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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


FACULDADE DE DIREITO
DISCIPLINA DIREITO CONSTITUCIONAL I

DO PROCESSO LEGISLATIVO

Prof. Eriberto Francisco Bevilaqua Marin


Canção do Tamoio
A Obra mais linda do mundo
I
Não chores, meu filho; As melhores e as mais lindas
Não chores, que a vida
coisas do mundo não se pode ver
É luta renhida:
Viver é lutar. nem tocar.
A vida é combate,
Que os fracos abate, Elas devem ser sentidas com o
Que os fortes, os bravos coração. Não devemos ter medo
Só pode exaltar! dos confrontos. Até os planetas se
chocam, e do caos nascem as
X
As armas ensaia, estrelas.
Penetra na vida:
Pesada ou querida, Não se mede o valor de um homem
Viver é lutar. pelas suas roupas ou pelos bens
Se o duro combate que possui, o verdadeiro valor do
Os fracos abate,
homem é o seu caráter, suas ideias
Aos fortes, aos bravos,
Só pode exaltar. e a nobreza dos seus ideais.

Charles Chaplin
Gonçalves Dias
.
(1823-1864)
CONTEÚDO DA AULA

1. Do Processo Legislativo: noções gerais


2. Do Processo Legislativo: espécies
3. Fases do Procedimento Legislativo Ordinário ou Comum
4. Iniciativa
5. Deliberação
6. Promulgação
7. Publicação
8. Fluxo simplificado de processo legislativo ordinário
9. Fluxo simplificado de processo legislativo sumário
10. Fluxo de Processo Legislativo: Lei Delegada
11. Fluxo de Processo Legislativo: Medida Provisória
12. Fluxo de Processo Legislativo: Emenda Constitucional
13. Fluxo de Processo Legislativo: Tratado Internacional
14. Referências
Otto von Bismarck
(1815-1889) foi
primeiro-ministro do
reino da Prússia
(1862-1890); unificou
a Alemanha; e depois
de uma série de
guerras, tornou-se o
primeiro chanceler
(1871-1890) do
Império Alemão.
1. DO PROCESSO LEGISLATIVO: NOÇÕES GERAIS

● O processo legislativo constitui o

“conjunto coordenado de
disposições que disciplinam o
procedimento a ser obedecido
pelos órgãos competentes na
produção de leis e atos
normativos que derivam
diretamente da própria
Constituição”. (Alexandre de Moraes)
1. DO PROCESSO LEGISLATIVO: NOÇÕES GERAIS

● O processo de formação das espécies


normativas é tema de alta significação
constitucional e foi tratado nos arts. 59 e segs. da
CRFB/1988.

● As normas jurídicas devem ser dotadas de alguns


atributos, como precisão ou determinabilidade, clareza
e densidade suficiente (CANOTILHO, 2003) para
permitir a definição do objeto da proteção jurídica e o
controle de legalidade da ação administrativa.
2. DO PROCESSO LEGISLATIVO: ESPÉCIES

1. Quanto às formas de organização política (Alexandre de Moraes):

a) autocrático: imposto pelo governante;

b) direto: feito diretamente pelo povo;

c) indireto ou representativo: realizado por meio de representantes


eleitos;

d) semidireto: condicionado à vontade popular direta (referendo).


2. DO PROCESSO LEGISLATIVO: ESPÉCIES

ORDINÁRIO OU NORMAL: procedimento ordinário de tramitação de projetos de leis ordinárias


e complementares (para José Afonso da Silva, o processo legislativo das leis complementares é
especial - quórum).

ABREVIADO: ocorre quando, por norma regimental, dispensa-se a competência do Plenário,


havendo deliberação terminativa nas próprias Comissões Permanentes, salvo se houver
recurso de um décimo dos membros da Casa (art. 58, § 2º, I, CF/88). O RICD (art. 24, II) e o
RISF (art. 91) opõem limitações a certos tipos de projetos.

