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1. Poder constituinte.
3. Reserva de lei.
4. Lei de bases.
6. Mutação constitucional.
As “mutações constitucionais” resultam em modificações da Constituição sem revisão
do texto constitucional, por efeito de evolução interpretativa ou da formação de
costumes ou “convenções” constitucionais (o costume não pode derrogar normas
constitucionais, mas pode mudar a sua interpretação ou criar novas normas
constitucionais). O texto da Constituição mantém-se inalterado, mas o seu sentido
muda.
2. Judicial review.
3. Poder constituinte.
4. Lei orgânica
A categoria das leis orgânicas foi introduzida na Constituição com a revisão de 1989.
São leis ordinárias de regime especial (logo, não são leis constitucionais). Só existem
em matérias de competência exclusiva da Assembleia da República e estão
vinculadas ao princípio da tipicidade, isto é, só o são aquelas que a Constituição
considera como tais (166.º, n.º 2). A Constituição delimita o seu universo por
intermédio de dois critérios: matéria e procedimento. As matérias sujeitas a lei
orgânica são em geral de importância político-institucional especialmente relevante
(166.º, n.º 2).
O procedimento legislativo parlamentar de elaboração e aprovação das leis
orgânicas apresenta algumas especificidades importantes relativamente ao
procedimento normal: (i) a votação na especialidade da maior parte das leis
orgânicas é feita no plenário e não em comissão (168.º-4); (ii) as leis orgânicas têm
de ser aprovadas por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções
(168.º- 5), e em alguns casos, mesmo por maioria de 2/3 (art. 168.º-6); (iii) a sua
confirmação após eventual veto presidencial carece da maioria de 2/3 dos deputados
presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções (136.º-3); (iv) a fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis
orgânicas pode ser pedida não só pelo Presidente da República mas também pelo
Primeiro-Ministro ou um quinto dos deputados em efetividade de funções (278.º- 4).
Sendo leis reforçadas (art. 112º-3), as leis orgânicas têm de ser respeitadas por outras
leis, sob pena de “ilegalidade reforçada”, cujo regime de fiscalização judicial se
aproxima do regime da fiscalização da constitucionalidade (CRP. arts. 280º-282)
A CRP só pode ser revista a título ordinário decorridos cinco anos sobre a última
revisão ordinária (art. 284º, n.º 1), sem prejuízo da ocorrência de revisões
extraordinárias desencadeadas por decisão de uma maioria superqualificada de 4/5
dos deputados em efetividade de funções (art. 284º, n.º 2). As revisões
extraordinárias não interrompem a contagem do quinquénio necessário para a
retoma do poder de revisão ordinária.
Em qualquer caso, passados cinco anos sobre a última revisão ordinário ou uma vez
deliberada a assunção de podres de revisão extraordinária, o procedimento de
revisão constitucional é aberto pela apresentação de qualquer projeto de revisão,
devendo os demais ser apresentados no prazo de 30 dias. Não existe prazo para a
conclusão do procedimento, mas o procedimento caduca com o termo da legislatura
(cfr. art. 167º, nº 5).
2. Princípio da laicidade.
3. Atribuições e competências.
Não se deve confundir atribuições com competências (embora por vezes se utilize o
termo “competências” em sentido genérico para designar também as atribuições:
assim se fala por exemplo nas “competências da União Europeia”). Aquelas
pertencem às entidades, estas aos respetivos órgãos. Em certos casos, a Constituição
enuncia em bloco as competências ou poderes conferidos à entidade para
desempenhar as suas atribuições, procedendo só depois à sua repartição pelos vários
órgãos da mesma entidade. É o caso das regiões autónomas (arts. 227.º e 232.º).
As competências servem as atribuições. Os órgãos só podem usar as suas
competências para desempenho das atribuições da respetiva entidade. Chama-se a
isso princípio da especialidade. Usar poderes de um órgão fora das atribuições do
respetivo ente traduz-se num “desvio de poder” (ultra vires), que não é uma figura
exclusiva do direito administrativo.
A repartição e articulação de competências entre os vários órgãos da mesma
entidade constituem o cerne da separação dos poderes: cada órgão com poderes
específicos. A prática de atos fora dos poderes do respetivo órgão gera a
incompetência, levando a invalidade do ato em causa.
