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Sebenta de Direito
Constitucional II
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Regência: Prof.ª Doutor Jorge Reis Novais
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Direito Constitucional II 2
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
DIREITO CONSTITUCIONAL II
II
Artigos da Constituição:
—112º, 1 e 5
—161º, c)
—198º, 1, a)
—112º, 2
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Artigos da Constituição:
—161º, c; 198º, 1, a)
Artigos da Constituição:
—Art. 228º, 1 e 2
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12. A distinção entre leis de valor reforçado e leis comuns e a figura da ilegalidade dos
actos legislativos ou inconstitucionalidade indirecta.
13. Vários tipos de leis ordinárias reforçadas: as leis reforçadas pelo procedimento (leis
orgânicas e leis aprovadas por maioria qualificada) e as leis pressuposto normativo necessário
de outras leis (leis de autorização legislativa e leis de bases).
Artigos da Constituição:
—Art. 226º.
Artigos da Constituição:
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Artigos da Constituição:
Artigos da Constituição:
—art. 167º
—art. 137º
Artigos da Constituição:
—art. 227º
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III
Artigos da Constituição:
IV
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Artigos da Constituição:
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11. A comparação com o modelo americano e com o modelo europeu que acolhe o
recurso de amparo e o reenvio prejudicial.
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Elementos do Estado
O Estado pode ser entendido como uma coletividade territorial na qual está fixado um povo e
se encontra instituído um poder político soberano, cujo processo de decisão, tomado no âmbito
de um ordenamento jurídico, visa a satisfação de interesses gerais. Elementos:
O Estado Ordenamento integra na sua esfera, não uma mas diversas pessoas coletivas públicas.
O Estado-Pessoa é a entidade a quem são constitucionalmente confiadas as atividades soberanas
do Estado-Ordenamento. Também no Estado Ordenamento, como entidades secundárias,
dotados de diferentes graus variáveis de autonomia, destacam-se outras pessoas coletivas
territoriais (estados federados, regiões autónomas, autarquias,…), bem como pessoas coletivas
púbicas não territoriais (institutos públicos e universidades).
Funções do Estado
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A tarefa mais não é que um fim do Estado concretizado em certa época histórica, em certo
regime ou constituição material. Por seu turno, a função enquanto atividade não vem a ser senão
um meio para atingir esse fim, qualificado sob certo aspeto.
Se as funções do Estado dependem das normas (e, antes de mais, das normas constitucionais)
que as regem, então todas as funções do Estado e todos os atos em que se desdobram não podem
deixar de ser funções jurídicas e todos os atos jurídico-públicos. Não há atividade do Estado à
margem do Direito.
O Estado tem ou tende a ter o monopólio dos três primeiros e só com o seu consentimento ou
por delegação outras coletividades ou entidades dão corpo a atos cuja natureza se reconduza a
uma ou outra dessas funções. Ao invés, no que concerne à função administrativa e à chamada
função técnica, o Estado não é senão um (embora o de maior “peso e volume”) dos sujeitos que
as podem promover. Ao lado do Estado outras pessoas coletivas públicas, ou mesmo privadas,
desempenham também a função administrativa, havendo então que harmonizar os diferentes
interesses por elas prosseguidos.
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A Doutrina tem propostas diferentes para as classificações das funções do Estado, porém,
normalmente identifica-se uma divisão tricotómica: Função Politica, Função Administrativa
e Função Jurisdicional.
Função Política
A CRP alude ao exercício da atividade politica, nomeadamente, quando se reporta no nº1 do art.
197º da CRP ao “exercício de funções politicas do Governo” quando dispõe as competências
“politica e legislativa” da Assembleia (art. 161º).
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A Lei é um ato normativo que cria na ordem jurídica, toda a ordem jurídica assenta na feitura da
lei (sempre subordinada à constituição).
De uma forma geral, toda a função politica está subordinada à constituição. A vinculatividade
constitucional garante-se na relação entre lei e constituição.
As leis que estão a ser elaboradas têm de respeitar os princípios da Constituição e garantir o
cumprimento das formalidades, modo de feitura e a relação com os demais atos legislativos.
A actividade legislativa pode ser entendida como um poder de criação e modificação da ordem
jurídica, mediante a aprovação de normas com conteúdo político e eficácia externa que,
fundadas e submetidas ao principio da constitucionalidade, regulam a vida colectiva e
prevalecem sobre a generalidade dos atos emanados das demais funções constituídas do Estado.
Neste sentido, os atos da referida função, não só não podem ser revogados ou integrados, com
eficácia externa, por atos emitidos ao abrigo de outras funções (art. 112º/5 CRP), comotambem
constituirão parâmetro de validade destes atos emitidos ao abrigo de actividades subordinadas.
De um ponto de vista formal os atos desta função, recorrendo ao artigo 112º/1 CRP, devem
revestir uma das 3 formas previstas no artigo: lei, decreto-lei, decreto legislativo regional.
De um ponto de vista orgânico, a função legislativa, nos termos da alínea c) dos artigos 161º,
198º e 227º da CRP, consiste numa actividade jurídico-publica que se encontra,
respectivamente, reservada à competência da Assembleia da República, do Governo e das
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas.
Isto significa a necessidade de esses centros de poder, quando legislam, se moverem no âmbito
das suas competências constitucionais, mas igualmente a falta absoluta de competência de
outros órgãos constitucionais em poderem exercer a actividade legislativa.
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É possível referir, como elemento distintivo de ordem formal que enquanto o exercício da
aividade legislativa se traduz na emissão de normas jurídicas, o exercício da actividade politica
envolve, tanto a emissão de atos singulares, como de atos normativos.
Ainda no plano formal, enquanto os atos emitidos ao abriga da função legislativa têm de ter a
forma de lei, os atos normativos e não normativos da actividade politica assumem formas muito
variadas, todas elas de carácter não legislativo, por exemplo, os decretos do Presidente da
República, moções e resoluções da AR e das Resoluções do Conselho de Ministros.
Os atos políticos fluem, por excelência no universo de interdependência de poderes (art. 111/1
CRP), a constituição distribui competências relativas ao exercício de funções entre diversos
órgãos, mas estes são constrangidos a cooperar entre si na formação da vontade do Estado. Essa
cooperação envolve, no exercício do poder, a observância de limites, controlos recíprocos e o
exercício de competências partilhadas entre órgãos.
A constituição como estatuto do poder politico, limita e ordena em termos funcionais, sendo
impensável que um dos órgãos exercesse as suas competências sem controlo dos restantes.
Podem dividir-se os atos em dois grandes grupos: atos de direcção politica e atos de controlo.
Os atos de direcção politica, consistem em decisões que envolvem uma escolha potencialmente
livre de opções primárias relativas ao funcionamento das instituições do Estado e determinam
objectivos de acção politica, fixando, se for caso disso, meios ou vias para a sua prossecução.
O Presidente da Republica é, por excelência, o órgão que dispõe de uma maior panóplia de
atos desta natureza.
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Podem destacar-se vários tipos de atos e decisões no cumprimento da função politica em stricto
sensu:
Está-se perante atos não normativos, embora dotados de conteúdo jurídico imperatrivo, sem
prejuízo dessa imperatividade não assumir eficácia intersubjectiva (ou seja, não obriga
directamente os cidadãos), mas antes exibir uma eficácia circunscrita aos órgãos e aos atos
que são destinatários do mesmo comando.
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No plano externo, o Estado, pode aprovar atos da função politica com conteúdo normativo
ou não normativo.
No quadro dos atos normativos podem distinguir-se certos atos unilaterais (protesto,
renuncia, promessa) e a aprovação de convenções internacionais (tratados e acordos
internacionais).
Função Administrativa
Duplamente Subordinada
▪ Constituição;
▪ Lei (Princípio da Legalidade da Administração);
Toda a função tem de ser desenvolvida segundo a lei, não pode ir contra lei. Não é o domínio de
uma função criativa, trata-se de executar e aplicar a lei. Reserva de lei – Administração não
pode atuar sem existência de uma lei prévia, tem de existir lei ordinária anterior a habilitar a lei
a fazê-lo (Precedência de Lei) e o Principio da preferência da lei – valor da lei é sempre
superior, tem sempre preferência face a um ato administrativo.
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e contratos que dela promanam, não só da habilitação legal, mas também da respetiva
conformidade com a lei. Na verdade, as opções primárias fundamentais relativas à satisfação
das necessidades publicas encontram-se determinadas na lei, pelo que, à função administrativa
caberá fundamentalmente, a atividade secundária de providenciar, no concreto, essas
necessidades.
Os centros de decisão administrativa devem exibir iniciativa (ou seja, capacidade própria
para realizar criativamente os comandos legais e ir ao encontro das necessidades
colectivas) e parcialidade na prossecução do interesse público (seguindo os objectivos
politicos traçados por lei e atuando como parte interessada na realização das referidas
necessidades, realizando o Estado os objectivos de forma algo similar aos particulares).
O artigo 226 aborda a imparcialidade, está vinculada ao cumprimento da lei, só podem ser
ponderados fatores relevantes, particulares têm que ser tratados da mesma forma. Não pode
favorecer ou prejudicar os particulares com base em critérios subjectivos ou arbitrários.
Há uma exigência não só de seriedade real mas como um aspeto de seriedade (exemplo, o
afastamento do júri de alguém cujos os familiares são concorrentes de um concurso).
Como esclarece o artigo 182º CRP, o Governo é o “órgão superior da Administração pública”
exercendo poderes de hierarquia ou direcção sobre a administração direta, poderes de
superintendência ou orientação sob a administração autónoma.
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sendo jurídico apenas o que respeita aos direitos dos particulares, não sendo direito tudo
o que não caiba neste campo.
Função Jurisdicional
A função jurisdicional pode ser definida como uma actividade que resolve questões de direito
que emergem de interesses ou posições conflituantes, através da aplicação da constituição e das
lei, mediante decisões que em regra assumem carácter individual e concreto e são tomadas pelos
tribunais, órgãos que se caracterizam pela sua independência, imparcialidade e passividade.
Tem uma natureza secundária ou subordinada como actividade jurídico-pública destinada a dar
aplicação à Constituição e à lei, normas em relação às quais se encontram subordinadas (art. 203
e 204 CRP).
Esta subordinação e o artigo 112/5 não impedem a interpretação e a integração de lacunas na lei,
o artigo apenas impede que sejam dotadas de eficácia externa e força obrigatória para os sujeitos
situados fora do processo onde um determinado feito se encontra em julgamento.
Esta relação de subordinação, também, não impede os Tribunais de declararem, por exemplo, a
inconstitucionalidade de uma lei.
Função de declaração do Direito que vigora. Os tribunais resolvem conflitos jurídicos, seja
entre particulares, seja entre os particulares e o Estado.
Resolução de litígios entre partes, quer sejam dois particulares, duas entidades publicas,
pessoas singulares e coletivas.
A Constituição no artigo 202º diz que compete aos tribunais aplicar a justiça em nome do
povo. A função da justiça é aplicação do Direito correto, a obtenção da paz jurídica.
Segundo o professor Jorge Miranda na função jurisdicional define-se o Direito (júris dictio)
em concreto, perante situações da vida (litígios entre particulares, entre entidades publicas e
entre particulares e entidades publicas, e aplicação de sanções), e em abstrato, na apreciação da
constitucionalidade e da legalidade de normas jurídicas.
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Os processos que podem abrir são quanto ao Estado, o juiz representa o Estado, a não ser
em casos muitos excecionais em que houve dolo.
Os tribunais são órgãos do Estado, são independentes dos órgãos do poder politico mas
fazem parte do Estado.
O elemento orgânico reporta-se aos tribunais como centros institucionais de poder formados por
juízes que, com independência, desenvolvem especificamente a função jurisdicional. A
independência dos tribunais (extensível aos juízes que são investidos no artigo 216/1 num
estatuto de independência e irresponsabilidade), manifesta-se, seja em face dos demais
órgãos do poder, seja entre si, sem prejuízo do regime de recurso para instâncias
superiores.
Separação e Interdependência
Atualmente, existe uma visão dualista, ou seja, ainda existe separação uma vez que cada um dos
órgãos tem um conjunto de características que lhe são constitucionalmente atribuídas mas existe
a possibilidade de interferirem na actividade dos restantes órgãos de soberania.
Como corolários do principio da separação dos poderes, na esfera dos órgãos de soberania,
importa sublinhar:
A ideia de interdependência de poderes, também configurada no artigo 111º CRP traduz a ideia
que a repartição de funções e competências pelos órgãos do poder, no quadro constitucional
adotado, não reveste uma natureza estanquicista, dado que não prejudica relações de
colaboração e a aplicação de institutos de controlo entre os mesmos órgãos.
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Distinção
▪ Critério Material – Conteúdo (por vezes há uma zona cinzenta, de incerteza e duvida);
▪ Critério Formal;
▪ Critério Orgânico;
Sentido de Lei
“Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei”
➢ Artigo 29 CRP
Em qualquer um deste artigos se fala em lei, porém, têm todos um sentido muito diferente.
Lei lato sensu é toda a regra geral emanada do poder político, seja ele um poder central, regional
ou local.
Num Estado de Direito, certos vícios mais graves na criação e, segundo uma parte da doutrina,
no conteúdo de uma lei podem levar a considerá-la como inexistente.
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▪ Um ato normativo de um órgão do poder político, uma declaração de vontade tendo por
objeto a criação de regras gerais e que obedece a uma das formas legalmente
estabelecidas; o mais importante é o ato legislativo praticado no exercício da função
legislativa;
▪ A competência do órgão que pratica o ato;
▪ A formalização do ato num texto escrito.
Pode-se utilizar o termo “lei” em inúmeras situações, com sentidos muito diversos.
O conceito de lei em sentido material divide a doutrina. Alguns autores adotam uma aceção
ampla que corresponde ou se aproxima do conceito de lei já exposto: todo o ato normativo do
poder político. Este ato normativo pode ser legislativo, praticado no exercício da função
legislativa, ou regulamentar, praticado no exercício da função administrativa. Para outros a lei
Professor Lima Pinheiro
em sentido material é apenas a criada no exercício da função legislativa. Nesta aceção só são
leis em sentido material as que além de serem formalmente leis são dotadas de generalidade.
Não há uniformidade no emprego da expressão lei em sentido formal. Lei formal em sentido
amplo é a que adota a forma de um ato legislativo. São as leis constitucionais, as leis da AR, os
DL do Governo e os decretos legislativos regionais emanados das Assembleias das regiões
autónomas. Não são lei, neste sentido, os diplomas que se revestem de forma regulamentar,
designadamente os decretos regulamentares, certas resoluções do Conselho de Ministros, as
portarias e os despachos normativos. Num sentido formal mais restrito, “lei” é só o diploma
normativo emanado da AR (art. 166.º CRP).
Em Estado Absoluto a lei era discriminatória, pode-se falar ainda na barreia do nascimento, nas
ordens sociais (ausência de mobilidade social). Lei era aplicada de forma diferente para todos,
consoante o titulo e a própria condição social.
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escolhem os seus representantes e justiça porque, sendo representantes da Nação, ninguém faz
lei injusta para si próprio.
Fala-se, portanto, neste momento, na necessidade da lei ser Geral (aplicável a uma
pluralidade indeterminada ou indeterminável de pessoas), abstrata (aplicável em
quaisquer circunstâncias). Este caráter geral e abstrato garantia a justiça que não era
conseguida no Absolutismo (lei passou a ser aplicada a todos de igual forma e em todas as
circunstâncias).
Cabe à Administração aplicar a lei, garantia-se desta forma a justiça intrínseca ao próprio
Estado de Direito.
➢ O Facto de um Parlamento aplicar uma lei não garante que ela seja justa (experiencia
totalitarista);
➢ Estado não se pode limitar a fazer uma lei, é necessário perceber o próprio conceito de
igualdade;
Pessoas são diferentes entre si. O Legislador não pode ser cego a essas diferentes
circunstâncias e aprovar uma lei geral e abstrata que se aplique a todos. Lei não é
necessariamente justa se não atender a circunstâncias diversas. Não há nada mais injusto que
comparar o incomparável (Aristóteles).
Deve tratar-se de forma igual o que é igual e de forma diferente o que é diferente, O próprio
principio da igualdade, constante no artigo 13 CRP, o exige.
Lei deixa de ser abstrata e passa a atender a situações concretas. Características de generalidade
e abstração devem ser interpretadas de forma diferente porque, em certas circunstâncias, se
atendermos a estas características de uma forma rígida podemos colocar em causa o próprio
principio da igualdade. Pode-se atender que hajam leis que não sejam iguais para todos.
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➢ Por exemplo: “Quem tiver, nas aulas de Direito Constitucional II, uma garrafa de água
em cima da mesa pode ser penalizado com menos dois valores na nota final.”
▪ Norma é Geral;
▪ No entanto, quem fez a norma conseguiu perceber quem tinha garrafas de
água na mesa.
Lei aparentemente Geral mas que, verdadeiramente, é direcionada a um certo grupo de pessoas.
É dirigida mas redigida de uma forma genérica.
São os princípios materiais que permitem detetar injustiças e não propriamente as características
formais. Normas materiais e abstratas podem ser formalmente justas e materialmente injustas.
Lei Fotografia – AR pode fazer uma lei aparentemente geral e abstrata mas que se destina a ser
aplicada a um certo grupo.
▪ “Quem for Presidente de Câmara não pode ser candidato a deputado Europeu.”
▪
Lei aparentemente geral e abstrata mas o publico alvo era concreto e determinado, no momento
da feitura da norma apenas um português se encontrava nesta situação (Presidente da Câmara do
Porto).
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“As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias têm de revestir caráter geral e
abstrato e não podem ter efeito retroativo nem diminuir a extensão e o alcance do
conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.”
▪ Nenhuma restrição pode ser definida ou concretizada a não ser por lei (não há regulamentos
restritivos de direitos, liberdades e garantias);
▪ As leis restritivas têm de revestir caráter geral e abstrato, ficando vedadas leis individuais e
leis gerais e concretas;
▪ As leis restritivas não podem ter efeito retroativo porque leis retroativas envolveriam
pessoas e atos determináveis e, por conseguinte, não revestiam caráter geral e abstrato e
ofenderiam a confiança dos cidadãos.
Evita-se, deste modo, o perigo de descriminação negativa, de forma arbitrária, lei restritiva tem
de ser necessariamente geral e abstrata
Hoje em dia, não se deve atender exclusivamente ao sentido formal de lei. O que vai servir
verdadeiramente para perceber se uma lei é justa ou não são os princípios constitucionais
estruturantes (principio da dignidade da pessoa humana; principio da igualdade; principio da
proibição do excesso; principio da segurança jurídica e principio da proteção da confiança).
Qualquer lei ou ato do poder politico tem de respeitar estes princípios constitucionais
estruturantes sob pena de inconstitucionalidade.
Portanto, pode se dizer que a lei é geral, abstrata e tem um caráter inovatório, criador e
modificador da ordem jurídica (sentido de criação).
➢ Artigo 112/1
▪ Lei;
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▪ Decreto-Lei;
▪ Decretos Legislativos Regionais;
Artigo 112/5 -Atos legislativos são estes e só estes – Principio da tipicidade dos atos
legislativos
➢ Do ponto de vista formal (artigo 112/1 CRP) os atos políticos devem revestir uma das 3
formas especificas de lei mencionadas no referido preceito: lei, decreto legislativo regional,
decreto-lei;
➢ Sob um ponto de visto orgânico, a função legislativa nos termos do artigo 161/c, 198 e 227
CRP consiste numa atividade jurídico-publica que se encontra, respetivamente reservado à
competência da AR, do Governo e das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas
(lei em sentido mais amplo).
Lei orgânica, uma da categorias de lei (166/2). Lei mais difícil de aprovar, mais exigências. Lei
orgânica
Associado ao liberalismo está um conceito de lei geral e abstrata para tentar contrariar a
tendência de uma sociedade marcada pelos privilégios e pela desigualdade.
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Existe, assim, existe uma reserva total de lei, em sentido horizontal, ou seja, a lei pode dispor
sobre todas as matérias sem exceção.
No Plano Vertical a situação revela ser bem mais complexa, importa aqui saber se a densidade
reguladora da lei poderá ser de tal modo intensa que implique a expropriação por via legal do
domínio confiado constitucionalmente à autonomia privada, administrativa e jurisdicional.
Em suma, existem limites impostos hierarquicamente pela Constituição que ditam restrições à
liberdade do legislador quando este dispõe sobre domínios como o dos direitos, liberdades e
garantias e limitam a densidade reguladora das leis sempre que estas devam respeitar domínios
reservados da autonomia privada.
Trata-se da ideia segundo a qual o principio da separação de poderes veda à lei a faculdade de
absorver integralmente, no plano vertical, mediante uma disciplina caracterizada pelo seu
carácter singular, o universo material útil correspondente exercício da função administrativa,
deixando-a sem campo próprio de atuação.
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A quase generalidade dos autores não se opõe à validade do que designam por atos
administrativos praticado sob forma de lei, contanto que simultaneamente sejam sindicáveis juto
da jurisdição administrativa. Isto, pese o facto de alguns autores continuarem a defender a falta
de competência do TC para apreciar atos administrativos praticados sob a forma legal.
Luis Pereira Coutinho adotou uma perspetiva radicalmente substancialista, esta perspetiva
argumenta, perante a indefinição do conceito de lei presente na constituição, seria de rejeitar a
tese segundo a qual, fora dos domínios onde a Constituição imporia um conteúdo geral e
abstrato (nº3 do artigo 18), os atos legislativos poderiam assumir qualquer conteúdo.
Isto porque a construção geraria uma solução que se chocaria com o “sentimento de um sistema
politico-constitucional que expressamente se projeta como sistema de um Estado de Direito
Democrático e porque não seria possível, a partir dos mesmo preceitos inferir um principio geral
não excecionado. O principio de Estado de Direito, consagrado no artigo nº2 da CRP, imporia
limites ao conteúdo da lei, já que o mesmo se identificaria com imperativos de limitação do
poder politico, e, por conseguinte, de limitação aos diversos poderes do Estado, os quais
deveriam ser exercidos à margem da arbitrariedade, da imponderabilidade, da imprevisibilidade
ou da incontrolabilidade.
Em suma, uma lei ou um decreto-lei apenas deveriam ser tidos como constitucionalmente
válidos se assumissem um conteúdo geral e abstrato. E apenas excecionalmente seria admissível
a existência de leis inovadoras que prescindissem de uma ato administrativo de aplicação.
Tomando uma perspetiva substancialista pragmática, Jorge Miranda, embora admita a validade
das leis individuais e concretas que, por detrás dos respetivos comandos, tenham uma prescrição
ou um principio geral, considera que se a Assembleia da Republica vier aprovar uma lei cujo
conteúdo se resuma a um ato administrativo, o mesmo será organicamente inconstitucional, pois
este órgão não é titular da função administrativa.
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Paulo Otero, embora considere que a generalidade é uma característica própria ou natural da
lei, admite a validade de atos administrativos praticados sob forma legal, ou de leis com um
conteúdo idêntico a um ato administrativo, desde que essas leis se apliquem as exigências
constitucionais impostas aos atos administrativos, entre as quais a obrigatoriedade ou
justificação.
Numa dimensão mais politica e formalista, autores como Gomes Canotilho ou Marcelo
Rebelo de Sousa deram o seu respaldo à validade dos conteúdos individuais e concretos
assumidos pelos atos legislativos desse que conformes com as regras e os princípios
constitucionais (igualdade, proporcionalidade,…) e sem prejuízo do disposto no artigo nº4 do
artigo 268º da CRP.
▪ Em primeiro lugar, a aceção constitucional de lei tem de partir daquilo que é a lei no
Direito Constitucional positivo e não de uma mitologia da lei radicada em soluções de
jure condendo. Os próprios princípios de separação dos poderes e do Estado de direito
democrático devem ser interpretados à luz do sistema politico de governo vigente. Em
Portugal, o principio da separação dos poderes foi concebido, desde 1976, à luz de uma
lógica de intervencionionismo legislativo governamental, o qual se estriba na outorga ao
Governo do maior acervo da competência legislativa existente na EU. A ideia de um ato
legislativo passível de abarcar qualquer conteúdo, mesmo o de um ato administrativo,
fundou-se na logica originária da Constituição de 1976 que concebeu o ato legislativo
como um instrumento utilitário de transformação e mudança que reduziria radicalmente
o espaço de autonomia da função administrativa.
Desde a origem da constituição e, especialmente depois da primeira revisão
constitucional, a lei passou a ser definida estruturalmente na base de elementos
permanentes, como o conteúdo politico, a forma e a força.
E, salvo nos casos em que a CRP impõe à lei, explicita ou implicitamente, conteúdos
gerais (leis de bases) ou gerais e abstratos (leis restritivas de direitos, liberdades e
garantias – art. 18/3), ela exibe sensível indiferença sobre o conteúdo dos comandos
legislativos, habilitando implicitamente o decisor legislativo a desenhar ou recortar esse
mesmo conteúdo. Logo, salvo nas áreas em que a CRP não impõe generalidade ou
abstração à lei, o conteúdo singular desta não é proibido, emerge como um
principio geral favorável à liberdade relativa de escolha do conteúdo legal fora do
campo da reserva de lei material. Considerar, como faz a doutrina substancialista em
apreço, que a imposição constitucional de generalidade como condição de validade
normativa se aplicaria não só a essas situações determinadas, mas a todas as demais,
seria converter a imposição do artigo 18º, numa não imposição e, como tal, numa
previsão inútil, questionando-se a coerência de pensamento do legislador.
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Em conclusão, não é, pois, possível erigir a imposição genérica do paradigma de lei geral e
abstrata, sem mais, a parâmetro de constitucionalidade dos atos legislativos,
independentemente de tal ser, eventualmente, desejável no quadro de uma futura
recomposição das funções do Estado em que as leis parlamentares ganhem claramente em
ater-se ao domínio da materialidade normativa, em nome da subtração do exercício da
função administrativa à Assembleia da Republica.
A questão principal não consiste em saber se a lei se pode apoderar de esferas próprias do
exercício da função administrativa, mas sim em que medida e com que limites o poderá
fazer.
Tal como defende grande parte da doutrina e da jurisprudência constitucional, não existe na
constituição de 1976 uma reserva geral de Administração, mas sim uma pluralidade circunscrita
de espaços reservados à Administração central e autónoma.
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Inibirá, sim, a intromissão, por via legal no poder de direção do Governo relativamente à
administração direta, mormente através de normas que reduzam o sentido útil desse poder de
direção ou de atos materialmente administrativos editados tacitamente pelo Parlamento sob a
forma de lei, suscetíveis de constituir uma inversão do critério nuclear de separação dos
poderes.
O Governo, como órgão soberano, goza de uma reserva nuclear de execução, a qual pode ser
subsidiarizada por normas auto-aplicativas, mas que não pode ser defraudada por atos
administrativos editados sob a forma de lei parlamentar.
Lei e Regulamento
Fora de domínios específicos onde seja suposta uma reserva necessária de regulamento
(autarquias locais, regiões autónomas e certas autoridades administrativas
independentes), a lei pode dispensar a sua concretização por parte de normas
administrativas.
Pode se extrair da opinião jurisprudencial a ideia de que, não existindo, uma reserva geral de
regulamento, a lei parlamentar pode, em razão da sua hierarquia superior, revogar normas
regulamentares e pré-ocupar domínios antes regidos por regulamentos, sem prejuízo de a
mesma lei dever observar um conjunto de limites ao seu poder revogatório e conformador,
derivados de um necessário respeito pelo núcleo da função administrativa reservada ao
Governo.
Para o Tribunal, se uma lei parlamentar, mantiver intocadas as normas legais que regem uma
atividade administrativa a ser prosseguida e se limita a revogar um regulamento aprovado ao
abrigo dessa legislação, que o Governo deve executar, “priva este órgão de soberania dos
instrumentos que a Constituição lhe reserva para prosseguir as tarefas que neste domínio lhe
estão constitucionalmente cometidas (…) violando o principio da separação de poderes.”
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Para esta orientação não estaria em causa a faculdade da lei, atenta a sua hierarquia, em
poder revogar um regulamento. Contudo o que lhe seria vedado seria proceder a essa
revogação sem antes ter revogado ou alterado o parâmetro legal onde o referido
regulamento se fundaria.
Sem prejuízo de este critério limitativo da discricionariedade legislativa dever ser tomado em
devida nota pela comunidade jurídica, não deixa o memso de ser questionável.
Nada obsta, na realidade, por força da hierarquia que a lei goza em face do regulamento, que a
mesma possa proceder à sua revogação, mesmo sem ter previamente modificado a norma legal
que constituía o fundamento do poder regulamentar, na medida em que não existe reserva
regulamentar genérica do Executivo. Se a norma legal que era parâmetro do regulamento
permitia ao Governo fazer de novo uso do seu poder regulamentar depois de consumada a
revogação do mesmo regulamento, não havia sequer razão plausível para que a lei julgada
inconstitucional tivesse o ónus de proceder à revogação prévia dessa norma-parâmetro.
A liberdade de escolha dos meios de criação legal e respectiva execução é vasta, num órgão
como o Governo que exerce simultaneamente a função legislativa e a função administrativa.
Existe, como tal, um espaço natural de validade para o decreto-lei singular, embora fora dos
universos específicos onde a Constituição imponha generalidade e longe de espaços onde a
mesma constituição crie domínios reservados à Administração.
Outra questão polémica consiste em saber se, nos termos do artigo 199/d, existe uma reserva
administrativa, em face ao Parlamento, no respeitante ao exercício das competências de
direcção, de superintendência e de tutela que a Constituição lhe reconhece.
Na opinião do professor Blanco Morais, uma lei que fixasse orientações conjunturais de gestão
para uma empresa ou um instituto publico, invadiria o domínio reservado pela Constituição ao
Governo quanto ao exercício dos seus poder de superintendência, já que tal implicaria o
esvaziamento de uma competência que a Constituição confere ao Executivo, sem partilha ou
concorrência com poder legislativo do Parlamento.
Mais evidente parece ser a existência de uma reserva de “ato administrativo” na esfera dos
poderes hierárquicos do Governo, decorrentes da sua responsabilidade de direcção dos serviços
do governo.
31
Direito Constitucional II 32
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Segundo grande parte da doutrina e, mais concretamente, o professor Blanco Morais, o TC fica
investido no ónus de alargar materialmente os seus próprios crutérios jurisprudenciais de
censura, a:
A lei parlamentar continua a poder dispensar em certos casos a prática de atos administrativos e
assumir uma natureza auto-aplicativa, contanto que não resuma o seu conteúdo a um ato dessa
natureza.
A Constituição identifica taxativamente a base de uma tipificação formal (art 112/1 CRP) e
hierárquica e a penas impe exigências de generalidade e abstracção ao seu conteúdo a um
numero circunscrito de leis, como é o caso das normas legais materialmente paramétricas de
outras leis, bem como das disposições legais que regulam certas matérias, como as do nº3 do
artigo 118º CRP.
No que respeita à forma, observa-se que o principio da “tipicidade das formas de lei” (art. 112/1
CRP) determina a inexistência de atos legislativos fora de três tipos específicos neles previstos
(lei, decreto-lei e decreto legislativo regional).
A “Força Geral de Lei” trata-se de uma noção que resulta de um nexo causal entre a
superioridade hierárquica da lei sobre as demais normas de natureza não politica dos poderes
constituídos e a potência jurídico-administrativa que dela resulta em termos operativos. Trata-se
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Direito Constitucional II 33
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
de uma potência de valor. A ideia de uma força unitária da lei determinada pelo valor
hierárquico do ato estriba-se, quer no principio da legalidade, o qual supra-ordena os atos
da função legislativa em face dos atos das restantes funções constituídas (art 203/2, art
266), quer nos efeitos relacionais do principio da tipicidade da lei (art. 112/5 CRP), que
proíbe a suspensão, alteração, integração ou revogação desta por atos normativos de
distinta natureza.
Define-se ato legislativo como todo o critério político de decisão produzido e revelado sob a
forma de lei pelos órgãos titulares da função legislativa e que exprime uma supremacia sobre
os demais atos normativos não políticos, de direito interno infra-constitucional.
Quanto aos limites constitucionais ao conteúdo legal, considera-se que o legislador é livre
de conferir o conteúdo que julgar oportuno ao ato legislativo que edita, salvo se:
▪ A Constituição impuser pelas leis que incidam sobre certos domínios, exigências de
generalidade ou de generalidade e abstracção;
▪ A Constituição consagrar domínios reservados em favor da Administração
Pública, que vedem a intromissão vertical dos atos legislativos no núcleo da
actividade regulamentar ou em domínios reservados da competência
administrativa do Governo.
Esta injunção da AR entraria em vigor como lei se tivesse sido publicada pelo Presidente da
Republica e obrigaria o Governo a criar mais 1700 vagas.
▪ Nos termos do regime legal em vigor, é ao Governo que compete aprovar, por portaria,
o numero máximo de matriculas anuais no ensino superior (DL nº28-B/96, art 5º e 6º);
▪ É ao Governo que legalmente compete regulamentar, por portaria, o concurso nacional
de acesso ao Ensino Superior (DL 28-B/96, 23º e 25º);
Neste quadro, o Governo fixou o numero de vagas para aquele ano lectivo e regulamentou o
respectivo concurso nacional de candidatura ao Ensino Superior.
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Direito Constitucional II 34
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
▪ Não haveria inconstitucionalidade por violação por parte da Assembleia de uma área
reservada constitucionalmente ao Governo e à Administração porque a existência dessa
pretensa reserva da Administração seria incompatível com a dimensão garantista do
principio da separação dos poderes e com a consequente exigência de controlo
democrático-parlamentar do Executivo;
▪ Não haveria também inconstitucionalidade por violação de pretensas competências
especificamente reservadas pela constituição ao Governo, e não haveria
inconstitucionalidade porque no entender do TC, a AR dispõe de competências para
legislar sobre quaisquer matérias, pelo que em quaisquer domínios pode pré-determinar
legislativamente a actividade do Governo e da Administração;
▪ Não haveria, por ultimo, inconstitucionalidade por violação da posição do Governo
porquanto aquilo que a AR teria feito não seria uma substituição funcional do Governo,
mas apenas a criação de “critérios inovatórios, excepcionais, retroactivos e de eficácia
temporal restrita para um caso concreto”.
