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UNIARA - Curso de Direito – 3ª Série – “Disciplina de Direito Civil – Contratos I”.

Períodos Diurno e Noturno: Prof. Marco Aurélio Bortolin


Aulas 7 e 8 (sinopse) - I. Contratos em Geral – Código Civil de 2002 – Disposições Preliminares (desdobramentos
do estudo dos princípios e da classificação dos contratos). 1. Introdução. 2. Disposições preliminares para os
contratos em geral no Código Civil. Dispositivos que estabelecem princípios. 2.1. Função social (artigo 421, Código Civil).
2.2. Boa-fé objetiva (artigo 422, Código Civil). 3. Contratos de adesão. 4. Contratos atípicos (artigo 425, Código Civil). 5.
Vedação de objeto (artigo 426, Código Civil). II. Contratos em Geral – Código Civil de 2002 – Outros desdobramentos
diretos e relacionados com o estudo da classificação dos contratos (contratos aleatórios e contratos preliminares
– regras gerais). 1. Contratos aleatórios. Localização. 1.1. Espécies. 1.1.1. Alea sobre todo o objeto do negócio
contratado - “emptio spei” (artigo 458, Código Civil). 1.1.2. Alea sobre a variação de quantidade do objeto contratado -
“emptio rei speratae” (artigo 459, Código Civil). 1.1.3. Alea sobre o perecimento de bem existente, mas exposto a risco
(artigos 460 e 461, Código Civil). 2. Contratos preliminares. Localização. 2.1 Conteúdo do contrato preliminar (artigo 462,
Código Civil). 2.2. Celebração do contrato definitivo. 2.3. Execução coativa do contrato preliminar e perdas e danos.

I. Contratos em Geral – Código Civil de 2002 – Disposições Preliminares (desdobramentos do estudo


dos princípios e da classificação dos contratos).

1. Introdução. O Código Civil inicia a disciplina legal dos contratos


com disposições preliminares relacionadas aos contratos em geral conforme regras gerais encartadas
nos seus artigos 421 a 426, que são dispositivos relacionados à teoria geral dos contratos, e que o
legislador houve bem enfocar introdutoriamente. E, iremos encontrar nesses artigos da lei civil, como
temas eleitos, a função social, a boa-fé objetiva, contratos de adesão, contratos atípicos e uma vedação
geral de objeto. Como já estudamos princípios e critérios de classificação, reconhecemos facilidades
óbvias nesse estudo, pois podemos localizar tais temas soltos em meio aos já estudados
organizadamente.

Por força disso, podemos avançar depois das disposições preliminares


e analisar nessa primeira parte do tratamento legal dos contratos no Código Civil (ou seja, no estudo
da Teoria Geral Contratual), outros aspectos com fulcro nos critérios de classificação, mais
precisamente, regras gerais do Código Civil para contratos que classificamos como aleatórios (artigos
458 a 461, Código Civil) e como preliminares (artigos 462 a 466, Código Civil), justamente pela
importância didática de relacionarmos temas tratados anteriormente com estes.

2. Disposições preliminares para os contratos em geral no Código

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Civil. Dispositivos que estabelecem princípios. Considerando a análise realizada para princípios
que nos parecem ser centrais na teoria geral dos contratos, informadores dos aspectos mais frequentes
na resolução de lides em geral, quais sejam os tradicionais princípios da autonomia da vontade (ou
autonomia privada), força obrigatória (ou força vinculante), e relatividade subjetiva (ou relatividade
dos efeitos), e os contemporâneos princípios da função social e boa-fé objetiva, não cuidaremos aqui
de retomar conceitos e aplicações, para os quais fazemos a devida remissão, mas agregando agora
uma análise crítica em torno dessa positivação no Código Civil, sobretudo após a entrada em vigor
da Lei nº 13784, de 20/09/2019 (que instituiu a declaração de direitos de liberdade econômica), com
algumas alterações implementadas nesses dispositivos preliminares que tratam dos princípios.

2.1. Função social (artigo 421, Código Civil). Estabelecia o legislador


na redação original do Código Civil que a liberdade de contratar seria exercida em razão e nos
limites da função social do contrato. Respeitosamente, entendemos que o legislador poderia ter sido
mais preciso na abordagem da função social do contrato, pois é fato que a liberdade de contratar é
exercida em razão da autonomia privada e não é da função social. Com efeito, a função social não é
causa ou razão para ninguém contratar, mas sim, decididamente, é um princípio ou fonte informadora
da limitação legal e constitucional à autonomia da vontade privada para a liberdade contratual,
atuando para que os interesses privados não atentem contra o papel maior do contrato no meio social.

Na vida privada, o que motiva a contratação é o interesse de lucro ou a


busca de bem-estar com a satisfação de necessidades ou de interesses comerciais ou pessoais, com ou
sem perspectiva de lucro, e, portanto, devemos fazer uma distinção no âmbito da contratação, da
liberdade de celebrar vínculos obrigacionais decorrente da capacidade, como atributo da
personalidade jurídica (liberdade de contratar).

Essa liberdade do agente capaz (pessoa física ou jurídica) é permeada


pelos conceitos tradicionalíssimos da autonomia privada e força obrigatória. Entendemos, portanto,
que a liberdade de contratar propriamente dita é exercida em razão da autonomia da vontade e força
obrigatória do vínculo criado. Ocorre que no âmbito da liberdade frente aos negócios jurídicos
contratuais, encontramos a liberdade de contratar e a liberdade contratual.

Em termos bem simples, a liberdade de contratar é a de celebrar


negócios jurídicos contratuais, e essa é e sempre foi ilimitada. Seguindo o ideal iluminista
transformado em norma informadora dos sistemas jurídicos que se seguiram à Revolução Francesa,

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a pessoa é livre, e sua liberdade não é apenas a de ir e vir. A liberdade é ampla e qualquer pessoa
capaz pode livremente celebrar quantos negócios desejar ao longo de sua vida, podendo ser ótimos
ou péssimos negócios, não importa, pois estamos no campo do direito privado da pessoa de criar seus
vínculos obrigacionais. Vale repetir: a liberdade de contratar é ilimitada.