B - Suponha que o drone do cidadão «Y» foi identificado a voar a 200 metros de
altitude, incorrendo, portanto, nessa pena:
2. Quais os mecanismos a que o cidadão «Y» pode recorrer para afastar
a aplicação da referida norma por inconstitucionalidade?
2. Democracia parlamentar.
4. Separação de poderes
5. Leis orgânicas.
A categoria das leis orgânicas foi introduzida na Constituição com a revisão de 1989.
São leis ordinárias de regime especial (logo, não são leis constitucionais). Só existem
em matérias de competência exclusiva da Assembleia da República e estão
vinculadas ao princípio da tipicidade, isto é, só o são aquelas que a Constituição
considera como tais (166.º, n.º 2). A Constituição delimita o seu universo por
intermédio de dois critérios: matéria e procedimento. As matérias sujeitas a lei
orgânica são em geral de importância político-institucional especialmente relevante
(166.º, n.º 2).
O procedimento legislativo parlamentar de elaboração e aprovação das leis
orgânicas apresenta algumas especificidades importantes relativamente ao
procedimento normal: (i) a votação na especialidade da maior parte das leis
orgânicas é feita no plenário e não em comissão (168.º-4); (ii) as leis orgânicas têm
de ser aprovadas por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções
(168.º- 5), e em alguns casos, mesmo por maioria de 2/3 (art. 168.º-6); (iii) a sua
confirmação após eventual veto presidencial carece da maioria de 2/3 dos deputados
presentes, desde que superior à maioria absoluta dos deputados em efetividade de
funções (136.º-3); (iv) a fiscalização preventiva da constitucionalidade das leis
orgânicas pode ser pedida não só pelo Presidente da República mas também pelo
Primeiro-Ministro ou um quinto dos deputados em efetividade de funções (278.º- 4).
Sendo leis reforçadas (art. 112º-3), as leis orgânicas têm de ser respeitadas por outras
leis, sob pena de “ilegalidade reforçada”, cujo regime de fiscalização judicial cabe
ao Tribunal Constitucional e se aproxima do regime da fiscalização da
constitucionalidade (CRP. arts. 280º-282)
O Estado de direito não é somente aquele que atua segundo o direito (rule of law) e
não segundo arbítrio do poder. O Estado de direito tem uma dimensão formal ou
institucional (separação de poderes, princípio da legalidade, independência dos
tribunais, direito de acesso aos tribunais, etc.) e uma dimensão material ou
substantiva, que consiste nos mecanismos fundamentais da segurança das pessoas
contra o poder (direitos fundamentais, due process, reparação dos prejuízos
causados pela ação pública ilegítima, etc.).
O princípio do Estado de direito (democrático) ocupa um lugar de grande relevo
entre os princípios fundamentais da CRP. Mencionado logo no preâmbulo da
Constituição, é especificamente acolhido e definido no art. 2.º. O «respeito pelo
princípio do Estado de direito democrático» é uma das tarefas fundamentais do
Estado (art. 9.º/b). A CRP preenche os requisitos tanto do Estado de direito formal
como do Estado de direito material.
Os elementos jurídico-constitucionais inerentes a este princípio podem sintetizar-se
em três elementos: constitucionalidade, legalidade e direitos fundamentais.
O Estado não está acima do Direito, como no “antigo regime” (legibus absoluto). A
submissão ao Direito significa que a Constituição, ao decidir-se por um Estado de
direito, procura constituir e conformar as estruturas do poder político segundo a
medida do direito, isto é, através de um meio de ordenação racional,
vinculativamente prescritivo, de regras, formas e procedimentos que excluem o
arbítrio e a prepotência.
O Estado de direito é um Estado constitucionalmente conformado (Estado de direito
constitucional). Pressupõe a existência de uma Constituição e a afirmação
inequívoca do princípio da constitucionalidade. A Constituição é a lei fundamental
do Estado. A Constituição é uma ordenação normativa fundamental dotada de
supremacia — supremacia da Constituição —, e é nesta supremacia da lei
constitucional que o “primado do direito” do Estado de direito encontra uma
primeira e decisiva expressão (art. 3.º-2 e 3).