O Parlamento e o Governo têm hoje a mesma legitimação para o exercício de poderes fundada
na constituição, estão sujeitos aos mesmo limites constitucionais e são em igual medida
potencialmente passiveis de violação desses limites, pelo que não há hoje nenhum fundamento
para identificar a garantia das liberdades individuas (dimensão garantista do principio da
separação dos poderes) com controlo parlamentar do executivo.
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Direito Constitucional II 35
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
sentido actual o principio da separação dos poderes, como é antes, uma exigência da sua função
como principio organizatório fundamental da nossa ordem jurídica.
Há uma clara não consideração da distinção entre competência formal para a prática de
um acto e limites funcionais que o conteúdo do acto tem necessariamente de observar em
Estado de Direito com separação e organização racional dos poderes.
Por exemplo, se aos tribunais é dada a competência para administrar a justiça e dirimir os
conflitos de interesses públicos e privados, significará isso que um juiz pode anular um aumento
do preço dos combustíveis com o fundamento de que seria politicamente preferível aumentar o
preço do tabaco?
Nem deve ser invocado que os planos são diferentes por força do principio da legalidade da
administração que imporia uma subordinação da Administração à lei. É que, no plano da
necessidade de observância e aplicação da lei tao subordinada é a Administração quanto os
tribunais.
A AR ao abrigo do artigo 161/d pode legislar sobre o acesso ao Ensino Superior, sobre critérios
de fixação de vagas, natureza dos exames de acesso e pode fazê-lo especifica e detalhadamente
para o ano de 1996/97. Ou seja, a AR pode pré-determinar legislativamente a posterior atuação
do Governo.
Mas o Governo ao abrigo da legislação em vigor fixou o numero de vagas para o ano lectivo
1996/1997 em 100 e, realizado o concurso de acordo com os critérios vigentes, a Administração
disse que foram admitidos os alunos A, B, C,…, não pode depois a AR, contra opinião expressa
do Governo, encerrado o concurso e iniciado o respectivo ano lectivo, vir determinar por lei que
o numero de vagas não era de 100 mas de 110 e que entram mais os alunos R, S, T,…
Legislar com tal conteúdo constituiria uma violação do principio constitucional da divisão de
poderes e das competências governamentais genérica e especifica resultantes dos artigos 111º,
182 e 199.
Não se trata de saber se o Parlamento pode criar os critérios jurídicos que pautem a futura
actividade administrativa do Governo ou da Administração, tomada regularmente no quadro e
ao abrigo das normas constitucionais e legais em vigor, por uma sua própria decisão, ainda que
sob a forma de lei.
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Direito Constitucional II 36
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A divisão dos poderes dos nossos dias é marcada pela separação, mas também pela
interdependência, pela especialização orgânico-funcional, mas também pelas possibilidades de
interferência reciproca. O que está em causa é a possibilidade de esses efeitos se produzirem
à posteriori e, fundamentalmente, sobre um acto que se integra na função essencialmente
atribuída ao órgão que o praticou originariamente, sem que haja fundamento
constitucional bastante para a prática do ato revogatório.
Por ultimo o TC pretende não se tratar de uma verdadeira substituição funcional do Governo e
da Administração por parte do Parlamento, porque a AR, ao aprovar a lei, não pretendia
substituir-se à decisão administrativa, mas estaria simplesmente a criar critérios inovatórios,
excecionais ou retroativos e dotados de uma eficácia temporal restrita a uma situação concreta.
Na verdade, esta formula do TC não é mais do que admitir que a AR se substituiu à decisão
administrativa do Governo, recorrendo para isso à forma de lei.
Este tipo de decisão parlamentar não coloca apenas em causa o principio da divisão de poderes
no sentido assinalado, ela é também incompatível com o estatuto constitucional do Governo,
que nos termos do artigo 182º CRP, vem definido como “o órgão de condução da politica geral
do país e o órgão superior da administração pública.”
Com efeito, se uma lei consagrasse a possibilidade de um particular recorrer de uma decisão
administrativa do Governo para a Assembleia da republica, essa lei seria claramente
incompatível com o estatuto do Governo enquanto órgão de soberania e, concretamente, com a
sua configuração constitucional como “o órgão superior da Administração Pública.”
Reserva de Lei
A reserva de lei funda-se no principio da separação de poderes já que este veda a atos de
funções subordinadas do Estado uma incidência inovatória em matérias qualificadas, cuja
regulação seja exclusivamente cometida à lei, como norma típica da função politica
caracterizada pelo seu carácter primário e dominante.
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Direito Constitucional II 37
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
➢ Quanto ao Conteúdo
▪ Reserva de lei geral e abstrata (art. 18/3 CRP);
▪ Reserva de lei de conteúdo geral (a qual, por natureza, respeita às leis de bases,
previstas, no nº2 do artigo 112 da CRP, as quais se restringem à fixação de
princípios e diretrizes gerais destinadas a serem desenvolvidas por outras leis);
▪ Reserva de lei de conteúdo necessariamente não retroativo: art 18/ ; art. 29/2;
art 103/3;
➢ Quanto ao Órgão
▪ Reserva Absoluta de Competência Legislativa da Assembleia da República
(alíneas b), f) e h) do artigo 161 e artigo 164 da CRP) a qual respeita a matérias
totalmente subtraídas à regulação de outros órgãos que não o Parlamento;
▪ Reserva Relativa da Assembleia da República (artigo 165 da CRP) composta
por matérias relativamente às quais a Assembleia da República é o órgão
normalmente competente para legislar, sem prejuízo de poder livremente
autorizar o Governo e as Assembleias Legislativas Regionais a legislar sobre as
mesmas;
▪ Reserva Exclusiva de Competência Legislativa do Governo (reserva de decreto-
lei referente à matéria do nº2 do artigo 198 da CRP);
▪ Reservas Exclusivas da Competência Legislativa das Regiões Autónomas, a
nível de competências mínimas (alínea l), n) e p) do nº1 do art. 227);
Há que distinguir reservas de densificação total: que abrangem toda a extensão
da matéria listada a qual é consumida, vertical e horizontalmente por um ato
legislativo aprovado pelo órgão titular da reserva; e domínios reservados,
relativamente aos quais apenas uma parcela de uma matéria é disciplinada por
lei do órgão titular de reserva (caso das leis de bases as quais coexistem, em
regra com um domínio de desenvolvimento cometido a outros atos legislativos
subordinados, os quais podem ser editados por outros órgãos).
➢ Quanto à Natureza do Ato Legislativo
▪ Reserva de lei comum (a qual se reporta a leis aprovadas por maioria simples
que esgotam as matérias englobadas na reserva absoluta ou relativa do
Parlamento);
▪ Reserva de lei reforçada pela sua parametricidade material (caso das bases
integradas na reserva absoluta ou relativa do Parlamento, as quais são regidas
por conteúdo subordinante ao de outras, mas aprovadas por maioria simples);
▪ Reserva de Lei Reforçada pelo Procedimento (por exemplo, o caso das leis
orgânicas, aprovadas mediante um procedimento legislativo mais exigente que
o comum, o qual aumenta a sua rigidez, ou seja, a sua resistência à revogação
por outras leis de procedimento diverso);
Tipicidade da Lei
A CRP alude em vários dos seus preceitos para a fórmula de “lei”. Trata-se de um ato jurídico-
publico definido essencialmente, para além do seu conteúdo politico, pela sua força (art. 112/5
CRP) e pela sua forma (art. 112/1 CRP).
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Direito Constitucional II 38
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A forma geral de lei ordinária, desdobra-se em 3 formas especificas, a tipicidade implica que a
lei seja reconhecida, com base num conjunto de características estruturais entre os demais atos
jurídico-publicos.
No seu sentido amplo, a forma e a força de lei são valoradas no artigo nº5 do artigo 112º da
CRP pelo princípio da tipicidade da lei. Deste preceito decorre que:
A deslegalização consiste numa operação determinada pela lei, através da qual esta confere
natureza regulamentar a normas que, precedentemente, revestiam forma e valor legal.
▪ Em primeiro lugar, o caso de leis que desgraduam alguns dos seus preceitos ou
preceitos de outras leis, conferindo-lhes natureza regulamentar, pese o facto de as
mesmas normas incidirem sobre domínios materiais que a Constituição comete à
reserva de lei, como o caso da regulação dos direitos, liberdades e garantias.
▪ O caso em que a lei rebaixa alguns dos seus preceitos, ao permitir, sem mais a sua
revogação ou modificação por normas regulamentares (viola o 112/5);
▪ O cenário de uma lei que deslegalize uma dada matéria mas se limite a conferir a sua
regulação a um regulamento de execução, como uma portaria quando, na verdade, a
simples definição da competência objectiva e subjectiva para a sua emissão reclamaria a
forma de decreto regulamentar (art 112/5, 6 e 7);
▪ No plano regional, no caso de um decreto legislativo regional revogar um regime
inovador contido noutro decreto legislativo regional e respeitante a uma matéria de
reserva de ato legislativo regional enunciada no estatuto e remeter a disciplina de uma
parte dessas opções gerais e primárias para norma regulamentar, ele operará uma
deslegalização ilegítima, pois violará a reserva de lei regional determinada pela lei
estatutária sobre essa matéria.
Considera-se admissível, contudo, que fora da reserva de lei, um ato legislativo desgradue
algumas das suas normas para um nível regulamentar, ou remeta para regulamento
administrativo a regulação de determinadas matérias, desde que o faça expressamente e
fixe com clareza critérios habilitantes da produção regulamentar.
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O número 1 do artigo 112 da CRP enuncias as 3 formas especificas de lei ordinária previstas na
ordem jurídica constitucional: a lei, o decreto-lei e o decreto legislativo regional.
É importante destacar que quando a Constituição alude a uma classe de ato legislativo,
como as leis com valor reforçado, leis pressuposto de outras leis, leis de bases ou leis de
autorização, ela não qualifica novas formas especificas de lei, reportando-se antes a
categorias legais que, dotadas de um regime jurídico próprio, se reconduzem às três
formas especificas previstas no nº1 do artigo 112º CRP.
Mesmo as leis orgânicas não constituem um tipo ou uma quarta forma de ato legislativo,
antes se definindo como uma categoria formal da lei parlamentar.
Os títulos específicos de lei, decreto-lei e decreto legislativo regional assinam atos legislativos
cuja formação resulta de um procedimento próprio ou especifico para a sua produção, o qual é,
por seu turno, pressuposto pela competência atribuída a um determinado órgão constitucional.
Órgãos Legislativos
Esses atos só podem ser praticados pelo órgão com competência para tal, nomeadamente:
Apesar destes 3 órgãos terem todos competência legislativa, não têm todos a mesma.
Artigo 161/c)
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Direito Constitucional II 40
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Artigo 198/1, a)
Podem legislar sobre todas as matérias tirando as que estão reservadas ao outro órgão.
Estatuto ≠ Constituição
Artigo 161/b – O Estatuto á aprovado pela Assembleia da Republica e, segundo o artigo 166/3,
reveste forma de lei. As regiões autónomas, ao contrário dos Estados Federados, não têm
autonomia jurídico-constitucional. A sua constituição é a mesma do restante país. A autonomia
político-administrativa regional não afeta a integridade da soberania do Estado e exerce-se no
quadro da constituição.
Esta aparente limitação acaba por ser ultrapassada pela enorme extensão do Estatutos neste
âmbito.
“Na falta de legislação regional própria sobre matéria não reservada à competência
dos órgãos de soberania, aplicam-se nas regiões autónomas as normas legais em
vigor.”
A partir desta norma conclui-se que tem preferência regional a legislação regional. Só se não
houver matéria legislada pela Assembleia Legislativa Regional é que se vai aplicar a lei
nacional. A lei regional tem primazia, dentro dos limites do estatuto e da Constituição.
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Pode-se dizer, por isso, que a Assembleia da República é o principal órgão legislativo. Todas as
matérias, excluindo a organização interna do Governo, cabem à Assembleia.
Porquê?
Uma das Matérias mais relevantes tem que ver com os Direitos Fundamentais (art.165/b),
fala-se neste artigo de reserva relativa.
Reserva
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Direito Constitucional II 42
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Outra questão Importante onde fica claramente evidente a superioridade legislativa está
relacionado com o veto.
O artigo 136 é claro quando destaca que tanto as leis como os decretos-leis podem ser vetados
pelo Presidente da República. Porém, a superioridade da Assembleia da Republica fica clara
porque só o veto feito a leis aprovadas pela AR pode ser ultrapassado (seja ou por maioria
absoluta ou por maioria relativa). O mesmo não acontece com o Governo, em relação a este
órgão, o veto é absoluto.
Veto é ultrapassável, reunida uma maioria Veto tem um carácter absoluto, diploma não pode
absoluta ou de 2/3 a AR pode ultrapassar o veto. entrar em vigor como decreto-lei. A única hipótese
Mesmo tendo o Presidente da Republica ocorre se o Governo quiser enviar o diploma para a
legitimidade democrática esta situação pode Assembleia (Governo é constituído tendo em conta
ocorrer. a distribuição de lugares da assembleia, por isso, e ,
nos casos em que há uma maioria absoluta, é quase
certo que o diploma será aprovado). Se a AR
Superioridade da Assembleia da Republica em aprovar, mesmo que o PR vete, o diploma vai ser
relação ao Governo promulgado com a forma de lei e não de decreto-
lei.
➢ Fiscalização
▪ Artigo 162/c CRP
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Direito Constitucional II 43
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quando o Governo legisla, caso não sejam vetados, os decretos-leis entram em vigor, porém,
podem também ser apreciados. A apreciação é o instituto através do qual a AR fiscaliza a
atividade legislativa do Governo. Apesar desta superioridade, o Governo, no nosso sistema, é
um órgão legislativo de grande efetividade, é o órgão que mais legisla.
Regiões Autónomas
O primeiro e último requisitos deixavam lugar para grandes dúvidas, tornava-se difícil
determinar, muitas vezes a ALR considerava que podia legislar quando a opinião dominante era
a contrária.
Mesmo que o Representante da Republica não pedisse fiscalização preventiva era o Tribunal
que decidia.
Isto fez com que, ao longo dos anos, as Regiões Autónomas tivessem de arranjar outra via.
Nomeadamente, através da Revisão Constitucional. Através da revisão constitucional as
competências legislativas das Assembleias Legislativas Regionais, com o decorrer do tempo,
foram sendo alteradas, abrindo e criando uma maior margem para uma efetiva legislação.
Como conseguiram?
Os grandes partidos nacionais têm muita força nas regiões autónomas e quiseram conservar essa
força. Os partidos políticos reagiram a favor destas alterações. Foi assim que sistematicamente
este interesse especifico foi retirado da Constituição e as próprias Leis gerais foram consagradas
constitucionalmente, para tentar esbater as duvidas existentes.
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Direito Constitucional II 44
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
autónomas. Hoje em dia, as regiões autónomas podem legislar sobre todas as matérias, desde
que estejam enumeradas no estatuto. Não podem legislar sobre aquelas reservadas aos órgãos
de soberania.
Tribunal constitucional questiona este conceito, acha que o âmbito regional, para além de uma
delimitação territorial, acarreta, também uma questão material. Desta forma o Tribunal
Constitucional, tenta recuperar algum do “interesse” regional.
Se é claro que não podem legislar em matéria reservada aos órgãos de soberania, o Tribunal
Constitucional acha, que existem outros artigos e outras matérias que, pela sua natureza, só
podem ser tratados pelos órgãos de soberania. A relação entre as Regiões Autónomas e o
Tribunal Constitucional não tem sido fácil.
Artigo 228/2
“Na falta de legislação regional própria sobre matéria não reservada à competência
dos órgãos de soberania, aplicam-se nas regiões as normas legais em vigor.”
Da leitura do artigo se percebe que as leis da republica são aplicadas subsidiariamente. Pode
acontecer que não haja legislação regional a legislar determinada matéria. Nesta altura, aplica-se
a título subsidiário a legislação nacional. Se houver, contudo, legislação regional é esta que vai
ser aplicada. O Decreto Legislativo prevalece.
▪ Artigo 166 – Lei Constitucional – Lei de revisão constitucional, leis que fazem
alteração à constituição, só estas revestem a forma de lei constitucional.
A constituição em sentido formal tem que ver com a força das normas constitucionais (força
normativa). Em geral, quando há uma constituição material há também uma constituição em
sentido formal, mas nem sempre é assim.
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Direito Constitucional II 45
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Duas Dimensões
Lei
“A validade das leis e dos demais atos do Estado, das regiões autónomas, do poder
local e de quaisquer outras entidades publicas depende da sua conformidade com a
Constituição.”
As leis constitucionais subordinam todas as leis ordinárias. As leis ordinárias, por sua vez, vão
subordinar os regulamentos (legalidade da administração) que estão, também,
consequentemente, subordinados à constituição.
Artigo 112/2
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Direito Constitucional II 46
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
As leis e os decretos-leis estão no mesmo plano hierárquico, têm o mesmo valor. Aplica-se a
regra: “lei posterior derroga lei anterior”. No entanto nem sempre assim acontece, esta relação é
a normal mas não a necessária e absoluta.
Há situações em que, sendo contrariada, a lei não é derrogada. Por vezes há leis que não podem
ser contrariadas por outras. Surge, aqui, o vicio da Ilegalidade, significa que uma lei pode ser
inconstitucional ou ilegal.
Algumas leis na ordem jurídica têm valor reforçado, são mais fortes que uma lei ordinária
comum, são leis ordinárias com valor reforçado, não deixam de ser ordinárias, não deixam de
estar subordinadas e vinculadas à constituição.
Quando uma lei posterior contrarie outra lei anterior de valor reforçado surge o vicio da
ilegalidade ou da inconstitucionalidade indireta (contraria a constituição por contrariar uma
lei com valor reforçado).
Operatividade legislativa
A força geral de lei assume-se como atributo permanente da própria Operatividade legislativa, a
parametricidade material, que resulta de leis dotadas de uma hierarquia material sobre outras,
constitui um atributo de caracter eventual e exclusivo desses atos legislativos hierarquicamente
superiores.
A Forma especifica de lei é dada pela determinação constitucional das 3 classes de ato
legislativo envolvidas no procedimento de produção e revelação previstos na CRP: lei, decreto-
lei e decreto legislativo regional.
O processo de identificação formal, ao identificar o ato com um titulo próprio, assume uma
condição ulterior de valoração da lei, esta, por seu turno, vai qualificar os termos em que se vai
desenvolver a respetiva força.
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Alem das formas reconduzíveis ao órgão que aprova a lei, são feitas outras classificações, como:
“estatutos”, “leis orgânicas”, “leis de bases”, todas estas classes constituem algumas das
categorias em que a forma de lei se decompõe.
Quanto aos decretos legislativos regionais pode se falar nas pautadas por competência comum,
complementar, delegada e mínimo.
Força de Lei
A força de lei consiste numa manifestação relacional de prevalência do ato legislativo, que se
traduz na possibilidade de uma lei poder revogar, alterar ou suspender outro ato legislativo
(força ativa), bem como, resistir à afetação da sua eficácia por parte de determinadas
normas legais supervenientes (força passiva).
A força de lei consiste, acima de tudo, numa manifestação de prevalência, que tem
consequências jurídicas inegáveis no universo da eficácia.
▪ Força Ativa – habilita uma lei a afetar a eficácia de outros atos legislativos
anteriores;
▪ Força Passiva – Permite-lhe resistir à revogação ou suspensão por parte dos
atos legislativos supervenientes.
As leis reforçadas pelo procedimento supõem uma maior força passiva, como é o caso das leis
orgânicas, legislação aprovada por maioria de dois terços e atos legislativos que, como os
estatutos politico-administrativos e a lei do orçamento de estado pressupõem a existência de
uma reserva heterónoma de iniciativa no seu processo produtivo.
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Parametricidade Material
A parametricidade material constitui um atributo eventual dos atos legislativos, tendo em conta
que só manifesta a sua presença em leis materialmente interpostas, ou seja, leis de hierarquia
material superior a outras.
Enquanto a força de lei constitui um atributo permanente da Operatividade dessa norma que
comporta uma dimensão ativa e passiva (aptidão para revogar ou suspender atos legislativos e
capacidade eventual para resistir à revogação e suspensão por outras leis), a parametricidade
material firma-se como um atributo eventual, apenas presente em certas leis de hierarquia
superior e que reduz os respetivos efeitos a uma dimensão ativa, no sentido do condicionamento
do conteúdo de outras leis.
Enquanto a força pode implicar a substituição de uma lei por outra regulação de uma situação de
facto (a lei nova revoga a lei antiga), a parametricidade destaca-se como um fenómeno de
prevalência material, pautado pela coexistência simultânea das normas que são sujeito e objeto
da mesma relação (por exemplo, a lei de bases e o decreto-lei de desenvolvimento).
Enquanto a força de lei se exibe quanto à eficácia (revogação e suspensão da eficácia) e apenas
muito circunscritamente na na validade (resistência à ilegalidade), a parametricidade material
liberta as suas consequências no domínio da validade (ilegalidade ou inconstitucionalidade das
leis que violam estatutos politico-administrativos, leis de bases ou o sentido de leis de
autorização.
A parametricidade material não está diretamente ligada com a revogação ou suspensão de outras
leis mas antes com uma relação de vinculação entre o conteúdo de leis de diferente hierarquia
substancial.
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Direito Constitucional II 49
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Já as leis com valor reforçado são todas as normas legais que, nos termos da constituição, se
devam fazer respeitar, passiva ou ativamente, por outros atos legislativos, sob pena de
ilegalidade destes últimos.
A relação de respeito passivo é dada por procedimentos agravados de produção, como o das leis
orgânicas, das leis aprovadas por dois terços. A relação de respeito ativo é dada pela aptidão de
certas leis, em condicionarem, nos termos constitucionais, o conteúdo de outras, constituindo-se
como seu parâmetro necessário, como sucede com as leis de bases, leis de enquadramento e leis
de autorização.
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Direito Constitucional II 50
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 51
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
hierarquia substancial sobre outros atos legislativos (maioria das leis de bases e leis de
enquadramento e, ainda leis de autorização legislativa);
▪ Leis Duplamente reforçadas, as quais cumulam os predicados das duas categorias
anteriores, ou seja, são portadoras de uma maior rigidez, pelo seu procedimento
agravado e, simultaneamente, vinculam materialmente o conteúdo de outras leis;
As leis agravadas na sua fase constitutiva têm por fim valorizar o “status” das minorias politicas
intraparlamentares, em geral, e o das oposições, em especial.
O critério maioritário de decisão legislativa define-se como uma unidade de conta seltevia que
permite a legitimação de uma decisão adotada pela maioria simples dos votos obtidos num
colégio determinado.
A maioria necessária para a provar a maioria das leis orgânicas é a maioria simples, ou seja,
basta que haja mais votos a favor do que contra, não contando as abstenções. Porém noutros
casos de procedimento agravado devido à importância das matérias em questão, a CRP exige
uma maioria qualificada, absoluta ou de dois terços.
Leis Reforçadas
Leis Orgânicas
O valor reforçado das leis orgânicas ficou expressamente referido no artigo 112/2 quando o
legislador refere “Têm valor reforçado, além das leis orgânicas…”.
Objeto da Reserva
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Direito Constitucional II 52
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Requisitos Formais
Aprovação
O trâmite agravado que determina a maior força jurídica passiva ou rigidez da lei orgânica
radica da fase constitutiva e, por força do artigo 168º5CRP a aprovação de uma lei orgânica,
em votação final global, carece da maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções.
Ainda em relação ao processo agravado, salienta-se o caso singular das leis orgânicas relativas à
eleição dos deputados às assembleias legislativas regionais sujeitas a uma reserva de iniciativa
atribuída a parlamentos regionais (art.226º/4CRP).
Caso o presidente vete um decreto, por força do artigo 136º/3, para que este seja ultrapassado, é
necessário o voto favorável da maioria de dois terços dos deputados, desde que superior à
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções.
Fiscalização Preventiva
Em primeiro lugar, é alargado o espectro de titulares que podem requerer a fiscalização (PM e
1/5 deputados, art. 278/4).
Em segundo lugar, fala-se, também, na promulgação vedada, ou seja, por força do artigo
278º/7CRP, o PR fica impedido de promulgar o decreto:
Durante oito dias após a sua receção para promulgação, para que o PM e os deputados
possam ter um prazo suficiente para reflexão para suscitar a fiscalização preventiva;
Fica, também, impedido de o promulgar, caso tenha sido desencadeado um processo de
fiscalização preventiva, enquanto o TC não se pronunciar sobre a questão (art.278º/7);
Embora o artigo 112/3 qualifique as “leis que carecem de aprovação por maioria de dois terços”,
as normas previstas no nº6 do artigo 168º CRP dificilmente podem ser designadas na sua
totalidade como leis. É necessário distinguir:
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Direito Constitucional II 53
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Duas “leis” qua na sua disciplina jurídica necessária carecem de ser aprovadas por
maioria de dois terços (alíneas a) e c) do atigo 168ºCRP);
As normas ou disposições de leis que têm de ser, aprovadas na especialidade pela
referida maioria.
Assim, a normação legal envolvida no nº6 do artigo 168º CRP abrange matérias e instrumentos
normativos de natureza distinta.
A constituição não esclarece se a fase de aprovação que requer a maioria qualificada se resume
À votação final global ou engloba também, a votação na especialidade e a votação na
generalidade.
Esta questão tem vindo a ser bastante discutida, várias são as possibilidades e as posições. O
professor Blanco de Morais considera que esta maioria deverá ser aplicada na votação operada
na generalidade, na especialidade e na votação final global.
Outra questão relevante é quanto a saber se alei considerada no artigo 121/2 se enquadra nas leis
orgânicas (por força do 164/a) ou nas leis reforçadas pela maioria de aprovação. Para o
professor Blanco Morais, mesmo podendo fazer parte da competência prevista no artigo 164/a, a
lei em causa deve ser enquadrada nas leis reforçadas pelo procedimento, visto que a própria
constituição faz essa diferença no artigo 112/3 e que o artigo 168/6/c) atribui a esta lei uma
maioria de aprovação mais exigente do que a prevista para as leis orgânicas.
A maioria apresentada trata-se de uma maioria “móvel” mas que tem sempre um teto mínimo de
117 deputados (“…desde que superior à maioria absoluta dos deputados e em efetividade de
funções…”, artigo 168/6CRP).
A CRP não explicita as fases em que tem lugar a aprovação com esta maioria agrvada. No
entender da maioria da doutrina, ocorre apenas na votação na especialidade, processando as
restantes votações por maioria simples. Isto, em primeiro lugar, porque a Constituição alude a
“normas” ou a “disposições de leis”, ou seja, a preceitos constantes de leis e não já às próprias
leis, só fazendo sentido conceber a sua deliberação por maioria qualificada na votação na
especialidade, pois:
▪ É nessa fase que um diploma deve ser votado norma a norma e, como tal, é nesse
estádio que justificará que a disposição normativa reforçada possa ser objecto de
aprovação com uma maioria distinta das restantes normas que integram um mesmo
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Direito Constitucional II 54
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
diploma, não fazendo sentido a aprovação pela mesma maioria nas restantes fases dada
que a constituição não sujeita a aprovação por essa maioria mais exigente;
▪ Parte destas disposições ou normas poderiam integrar leis orgânicas e, neste sentido, a
AR confrontar-se-ia com duas maiorias diferentes, para efeitos de votação final global
(art. 168º/5 e 6 CRP).
Um problema surge quando, no artigo 136º CRP, o legislador nada diz quanto à maioria
necessária para ultrapassar o veto presidencial, a respeito das leis reforçadas pelo procedimento.
Surge, então, uma lacuna constitucional que carece de ser preenchida. Pode haver lugar para
mais do que uma posição mas, a meu ver, é importante recorrer à teleologia do próprio artigo.
A uma primeira leitura, pensar-se-ia que, nada dizendo, para ultrapassar o veto do PR bastaria a
maioria absoluta prevista no artigo 136º/2CRP.
Encarar-se-ia, assim, o artigo 136/2 como a norma geral e o 136/3 seria a norma especial. Não
caindo na previsão do 136/2 todas as outras leis necessitariam, apenas, de uma maioria absoluta
para ser confirmadas.
Porém, se esta é a ideia que uma primeira leitura deixa transparecer, quando recorremos à
teleologia do artigo percebemos que o que está patente é a existência de um processo agravado e
que tem como base uma maioria mais onerosa. Ao aplicar o 136/2 CRP estar-se-ia a ir contra a
própria ratio do artigo, porque tendo em conta que a lei tinha sido aprovada com uma maioria de
dois terços ir-se-ia reduzir a maioria que é necessária para a confirmar.
Leis de Bases
A Constituição não refere expressamente no que consistem as leis de bases, porém, podem ser
definidas como uma categoria legal que contém princípios e directrizes genéricas, designados de
“bases gerais”, que traçam as opções politicas primárias e fundamentais de um determinado
regime jurídico, cuja disciplina carece de ser desenvolvida e concretizada por legislação
subordinada de carácter comum.
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Direito Constitucional II 55
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quanto às ALR, podem aprovar mediante autorização legislativa, decretos legislativos regionais
de bases nas matérias respeitantes a bases gerais previstas na reserva relativa de competência da
AR, com exclusão de um conjunto determinado de matérias mencionadas na alínea b) do nº 1 do
artigo 227º CRP.
Dos artigos 227 e 198 fica explicito e há consenso sobre a competência do Governo e das ALR
para o desenvolvimento de leis de bases.
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Direito Constitucional II 56
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Tribunal
Paulo Otero Blanco Morais Jorge Miranda
Constitucional
Defende tratar-se de A reserva do Governo Entende que a reserva Não existe qualquer
uma reserva total de incide sobre matérias do Governo incide reserva, tanto o
desenvolvimento, ou do âmbito do artigo 164 sobre matérias Governo como a
seja, o Governo teria e 165 CRP. concorrenciais, em Assembleia da
competência reservada nome de uma ideia de Republica podem
para o desenvolvimento divisão de tarefas entre desenvolver leis de
de bases gerais relativas o Parlamento e o bases.
a matérias situadas no Governo.
universo concorrencial
do Parlamento, a qual
não prejudicaria a
apreciação parlamentar
dos decretos-leis que
procedessem a esse
desenvolvimento, só o
G poderia desenvolver
leis de bases.
O professor Blanco de Morais defende que o artigo 161º CRP inibe a AR de legislar sobre as
matérias reservadas pela CRP ao Governo. O professor, vê no artigo 198/1/c) matéria de reserva
exclusiva do Governo.
O desenvolvimento de leis de bases poderia ser retirado tanto da alínea a) como da alínea c) do
artigo 198ºCRP. Não faria sentido existir uma repetição, por isso o professor considera que se
deve dar um sentido útil às alíneas: a alínea a) reportar-se-ia à edição de atos legislativos no
universo das matérias não expressamente reservadas aos órgãos de soberania, ai ficando
compreendidas as bases de esfera concorrencial); a alínea c) diria respeito à aprovação de bases
de reserva da AR (art.164 e 165), cujo seu desenvolvimento seria de reserva exclusiva do G.
Pode ainda ser invocado um argumento teleológico, a AR não é um órgão vocacionado para
regular as questões de pormenor que envolvam grande detalhe técnico, sendo dificilmente capaz
de o fazer com qualidade em relação a muitas matérias que impliquem conhecimentos
especializados, sem prévia iniciativa legislativa governamental.
Só é necessário invocar a lei de bases no caso das alíneas b) e c), ou seja, no caso da alínea a)
não é necessário, logo esta matéria não é de reserva exclusiva do Governo, podendo até mesmo
promulgar um decreto de bases que revogue uma lei de bases, desta maneira, esbate-se a
posição de Paulo Otero ao referir que o desenvolvimento das leis de bases tem de ser feito em
todas as situações mediante a actividade do Governo ou das ALR e nunca da AR.
O Tribunal Constitucional adota uma posição diferente da doutrina e extrai do artigo 161/c)
CRP a competência genérica do Parlamento para legislar sobre todas as matérias. Perante a
inexistência de limites materiais à competência legislativa da AR, é reconhecido, ao Parlamento,
a faculdade de desenvolver as suas próprias bases.
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Direito Constitucional II 57
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Estas podem ser provadas exclusivamente pela AR ou podem aprovadas pelo G e, em certas
circunstâncias pelas ALR, ao abrigo de uma autorização legislativa.
As bases gerais serão diferentes uma vez que têm como norma parâmetro, no topo da cadeia,
não uma base geral mas uma autorização legislativa. Pode, também o poder de editar as bases
ficar dependente das vicissitudes inerentes à autorização e à revogação ou alteração da lei de
bases, a todo o tempo, pela AR como órgão normalmente competente.
A densificação de uma lei de bases só poderá ser feito através de um ato legislativo. Será, deste
modo, inconstitucional o desenvolvimento de princípios e de bases gerais dos regimes jurídicos
mediante regulamento administrativo.
Vigorando uma lei de bases respeitante à reserva parlamentar, o Governo e as ALR devem
necessariamente respeitá-la, na medida em que a sua previsão constitucional nos artigos 164º e
165º CRP transforma essas bases no seu pressuposto, nos termos do artigo 112º/3CRP.
Surge a questão de saber se caso a AR queira fazer uma lei sobre uma matéria especifica e
delimitada (reconhecendo que o pode fazer) sem invocar a lei de bases e indo mesmo contra o
que está estabelecido na referida lei o pode fazer.
Não havendo nenhuma imposição constitucional aplica-se o artigo 112/2 e a lei posterior
derroga lei anterior.
O mesmo acontece com o Governo (em matéria concorrencial), abaixo referida. Noa pode
ocorrer quanto à matéria de reserva relativa e absoluta porque essa é da competência da AR, se
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Direito Constitucional II 58
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
o G o fizesse o vicio não seria ilegalidade por violação de uma norma de valor reforçado mas
antes inconstitucionalidade orgânica.