Ocorre que a liberdade de contratar não pode se confundir com a


liberdade contratual (como já estudamos em aula relacionada aos princípios), e esta última não pode
mais ser tão plena a ponto de permitir que o interesse individual possa suplantar um interesse maior,
sempre orientado pelos valores superiores de dignidade da pessoa humana, solidariedade e igualdade
(artigos 1º, III, 3º, I, e 5º, caput, da Constituição Federal).

O contrato, portanto, deve voltar a ser o que era antes das


transformações causadas pelas atuais relações sociais geradas pela industrialização, intensa
urbanização e pela atual sociedade de consumo, ou seja, deve ser sempre uma ferramenta válida de
vida em sociedade para circulação de riquezas sob patamares aceitáveis de lucro ou vantagens
gerando segurança jurídica, e não instrumento de pura opressão do forte contra o fraco simplesmente
porque o contrato faz lei entre as partes fora dos estritos casos de vícios do consentimento. O que a
lei nos mostra é que o contrato não pode ser injusto, apenas por ser informado por um relevante fator
de força obrigatória.

Portanto, esse poder de ajustar, de celebrar conteúdos obrigacionais, e


que se traduz como uma liberdade contratual (dirigida a todas as pessoas, inclusive, às jurídicas
empresariais que detém nichos de mercado que são essenciais às pessoas em geral, como as
atividades bancárias, planos de saúde, seguros, educação, habitação, et cetera) deve estar limitada
por valores sociais superiores acima destacados, para que os contratos possam cumprir sua função
social.

Assim, a redação original do artigo 421, do Código Civil já apresentava


propostas legislativas de alteração, pois era pacífico o desacerto do conceito legal, pois o senso
comum comungava, vale repetir, que a interpretação correta seria a de que a liberdade de contratar
é exercida com base na autonomia privada e força obrigatória, mas a liberdade contratual é
limitada pelas funções sociais que o contrato deve ostentar no plano interno entre os celebrantes
e no plano externo perante a coletividade.

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Bem se vê, portanto, que a função social é estabelecido como preceito


de ordem pública (artigo 2035, § único, Código Civil) 1, a condicionar a eficácia dos contratos em
geral e seu campo de aplicação é amplo, seja entre os próprios contratantes, em uma chamada eficácia
interna ou intrínseca, a atenuar a força de vinculação das cláusulas contratuais claramente abusivas
que implicam em maior vulnerabilidade do contratante, sobretudo, no contrato de adesão, seja em
relação a terceiros ou a coletividade, com uma eficácia tida como externa ou extrínseca, ou seja, além
dos interesses particulares dos próprios celebrantes, não pode o contrato validamente prejudicar
terceiros (ou por terceiros ter sua eficácia prejudicada) ou a coletividade, e nesse particular aspecto,
decorre uma outra função, dita coletiva e socioambiental.

De qualquer forma, a positivação da função social exerce um papel


didático importante, pois revela a ruptura com o modelo clássico de tratamento do contrato no Código
Civil de 1916 (revogado), e como fonte principiológica que é, não dependia da literalidade do
dispositivo legal em sua redação original, podendo a partir dele ser adotado corretamente em toda a
sua amplitude pelo intérprete da norma, como de fato ocorreu.

Mesmo assim, atualmente, a redação do artigo 421, do Código Civil,


restou alterada e acrescida pela Lei 13.784, de 20/09/2019 (que instituiu a declaração de direitos de
liberdade econômica)2.

A nova redação corrigiu os problemas acima destacados, relacionando


a função social como limitadora da liberdade contratual. No parágrafo único, criou-se artificialmente
uma fonte inexistente no âmbito do direito contratual que se autoproclamou “princípio da intervenção
mínima”, algo absolutamente desarrozoado frente aos valores sociais da Constituição Federal, e
repetiu-se algo que já era da essência do direito aplicável, qual seja, a excepcionalidade da revisão
contratual, mormente no campo do direito privado!

1 Art. 2.035. [...] § único, Código Civil. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os
estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”.

2 Art. 421, Código Civil. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874,
de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da
revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

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Introduziu a referida Lei 13.784, de 20/09/2019 um outro dispositivo


nas disposições preliminares, sem correspondência na redação original do Código Civil (artigo 421-
A)3.

Novamente, temos uma proclamação artificial de liberalismo


econômico totalmente abstrato, pois tecnicamente precisamos distinguir os contratos paritários dos
contratos adesivos (gênero), a englobar formulários, contratos tipo, e todas as variáveis da adesão.
Portanto, a regra não cria realmente um presunção absoluta, pois ou o contrato é paritário ou não é.
Basta um elemento de adesividade para que a presunção relativa imaginada desapareça, como, aliás,
corrige a segunda parte do caput.

Quanto aos dois primeiros incisos, vislumbramos alguma evolução ao


tratamento jurídico, bem própria para contratos civis (mas notadamente os empresariais), nos quais
as partes, paritariamente, poderão estabelecer linhas específicas de desenvolvimento e de aplicação
das cláusulas contratuais ante a evolução do negócio na prática, muito embora isso já fosse
perfeitamente extraído do campo dos contratos atípicos e da liberdade de celebrar conteúdos.

Já o terceiro inciso retoma uma obviedade regulada pelo Direito Civil


no campo da imprevisão e da onerosidade excessiva, algo que veremos adiante.

2.2. Boa-fé objetiva (artigo 422, Código Civil)4. Em relação a esse


tema, o legislador estabeleceu que os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Trata-se de positivação
importantíssima, sem qualquer dúvida.

3 Art. 421-A, Código Civil. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos
que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também
que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - a alocação de riscos
definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)III - a revisão contratual somente ocorrerá
de maneira excepcional e limitada. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

4 Art. 422, Código Civil. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios
de probidade e boa-fé.

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Embora não seja imprescindível para ser aplicada, pois como fonte
jurídica não demanda positivação na norma, a sua importância fica reforçada ao se fazer constar
expressamente na lei, isso é inegável. Portanto, a inserção da boa-fé objetiva como regra cogente,
positivada na lei civil, cumpre um papel didático e de reforço, digno de aplausos, pois torna a própria
lei mais socializante, ao menos aos olhos de quem apenas se limita à lei.