Mas o “império do direito” sobre o Estado não se limita à Constituição, incluindo
também a submissão do poder executivo às leis, de acordo comos cânones da
separação dos poderes. O Governo e a administração só podem atuar se habilitados
pela lei e nos termos da lei (princípio da legalidade).
O Estado de direito é, por último, um Estado de direitos fundamentais. A
Constituição garante a efetivação dos direitos e liberdades fundamentais do homem,
na sua complexa qualidade de pessoa, cidadão e trabalhador. Neste sentido, o Estado
de direito é um “Estado de distância”, porque os direitos fundamentais asseguram
às pessoas autonomia perante os poderes públicos. Por outro lado, o Estado de
direito é um Estado “antropologicamente amigo”, ao respeitar a «dignidade da
pessoa humana» e ao empenhar-se na defesa e garantia da liberdade, da justiça e da
solidariedade (art. 1.º).
Sim, o PR tem legitimidade processual ativa não apenas para suscitar a fiscalização
preventiva da constitucionalidade de “decreto que lhe tenha sido enviado para
promulgação como lei ou como decreto-lei” (art. 278º, n.º 1 CRP), mas também para
suscitar a fiscalização sucessiva abstrata de “quaisquer normas” (art. 281º, n.º 2/a)),
incluindo as que ele próprio tenha promulgado. O facto de não exercer o poder de
fiscalização a título preventivo em relação a certa norma não obsta a que o possa
fazer a título sucessivo abstrato imediatamente a seguir ou posteriormente. De facto,
o controlo sucessivo abstrato pode ser requerido ao TC a partir do momento em que
o diploma entra no ordenamento jurídico, com a respetiva publicação, e não caduca
com a passagem do tempo (nem as inconstitucionalidades nem o poder de pedir a
sua fiscalização prescrevem). Já o controlo sucessivo concreto (que pressupõe a
aplicação da norma jurídica a um caso concreto) só poderá ser suscitado perante os
tribunais competentes depois de a norma entrar em vigor, decorrido o eventual
período de vacatio legis.
[Notas:
a) Pode consultar a CRP e a Lei do TC (não anotadas).
b) Pode alterar a ordem das perguntas, mas deixe sempre uma linha de intervalo entre cada
resposta.]
A Constituição de 1911 reconhece a forma de Estado republicana (art. 1º), pelo que
o chefe do Estado é um Presidente da República eletivo, sendo eleito pelas duas
câmaras do Parlamento. Quanto à forma de governo, trata-se de uma modalidade
de parlamentarismo, pois a formação do governo depende das eleições
parlamentares e da composição das câmaras e o governo é responsável perante o
parlamento, sendo demitido em caso de perda de confiança parlamentar. Existe uma
conjugação entre o “parlamentarismo monista” e o “parlamentarismo de
assembleia”. Do primeiro foi retirado o apagamento quase completo do Presidente
da República. Do segundo foi retirada a impossibilidade de o Congresso ser
dissolvido antes do fim da legislatura (de três anos).
A permanente agitação social, a instabilidade do sistema partidário e a prática de os
governos se demitirem sempre que derrotados no Parlamento conduziram a uma
enorme instabilidade governativa e política da I República.
Na sequência de um golpe de Estado, Sidónio Pais (1917-1918) efetuou uma “revisão
constitucional” à margem do processo de revisão previsto no próprio texto
constitucional – a chamada rutura constitucional – mudando, por decreto
presidencial, o sistema de governo parlamentar para um sistema de governo
presidencialista, fazendo-se eleger Presidente da República por sufrágio direto e
assumindo a chefia do poder executivo, sem responsabilidade política perante o
parlamento. O seu assassinato pôs fim a essa experiência presidencialista, voltando-
se à vigência da versão originária da Constituição. Na revisão constitucional de 1919
foi conferido ao Presidente da República a poder de dissolução do Parlamento.
3. Princípio da laicidade.
Laicidade quer dizer que Estado laico, ou seja, o Estado onde não existe religião
oficial, o Estado é neutro em matéria religiosa e existe separação entre o Estado e as
igrejas.