O que é importante destacar, neste âmbito, é que a superioridade hierárquica não é em relação à
lei ordinária, mas antes, em relação aos decretos-leis de desenvolvimento. Neste sentido, uma
lei concreta e densificada, que seria, eventualmente o resultado do desenvolvimento de uma lei
de bases, quando não for feita invocando uma lei de bases, pode até mesmo revogar tacita ou
expressamente, a totalidade ou em parte de uma destas.
Recordar, que o Governo só tem de invocar a lei de bases a respeito das alíneas b) e c) do artigo
198º, ficando as demais (concorrencial) ao abrigo da alínea a), não precisando invocar a lei de
bases, não tem de estar vinculado a nenhuma, pode ter uma papel inovador e criador no
ordenamento jurídico.
Por força do artigo 198/3, em matéria concorrencial não é necessário que seja invocado a lei de
bases.
Se um decreto-lei facultativamente invocar uma lei de bases como seu parâmetro normativo de
referência deve subordinar-se aos seus princípios e directrizes, já que a subordinação é imposta
no artigo 112º/2CRP ocorrendo um fenómeno de autovinculação normativa, do qual decorre
ilegalidade do decreto-lei que não respeite essa relação subordinante a uma lei de valor
reforçado (112/3 e 3, 281/1, b)). Em suma, se um DL se auto-qualificar como ato legislativo de
desenvolvimento de uma lei de bases deve, por conseguinte, respeitar a hierarquia material do
conteúdo dessa lei, nos termos da Constituição.
Contudo, nada impede do Governo não invocar a lei de bases como seu parâmetro, de a revogar
ou alterar expressamente, editando as bases gerais substitutivas. Nada impede, também que um
decreto-lei que não a invoque a revogue ou derrogue tacitamente, editando um regime em
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Direito Constitucional II 59
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
pormenor que a contrarie, já que, ao optar por não desenvolver as bases gerais constantes dessa
lei, o G não está vinculado à estatuição do artigo 112/2.
Não existe qualquer ilegalidade por violação de lei com valor reforçado porque as leis de bases
só são reforçadas em relação aos decretos-leis de desenvolvimento e não à totalidade das leis
ordinárias.
A falta de uma previsão mais detalhada no plano constitucional pode suscitar algumas duvidas
quanto à própria aceção material de lei de bases.
A lei de bases tem que ser uma norma que consagre os princípios gerais de um regime e não que
seja autoconcretizada, ou seja, não pode regular de forma detalhada o seu conteúdo mas apenas
dar as orientações e os grandes princípios e valores que devem ser seguidos na sua
concretização.
A lei de bases é definida na constituição no sentido material e não num sentido formal, ou seja,
não é por uma lei dizer que uma lei é lei de bases que ela o vai ser, uma lei de bases nem precisa
de se autodesignar desta forma, basta que consagre os princípios gerais e que seja o parâmetro
de outras normas. Uma lei que não se autodesigne por lei de bases pode conter as bases gerais
dos regimes jurídicos. As bases constituem normas e princípios normativos não exequíveis por
si próprios e que não podem ser concretizados directamente por via regulamentar ou por ato
administrativo.
Não são bases gerais as disposições normativas cuja densidade não consinta uma efectiva
liberdade conformadora do legislador complementar para criar regimes jurídicos
portadores de opções politicas fixadas em normação legal sub-primária, já que normas
com uma especificação quase total não podem ser tidas como bases.
Importa, ainda, referir que nos artigos 164 e 165, matérias de reserva, figuram preceitos que
fazem apelo às leis de bases, referindo-se, por exemplo, às “bases gerais do sistema educativo”,
enunciado que constitui uma credencial habilitante para a edição de uma lei dessa natureza na
referida matéria. Contudo, em matérias de reserva parlamentar onde não exista qualquer
referência a bases, não pode o legislador criar nessa sede, ao seu alvedrio, uma lei de
bases, já que se lhe encontra vedada pelo próprio principio da competência, a
decomposição da mesma matéria num domínio básico e noutro de desenvolvimento, ou
seja, isso significa que o Parlamento terá de consumir, através de uma ou várias leis
comuns de idêntica densidade, toda essa matéria, dado que não pode compartilhá-la com o
Governo. Trata-se, na verdade, de uma reserva de densificação total.
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Direito Constitucional II 60
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Daí que se o legislador parlamentar emitir uma lei de bases numa área da sua reserva em
que as bases não sejam consentidas, o decreto-lei que as desenvolva incorre em
inconstitucionalidade orgânica pois invade a esfera das competências exclusivas da AR.
Por seu turno, essa suposta lei de bases incorre em inconstitucionalidade material fundada
em desvio de poder, pois habilita outros órgãos a legislarem numa matéria relativamente à
qual a Constituição impõe densificação total por lei parlamentar.
Leis de Bases
✓ Problemas de Competência
▪ CRP prevê, nalguns casos, uma previsão explicita (198/1/c));
▪ Mas também é possível em matéria concorrencial (198/1/a))
1. Por um lado, há quem defenda que a alínea c) consagra uma reserva do Governo;
2. Por outro lado, há quem defenda que a ideia de reserva é um absurdo porque nada nos
indica que a exista efectivamente, se olharmos para os outros artigos de reserva a
linguagem é explicita. Mas aqui surge a questão, se excluirmos a reserva para quê que
serve o artigo? Qual o seu sentido útil? A alínea c) do artigo 198/1 serviria para criar
uma reserva intraorgânica de ato legislativo, ou seja, a AR só pode desenvolver uma
lei de bases através de um decreto-lei, não o pode fazer através de um regulamento
✓ Problemas quanto ao conteúdo/Conformidade
Se uma lei de bases nova revogar substituitivamente ou alterar uma lei de bases precedente, na
esfera concorrencial entre a AR e o Governo, a lei de bases oriunda, de um ou de outro órgão,
pode revogar quer a legislação que substitia antes mesmo de existirem bases gerais sobre a
matéria, quer leis complementares da lei de bases revogada. Vigoram, neste universo, os
princípios da cronologia e especialidade e as suas decorrência ordinárias.
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Direito Constitucional II 61
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Questão importante será perceber se esta norma revogatória seria ela também uma lei de bases.
A hierarquia material das bases gerais está delimitada pela natureza substancial do seu poder de
vinculação e pelo seu objecto não sendo acompanhada por uma hierarquia formal.
O que seria defensável seria considerar que a norma revogatória, constituiria um “cavaleiro de
lei de bases”, uma norma legal emitida ao abrigo de competências concorrenciais com o
Governo e inserida extravagantemente numa lei paramétrica.
Aquando da revogação de uma lei de bases a caducidade da legislação complementar não tem
lugar.
O ato legislativo de desenvolvimento não faz depender a sua vigência da subsistência da mesma
lei-parâmetro, na medida em que se trata de um ato legislativo dependente da respectiva lei-
pressuposto quanto ao seu conteúdo e quanto à creditação da sua emissão originária mas
autónomo desta em termos de permanência ou subsistência em vigor. Do artigo 112/2 decorre
uma relação de subordinação material entre lei-sujeito e lei-objeto mas não emerge uma relação
de dependência formal que determine necessariamente a caducidade da lei objecto se a lei
sujeito for revogada, com ou sem substituição e a nova lei de bases não contiver uma clausula
revogatória da legislação complementar. Até mesmo em termos de segurança jurídica, a solução
da caducidade seria excessiva e desnecessária já que poderia deixar sem regulação um conjunto
de situações que dela necessariamente careceriam.
Em suma, verificando-se a substituição de uma lei de bases por outra sem revogação da
legislação complementar, entende-se que o legislador ou os legisladores responsáveis pela
aprovação da legislação subordinada devem conformar esta com a nova lei-parâmetro, na
medida em que existam desconformidades entre ambas, sob pena de ilegalidade superveniente
do ato legislativo subordinado (112/2 e 3; 281/1, b); 282/2). Gera-se assim uma nova relação de
complementaridade entre a nova lei de bases e a legislação complementar pré-existente que, não
tendo naturalmente de invocar a primeira para subsistir em vigor, deve ser constrangida a daptar
o seu conteúdo a esse ato legislativo-parâmetro no caso de se registarem desconformidades
substanciais.
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Direito Constitucional II 62
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Emissão de Legislação de Detalhe sem Prévia Aprovação de uma Lei de Bases num
Domínio da Reserva Parlamentar
Quanto à questão da não emissão de leis de bases e de legislação complementar de bases gerais,
só haverá inconstitucionalidade por omissão (art.283CRP) quando se afira no caso em apreço,
em relação a todas as regras legais da cadeia normativa indispensável para dar exequibilidade À
previsão constitucional, abrangendo, como tal, quer a falta de legislação de bases, quer a falta de
legislação complementar.
Já, nos casos em que a legislação complementar não se destine a dar exequibilidade a normas
constitucionais não exequíveis por si próprias a questão de inconstitucionalidade por omissão
não se coloca.
Por exemplo, o artigo 63º/2 CRP incumbe o Estado de organizar, coordenar e subsidiar o
sistema de organização social, neste caso, a omissão contraria uma norma constitucional.
Leis de Enquadramento
As leis-quadro são atos legislativos paramétricos de outras leis que estabelecem vínculos
normativos de densidade variável às normas legais que as desenvolvem ou concretizam e fixam
regras procedimentais que dispõem sobre aspectos de produção das segundas.
Aprovação de Leis-Quadro
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Direito Constitucional II 63
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
No que concerne à área concorrencial, os dois órgãos podem em tese proceder À edição de
bases e proceder, reciprocamente, ao respectivo desenvolvimento, densificação e revogação.
No que concerne a leis-quadro que integram a reserva exclusiva da AR, a atribuição do poder de
as densificar dependerá do regime que às respectivas leis se encontra especificamente
assinalado.
A revogação não substitutiva de uma lei-quadro não tem como efeito a caducidade da legislação
dela dependente, em regra, impõem modificações nos diplomas legais delas dependentes, sob
pena de ilegalidade superveniente dos segundos, dado que a atribuição de valor reforçado destas
leis corre, por identidade de razão, nos mesmo termos das leis de bases.
Contudo, existem situações que não pressupõem a alteração, por exemplo na Lei de Orçamento
de Estado.
Segundo a maioria da doutrina, uma lei-quadro pode conter tanto princípios e bases como
normas paramétricas portadoras de um maior detalhe. Apesar de poderem apresentar normas
detalhadas não se limitam a isto e apresentam os parâmetros e os procedimentos a observar por
outros atos legislativos.
O referido regime coexiste com a legislação especial mas não consente a emissão de normas
legais excecionais, ou equivalentes que derroguem ou contrariem os seus princípios essenciais
ou subvertam os seus fins principais.
O professor Blanco Morais, com algumas reservas, que em face do 112/3 será duvidoso
entender os regimes gerais como normas reforçadas.
Por um lado, os regimes gerais não são instituídos pela CRP como normas-pressuposto dos
regimes especiais, nem a Constituição impõe que os segundos as respeitem, não se encontrando
reunidos os critérios exigidos para a atribuição do referido valor.
Nos termos do artigo 165 e da aliena b), do nº2 do artigo 227º CRP, a AR pode, relativamente a
todas as matérias da sua reserva relativa de competência, conferir autorizações legislativas ao
Governo e, pode também, sobre algumas dessas matérias, conferir autorizações legislativas Às
assembleias legislativas regionais.
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Direito Constitucional II 64
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A AR, como órgão titular de uma competência primária e originária dispõe da liberdade plena
para, querendo, podendo delegar faculdades legislativas sobre uma matéria que lhe está
reservada, no Governo e nos Parlamentos Regionais.
Os atos legislativos autorizados não podem ser emitidos antes da entrada em vigor da lei
delegante que é seu pressuposto necessário e devem subordinar-se aos limites que o
Parlamento da República nela fixar (165/ 2 e 5 CRP), encontrando-se a lei habilitante
investida numa hierarquia material em relação aos primeiros diplomas, que serão
inconstitucionais e ilegais no caso de a violarem (art.112/2 e 3; 281/1, b)).
Embora se considere que, em regra, deva ser o órgão beneficiário da autorização a requerer esta
ultima, nada parece impedir que seja a AR a tomar a iniciativa de delegar poderes legislativos.
A lei de autorização legislativa é uma lei-parâmetro de outros atos legislativos que projecta
nestes, o seu conteúdo normativo subordinante, dado que, de acordo com o nº2 do art. 165º
CRP, deve definir o objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização.
A lei reforçada opera como ato-condição dos diplomas delegados atento o disposto no artigo
112º/3CRP.
Se o diploma violar o sentido da autorização deve ser tido como ilegal, nos termos do artigo
281º/1, b).
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Direito Constitucional II 65
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Os diplomas autorizados apenas podem utilizar a autorização volvida a data da sua entrada em
vigor.
Tao pouco admite autorizações implícitas, já que a vontade de autorizar terá de se encontrar
seriamente presente num enunciado normativo que se reporte de forma perceptível, mesmo em
termos genéricos, à matéria onde podem recair os poderes delegados, sendo inadmissível extrair
pretensas habilitações de fórmulas vagas onde caiba qualquer tipo de previsão material.
Uma praxis constitucional tem conduzido a que o pedido de autorização legislativa formulado
pelo Governo seja acompanhado por um anteprojecto de decreto-lei a autorizar, sendo certo que
no respeitante às autorizações legislativas às regiões autónomas a apresentação do anteprojecto
é uma verdadeira obrigação constitucional (art.227º/2 CRP).
Esta transmissão permite o legislador que aprova a lei delegante ter uma noção do sentido, do
objecto pretendido pelo Governo.
O anteprojecto não é vinculativo, não terá de ser necessariamente a regulação, o que terá de
ocorrer, como a constituição impõe, é que haja uma relação de subordinação entre lei de
autorização legislativa e decreto-lei autorizado.
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Direito Constitucional II 66
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Importa finalmente reter que se a lei de autorização incumprir com os requisitos mínimos
de densificação dos limites que deve, nos termos constitucionais, impor ao diploma
autorizado, com fundamento em desvio de poder: os fins constantes da lei habilitante
desviam-se por defeito, daqueles que lhe são assinados pelo artigo 165º/2 CRP.
Utilização
De acordo com o principio da irrepetibilidade (art 227º/2 e 3 e 165º/3). Isto significa que se a
autorização for esgotada por um decreto-lei autorizado, esse decreto-lei não poderá ser alterado
ou revogado inovatoriamente por outro decreto-lei aprovado dentro ou fora dos limites
temporais da sua utilização. A utilização plena da autorização acarreta a cessação da vigência
desta ultima, pelo que, se o órgão que dela foi beneficiário, pretender modificar ou revogar o ato
legislativo delegado através de outro, deve obter uma nova autorização para o efeito.
O exposto não prejudica que a autorização seja feita de modo parcelado. Tal significa que o
âmbito material da autorização pode ser dividido em várias parcelas. A regulação dessas áreas
pode ser operada por distintos atos legislativos autorizados ou emitidos em tempos diferentes.
Caducidade
A autorização legislativa cessa por virtude do termo do prazo fixado para a sua utilização ou em
razão de vicissitudes que afetem os órgãos normal e eventualmente competentes.
Revogações
A AR pode fazer cessar a autorização legislativa revogando a lei delegante antes da sua
utilização, ou seja, antes de ter emitido um ato legislativo autorizado que a esgote, não podendo,
em consequência, o diploma autorizado vir a ser emitido. Já a revogação da lei de autorização,
em período posterior À sua utilização, não produz qualquer efeito na vigência do diploma
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Direito Constitucional II 67
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
autorizado, dado que a componente autorizada da primeira lei já tinha cessado com a referida
utilização.
Se a AR aprovar uma lei sobre o objecto da autorização, antes dessa ter sido utilizada, entende-
se que revogou tacitamente a lei delegante.
Porem, apesar disto, o diploma regional autorizado pode ser revogado. Entender que o ato
legislativo regional autorizado seria irrevogável por lei estadual equivaleria a convolar uma
delegação de competências numa transferência de poderes, figura não credenciada pela CRP nas
relações legislativas entre o Estado e regiões.
Se a AR modificar uma lei de autorização antes da sua utilização, as alterações vinculam os atos
futuros que venham a ser emitidos. No caso das alterações serem introduzidas após a utilização
da autorização legislativa, os diplomas autorizados não terão de se ater a novos limites uma vez
que a autorização cessou. Situação diferente ocorre se a autorização for utilizada de modo
parcelado. Neste momento, vincula atos futuros.
Estatutos Político-Administrativos
Objeto
O objecto consiste nas atribuições das Regiões autónomas, a sua definição em relação a outras
pessoas colectivas territoriais, formação, composição e competência dos órgãos e respectivos
titulares.
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Direito Constitucional II 68
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Diferente situação ocorre quando normas do estatuto vertem sobre matérias integradas na
reserva de outra leis reforçadas pelo procedimento, como é o caso de lei orgânica, surgem, então
“cavaleiros estatutários de lei reforçada”.
Neste caso o estatuto propõe-se a reger uma matéria que deve ser, nos termos constitucionais,
disciplinada por lei cujo processo constitucional é distinto do procedimento produtivo do
estatuto.
Neste caso, não podendo o estatuto, como lei parlamentar de lei reforçada de hierarquia superior
ser ilegal por violação de lei orgânica ele enfermará, de inconstitucionalidade formal, por
regular matéria reservada à lei orgânica, através de normas cujo processo de formação é distinto.
Hierarquia e Rigidez
A hierarquia formal e material, deriva da parametricidade “erga omnes” do estatuto (Art. 281/1
c) e d)), a qual lhe permite vincular materialmente qualquer outra lei ordinária do ordenamento
português, mesmo reforçada.
É esta ordenação que permite extrair das normas estatutárias uma superioridade material e
formal que lhe permite revogar normas legais que se insiram no âmbito do seu objecto
necessário.
Quanto à rigidez esta destina-se, nomeadamente, a garantir o valor hierárquico, impedindo a sua
subversão através de uma hipotética revogação das leis estatutárias por parte de outra leis
parlamentares sucessivas, de caráter comum.
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Direito Constitucional II 69
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Posteriormente, ainda terá lugar um parecer obrigatório não vinculativo, produzido pelas
assembleias legislativas regionais, o qual ocorrerá na eventualidade de a AR, como órgão
competente para a aprovação da lei estatutária, rejeitar o projecto deliberado por aqueles órgãos
autonómicos, ou introduzir-lhe alterações.
Pode perguntar-se se será legitimo, à margem da CRP, o estatuto conter regras procedimentais
sobre a sua própria revisão que vinculem os parlamentos regionais.
Por exemplo, a terceira revisão do estatuto dos Açores consagrou que os projectos de estatuto
são aprovados por maioria de dois terços dos deputados em efetividade de funções.
O TC considera constitucional. O professor BM não concorda, pois, desta forma, o estatuto, ato
previsto e com uma força jurídica também prevista na CRP passa a ver acrescida a sua força
passiva, não por via de uma alteração constitucional mas sim por vontade própria, ou seja,
através de uma norma estatutária, auto-investindo-se assim o estatuto de uma maior resistência à
sua mudança. Em suma, o aumento da sua força, que constitui um dos fundamentos do seu valor
reforçado, não ocorre por força da Constituição mas de lei ordinária (112/3 é violado).
Nos termos do artigo 226/2 a 4 CRP o poder parlamentar de discussão e aprovação dos
estatutos e projectos de revisão estatutária não se resumem a um poder de concordância
ou discordância com esses atos de iniciativa regional. Eles seriam mais amplos e não
caberia a uma norma de direito ordinário, como o estatuto, delimitar ou definir os poderes
do Parlamento expressos na Constituição relativos ao processo estatutário ou estatuir o
nível de rigidez em que a norma se encontra revestida, quando esse nível decorre da
própria constituição (o artigo 110º/2 determina que a competência dos órgãos de soberania
é definida na Lei Fundamental e não na lei ordinária).
Ou seja, os deputados da AR podem alterar normas de um estatuto que não resultem das
propostas contidas no projecto de revisão estatutário deliberado pelas assembleias legislativas
regionais. A iniciativa tem de ser feita pelas Assembleias mas a partir desse momento perdem o
controlo.
A doutrina diverge, parte entende que a AR tem de se limitar à matéria incidente na iniciativa, a
maioria considera que isso poria em causa o principio da competência.
A inercia dos poderes regionais é geradora de uma expressiva rigidez e durabilidade destas leis.
69
Direito Constitucional II 70
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por força do artigo 168/6/f as normas estatutárias das regiões autónomas que integrem o
respectivo poder legislativo carecem de ser aprovadas por maioria de dois terços desde que
superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções. Um procedimento
especial agravado.
Porém, por força do artigo 116/3, na votação final global, basta maioria simples dos deputados
que constituam o numero legal dos seus membros.
Objeto
O núcleo do respectivo objecto mostra ser de tal modo vasto (art.90) que se torna difícil
proceder à sua limitação fronteiriça.
Parametricidade
A fraquíssima densidade das suas directrizes, a ausência de poder de aderência a outras leis que
não as de OE constituem factores de desprotecção radical das normas legais da GOP.
• Uma precedência indicativa das leis da GOP em relação à lei OE, deduzindo-se a
necessidade da Lei de Orçamento se dever harmonizar com a lei das GOP (105/2CRP) –
prioridade cronológica da segunda em relação à primeira.
• Uma certa forma de compatibilização da elaboração da Lei de OE à lei da GOP
(art.105/2CRP).
Rigidez
Objeto
A reserva material da lei de Orçamento de Estado é caracterizada por um núcleo muito mais
compacto do que o das leis das GOP (art.105CRP).
Em primeiro lugar, o núcleo orçamental que é composto pelas receitas necessárias para
cobrir as despesas do Estado e da Segurança Social;
70
Direito Constitucional II 71
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Parametricidade Material
A lei do Orçamento de Estado contem directrizes materiais avulsas que vinculam materialmente
os atos legislativos que lhes devem respeito.
O nº5 do artigo 165º CRP determina que as autorizações legislativas em matéria fiscal só
caducam no termo do ano económico a que se respeitam, regra que permite garantir, mediante
uma regra de estabilidade, o principio da anualidade orçamental relativamente a vicissitudes
como a demissão do Governo ou a dissolução da AR.
Rigidez
Quanto, à iniciativa, apesar de ser aprovada pela AR, a iniciativa tem de ser apresentada pelo
Governo (art.161º/g)).
A rigidez da lei de Orçamento de Estado destina-se a blindar esta norma estruturante das
Finanças Publicas estaduais contra um poder parlamentar que a procurasse alterar durante a sua
execução. A sua força manifesta-se nas seguintes circunstâncias:
Insuscetibilidade de ser alterada no decurso da sua execução, por uma lei resultante da
iniciativa originária dos deputados ou grupos parlamentares;
Impossibilidade de, no caso do G apresentar uma proposta de alteração a AR proceder a
alterações que não constam do pedido, visto que colocaria em causa o finalismo de
reserva de iniciativa do Governo;
Proibição de iniciativas legislativas, originárias ou derivadas, dos deputados ou grupos
parlamentares que se traduzam numa afectação, de sentido negativo, do equilíbrio
orçamental (art. 167º/2 e 3);
A teleologia inerente à rigidez da LOE funda-se na relação fiduciária entre poderes soberanos,
reflectindo os equilíbrios próprios do sistema de Governo.
71
Direito Constitucional II 72
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
execução, domina o poder do Governo, sendo nela que se manifesta com maior acuidade o
valor reforçado do ato, como processo de defesa da norma contra iniciativas de alteração
com origem parlamentar que se mostrem susceptíveis de perturbar o ciclo orçamental, a
unidade de acção e os recursos da Administração Pública, as expectativas tributárias dos
particulares e as previsões das empresas quanto ao ano económico em curso.
Por força do artigo 106º/1 CRP, a LOE encontra-se vinculada à Lei de Enquadramento,
assumindo-se, esta, como lei reforçada pela circunstancia de ser seu pressuposto-necessário
(Art.112/3 CRP).
Artigo 112/3
“Têm valor reforçado, além das leis orgânicas, as leis que carecem de aprovação por
maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
pressuposto normativo necessário de outras leis ou eu por outras devam ser
respeitadas.”
72
Direito Constitucional II 73
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por exemplo, imaginando que existia dada matéria de reserva relativa regulada numa lei de
2004, em 2015 a AR faz uma lei de autorização legislativa para o Governo, será que neste caso
se aplica a regra geral de lei posterior derroga lei anterior ou se considera que a lei de 2004 tem
valor reforçado e portanto o decreto-lei é ilegal ou indiretamente inconstitucional?
Segundo o artigo 165/2 CRP “as leis de autorização legislativa devem definir o objeto, o
sentido, a extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada.”
A Lei de autorização legislativa não pode ser demasiado vaga, o Governo está condicionado às
direções dadas pela Assembleia através da Lei de Autorização Legislativa. As outras duas leis,
tratadas distinguem-se pelo processo, quanto a esta ultima é distinta quanto ao seu próprio
conteúdo que é condicionado de forma determinante pela AR.
Lei Reforçada
Ilegalidade ≠
Lei Ordinária
Lei Constitucional
≠ Inconstitucionalidade
Lei Ordinária
Lei de Bases
Ilegalidade ≠
Decreto-Lei Desenvolvimento
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Direito Constitucional II 74
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Imposta pelo principio da separação dos órgãos do poder (art. 111) e conexa com a fixação
das formas de lei aparece a fixação constitucional das competências legislativas, a qual
implica:
• Que só são órgãos legislativos aqueles que a CRP estabelece – AR (art. 161º, 164 e
165º), o Governo (art. 198º) e as ALR (art. 227 e 232)
• Que as faculdades legislativas que cada órgão pode exercer são apenas as que constam
de normas constitucionais, as faculdades não atribuídas a certo órgão não podem ser
arrogadas em caso algum;
• Que, quando um órgão recebe a competência para fazer leis sobre certa matéria, só ele
pode interpretar, modificar, suspender ou revogar, bem como alargar ou restringir o seu
âmbito de aplicação;
• Que, quando a constituição reserva a um órgão as bases ou as bases gerais de certa
matéria ou o regime geral, ou um enquadramento ou um regime estatutário, esse órgão
fica adstrito a imprimir um conteúdo útil, uma densificação suficiente, uma direcção
especifica à lei a emitir, e, se se cingir a preceitos vagos, imprecisos, muito gerais, em
branco, frustrará o próprio sentido da reserva e cometerá desvio do poder legislativo, a
que se seguirá a inconstitucionalidade orgânica dos atos que os outros órgãos (ALR ou
Governo) vierem a fazer;
• Que, ocorrendo modificações das normas constitucionais de competência, os atos
praticados à sombra das antigas normas são inteiramente válidas e eficazes mas,
doravante, a sua interpretação, modificação, suspensão ou revogação têm de ser feitas
de acordo com as novas normas;
• Que apenas pode haver autorizações ou deligações legislativas no âmbito das relações
interorgânicas e nos termos expressamente previstos na Constituição (art. 111/2), ou
sejam, apenas podem haver autorizações legislativas da AR ao Governo e da AR às
ALR, não de e para qualquer órgão;
• Que, em caso algum se admitem sub-autorizações, quer dizer, um órgão que faça um
ato legislativo autorizado não pode cometer a terceiro órgão a faculdade de regular,
direta ou indirectamente, a matéria reservada objecto de autorização legislativa;
• Que a substituição de um órgão normalmente competente para a prática de certos atos
legislativos ou de certos atos integrados no procedimento legislativo só pode dar-se se
consentida pela Constituição (art. 168/3 e 179/3, f);
• Que nenhum órgão pode intervir no procedimento legislativo de outro órgão, a não ser
nos casos previstos na Constituição;
• Que, salvo nos casos previstos na constituição, nenhum órgão, nem sequer legislativo,
pode determinar o se e o quando da actividade legislativa do outro órgão;
• Que nenhum órgão pode obrigar outro a conferir a forma de lei a qualquer ato da
competência, por direta imposição do principio da separação de órgãos constitucionais;
e não pode, especificamente, quando a competência seja administrativa, porque a forma
de lei não é para o exercício de competências não legislativas.
Artigo 112
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Direito Constitucional II 75
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O nº2 do artigo 112 declara a paridade do valor e, portanto, da força jurídica das leis e dos
decretos-leis como atos legislativos dos órgãos de soberania, estabelecendo, porém, um duplo
limite quanto aos decretos-leis publicados no uso de autorizações legislativas e de
desenvolvimento de leis de bases.
Por outro lado, ele tem de se conjugar com os preceitos que instituem reservas absoluta e
relativa de competência da AR (art.161º, 164 e 165º) e reserva absoluta da competência do
Governo.
A mútua revogabilidade inerente à igual força jurídica não se verifica em áreas de reserva
absoluta. Só existe em áreas não reservadas, de competência concorrente e, na vigência de
autorização legislativa, em matérias de reserva relativa.
É tendo em conta o nº 2 e a amplidão das áreas reservadas à AR, assim como o Instituto de
apreciação parlamentar dos decretos-leis (art. 169º), que pode falar-se num primado de
competência legislativa a ela constitucionalmente atribuída.
Mas, a par desta força geral, recorta-se uma força especifica (ou uma pluralidade de
forças especificas de lei), que se traduz na consistência própria atribuída a certas leis em
face de outras leis, na medida em que não podem ser afectadas ou contrariadas por elas à
margem do postulado lex posterior. É esse o alcance útil da segunda parte do nº2 e é o que
implica a segunda parte do nº3 ao definir como leis de valor reforçado “aquelas que, por
força da Constituição, sejam pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por
outras devam ser respeitadas.”
Artigo 112/2 CRP Leis de bases – Têm valor reforçado face aos decretos-leis de
. desenvolvimento
Se o decreto-lei de desenvolvimento violar a lei de bases falamos numa ilegalidade direta, visto
que, em primeira análise, o que está a ser violado é o conteúdo da própria lei de bases e os
limites por ela impostos, pode falar-se também numa inconstitucionalidade indirecta, não é
direta porque para violar a constituição, nomeadamente o artigo 112/2 CRP, houve primeiro a
violação de uma lei de bases, ou seja, a inconstitucionalidade resultou da ilegalidade, da
violação de uma lei ordinária com valor reforçado.
Na grande maioria dos casos a violação de uma lei ordinária com valor reforçado, por exemplo,
de uma lei de autorização legislativa, resulta na ilegalidade, porém, nem sempre é assim. Por
vezes a violação de uma lei reforçada pode resultar directamente na inconstitucionalidade,
nomeadamente, se uma lei necessitar, por imposição constitucional, de uma maioria de 2/3 para
ser aprovada, se não for aprovada com essa maioria a consequência não vai ser a ilegalidade
mas sim a inconstitucionalidade direta.
• Leis Orgânicas;
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Direito Constitucional II 76
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
As leis de autorização legislativa são um pressuposto dos decretos-leis feitos no que toca a
matéria de competência relativa da Assembleia.
Os decretos-leis feitos com o recurso à autorização legislativa têm de respeitar, sob pena de
inconstitucionalidade orgânica, os limites impostos e as directrizes das leis de autorização. Estas
leis têm um valor reforçado em relação aos decretos a que vão dar origem e não em relação
a todas as outras leis ordinárias.
Algumas matérias são da competência exclusiva da AR, só ela pode legislar, existem ainda
outras matérias de reserva relativa, ou seja, se a AR pretender pode autorizar o Governo a
legislar no âmbito dessas matérias. Esta autorização é feita através de uma lei proposta pelo
Governo, mas não é um cheque em branco, o Governo não pode atuar sem parâmetros.
Tão pouco a autorização legislativa se traduz numa imposição ao Governo para legislar. Por sua
iniciativa, o Governo recebe um poder, não um dever. Órgão de soberania distinto do
Parlamento, exercerá quando entender (no âmbito temporal da autorização ou não exercerá esse
poder, com a liberdade inerente à função legislativa, tal como, querendo aproveitá-la, não é
obrigado a usá-la em toda a sua extensão.
Ao legislar precedendo autorização, o Governo, sem duvida, exerce uma competência sua, não
exerce uma competência alheia. No entanto, não se trata de um poder que o Governo já
possuísse, um poder como qualquer outro, um poder equivalente ao de fazer decretos-leis.
A autorização legislativa incide sobre objecto individualizado, com sentido prefixado, por
certo tempo, de utilização única a cada matéria.
Limites Substanciais
▪ Só pode haver autorizações legislativas sob matérias do artigo 165º, não sobre
quaisquer outras matérias de competência legislativa (161º e 164º) ou não
legislativas da AR (161/i, 162 e 163);
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Direito Constitucional II 77
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Caso haja veto politico por inconstitucionalidade, poderá o Governo formular novo
decreto-lei sobre a mesma matéria? Na opinião do professor Jorge Miranda, parece evidente
que sim, pois a autorização legislativa só deve considerar-se utilizada quando, em virtude dela,
se tenha verificado um ato legislativo que altere a ordem jurídica e tenha efeitos externos.
A lei de autorização legislativa tem de definir o sentido da autorização, quer dizer, o objetivo e
o critério da disciplina legislativa a estabelecer, a condensação dos princípios ou a orientação
fundamental a seguir pelo decreto-lei ou pelo decreto-legislativo a emitir de seguida. O sentido
é limite interno da autorização legislativa, limite quer para o Parlamento quer para o destinatário
e elemento prospectivo para os cidadãos em geral.