Contudo, a redação do artigo 422, do Código Civil, exige interpretação


extensiva, já que a boa-fé objetiva, a compreender a boa-fé subjetiva e a probidade, se aplica, além
das fases de conclusão e cumprimento do contrato, também e sobretudo na fase de formação do
negócio jurídico, pois em regra as práticas de convencimento de um contratante ao outro não podem
estar alijadas do campo de incidência da boa-fé como gênero.

Em suma, entendido esse princípio como uma autêntica cláusula geral


aplicável a qualquer contrato independentemente de sua inserção escrita, desprende-se aquele do
sujeito contratante individualmente considerado, e em especial, ao seu querer honesto, para, além
deste, contaminar uma conduta exigível frente ao contrato. Essa conduta contratual correta deixa de
ser a do simples adimplemento de cláusulas firmadas, para ser uma conduta apta a contemplar, além
do adimplemento, outros deveres, que, se descumpridos, também podem gerar responsabilização
(assistência, cooperação, informação, confidencialidade, lealdade).

Portanto, já na formação dos contratos, bem como, durante e após a


conclusão do contrato, também devem os contratantes agir com boa-fé frente ao sujeito da contratação
(boa-fé subjetiva) e boa-fé extraída de um comportamento responsável e de respeito ao vínculo
jurídico em si (probidade), não se admitindo interpretação restritiva do preceito legal pois em
qualquer fase da celebração a boa-fé objetiva deve se fazer presente.

Em reforço, contextualizando a função social e a boa-fé objetiva,


citamos Humberto Theodoro Júnior:

“A função social do contrato consiste em abordar a liberdade contratual em seus


reflexos sobre a sociedade (terceiros) e não apenas no campo das relações entre as partes que o estipulam (contratantes).
Já o princípio da boa-fé fica restrito ao relacionamento travado entre os próprios sujeitos do negócio jurídico. Nessa ótica,
sem serem partes do contrato, terceiros têm de respeitar seus efeitos no meio social, porque tal modalidade de negócio
jurídico tem relevante papel na ordem econômica indispensável ao desenvolvimento e aprimoramento da sociedade. Têm
também os terceiros direito de evitar reflexos danosos e injustos que o contrato, desviado de sua natural função econômica
e jurídica, possa ter na esfera de quem não participou de sua pactuação. Reconhece-se, de longa data, e não apenas

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nos tempos atuais, que os contratantes, embora livres para ajustar os termos da convenção, deverão agir sempre dentro
dos limites necessários para evitar que sua atuação negocial se torne fonte de prejuízos injustos e indesejáveis para
terceiros. O Estado democrático de direito, em seus moldes atuais, evita participar diretamente na produção e circulação
de riquezas, valorizando, como já se expôs, o trabalho e a iniciativa privados. É, com efeito, na livre iniciativa que a
Constituição apoia o projeto de desenvolvimento econômico que interessa a toda sociedade. Não é, contudo, apenas a
livre iniciativa, o único valor ponderável na ordem econômica constitucional. O desenvolvimento econômico deve ocorrer
vinculadamente ao desenvolvimento social. Um e outro são aspectos de um único desígnio, que, por sua vez, não se
desliga dos deveres éticos reclamados pelo princípio mais amplo da dignidade humana, que jamais poderá ser sacrificado
por qualquer iniciativa, seja em nome do econômico, seja em nome do social. Nada, com efeito, justifica o tratamento da
pessoa humana, no relacionamento jurídico, como coisa ou como simples número de uma coletividade. A ordem
constitucional de nossos tempos, por isso, evita o intervencionismo gerencial público no processo econômico; deixa de
atribuir ao Estado a exploração direta dos empreendimentos de ordem econômica; mas também não pode permitir que
em nome da liberdade negocial a força econômica privada seja desviada para empreendimentos abusivos, incompatíveis
com o bem estar social e com os valores éticos cultivados pela comunidade. Sob o predomínio do Estado liberal, o contrato
pode ser visto como fonte criadora de direito, ad instar da própria lei (pacta sunt servanda), como, v.g., afirmava KELSEN,
em sua noção positivista do fenômeno negocial.

O Estado social, porém, não se alheia aos problemas que o abuso da iniciativa
contratual pode gerar no meio social em que os efeitos da convenção privada irão repercutir. Se algum dano indevido a
terceiro ou à coletividade for detectado, a autonomia contratual terá sido exercitada de forma injurídica. Não poderá o
resultado danoso prevalecer. Ou o contrato será invalidado ou o contratante nocivo responderá pela reparação do prejuízo
acarretado aos terceiros. De uma forma ou de outra, o contrato desviado de sua função social não ficará livre de uma
sanção jurídica, pois sua prática incursiona pelo terreno da ilicitude” (Jr., THEODORO, Humberto. O Contrato e sua
Função Social, 4ª edição. Forense, 05/2014. VitalBook file).

3. Contratos de adesão. Segundo o critério de classificação


estabelecido para a possibilidade real de ajustamento das cargas obrigacionais pelos sujeitos da
contratação, vimos que se faz possível estabelecer uma distinção, categorizando os mais diversos
contratos em paritários ou de adesão, ou seja, se cada parte contratante pode influenciar
concretamente na elaboração do conteúdo obrigacional com uma negociação real e autêntica, o
contrato é classificado como paritário, porque tem suas cláusulas paritariamente negociadas em total
posição de igualdade pelos contratantes, e, em sentido distinto, se o conteúdo das cláusulas que
definem as obrigações de lado a lado for ditado por conduta de apenas um dos sujeitos da contratação,
competindo ao outro contratante apenas concordar, aderir com o conteúdo obrigacional sem a
possibilidade real de alterar esse conteúdo, revelando uma vulnerabilidade que impõe certos cuidados
com a força obrigatória e a vontade privada dos celebrantes, teremos o contrato classificado como
adesivo ou de adesão.