Os principais corolários lógico-materiais da laicidade do Estado (noção que deve ser
distinguida do laicismo ideológico) surgem plasmados inequivocamente na
Constituição, não somente no princípio nuclear da separação entre o Estado e as
igrejas (art. 41.º-4), mas também na não confessionalidade do ensino público (art.
43.º-3) ou na proibição de beneficiar ou prejudicar alguém por causa das suas
convicções ou das suas crenças ou práticas religiosas, ou falta delas (art. 41.º-2).
A laicidade do Estado não tem a ver somente com a autonomia e neutralidade do
Estado face às religiões, mas sim em relação a qualquer sistema de mundividências
de natureza filosófica ou ideológica. Parafraseando a proclamação lapidar do art.
43º, a propósito da liberdade de educação, o Estado laico é aquele que «não pode
programar a educação e cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas,
políticas, ideológicas ou religiosas». A laicidade do Estado é tanto uma garantia
básica da liberdade religiosa como da própria liberdade de consciência, na medida
em que impede a existência de posições oficiais em matéria de religião ou de
convicções filosóficas, ideológicas ou doutrinárias.
Dimensões do princípio da laicidade: (i) A não identificação do Estado com nenhuma
religião; (ii) Liberdade e igualdade religiosa; (iii) Separação e neutralidade do
Estado perante as Igrejas; (iv) Não confessionalidade do ensino público.
a) Procedimento constituinte.
A Carta Constitucional de 1826 distingue-se das outras duas constituições (1822 e
1838) por ter sido outorgada por D. Pedro IV, seguindo um procedimento
constituinte autocrático ou autoritário, que pressupõe que o texto constitucional seja
decretado pelo próprio poder político estabelecido (neste caso, o rei), sem qualquer
intervenção de uma assembleia representativa eleita ad hoc; a titularidade do poder
constituinte está no rei. A Constituição de 1822 e a Constituição de 1838 derivam da
manifestação de um procedimento constituinte democrático, em que a constituição
é feita por uma assembleia constituinte eleita (eleições constituintes de 1820 e de
1836, respetivamente); a titularidade do poder constituinte reside no povo.
b) Separação de poderes.
O princípio clássico da separação de poderes, idealizado por Montesquieu, é
constante nas três constituições monárquicas portuguesas. A Constituição de 1822 e
a Constituição de 1838 adotaram uma separação tripartida: poder legislativo
(Cortes), poder executivo (rei) e poder judicial (tribunais). No entanto, com o intuito
de recuperar o poder perdido pelo rei com o texto da Constituição de 1822, a Carta
Constitucional de 1826 vai incluir no seu articulado um novo poder: o quarto poder
ou poder moderador. A separação de poderes passa a ser quatripartida: poder
legislativo (Cortes), poder moderador (rei), poder executivo (rei) e poder judicial
(tribunais).
c) As Cortes.
Na Constituição de 1822 as Cortes reúnem-se numa única câmara (sistema
unicamaralista), a Câmara dos Deputados. A Carta Constitucional de 1826 criou
uma câmara de índole aristocrática, não eletiva, dividindo as Cortes em duas
câmaras (sistema bicamaralista): a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Pares
(representativa do clero e da nobreza). A Constituição de 1838 manteve o sistema
bicamaralista, mas alterou a designação da câmara alta para Câmara dos
Senadores, que passou a ser eleita, deixando de ser uma câmara representativa da
nobreza e do clero.
d) Os direitos fundamentais.
Desde a primeira constituição (1822) que, invariavelmente, se inclui um catálogo de
direitos fundamentais no articulado constitucional. Em princípio, o elenco de
direitos fundamentais transita de constituição em constituição, verificando-se um
sucessivo acrescento na transição da constituição mais antiga para a mais recente.
Tendo em conta a importância desta temática, os direitos fundamentais são inseridos
no início do texto constitucional: no caso da Constituição de 1822, os “direitos e
deveres individuais dos portugueses” abrem o articulado (art. 1º-19º); na
Constituição de 1838, o capítulo único “dos cidadãos portugueses” surge como título
II (art. 6º-8º), imediatamente a seguir ao título I “da Nação Portuguesa, seu
Território, Religião, Governo e Dinastia” (arts. 1º-5º).