Limites Formais
▪ A autorização legislativa tem de ser explicita e autónoma;
▪ O ato autorizado tem de revestir a forma de decreto lei ou de decreto legislativo
regional;
▪ O ato autorizado tem de se reportar a determinada lei de autorização,
expressamente invocada;
Limites Subjetivos
▪ Só pode haver autorização legislativa da AR ao Governo ou à AL, não a
qualquer outro órgão;
▪ A autorização legislativa só pode ser concedida por uma Assembleia na
plenitude de funções, não por uma assembleia dissolvida (art. 172);
▪ Não pode ser exercida e pedida por um Governo demitido nem por uma
Assembleia Legislativa dissolvida;
▪ A autorização implica uma relação entre Assembleia e Governo, é de certa
Assembleia e de certo Governo. Por isso, não apenas cessa com o termo da
legislatura, a dissolução e a demissão como não se transmite ou renova
automaticamente com a nomeação de novo Governo ou a eleição de nova
Assembleia Legislativa;
▪ Não há sub-delegação, ou seja, o Governo e a Assembleia não podem
autorizar outro órgão a servir-se da autorização legislativa;
Limites Temporais
▪ A autorização legislativa não pode ser para todo o tempo ou por tempo
indeterminado, sob pena de destruir a regra da reserva de competência, tem de
ser a termo certo final e não para esta ou aquela circunstância ou sob condição;
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Direito Constitucional II 78
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
▪ A autorização tem de ser, pelo mesmo motivo, por tempo relativamente curto,
pelo tempo adequado e necessário, e, se esse tempo não for o suficiente, poderá
ser prorrogada, por meio de nova lei;
▪ Não há autorizações legislativas retroactivas, a autorização é para o futuro e só
assim é possível ao Parlamento definir o seu sentido e a sua duração;
Se a lei de autorização não observar os limites a que se encontra adstrita, será inconstitucional.
Nenhum decreto-lei ou decreto legislativo regional autorizado pode ser emitido antes de ser
publicada e de entrar em vigor a lei de autorização.
O dia da publicação não pode ser tido em conta, porque a publicação não integra o
procedimento legislativo. Em rigor, deveria ser o da aprovação da Conselho de ministros, mas a
sua prática muito irregular e o défice de publicidade envolveriam o risco de manipulação de
datas. E, muito menos poderia ser, por então tudo depender do PR, o dia da promulgação.
Esgotada ou cessada a autorização volta à Assembleia, e só ela, a poder dispor livremente sobre
a matéria de decretos-leis e decretos legislativos autorizados.
Todavia, se o sentido vier a ser alterado e se o decreto se tornar desconforme, ficará nessa
medida inquinado de ilegalidade superveniente, poi o decreto autorizado tem de se subordinar
constantemente ao sentido da autorização.
O parlamento não está inibido de legislar, na vigência da autorização, sobre matérias de seu
objecto, sem necessidade de qualquer avocação de competência.
Artigo 165/2
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Direito Constitucional II 79
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O artigo 165/2 esclarece que apesar de esta autorização ser constitucionalmente permitida, a Lei
de Autorização Legislativa tem de conter alguns elementos, o artigo especifica com pormenor
quais são esses elementos:
Caso o Governo legisle depois do período ter decorrido, surge o vicio de inconstitucionalidade
orgânica, porque está a legislar em matéria de competência de outro órgão.
Artigo 165/3
“As autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo
da sua execução parcelada.”
Artigo 165/4
Artigo 165/5
Caso Prático Nº 1
A Assembleia da Republica aprova uma lei de autorização legislativa que entra em vigor no dia
1 de Abril, fixando o prazo de 180 dias, prazo este que permite ao Governo legislar numa
matéria de reserva relativa da AR. Tendo sido fixado o prazo de 180 dias (6 meses) a
autorização caducava no dia 1 de outubro.
No dia 10 de Setembro o Governo aprova o decreto-lei que enviou para ser promulgado no dia
20 de Setembro.
79
Direito Constitucional II 80
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quid Iuris?
Tendo a lei de autorização legislativa fixado um prazo para o Governo poder legislar em matéria
de reserva relativa, o que está em causa para a resolução do referido caso prático é a data que se
tem de ter em conta quanto à própria actividade legislativa e se ela se encontra ou não dentro
dos limites fixados pela AR. Uma das indicações constantes da autorização foi a fixação do
prazo, se o Governo legislou num momento posterior surge o vicio de inconstitucionalidade
orgânica porque se apropriou de uma competência que é de reserva relativa da AR, para que o
fizesse dentro dos limites permitidos pela Constituição teria de fazê-lo dentro do prazo ou pedir
uma nova autorização.
Governo:
Hipóteses de Resolução:
❖ O Governo tinha de cumprir as indicações e cumpriu, efectivamente, fez tudo o que lhe
era permitido fazer (aprovação e envio) dentro do prazo fixado pela AR, não infringiu
nenhuma indicação. Atendendo a esta perspectiva, é preciso ter em conta aquilo que é
Razoável Exigir do Governo. Ter-se-ia como data marcante o momento de aprovação
em Conselho de Ministros ou, ainda, o envio para promulgação. O inconveniente surge
porque não se sabe o que acontece nas reuniões e, por isso, há quem defenda que se
deva utilizar uma data que seja de conhecimento publico
❖ Numa outra perspectiva, tem-se em conta o momento em que a lei passa a ser eficaz,
nomeadamente, o momento da sua publicação (art. 119). Esta posição não é muito
sustentada.
❖ O que é necessário ter em conta é o momento em que a autorização foi utilizada, o
momento em que passou a existir um decreto-lei feito na utilização da autorização.
O Governo e a Assembleia no exercício da função legislativa aprovam decretos que são
enviados para o PR que os pode vetar ou promulgar como lei ou decreto-lei, quando é
publicado ganha eficácia mas quando é promulgado o decreto-lei passa a existir. O
Artigo 137 esclarece que “a falta de promulgação ou de assinatura do PR (…) implica
a sua inexistência jurídica”. Daqui se pode inferir que o primeiro ato que confere
existência jurídica ao ato é o da promulgação. O PR recusa a promulgação como lei ou
decreto-lei (art. 136). Neste sentido, a data verdadeiramente relevante seria a de 30 de
outubro porque é nesta data que o decreto ganha existência jurídica e,
consequentemente, foi promulgado fora do prazo, logo, é inconstitucional. Esta
perspectiva tem um grande um grande inconveniente, a promulgação e a existência
jurídica ficam dependentes do PR, tendo 40 dias para promulgar o PR pode alargar o
prazo de maneira a que o faça num momento em que a autorização já tenha caducado.
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Direito Constitucional II 81
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A AR autorizou o Governo a legislar em matéria de reserva relativa durante todo o ano de 2017.
No dia 14 de março o Governo utilizou a autorização e enviou um decreto para ser promulgado
para o PR, o PR vetou o diploma no dia 15 do mesmo mês. No dia 25 de abril o Governo fez as
alterações no decreto e enviou novamente para ser promulgado, no dia 27 o PR promulga.
Se considerarmos que o que se deve ter em conta é a data de envio para promulgação então a lei
promulgada seria inconstitucional, porque o artigo 165/3 esclarece que as autorizações não
podem ser utilizadas mais de uma vez, logo, na hipótese prática o Governo teria utilizado a
mesma autorização em dois momentos. Já considerássemos apenas o momento da promulgação,
a autorização só teria sido utilizada uma vez e não haveria qualquer problema quanto à
constitucionalidade do diploma.
Caso Prático Nº 2
A Assembleia da Republica aprova uma lei de autorização legislativa que entra em vigor no dia
1 de Abril, fixando o prazo de 180 dias. Tendo sido fixado o prazo de 180 dias (6 meses) a
autorização caducava no dia 1 de outubro.
A Lei de Autorização Legislativa esclarecia que o objecto ou a matéria a regular incidia sobre os
maus tratos a animais domésticos.
No dia 10 de Setembro foi promulgado um diploma que criminalizava os maus tratos a animais
domésticos.
Depois, ainda no mês de Setembro, lançou um novo diploma que criminalizou os espectáculos
de tourada e aproveitou o segundo diploma para alterar o primeiro e esclarecer, que em relação
ao conceito de animal doméstico os crocodilos antes considerados deixariam de o ser.
Quid Iuris?
O artigo 165/3 esclarece que as autorizações legislativas não podem ser utilizadas mais de uma
vez, sem prejuízo da sua execução parcelada.
O objecto da autorização pode ser muito amplo ou mais restrito, divisível ou não divisível,
parcelável ou não parcelável e, consoante os casos, será ou não possível regular com a mesma
autorização em momentos distintos.
Proposta:
▪ Podia ter feito os dois primeiros diplomas porque incidem sobre a matéria
reservada à Assembleia que pode ser, através de uma autorização, regulada pelo
Governo através de um decreto-lei e porque o artigo 165/3 permite uma
execução parcelada:
• Maus Tratos a Animais Domésticos;
• Proibição das touradas
81
Direito Constitucional II 82
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Leis de Bases
As leis podem regular todo um regime jurídico ou limitar-se a definir os traços e os grandes
princípios orientadores, as bases gerais de determinado regime jurídico e, neste caso, o regime
jurídico não ficará completo enquanto os grandes princípios não forem desenvolvidos, precisam
de outro diploma. Um Decreto-Lei de desenvolvimento.
O preceito do nº2 abrange quer leis sobre matérias de reserva absoluta ou relativa de
competência parlamentar quer leis sobre matérias de competência concorrencial do Governo.
A feitura de leis de bases pela AR em domínios não compreendidos nos artigos 161º, 164º e
165º envolve uma limitação da ação legislativa do Governo. O Governo não fica impedido de
legislar sobre o domínio das leis de bases. O que não pode é, estando elas em vigor, deixar de se
conter nos seus parâmetros. Seria absurdo que, simultaneamente, vigorassem uma lei de bases e
um decreto-lei autoqualificado como de desenvolvimento e que dela fosse discrepante.
▪ Em primeiro lugar, porque se trata de uma repartição de tarefas entre dois órgãos,
com as vantagens de uma interdependência suscetível de conjugar uma presumível
maior estabilidade das leis.
▪ Em segundo lugar, porque nada impede o Governo, por força do artigo 198/1, a não
querer manter essa repartição, a assumir a totalidade da regulamentação da matéria de
uma lei de bases ou, no limite, a fazer ele próprio um decreto-lei de bases.
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Direito Constitucional II 83
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A lei de autorização não revoga diplomas sobre A lei de bases revoga lei anterior contrária (seja ou
matérias de autorização. não outra lei de bases).
A autorização legislativa só pode versar uma vez Pode haver sucessivos desenvolvimentos, com
sobre a mesma matéria. revogação possível, da lei de bases.
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Direito Constitucional II 84
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Plano Normativo
Lei
Constitucional
Leis Ordinárias
(Plano Legislativo)
Regulamentos
(Plano Administrativo)
Lei de Autorização Legislativa tem valor reforçado só em relação ao decreto-lei que autorizou,
em relação às outras leis encontra-se no mesmo plano e aplica a célebre proposição: “lei
posterior derroga lei anterior”.
Leis Que, Por Força da Constituição, Devem Ser Respeitadas Por Outras
Artigo 112/3
“Têm valor reforçado, alem das leis orgânicas, as leis que carecem de aprovação por
maioria de dois terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras devam ser
respeitadas.”
Podem referir-se várias leis que têm valor reforçado, não deixando de ser leis ordinárias, por
imposição constitucional:
As RA não possuem poder constituinte porque não são estados federados. Intervêm, todavia, de
modo qualificado no procedimento estatutário, através da reserva de iniciativa originária
sobre os estatutos e sobre alterações aos estatutos.
Cada projecto de estatuto (ou de alteração ao estatuto existente) é elaborado pela Assembleia
Legislativa Regional e enviado para discussão e aprovação à AR. Se a AR rejeitar o projecto ou
lhe introduzir alterações (AR não tem apenas o poder de aprovar ou rejeitar, tem também
competência para introduzir alterações), remetê-lo-á à ALR para apreciação e emissão de
parecer. Elaborado o parecer a AR procederá à discussão e à deliberação final (art. 226 CRP),
No demais o processo é idêntico ao das restantes leis havendo nomeadamente, possibilidade de
sujeição e veto politico pelo PR (art. 136 CRP) e a apreciação preventiva da constitucionalidade
pelo Tribunal Constitucional, se o Presidente solicitar (arts, 278 e 279 CRP).
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Direito Constitucional II 85
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Os estatutos devem considerar-se leis ordinárias reforçadas. Enquanto vigorarem não podem ser
contrariados por outras leis: a AR poderá, decerto, modifica-los a todo o tempo, mas com essa
intenção especifica (e precedendo iniciativa regional) não por disposição avulsa.
Tão importante se revela este princípio (ideia de salvaguarda e ressalva da autonomia das
regiões) que a constituição coloca a ilegalidade decorrente da violação das normas
estatutárias (pelos órgãos regionais ou de soberania do Estado), a par da
inconstitucionalidade, no tocante ao regime de fiscalização (art.280 e ss).
A definição de cada estatuto consiste em definir as atribuições regionais (art 227 CRP) e o
sistema de órgãos de Governo próprio da região, incluindo o estatuto dos respectivos titulares
(art. 231). Não consiste em estabelecer os princípios de toda a vida politica, económica, social e
cultural que aí se desenrola, porque isso cabe à Constituição (que é a Constituição da República
e não só do continente).
O estatuto não é uma constituição com amplitude potencialmente ilimitada. Cabe-lhe definir o
interesse específico, cerne de autonomia, mas não regular matérias de interesse específico, cabe-
lhe assegurar um sistema politico regional, mas não substituir-se-lhe ou substituir-se aos órgãos
de soberania.
Se um dos estatutos contiver normas sobre outras matérias que não atinentes às atribuições, aos
órgãos e aos titulares dos órgãos regionais, essas normas não adquirirão a força jurídica
específica das normas estatutárias. Por conseguinte, poderão ser modificadas ou revogadas,
observadas as pertinentes regras gerais da Constituição, ou poderão, desde logo, ser
consideradas inconstitucionais por invadirem domínios próprios de outras leis.
Os estatutos são leis ordinárias com valor reforçado, são aprovados pela AR, sob proposta
das ALR.
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Direito Constitucional II 86
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Se um diploma regional violar o estatuto fala-se em ilegalidade porque o estatuto é uma lei
reforçada em relação aos diplomas regionais. Mas, também, se fala em ilegalidade por uma lei
ordinário violar o estatuto da região autónoma, o valor reforçado não é só em relação aos
diplomas regionais.
Apesar de ser uma lei ordinária e de ser aprovada pela AR, tem um valor reforçado por força da
Constituição. Trata-se de uma lei reforçada com caracter Geral face a todos os outros
diplomas.
Artigo 281, c) e d)
Os Estatutos têm uma natureza especial quanto ao procedimento, são leis aprovadas pela
AR mas a iniciativa cabe às Regiões Autónomas (art.226 CRP).
Fala-se, por isso, leis de valor reforçado com alcance geral, estatutos têm valor reforçado face a
quaisquer outros diplomas.
Leis que dispõem acerca da aprovação e do conteúdo de outras leis. Vão ter um valor reforçado
em relação às leis cujo conteúdo ou aprovação determinem
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Direito Constitucional II 87
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 88
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 89
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
➢ Competência Genérica
A mesma competência significa que o Parlamento pode legislar para todo o território, sendo que
nas regiões autónomas tem prevalência aplicativa, à luz do principio da especialidade, a
legislação regional. Os dois órgãos fazem incidir a sua competência sobre a mesma matéria mas
com âmbitos espácias de aplicação diferentes, num caso o continente, noutro caso a região
autónoma.
Supõe a faculdade exclusiva da AR legislar sobre um conjunto de matérias, com a exclusão total
dos demais órgãos legislativos, compreende as questões mais relevantes e de maior
essencialidade politico, compreende e abarca o artigo 164 e parte do artigo 161.
Enquanto o Governo pode ser autorizado a legislar em todas as matérias do artigo 165, as
Assembleias legislativas Regionais, nos termos do artigo 227/1 só pode legislar nos assuntos de
interesse regional.
Densidade Reguladora
A AR pode aprovar leis que sejam mais ou menos densas, que tenham uma densidade
reguladora maior ou menor.
Leis que fixam uma disciplina primaria com normas de grande generalidade e abstracção têm
um baixo grau de densidade reguladora, enquanto que aquelas que editam regimes
pormenorizados e disciplinas especiais de obejto detalhe ostentam um elevado grau, em termos
de densidade reguladora.
89
Direito Constitucional II 90
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Implica que toda a dimensão inovadora de uma disciplina normativa que recai sobre uma
matéria tenha de ser consumida por lei da AR. Trata-se de um campo exclusivo de densificação
normativa integral imposta pela CRP à lei parlamentar, e que envolve algumas matérias de alta
essencialidade politica de reserva absoluta.
Não é, portanto, permitida a emissão de leis de bases e de leis de autorização legislativa pelo
que são organicamente inconstitucionais atos legislativos de outros órgãos que regulem essa
matéria que não assumam conteúdo intrinsecamente administrativo. O próprio conteúdo do
regulamentos de execução dessas leis deve ser rigorosamente regulado de forma a impedir
qualquer hipótese de inovação operada por via administrativa.
Neste âmbito as matérias sujeitas a uma densificação total inscrevem-se na reserva relativa e já
não na absoluta, pelo que a consunção dessas matérias, pode não caber, apenas, à lei
parlamentar, mas também a decretos-leis ou decretos legislativos regionais autorizados pela AR.
A reserva parlamentar da regulação primária de uma matéria inscrita na sua reserva absoluta ou
relativa restringe-se, neste nível de regulação, a normas de conteúdo geral, podendo o propiro
parlamento ou outros órgãos legislativos, como o Governo, adotar disciplinas igualmente
inovadoras, mas de natureza especial, contidas em normas mais densas e pormenorizadas.
90
Direito Constitucional II 91
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Noção
Faseologia
A Iniciativa Legislativa
91
Direito Constitucional II 92
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
No caso da iniciativa heterónoma existe um conjunto de órgãos que podem apresentar uma
iniciativa legislativa heterónoma (Governo, ALRA em relação às matérias que lhes respeitem e,
ainda, Grupos de cidadãos eleitores – 20000).
▪ Das leis das grandes opções dos planos e da Lei do Orçamento de Estado, as quais
são reservadas ao Governo (art. 161º, g);
▪ Dos Estatutos politico-administrativos das regiões autónomas e respectivas
alterações, cuja elaboração é reservada às assembleias legislativas das regiões
autónomas (art. 226/1 e 4);
▪ Das leis orgânicas relativas à eleição de deputados às assembleias legislativas das
regiões autónomas, cuja elaboração é reservada às mesmas assembleias (226/4);
Os projectos de lei definitivamente rejeitados não podem ser renovados na mesma sessão
legislativa salvo a renovação da AR (167/4).
92
Direito Constitucional II 93
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Se os atos de iniciativa legislativa não tiverem sido votados na sessão legislativa em que tiverem
sido apresentados, os mesmos não caducam nos termo do artigo 167/5, não carecendo de
renovação na sessão legislativa seguinte, salvo em termo da legislatura (onde a alteração do
corpus da legitimidade politica da Assembleia imporia, sempre, essa renovação).
A Instrução
A fase instrutória visa recolher dados, pareceres e outros elementos cognitivos que permitam
aos decisões apreciar a oportunidade e o conteúdo da iniciativa legislativa.
93
Direito Constitucional II 94
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A atividade instrutória pode realizar-se em concomitância, com o estádios que integram a fase
constitutiva, nomeadamente os momentos de discussão na generalidade e na especialidade.
Sempre que se trate de projetos ou propostas de lei respeitantes a autarquias locais ou outras
iniciativas o justifiquem, a comissão parlamentar competente deve promover a consulta da
Associação Nacional de Municípios e da Associação Nacional de Freguesias.
Se a matéria disser respeito à regiões autónomas não será a comissão especializada que
promoverá a audição mas sim o Presidente da Assembleia da República (art. 229/2).
Em suma, os atos que incidam de forma especial numa ou em ambas as regiões versando sobre
questões, problemas ou interesses atinentes à organização humana, socio-economica ou cultural
das regiões ao ponto dessas particularidades assumirem uma particularidade suficientemente
relevante justificam uma audição regional. Neste sentido, matérias que detenham
objectivamente uma relevância imediata para todos os cidadãos, independentemente do
território em que se encontrem não carecem de audição.
A fase instrução das leis parlamentares que respeitem às regiões autónomas, projecta-se na fase
constitutiva ou de aprovação, ocorrendo entre os momentos de votação que precedem a votação
final global.
94
Direito Constitucional II 95
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A Fase Constitutiva
A aprovação da lei exprime a sua fase constitutiva, a qual se prende à manifestação de um ato
de vontade normativa pelo parlamento, do qual resulta a expressão do seu consentimento na
formação de um ato legislativo materialmente perfeito ou completo e, como tal, apto a produzir
alterações jurídicas no ordenamento, volvida a sua promulgação e publicação.
Os atos ou atos de iniciativa são objecto de debate, através de uma discussão realizada pelos
deputados sobre a sua forma e conteúdo, a qual pode ser realizada em plenário ou em comissão
(art. 168/1 CRP).
Os projectos e propostas de lei devem ser distribuídos aos grupos parlamentares antes de serem
discutidos em Plenário e devem ser previamente publicados no Diário da Assembleia da
Republica com uma antecedência mínima de cinco dias, salvo caso de urgência (art. 144 RAR).
Em caso de urgência pode a conferencia de lideres, por maioria de dois terços, reduzir a
antecedência mínima de cinco dias, para quarenta e oito horas, no mínimo (art. 144 RAR).
A discussão e a votação devem ter lugar, em regra, no prazo de dezoito reuniões plenárias a
contar da data de aprovação do parecer na comissão especializada (art. 149 RAR).
95
Direito Constitucional II 96
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Após a discussão, cada projecto ou proposta de lei é votado em plenário (art. 168/3 CRP e 148
RAR) sendo certo que uma votação favorável apenas garante que o ato de iniciativa será objecto
de votação na especialidade, não indicando a sua aprovação nem nessa fase subsequente, nem
no estádio de vocação final.
▪ Propostas de Eliminação;
▪ Propostas de Substituição;
▪ Propostas de Emenda;
▪ Texto discutido, com alterações eventualmente já aprovadas;
▪ Propostas de aditamento ao texto votado;
Havendo duas ou mais propostas da mesma natureza, elas serão sujeitas a votação pela ordem
da sua apresentação (art. 154º/2).
Artigo 168/3
Decorre do artigo 168/3 da CRP que o órgão da Assembleia da Republica onde se realiza a
discussão votação na especialidade é o Plenário.
Isto porque, se o mesmo Plenário não deliberar expressamente que essa discussão e votação
se processa em comissão especializada (comissão competente em razão da matéria), decorre
do referido preceito constitucional que será o Plenário a realizar essa tarefa.
Se tal decorre do texto constitucional, sucede porem que o artigo 150 RAR, ao estabelecer uma
regra geral em sentido contrário (regra que determina que, salvo num conjunto de exceções, a
discussão e votação se processam em comissão) não parece harmonizar-se com o referido do
artigo 169/3 CRP. Mas o facto é que a prática parlamentar, que alguns autores designam de
costume contra legem, caminha no sentido do disposto no regimento, ou seja, a de que a
grande maioria dos diplomas são discutidos e votados na especialidade nas comissões, sem
prejuízo de o Plenário poder, a todo o tempo, avocar a si a votação na especialidade a
requerimento de, pelo menos, dez Deputados (art. 169/3 CRP e 151 RAR).
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Direito Constitucional II 97
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O artigo refere que, caso a Assembleia não delibere, a discussão será feita no Plenário. O facto
de no regimento estar que na maioria das vezes será na comissão não é ilegal, muito menos
inconstitucional, a constituição possibilita e permite que isso ocorra.
Existe um conjunto de atos legislativos que integram a reserva de Plenários, ou seja, são
objecto de necessária votação na especialidade em sessão plenária. Trata-se:
▪ Das leis que regulam as matérias previstas no nº4 do atigo 168º da CRP (e que
correspondem à grande maioria das leis orgânicas, embora haja algumas destas ultimas
que se situam fora da reserva de plenário);
▪ Da lei referente ao artigo 168º/5 CRP (criação de regiões administrativas) que carece
de ser votada na especialidade por maioria absoluta;
▪ Das leis respeitantes às alíneas a) e c) do nº6 do artigo 168º, que devem ser aprovadas
por maioria de dois terços dos deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos efectivos;
▪ Das normas legais que respeitem às matérias previstas nas alíneas b), d) e f) do nº6 do
artigo 168º da CRP, que devem, igualmente ser aprovadas por maioria de dois terços.
Trata-se do momento culminante da fase constitutiva que inere à aprovação da lei, já que é por
meio da votação final que o processo aprovatório originário se encontra concluído e que a AR
exprime uma manifestação definitiva da sua vontade normativa, com a forma de decreto, sendo
o mesmo enviado para promulgação do PR, de modo a ganhar existência jurídica como lei, na
medida em que seja promulgado e referendado ministerialmente.
Nesse sentido, a falta de votação final global afeta irremediavelemente a imputação da lei ao
Parlamento e supõe a ausência de vontade declarada, pelo que, uma lei que seja apenas
aprovada na generalidade e especialidade deverá ser tida como juridicamente inexistente.
Quando aprovado em comissão, o texto é enviado para Plenário para votação final, na segunda
reunião posterior à sua publicação no DAR ou a sua distribuição avulsa aos grupos
parlamentares (art. 155/2 RAR).
Diferentemente dos estádios prévios de votação que são antecedidos por uma discussão, a
votação final global não é precedida de discussão, podendo, no entanto, cada grupo parlamentar
fazer uma declaração de voto oral (art. 155/3 RAR).
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Direito Constitucional II 98
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Redação Final
Finda a votação final global, a comissão competente em razão da matéria (ou a que o PAR
indicar) procede à redacção final dos atos aprovados, não podendo alterar o pensamento
legislativo, mas apensa a perfeiçoar o estilo e a sistematização do texto, sem que se possam
registar votos contra (art. 156 RAR). Assim, se um preceito alterar objectivamente o sentido da
norma aprovada em votação final global, deve considerar-se que o mesmo enferma de
inexistência jurídica, por falta de imputação ao órgão competente para exprimir uma vontade
constitutiva e que é o Plenário. Não, são, portanto admissíveis, a pretexto de correcções de
estilo, alterações que modifiquem minimamente o pensamento legislativo.
A redacção final tem lugar no prazo que a AR ou o PAR estabeleçam, ou, na sua falta, no prazo
de 5 dias. Depois de concluída a elaboração do texto, este é publicado no Diário da Assembleia
da Republica, podendo qualquer deputado reclamar de inexactidões, até ao terceiro dia útil após
a data de publicação no DAR do texto da redacção final, competindo ao Presidente decidir, no
prazo de vinte e quatro horas, sobre reclamações.
Esta etapa reporta-se ao momento em que o ato legislativo é aprovado pela Assembleia da
Republica e é remetido sob a forma de decreto ao PR para promulgação.
O Chefe de Estado exerce o controlo politico sobre um ato produzido pelo órgão parlamentar.
O PR dispõe de vinte dias, contados desde a data de receção de qualquer diploma da AR, para
usar da sua faculdade de promulgar ou vetar (136/1 CRP). Se tiver duvidas sobre a
conformidade do ato com a Constituição pode, no prazo de oito dias sobre a data de receção do
decreto, suscitar a fiscalização preventiva da sua constitucionalidade junto do Tribunal
Constitucional (art. 278/1 e 3 CRP).
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Direito Constitucional II 99
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Caso o diploma seja reformulado pela AR tal ato modificativo equivalerá à edição de um novo
diploma e o PR poderá vetá-lo, mesmo que o mesmo exiba um conteúdo sensivelmente igual ao
ato anterior.
De qualquer forma, se o juízo de mérito for positivo o PR promulga o diploma e este passa a ser
juridicamente existente, nos termos do artigo 137º CRP. Se for negativo, o PR veta o decreto e
solicita à AR, em mensagem fundamentada, que reaprecie o diploma (art. 136/1).
Promulgação
• A Promulgação Simples;
• Promulgação com Reservas – o chefe de Estado faz acompanhar o ato promulgatório
de uma mensagem onde exprime preocupações, objeções sobre o ato e aspetos mais
delicados em relação à sua concretização legal e aplicação. No plano estritamente
politico a promulgação com reservas procura tornar claro o distanciamento presidencial
em relação à lei que promulga, intentando para o efeito:
▪ Dar conta de que o ato é insatisfatório e o PR nele não se revê, mas promulgou-
o por respeito a uma vontade parlamentar amplamente maioritária;
▪ Tornar presente que os aspetos positivos do ato superam um pouco os atos
negativos e que são suscetíveis de criar situações disfuncionais que preocupam
o PR e o levam a fazer advertências cautelares;
▪ Evidenciar distancia em relação à situação encontrada, tornando claro aos
adversários da lei que o Chefe de estado não foi insensível aa alguns dos seus
reparos.
Sobretudo em cenários de coabitação, o PR não pode vetar todos os diplomas com os quais
discorde, sob pena de criar uma situação insustentável nas relações politico-institucionais, a
mensagem permite ao Chefe de estado alertar para disfunções de ordem jurídica e politica e para
impactos negativos futuros desconsiderados pelo legislador.
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Direito Constitucional II 100
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O Veto
Em caso de veto, o qual assume uma natureza suspensiva, o ato é reapreciado pelo Parlamento,
instituição que pode assumir 3 condutas:
Nos termos do artigo 169º RAR, o diploma vetado é reapreciado a partir do décimo quinto dia
contado a partir da receção no parlamento da mensagem fundamentada, por iniciativa do PAR
ou de um décimo dos deputados, para efeito de eventual confirmação ou reformulação.
• Veto Simples – sempre que incide sobre uma lei que suponha a reversão do mesmo
veto pelo voto da maioria absoluta dos deputados efetivos;
• Veto Qualificado – Quando incida sobre um ato legislativo que reclame uma maioria
mais onerosa, de dois terços.
O PR exibe um importante poder de impedimento, será muito pouco provável que se reúna uma
maioria absoluta ou uma maioria que qualificada que confirme o diploma, principalmente em
100
Direito Constitucional II 101
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
países onde existe uma grande fragmentação partidária, como é o caso de Portugal. Em caso de
confirmação realiza-se, apenas, uma votação.
No de a lei se inscrever nos atos legislativos sujeitos a votação final global por maioria de dois
terços., pese a existência de uma lacuna constitucional sobre a maioria adequada de superação,
entende-se, que, por identidade de razão com as leis orgânicas (art 136/3), esses decretos
carecerão de ser confirmados por idêntica maioria parlamentar a qual é igual à da sua aprovação
originária.
No que concerne à alteração, o art. 160 RAR determina que se forem apresentadas propostas de
alteração, a votação incide sobre os artigos objetos de propostas.
101
Direito Constitucional II 102
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A Referenda Ministerial
A promulgação das leis encontra-se, nos termos do artigo 140/1, sujeita a referenda ministerial.
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Direito Constitucional II 103
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Publicação
A falta da publicação tem como consequência a ineficácia jurídica do ato. Pese o facto de o
mesmo ato poder ter sido juridicamente perfeito, ele não produzirá quaisquer efeitos jurídicos se
não for publicado.
Do n.º 2 do art. 119.º CRP decorre que os atos normativos referidos no n.º 1 têm de ser
publicados no jornal oficial sob pena de ineficácia. Por conseguinte, a observância de qualquer
outro modo de publicação, por exemplo através da imprensa ou dos meios de radiodifusão, é
irrelevante para a eficácia da lei. O jornal oficial é o Diário da República.
Nos termos do n.º 3 do art. 119.º CRP a lei determina as formas de publicidade dos atos que a
Constituição não sujeita a publicação no jornal oficial e as consequências da falta de
publicidade.
Da conjugação do art. 119.º CRP com a Lei n.º 74/98 decorre que estão sujeitos a publicação no
Diário da República os atos legislativos, os atos regulamentares da AR e das Assembleias
Regionais, os atos regulamentares do Governo e dos seus membros e os decretos
regulamentares regionais dos Governos das Regiões Autónomas
Embora a fórmula do n.º 2 do art. 119.º CRP possa não abranger todas as leis em sentido
material amplo, deve entender-se que a publicação é um requisito de eficácia de todas as leis. Se
a lei não estabelece a forma de publicação terá de lhe ser dada a publicidade que permita o
conhecimento pelos seus destinatários: seja a notificação dos interessados, seja a afixação na
sede, seja qualquer outra forma.
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Direito Constitucional II 104
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Os atos normativos dos órgãos da União Europeia são publicados no Jornal Oficial da União
Europeia (ver também art. 8.º/4 CRP).
Entrada em Vigor
A entrada em vigor da lei é o culminar de um processo que passa pela verificação de certos
pressupostos de existência da lei (a sua criação), e ainda pela satisfação de certos requisitos de
validade e eficácia, dos quais referi, em último lugar, a publicação.
“Entre a publicação e a vigência da lei decorrerá o tempo que a própria lei fixar ou, na falta de
fixação, o que for determinado em legislação especial.” O intervalo que decorre entre a
publicação e a entrada em vigor de uma lei designa-se vacatio legis.Por conseguinte, podemos
desde já formular esta regra: a lei publicada começa a vigorar na data que ela própria fixar.
A data fixada por uma lei sobre a sua entrada em vigor não pode ser anterior à data da
publicação, uma vez que a eficácia da lei depende da sua publicação (art. 119.º/2 CRP; ver
também art. 5.º/1 CC).
Esta possibilidade era geralmente admitida antes da entrada em vigor da L n.º 74/98. O n.º 1 do
art. 2.º desta Lei veio estabelecer que a lei não pode entrar em vigor no dia da publicação. Mas
esta determinação só tem de ser observada pelas leis de valor hierarquicamente inferior. Ora, a
menos que se entenda que a L n.º 74/98 é uma lei com valor reforçado, o que oferece muitas
dúvidas, ou que tem caráter materialmente constitucional, tal lei tem o mesmo valor que as
outras leis da Assembleia da República, que os Decretos-Leis do Governo ou que os Decretos
Legislativos Regionais.
A lei também pode subordinar a sua entrada em vigor à verificação de um evento futuro, por
exemplo, a publicação de um diploma regulamentar
Na falta de disposição da lei sobre o momento da sua entrada em vigor, esta verifica-se no
quinto dia após a sua publicação (art. 2.º/2 da L n.º 74/98, alterada pela L n.º 26/2006, de 30/6).
Este prazo conta-se a partir do dia imediato ao da sua disponibilização no sítio da internet gerido
pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda (n.º 4 do art. 2.º). Por exemplo, a lei X disponibilizada
104
Direito Constitucional II 105
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
no dia 10 entra em vigor no dia 15, na falta de disposição em sentido diferente contida na
própria lei.