Nesse mesmo sentido, citamos Tartuce:

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“[...] Sobre a abrangência da nova lei, não se pode negar que o seu principal âmbito
de aplicação diz respeito aos contratos paritários ou negociados. Essa categoria jurídica surge quando do estudo da
classificação dos contratos quanto à negociação do conteúdo pelas partes. Nesse contexto, os contratos de adesão são
aqueles em que uma parte, o estipulante, impõe o conteúdo negocial, restando à outra parte, o aderente, duas opções:
aceitar ou não o conteúdo desse negócio (take it or leave it). Tenho defendido uma visualização ampla do conceito, de
modo a englobar todas as figuras negociais em que as cláusulas são preestabelecidas ou predispostas de forma
majoritária, caso do contrato-tipo e do contrato formulário, em que as cláusulas são predeterminadas até por um terceiro”
(Tartuce, Flávio. “A Lei da Liberdade Econômica (Lei n. 13.874/2019) e os seus principais impactos para o Direito
Civil” – in http://www.flaviotartuce.adv.br/. Acesso em 27/02/2020).

Pois bem. O artigo 54, do Código de Defesa do Consumidor (Lei


8.078/90), define o contrato de adesão como “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela
autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou
serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.

Reconhece-se legalmente que o contrato de adesão, que é útil sem


dúvida ao nosso modelo de vida atual, pode se constituir numa autêntica fonte de desvios da liberdade
contratual em razão da ausência de paridade entre os celebrantes para a criação dos vínculos
obrigacionais específicos, o que faz aumentar a vulnerabilidade negocial da parte aderente, e que
motiva o CDC a estabelecer um forte dirigismo contratual, com a aplicação da fórmula de nulidade
para cláusulas contratuais abusivas.

Nessa mesma linha, o Código Civil estabelece em suas disposições


preliminares duas regras pontuais, mas totalmente alinhadas ao Direito do Consumidor, para contratos
de adesão na órbita dos negócios de direito privado, sendo a primeira, uma clara regra de interpretação
sempre mais favorável ao aderente para a hipótese de porventura existir em um contrato de adesão
cláusula ambígua (ou seja, que sugira mais de uma interpretação) ou cláusulas contraditórias entre si
no mesmo contrato (artigo 423, Código Civil) alinhando-se à regra aberta do artigo 47, do CDC5.

Mas vamos além.

A mesma norma alteradora que buscava reforçar o conceito liberal do

5 Art. 423, Código Civil. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.

Art. 47, CDC. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

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contrato como ideal de liberdade econômica fez ampliar a proteção ao aderente no contrato de adesão,
bastando, a tanto notar a atual redação do artigo 113, do Código Civil, em especial, seu § 1º, IV, que
destacamos, inclusive, em negrito, para indicar que tal regra amplia a proteção do aderente no aspecto
da interpretação contratual, antes contida apenas no artigo 423 do CC/02:

Art. 113, Código Civil. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. § 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido
que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do
negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao
tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições
do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua
celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) § 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de
preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei
nº 13.874, de 2019)

Igualmente, também para o contrato de adesão, impede-se no Código


Civil a renúncia do contratante aderente a qualquer direito conferido pela disciplina legal daquele
contrato na norma, e em um autêntico diálogo com a norma de consumo, a lei civil comina de nulidade
a cláusula de incorrer nessa situação (artigo 424, Código Civil) também alinhado à regra do artigo
51, IV, §1º, do CDC6.

Tratam-se de regras próprias de proteção contratual do contrato de


adesão nos sistemas jurídicos do Direito Civil e do Direito do Consumidor, antes impensadas para o
Direito Civil no Estado Liberal do Século XIX. A antiga autonomia da vontade no direito privado é
atualmente alvo de relativização pela norma diante de modalidade tão comum de contratação

6 Art. 424, Código Civil. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.

Art. 51, IV, § 1º, CDC. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que: [...] IV. estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; [...] § 1º. Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que: I - ofende os princípios
fundamentais do sistema jurídico a que pertence; II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de
tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual; III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

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(contrato de adesão), e que é tão distante da ideal paridade dos negócios jurídicos de outrora, firmados
e discutidos individualmente e que faziam supor qualquer renúncia a eventual benefício legal como
uma opção negociada, e não como fórmula adrede impressa e imposta por um dos celebrantes ao
outro.

4. Contratos atípicos (artigo 425, Código Civil) 7. Relembrando nosso


estudo acerca da classificação dos contratos, vimos que se mostra possível estabelecer critérios ou
categorias de contratos, considerando sua disciplina legal específica (tratamento jurídico) no Código
Civil, ou seja, se um determinado contrato celebrado pelas partes é regulado na lei civil, esse negócio
é classificado como típico, e por receber tratamento terá seu nome jurídico incorporado, também se
classificando por esse critério como nominado, e, em sentido contrário, se o contrato antes de sua
celebração não encontra detalhamento na lei civil (e é perfeitamente possível e legal a celebração de
contrato não previamente detalhado na lei), estaremos diante de uma contratação que se classifica
como atípica, bastando que não exista para aquele contrato uma prévia disciplina jurídica na lei.

Em relação aos contratos atípicos, como pontua o artigo 425, do Código


Civil, faz-se necessário apenas que os celebrantes observem as regras gerais estabelecidas em lei,
seus princípios aplicáveis, as restrições devidas se o contrato atípico se mostrar também como de
adesão, et cetera.

5. Vedação de objeto (artigo 426, Código Civil)8. Bem, como última


disposição preliminar para os contratos em geral, o Código Civil estabelece que a herança de pessoa
viva não possa ser objeto de contrato, o chamado pacto sucessório. Identificamos nessa regra uma
vedação legal que se explica sob três ângulos de análise.

O primeiro, sem dúvida, é moral, de reputar antijurídico que


celebrantes ajustem um negócio cuja finalidade negocial provoque o interesse na morte de outrem.
Veda-se, com isso, o chamado pacta corvina.

7 Art. 425, Código Civil. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.

8 Art. 426, Código Civil. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

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O segundo é estritamente legal, pois somente há herança com o advento


da morte a provocar a abertura da sucessão (artigo 1784, Código Civil), de sorte que antes do
falecimento, simplesmente não há herança, e sim, patrimônio, para o qual há diversos outros negócios
jurídicos válidos de transmissão, mas que dependem da vontade de seu titular, justamente o que não
encontramos no pacto sucessório.