No entanto, a Carta Constitucional de 1826 deslocou os “direitos civis e políticos dos
cidadãos portugueses” para o seu último artigo (art. 145º). Ao serem relegados para
um único e último artigo do texto constitucional (art. 145º), esta Constituição
evidencia uma certa desvalorização sistemática ou formal dos direitos fundamentais
dos cidadãos. No entanto, em relação à Constituição de 1822, foram consagrados os
direitos tipicamente liberais nela enunciados e ainda foram acrescentados outros de
novo, v. g., garantia de não retroatividade das leis (§ 2), abertura a uma limitada
liberdade religiosa (§ 4), liberdade de deslocação e emigração (§ 5), necessidade de
decretação da prisão por uma autoridade legítima (§ 9), independência do poder
judicial e o princípio do caso julgado (§ 11), liberdade de trabalho e de empresa (§
23), defesa da propriedade intelectual (§ 24), socorros públicos (§ 29)e instrução
primária gratuita (§ 30). Na qualidade de texto constitucional conservador preserva
os direitos e garantias de natureza estamentária, mais especificamente de direitos e
garantias da nobreza e da burguesia (§ 31).
e) Sistema de governo
As três constituições consagram todas elas a separação entre o poder legislativo e o
poder executivo, sem preverem a responsabilidade política deste perante aquele. O
poder executivo cabia nominalmente ao rei, que, porém, o exercia através de
ministros por si livremente nomeados.
No caso das constituições de 1822 e de 1838, elas estiveram em vigor tempo
insuficiente para verificar como este sistema de governo poderia funcionar. No caso
da Carta, que esteve em vigor, na sua terceira e longa vigência entre 1842 e 1910, a
prática veio instituir uma espécie de sistema de governo parlamentar, à medida que
o rei se distanciava da atividade governativa e que os governos se iam tornando
dependentes da confiança parlamentar para poderem governar. Mas, no sistema de
governo da Carta o rei tinha o chamado “poder moderador”, que incluiu um poder
de veto legislativo e um poder próprio de dissolução parlamentar.
Suponha que o Governo aprova um diploma para ser promulgado como decreto-lei, no
qual, entre outras disposições, a norma “X” proíbe os professores do ensino superior de
se ausentarem do País durante os meses de junho e julho, nos quais os estudantes realizam
as provas escritas e orais.
Por outro lado, pode ser que a constituição formal contenha algumas normas que
não satisfazem os requisitos da materialidade constitucional, por não possuírem
suficiente relevância (por exemplo, na Suíça a constituição chegou a ter uma norma
a proibir o absinto!). Inversamente, pode haver normas ou leis inteiras que devam
ser consideradas como materialmente constitucionais, dada a sua importância e
relevância para a ordem fundamental da coletividade, apesar de não estarem
inseridas na constituição formal. Tal é o caso, por exemplo, da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em França.
Caso sintomático é o da nossa Carta Constitucional de 1826, que estipulava ela
mesma que só tinham valor constitucional as normas respeitantes à organização
dos poderes e aos direitos individuais, podendo as restantes ser livremente
modificadas por lei ordinária, sendo, portanto, “desconstitucionalizadas” pela
própria Carta (“autodesconstitucionalização”). No fundo, o que esse preceito
queria dizer é que as demais normas não eram materialmente constitucionais, mas
que também não eram juridicamente constitucionais, apesar de fazerem parte da
constituição formal, sendo tratadas como normas infraconstitucionais,
nomeadamente quanto à sua revisão.
8. Poder constituinte.
A categoria das leis orgânicas foi introduzida na Constituição com a revisão de 1989.
São leis ordinárias de regime especial (logo, não são leis constitucionais). Só existem
em matérias de competência exclusiva da Assembleia da República e estão
vinculadas ao princípio da tipicidade, isto é, só o são aquelas que a Constituição
considera como tais (166.º, n.º 2). A Constituição delimita o seu universo por
intermédio de dois critérios: matéria e procedimento. As matérias sujeitas a lei
orgânica são em geral de importância político-institucional especialmente relevante
(166.º, n.º 2).