Por força do art. 296.º CC, na contagem de prazos de vacatio fixados em dias, semanas, meses
ou anos deve atender-se ao disposto no art. 279.º CC.
Assim, os prazos fixados em dias contam-se a partir do dia seguinte à publicação diploma (art.
279.º/b).
Os prazos fixados em semanas, meses ou anos, a contar de certa data, terminam às 24 horas do
dia que corresponda, dentro da última semana, mês ou ano a essa data (art. 279.º/c/1.ª parte).
Por exemplo, a Nova Lei da Arbitragem Voluntária (L n.º 63/2011), entrou em vigor três meses
após a data da sua publicação. Uma vez que o diploma foi publicado em 14 de Dezembro de
2011, deve entender-se que entrou em vigor em 15 de Março de 2012.
Caso o prazo tenha sido fixado em meses a contar de certa data e não exista no último mês dia
correspondente, o prazo finda no último dia desse mês (art. 279.º/c/2.ª parte CC). Por exemplo,
se a lei foi publicada em 31/3 e fixou a sua entrada em vigor um mês depois da publicação, o
prazo finda às 24 horas do dia 30/4 e a lei entra em vigor no dia 1/5.
Assim, por exemplo, quando se trate de leis extensas e complexas, como é normalmente o caso
dos códigos, justifica-se um período dilatado de vacatio. Quando estejam presentes
considerações de urgência pode justificar-se uma redução ou supressão da vacatio.
105
Direito Constitucional II 106
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Em Suma…
Várias Fases:
1. Iniciativa Parlamentar
Competência Legislativa
Iniciativa Legislativa
Competência para aprovar o diploma,
Competência para apresentar a proposta, competência
neste caso o decreto, que depois de
para iniciar o processo que vai dar origem à lei.
promulgado vai assumir a forma de lei
Artigo 167/1
106
Direito Constitucional II 107
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Artigo 161/g
g) Aprovar as leis das grandes opções dos planos nacionais e o Orçamento do Estado,
sob proposta do Governo.”
Apesar de ser o Governo a propor é a Assembleia da República que vai legislar. É competência
da Assembleia, mas o Governo tem de apresentar proposta. Só a AR pode aprovar.
Quanto a matéria de reserva relativa, o Governo, também, pode apresentar proposta mas é
mais provável que peça uma autorização legislativa porque, desta forma, pode ser ele próprio a
controlar o processo.
A esmagadora maioria dos casos em que é apresentada uma proposta é em matéria de reserva
absoluta, porque é a respeito desta matéria que o Governo não pode legislar, se se tratar de
matéria de reserva relativa, como já referido, pode pedir uma Lei de Autorização Legislativa, se
for matéria concorrencial, o próprio Governo pode legislar, não necessitando de qualquer
autorização para tal.
▪ Deputados; ▪ Cidadãos;
▪ Grupos Parlamentares; ▪ Governo;
▪ Assembleias Legislativas
das Regiões Autónomas
A Iniciativa, sem prejuízo, do que foi acima referido, tem alguns Limites:
▪ Lei de Orçamento de Estado (LOE) – art. 161/g), competência da AR, sob proposta do
Governo;
▪ Lei das Grandes Opções dos Planos Nacionais (LGOP) – art. 161/g), competência da
AR, sob proposta do Governo;
▪ Estatutos (EPARA)- art.161/b) e art. 226/1 CRP;
▪ Leis Eleitorais das Regiões Autónomas - art.161/b) e art. 226/1 CRP;
▪ Leis de Revisão Constitucional, segundo o artigo 285º a iniciativa de revisão
constitucional compete aos deputados;
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Direito Constitucional II 108
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Cláusula Travão
Tem que ser o Governo a propor a alteração, excetuando o Governo nenhuma das entidades com
competência de iniciativa legislativa o pode fazer. Houve a aprovação de um orçamento, o
Governo está a contar com esse orçamento, com essas despesas e com esse lucro, não pode uma
entidade externa colocar em causa a atividade e a politica do Executivo. Daí a chamada cláusula
travão, após a aprovação do orçamento é levantada uma barreira que impede que outras
entidades o alterem.
Isso significa que, por não estar autorizada a reduzir as despesas, a AR nunca poderá, por
exemplo, baixar os impostos?
O orçamento é aprovado para um ano económico, o Governo conta com aquelas despesas e com
aquelas receitas mas, para os anos seguintes, não fica impedido de o fazer. Pode aprovar uma lei
que reduz os impostos para valer para o ano seguinte, o que não pode acontecer é que essa lei
tenha vigência no próprio ano económico.
Artigo 167/1:
Se as matérias em causa forem respeitantes às Regiões autónomas, quem tem competência para
tal são as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas. Competência legislativa exclusiva
das ALR. Mas não é muito claro e podem ser levantadas dúvidas.
▪ Estatutos;
▪ Leis eleitorais;
▪ Leis de Revisão Constitucional;
▪ Estatutos;
▪ Leis Eleitorais;
▪ Propostas de Lei de Autorização Legislativa;
108
Direito Constitucional II 109
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
2. Discussão e Votação
▪ Discussão na Generalidade;
▪ Votação na Generalidade;
▪ Discussão na Especialidade;
▪ Votação na Especialidade;
▪ Votação Final Global;
Termos gerais, muito genérico. Por exemplo, Discussão em pormenor, discussão e votação
proposta de lei de descriminação da eutanásia: artigo a artigo, norma a norma, fase a fase. Por
exemplo, proposta de lei de descriminação da
▪ Se está de acordo com a CRP; eutanásia:
▪ Se é algo a rejeitar;
▪ Se a sociedade está ou não preparada; ▪ Quem pode pedir;
▪ Em que circunstâncias o pode fazer;
▪ Como funciona a assistência médica e o
Se na votação na Generalidade for rejeitada, o acompanhamento psicológico a estes
processo termina por aqui. pacientes;
PR pode:
O PR tem um prazo para vetar ou promulgar (20 dias no caso dos decretos da AR e 40 dias no
caso dos decretos do Governo), se deixar passa o prazo já não pode vetar, deve promulgar o
decreto como lei ou decreto-lei (consoante a sua origem seja o Governo ou a AR)
4. Referenda Ministerial – Ato através do qual o Governo concede a referenda (art. 140º
CRP)
▪ Art. 134/b (competência para promulgação) + Art. 140º/1 (referenda) – O ato
de promulgação carece de referenda ministerial. Sem referenda a consequência será
a inexistência jurídica do ato de promulgação do PR (art.140/2) e,
consequentemente, sendo a promulgação inexistentes, a consequência será, também
a inexistência jurídica da lei ou decreto-lei (art137º).
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Direito Constitucional II 110
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quid Iuris?
Segundo o artigo 165/1/c) CRP, a matéria da definição dos crimes, penas e medidas de
segurança e respetivos pressupostos, bem como processo criminal é da competência relativa da
AR, logo, tem competência para legislar a respeito desta matéria.
O artigo 116/2, em relação ao quórum (número requerido de assistentes a uma sessão legislativa
para que seja possível tomar uma decisão válida), exige a presença da maioria legal dos seus
membros, atendendo aos 230 lugares, o quórum será de 116 deputado. Segundo o enunciado
estiveram presentes os 230, portanto, não existiria qualquer problema no tocante a esta questão.
O decreto aprovado reveste a forma de lei, a CRP, para esta lei em concreto, não exige nenhuma
maioria qualificada, recorre-se portanto, à maioria exigida no artigo 116/3 CRP, maioria
simples, basta, apenas, que existam mais votos a favor do que votos contra. Neste sentido, a lei
foi aprovada na votação final global visto que houve mais 10 votos a favor do que votos contra.
110
Direito Constitucional II 111
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 112
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Competência Exclusiva
Nos termos do artigo 198º/2 CRP é da exclusiva competência do Governo legislar sobre a
matéria respeitante à sua organização e funcionamento (as impropriamente chamadas “leis
orgânicas”).
Os decretos-leis reportados a este domínio não podem ser submetidos a apreciação parlamentar
e, se vetados pelo PR, o Governo não os pode transformar em propostas de lei, na medida em
que ao Parlamento está vedada a faculdade de legislar sobre a organização e funcionamento do
Governo.
Competência Complementar
O critério da estrita necessidade comporta uma margem muito grande de incerteza e supõe o
preenchimento de dois sub-critérios ao abrigo dos quais o Executivo deve fundamentar os
mesmo atos:
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Direito Constitucional II 113
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O Governo não está inibido de praticar atos com conteúdo inovatório, como atos políticos e
legislativos conquanto os fundamente nos dois princípios já referidos.
A Iniciativa
Como decisão de legislar o impulso deve, em tese, ser condicionado por um conjunto de
pressupostos fácticos e requisitos de ordem técnica e metodológica, alguns dos quais
necessariamente o precedem:
O problema impulsionante, em regra, resulta de uma realidade insatisfatória que requer solução.
Definido o problema, importará, muito brevemente, conceber um plano integrado que implique
a determinação de objectivos, a identificação dos recursos necessários para os atingir, a escolha
da solução não normativa ou normativa pertinente e nesta, da opção mais adequada para
enfrentar o referido fator problemático de impulsão legislativa. Trata-se da estratégia de decião.
▪ Conceção do diploma;
113
Direito Constitucional II 114
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
▪ Formalização da Iniciativa;
Fase Instrutória
Saneamento e Acompanhamento
Os projectos de diploma podem ser objecto de aprovação para agendamento com ou sem
alterações ou adiados.
De acordo com o RCM, a Presidência do Conselho promove a audição das regiões autónomas
sobre diplomas de competência do governo que lhes respeitem.
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Direito Constitucional II 115
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Fase de Aprovação
Método de Aprovação
O Conselho de Ministros é um órgão colegial, aplicando-se, por isso, o disposto no art. 116º/ 2 e
3 CRP sobre deliberação de órgãos dessa natureza.
Modalidades de Aprovação
Sempre que na reunião de Secretários de Estado inexistam objeções ao diploma agendado para
aprovação em Conselho de Ministros, o diploma é aprovado por Consenso.
Noutras circunstâncias pode haver debate, mas a regra é a de que o PM induz a obtenção de
consenso.
Controlo de Mérito
Promulgação e Veto
De acordo com o nº1 do art.136º CRP o decreto aprovado pelo Conselho de Ministros e pelos
ministros competentes em razão da matéria é remetido ao PR para promulgação.
O chefe de Estado deve, no prazo de 40 dias contados da receção desse decreto ou da publicação
da decisão de não inconstitucionalidade pelo Tribunal Constitucional promulga-lo ou exercer o
direito de veto político. O Presidente deve comunicar por escrito o sentido do veto, o que
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Direito Constitucional II 116
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
constitui uma forma de fundamentação, não sendo a publicidade deste ato uma formalidade
obrigatória.
O veto politico é insuperável, tendo, portanto, caráter absoluto, devendo o PR comunicar por
escrito ao Governo o seu sentido.
Sem prejuízo de ser admissível que o Governo, atenta a motivação do veto, aprove um novo
decreto-lei com disposições idênticas às do diploma vetado, mas onde constem alterações nas
normas antes objectadas pelo Chefe de Estado (Reformulação).
Questão discutida pela doutrina surge quanto à aprovação de um novo decreto, de conteúdo
idêntico, ao que foi vetado em momento anterior pelo PR.
A maioria da doutrina entende que pode pôr em causa o veto absoluto. Na minha opinião, o veto
não está a ser ultrapassado porque o diploma está sujeito a promulgação pelo PR de qualquer
das formas, e o próprio veto politico se justifica, em grande parte, com a inoportunidade politica
do momento para a promulgação de determinado decreto. Passado um tempo, o PR pode
considerar que o momento já é oportuno e já se justifica a sua vigência.
Referenda Ministerial
O ato de promulgação carece de referenda ministerial, nos termos do artigo 140º CRP.
Em Suma…
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Direito Constitucional II 117
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 118
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A apreciação parlamentar pode ser requerida por um mínimo de 10 deputados, para efeitos de
cessação de vigência ou de alteração, nos 30 dias subsequentes à publicação do ato legislativo
eu dela é objecto, descontados os períodos de suspensão do funcionamento da AR
(art.169/1CRP).
Votação
Caducidade
Se não se registar pronuncia parlamentar sobre o pedido de cessação de vigência ou, no caso de
se ter deliberado introduzir emendas e a respectiva lei não ter sido votada até ao termo da sessão
legislativa em curso, desde que decorridas 15 reuniões plenárias, deve o processo de apreciação
parlamentar considerar-se encerrado (art.169/5CRP).
Forma da Alteração
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Direito Constitucional II 119
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Procedimento
Suspensão da Vigência
No caso de ser aprovada a cessação de vigência do decreto-lei, este deixará de vigorar, como se
tivesse sido revogado, desde o dia em que a resolução for publicada no Diário da República e
não poderá voltar a ser publicado no decurso da mesma sessão legislativa (art.169º/4 CRP). Não
se tem por admissível que a resolução que determina a cessação da eficácia produza efeitos
retroativos.
Repristinação
Em Suma…
• Requerimento 10 deputados;
• Nos 30 dias subsequentes à publicação do decreto-lei/decreto-legislativo regional;
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Direito Constitucional II 120
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A AR, caso queira pode aprovar uma lei que altere, ou uma lei que revogue um decreto-lei do
Governo, ao abrigo do artigo 112/2, visto que lei e decreto-lei têm igual valor, lex posterior
derroga lei anterior. Qual o sentido útil da Fiscalização/Apreciação Parlamentar dos Atos
Legislativos?
O problema ainda pode ir mais longe, um projecto-lei não tem limite de deputados, ou seja,
basta um deputado para que seja possível apresentar um projecto de lei e pode ser feito a
qualquer altura, não tem limite temporal. Não seria mais fácil aprovar uma lei que alterasse ou
revogasse o diploma do Governo ou das Regiões Autónomas?
Resposta:
Todas estas respostas são um contributo mas não respondem verdadeiramente à questão. Se a
AR, em vez de optar pela aprovação de uma lei, optar pela fiscalização quais são as vantagens??
L DL L DL
Ao abrigo do artigo 112/2, lex posterior derroga lei anterior, desta maneira, poder-se-ia abrir um
ciclo sem fim, ciclo este em que a AR e o Governo disputavam a regulação da mesma matéria,
revogando sucessivamente diplomas promulgados.
O instituto da apreciação parlamentar apresenta a solução para este problema ao referir na alínea
4, do artigo 169 que “se for aprovada a cessação da sua vigência, o diploma deixará de vigorar
desde o dia em que a resolução foi publicada no Diário da República e não poderá voltar a ser
publicado no decurso da mesma sessão legislativa.”
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Direito Constitucional II 121
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
sessão legislativa, de retomar o DL, enquanto, num processo normal, teria a possibilidade de
revogar a lei revogatória na apreciação não o pode fazer.
Quando se trata de cessar a vigência não é preciso a aprovação de uma nova lei, basta
aprovação de uma resolução. Porém, se a AR quiser alterar o diploma terá de o fazer
através da promulgação de uma lei de alteração do DL e, esta, decorrerá com todas as
vicissitudes típicas e etapas do procedimento legislativo. Aquela solução mais eficaz tem
que ver exclusivamente com a resolução.
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Direito Constitucional II 122
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 123
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
▪ Uma listagem por via remissiva de matérias de competências legislativas regionais com
caráter
Delegado (art. 227/1/b) – através de uma lei de autorização legislativa;
Complementar (art. 227/1/c) – desenvolvimento de bases;
▪ E, ainda, uma remissão importante das restantes matérias de virtual competência
autonómica para uma terceira lista regional de natureza infraconstitucional inscrita nos
estatutos (art.227/1/a) e 228/1) a qual coexiste num universo concorrencial paralelo
com competências dos órgãos de soberania integradas numa reserva móvel. É neste
domínio de concorrência paralela que conflui em binários diferentes dentro de uma
mesma matéria, o exercício das competências regionais comuns e o exercício de
poderes soberanos. Há, contudo, que nela separar, uma esfera de poder regional e outra
esfera atribuída aos poderes do Estado.
▪ Do proémio do artigo 227º CRP (“Poderes das Regiões Autónomas”), confirmado pelo
nº1 do art.228 (“A autonomia legislativa das Regiões Autónomas incide sobre as
matérias enunciadas no respectivo estatuto politico-administrativo que não
estejam reservadas aos órgãos de soberania”), ora, semelhante fórmula não deixa
grande margem para o exercício de poderes legislativos de tipo comum fora do limite
positivo e negativo do estatuto.
▪ Supressão da antiga alínea o) do artigo 228º que permitia expressamente legislar fora
das listagens constitucional e estatutária.
Um ato legislativo que não se encontre previsto nas alíneas b) e c) ou que se encontre fora da
previamente definida como de âmbito regional de estatuto será organicamente
inconstitucional.
Com a revisão constitucional de 2004 a alínea a) do 227/1 conjugada com o nº1 do artigo 228º
passou a remeter para os estatutos o elenco de matérias de âmbito regional submetidas ao
exercício da competência regional comum ou primária eliminando-se a regra que conferia
carater exemplificativo à enumeração estatutária e ficando pressuposta a sua taxatividade.
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Direito Constitucional II 124
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Os estatutos, de acordo com o artigo 227/1, definem o objecto, a extensão material dos poderes
legislativos regionais previstos na própria constituição (configurando e densificando o âmbito e
até aspectos da extensão especifica do exercício desses poderes) mas não estão
constitucionalmente autorizados a aditar novas normas retoras da distribuição de competências
que não derivem da Lei Fundamental.
Na medida em que o artigo nº1 do artigo 228º CRP determina que a autonomia legislativa
regional incide sobre as matérias enunciadas no estatuto, não podem as leis estatutárias
ultrapassar a sua função normativa de fixação e de definição de âmbito dessas matérias, para
passarem a arrogar-se à função de norma habilitante do exercício de poderes legislativos
regionais sobre matérias indeterminadas, à semelhança do que fazia a antiga alínea o) do artigo
228º CRP, suprimida na ultima revisão constitucional.
Uma norma deste tipo seria inconstitucional por padecer do vicio de desvio do poder. Por
outras palavras, ao assumir-se como uma norma habilitante do exercício da competência
regional comum sobre matérias indeterminadas do universo constitucional e não como
norma dotada da função de especificação dessas mesmas matérias (tal como é imposto
pelos atigo 227/1 e 228) essa disposição violaria o fim constitucional preciso que estas
normas constitucionais assinam aos estatutos quanto ao exercício desse tipo de
competência regional, prosseguindo sem credenciação apropriada, fins públicos de ordem
diversa. E, ainda seria de questionar a própria teleologia do artigo, tendo em conta que
essas normas seria meramente exemplificativas qual seria a necessidade de aprovação por
maioria de dois terços (art.168/6/f)) das normas que as consagram?
Em sentido oposto está a posição adotada pelos professores Jorge Miranda e Rui Medeiros, que
julgam a dita “clausula residual” constitucional.
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Direito Constitucional II 125
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O regime instituído pela revisão constitucional de 2004, permite concluir que as matérias do
hemisfério concorrencial paralelo que incidiam sobre domínios enumerados nos estatutos como
sendo de âmbito regional continuam a ser disciplinadas por decretos legislativos regionais ao
abrigo de competências legislativas comuns. Só que, no plano qualitativo, o exercício dessas
competências comuns, alterou-se no sentido do reforço da liberdade conformadora do legislador
regional, ampliando-se a densidade reguladora, a capacidade inovatória das leis autonómicas e o
“quantum das matérias disponíveis”.
Para o efeito dessa separação ou delimitação, torna-se relevante o uso de limites À competência
regional sediados em cláusulas gerais (“âmbito regional”, “reserva de competência dos órgãos
de soberania” na sua variante móvel ou expressa).
Será neste âmbito material paralelo que se insere uma cláusula geral valorativa, que nada mais é
do que uma cláusula de competência móvel para a repartição de poderes legislativos entre o
Estado e as Regiões em relação a cada matéria: de um lado sedia-se um domínio material
respeitante ao âmbito regional; de outro, um âmbito material integrado numa reserva implícita
dos órgãos de soberania.
A revisão de 2004 extinguiu este conceito, cessando um conceito indeterminado que permitia à
Justiça Constitucional invalidar diplomas regionais que não dispusessem sobre matérias que
apenas ocorressem na região ou que aí tivessem uma especial configuração. A grande maioria
das declarações de inconstitucionalidade fundaram-se no vicio da inconstitucionalidade
orgânica por violação do interesse especifico.
Doravante, as regiões passam a legislar de acordo com o interesse regional como novo critério
de delimitação competencial.
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Direito Constitucional II 126
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Entre lei geral do Estado e uma lei especial da região que, no universo das matérias
concorrenciais, vier disciplinar a mesma matéria, a administração autonómica deve dar
preferência aplicativa, em nome do principio da especialidade, à lei regional.
Por exemplo, legislação relacionada com o turismo, deve decompor-se, sob um ponto de vista
legislativo, numa esfera geral de incidência estadual e numa esfera especial de caráter regional,
sendo as mesmas reguladas por leis distintas. Apenas se a lei regional for revogada sem
substituição ou se ostentar lacunas é que a lei geral aprovada pelo Estado poderá aplicar na
região, já que é aí que vigora supletivamente (art.228/2).
Esta solução visa tutelar bens jurídicos dos cidadãos locais, pelo seu caráter de especialidade.
Pode ser necessário invocar o principio da unidade e solidariedade nacionais (art.225/2CRP)
quando esta protecção do interesse regional se projecta indiretamente no plano nacional em
prejuízo dos princípios da unidade e solidariedade nacionais, comprometendo nomeadamente, o
gozo ou fruição desses mesmo bens pelos cidadãos residentes noutras partes do território.
Por outras palavras, mesmo que o ato legislativo regional se aplique apenas na região, de acordo
com o critério geográfico, violará o limite configurado pelo âmbito regional caso se projecte
sobre interesses e fins qualificados de ordem geral e unitária prosseguidos pelos órgãos de
soberania, sendo para o efeito irrelevante que a matéria não figure expressamente na reserva de
competência dos mesmos órgãos.
Ficam fora da competência regional matérias que abarquem o interesse unitário/nacional. Desta
forma, mesmo atos legislativos regionais que incidam em matérias de interesse regional mas
que indirectamente se projectem no interesse nacional, serão inconstitucionalmente orgânicos.
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Direito Constitucional II 127
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por outras palavras, não há só uma reserva expressa ca competência dos órgãos de soberania,
existe, também, uma reserva implícita, onde se apela a um critério material e ao principio da
solidariedade e unidade.
O modelo apresentado é de tal modo complexo e indeterminado que se torna muito difícil
delimitar os poderes legislativos entre os órgãos de soberania e as regiões.
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Direito Constitucional II 128
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Assim, cada competência legislativa regional encontra-se pautada por limites gerais (por
exemplo, o âmbito regional) e por limites específicos (por exemplo, o respeito por leis
parâmetro).
A competência do poder legislativo das RA encontra-se previsto nos artigos 227/1, 228/1 e
112/4.
Os decretos legislativos regionais aprovados ao abrigo deste tipo de competência devem incidir
sobre matérias enumeradas nos estatutos politico-administrativos, devem conter-se no
âmbito regional e devem, ainda, respeitar a reserva explicita ou implícita de competência dos
órgãos de soberania.
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Direito Constitucional II 129
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Se é um facto que um decreto legislativo regional comum que incida numa matéria de âmbito
regional enumerada num estatuto passa assumir em caráter tendencialmente primário ou
inovatório (deixando de respeitar as normas interpostas conformadas pelos póstumos princípios
fundamentais de leis gerais da República e limitando-se a observas a Constituição) o facto é que
essa primariedade, em tese, pode vir a ser posta em causa por uma lei de bases editada
supervenientemente pelo Governo ou pela AR.
Constitui competência da ALR (art 227/1/c)) desenvolver par ao âmbito regional os princípios e
as bases gerais.
Na opinião do professor Blanco de Morais, caso a AR aprove uma lei de bases para todo o
território, em matéria concorrencial entre o Estado e as coletividades insulares, os atos
legislativos regionais deverão observar essas bases gerais sob pena de ilegalidade (112/2 e 3 e
281/1/b)).
A haver um decreto legislativo regional que colida com bases gerais em legislação estadual
superveniente, o legislador autonómico deve alterá-lo de forma a harmonizar o seu conteúdo
com as normas paramétricas dessa lei subordinante, desaparecendo nessa coexistência material
de disciplinas normativas estadual e regional, o caráter primário ou exclusivo da lei autonómica.
A doutrina diverge quanto a esta questão. Num sentido diverso do exposto, há quem defenda
que, no caso das bases da esfera concorrencial, as assembleias legislativas das regiões poderiam
optar entre invocá-las e desenvolvê-las numa relação subordinada ou, ao invés, prescindir delas
e assumir no âmbito regional, a totalidade da regulação da correspondente matéria (solução
semelhante à que ocorre com o G).
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Direito Constitucional II 130
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O EPARAA esclareceu no seu artigo 38 que a “Assembleia Legislativa pode optar por
desenvolver, para o território regional, os princípios ou as bases gerais dos regimes jurídicos
neles contidos, nos termos do presente artigo ou, em alternativa, exercer a competência
legislativa própria”
Isto significa que a legislação regional poderá optar por invocar uma lei de bases estadual da
área concorrencial para a desenvolver ou, em alternativa, não a invocar e dispor de forma
contrária ao âmbito regional.
As Competências Delegadas
O legislador acabou por optar pela inclusão de certas matérias de função unitária e servidas por
leis de escopo soberanista no campo dos domínios que são passiveis de delegação legislativa
nas regiões. Por exemplo, das bases sobre a protecção da natureza (alínea g) ou bases da politica
agrícola (alínea n).
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Direito Constitucional II 131
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Na opinião do professor Blanco de Morais esta situação parece ser chocante porque as bases
constituem um denominador comum unitário de uma politica publica.
À luz do principio da especialidade, uma norma contida na lei de bases estadual aplicável a todo
o território, apenas poderá revogar um decreto legislativo regional de bases autorizado e não um
decreto-legislativo, feito no uso de autorização legislativa, de bases.
A haver leis de bases aprovadas pelas Assembleias Legislativas Regionais tem de ser em
matéria reservada (Estatutos nada dizem sobre a questão).
Situações de insegurança jurídica crítica podem ocorrer no caso dos decretos legislativos
regionais de bases regularem, de acordo com o objecto da lei de autorização, apenas algumas
das matérias regidas primitivamente por uma lei estadual que aprove as bases gerais dos regimes
jurídicos. Ter-se-á, assim, o mesmo decreto legislativo regional de desenvolvimento a
concretizar leis de bases estaduais e leis de bases regionais vigentes sobre a mesma matéria.
Dir-se-á que o Estado logra conservar a sua proeminência através das leis de autorização
legislativa cujos limites podem ser, em tese, ainda mais detalhados e precisos do que as
directrizes das leis de bases. Se isto acontecer vai haver uma cadeia imensa, as leis de
autorização legislativa passam a atuar como verdadeiras leis de bases que vinculam outras leis
de bases (regionais) e estas os diplomas regionais de concretização. A existência de dois níveis
de parametricidade complica em vez de agilizar e aumenta a hipótese da existência de vícios no
plano da invalidade normativa.
Nos termos do artigo 227/2, integra o critério da clausula da junção, ou seja, as propostas e lei
de autorização devem ser acompanhadas de um anteprojecto do decreto legislativo regional a
autorizar, o que representa um forte condicionamento do processo de delegação. As leis
delegantes devem conter os mesmos requisitos típicos das leis de autorização legislativa (art.
165/2 e 3). Deste modo, considera-se que o legislador não se encontra vinculado a editar uma
normação legal idêntica à do anteprojecto, contanto que o diploma legal por si aprovado se
contenha nos limites da autorização. O anteprojecto constitui apenas uma formalidade
instrutória de natureza obrigatória que permite ao legislador estadual balizar os parâmetros da
delegação legislativa requerida pela região.
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Direito Constitucional II 132
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
devendo entender-se que a aplicação do artigo 169º CRP às leis regionais delegadas, ao
operar com “necessárias adaptações” envolve a exclusão da possibilidade da apreciação
parlamentar com emendas.
Sendo a AR o órgão normalmente competente e titular primário das competências delegadas nas
regiões e sendo o presente instituto uma autorização legislativa e não uma transferência de
poderes, entende-se que o Parlamento pode alterar a lei de autorização antes de a mesma ter
sido esgotada e revogar o diploma autorizado, no quadro de uma avocação de poderes,
idênticas ao que sucede com as autorizações legislativas do Governo.
Considera-se, no entanto, que não poderá alterar o diploma regional. Na verdade, uma coisa será
avocar os poderes delegados e proceder ao seu exercício pleno e outra, modificar o diploma
regional, descaracterizando-o e procedendo a uma estatização parcial de uma disciplina jurídica
regional. O modelo de distribuição e repartição de competências entre o Estado e regiões revela
ser incompatível com leis mistas, editadas pelas regiões no âmbito regional e alteradas pelo
Estado no uso de uma espécie de tutela correctiva.
A Competência Complementar
A alínea c) do artigo 227/1 refere a competência para o desenvolvimento de leis de bases e leis
de enquadramento.
É possível, em abstracto, o desenvolvimento para o âmbito regional de qualquer base geral, sem
aceção de matéria, abrangendo em tese, quer as áreas concorrenciais quer os domínios da
reserva absoluta ou relativa da AR, quer ainda matérias cobertas por decretos legislativos
regionais de bases.
O professor Blanco de Morais refere que se deve ter alguma atenção quando o desenvolvimento
de uma lei de bases coloca em causa o “âmbito regional” (por exemplo, no caso das “bases
gerais da organização, do funcionamento, do reequipamento e da disciplina das Forças
Armadas”.
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Direito Constitucional II 133
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O artigo 112/8 permite às regiões transpor mediante decreto legislativo regional, directivas
situadas em matérias fora da reserva de competência dos órgãos de soberania que sejam
reconhecidas, através das listagens constitucional e estatutária, como fazendo parte do âmbito
regional, não garante a transposição regional de todas as directivas sujeitas a transposição na
ordem jurídica portuguesa.
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Direito Constitucional II 134
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
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Direito Constitucional II 135
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por sua vez, nas vicissitudes expressas (existe uma intenção expressa de alteração
constitucional) podemos distinguir:
Por exemplo, com a revolução do 25 de Abril houve uma Rutura Constitucional, havia uma
constituição, a Constituição de 1933 que dispunha da forma como podia ser alterada e foi feita
uma alteração de acordo não com o que nela estava previsto (ou seja, a CRP deixou de vigorar
por uma rutura e não pelo processo previsto).
Ambas são alterações que se processam de acordo com as regras estabelecidas na Constituição,
mas as consequências que produzem na ordem jurídica são substancialmente diversas: a revisão
constitucional conserva a Constituição vigente, a transição constitucional dá origem ao
surgimento de uma nova Constituição mas em ambos os casos é feito de acordo com o
modo previsto na Constituição.
Por exemplo, o caso Espanhol e Português, ambos viviam sob um regime ditatorial, o processo
como se chegou ao Estado de Direito foi distinto, Portugal foi pela via revolucionária, Espanha
foi através de uma transição constitucional (reforma da Constituição é feita com uma alteração
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Direito Constitucional II 136
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
tao profunda que altera os seus elementos essenciais, é feito de acordo com as normas
previstas).
Imagine-se que em 1980 não tinha sido aberto o processo de revisão constitucional, não
havendo revisão os militares iriam ser mantidos no poder (deixaria de ser transitório para passar
a ser permanente).
Existiria, neste caso, uma transição democrática mesmo sem ter havido uma revisão do texto
constitucional.
Constituição Flexível – Revisões são feitas através do processo normal de aprovação de uma
lei no Parlamento, não há distinção entre lei constitucional e ordinária.
Uma maior plasticidade interna da Constituição pode ser condição de maior perdurabilidade e
de sujeição a modificações menos extensas e menos graves, mas o fator decisivo não é esse: é a
estabilidade ou a instabilidade politica e social dominante no país, é o grau de
institucionalização da vida colectiva que nele se verifica, é a cultura politico-constitucional, é a
capacidade de evolução do regime jurídico.
136
Direito Constitucional II 137
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Diz-se rígida a Constituição que para ser revista exige a observância de uma forma particular
distinta da forma seguida para a elaboração de leis ordinárias. Diz-se flexível a Constituição em
que são idênticos o processo legislativo e o processo de revisão constitucional, aquela em que a
forma é a mesma para a lei ordinária e para a lei de revisão constitucional.
A constituição flexível não se define senão pelo objecto: a regulamentação do poder político. A
constituição rígida distingue-se das leis ordinárias pela forma, mais ou menos solene, e pelo ato
ou conjunto de atos em que se traduz a necessidade de sua garantia: a revisão constitucional.
Consegue-se, assim, estabelecer uma fronteira precisa entre matéria e forma constitucionais. Se
se optar por um sentido material de Constituição, é norma constitucional aquela que respeita
certo objecto, com dispensa de qualquer forma adequada. Se se opta por um sentido formal,
entra na Constituição qualquer matéria, desde que beneficie da forma constitucional de revisão.
Nenhuma Constituição deixa de regular a sua revisão seja expressa seja tacitamente.
Há que destacar que apesar do processo ser em moldes mais gravosos e exigentes que o
processo normal de aprovação de uma norma ou lei ordinária, o poder de revisão é menor diante
o poder constituinte ordinário, um poder derivado, subordinado.
Outro requisito normalmente constante para que se procedam a revisões tem que ver com o
tempo: a revisão pode realizar-se a todo o tempo, a todo o tempo verificados certos requisitos ou
apenas em certo tempo.
Problema conexo vem a ser o dos limites circunstanciais da revisão: o da impossibilidade dos
atos de revisão em situações de estado de necessidade, correspondentes ou não a declaração de
estado de sitio ou de emergência, ou outras circunstâncias excecionais.
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Direito Constitucional II 138
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A iniciativa, por regra, cabe ao órgão competente para fazer a lei de revisão ou a quaisquer dos
seus membros. Mas não se confunde a iniciativa do processo de revisão e a iniciativa de
modificações constitucionais.