O terceiro é estrutural. Sim, pois já analisamos que o contrato, como


negócio jurídico, deve observar pressupostos de existência, de validade e de eficácia, seguindo a
sempre lição de Pontes de Miranda. O objeto do contrato está como elemento de sua existência
jurídica, e este, para gerar validade perante a ordem jurídica e ser reconhecido por esta como gerador
de obrigações e direitos, necessita ser lícito (além de possível e determinado ou determinável). A
vedação legal de objeto retira licitude desse pressuposto, tornando-o juridicamente inválido,
imprestável para se reclamar reconhecimento e aplicação perante a ordem jurídica.

II. Contratos em Geral – Código Civil de 2002 – Outros desdobramentos diretos e relacionados com
o estudo da classificação dos contratos (contratos aleatórios e contratos preliminares – regras gerais).

1. Contratos aleatórios. Localização. Segundo pudemos analisar em


nossas aulas anteriores, um contrato oneroso pode ostentar categorias distintas de classificação
quanto ao teor de exigibilidade imediata e concreta (onerosidade reflexa de exigibilidade certa)
das cargas obrigacionais atribuídas entre os celebrantes. Em outras palavras, partindo da categoria
dos contratos onerosos (nos quais os contratantes experimentam reflexos patrimoniais negativos em
correspondência às vantagens contratuais recebidas, não necessariamente em equivalência), em
certos campos negociais a assunção da carga obrigacional nasce e é criada pelo celebrante justamente
em razão da reflexa exigibilidade da carga obrigacional a cargo do outro celebrante. Em havendo
certeza que a prestação nasce em razão do ajuste simultâneo e exigível da contraprestação, o contrato
se classifica como comutativo.

Contudo, contrapondo-se aos comutativos, há campos negociais que se


desenvolvem justamente em razão de obrigações que surgem reflexamente, sem gerar essa exata
correspondência de exigibilidade (naturalmente ou por vontade das partes). Basta pensarmos no
campo negocial da prevenção de riscos ou no de apostas. Os contratos desenvolvidos nesses campos
(para citarmos apenas alguns) se classificam como aleatórios, pois se caracterização pela incerteza

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de se materializar uma contraprestação prevista no contrato, porque esta dependerá de fatores de


incerteza, da chamada alea (componente de sorte ou azar).

Segundo lição de Arnaldo Rizzardo, o contrato aleatório pode ser assim


definido:

[...] “Nos contratos aleatórios, a prestação de uma ou de ambas as partes apresenta-


se incerta ou improvável quanto à sua quantidade ou extensão, porquanto fica na dependência de um fato futuro e
imprevisível. Daí decorre como natural uma perda ou um lucro para uma das partes. O próprio sentido da palavra conduz
à incerteza, porquanto proveniente de ALEA, que significa sorte, perigo, azar, decorrendo a incerteza para uma ou ambas
as partes na reciprocidade de prestações e contraprestações. Há a imprevisibilidade de um acontecimento futuro, podendo
trazer ganho ou perda. Constitui elemento caracterizador, pois, a incerteza do resultado. Existe apenas a possibilidade de
um dos contratantes receber a prestação avençada, na forma que normalmente acontece, pois está na dependência de
acontecimento futuro, ou da alea, que é incerto, mas previsível. Contrariamente ao contrato comutativo em si, não se
apresenta uma correlação entre a prestação e a contraprestação no momento de sua formação, já que uma delas está
na dependência de um evento esperado e previsível, mas que pode não acontecer de modo a trazer a correspondência
de valor entre elas, ou simplesmente não se verificar. Mesmo assim, mantém-se a obrigação da outra parte, sendo válida
e impondo-se o seu cumprimento. Vários os exemplos de contratos aleatórios, destacando-se como mais comuns os de
seguro, o de rifa, o bilhete de loteria, o de garimpo, o de pesquisa, o de jogo e aposta, o de exploração de jazidas e o de
pesca em locais privados” (Arnaldo Rizzardo, “Contratos” – Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 187).

1.1. Espécies. No Código Civil há regulação para três espécies de


contratos aleatórios com consequências diversas. Vamos analisar tais hipóteses legais.

1.1.1. Alea sobre todo o objeto do negócio contratado - “emptio spei”


(artigo 458, Código Civil). Conforme já mencionado, toda vez que o contrato aleatório é
mencionado no estudo das classificações contratuais, o primeiro exemplo que nos surge é o do
contrato de seguro, no qual há onerosidade em um visível contrato bilateral, mas no qual não há
nenhuma certeza de que exista comutatividade concreta entre a prestação e a contraprestação firmada
para os contratantes, posto que os mesmos se sujeitam a uma alea decorrente de um fato futuro,
previsível, mas incerto que condiciona as obrigações, em regra, atribuídas a uma das partes, qual seja,
a seguradora.

Portanto, o exemplo clássico do contrato de seguro de vida acima


referido está atrelado a esse modelo de contrato aleatório, no qual duas partes, ao firmarem um
contrato oneroso, podem submeter a toda a prestação, todo o objeto da prestação de uma das partes
a um fato futuro e incerto que pode sequer ocorrer, e mesmo assim este contratante segurador
continuará tendo direito ao recebimento da contraprestação toda devida pelo outro contratante

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segurado, desde que o fato desencadeador da obrigação do primeiro não tenha deixado de se verificar
por culpa ou dolo deste, conforme prevê o artigo 458, do Código Civil9.

Portanto, genericamente, o Código Civil regula essa modalidade de


contrato aleatório que informará certos contratos em espécie, por se estabelecerem em campos
negociais que naturalmente apresentam risco de que a própria coisa ou fato futuro objeto da prestação
contratada não tenha que ser prestado no bojo da carga obrigacional assumida, pela inocorrência de
evento futuro e incerto que subordina a obrigação da outra parte, ou seja, o adquirente assume o risco
pela inexistência do fato ou coisa da prestação, afora, igualmente, a hipótese na qual as partes adotam
esse perfil mesmo em um campo negocial não essencialmente aleatório como a compra e venda.

Analisado fora do campo de negócios essencialmente comutativos, a


prevenção de riscos futuros (seguros, constituição de renda) ou de jogo e aposta, ou mesmo o objeto
da compra e venda sob perfil aleatório somente se estabelecem pela construção jurídica e aceitação
do campo negocial aleatório a recair sobre toda prestação.

