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T2 e T3: 2022/2023
SEMANA 3| SUMÁRIO
• O poder de revisão constitucional. A rigidez formal e a rigidez material. O
procedimento da revisão constitucional portuguesa. Limites temporais,
procedimentais, circunstanciais e materiais ao poder de revisão.
• A evolução constitucional: as revisões à Constituição da República Portuguesa
de 1976.
• Análise do texto: “Mude-se a Constituição – I II” de Catarina Santos Botelho.
• Distinção entre mutação (transição) constitucional e revisão (alteração)
constitucional.
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O PODER DE REVISÃO
CONSTITUCIONAL
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Rigidez constitucional
Constituição rígida
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1. OS LIMITES DE REVISÃO CONSTITUCIONAL
Como se altera uma constituição?
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1.1. OS LIMITES FORMAIS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL
Exigem a observância de um procedimento de revisão
• Por regra: 5 anos após publicação da última lei de revisão ordinária, n.º 1 > ordinária
- Garantia de estabilidade
• Mas pode acontecer em qualquer momento (sem prazo), n.º 2 > extraordinária
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b) Procedimentais
• Extraordinária: 4/5 dos deputados em efetividade de funções (= 184), arts. 284.º, n.º 2
e 156.º, al. a) CRP
- Maioria qualificada mais exigente prevista na Constituição. Justificação?
> Podem acontecer a qualquer momento
> Maior consenso reconhece a natureza necessária e inadiável da revisão
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b) Procedimentais
ii) Titularidade:
• competência exclusiva da AR, arts. 161.º, al. a) e 284.º, n.º 1 CRP
Perante aprovação, veto político do PR está vedado, art. 286.º, n.º 3 CRP
• Impossibilidade de alteração durante estado de sítio ou estado de emergência, art. 289.º CRP
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Limites Ordinária Extraordinária
a) Temporais 5 anos após publicação da última lei de revisão Qualquer momento, art. 284.º, n.º 2
ordinária, art. 284.º, n.º 1
b) Procedimentais
i) Iniciativa (1) deputados, arts. 156.º, al. a), 285.º, n.º 1 4/5 deputados em efetividade de funções, arts.
(Nota: art. 285.º, n.º 2) 156.º, al. a), 284.º, n.º 2
ii) Titularidade Competência exclusiva da AR, arts. 161.º, al. a) e 284.º, n.º 1
iii) Maioria deliberativa
2/3 dos deputados em efetividade de funções, art. 286.º, n.º 1
iv) Forma e publicação Única lei de revisão (art. 286.º, n.º 2) + forma de lei constitucional (art. 166.º, n.º 1) + alterações
(substituições, supressões, aditamentos) em lugar próprio (art. 287.º, n.º 1) + publicação da lei de
revisão e Constituição (art. 287.º, n.º 2)
= Revisão expressa
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1.2. OS LIMITES MATERIAIS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL
Proíbem a alteração de certas matérias constitucionais
• Distinção
1. Limites materiais expressos:
• formalizados no próprio texto, art. 288.º CRP
• cláusulas pétreas/cláusulas de eternidade (eternity clauses)
Revisão parcial
¹ revisão total
Qual o sentido a conferir aos limites materiais expressos previstos no art. 288.º da CRP?
3. Vieira de Andrade, Jorge Miranda, Manuel Afonso Vaz: valor declarativo e relativo
• Declarativo: art. 288.º esclarece limites, não os cria
• Relativo: serão verdadeiros limites se corresponderem a princípios basilares da Constituição
Seguindo a última tese: que limites materiais expressos correspondem a elementos
identificativos da Constituição?
a) Limites materiais de revisão próprios ou de 1.º grau
> não podem ser alterados
- ex. als. a) (independência e unidade do Estado), b) (forma republicana) , c) (laicidade
do Estado) e d) (DLG) ...
Alguns dos limites previstos no art. 288.º são também limites ao poder constituinte originário
- ex: als. a) e d)
o Rousseau (“paradoxo democrático”): como pode um poder estabelecer limites às gerações futuras?
o Richard Albert: “algemas constitucionais” (constitutional handcuffs) das gerações presentas impostas pelas
gerações passadas > tensão entre democracia e constitucionalismo
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EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL: AS 7 REVISÕES
1997 Ordinária Sem força Reforço dos direitos fundamentais: tutela jurisdicional efetiva (arts. 20,
LC n.º 1/97, 20 set. dominante n.º 5), identidade genética (26.º, n.º 3) ...
Desconstitucionalização do serviço militar obrigatório (art. 276.º, n.º 2)
§ 18
“Na verdade, a opção normativa sujeita a fiscalização de constitucionalidade não tem por efeito denegar a
qualquer pessoa ou restringir o direito fundamental a contrair (ou a não contrair) casamento. (...)
A redacção dos n.ºs 1 e 2 do artigo 36.º permanece inalterada desde o texto originário da Constituição. No
momento histórico em que a Constituição foi escrita e começou a vigorar, entregando a disciplina dos “requisitos”
e “efeitos” do casamento ao legislador ordinário, o Código Civil já dispunha, no seu artigo 1577.º, que o
“casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente (...).
Não é possível deixar de atribuir relevância interpretativa a esta circunstância, não porque o sentido da
Constituição deva determinar-se de acordo com o direito ordinário, mas porque, fazendo o texto constitucional
presa na realidade social e no contexto jurídico em que emergiu, o casamento era então o que desde há séculos
(...) tem sido nos sistemas jurídicos que se inserem no mesmo espaço cultural do nosso: um acordo entre um
homem e uma mulher, feito segundo as determinações da lei e dirigido ao estabelecimento de uma plena
comunhão de vida entre eles.
A pretensão de admissibilidade do casamento com identidade de género entre os cônjuges é fenómeno que
ainda não assumia expressão no espaço público, nem em Portugal nem, com expressão significativa, noutros
países. No que respeita à homossexualidade, o que então se considerava desfasamento entre a realidade
social e o enquadramento jurídico eram os aspectos repressivos (ex. punição ou agravamento da punição no
domínio dos actos sexuais com pessoa do mesmo sexo), não a omissão de tutela para uniões estáveis desse tipo.
Tardou mais de uma década até que a progressiva integração dos homossexuais na sociedade provocasse
um “deslizamento” de posições de contestação ao sistema para pretensões “conservadoras” de tomar
parte nas instituições, designadamente no matrimónio, como reconhecimento público da orientação sexual em
termos de estrita igualdade com os heterossexuais.
Mas esta mesma evidência arrasta outra. Se pode, sem hesitação, dizer-se que o casamento que a Constituição
representou foi o casamento entre duas pessoas de sexo diferente, também pode seguramente concluir-se que
não houve qualquer opção deliberada na matéria que agora nos ocupa no sentido de proibir a evolução da
instituição matrimonial. O problema era político-juridicamente desconhecido, pelo que o elemento histórico
deve ser mobilizado com cautelas ainda maiores do que aquelas que geralmente já merece na interpretação do
texto constitucional.”