Sintetizando pode dizer-se que as Constituições Portuguesas, todas elas rígidas, encerram
normas especificas sobre revisão constitucional, as quais definem os respectivos processos ou
procedimentos em termos diversos do formalismo das leis ordinárias.
Nas Constituições de 1820, 1826 e 1838 a revisão constitucional era feita através de uma
assembleia renovada por eleições gerais;
Nas constituições de 1911 e 1933 a revisão podia ser efectuada de 10 em 10 anos, sendo
competente o Congresso ou a AR. Podia ser antecipada por 5 anos caso existisse uma
maioria de dois terços.
Na Constituição de 1976 a revisão é feita por maioria de dois terços de deputados presentes,
desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (primeira
revisão) e, mais tarde. Veio a ser modificado para maioria de dois terços dos deputados em
efetividade de funções (subsequentes revisões, atualmente consta do artigo 286/1). E é
agravado por um requisito temporal (cinco anos, atualmente constante do artigo 284/1),
antecipável por um requisito de uma maioria de quatro quintos dos Deputados em
efetividade de funções.
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Direito Constitucional II 139
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Antes da primeira revisão constitucional houve quem sustentasse que ela poderia realizar-se por
meio de referendo nacional. Foi invocado o principio da participação direta e ativa dos cidadãos
na vida publica (art. 48º, 112 e 227/2) e foi dito que não havendo nenhum artigo que o permita
ou que o proíba, poderia ser feito, foi mesmo referido que seria incorrecto que o povo somente
exercia o poder politico nos termos previstos na constituição, porquanto o povo estaria acima da
Constituição, o referendo pertencia ao Direito Natural, sendo anterior à Constituição.
O professor Jorge Miranda esclarece a questão dizendo que não basta proclamar um principio,
há que estabelecer o modo de o concretizar.
Como modo de exercício do poder, o referendo teria de estar previsto na constituição, não
poderia ser deduzido em abstracto. Se, numa situação destas, existisse um referendo para
alterar uma norma constitucional ou mesmo um aspeto tocante ao próprio processo não
seria uma revisão constitucional, estar-se-ia perante uma rutura ou revolução. O processo
de revisão não é feito atendendo às regras impostas pela constituição.
A situação mais tarde veio a ser esclarecida. nao só não existe referendo constitucional como
nenhum referendo pode realizar-se sem prévia verificação da sua constitucionalidade e
legalidade pelo Tribunal Constitucional (art, 115/8 e 223/2/f CRP).
Esta matéria está regulada a partir do artigo 284, nos preceito do titulo II da parte IV da CRP.
139
Direito Constitucional II 140
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A AR não está sujeita a um dever de audição dos órgãos de governo próprio regional
acerca do estatuto. (art.229/2);
A discussão dos projectos e a sua votação fazem sempre e necessariamente na
especialidade;
Tal votação e discussão ocorre necessariamente em plenário (só aí se consegue a
maioria de dois terços dos deputados em efetividade de funções);
No caso da revisão extraordinária quando não seja aprovada nenhuma norma preclude-
se a competência de revisão da AR porque a assunção de poderes de revisão aparece
funcionalizada a um resultado positivo e, se este não se obtém, tal assunção fica
desprovada de sentido;
Pelo contrário, no caso da revisão ordinária, a não aprovação não determina a preclusão,
porque a AR pode rever a Constituição decorridos cinco anos após a data de publicação
de qualquer lei de revisão ordinária (art. 284/1) e podem voltar a ser formulados projets
de revisão, embora, se forem com as mesmas alterações propostas, apenas na sessão
legislativa seguinte, salvo nova eleição da AR (art. 167/4);
As alterações da Constituição que forem aprovadas serão reunidas num único decreto
de revisão (art.286/2) e serão inseridas no lugar próprio da Constituição, mediante as
substituições, as supressões e os aditamentos necessários (art. 287/1);
A lei de revisão é publicada pelo PR (art.286/3) como lei constitucional (art.119/1 e
166/1);
O PR não pode recusar a promulgação da lei de revisão (art. 286/3) – atribuição
exclusiva ao Parlamento do poder de revisão e, depois, do regime de alterações;
A revisão constitucional não está sujeita a fiscalização preventiva da
constitucionalidade (art. 278/1). Salvo em caso de preterição dos requisitos de
qualificação;
A constituição não fixa um prazo de promulgação, a lacuna deve ser suprida com
recurso ao 136/2, segunda parte (promulgação obrigatória): o prazo deve ser de oito
dias;
A promulgação não carece de referenda ministerial;
A constituição, no seu novo texto, é publicada conjuntamente com a lei de revisãoo (art.
287/2);
Não pode ser praticado nenhum ato de revisão constitucional durante a vigência do
Estado de Sitio ou do Estado de Emergência (art.289);
O PR não está impedido de dissolver o Parlamento, não se prevê nenhuma restrição
(art.133/e e 172). Mas isso não pode servir para ele – que não tem poder de veto dos
decretos de revisão – bloquear uma revisão constitucional;
Para que um ato jurídico-publico em concreto produza os efeitos inerentes ao nome ou à forma
com que se apresenta, tem de preencher os requisitos definidores do tipo ou da categoria de atos
em abstracto que a norma prevê.
Assim, um ato só pode ser considerado revisão constitucional, na medida em que contenha os
elementos específicos da revisão. Estes elementos são verdadeiros requisitos de qualificação
sem os quais o ato será juridicamente inexistente como lei de revisão e apenas poderia
subsistir como lei ordinária, a qual, sendo oposta à Constituição, se tornaria
materialmente inconstitucional.
140
Direito Constitucional II 141
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Requisitos
A revisão constitucional é um ato intencional. Para que haja revisão tem de se manifestar a
intenção ou a finalidade de subsitituir, suprimir ou aditar normas formalmente constitucionais
(art. 287/1).
No Direito Português deve entender-se, por conseguinte, que, além da intenção de revisão, são
requisitos de qualificação da lei de revisão, os seguintes:
1. Órgão Competente – Só a AR pode fazer leis de revisão, e não qualquer outro órgão
(art.161/a e art. 284);
2. O Tempo de Revisão ou a Competência em Razão do Tempo – a AR só pode fazer a
revisão decorrido o prazo de cinco anos sobre a publicação anterior lei de revisão
ordinária (284/1) ou, antes de decorrido, quando tenha assumido poderes de revisão por
maioria de quatro quintos dos deputados em efetividade de funções (art.286/2CRP);
3. Anormalidade Constitucional – não pode ser praticado nenhum ato de revisão
constitucional na vigência do estado de sitio ou de estado de emergência, ou seja, com
desrespeito de limites circunstanciais de revisão (art.289) e, por conseguinte, fora do
pleno exercício de direitos, liberdades e garantias (art. 19º/8CTP);
4. A Maioria de Revisão – As alterações da Constituição têm de ser aprovadas por
maioria de dois terços dos Deputados em efetividade de funções (art. 286/1);
Se o PR considerar que falta um dos requisitos, deverá não promulgar, quando o ato provier d
Parlamento à margem das regras de competência. E deverá não promulgar e devolver o decreto
à Assembleia, nas demais hipóteses (não se trata de atribuir o poder de veto mas a possibilidade
de solicitar uma nova deliberação nos termos constitucionais).
Na opinião do professor Jorge Miranda, apesar do PR usufruir deste poder, nem por isso fica
precludida a fiscalização, concreta e abstracta da constitucionalidade nos termos gerais, mesmo
relativamente aos requisitos de qualificação.
Uma orientação diferente entende que o PR quando entendesse não estarem preenchidos os
requisitos de qualificação do decreto lei de revisão, qualificá-lo-ia como lei ordinária (e daí
poderia ser possoivel a fiscalização preventiva e o veto politico).
Porem, o professor Jorge Miranda refuta que o poder de qualificação inerente à promulgação
envolve a recusa da qualificação pretendida pela AR não a de, positivamente, atribuir uma
qualificação não querida pela Assembleia.
Esta questão tem sido, sem sombra de duvidas, uma das mais polémicas do constitucionalismo
português. Existem 3 grandes orientações:
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Direito Constitucional II 142
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Toda a Constituição tem uma lógica e uma ordenação e uma lógica sistemática que não pode ser
prejudicada, e isso não apenas num plano formal mas, muito mais, no aspeto da intima conexão
material que lhe dá sentido e que não pode ser ultrapassada nas reformas do texto. Segundo esta
perspectiva, a geração que adotou a Constituição tem o direito de vincular minimamente todas
as gerações posteriores por forma a impedir que cada uma delas vincule maximamente a que
imediatamente se segue.
Quem defende esta tese justificam-na na inexistência de uma diferença de raiz entre o poder
constituinte originário e o poder de revisão – ambos expressão da soberania do Estado e ambos
exercidos por representantes eleitos; e inexistência de uma diferença entre normas
constitucionais originárias e supervenientes – inseridas no mesmo sistema normativo – e a
inexistência de uma diferença entre normas constitucionais, todas elas constantes da mesma
Constituição formal.
Afirma-se a validade dos limites materiais explícitos, mas, ao mesmo tempo, entende-se que as
normas que os prevêem, como normas de Direito Positivo que são, podem ser modificadas ou
revogadas pelo legislador da revisão constitucional, ficando, assim, aberto o caminho para, num
momento ulterior, serem removidos os próprios princípios correspondentes aos limites. Nisto
consiste a tese da dupla revisão e do duplo processo de revisão.
As cláusulas dos limites materiais são possíveis, é legitimo ao poder constituinte decretá-las e é
forçoso que sejam cumpridas enquanto estiverem em vigor. Todavia, são normas constitucionais
como quaisquer outras e podem elas próprias ser objecto de revisão, com as consequências
inerentes.
142
Direito Constitucional II 143
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Logicamente necessários, os limites materiais não podem ser violados ou removidos, sob
pena de se deixar de fazer revisão para se passar a fazer Constituição nova. Mas uma coisa
é remover os princípios que definem a Constituição em sentido material e que se traduzem
em limites de revisão, outra coisa é alterar ou remover disposições especificas do
articulado constitucional que explicitam, num contexto histórico determinado, alguns
desses limites.
• Que a natureza do preceito é declarativa e não constitutiva (ele declara, não cria limites
materiais de revisão, estes decorrem da coerência dos princípios constitucionais);
• Que a sua função é de garantia;
• Que respeita a princípios e não a preceitos;
• Que é uma norma constitucional como outra qualquer, obrigatória enquanto vigorar mas
revisível;
• Que não é a revisão do artigo 288º que afeta os limites materiais de revisão, o que os
afeta é atingirem-se os princípios nucleares da Constituição;
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Direito Constitucional II 144
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O problema dos limites materiais de revisão reconduz-se, no fundo, ao traçar de fronteiras entre
o que vem a ser a função própria de uma revisão e o que seria já conversão em Constituição
diferente.
Estes limites são tao mais importante em constituição flexível do que numa constituição rígida.
Aí, a revisão pode dar-se quase inominadamente, mais necessário se torna aí tomar consciência,
e m cada instante, de quais os princípios vitais insuperáveis e elimináveis da ordem jurídico-
politica.
Não traduz isto uma desvalorização das cláusulas de limites materiais, das cláusulas que se
destinam, à partida, a explicitar limites implícitos na Constituição.
As normas constitucionais, como quaisquer outras estão sujeitas estão sujeitas a uma
interpretação evolutiva. É o entendimento que venha a ser prestado aos princípios que há-de
determinar o entendimento de tais normas, não o inverso; é na adesão da consciência jurídica
aos princípios da Constituição que reside a força dos limites, não nas normas de limites em si,
isoladamente.
Os limites materiais porque dirigidos a leis de revisão, são violáveis por açao, por contradição
dessas leis com os princípios a que correspondem.
Podem, também, ser violados por omissão. No Direito Português, inconstitucionalidade por
omissão da revisão constitucional teria sido a não extinção do Conselho da Revolução na
primeira revisão constitucional. O conselho da Revolução não poderia ter existido mais do que
em curto período sem brigar com a estrutura democrático-representativa do poder politico
instituído pela Constituição de 1976, e, se viesse a ficar para além dessa revisão, tudo seria
como se tal estrutura e, portanto, a Constituição material se transformasse noutra.
As normas de limites expressos não são logica e necessárias, necessários são os limites.
Estas normas são revisíveis do mesmo modo que quaisquer outras normas, são passiveis de
emenda, aditamento ou eliminação e até podem vir a ser suprimidas através de revisão. Não são
elas próprias limites materiais de revisão.
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Direito Constitucional II 145
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A despeito disso, há quem estenda à inconstitucionalidade material o regime dos vícios formais
e orgânicos que impedem a qualificação de certa lei como revisão, ficando habilitado então o
Presidente da Republica a não promulgar uma lei de dita revisão que contendesse com limites
materiais. E a recusa de promulgação tornar-se-ia possível porque a promulgação de uma lei de
revisão contrária aos princípios do artigo 288º seria uma quebra do juramento presidencial e um
atentado contra a Constituição.
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Direito Constitucional II 146
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Assim, se for caso disso, devem os tribunais, no uso de competência genérica, atribuída no
artigo 204º, apreciar a inconstitucionalidade das leis de revisão e não aplicar as normas dela
provenientes que infrinjam princípios materiais garantidos no artigo 288º, e incumbe ao TC
declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral e com os efeitos previstos no art.
282CRP.
Pode alegar-se que um controlo a posteriori não tem grande sentido, visto que, estando as novas
normas constitucionais já então vigentes, isso significaria que, quando correspondentes a
princípios fundamentais diversos do artigo 288º, afinal haveria uma nova constituição perante a
qual o juiz não poderia raciocinar como se ainda existisse anterior. Mas o problema é
exactamente esse: a fiscalização da constitucionalidade material da revisão serve para atalhar à
pretensão de efetividade da nova Constituição material escondida sob a forma de revisão, e, se
funcionar de facto, esta não virá a firmar-se ou a subsistir.
Artigo 284.º
Revisão Ordinária – Só pode ser feita 5 anos após a ultima revisão ordinária;
Revisão Extraordinária – A qualquer momento a AR pode assumir poderes
extraordinários de revisão, através de uma deliberação de 4/5 dos deputados em
efetividade de funções;
A revisão extraordinária, tirando os limites circunstanciais, pode ser feita a todo o tempo. Para
assumir estes poderes de revisão extraordinária tem de ser aprovada uma resolução por maioria
de 4/5 dos deputados em efetividade de funções.
Ou seja:
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Direito Constitucional II 147
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Limites Formais
▪ Artigo 285/1 – Para abrir o processo legislativo ordinário só os deputados
podem apresentar propostas – especialidade em relação à lei ordinária (art.
167/1)
▪ Art. 285/1 + 286/3 – A intenção é de concentrar na AR tudo o que respeita à
revisão constitucional, é a AR que faz e só ela, concentra a totalidade dos
poderes de revisão constitucional:
• Iniciativa (deputados);
• Aprovação (Presidente é obrigado a promulgar), não pode recusar nem
pedir a fiscalização preventiva, não faria sentido enviar para o TC
porque caso este considerasse inconstitucional o PR seria obrigado a
vetar (art. 279) e, à luz do artigo 286/3, não o pode fazer. Na opinião
do professor reis Novais também não faz sentido fazê-lo em sede
sucessiva, porque o TC iria fiscalizar a constitucionalidade de uma
norma que consta da própria constituição, não existiria qualquer
desconformidade, se está em vigor é essa que se tem de aplicar e vai
ser essa o parâmetro de fiscalização.
147
Direito Constitucional II 148
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Esta questão, ainda que muito rica e complexa do ponto de vista teórica, quando é transposta
para a prática perde alguma importância. Quando existe uma maioria de 2/3 que quer alterar
uma norma ela vai acabar por se alterada, a justificação teórica pode ser sempre construída. Por
exemplo, o artigo 34/4 esclarece que “é proibida toda a ingerência das autoridades publicas na
correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvo nos casos
previstos na lei em matéria de processo criminal”. Só se for aberto um processo criminal é
possível que se tenham acesso a estes dados. Atualmente, atendendo às novas circunstancias e
necessidades, discute-se se não será excessivo, existe até quem defenda o conhecimento dos
metadados, mas o artigo 34/4 é claro quando diz que é “proibida toda a ingerência”. Em 1976
esta situação fazia sentido, as circunstâncias eram diferentes. Uma revisão constitucional que
alterasse este artigo iria estar a afetar negativamente direitos fundamentais, logo seria
materliamente inconstitucional, contudo, mesmo nesta situação, é possível construir uma
justificação teórica, porque isto apesar de prima facie, afetar direitos de fundamentais, em
ultima instancia, tem, também, o objetivo de assegurar estes mesmos direitos fundamentais (por
exemplo, a segurança).
Não pode existir fiscalização preventiva, uma lei de revisão constitucional é obrigatoriamente
promulgada pelo PR, se fosse enviada ao TC e a decisão passasse pela inconstitucionalidade o
PR teria de vetar, quando não o pode fazer.
Na opinião do professor Reis Novais também não pode existir fiscalização sucessiva, depois da
promulgação a lei de revisão entra em vigor, a constituição foi alterada, o TC iria verificar se
era inconstitucional, não haveria parâmetro porque seria a própria constituição a ser avaliada.
Porem, para que a lei de revisão seja qualificada como tal ela tem de cumprir certos requisitos.
Se o PR verifica que falta um destes requisitos pode dizer que não é uma verdadeira lei de
revisão e, neste momento, não fica obrigado a promulgar. O que o artigo 286/3 diz é que o PR
não pode recusar a promulgação da lei de revisão.
Mas têm de estar em causa limites objectivos, o PR não pode recusar a promulgação por achar
que viola um direito fundamental, a matéria e a regulação não são limites de qualificação da
lei, são opinião jurídica. Não pode incidir sobre o conteúdo, quando está em causa apenas o
conteúdo e todos os demais requisitos são respeitados o PR está limitado.
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Direito Constitucional II 149
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Fiscalização Preventiva
Artigo 278.º
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Direito Constitucional II 150
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Artigo 279.º
Trata-se de uma fiscalização que incide sobre a eventual inconstitucionalidade de normas, mas
que atua numa fase prévia à respectiva entrada em vigor, uma fiscalização que intervém numa
fase antes das normas serem promulgadas.
No fundo, procura-se evitar que normas violadoras da constituição possam entrar em vigor e
produzir efeitos, gerando, até situações de facto, apesar da inconstitucionalidade. Procura-se,
desta maneira esclareceras dúvidas que existam quanto à constitucionalidade.
✓ O Primeiro Ministro;
✓ Um Quinto dos Deputados;
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Direito Constitucional II 151
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Uma vez que ocorre antes da promulgação e da publicação, incide sobre normas que ainda não
entraram em vigor.
Perante uma pronúncia de inconstitucionalidade por parte do TC, a constituição admite ainda
uma outra possibilidade: a insistência na confirmação da aprovação do diploma por uma
maioria de 2/3. Nesta situação, a solução do conflito (AR quer a entrada em vigor e o TC
julga inconstitucionalidade) é remetida para o PR, a quem cabe a arbitragem, ou seja, a
decisão final sobre se promulga ou não o diploma em causa.
▪ Promulgação;
▪ Veto;
▪ Fiscalização Preventiva da Constitucionalidade;
Artigo 281.º
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Direito Constitucional II 152
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Artigo 282.º
A pedido de várias entidades (mencionadas no artigo 281/2) o TC pode ser chamado a apreciar e
declarar a inconstitucionalidade de normas em vigor. Não se trata de se pronunciar sobre
eventuais duvidas de constitucionalidade, antes de as normas constitucionais serem
promulgadas, mas de chamar o TC a erradicar da ordem jurídica com fundamento em
inconstitucionalidade, normas que, em principio, estão em vigor e que a entidade que toma a
iniciativa considera serem inconstitucionais. Não há qualquer limitação de tempo ou
qualquer exigência que vem alegada, a norma pode estar em vigor à anos , pode ter sido
aplicada inúmeras vezes, em qualquer o TC pode ser chamado a apreciar a sua eventual
inconstitucionalidade e a declará-la inconstitucional.
Não são todavia atingidos, por razões de segurança jurídica próprias do Estado de Direito,
os casos que já tiverem sido julgados (art.282/3), ou seja, casos julgados com base em
normas que posteriormente venham a ser consideradas inconstitucionais não serão
afectados pela decisão de inconstitucionalidade, mas só desde que se trate de matéria penal
ou sancionatória e só desde que essa afectação acabe por ser mais favorável a quem sofreu
a sanção (art. 282/3).
Assim, não obstante os efeitos gerais e obrigatórios o TC pode ressalvar alguns efeitos já
produzidos, ou, pode determinar que, apesar da inconstitucionalidade, a norma continue a
produzir (alguns efeitos), por razões de segurança jurídica.
152
Direito Constitucional II 153
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por ultimo, o TC pode também apreciar e declarar com força obrigatória geral a
inconstitucionalidade de qualquer norma, mas agora por iniciativa de algum dos seus juízes ou
do Ministério Publico, desde que a norma em causa tenha já sido julgada inconstitucional pelo
TC em pelo menos 3 casos de fiscalização concreta de constitucionalidade (não há necessidade
de uma iniciativa externa).
Ou seja, neste caso, trata-se de verdadeira fiscalização da constitucionalidade (art. 281/3), mas
com a especificidade de ter sido desencadeada por facto de ter havido anteriores decisões de
inconstitucionalidade (pelo menos, 3) tomadas pelo TC em sede de fiscalização concreta.
Artigo 283.º
Este regime significa que o TC não pode ser chamado a verificar toda e qualquer
inconstitucionalidade por omissão, ou, tao pouco, qualquer omissão de norma, apenas a que seja
necessária para conferir exequibilidade a normas constitucionais.
Fiscalização Concreta
Dessas decisões respeitantes a inconstitucionalidade tomadas pelos tribunais, cabe, recurso para
o TC, mas o posterior julgamento que o TC venha a fazer incide exclusivamente sobre a questão
de constitucionalidade, vale somente para o respectivo caso concreto.
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Direito Constitucional II 154
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Balanço Geral
Os aspectos que, na opinião do professor Reis Novais carecem de uma reforma, são entre outros
e sobretudo o domínio do acesso dos particulares ao TC e da fiscalização concreta da
constitucionalidade.
A fiscalização preventiva tem um grande interesse prático, por um lado previne a entrada em
vigor das inconstitucionalidades mais grosseiras dos diplomas mais importante, mas, por outro
lado e sobretudo o de funcionar eficazmente como força preventiva dissuasora das tentações
conjunturais de menorização da força normativa da Constituição que sempre seduzem as
maiorias no poder. E ainda, relacionado com essa função, a fiscalização preventiva funciona
também como instrumento, em grande medida politico, de intervenção do PR no processo
legislativo.
De facto, quando apoiada por um Presidente firme e por um Tribunal Constitucional defensor da
constituição, a existência da possibilidade de recurso à fiscalização preventiva inibe com
efetividade a maioria politica de prosseguir os seus objectivos politico-eleitorais imediatos com
desrespeito das garantias constitucionais.
Porém, o desempenho desta função por parte da fiscalização preventiva depende muito da
atuação do PR, uma vez que nela assenta, praticamente quase em exclusivo, a iniciativa de
desencadear o processo. Se o PR se desvia dos fins que presidiram à consagração do instituto e
o transforma em mero meio de luta politica, seja a favor ou contra maioria parlamentar, seja,
ainda, para simples fins de afirmação de uma agenda politica pessoal, é a própria racionalidade
da fiscalização preventiva de constitucionalidade que é posta em causa. (páginas 29, 30,
exemplo de uma atuação negativa do PR, nomeadamente do Professor Cavaco Silva).
Nos feitos submetidos a julgamento não podem os tribunais aplicar normas que
infrinjam o disposto na Constituição ou os princípios nela consignados.
154
Direito Constitucional II 155
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Desta norma decorre que todos os juízes e todos os tribunais têm um acesso direto à
Constituição nos “feitos submetidos a julgamento”. Com efeito, na medida em que nesse
julgamento não podem aplicar normas inconstitucionais, será próprio a existência de uma
função judicial configurada para verificar se a norma utilizada num determinado caso é ou não
inconstitucional. Logo, o juiz competente para decidir a causa é também competente, qualquer
que seja o tribunal que integre, para decidir previamente, por iniciativa própria ou a pedido das
partes, se a norma potencialmente aplicável é ou não inconstitucional.
Este decisão é de tipo incidental, no sentido de que o objetivo da causa não é a decisão da
questão de constitucionalidade, não foi esse o problema principal que se colocou ao tribunal
decidir (a questão principal, o feito a ser julgado, pode ser de qualquer natureza, civil, penal,
laboral, fiscal, ou qualquer outra). O problema de inconstitucionalidade surge apenas
simplesmente como questão prévia, incidental. Só surge porque se levantaram duvidas sobre a
constitucionalidade da norma potencialmente aplicável ao caso, porque o próprio juiz ou alguma
das partes levantaram o problema.
Não podendo, nos termos do 204, aplicar normas inconstitucionais, ele fica obrigado a decidir,
expressa ou implicitamente, a referida questão de constitucionalidade, isto é, tem de decidir se a
norma em causa é ou não inconstitucional:
Por outro lado, podendo surgir em qualquer processo, a questão de inconstitucionalidade pode,
também, ser suscitada em qualquer momento do processo e em qualquer instância, havendo
eventualmente lugar a recurso para os tribunais superiores.
Neste sentido, em Portugal, todos os juízes, dos tribunais de primeira instância ou dos tribunais
superiores, também, são de algum modo juízes constitucionais, não apenas porque conhecem
das questões de constitucionalidade, mas também porque as decidem.
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Direito Constitucional II 156
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Da conjugação do artigo 280º CRP com o artigo 70ºLOTC podem retirar-se algumas conclusões
que ajudam a esclarecer o regime de fiscalização concreta da constitucionalidade (ou de
legalidade) quanto ao regime de recursos.
✓ Para que haja recurso terá de haver previamente decisão, então uma primeira condição é
que essa questão tenha sido anteriormente expressamente colocada ao juiz comum para
este decidir. Por outras palavras, não se pode ir para o TC sem que a questão de
constitucionalidade tenha sido suscitada, discutida e decidida durante o processo.
Assim, desde que objectivamente, o particular não tivesse tido oportunidade processual
de invocar a inconstitucionalidade ou não tivesse tido a possibilidade de antecipar
razoavelmente que uma dada norma seria aplicável ao processo, aí, e só nesses casos, o
TC aceita excecionalmente um recurso mesmo depois de o juiz da causa ter esgotado a
possibilidade de conhecer e decidir, ele próprio, essa mesma questão.
✓ Para efeitos de possibilidades de recurso da decisão do tribunal comum para o TC.
Pode-se, então, distinguir dois grandes tipos de decisão do tribunal comum, sendo de
notar que aquilo que conta é sempre a ultima decisão (ou seja, tendo havido recursos
para tribunais superiores o que conta é a decisão do tribunal superior). Podem dividir-se
em dois grupos se situações relevantes:
▪ Grupo I – a decisão do tribunal comum é uma decisão de recusa de aplicação
da norma (recusa fundamentada de inconstitucionalidade);
▪ Grupo II – a decisão do Tribunal é uma decisão de aplicação da norma (porque
explicita ou implicitamente a considerou inconstitucional).
O que conta é a ultima decisão e essa ultima decisão terá necessariamente uma
decisão de recusa ou uma decisão de aplicação da norma.
✓ Se o juiz recusou a aplicação da norma (Grupo I) importa considerar 2 hipóteses:
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Direito Constitucional II 157
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
✓ Se a situação se enquadrar no Grupo II, ou seja uma situação que se diria normal, a
aplicabilidade de uma norma em vigor (porque considerou não haver
inconstitucionalidade), nesta situação há duas situações:
▪ Subtipo 3 - Ou a norma aplicável já foi anteriormente julgada inconstitucional
pelo TC; verificando-se esta situação há recurso para o TC (quem se sentir
prejudicado pode requerer e o Ministério Publico fica obrigado a recorrer (art.
280/1/5/b);
▪ Subtipo 4 – Ou isso ainda não aconteceu, a norma ainda não foi julgada
inconstitucional; verificando-se o segundo caso, só pode recorrer para o TC a
parte que tenha suscitado a inconstitucionalidade durante o processo (art.
280/1/b e 4) e só pode fazer depois de estarem esgotados os recursos ordinários
que couberem na situação segundo a lei do processo aplicável;
A diferença do regime explica-se facilmente. O que se espera é que o Tribunal aplique
uma norma em vigor, pelo que a filtragem para o TC deverá ser maior, de outro modo, o
TC acabaria por resolver todos os processos. Assim para se poder recorrer para o TC
têm de estar esgotados os recursos ordinários e, segundo, só pode recorrer a parte que
tiver suscitado a inconstitucionalidade durante o processo.
Já se a norma em causa foi anteriormente julgada inconstitucional (subtipo 3), surge
uma situação de insegurança motivada pelo facto de um juiz comum não seguir,
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Direito Constitucional II 158
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Se o TC julgar uma norma inconstitucional, embora ela permaneça em vigor, qualquer decisão
judicial que a aplique será obrigatoriamente recorrida pelo Ministério Publico para o TC. Em
todo o caso, como não foi declarada a inconstitucionalidade com força obrigatória geral, e até
que o seja, permanecerá em vigor e a poder ser legitimamente aplicada por outros juízes em
outros processos e a ser observada pela Administração e pelos particulares.
E, por ultimo, é importante reforçar que apesar do TC ter julgado uma norma inconstitucional
em fiscalização concreta, num processo, não significa nem nada garante, que a decisão do TC
sobre a inconstitucionalidade da norma se mantenha quando o TC apreciar de novo a questão,
em sede concreta ou abstracta.
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Direito Constitucional II 159
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
É a partir desta modalidade de fiscalização que os particulares podem ter algum acesso à justiça
constitucional para protecção dos seus direitos e interesses.
A única via que os particulares dispõem para assegurar a sua tutela junto do TC é
exclusivamente através do recurso das decisões dos tribunais comuns, através, da fiscalização
concreta.
O recurso de inconstitucionalidade para o TC não tem a ver com a decisão judicial, não respeita
a uma eventual violação de direitos constitucionais dos particulares ou da Constituição por parte
da sentença, mas incide exclusivamente sobre a eventual inconstitucionalidade de normas em
vigor: ou da norma ordinária cuja aplicação foi recusada com fundamento em
inconstitucionalidade ou da que foi aplicada apesar de se ter suscitado a respectiva
inconstitucionalidade durante o processo.
Por outro lado, em fiscalização concreta também não pode ser invocada a inconstitucionalidade
pela omissão de normas. A omissão legislativa pode eventualmente ser invocada no plano da
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Direito Constitucional II 160
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Este é um aspeto que distingue o modelo de fiscalização dos tribunais portugueses dos restantes
tribunais europeus.
A segunda característica distintiva tem que ver com a relação que se estabelece entre o TC e os
tribunais comuns nas decisões de constitucionalidade.
Apesar do TC ter sido criado com o objetivo de administrar a justiça em matérias de naturea
jurídico-constitucional, os tribunais comuns conservaram a competência , não apenas de
conhecerem de questões de constitucionalidade mas também de as decidirem.
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Direito Constitucional II 161
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
mesmo assim, noutros processos, o mesmo juiz ou outros juízes podem continuar a
recusar-se a aplicar a norma com fundamento na sua pretensa inconstitucionalidade.
Uma terceira nota distintiva é a da facilidade relativa com que os particulares podem chamar o
TC a intervir e a decidir.
Assim, uma norma pode estar em vigor e ser aplicada há dezenas de anos e um particular pode
invocar relativamente a ela, como fundamento legitimo de recurso ao TC, uma qualquer
inconstitucionalidade, não apenas material, mas também inconstitucionalidade formal ou
orgânica. O único requisito é que se trate de norma aplicável ao caso e que o juízo de
inconstitucionalidade que sobre ela recaia releve para a decisão material do feito em julgamento
da eventual inconstitucionalidade da norma, pressupondo, que “nos feitos submetidos a
julgamento não podem os tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na Constituição ou
os princípios nela consignados.” (art. 204)
Quando o TC, em fiscalização concreta, julga uma norma inconstitucional, isto é, considera que
é desconforme à Constituição, a sua decisão só produz efeitos no caso concreto.
Ou seja, a norma não pode ser aplicada naquele caso, mas, logo a seguir, no mesmo ou noutros
tribunais, pode continuar a ser aplicada, tudo depende do juízo, expresso ou implícito, de
constitucionalidade que sobre essa norma faça o juiz da causa. A anterior do TC não o vincula.
Nem a sua vigência nem a aplicabilidade geral é afetada. É certo que não se aplica no caso
concreto que determinou o recurso para o TC, mas continua em vigor e, sobretudo, pode
continuar a ser aplicada noutras situações, inclusivamente no mesmo tribunal, desde que noutros
processos assim o decidam os respectivos juízes.
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Direito Constitucional II 162
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Em tese, uma norma pode ser sucessivamente julgada inconstitucional pelo TC em casos
concretos, mas, se ninguém tomar a iniciativa de a levar ao TC em sede sucessiva abstracta, ela
permanecerá pacificamente em vigor e a ser aplicada.
Da mesma forma, se pode verificar a situação inversa, ou seja, uma norma não é considerada
inconstitucional pelo TC e, todavia, não obstante essa posição eventualmente reiterada do órgão
encarregado de administrar a justiça constitucional, todo e qualquer juiz se pode recusar a
aplica-la com fundamento em inconstitucionalidade.
Uma norma aplica-se a um cidadão e, no mesmo dia, numa situação exactamente igual, vê a sua
aplicação recusada, independentemente de qual seja a posição que sobre ela tenha tomado o TC.
Isto é, o TC toma uma posição sobre a constitucionalidade de uma norma, mas o cidadão não
tem qualquer garantia que essa posição seja efectivamente seguida pelo juiz de outro processo.
Poderia, ainda assim, considerar-se que é apenas uma questão de tempo, já que, de outra forma,
a questão chegará de novo ap TC e este órgão reportará a normalidade e unidade do sistema
jurídico. Nem sempre, porém. Nada obriga o TC a manter a posição anterior.