Citamos, em referência à emptio spei (venda da esperança):

[...] Nesse caso, o alienante, ou o adquirente, salvo culpa sua pela inexistência do
objeto da prestação, terá direito a todo o preço ou o que foi prometido no contrato. Trata-se de contrato de emptio spei,
ou seja, venda de coisa esperada. Nessa situação, as coisas que servem de objeto à prestação podem vir a não existir.
Exemplo clássico é o da compra da rede do pescador. Pode ocorrer de o arremesso da rede nada captar. Mesmo que
peixe algum venha na rede, vale e tem eficácia o contrato, sendo devido o preço, pois foi, na realidade, uma esperança
que se adquiriu” (VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil - Vol. 3 - Contratos, 18ª edição. Atlas, 12/2017. VitalBook file,
p. 57).

1.1.2. Alea sobre a variação de quantidade do objeto contratado -


“emptio rei speratae” (artigo 459, Código Civil)10. A segunda possibilidade de contrato aleatório

9 Art. 458, Código Civil. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo
ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

10 Art. 459, Código Civil. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em
qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a
coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e
o alienante restituirá o preço recebido.

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tratada pela norma civil reside no risco assumido pelo adquirente em torno da quantidade da coisa
contratada.

Nessa segunda modalidade de negócio jurídico contratual permeado de


alea em torno da quantidade do objeto contratado, temos a possibilidade típica de o adquirente
assumir o risco de a coisa contratada variar em sua quantidade ao tempo do recebimento, continuando
o adquirente obrigado a pagar pelo preço todo contratado, se dessa eventual diminuição de quantidade
não tiver o outro contratante atuado com culpa (culpa em sentido amplo, que compreende o dolo e a
culpa em sentido estrito, conforme correta interpretação do artigo 459, do Código Civil).

Conforme mencionado, a alea deve residir apenas na quantidade, mas


não na própria existência da coisa, pois se totalmente inexistente ao tempo da entrega, o alienante
deverá restituir o preço ao adquirente conforme estabelece o artigo 459, § único, do Código Civil.
Parece ao professor que essa modalidade também possa ser aplicada para contratos cujos campos
negociais sejam naturalmente existentes para atividades de exploração cujo alcance de extração não
possa ser exatamente dimensionado em um ajuste comutativo, como, por exemplo, a contratação de
arrendamento de jazida particular para exploração de garimpo ou de pesca em local privado.

Destaco, em apoio a clássica lição para a emptio rei speratae (venda da


esperança com coisa esperada):
“[...] A venda de coisa esperada, contudo, emptio rei speratae, não se sujeita a
inexistência do bem vendido e o risco é parcial. É preciso que este, pelo menos, venha a existir, conforme a previsão
contratual, para que se aperfeiçoe o contrato, tendo o vendedor, nesse caso, direito ao recebimento da totalidade do
preço, a não ser que tenha existido culpa de sua parte. O art. 459 do Código Civil (art. 1.119 do Código anterior) trata da
materia, alertando que o adquirente assume o risco de receber o objeto futuro na quantidade que for. O que vemos aqui
é que, pelo menos, deve existir a coisa, no futuro, que foi objeto do contrato. O que podemos admitir, ainda, é que o
adquirente, na contratação, fixe o limite de existência do objeto, fazendo constar, por exemplo, no contrato de aquisição
de uma colheita, que ela não seja inferior a 30% da que existiu anteriormente. As partes podem, também, livremente, fixar
no contrato o valor, a espécie e a qualidade do objeto da contratação (coisa esperada)”. (Azevedo, Álvaro Villaça. Teoria
geral dos contratos típicos e atípicos, 3ª edição. Atlas, 08/2009. VitalBook file, p. 76).

1.1.3. Alea sobre o perecimento de bem existente, mas exposto a


risco. Por fim, o Código Civil trata em seus artigos 460 e 461, da alea assumida por um dos

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contratantes acerca de coisas que existem concretamente no momento da contratação, ou seja, os


contratantes sabem da existência e da quantidade exata do objeto contratado, mas tais coisas se
encontram expostas a risco de não mais existirem ao tempo da conclusão do negócio, e por
conseguinte, da execução da prestação obrigacional, hipótese legal que obriga o adquirente a pagar o
preço integral, se do perecimento da coisa nada sabia o alienante (artigo 460, Código Civil)11.

É claro que a alea real pode não existir ao tempo da contratação,


justamente se restar posteriormente demonstrado o prévio conhecimento do alienante acerca do
perecimento do bem antes da celebração do negócio. Nessa hipótese, o contrato poderá ser alvo de
anulação pelo contratante prejudicado (adquirente) ante o dolo do outro alienante, já que a exposição
da coisa a risco não se confunde com o conhecimento de consumação desse risco pelo alienante antes
da celebração do contrato, nos termos do que dispõe o artigo 461, do Código Civil 12.

Como se pode notar, há campos negociais aleatórios como o seguro, a


constituição e renda, o jogo e aposta, a extração mineral, e há campos negociais comutativos, como
a compra e venda, que podem se tornar, pela vontade ocasional das partes, aleatórios. Essa última
hipótese dos artigos 460 e 461 do Código Civil é o reconhecimento de uma situação de mercado de
oportunidade, em que a compra e venda se viabiliza com a transmissão do risco sobre coisas
existentes. Nada mais do que isso.

2. Contratos preliminares. Localização. Seguindo a mesma linha de


analisar regras da Teoria Geral dos Contratos no Código Civil como um prático desdobramento do
que já estudamos na classificação dos contratos, e novamente abordando critérios fixados a partir de
relações possíveis de contratos com outros contratos, analisamos o critério de definitividade, que por
seu turno reúne a categoria dos contratos preliminares e a categoria dos contratos definitivos.

Assim, vimos que as partes celebrantes podem não dispor de todos os

11 Art. 460, Código Civil. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente,
terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

12 Art. 461, Código Civil. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado,
se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.