SUMÁRIO: em regime de urgência, a pedido do Presidente da República nos projetos de sua


Espécies de iniciativa - a ultimação em 45 dias para cada Casa (art. 64, §§ 1º a 4º) - atos de outorga e
concessão de emissoras de rádio e TV (art. 233, § 1º); não em projetos de Código (art. 64, § 4).
procedimentos:
SUMARÍSSIMO: além dos casos de regime de urgência, o RICD (art. 155) e RISF (art. 336, “a”
e “b”) permitem a apreciação instantânea de certas matérias (regime de urgência
urgentíssima), a pedido das lideranças majoritárias, em caso de interesse nacional, perigo à
segurança nacional ou calamidade pública.

CONCENTRADO: apreciação conjunta de ambas as Casas (votação unicameral). Ex.:


deliberação sobre medidas provisórias, leis delegadas e leis orçamentárias.

ESPECIAL: específicos de aprovação de projetos de emendas constitucionais e de códigos.


3. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO OU NORMAL

Introdutória Constitutiva Complementar

Deliberação Promulgação
Legislativa (declarar a
(Discussão e existência)
Iniciativa Votação)
(Projeto de Lei)

Deliberação
Publicação
Executiva
(comunicar a
(Sanção ou
existência)
Veto)
4. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: INICIATIVA

● É a proposta de edição de direito novo (Projeto de Lei) -


o início do processo de elaboração de leis.

● CRFB/88: terá início na Câmara dos Deputados os


projetos de lei de iniciativa do Presidente da República e
Tribunais Superiores (art. 64); de iniciativa popular (art. 61,
§2º ); apesar de não estar explícito na Constituição, os
projetos de iniciativa do Ministério Público (art. 17, do RICD).
4. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: INICIATIVA

1. Iniciativa comum ou concorrente (ou iniciativa ampla):


Compete ao Presidente da República, a qualquer parlamentar ou
comissão das Casas e do Congresso Nacional e aos cidadãos
(art. 61, §§ 1º e 2º).

2. Iniciativa reservada: constituem exceções constitucionais à


Tipos de
regra da iniciativa ampla: da Câmara dos Deputados e do Senado
Iniciativa
(CRFB/88): Federal (arts. 51, IV e 53, VII, com redação dada pela EC nº
19/98); ao Presidente da República (arts. 61, §1º; 84, XXIII e 165),
ao STF (arts. 92, II, e 93, caput), aos Tribunais Superiores (arts.
92, II, e 96, I, “d”) e ao Procurador-Geral da República (iniciativa
concorrente com o Pres. Rep. - art. 128, § 5º; iniciativa privativa:
127, § 2º).
4. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: INICIATIVA

3. Iniciativa qualificada: ao processo legislativo das emendas


constitucionais (o art. 60, I a III) excluindo a participação popular
direta, passando a exigir proposta: a) de 1/3, no mínimo, dos
membros da Câmara ou do Senado; b) do Presidente da

Tipos de
República; c) de mais da metade das Assembléias Legislativas
Iniciativa das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas,
(CRFB/88): pela maioria relativa de seus membros.

4. Iniciativa conjunta: referente à lei de fixação do subsídio


dos Ministros do STF (art. 48, XV) de iniciativa conjunta dos
Presidentes da República do Senado, da Câmara e do próprio
STF (inclusão da EC nº 19/98).
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

1. Discussão: tratam das discussões e instrução do projeto de lei


(CCJ, Comissões Temáticas e Plenário) - é matéria confiada
aos RI da CD, do SF e do Congresso Nacional.