O procedimento legislativo parlamentar de elaboração e aprovação das leis orgânicas
apresenta algumas especificidades importantes relativamente ao procedimento
normal: (i) a votação na especialidade da maior parte das leis orgânicas é feita no
plenário e não em comissão, como é regra (168.º-4); (ii) as leis orgânicas têm de ser
aprovadas por maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (168.º- 5),
e em alguns casos, mesmo por maioria de 2/3 (art. 168.º-6), e não por maioria relativa,
como s demais leis; (iii) a sua confirmação após eventual veto presidencial carece da
maioria de 2/3 dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções (136.º-3); (iv) a fiscalização preventiva da
constitucionalidade das leis orgânicas pode ser pedida não só pelo Presidente da
República mas também pelo Primeiro-Ministro ou um quinto dos deputados em
efetividade de funções (278.º- 4).
Além disso. sendo leis reforçadas (art. 112º-3), as leis orgânicas têm de ser respeitadas
por outras leis, sob pena de “ilegalidade reforçada”, cujo regime de fiscalização
judicial se aproxima do regime da fiscalização da constitucionalidade, sendo
também competência do Tribunal Constitucional (CRP. arts. 280º-282).
O dia 1 de outubro de 1820 foi o dia definitivo da unificação nacional, com a entrada
triunfante da Junta Provisional do Porto na capital, em Lisboa, e a reunião com o
Governo Interino de Lisboa. A partir desse dia passa a existir um único poder
político central, sediado em Lisboa, e a causa constitucional da Nação espalhou-se
e cobriu todo o território de Portugal.
A abertura e instalação oficial das Cortes ocorreu no dia 26 de janeiro de 1821 (com
uma sessão preparatória anterior, realizada no dia 24 de janeiro), na sala da livraria
do Convento das Necessidades, em Lisboa, apenas com a presença dos deputados
da metrópole, uma vez que os deputados das ilhas adjacentes e dos domínios
ultramarinos, incluindo o Brasil, só posteriormente viriam a ser eleitos e integrados
no Magno Congresso. As Cortes aprovaram o texto da Constituição no dia 23 de
setembro e foram dissolvidas no dia 4 de novembro de 1820, após o juramento da
Constituição no País (3 de novembro).
VI. Leia atentamente o caso prático e responda de forma objetiva e fundamentada às respetivas questões
(7,5 valores):
Suponha que o Governo aprova um diploma para ser promulgado como decreto-lei, no
qual, entre outras disposições, a norma “X” determina a criação de um “comité de verdade”
para escrutinar a imprensa e evitar que se publiquem fake news (notícias falsas) sobre
dirigentes partidários.
[Notas: (i) Pode consultar a CRP e a Lei do TC (não anotadas); (ii)Pode alterar a ordem das
perguntas, mas deixe sempre uma linha de intervalo entre cada resposta]
Direito Constitucional
Faculdade de Direito
1.º Ciclo de Estudos
Direito - 1.º Ano
Exame de 2.ª Época
10/07/2019
Duração:120 minutos
4. Lei de bases.
5. Regiões autónomas.
6. Moção de censura.
f) Procedimento constituinte.
A Carta Constitucional de 1826 distingue-se das outras duas constituições (1822 e
1838) por ter sido outorgada por D. Pedro IV, seguindo um procedimento
constituinte autocrático ou autoritário, que pressupõe que o texto constitucional
seja decretado pelo próprio poder político estabelecido (neste caso, o rei), sem
qualquer intervenção de uma assembleia representativa eleita ad hoc; a
titularidade do poder constituinte está no rei. A Constituição de 1822 e a
Constituição de 1838 derivam da manifestação de um procedimento constituinte
democrático, em que a constituição é feita por uma assembleia constituinte eleita
(eleições constituintes de 1820 e de 1836, respetivamente); a titularidade do poder
constituinte reside no povo.
g) Separação de poderes.