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requisitos necessários para o ajustamento negocial que desejam, e igualmente, pode ocorrer que tais
sujeitos não pretendam deixar de ajustar que querem celebrar entre si o negócio principal e definitivo,
ainda que circunstancialmente não possam celebrar definitivamente o negócio naquele momento.
Torna-se possível, então, a celebração de um contrato que se classifica como preliminar, e cujo
objeto é a celebração de outro contrato principal e definitivo no futuro.

O contrato preliminar antecede temporalmente o contrato definitivo,


preparando as partes celebrantes para esta última celebração. Exemplo: a compra e venda do bem
imóvel na planta. Nessa situação, as partes não podem celebrar a compra e venda definitiva e principal
e lançam mão de um compromisso preliminar, para que, no futuro, quando presentes todos os
requisitos legais da celebração principal e definitiva, possam as partes fazê-lo.

O contrato preliminar, segundo Venosa, é assim conceituado:


[...] Os contratos, mormente aqueles em que as partes têm plena autonomia de
vontade em suas tratativas, são frutos, na maioria das vezes, de ingentes esforços, de conversas longas, de minutas,
viagens, estudos preliminares, desgaste psicológico das partes, contratação de terceiros especialistas que opinam sobre
a matéria. Enfim, o contrato, o acordo de vontades, para gerar efeitos jurídicos, como ora se enfoca, adquire um valor que
extravasa pura e simplesmente seu objeto. Em razão disso, pode às partes não parecer oportuno, possível ou conveniente
contratar de forma definitiva, plena e acabada, mas será talvez mais inconveniente nada contratar, sob pena de se perder
toda essa custosa fase preparatória. Talvez necessitem as partes de completar maiores estudos, aguardar melhor
situação econômica ou remover algum obstáculo que impeça, naquele momento, a contratação. Nessas premissas,
partem os interessados para uma contratação preliminar, prévia, antevendo um futuro contrato. Essas figuras
antecedentes a um contrato definitivo tomam diversas denominações: contrato preliminar, promessa de contrato,
compromisso, contrato preparatório, pré-contrato etc. Essa categoria engloba, desimportando a denominação, todos os
acordos que antecedem a realização de outro contrato; são evidentemente negócios jurídicos e como tal devem ser
tratados. Convenções que objetivam a realização de um contrato, gerando deveres e obrigações a uma ou a ambas as
partes. Nessas avenças, podem as partes determinar com maior ou menor amplitude as cláusulas que vão constar do
contrato definitivo. Terminologicamente, dizemos que, com o contrato preliminar, as partes buscam a conclusão de um
contrato principal ou definitivo” (VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil - Vol. 3 - Contratos, 18ª edição. Atlas, 12/2017.
P. 76).

E ainda no campo conceitual:

“[...] Em certos casos, o contrato preliminar, preenchendo certos requisitos legais,


essenciais do contrato definitivo visado, chega a confundir-se com ele, conferindo direito real sobre o objeto da
contratação, a possibilitar a concretização negocial futura, por via judicial (adjudicação compulsória), como acontece com
o compromisso de compra e venda de imóvel, para pagamento em prestações, com todas as suas condições negociais
plenamente estabelecidas, ou com a promessa de cessão de direitos desse compromisso, com os mesmos requisitos
cumpridos, quando devidamente registrados. Se não houver esses registros, os aludidos contratos podem ser cumpridos,

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desde que não existam direitos reais de terceiros sobre o imóvel. Por outro lado, o contrato definitivo, como já pudemos
sentir, é o que se delineia, em seus principais contornos, no preliminar, contendo este, às vezes, as próprias cláusulas
daquele, mas de modo incompleto. Sim, porque, se as partes tivessem desde o início todas as condições contratuais para
realizar o negócio, não fariam avença preliminar, mas definitiva” (Azevedo, Álvaro Villaça. Teoria geral dos contratos
típicos e atípicos, 3ª edição. Atlas, 08/2009. VitalBook file, p. 76).

2.1. Conteúdo do contrato preliminar (artigo 462, Código Civil) 13.


De acordo com o disposto no artigo 462, do Código Civil, o contrato preliminar deve conter, exceto
quanto a sua forma, todos os requisitos do contrato definitivo futuro, e nesse passo, está a norma a
estabelecer que no contrato preliminar as partes, o objeto, e a previsão de obrigações e direitos
deverão ser os mesmos do contrato definitivo, contendo ainda a previsão de termo final para a
celebração do contrato definitivo. Apenas a forma, se exigida para o contrato definitivo, como na
compra e venda de bem imóvel, não se exigirá para o contrato preliminar que, aliás, se mostra
importantíssimo para permitir a celebração das compras e vendas imobiliárias mediante pagamento a
prazo.

2.2. Celebração do contrato definitivo. Aqui se faz necessária uma


reflexão dos alunos e alunas para a exata compreensão dos artigos 463 e 466, ambos do Código Civil.
Como estamos a analisar o contrato preliminar, e que se traduz pela contratação de uma obrigação de
fazer, ou seja, obrigação de celebrar um contrato definitivo, nós não poderemos nos esquecer de que
esse contrato preliminar pode ser unilateral ou bilateral, e sob tal foco, lembrar que a faculdade de
exigir a celebração do contrato definitivo por certo poderá ficar a cargo dos dois contratantes
(compromisso ou promessa bilateral) ou de apenas um dos contratantes (compromisso ou promessa
unilateral).

Além da lembrança de que o contrato preliminar deverá ser levado ao


registro competente para valer perante terceiros, o modelo de compromisso ou promessa bilateral,
bem mais comum na prática, está reproduzido no artigo 463, do Código Civil, que reza:
Artigo 463, Código Civil. Concluído o contrato preliminar, com observância do
disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o

13 Art. 462, Código Civil. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser

celebrado.

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direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato
preliminar deverá ser levado ao registro competente.

Possível observar, portanto, que firmado o contrato preliminar e


satisfeitas suas disposições (como o pagamento parcelado integral, por exemplo), resta para as partes
o cumprimento da obrigação de fazer, que é a de celebrar o contrato definitivo (que pode ser
exemplificado com a transferência definitiva de imóvel, contrato solene de compra e venda, através
da celebração por escritura pública). Caso a promessa ou compromisso outorgue de forma bilateral a
qualquer das partes o direito de exigir a celebração do contrato definitivo, nos termos do dispositivo
legal acima transcrito, bastará que esse contratante assine prazo para que o outro firme o definitivo,
sob pena de restar caracterizada a mora ou o inadimplemento contratual que poderá ser judicialmente
suprido de formas diversas.

