera de fato, mas fora trasladado (Antiguidades 4, 424 e seguintes).

Todas essas evidências apontam para a realidade da ressurreição de Moisés. Ao subir ao Pisga, em Deuteronômio 34, foi dada
a ele a oportunidade de ver a terra que o Eterno tinha prometido, assim como o futuro da humanidade. Em meio à tristeza de
sua partida, e à angústia de sua morte, Moisés aceitou o destino comum a todos, não cônscio da glória que lhe esperava
imediatamente: a ressurreição. Nas pegadas da tradição judaica, podemos ver Moisés entregando sua vida nas mãos de Deus
Pai, para recebê-la de volta com o chamado de Deus Filho. Que maravilhosa visão terá sido!

Quando em meu quarto da UTI, após os eventos que narrei acima, por duas ocasiões tive a visita desse mesmo Deus. Ali,
entendi que não importa, de forma alguma, o que nos aconteça, porque Ele ama ressuscitar os que são tomados do mundo, e
tem poder para vencer o reino da morte!

Pastor. Sérgio Monteiro

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