O princípio clássico da separação de poderes, idealizado por Montesquieu, é
constante nas três constituições monárquicas portuguesas. A Constituição de 1822
e a Constituição de 1838 adotaram uma separação tripartida: poder legislativo
(Cortes), poder executivo (rei) e poder judicial (tribunais). No entanto, com o
intuito de recuperar o poder perdido pelo rei com o texto da Constituição de 1822,
a Carta Constitucional de 1826 vai incluir no seu articulado um novo poder: o
quarto poder ou poder moderador. A separação de poderes passa a ser
quatripartida: poder legislativo (Cortes), poder moderador (rei), poder executivo
(rei) e poder judicial (tribunais).
h) As Cortes.
Na Constituição de 1822 as Cortes reúnem-se numa única câmara (sistema
unicamaralista), a Câmara dos Deputados. A Carta Constitucional de 1826 criou
uma câmara de índole aristocrática, não eletiva, dividindo as Cortes em duas
câmaras (sistema bicamaralista): a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Pares
(representativa do clero e da nobreza). A Constituição de 1838 manteve o sistema
bicamaralista, mas alterou a designação da câmara alta para Câmara dos
Senadores, que passou a ser eleita, deixando de ser uma câmara representativa da
nobreza e do clero.
i) Os direitos fundamentais.
Desde a primeira constituição (1822) que, invariavelmente, se inclui um catálogo
de direitos fundamentais no articulado constitucional. Em princípio, o elenco de
direitos fundamentais transita de constituição em constituição, verificando-se um
sucessivo acrescento na transição da constituição mais antiga para a mais recente.
Tendo em conta a importância desta temática, os direitos fundamentais são
inseridos no início do texto constitucional: no caso da Constituição de 1822, os
“direitos e deveres individuais dos portugueses” abrem o articulado (art. 1º-19º); na
Constituição de 1838, o capítulo único “dos cidadãos portugueses” surge como
título II (art. 6º-8º), imediatamente a seguir ao título I “da Nação Portuguesa, seu
Território, Religião, Governo e Dinastia” (arts. 1º-5º).
No entanto, a Carta Constitucional de 1826 deslocou os “direitos civis e políticos dos
cidadãos portugueses” para o seu último artigo (art. 145º). Ao serem relegados para
um único e último artigo do texto constitucional (art. 145º), esta Constituição
evidencia uma certa desvalorização sistemática ou formal dos direitos
fundamentais dos cidadãos. No entanto, em relação à Constituição de 1822, foram
consagrados os direitos tipicamente liberais nela enunciados e ainda foram
acrescentados outros de novo, v. g., garantia de não retroatividade das leis (§ 2),
abertura a uma limitada liberdade religiosa (§ 4), liberdade de deslocação e
emigração (§ 5), necessidade de decretação da prisão por uma autoridade legítima
(§ 9), independência do poder judicial e o princípio do caso julgado (§ 11),
liberdade de trabalho e de empresa (§ 23), defesa da propriedade intelectual (§ 24),
socorros públicos (§ 29)e instrução primária gratuita (§ 30). Na qualidade de texto
constitucional conservador preserva os direitos e garantias de natureza
estamentária, mais especificamente de direitos e garantias da nobreza e da
burguesia (§ 31).
j) Sistema de governo
As três constituições consagram todas elas a separação entre o poder legislativo e o
poder executivo, sem preverem a responsabilidade política deste perante aquele. O
poder executivo cabia nominalmente ao rei, que, porém, o exercia através de
ministros por si livremente nomeados.
No caso das constituições de 1822 e de 1838, elas estiveram em vigor tempo
insuficiente para verificar como este sistema de governo poderia funcionar. No
caso da Carta, que esteve em vigor, na sua terceira e longa vigência entre 1842 e
1910, a prática veio instituir uma espécie de sistema de governo parlamentar, à
medida que o rei se distanciava da atividade governativa e que os governos se iam
tornando dependentes da confiança parlamentar para poderem governar. Mas, no
sistema de governo da Carta o rei tinha o chamado “poder moderador”, que
incluiu um poder de veto legislativo e um poder próprio de dissolução
parlamentar.
[Notas: (i) Pode consultar a CRP e a Lei do TC (não anotadas); (ii)Pode alterar
a ordem das perguntas, mas deixe sempre uma linha de intervalo entre cada
resposta]