Na mesma linha de raciocínio, há também o contrato preliminar


unilateral, em que o direito de exigir a celebração do contrato definitivo fica a cargo do contratante
beneficiado com a promessa de obrigação do outro contratante (como se verifica, por exemplo, na
promessa futura de doação, que é um contrato preliminar ao contrato definitivo de doação). Nessa
hipótese, ressalva o artigo 466, do Código Civil, a necessidade de o contrato preliminar especificar
um prazo para que o beneficiário manifeste sua aceitação ou recusa ao prometido pelo outro
contratante, e se o contrato preliminar não apresentar esse prazo, deverá o obrigado assinar prazo para
que o contratante beneficiário manifeste sua aceitação ou recusa, com a finalidade de o contratante
obrigado não permanecer indefinidamente atado a essa promessa, e o que é mais importante no
dispositivo legal, ficando sem efeito a obrigação assumida. Nesse sentido, estabelece o artigo 466, do
Código Civil:
Artigo 466, Código Civil. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena
de a mesma ficar sem efeito, deverá manifestar-se no prazo previsto, ou inexistindo este, no que lhe for razoavelmente
assinado pelo devedor.

2.3. Execução coativa do contrato preliminar e perdas e danos. De


forma bastante simples, já vimos que o contrato preliminar objetiva, na verdade, uma obrigação de
fazer, que é exatamente a de celebrar o contrato definitivo. Assim, parece natural que a norma civil
busque resguardar o contratante que celebra um contrato preliminar com a finalidade de contratar em
definitivo, para que esse contratante não tenha frustrada toda sua expectativa caso o outro contratante
simplesmente se recuse a celebrar o contrato definitivo, mesmo após o outro observar com todo rigor

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suas obrigações assumidas no preliminar.

É importante destacar que o inadimplemento puro e simples do


obrigado não se resolve sempre em indenização por perdas e danos. Se a obrigação for impessoal,
sempre será possível a tutela específica da obrigação, através de decisão judicial que atribua ao
contrato preliminar a eficácia de ajuste definitivo14. O Código Civil, em seu artigo 464, também prevê
a tutela jurisdicional para essa hipótese ao estabelecer:

Artigo 464, Código Civil. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado,
suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a
natureza da obrigação.

A ressalva da norma civil sobre a natureza da obrigação tem pleno


cabimento, como por exemplo, nos contratos firmados intuiu personae (contratos pessoais ou
personalíssimos) e que necessariamente serão convertidos em perdas e danos para a hipótese de
inadimplemento absoluto do contratado já que a atuação deste inadimplente não poderá ser suprida
pela sentença judicial. Essa previsão legal guarda repercussão na esfera processual civil, pois através
dos artigos 497 e 499, ambos do Código de Processo Civil, a obrigação de fazer definida em título,
no caso, o contrato preliminar, poderá ser alvo de tutela específica da obrigação, com a fixação de
medidas judiciais que estimulem o contratante inadimplente a suprir a obrigação de celebrar o
contrato, como, por exemplo, através da fixação de prazo para a celebração do contrato definitivo sob
pena de incorrer o devedor em multa diária após o transcurso do prazo. Todavia, se impossibilitada
a celebração do contrato definitivo justamente em razão da mora do devedor, sobrará ao contratante
atingido com a não contratação definitiva buscar resolver a avença em perdas e danos que se prestarão
a indenizá-lo por parte do contratante inadimplente, nos termos do artigo 465, do Código Civil15.

14
Bom exemplo é a compra e venda de bem imóvel mediante pagamento em parcelas, negócio este no qual o contrato preliminar exerce
enorme importância, pois permite a aquisição da posse imediata mediante o pagamento parcelado do bem, com a segurança ao
adquirente possuidor de já ter em mãos o compromisso do proprietário de lhe vender esse bem após a quitação total. No caso de bens
imóveis, se houver pagamento integral e o vendedor se recusar em celebrar o contrato definitivo por escritura pública, poderá o adquirente
invocar a proteção legal da adjudicação compulsória, que é prevista na legislação específica que trata dessa espécie de contratação
(Decreto-lei no. 58/1937 e a Lei no. 6766/1979), e que permite ao Estado-Juiz proferir sentença que declare a ausência de causa para
essa recusa do vendedor e que supra a vontade deste, podendo a própria sentença servir de título hábil para o registro imobiliário.

15 Artigo 465, Código Civil. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir
perdas e danos.

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III. Dispositivos legais referidos em aula.

Art. 113, Código Civil. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração. § 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de
2019) III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o
dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019) V - corresponder a qual seria a razoável negociação
das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das
partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos
negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 421, Código Civil. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela
Lei nº 13.874, de 2019) Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção
mínima e a excepcionalidade da revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

Art. 422, Código Civil. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Art. 423, Código Civil. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar
a interpretação mais favorável ao aderente.

Art. 424, Código Civil. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente
a direito resultante da natureza do negócio.

Art. 425, Código Civil. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.

Art. 426, Código Civil. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Art. 458, Código Civil. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a
existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de
sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

Art. 459, Código Civil. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem
a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver
concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa
nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.

Art. 460, Código Civil. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo
adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no
dia do contrato.

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Art. 461, Código Civil. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo
prejudicado, se provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava
exposta a coisa.

Art. 462, Código Civil. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

Art. 463, Código Civil. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que
dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo,
assinando prazo à outra para que o efetive. Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro
competente.

Art. 464, Código Civil. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente,
conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.

Art. 465, Código Civil. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo
desfeito, e pedir perdas e danos.

Art. 466, Código Civil. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.

Art. 497, Código de Processo Civil. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se
procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo
resultado prático equivalente. Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a
reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo.

Art. 498, Código de Processo Civil. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela
específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa
determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a
escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo fixado pelo juiz.

Art. 499, Código de Processo Civil. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou
se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.

Art. 500, Código de Processo Civil. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada
periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação.

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