2. Emenda: proposição legislativa apresentada como

Deliberação acessória de outra (RICD, art. 118) - o poder de emenda é


Parlamentar exclusivamente exercido por parlamentares.
(CRFB/88):
● Podem ser supressivas, aditivas, aglutinativas,
modificativas, substantivas ou de revisão (cf. os §§ do
art. 118, do RICD).
● Devem ater-se à identidade temática inicial dos projetos,
sob pena de flagrante desrespeito ao direito de iniciativa.
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

3. Votação: realiza-se após a instrução do projeto nas comissões e o


debate em Plenário - completo o quorum mínimo para a instalação da
sessão a decisão pode ser:
3.1. Por maioria simples: é a regra geral, utilizada para a aprovação
dos projetos de lei ordinária (art. 47).
3.2. Por maioria absoluta: voto de metade mais um do total dos
Deliberação
membros da Casa - aprovação de leis complementares (art. 69),
para a rejeição de veto presidencial (art. 66, § 4º) e para a
Parlamentar
renovação de projeto rejeitado numa mesma sessão legislativa
(CRFB/88):
(art. 67).
3.3. Por maioria de dois terços: percentual exigido para a Câmara
dos Deputados autorizar a instauração do processo de impeachment
(art. 51, I), e para o Senado Federal aprová-lo (art. 52, par. único).
3.4. Por maioria de três quintos: voto correspondente à vontade de
302 deputados e 49 senadores - exige-se tal percentual para a
aprovação das Emendas à Constituição (art. 60, § 2º).
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

1. COMISSÕES TEMPORÁRIAS: São criadas para apreciar


determinado assunto e são extintas ao término da Legislatura,
ou antes, quando alcançado o fim a que se destinam ou
expirado seu prazo de duração (RICD, Art. 33, 35 e 38).
COMISSÕES:
● Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) - Art. 58, §
Art. 58, §§, da
CRFB/88
3º, da CRFB/88.
● Comissões Especiais - Art. 58, § 4º, da CRFB/88.
● Comissões Externas (criadas para atuar em questões fora
da Casa Legislativa e representá-la nos atos em que for
convidada ou que tenha que comparecer).
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

2. COMISSÕES PERMANENTES: São as Comissões de caráter


técnico-legislativo ou especializado - possuem campos de atuação
definidos - são órgãos da Casa e agentes ativos no processo de
elaboração e discussão de leis (RICD, Art. 22, 24 e 32).
● Exemplos: Comissão de Legislação Participativa (CLP),
COMISSÕES:
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC),
Art. 58, §§, da
CRFB/88
Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e Comissão de
Fiscalização Financeira e Controle (CFFC).
● A criação ou extinção de uma Comissão Permanente é feita por
Resolução da Casa e alteração no Regimento.
● Composição das Comissões Permanentes: definida no início da
Legislatura.
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

1. Ato complexo: conjugação de vontades - após a


deliberação parlamentar, a CF/88 exige a composição da
vontade do chefe do Executivo (art. 66).

2. Sanção: é a manifestação positiva (aquiescência) da


Deliberação
vontade do Presidente da República em face do projeto de lei
Executiva
(CRFB/88): aprovado pelo Legislativo - pode ser:
2.1. Expressa: no prazo de 15 dias, o Presidente da
República concorda com os termos do projeto (art. 66, § 3º).
2.2. Tácita: se o silêncio presidencial persistir por mais de 15
dias (art. 66, § 4º).
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO

3. Veto: poder conferido ao Presidente da República (art. 66, § 1º) de


negar trânsito ao projeto de lei, fundamentado (sempre motivado) em
sua inconstitucionalidade (motivo jurídico), ou por considerá-lo contrário
ao interesse público (motivo político).
3.1. Tipos de veto: Total: quando atingir todo o projeto (art. 66, § 1º);
Parcial: de parte do projeto (art. 66, § 2º).
Deliberação 3.2. Comunicação do veto: deverá ser manifestado em 15 dias e
comunicado ao Presidente do Senado Federal em 48 horas.
Executiva
3.3. Veto de cauda (ou de pingente) e de bolso: não são aceitos
(CRFB/88): (relacionado a palavras ou expressões contidas em um dispositivo legal -
art. 66, § 2º); ou o veto tácito ou de bolso).
3.4. Quanto aos efeitos: o veto é irretratável e suspende a
transformação em projeto em lei.
3.5. Quanto à apreciação do veto: não é inamovível - pode ser
rejeitado pela maioria absoluta dos parlamentares, em sessão conjunta,
dentro de 30 dias do seu recebimento (art. 66, § 4º).
5. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: DELIBERAÇÃO EXECUTIVA
6. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: PROMULGAÇÃO

● Após a sanção, segue-se a promulgação: trata-se da


comunicação, aos destinatários da lei, de que esta foi criada
com determinado conteúdo (declaração de existência).