Nem se pense, por ultimo, que se trata de uma hipótese de mera especulação ou exercício
puramente académico sobre hipóteses de viabilidade prática nula ou existente ou, tao pouco, de
ocorrências que se podem ter verificado no passado, mas que hoje, após as alterações
verificadas na Lei Orgânica do Tribunal Constitucional, estariam já definitivamente
ultrapassadas.
Após a revolução e quando Portugal chegou à democracia, havia já dois modelos de fiscalização
da constitucionalidade bastantes estabilizados.
Por sua vez, o mais recente criado modelo europeu, assentava na instituição de um órgão
exclusivamente responsável pela administração da justiça constitucional, a quem se atribuía a
garantia derradeira dos direitos fundamentais.
Enquanto que o modelo americano se desenvolve desde o século XIX pelos diferentes estados
da América latina e alguns poucos países europeus (entre os quais Portugal, sobre a vigência da
Constituição de 1911), o chamado modelo europeu desenvolve, sobretudo a partir do seculo
passado, uma enorme força junto dos novos Estados constitucionais que integram as sucessivas
vagas de democratização na Europa, África, Ásia e na América Latina.
162
Direito Constitucional II 163
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Modelo Americano
Neste modelo, todos os juízes, de todos os tribunais, são considerados juízes constitucionais, no
sentido de que conhecem e decidem questões de constitucionalidade.
Na sua logica, quando tem uma questão jurídica para resolver e se confrontam com a
aplicabilidade ao caso de normas jurídicas opostas, eles têm uma decisão preliminar a tomar
sobre qual a norma que deve ser aplicada. E aí, todos os Estados de Direito têm normas ou
critérios jurídicos para a resolução do problema (por exemplo, norma posterior derroga norma
anterior ou norma especial prefere sobre norma geral).
Mas, entre esses critérios há também aquele segundo o qual norma superior ou hierarquicamente
superior prevalece sobre norma inferior.
Aquilo que acontece na relação entre norma jurídica constitucional e norma jurídica
infraconstitucional é essa relação de preferência, enquanto norma suprema de qualquer Estado
de Direito com Constituição em sentido formal, deve prevalecer sobre as normas
infraconstitucionais que eventualmente disponham contra ela ou tenham sido aprovadas em
infracção constitucional.
Assim, qualquer juiz, dentro dos parâmetros da função judicial, deve desaplicar a norma
ordinária inconstitucional mas, previamente, necessita de verificar se há desconformidade da
norma ordinária relativamente aos parâmetros constitucionais, ou seja, deve proceder a uma
fiscalização e decidir uma questão de constitucionalidade.
Não o faz a título principal mas incidental, a questão de constitucionalidade surge como
incidente no curso de um processo tendente à resolução de uma lide e a fiscalização a que
procede é uma fiscalização concreta, nascida e orientada funcionalmente para a resolução de um
caso concreto. É também uma fiscalização difusa porque integra as funções e competências de
todos os juízes mas está sujeita a recurso para os tribunais, superiores e, em ultima análise para
o Supremo Tribunal.
E apesar dos tribunais superiores e do Supremo Tribunal estarem só a decidir o recurso de uma
decisão de caso concreto, a posição que assumirem adquire força de precedente na respectiva
jurisdição, apesar de ser uma decisão tomada no caso concreto, dispõe de força obrigatória geral
e passa a ser seguida por todos os tribunais (na ausência de uma cultura jurídica de
reconhecimento do precedente por alguns países que adotaram este modelo, foram instituídos
outros mecanismos constitucionais que procuram alcançar efeitos análogos, por exemplo, a
súmula vinculante no Brasil).
Modelo Europeu
163
Direito Constitucional II 164
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A Constituição só passou a ser encarada como uma verdadeira norma jurídica na Europa após a
Segunda Guerra Mundial. Até aí, a constituição era documento de referencia politica, podia
eventualmente ser considerada norma organizatória dos poderes públicos, mas sobretudo no que
se referia a toda a parte dos direitos fundamentais, nunca norma jurídica aplicada pelos juízes.
Para além da Constituição não ser verdadeiramente assumida como uma norma jurídica, a
ausência da regra do precedente judicial nas ordens jurídicas europeias contribui para afastar a
ideia de importação para a Europa do modelo de justiça constitucional americano, visto como
governo de juízes incompatível com os quadros de uma democracia representativa assente no
voto popular e na legitimidade das assembleias representativas.
Assim, o modelo de justiça constitucional europeu é algo radicalmente novo que, assente na
atribuição exclusiva de competências nesse domínio ao TC, assume como atribuição principal a
garantia dos direitos fundamentais e dos princípios materiais estruturantes das ordens de Estado
de Direito.
Nessa altura, ao TC não cabe a apreciação ou decisão do caso concreto mas apenas a decisão
sobre a constitucionalidade da norma em causa que, sendo eventualmente considerada
inconstitucional, não só é consequentemente desaplicada do caso concreto como é erradicada da
ordem jurídica.
Por outro lado, a protecção dos direitos fundamentais contra quaisquer normas ou atos
violadores das garantias constitucionais dos cidadãos faz-se através dos institutos da queixa
constitucional ou do recurso de amparo, através dos quais os cidadãos, em geral após
esgotarem a via judicial comum, acendem directamente ao TC para garantia dos direitos que
consideram violados ou desconsiderados, por acção ou por omissão pelo legislador, pela
administração, pelos tribunais ou pelos outros particulares.
164
Direito Constitucional II 165
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Parte da doutrina entende que o sistema português apresenta características bastante positivas
por ser por ser o resultado de uma confluência natural de duas ordens distintas, mas
convergentes: a da manutenção do legado histórico do constitucionalismo português
(manutenção da conservação da fiscalização judicial difusa oriunda do modelo americano)
combinada com a modernização introduzida pela inserção europeia da Constituição
portuguesa (de onde resultaria a criação do TC responsável pela fiscalização concentrada).
Dessa junção teria resultado a constitucionalidade que combinaria, de forma criativa, tradição e
modernidade.
Na opinião do professor Reis Novais, a construção do sistema português tem uma visão menos
idílica, a dita singularidade do sistema português é explicada pelos acidentes próprios do tempo
conturbado em que a Constituição de 1976 foi preparada e aprovada.
Os traços essenciais do sistema de fiscalização têm as suas origens claramente marcadas pelo
conteúdo da segunda Plataforma de Acordo Constitucional (Fevereiro de 1976), celebrada entre
MFA e partidos.
Inicialmente, tudo apontava para a adoção do modelo europeu. Esse era o modelo apontado pela
maioria dos partidos nos diferentes projectos de constituição e o modelo defendido pela maioria
da doutrina, como foi igualmente esse o sentido da proposta que o Conselho da Revolução
apresentou aos partidos políticos.
por outro lado, o TC não ficava limitado exclusivamente a fiscalização de normas, uma vez que
o recurso respeitava a quaisquer atos, pelo que, de algum modo, se configurava
embrionariamente o que poderia ser um posterior desenvolvimento de um recurso de amparo.
Não foi, no entanto, o que viria a ocorrer. De forma surpreendente (dada a convergência de
opiniões teóricas), houve, da parte do PPD, uma oposição a esta configuração, não por razoes de
opção estratégica, não por uma diferente visão do que deveria ser a justiça constitucional, mas
sustentada simplesmente no receio conjuntural de uma intervenção excessiva do Conselho da
Revolução neste domínio.
165
Direito Constitucional II 166
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Com base nesse receio, a proposta do PPD orientou-se para a entrega das questões de
constitucionalidade aos próprios juízes dos tribunais comuns, ainda que com recurso para um
tribunal especial, mas só nos casos em que os juízes recusassem a aplicação de normas em vigor
com fundamento em inconstitucionalidade.
Acabou por ser este modelo adotado e que subsiste até hoje, substituindo-se apenas o referido
tribunal especial por uma Comissão Constitucional a que se seguiria, naturalmente o TC (1982).
A base de adoção deste sistema foi simplesmente o receio imediatista e conjuntural de uma
intervenção excessiva dos militares por parte de um partido politico que deu origem ao sistema
actual.
E foi dessa forma que se chegou no nosso sistema de fiscalização concreta a três características
principais:
Por exemplo, imagine-se que um tribunal condena alguém à morte. Foi violada uma das
normas constitucionais centrais do sistema jurídico. Porem, não se tratando de uma norma o
TC não pode intervir.
166
Direito Constitucional II 167
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Mas, como de qualquer destas ultimas palavras é possível recorrer para o Tribunal Europeu dos
Direitos do Homem (TEDH).
167
Direito Constitucional II 168
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Normas e Disposições
168
Direito Constitucional II 169
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
recorrida a adoção de um critério normativo (ao qual depois se subsume ao caso concreto em
apreço) com carater de generalidade e, por isso, susceptível de aplicação a outras situações,
enquanto, na inconstitucionalidade em relação à norma em si está em causa a aplicação de
critérios normativos.
A norma impugnada não tem de ser uma norma explicita, pode ser uma norma implícita.
Normas e Factos
O juízo de inconstitucionalidade previsto nos artigos 277 e seguintes é um juízo sobre normas.
A questão de inconstitucionalidade é uma questão de direito, e não de facto.
Todavia, os Tribunais não podem deixar de atender aos factos que são pressuposto de aplicação
das normas às situações de vida por eles regulada e às consequências que podem advir da
decisão de inconstitucionalidade. É o que se passa:
Apesar de não ser a opinião do professor Jorge Miranda, o TC adotou uma noção funcional de
lei, de acordo com o qual todo o preceito inserido em ato legislativo, mesmo se individual e
concreto, é passível de controlo pelos órgãos específicos de fiscalização.
Decerto, os atos políticos ou de governo devem ser confrontados com a Constituição para serem
válidos (art. 3º/3) e podem ser apreciados pelo Parlamento (162º/a)).
Quanto aos atos e contratos administrativos eles podem ser inconstitucionais por violação de
normas da Constituição (art. 266/2). Isto não leva, porém, à integração do conteúdo
administrativo e do contencioso constitucional. Atos administrativos inconstitucionais são
sindicados perante os tribunais administrativos e não em sede de fiscalização da
constitucionalidade, circunscrita a normas jurídicas (artigo 277/1).
Quanto às decisões judiciais, o meio próprio de impugnação consiste no recurso para Tribunal
Superior. O próprio recurso para Tribunal Constitucional na fiscalização concreta (artigo 280)
não se fundamenta em inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma decisão, mas sim em
inconstitucionalidade ou ilegalidade da norma aplicada ou não aplicada.
169
Direito Constitucional II 170
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Contratos normativos;
Estatutos de associações e fundações;
Pactos sociais;
Regulamentos internos de pessoas colectivas privadas;
Normas deontológicas e normas técnicas;
Âmbito da Fiscalização
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Direito Constitucional II 171
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Uma norma pode ser simultaneamente inconstitucional por violação direta de uma norma da
Constituição, e ilegal, por violação de uma lei de valor reforçado.
Mas o âmbito de fiscalização não é idêntico relativamente às normas jurídicas seu objeto:
A ilegalidade por infracção por norma de Direito interno de normas de Direito da União
Europeia;
A ilegalidade por infracção de normas dimanadas de órgão da UE ou de qualquer
organização internacional de normas dos respectivos tratados institutivos;
A ilegalidade de normas regulamentares fora da hipótese contemplada na Constituição
(infracção direta de estatuto político-administrativo regional por regulamento emanado
de órgão de soberania ou de órgão regional).
Salvo na fiscalização preventiva não há prazos para provocas a abertura de qualquer processo de
fiscalização, independentemente da data de emanação da norma. Seja na concreta, seja na
abstracta sucessiva, por acção ou por omissão, a questão de inconstitucionalidade pode ser
suscitada a todo o tempo, inclusive, depois do TC, em momento anterior, se ter pronunciado
pela não inconstitucionalidade ou a não ter declarado.
Matéria diferente é a dos prazos para recorrer da decisão em que tenha sido suscitada a
inconstitucionalidade na fiscalização concreta, bem como a dos demais prazos previstos na lei
processual.
171
Direito Constitucional II 172
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Modalidades de Fiscalização:
Fiscalização Concreta
O cunho muito peculiar do actual sistema português não obsta à relevância da decisão do TC
para além do caso concreto:
Porque cabe recurso de decisão de qualquer tribunal que aplique norma anteriormente
julgada ilegal ou inconstitucional pelo TC (art.280/5 e 2);
Porque quando o TC julga 3 vezes inconstitucional ou ilegal a mesmo norma, pode, de
seguida, ser desencadeado um processo (de fiscalização abstracta) com vista à
declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade com força obrigatória geral
(artigo 281/3);
172
Direito Constitucional II 173
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Todos os tribunais, seja qual for a sua categoria (artigo 209º) exercem fiscalização, a
qual implica apreciação e não simplesmente a não aplicação;
Todos os juízes são necessariamente juízes constitucionais e não apenas os juízes do
TC;
A fiscalização dá-se nos feitos submetidos a julgamento, nos processos em curso em
tribunal, incidentalmente, não a título principal;
Ninguém pode dirigir-se a tribunal a pedir a declaração de inconstitucionalidade de uma
norma;
A questão de inconstitucionalidade só poe e só deve ser conhecida e decidia na medida
em que haja um nexo incindível entre ela e a questão principal objeto do processo, entre
ela e o feito submetido a julgamento;
Não se desenvolve por outro tribunal, a questão vai ser cumulada com a questão objeto
do processo e cujo julgamento cabe ao mesmo tribunal, não se desenvolve para outro
processo ou para outro tribunal;
O juiz conhece da questão em qualquer fase do processo e, por conseguinte, a sua
decisão pode não ser uma decisão final;
A questão tanto pode ser suscitada na primeira instância como em recurso;
O juiz, dado que não está sujeito à invocação da inconstitucionalidade por uma das
partes, não tem de aplicar normas que repute inconstitucionais;
A inconstitucionalidade não fica à mercê das partes, porquanto ambas as partes se
podem amparar numa lei inconstitucional, dando-lhe ou não interpretações diferentes;
O juiz não tem de não aplicar sempre a mesma lei por a julgar inconstitucional;
Mesmo que nenhuma das partes tenha invocado a inconstitucionalidade, a não aplicação
de uma norma, com esse fundamento, pelo tribunal da causa abre a possibilidade (artigo
280/1/a)) ou a obrigatoriedade (artigo 280/3) de recurso para o TC;
A não aplicação da norma julgada inconstitucional implica a aplicação da norma
anterior que aquela haja revogado; e na sua falta, ou por ela se mostrar também
inconstitucional ou por se tratar de inconstitucionalidade superveniente, a necessidade
de integrar a lacuna de acordo com os critérios gerais (artigo 8/1 e 10 CC).
173
Direito Constitucional II 174
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A recusa da aplicação não tem que ser expressa, pode ser uma recusa implícita, quando a
decisão do tribunal extrai consequências correspondentes ao julgamento da norma como
inconstitucional ou ilegal.
No caso do terceiro tipo de recurso mencionado tem de se verificar uma dupla relação de
identidade:
▪ Em primeiro lugar, exige-se que a norma que o recorrente quer ver apreciada tenha sido
efectivamente aplicada pela decisão recorrida, como a sua ratio decidendi;
▪ Em segundo lugar, tem de haver identidade entre a norma efectivamente aplicada na
decisão recorrida e a norma anteriormente julgada inconstitucional pelo TC, não
bastando que possa ser sustentado que as mesmas razões que levaram a julgar
inconstitucional determinada norma justificariam que juízo de igual sentido fosse
formulado a propósito da norma aplicada na decisão recorrida.
Em todas estas hipóteses, afirma-se a supremacia do TC, ou seja, se a primeira palavra pode
pertencer a qualquer tribunal, a ultima palavra vai ser sempre do TC.
O TC apensas pode considerar a norma ou a interpretação normativa que tenha sido utilizada
pelo tribunal recorrido como ratio decidendi, sendo inteiramente inútil a pronuncia que recaia
sobre uma norma ou dimensão normativa que não tenha sido efectivamente aplicada ou sobre
questões que não tenham sido decididas na decisão recorrida. Nem lhe cabe censurar os
termos em que foi aplicado o Direito infraconstitucional pelo tribunal recorrido, nem
aferir a validade do juízo formulado pela decisão recorrida quanto à subsunção dos factos
ao Direito.
Os recursos ali previstos só podem ser interpretados pela parte que haja suscitado a questão de
inconstitucionalidade de modo processualmente adequado perante o tribunal que tenha proferido
a decisão recorrida, em termos de este ser obrigado a dela conhecer (artigo 72/3 LOTC); e só
pode ser interposto pela parte que haja suscitado a questão antes de esgotado o poder
jurisdicional do juiz sobre a matéria em causa.
174
Direito Constitucional II 175
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
As partes devem ter em conta os vários conteúdos plausíveis e aplicáveis ao caso e prever que o
tribunal poderá aplicar o menos favorável para a sua posição para virem a suscitar a
inconstitucionalidade desse conteúdo antes de o juiz proferir a decisão final.
Pode, com efeito, suceder que o interessado não tenha disposto de oportunidade processual de
arguir a inconstitucionalidade, por não poder ou não lhe ser exigível prever a aplicação da
norma. E, em tais casos excecionais o TC tem admitido, diversas vezes, o recurso, dispensando
o recorrente do ónus da suscitação prévia.
▪ O interessado não teve a possibilidade de suscitar a questão em virtude de lhe não ter
sido dada oportunidade para intervir no processo antes da decisão;
▪ Tendo intervindo, a questão de inconstitucionalidade só pode colocar-se perante um
circunstancialismo ocorrido já após a sua ultima intervenção processual e antes da
decisão;
▪ Ao interessado não foi exigido pelo TC que antevisse a possibilidade de aplicação da
norma ao caso concreto, de modo a impor-lhe a obrigação de suscitar a questão antes
da decisão.
Os requisitos previstos no nº1, alínea b), e nº 4 do artigo 280º vale, paralelamente, para os
recursos admitidos no nº5, quando o recorrente seja a parte vencida. Salvo as exceções
mencionadas ele deve ter suscitado a questão de inconstitucionalidade da norma julgada
inconstitucional pelo TC durante o processo.
Problema diferente vem a ser o de, em caso de recurso, haver ou não o ónus de recolocar a
questão de inconstitucionalidade.
O TC tem vindo a oscilar quanto a esta situação, por vezes defende que é necessário que a
inconstitucionalidade seja suscitada também perante o tribunal de recurso e, noutras
circunstâncias defende que nos casos em que a parte já havia colocado a questão de
inconstitucionalidade e a passou a ser recorrida numa instância superior não é exigível que
suscite de novo a questão de inconstitucionalidade.
Na opinião do professor Jorge Miranda, afigura-se preferível, tendo em conta, de novo, a ideia
de protecção dos particulares e ainda razoes de lógica interna do sistema o segundo
entendimento.
O que acontece se um tribunal qualquer aplica uma norma que o Tribunal Constitucional
tenha declarado inconstitucional ou ilegal com força obrigatória Geral?
175
Direito Constitucional II 176
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Objeto do Recurso
Podem recorrer para o TC o Ministério Público e as pessoas que, de acordo com a lei reguladora
do processo em que a decisão foi proferida, tenham legitimidade para dela interpor recurso /art.
72/1 LOTC), entendendo-se como tais, as partes que tenham ficado vencidas (art. 680/1 CPC).
Se ambas as partes tiverem ficado vencidas, cada uma delas poderá recorrer na parte em que lhe
for desfavorável.
Pelo contrário, o pendor subjectivista fica reforçado quando se trate de recursos de decisões que
apliquem normas cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido suscitada durante o
processo. Aqui só pode recorrer a parte que a haja suscitado (artigo 280/4 CRP e 72/2 LOTC).
Após ter julgado inconstitucional ou ilegal uma norma, o TC pode decidir em sentido diverso,
ou pode haver divergência entre as duas secções. Nem por isso fica afastado o pressuposto do
artigo 280/5.
176
Direito Constitucional II 177
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quando a norma cuja aplicação tenha sido recusada, por inconstitucionalidade ou por
ilegalidade, conste de convenção internacional, de ato legislativo ou de decreto
regulamentar (Art. 280/3 CRP e 72/3 LOTC); apesar de não estarem incluídas as leis de
revisão, o professor Jorge Miranda defende que elas são abrangidas pela ratio do
preceito;
Quando seja aplicada norma anteriormente julgada inconstitucional ou ilegal pelo TC
(art. 280/5), norma anteriormente julgada inconstitucional pela Comissão Constitucional
(art.72/3) ou norma anteriormente julgada contrária à convenção internacional pelo TC
(art. 72/3);
Por maioria de razão, quando seja aplicada norma declarada inconstitucional com força
obrigatória geral pelo TC (recurso atípico);
Alcance da Decisão do TC
Se for dado provimento ao recurso, ainda que só parcialmente, os autos baixarão ao tribunal de
onde provieram a fim de que este, consoante o caso, reforme a decisão ou a mande reformar em
conformidade com o julgamento da questão de inconstitucionalidade ou de ilegalidade (art.
80/2).
O TC não substitui a decisão recorrida por aquela que deveria ser emitida.
É um sistema intermédio. O TC ordena ao tribunal recorrido que profira nova decisão com o
conteúdo por ele prefixado.
O que acontece se o tribunal a quo não respeita o decidido em acórdão de provimento do TC?
A verificar-se tal hipótese, ela corresponde a violação de caso julgado e deve admitir-se a
possibilidade de uma reacção da parte afetada por esse incumprimento para o TC, uma forma de
recurso atípico, paralela ao recurso em caso de aplicação de norma declarada inconstitucional
com força obrigatória geral.
177
Direito Constitucional II 178
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Pedido de fiscalização:
Nos órgãos de iniciativa há, ainda, que distinguir entre órgãos políticos, por um lado, e Provedor
de Justiça e Procurador-Geral da Republica, por outro lado.
Na fiscalização preventiva, o órgão com legitimidade para a requerer não tem, necessariamente
de sustentar a inconstitucionalidade da norma. Basta fundamentar o pedido em duvidas
razoáveis que podem ser só dele ou da comunidade jurídica.
Os particulares não têm acesso direto à fiscalização abstracta. O que eles podem é exercer o seu
direito de petição perante qualquer órgão de iniciativa, seja para a defesa dos seus direitos, seja
para a defesa da Constituição (art.52/1). Os órgãos de iniciativa tanto podem agir livre e
espontaneamente ou oficiosamente quanto em consequência de petições de cidadãos ou de
grupos de cidadãos.
Em qualquer das hipóteses, o órgão que requer a apreciação tem de assumir o pedido como tal,
tem de expressar claramente a vontade de requerer a pronuncia ou a declaração de
inconstitucionalidade, tem de marcar uma posição, não se reduzindo a mera instancia de trânsito
e de processamento de petições dos cidadãos.
O Principio do Pedido
O Processo só se inicia sob o impulso da parte, mediante o respectivo pedido e não sob
o impulso do próprio juiz/ Necessidade de iniciativa de pedido para que o processo seja
aberto;
As partes é que circunscrevem o tema a decidir/Fixação do objeto do processo – a
constitucionalidade ou legalidade das normas a apreciar – pelo pedido;
178
Direito Constitucional II 179
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O principio do pedido implica para o requerente o duplo ónus ou a especificação das normas
cuja apreciação se pretende e de especificação das normas constitucionais (ou legais) violadas
(51º/1 LOTC).
Só com a determinação das normas infraconstitucionais e a das normas constitucionais que lhe
servem de parâmetro, fica estabelecido o objeto do processo de inconstitucionalidade.
Da mesma forma que ocorre na fiscalização concreta, aqui, o juiz pode fundamentar o seu juízo
e a sua decisão em normas constitucionais diversas das invocadas no pedido (51/5 LOTC).
Se tem de haver sempre uma fundamentação do pedido, não tem esta que ser acolhida pelo
Tribunal para que pronuncie ou declare a inconstitucionalidade ou a ilegalidade. Pode
pronunciá.la ou declará-la com base em normas constitucionais ou legais diferentes das
aduzidas no pedido. O que não pode é pronunciar-se ou declarar a inconstitucionalidade ou a
ilegalidade de normas cuja apreciação lhe não seja requerida.
E porque a fiscalização é de normas e não de diplomas, se uma norma estiver contida em dois
diplomas, a eventual declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade abrange tal norma
em todos os diplomas em que esteja contida.
O professor Jorge Miranda entende que se o TC for chamado a apreciar a legalidade de uma
norma por contrariar lei de valor reforçado pode considera-la inconstitucional quando for caso
disso (artigo 204ºCRP).
Na fiscalização preventiva, pela natureza das coisas, a norma impugnada não pode ser aplicada,
porque ainda não em vigor.
Admitindo o pedido, o presidente do Tribunal notifica o órgão que tiver emanada a norma
impugnada para, querendo, se pronunciar sobre ele no prazo de 30 dias ou, tratando-se de
fiscalização preventiva, de 3 dias (art.54).
Na fiscalização preventiva o TC tem 25 dias para se pronunciar, prazo esse que pode ser
encurtado pelo PR por motivo de urgência (art.278/8).
179
Direito Constitucional II 180
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Uma norma não considerada inconstitucional em fiscalização preventiva poderá vir a sê-lo em
fiscalização sucessiva; assim como uma norma considerada inconstitucional, mas, apesar disso,
posta em vigor por força do artigo 279º/2, poderá depois não ser julgada ou não ser declarada
inconstitucional.
Segundo o artigo 278º constituem objeto de fiscalização preventiva normas constantes de:
O artigo 278 não as contempla e, pelo contrário, o artigo 286º/3 declara expressamente que o PR
não pode recusar a promulgação.
Quanto aos limites formais o professor Jorge Miranda tem vindo a defender que quanto à
apreciação dos requisitos de qualificação em caso de duvida o PR pode pronunciar-se.
Já quanto aos limites materiais, temo-la recusado por a sua dilucidação pelo PR envolver o risco
de transferir para ele o fulcro do poder de revisão.
Na opinião do professor Jorge Miranda, nos artigos 278 e 279, “lei” abrange quer leis ordinárias
quer leis constitucionais. O artigo 286 tem de ser interpretado sistematicamente conjugado com
o artigo 288.
180
Direito Constitucional II 181
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Impressiona, por logica contrária, que os direitos que nem sequer podem ser suprimidos em
estado de sitio possam ser afectados no seu conteúdo essencial ou até suprimidos por uma lei de
revisão constitucional: os direitos à vida, à integridade física, à identidade pessoal,…
Seria possível que o PR tivesse de promulgar uma lei que consagrasse a pena de morte ou a
instituição de um partido único?
Não se trata de conferir ao PR agora um poder semelhante ao que tem a respeito dos
requisitos de qualificação. Trata-se de ele ter a faculdade de requerer a fiscalização
preventiva por garantia da Constituição material.
O PR não veta nem deixa de vetar. Verifica sim, uma tarefa prévia, a de verificar se estão
presentes ou não os requisitos para o ato vir a ser subsumido no tipo constitucional de lei e
verificando que tais requisitos não estão reunidos, não promulga e devolve o texto ao
órgão donde tenha provindo para que este, se assim entender, retome o procedimento.
Não há uma sujeição automática dos diplomas a apreciação. Tem de haver uma iniciativa, livre
em si mesma, mas que tem de se manifestar em certo tempo, exíguo.
A iniciativa exerce-se:
181
Direito Constitucional II 182
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O poder de iniciativa foi alargado, quanto às leis orgânicas, também ao Primeiro Ministro e a
um quinto dos Deputados à AR.
A haver depois veto politico não parece que possa estribar-se em razoes jurídicas já
consideradas e rejeitadas no acórdão que o TC tenha emitido na fiscalização preventiva acabada
de realizar.
O PR não pode promulgar qualquer decreto correspondente a lei orgânica sem que decorra o
prazo conferido ao Primeiro Ministro ou a um quinto dos deputados à AR para requerer a
fiscalização preventiva ou sem que o TC se pronuncie, quando a intervenção deste tenha sido
requerida (art. 278/7).
Tal parece ser uma situação limite, em que não se vê possibilidade de voltar atrás e em que
somente através da fiscalização sucessiva pode vir a ser apreciada a lei orgânica promulgada
nestas circunstâncias. (pode colocar-se a questão da legitimidade da referenda numa situação
como esta)
Se o PR exercer veto politico antes de passados aqueles oito dias e a AR vier a confirmar o
diploma, talvez seja de admtir a fiscalização preventiva, não por iniciativa do PR, mas do
Primeiro Ministro ou de Deputados (por entenderem ainda valer a pena submeter a
questão de constitucionalidade ao TC, são diferentes órgãos envolvidos numa e noutra).
182
Direito Constitucional II 183
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Obviamente será uma omissão constitucional, sem que se comine sanção ou sem que se extraia
qualquer ilação acerca da validade das normas sub judice, quanto muito poderá o PR considerar-
se autorizado a promulgar ou a exercer o veto politico.
Os efeitos subsequentes são os que afetam os diplomas depois de devolvidos. E há que proceder
a uma dupla contraposição: entre decretos e convenções, por um lado, e entre decretos das
Assembleias e decretos do Governo, por outro.
Entre os diplomas de cujas normas pode ser pedida a apreciação preventiva incluem-se os
estatutos das regiões autónomas, aprovados por lei da Assembleia da Republica. No caso de se
pronunciar pela inconstitucionalidade, a CRP não impõe que o diploma seja devolvido às
regiões, são situações diversas: a do estatuto já aprovado pela Assembleia da República ou de
projeto (proposta de lei de assembleia legislativa regional). Porém, também não o impede.
Os artigos 136/1 e 233/2 só contemplam o veto politico a seguir à pronuncia pela não
inconstitucionalidade, mas não é de excluir veto politico também no caso de expurgo da norma
inconstitucional ou no caso de reformulação (em face da ratio desses preceitos).
Pode ainda haver a confirmação do diploma, a sua aprovação (mas não pelo Governo),
mantendo-se intocada a norma considerada inconstitucional.
183
Direito Constitucional II 184
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Se a AR ou a ALR confirmar o diploma por maioria de dois terços desde que superior à maioria
absoluta dos deputados em efetividade de funções, o PR ou o RR poderão promulga-la ou
assiná-la, consoante o caso (artigo 279/2).
Com efeito, a faculdade de promulgação ou de assinatura afigura-se uma via de equilíbrio entre
o órgão legislativo representativo e o órgão de fiscalização da constitucionalidade, com
arbitragem pelo PR, também ele órgão representativo, ou pelo RR.
E é uma solução harmónica com o Estado de Direito democrático (art. 2º). Pois se fosse
puramente democrático nem havia fiscalização da constitucionalidade e, se fosse puramente de
Direito, tudo acabaria com a primeira pronuncia do TC.
Paulo Otero segue esta posição mas exclui a possibilidade de promulgação quando estejam em
causa direitos, liberdades e garantias. Jorge Miranda, exclui a promulgação só no caso do 19/6,
porque tendo em conta o enorme catálogo, acabar-se-ia por reduzir a margem de decisão.
184
Direito Constitucional II 185
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
✓ O PR;
✓ O Presidente da Assembleia da Republica;
✓ O Primeiro-Ministro;
✓ O Provedor de Justiça;
✓ O Procurador-Geral da República;
✓ Um décimo dos deputados à AR;
✓ Os RR;
✓ Os Presidentes das Assembleias Legislativas Regionais;
✓ Os Presidentes dos Governos Regionais;
✓ Um décimo dos Deputados à respetiva Assembleia Legislativa Regional.
A apreciação fica dependente de uma iniciativa e, depois, fica sujeita ao regime geral da
fiscalização abstrata sucessiva, com possibilidade, designadamente, de ser ouvido o órgão autor
da norma e de serem obtidos mais elementos e informações. O pedido leva consigo um juízo
sobre a suficiência da ultima decisão concreta para que se passe à declaração com força
obrigatória geral, mas é um novo processo de fiscalização que vem então a abrir-se e uma nova
decisão do TC que tem de se formar.
Os três casos concretos tanto podem ter sido decididos em instancia de recurso como em
incidente no próprio Tribunal, ao abrigo do artigo 204º CRP.
185
Direito Constitucional II 186
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Os 3 casos julgados inconstitucionais podem ter fundamento diverso: a identidade tem de ser a
norma julgada inconstitucional, não a norma parâmetro.
Esta questão não se aplica aos tratados. Não cabe no espirito do 281/3.
Isto ocorre por razões de igualdade no tratamento das pessoas e por a constituição ser o
fundamento de validade de todas as normas.
Se existe, antes, a norma constitucional e, a seguir, surge uma norma que lhe é desconforme,
esta não pode ter a virtualidade de realizar a função a que se pretende destinada; invalida desde
a origem, vem a ser declarada inválida (inconstitucional) também desde a origem; e, porque
nenhuma capacidade de modificação da ordem jurídica possui, tão-pouco poderia ter
validamente revogado uma norma precedente sobre a mesma matéria, pelo que a declaração da
sua inconstitucionalidade importa ainda o renascimento ou restauração dessa norma.
186
Direito Constitucional II 187
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por isso mesmo, a repristinação não pode ser, aqui, entendida nos mesmo moldes aos da
repristinação da lei revogada (art.7/4 CC). Ela opera automaticamente por força da Constituição.
Se, ao invés, existe primeiro norma de direito ordinário conforme com a Constituição e, de
seguida, emerge uma nova norma constitucional que dispõe em sentido discrepante, há que
distinguir duas fases:
Até à entrada em vigor desta nova norma – fase em que, por hipótese, a norma de
direito ordinário era válida e eficaz;
Fase em que a norma se torna inconstitucional.
Tudo passa por perceber se uma norma que revoga outra é ou não inválida. Se é inválida, não
pode ter efeito revogatório válido e, portanto, é lógico que readquira vigência a norma anterior.
Se a norma revogatória, pelo contrário, não é inválida, validamente revogou a norma anterior e
esta não pode renascer.