● É obrigação do Presidente da República (art. 84, IV) - caso não


o faça em 48 horas, caberá a tarefa ao Presidente do Senado
Federal ou, sucessivamente, ao Vice-Presidente do Senado
Federal (art. 66. § 7º).

● As emendas constitucionais são promulgadas pelas Mesas da


Câmara e do Senado (art. 60, § 3º).

● Mesmo nos casos de rejeição do veto, o projeto de lei será


enviado à promulgação presidencial (art. 66, § 5º).
7. FASES DO PROCEDIMENTO LEGISLATIVO ORDINÁRIO: PUBLICAÇÃO

● Comunicação de que certa lei foi promulgada - é condição de


eficácia da lei.

● A autoridade que promulga a lei deve, obrigatoriamente,


publicá-la.

● A publicação da lei gera a presunção iuris et de iure - ninguém


pode se escusar do seu cumprimento alegando que a
desconhece (art. 3º da LINDB).

● Publicação na esfera federal (Diário Oficial da União); e nos


Estados e nos Municípios (por meio de seus órgão oficiais de
publicação ou em jornais de circulação periódica e/ou nos locais
de afixação oficiais).

● A retificação de publicação da lei (já em vigor) considera-se


nova lei (art. 1º, § 4º, da LINDB).
8. FLUXO SIMPLIFICADO DE PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO
9. FLUXO SIMPLIFICADO DO PROCESSO LEGISLATIVO SUMÁRIO
10. FLUXO DE PROCESSO LEGISLATIVO: LEI DELEGADA
11. FLUXO DE PROCESSO LEGISLATIVO: MEDIDA PROVISÓRIA

Câmara dos Deputados Câmara dos Câmara dos


Senado Federal Senado Federal
Deputados Deputados

Sem Com Rejeitada Aprovada


Rejeitada Aprovada
Plenário alteração alteração a alteração a alteração

Arquivo Sanção Sanção e


Promulgação Sanção
Promulgação
Comissão Mista

Publicação Publicação
12. FLUXO DE PROCESSO LEGISLATIVO: EMENDA CONSTITUCIONAL

Primeira Casa Legislativa Segunda Casa Legislativa

Primeiro Turno de Votação Primeiro Turno de Votação

Se aprovada por ⅗ dos Se aprovada por ⅗ dos


membros Para reapreciação membros
em dois turnos

Segundo Turno de Votação Segundo Turno de Votação

Se houver Se aprovada
Se aprovada por ⅗ dos modificação por ⅗ dos
membros substancial membros

Promulgação pelas Mesas da


Câmara dos Deputados e
Senado Federal
13. FLUXO DE PROCESSO LEGISLATIVO: TRATADO INTERNACIONAL

Fase Interna

- Negociação Aprovação do Ratificação do Promulgação


- Adoção CN - Art. 49, I Presidente da mediante
- Assinatura (TI); ou Art. 5º, República - Art. decreto
§ 3º (TIDH) 84, VIII presidencial

Fase
internacional
14. REFERÊNCIAS
BRASIL. CONGRESSO. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Manual de redação. Brasília : Câmara dos Deputados,
Coordenação de Publicações, 2004.

BULOS, Uadi Lammego. Curso de Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.

FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 14. ed. Salvador: Juspodivm, 2022.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Do processo legislativo. São Paulo: Saraiva, 2013.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2022.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 38. ed. São Paulo: Atlas. 2022.

SAMPAIO, Nelson de Sousa. O processo legislativo. Belo Horizonte: Del Rey, 1996.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme;MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 11.
ed. São Paulo: Saraiva, 2022.

SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 44. ed. Salvador: Juspodivm & Malheiros,
2022.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. A Constituição e o Supremo. In:


https://portal.stf.jus.br/constituicao-supremo/
Muito Obrigado!

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