Leis de vigência predefinida como as leis das grandes opções dos planos nacionais, as
leis orçamentais e as que estabelecem limites máximos dos avales a conceder em cada
ano do Governo (161/g) e h));
Leis de Circunstância como as de amnistia e de perdoes genéricos (161, f)) e, em geral,
as leis-medidas;
Leis de Autorização Legislativa (161/d) e e);
Alem disso, poderá haver repristinação parcial com fundamento em qualquer das causa
enunciadas no artigo 282/4 CRP.
A declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral de qualquer norma não afeta
os casos julgados. Ou seja, não modifica, nem revoga a decisão de qualquer tribunal transitada
em julgado que a tenha aplicado, nem constitui fundamento da sua nulidade ou de recurso
extraordinário de revisão.
Garante-se, assim, a autoridade dos tribunais (202º), garante-se o seu poder de apreciação da
constitucionalidade e da legalidade (294) e, ainda, o direito dos cidadãos a uma decisão
jurisdicional em prazo razoável (20º/4).
O que, em definitivo, está vedado, é uma lei inconstitucional atingir caso julgado ou qualquer
lei afetá-lo sem mediação de nova decisão judicial.
187
Direito Constitucional II 188
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por isso, também se compreende, que o TC possa tomar uma decisão em contrário em matéria
penal, disciplinar ou de ilícito de mera ordenação social (artigo 282º/3).
A ressalva dos casos julgados não obsta à proteção a dar ao particular atingido pela norma
declarada inconstitucional, que poderá propor uma ação de responsabilidade com base no artigo
22º CRP ou, se for caso disso, interpor recurso extraordinário de revisão da sentença transitada.
O Estado não terá nunca um direito de punir mais amplo do que o que for considerado pela lei
vigente no momento da sua aplicação (retroatividade da lei penal mais favorável).
Se for declarada a inconstitucionalidade com força obrigatória geral de certa lei penal e, por
causa disso, for repristinada ou vier a tornar-se aplicável uma lei de conteúdo mais favorável,
será esta a que deverá efetivamente ser aplicada.
Por conseguinte, não será ressalvado o caso julgado quando a norma declarada
inconstitucional ou ilegal respeitar a matéria penal – ou a matéria de mera ordenação
social - e for de conteúdo menos favorável ao arguido (art. 282/3), ou seja, quando da sua
declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade resultar uma pena ou da sanção ou
uma exclusão, isenção ou limitação da responsabilidade.
Fixar os efeitos com alcance mais restrito do que o previsto no artigo 282º/1 e 2 significa:
Mas este poder pressupõe uma avalização dos efeitos da decisão em face dos concretos factos e
situações de vida.
De todo o modo, a decisão ao abrigo do artigo 282/4 está condicionada por um principio de
proporcionalidade na sua triple vertente: necessidade, adequação e racionalidade.
188
Direito Constitucional II 189
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Vale a ratio do artigo 282/4 analogamente no campo dos artigos 204º e 280º? Tendo
consciência da volatilidade e até das situações e vida, ainda mais patente na fiscalização
concreta do que na abstrata, admitimos que sim, pelo menos quando estejam em foco a
segurança jurídica e a equidade.
A fixação dos efeitos pelo TC obriga, nos termos gerais das decisões, todos os tribunais ou, se
for em fiscalização concreta, o tribunal em causa.
189
Direito Constitucional II 190
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Quid Iuris?
190
Direito Constitucional II 191
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O enunciado nada diz em relação ao quórum (art. 116/2). Mas consegue-se deduzir que estavam
presentes mais de 116 deputados, logo, não existe qualquer problema a este respeito.
Em relação à matéria a regular, a Constituição não exige, no artigo 168º uma maioria
qualificada, aplica-se, portanto, o artigo 116/3 e a maioria para as 3 fases de votação será a
maioria simples (mais votos a favor do que votos contra).
Quanto à votação na especialidade, mais uma vez, a CRP não exige uma maioria qualificada,
aplicar-se-á, portanto, o artigo 116/3 e a maioria simples.
Contudo o artigo 168/4 faz uma exigência. A matéria a regular tem de ser obrigatoriamente vota
na especialidade em Plenário.
O enunciado diz que a proposta foi votada na especialidade em comissão, logo, ocorre
inconstitucionalidade formal, mesmo tendo existido uma maioria de votos a favor, a CRP exigia
a votação na especialidade em Plenário, o que não sucedeu.
Em relação à votação final global não é dito o número de votos, apenas diz que o PAR concluiu
que a proposta não foi aprovada porque era necessária maioria de dois terços dos deputados
presentes.
Mais uma vez, a CRP nada diz em relação à maioria exigida, logo aplicar-se-ia o artigo 116/3,
apenas seria exigida maioria simples.
Caso Prático Nº 2
Em 5 de Março do corrente ano, a AR aprovou em votação final global uma nova lei
eleitoral para a eleição do Parlamento que, entre outras alterações, criava um sistema
misto, através da introdução de círculos eleitorais uninominais, a par de um círculo
nacional eleito de acordo com o princípio da representação proporcional.
Quid Iuris?
Segundo o artigo 164/a é de reserva absoluta da AR legislar sobre as eleições dos titulares dos
órgãos de soberania, logo, só a AR tem competência para legislar sobre a matéria especifica
referida no enunciado.
191
Direito Constitucional II 192
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A iniciativa foi apresentada por um grupo de cidadãos, não especificando o número, a Lei de
Iniciativa dos Cidadãos, no artigo 6º exige que a iniciativa tenha de ser proposta por um mínimo
de 20000 cidadãos eleitores, caso não existam existe ilegalidade por violação da Lei de
Iniciativa dos Cidadãos e inconstitucionalidade indirecta por violação do artigo 167/1 quando
manda atender aos “termos e condições estabelecidos na lei”.
Sendo de iniciativa dos cidadãos, ao contrário do que está presente num enunciado, não se fala
em projecto de lei mas sim em proposta de lei, porque a iniciativa legislativa é externa à AR.
Relativamente ao quórum, a CRP exige que estejam presentes 116 deputados (atendendo aos
230 lugares) para que as decisões tomadas possam ser válidas. Estavam presentes os 230
deputados, logo, não existe qualquer problema neste âmbito.
Por força do artigo 166/2 está-se perante uma proposta de lei de lei orgânica.
Por força do artigo 168/4 esta proposta tem de ser obrigatoriamente votada na especialidade
pelo Plenário, o enunciado não diz se foi no Plenário ou em Comissão, mas, uma vez que 230
deputados votaram, obviamente, que a votação ocorreu em Plenário, não existe nenhuma
vicissitude quanto a este ponto.
Por força do artigo 168/6/d as disposições das leis que regulam a matéria respeitante às eleições
dos titulares dos atos (art. 164/a) carecem de ser aprovadas por maioria de dois terços dos
deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efetividade de
funções.
Ou seja, atendendo aos 230 lugares, a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções
equivale a 117 deputados (230/2 = 115; 115+1=116; 116+1=117, por outras palavras metade
dos 230 deputados equivale a 115 deputados, logo, a maioria absoluta será de 116, mas o artigo
diz que tem de ser “superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções”, por
isso, serão 117 deputados). A maioria de dois terços será calculada caso a caso, consoante os
deputados presentes na Assembleia, os votos a favor (maioria de dois terços), terão que ser
sempre superiores a 117.
Em principio os 117 deputados não vão variar, só acontece se algum morrer ou se por alguma
razão cessar o mandato, nesse caso diminui o numero de deputados em efetividade de funções,
e, como consequência, vai reduzir, também, o número da maioria dos deputados em efetividade
de funções, porém esta redução é temporária porque o seu lugar vai ser substituído (art.153/2
CRP).
Neste caso concreto, visto que estavam presentes os 230 deputados a maioria exigida para
aprovação de algumas das normas na especialidade será de 154 deputados.
192
Direito Constitucional II 193
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Necessário destacar que a imposição que é feita não é para todas as normas da lei mas apenas
para aquelas que dizem respeito ao artigo 164/a, as restantes, visto que não há exigência de uma
maioria qualificada, serão aprovadas com maioria simples (art.116/3).
Logo, na votação em especialidade serão compreendidas duas maiorias, uma maioria de dois
terços dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções (no caso, 154 deputados) e uma maioria simples ou relativa (art. 116/3).
Quanto à votação final global, por força do artigo 168/5, as leis orgânicas carecem de aprovação
por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções. O enunciado não expressa o
numero exato, mas começa por dizer que a proposta foi aprovada em votação final global.
Sem recurso a mais dados, resta dizer que para ser aprovada em votação final global seriam
necessários 116 votos (230/2+1=116, ou seja, a maioria absoluta dos deputados em efetividade
de funções). Tendo em conta que que na especialidade e na generalidade foi aprovada por 116
deputados, não tendo necessariamente de ocorrer, supor-se-á que o mesmo aconteceu na votação
final global e, consequentemente, a lei foi aprovada.
Imaginando que o PAR havia sido designado presidente interino haveria a considerar que a
competência para promulgar decorre do artigo 164/b) que não se encontra prevista no artigo
139ºCRP, logo, poderia promulgar.
O artigo 139/1 enumera os atos que o PR interino não pode praticar, o 139/2 enumera os que
pode praticar após a audição do Conselho de Estado. Todos os demais pode fazer sem
necessidade de audição. Não estando o artigo 134/b (promulgação) em nenhum destes artigos,
pode ser feito pelo presidente interino.
Por força dos artigos 134/b)e 140/1 CRP, o ato de promulgação está sujeito a referenda
ministerial.
193
Direito Constitucional II 194
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Caso Prático Nº 3
Quid iuris?
A matéria em relação à regulação da comunicação social consta do artigo 39º CRP. O artigo
39/2 CRP refere que é a lei que tem competência para regular tal matéria e, pela extensão e
áreas abrangidas pelo artigo 39º/1 CRP, pode e deve considerar-se que o que está em causa são
direitos liberdades e garantias, logo, o artigo da competência a utilizar será o artigo 165/1/b e
esta matéria é de reserva relativa de competência legislativa da AR.
Em relação à iniciativa, o enunciado diz que se trata de um projecto de lei (167/1 CRP), por
isso, teve de ser apresentado por um deputado ou por um grupo parlamentar, é um projecto
interno à AR.
Por força do artigo 116/2 o quórum exigido tem de ser a maioria do número legal dos seus
membros, atendendo aos 230 lugares, têm de estar presentes no mínimo 116 deputados (50%+1
deputado).
O enunciado nada nos diz quanto ao número de deputados que estavam presentes mas pode-se
concluir que tendo existido 116 votos a favor, o requisito do quórum estava assegurado.
194
Direito Constitucional II 195
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por força do artigo 168/6/a), o referido projecto de lei, carece de uma maioria de dois terços dos
deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções nas 3 votações (Generalidade, especialidade e votação final global). Mesmo que o
artigo não diga expressamente, esta conclusão é inferida tanto para o caso da alínea a) como
para o caso da alínea c). Estas duas alíneas referem-se à lei como um todo, ou seja, todos os
artigos do regime, na especialidade, terão de ser aprovadas por uma maioria agravada de dois
terços, logo, sendo abrangente do regime no seu todo, na generalidade e na votação final global
como também está em causa a totalidade do regime é essa maioria que se vai aplicar.
Contudo, situação distinta ocorre para as alíneas b), d), e) e f). Neste caso, o preceito
constitucional só se refere a “disposições” e, não já, à totalidade dos artigos constituintes do
projecto, por essa ordem de ideias, a maioria qualificada de dois terços só será aplicada na
votação dessas disposições especificas, nas restantes, serão utilizadas ou a regra geral (maioria
simples, art.116) ou outra maioria exigida pela constituição.
No caso em apreço, tendo em conta que é necessário que existam, pelo menos 117 votos a favor
(“desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções) e
considerando que na generalidade e na especialidade só existiram 116 votos a favor, o projecto
de lei não foi aprovado e as etapas do procedimento legislativo cessariam por aqui.
Pressupondo que estariam presentes os 230 deputados, 2/3 corresponderia a 154 deputados. Ou
seja, para o projecto ser aprovado teriam de ter votado a favor 154 deputados. Apesar de existir
inconstitucionalidade formal (relativa a uma etapa do procedimento), na votação final global o
projecto de lei teria sido aprovado porque reuniram-se 176 votos a favor, maioria esta que é
superior aos 117 deputados e aos 2/3 dos deputados (154). Uma vez aprovado, o projecto passa
a ser um decreto e enviado para promulgação ao PR.
No caso em apreço, o prazo foi respeitado, a mensagem fundamentada foi enviada juntamente
com o veto e os fundamentos foram de natureza politica (“invoca a inoportunidade politica do
decreto em véspera de eleições para o Parlamento Europeu”), estão cumpridos todos os
requisitos, não há qualquer inconstitucionalidade, seja orgânica, seja formal.
O PR vetou e enviou o diploma para a AR, que o veio a confirmar por 117 votos, neste caso,
aplicar-se-ia a regra geral do artigo 136/2, ou seja, bastaria a confirmação do diploma por
maioria absoluta, visto que o diploma noa incide na matéria prevista 136/3, porém, a doutrina
diverge e a questão é discutível. Esta lacuna constitucional, esta falta de regulação, através da
interpretação pode apresentar duas soluções. Este problema, em qualquer caso prático do género
tem de ser, sempre, reconhecido antes de se proceder à tomada de uma das duas posições
possíveis.
195
Direito Constitucional II 196
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Por um lado, como já referido se considerarmos que o artigo 136/2 é um regra geral que abarca
todas as matérias que não estão previstas no artigo 136/3 seria a maioria absoluta a ser aplicada,
independentemente da maioria exigida para aprovar a proposta ou o projeto durante o
procedimento legislativo (votação na generalidade, votação na especialidade e votação final
global)
Por outro lado, é necessário ter em conta que a lógica da confirmação é garantir, por um
processo agravado, que é a vontade da AR que o diploma seja promulgado, através deste
processo agravado é possível superar a vontade do PR. Se fosse aplicada uma maioria absoluta
num caso do género estar-se-ia, não a reforçar, mas a facilitar, porque passar-se-ia de uma
maioria de dois terços para uma maioria absoluta, logo, menos exigente. Num caso como este a
maioria da doutrina considera que, não dizendo a CRP nada, quando a maioria de aprovação nas
demais etapas procedimentais é superior à maioria absoluta (art.136/2), é essa maioria de
aprovação que vai ser utilizada, e, por consequência, no caso prático em apreço, seria necessário
uma maioria de 2/3 para o diploma ser confirmado.
Atendendo aos 230 lugares, dois terços equivalem a 154 deputados, como apenas existiram 117
votos a favor, o diploma não foi confirmado, e, não vai ser promulgado.
Se se considera-se a primeira hipótese, recorrer-se-ia à maioria absoluta, ou seja, mais uma vez
atendendo aos 230 lugares na Assembleia, seriam necessários 116 votos a favor e, no caso em
análise, o diploma em análise seria confirmado e o PR “deverá promulgar o diploma no prazo
de oito dias a contar da sua receção”.
Na minha opinião, ainda que com muitas reservas, parece de preferir a primeira posição.
“Artigo 1º- Fica o Governo autorizado a definir o regime sancionatório adequado para punir
os crimes contra o património, agravando fortemente as molduras penais, tendo como
objetivo reduzir a criminalidade deste tipo.
A matéria em questão incide sobre a definição dos crimes, penas, medidas de segurança e
respectivos pressupostos bem como processo criminal, abrange por isso a alínea c) do artigo
165, é matéria de reserva relativa de competência da AR. Ou seja, recorrendo à terminologia
utilizada perlo professor Blanco de Morais, é a AR que tem a competência normal para legislar
sobre aquela matéria especifica, porem pode delegar a competência, sem prejuízo de a avocar a
196
Direito Constitucional II 197
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
A proposta foi apresentada pelo Governo (art.167/1 e 197/1/d e 200/1/c)), fala-se por isso, numa
proposta de lei. Não há qualquer problema quanto à constitucionalidade do ato. O Governo tem
competência para o fazer e não existem quaisquer limites à iniciativa quanto ao específico ato
em análise. Quanto à apresentação da proposta, apesar de ela poder ser feita, também, por outros
órgãos e entidades não faz sentido que o seja. Uma vez que é o Governo que vai legislar ao
abrigo da lei de autorização legislativa, é ele que a deve apresentar.
A competência para aprovar uma lei de autorização legislativa pertence à AR (art.161/d), não
existe nenhuma maioria especial exigida, aplicar-se-á a regra geral do artigo 113/6 (maioria
simples). Não existindo nenhuma referência às demais etapas do procedimento legislativo
vamos partir do pressuposto que tudo decorreu dentro dos moldes exigidos.
Em relação à duração, a doutrina diverge. Tendo em conta que a legislatura tem a duração de 4
sessões legislativas, parte da doutrina considera que é inconstitucional o prolongamento da
autorização para além deste prazo (uma vez que caduca com o termino da sessão legislativa –
art. 165/4).
Por outro lado, e tomo desde já, posição neste sentido, pode defender-se que não existe qualquer
problema de constitucionalidade, é irrelevante a extensão do prazo para além da duração da
sessão legislativa, uma vez que ele vai caducar com o termino da legislatura. A AR não
contrariou qualquer preceito constitucional. Não há inconstitucionalidade.
Dado ser um pressuposto normativo para a existência do ato, recorrendo ao artigo 112/3, o
decreto-lei autorizado tem de respeitar a lei de autorização legislativa na sua plenitude.
O património pode ser mobiliário e imobiliário, o Governo decidiu, um mês depois legislar
sobre o património mobiliário. Não existe qualquer problema em parcelar/dividir o objecto e
legislar em alturas diferentes (art.165/3).
Relativamente aos crimes contra a pátria, encontram-se ainda dentro do objecto (matéria
criminal) mas vão além da extensão (matéria patrimonial), o Governo excedeu o âmbito da
autorização, falar-se-á, portanto em inconstitucionalidade orgânica (visto que legislou em
197
Direito Constitucional II 198
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Sempre que for excedido o âmbito da autorização (qualquer um dos requisitos) fala-se em
inconstitucionalidade orgânica (o Governo não tem competência para legislar em matéria
de reserva relativa de competência sem autorização), porém, está-se perante uma
cumulação de vícios, fala-se, também, em ilegalidade (violação de lei com valor reforçado
por força dos artigo 112/3 e 281/1, b)).
Passados alguns meses, a mesma Assembleia da República decidiu desenvolver estas bases,
aprovando uma Lei de desenvolvimento sobre o regime das taxas moderadoras.
No ano seguinte, o Governo aprovou uma Portaria sobre os direitos e deveres dos utentes
do Serviço Nacional de Saúde, que também desenvolve a Lei de bases em questão. Nesse
diploma, previa-se que os utentes eram obrigados a ficar com o médico que lhes fosse
atribuído e tinham necessariamente de ser seguidos no centro de saúde e hospital da sua
zona de referência.
Na sequência deste acto, o Governo – invocando aquela lei como seu parâmetro – aprovou
um decreto-lei de desenvolvimento deste regime que reduziu o tamanho mínimo da
sardinha para 100mm e aumentou a percentagem de captura acessória permitida na pesca
de arrasto para 20%.
198
Direito Constitucional II 199
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
a)
▪ Liberdade de escolher;
▪ Limitado pelos recursos;
▪ De acordo com as regras
Sempre que na regra de competência apareça “regime geral” só se aplica se for para todos os
casos, por exemplo, a alínea i) esclarece que é da competência de reserva relativa da AR a
“criação… do regime geral das taxas e demais contribuições…”, por isso não se podia aplicar
esta alínea no presente caso prático, atendendo que só estão em causa as taxas moderadoras.
Um problema que pode surgir frequentemente é perceber quem tem competência para o
desenvolvimento de leis de bases.
Os artigos de referência, nesta questão, vão ser o artigo 161/c) e o 198/1/a) e c).
Temos de saber qual o órgão com competência para desenvolver as leis de bases.
Um dos argumentos que pode ser utilizado é que o artigo 198/1/a) permite que o G aprove
matéria de área concorrencial, é área concorrencial, pode fazê-lo.
Por outro lado, o artigo 198/1/c) criaria uma reserva e só o G poderia desenvolver leis de bases.
Porém, parte da doutrina e o TC vem dizer que não é criada qualquer reserva, a única reserva
que existe está no artigo 198/2.
Quanto ao caso, em relação ao desenvolvimento das leis de bases sobre as taxas moderadoras, a
doutrina diverge:
Para o TC pode;
Para o professor Jorge Miranda pode;
Para o professor Blanco Morais não pode (inconstitucionalidade orgânica);
Para o professor Paulo Otero não pode (inconstitucionalidade orgânica).
199
Direito Constitucional II 200
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Em relação ao desenvolvimento de uma lei de bases por uma portaria está inerente o vicio de
inconstitucionalidade formal. O sentido útil do artigo 198/1/c) é de esclarecer e de impor que o
desenvolvimento de bases seja feito por decreto-lei.
Mesmo que não existisse este problema, a portaria vem contrariar o previsto na lei de bases,
tendo em conta que por força dos artigo 112/2 e 112/3 a lei de bases tem valor reforçado face
aos decretos-legislativos de desenvolvimento de lei de bases, surge, aqui, o vicio da ilegalidade
por violação de valor reforçado ou inconstitucionalidade indirecta (artigo180/2/a)).
Continuando o caso prático, é nos dito que o Governo aprovou um Decreto-Lei de bases. A
questão que surge é: O Governo pode fazer isto?
Foi aprovada um decreto-lei de bases o que significa que em termos de eficácia na relação que é
estabelecida com os outros atos legislativos:
Quando se aprova uma nova lei de bases não se coloca em causa a vigência de todos os
decretos-leis de desenvolvimento aprovados ao abrigo do anterior regime, é necessário que haja
racionalidade e algum pragmatismo. As leis de bases contém os grandes princípios e orientações
e, por norma, representam sectores importantes da sociedade, no caso, o serviço nacional de
saúde. Se cada vez que é aprovada uma nova lei de bases cessasse a vigência de todos os
decretos-leis de desenvolvimento de leis de bases, estar-se-ia a colocar em causa a própria
segurança jurídica (artigo 2º CRP – Estado de Direito Democrático).
b)
O Governo pode desenvolver, todos os autores convergem com esta posição (artigo 198/1/c)),
os professores Jorge Miranda e Paulo Otero entendem que a AR não podia desenvolver, mas, de
qualquer maneira, não é essa a questão que se coloca.
200
Direito Constitucional II 201
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
O Governo ao abrigo das alíneas 198/1/c) e 198/3 autolimitou-se e decidiu legislar subordinado
à lei de bases. Esta posição é a adota pelo professor Blanco de Morais.
Se não invocar a lei de bases o G pode legislar como quiser, não existe qualquer
vinculação ou subordinação, é competência do G, é matéria concorrencial, o G quando
aprova uma nova regulação revoga a lei de bases (a lei de bases está no mesmo plano,
só tem hierarquia superior face aos decretos-leis de desenvolvimento) –todas as leis
podem revogar todas as leis. Lei e decreto-lei podem revogar-se mutuamente (artigo
112 – lei e decreto-lei têm igual valor); lex posterior derroga lei anterior.
Porém, se porventura o Governo invocar a lei de bases (artigo 198/3), escolhe
autolimitar-se e tem de a respeitar, como lei de valor reforçado que passa a ser. Se
invoca tem de respeitar. O artigo 198/3 acarreta um dever genérico de respeito. O
artigo 112/2 não distingue matéria de reserva e matéria concorrencial, logo, o
desenvolvimento de uma lei de bases tem de estar sempre subordinado.
Pode Revogar?
201
Direito Constitucional II 202
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Uma vez aprovada na Assembleia da República por maioria simples e enviada para o Presidente
da República para promulgação, este vetou-a, por a considerar inconstitucional por não ter sido
precedida pela Lei das Grandes Opções do Plano.
Foi apresentada à AR uma proposta de alteração do EPARAA que abrangia 3 grandes questões:
É uma proposta de lei (externa à AR), tem de ser da iniciativa da Assembleia Legislativa
Regional. A inércia por parte das regiões autónomas, muitas vezes, impede a revisão dos
estatutos, é necessário que haja iniciativa por parte das Assembleias Legislativas Regionais.
1ªProposta – 231/7 – a própria constituição diz que a matéria tem de estar no estatuto,
faz sentido que seja objeto do estatuto.
202
Direito Constitucional II 203
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Todas as medidas vieram a ser aprovadas, em votação final global, por 120 votos a favor.
Tendo recebido o decreto sobre a matéria referida em iii) para promulgação e por ter
reservas quanto à sua constitucionalidade, o Presidente resolveu vetá-lo de imediato,
devolvendo-o ao órgão que o aprovou.
1. Analise a conformidade orgânica e formal dos decretos identificados nas alíneas i),
ii) e iii) com a Constituição.
Correção
1.
Distinção entre iniciativa e competência para aprovar; o Governo teria poder de iniciativa em
todos os casos (167.º, n.º 1 e 197.º, n.º 1, alínea d), porquanto em nenhum existe uma reserva
de iniciativa que exclua a iniciativa do Governo. Será desvalorizada a resposta que entenda que
o Governo não poderia apresentar propostas de lei sobre as matérias i) e iii), por não ser o
órgão competente para legislar sobre as matérias em causa.
No caso de i), eventual invocação do artigo 167.º, n.º 2, concluindo que, em todo o caso, o
Governo tinha poder de iniciativa, porquanto não se lhe aplica a norma-travão e estaria em
causa o aumento de receitas.
Identificação do órgão competente para legislar sobre cada uma das matérias – a Assembleia
da República seria competente em qualquer caso:
203
Direito Constitucional II 204
Daniel Vieira Lourenço – Turma B
Em qualquer caso, tratando-se de uma proposta de lei, tal implica que não seria o Governo a
legislar sobre nenhuma das matérias, não fazendo sentido desenvolver a necessidade de o
Governo ser autorizado a legislar sobre i) para poder legislar sobre essa matéria que, ao
contrário de iii), se enquadra na reserva relativa de competência da AR.
De notar ainda que o facto de o Governo ter também competência para legislar sobre ii) -
(198.º, n.º 1, alínea a) - mas apresentar ao invés uma proposta de lei à Assembleia da
República não configura qualquer inconstitucionalidade.
Estando presentes 120 Deputados pelo menos (120 corresponde ao número de deputados que
votaram a favor, não havendo mais dados no caso, o que não parece excluir, obviamente, que
outros deputados estivessem presentes), o quórum estava reunido (116.º, n.º 2).
ii. Idem;
iii. Aprovação, na votação final global, por maioria absoluta dos Deputados em
efectividade de funções (168.º, n.º 5), porquanto a matéria da alínea f) do artigo
164.º se trata de uma lei orgânica (166.º, n.º 2). Maioria simples nas outras duas
votações (116.º, n.º 3).
Assim, perante os dados do caso prático (120 votos a favor na votação final global), não
haveria qualquer inconstitucionalidade formal. Poderia ser referido que no caso da alínea iii),
por via do artigo 168.º, n.º 4, haveria lugar a uma reserva de plenário na votação na
especialidade, embora os dados da hipótese não permitam concluir sobre o cumprimento ou
não da norma.
2.
A proposta referida em ii) é inspirada no caso que deu origem ao acórdão n.º 214/2011 do
Tribunal Constitucional. Pretende-se discutir a existência ou não de uma reserva de
Administração enquanto limite à intervenção legislativa numa determinada matéria.
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Assim, no Acórdão n.º 24/98, o Tribunal Constitucional afirmou que “também para quem
entenda que, podendo haver, em determinadas situações, «reservas específicas de
regulamentação» detidas pelo Governo, mas que, porém, ainda nelas não é totalmente vedada
uma actuação legislativa por parte da Assembleia da República, contanto que o Parlamento, ao
efectuá-la, revogue, derrogue ou abrogue, directa ou implicitamente, a competência de
regulamentação que, nessas situações, se encontrava deferida ao Governo”, o que não se
verifica no caso.
Os alunos deverão discutir se a actuação indicada em ii) implica uma intromissão inadmissível
do legislador na função administrativa, logo, uma inconstitucionalidade material por violação
do princípio da separação de poderes (111.º da CRP).
Quanto à parte final da alínea, tratava-se de um caso de deslegalização proibido pelo artigo
112.º, n.º 5, visto que estamos perante uma lei a determinar que um regulamento (uma portaria)
poderia vir a desenvolver os seus preceitos. Note-se que nesta altura os alunos ainda não
tinham estudado a matéria das leis de bases e do seu desenvolvimento, mas após o estudo da
referida matéria, dúvidas não há que, independentemente da discussão sobre o órgão
competente para o desenvolvimento, o mesmo terá sempre de ser mediante acto legislativo.
3.
Identificação da promulgação do PR como um acto tendencialmente livre (136.º, n.º 1), tendo
este 20 dias para promulgar ou vetar um diploma proveniente da AR. Poderia ainda requerer,
no prazo de 8 dias após recepção do diploma, a fiscalização preventiva da constitucionalidade
ao TC (136º, n.º 5 e 278.º, n.º 3).
Refere-se no caso que o Presidente vetou, por ter “dúvidas de constitucionalidade”. Seria aqui
valorizada a identificação da questão do PR utilizar o veto político por motivo de
inconstitucionalidade. ( cfr. BLANCO DE MORAIS, Curso, pp. 467 e e ss), incorrendo
eventualmente em inconstitucionalidade material por desvio de poder, ainda que não haja
consequências jurídicas associadas a este acto, porquanto se trata de um acto da função
política, não sindicável pelo TC.
Em qualquer caso, sendo o diploma aprovado pela AR, o veto seria meramente suspensivo,
logo passível de confirmação nos termos do artigo 136.º, n.º 3.
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Exercício Escrito Nº 2
Critérios de correcção
1. O Governo tem iniciativa legislativa (artigo 167.º, n.º 1), embora sob a forma de proposta de
lei – cfr. artigos 197.º, n.º 1, alínea d) e 200.º, n.º 1, alínea c) –, o que consubstancia
umainconstitucionalidade formal.
O Governo tem iniciativa legislativa nesta matéria (o que pressupõe a distinção entre iniciativa
legislativa e competência legislativa), visto que não se trata de nenhuma matéria abrangida por
reserva de iniciativa (no caso, como é o Governo quem tem a iniciativa, seria apenas necessário
referir o artigo 226.º, n.os 1 e 4).
Não se tratando de nenhuma matéria que reduza receitas ou aumente despesa, não se aplica a
norma travão (artigo 167.º, n.º 2).
Estando presentes 180 Deputados, o quórum (230/2=115+1=116) estava reunido (116.º, n.º 2).
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Ainda que a Constituição preveja a possibilidade de ser decretada urgência num procedimento
legislativo (artigo 170.º), não só a mesma não pode ser decretada unilateralmente pela
Presidente da Assembleia da República, como não pode dispensar as fases de debate e votação
na generalidade, que são de existência obrigatória (artigo 168.º, n.os 1 e 2), tal como o debate e
votação na especialidade e a votação na generalidade (idem).
(i) Trata-se de matéria prevista no artigo 164.º, alínea m) e no artigo 118.º, n.º 2. Não sendo lei
orgânica, tem, contudo, a especificidade procedimental prevista no artigo 168.º, n.º 6, alínea b):
necessidade de aprovação por maioria de 2/3 dos Deputados presentes, desde que superior à
maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções. Ora, estando presentes 180
Deputados, 120 votos a favor correspondem, efectivamente, a 2/3 dos Deputados presentes; e
sendo 120 superior a 116 (que é a maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções
porque 230/2=115+1=116, o decreto foi aprovado.
Poder-se-ia levantar o problema de saber se, in casu, se tratava de “normas” incrustadas numa
lei mais abrangente (caso em que a maioria de 2/3 só se aplicava à votação na especialidade) ou
se se tratava de uma lei com este objecto único (caso em que teria de se discutir se se aplicava a
maioria de 2/3 a todas as votações ou apenas a algumas). Como o caso não era claro sobre esta
matéria, trata-se de um ponto que apenas valoriza a resposta, não sendo de referência
obrigatória;
(ii) Trata-se de matéria prevista no artigo 164.º, alínea b). Sendo uma lei orgânica (artigo166.º,
n.º 2), aplica-se-lhe a exigência de maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções
na votação final global (artigo 168.º, n.º 5), o que se verificou, visto que 120 é superior a 116
(de novo, 230/2=115+1=116). É-lhe aplicável também, por outro lado, a exigência de votação
na especialidade em Plenário (artigo 168.º, n.º 4), sob pena de inconstitucionalidade formal;
(iii) Não havendo nenhuma alínea do artigo 164.º ou do artigo 165.º sobre esta matéria; note-se
que, ainda que seja matéria relativamente ao ensino superior, ela não corresponde ao conceito de
bases (que são os princípios jurídicos gerais de um regime jurídico), razão pela qual não pode
caber no artigo 164.º, alínea i). Assim sendo, aplica-se a regra da maioria simples (artigo 116.º,
n.º 3), que se verificou uma vez que houve mais votos a favor do que contra.
2. O Governo tem iniciativa legislativa (artigo 167.º, n.º 1), embora sob a forma de proposta de
lei – cfr. artigos 197.º, n.º 1, alínea d) e 200.º, n.º 1, alínea c) –, o que consubstancia uma
inconstitucionalidade formal;
(ii) Tratava-se de um caso de deslegalização proibido pelo artigo 112.º, n.º 5, visto que estamos
perante uma lei a determinar que um regulamento (uma portaria) poderia revogar ou modificar
os seus preceitos, para mais numa matéria sujeita a reserva de lei, nos termos do artigo 164.º,
alínea b) – cfr. C. BLANCO DE MORAIS, Curso, I2, pp. 248-249. Ao violar o princípio da
separação de poderes (artigo 111.º), gera uma inconstitucionalidadematerial.
(iii) Trata-se de uma intromissão na autonomia universitária pública (artigo 76.º, n.º 2), que
integra a administração autónoma, e sobre a qual o Governo tem apenas poderes detutela por
força do artigo 199.º, alínea d) – cfr. C. BLANCO DE MORAIS, Curso, I2, pp. 232-233.
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3. Alternativas: (a) desistir, (b) reformular o diploma vetado com alterações ou (c) confirmá-lo.
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