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ERGONOMIA
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Disponível em: <https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/seguranca-e-saude-no-trabalho/sst-
menu/sst-normatizacao/sst-nr-portugues?view=default>. Acesso em: 9 dez. 2020.
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causador da doença conhecida naquele tempo como asma dos mineiros. Hoje,
sabemos que se trata da doença ocupacional chamada de silicose.
Em uma abordagem mais ampla, entende-se a segurança do trabalho
como um conjunto de medidas destinadas a proteger o trabalhador e sua saúde,
minimizando os riscos de acidente do trabalho e de doenças ocupacionais. Um
local de trabalho seguro depende do empregador, que estabelece as diretrizes
para manter a segurança baseado nas NR; e do empregado, que deve seguir o
que lhe foi determinado, a fim de preservar sua integridade física, mental e social.
E nesse contexto se encontra o eixo da ergonomia.
Seguindo a mesma linha de pensamento, conceituaremos o acidente de
trabalho, que pode ocorrer devido a inúmeros fatores, mas também pelo fato da
não observação da NR 17. De acordo com a Lei n. 8.213/1991, art. 19:
Quadro 1 – Fatores de risco: riscos físicos (RF), riscos químicos (RQ), riscos
biológicos (RB), riscos ergonômicos (RE) e riscos de acidente (RA)
RF RQ RB RE RA
Ruídos Poeiras Vírus Esforço físico intenso Arranjo físico inadequado
Vibrações Fumos Bactérias Levantamento/movimentação Uso de máquinas e
de carga equipamentos sem
proteção
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Radiações Neblinas Protozoários Exigência de postura Ferramentas
inadequada inadequadas ou
defeituosas
Temperaturas Gases Fungos Trabalho diurno e noturno Iluminação inadequada
Pressões Vapores Parasitas Monotonia e repetitividade Eletricidade
anormais
Outras situações que Probabilidade de
causem estresse físico e/ou incêndio ou explosão
mental
Armazenamento
inadequado
Animais peçonhentos
Outras situações de risco
que podem contribuir
para acidentes
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A ergonomia, como vimos até agora, é questão de saúde, sob todos os
aspectos. Espaços e locais mal concebidos causam inúmeras doenças ao
organismo humano. Nesse mesmo contexto, a definição que melhor expressa o
significado de saúde é apresentada pela OMS (1946, citada por Brasil, 2020):
“saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas
a ausência de doenças”. Outra definição que merece destaque refere-se a
Bendassoli (2012), que afirma que a saúde está relacionada à capacidade de se
ser sujeito, ou seja, não é apenas uma sensação de conforto ou prazer.
Saúde, segundo o mesmo autor, é atividade, isto é, “[...] tudo aquilo que
fazemos e que leva nossos corpos e mentes ao confronto com a realidade”
(Bendassoli, 2012, p. 28). Atividade sugere mudança de algo ou alguém por meio
de ações, para as quais se utilizam diversos recursos. O ambiente de trabalho tem
um valor bastante alto na saúde, de modo geral. Seu dia a dia reflete diretamente
em seu comportamento e em suas atitudes. Um dia tenso, com várias
preocupações, em um local onde o relacionamento entre os empregados é
agradável e respeitoso, gerará, provavelmente, apenas um leve cansaço mental
e físico. Entretanto, se o próprio ambiente não colabora, as pessoas se queixam
continuamente e o relacionamento interpessoal é igualmente tenso – no final da
sua jornada, esses indivíduos estarão muito mais cansados que o habitual e
dificilmente conseguirão descansar.
O ambiente de trabalho saudável, conforme a OMS (2010):
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2.3 Recursos
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2.6 Chave 2: envolvendo os trabalhadores e seus representantes
A terceira chave do modelo da OMS (2010) tem como lema não causar
danos, preservando a saúde e a segurança do indivíduo de um modo geral.
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meio de seus planos de atuação e programas voltados à saúde do trabalhador,
vem contribuindo para que haja uma melhoria geral das condições de trabalho.
O termo qualidade de vida (QV) foi usado pela primeira vez no ano de 1964.
O presidente dos Estados Unidos à época, Lyndon Johnson usou o termo em uma
declaração, referindo-se à avaliação de objetivos, conforme Fleck (1998). A QV,
afirmam Queiroz, Sá e Assis (2004), é um termo que está se tornando comum,
todavia continua bastante complexo. Interpretado de formas diversas, pode
significar alcançar a felicidade, ter boa saúde, ganhar bem, dispor de um bom
trabalho, sentir-se seguro. O senso comum resume QV como melhoria ou como
um alto padrão de bem-estar econômico, social ou emocional, sendo identificada
por vários fatores que transmitem uma percepção positiva, de bem-estar (Almeida;
Gutierrez; Marques (2012).
A QV engloba a multidisciplinaridade, afirmam Almeida, Gutierrez e
Marques (2012), além de vários conceitos e formas de ciência. Compreendê-la
envolve conhecimento humano, biológico, social, político, econômico, médico e
outros mais. Trata-se de uma temática ampla e complexa e que pode levar a
diversos entendimentos. E percebemos nitidamente o seu vínculo com o trabalho.
Corrêa (1993) afirma que a QV tanto influencia quanto é influenciada pela
qualidade das condições de trabalho. Organizações, sociedades e indivíduos são
sistemas que se interdependem em vários níveis.
É importante lembrar que sempre há o vínculo com a OMS quando
abordamos um assunto que envolve o bem-estar de indivíduos sob todos os seus
aspectos, pois, com isso, é de saúde que estamos falando. Segundo Fleck et al.
(1999), o Grupo de Qualidade de Vida da Divisão de Saúde Mental da OMS define
QV como “[...] a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto de
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações”. A OMS, com o intuito de averiguar a QV,
desenvolveu um projeto colaborativo que teve como resultado um instrumento de
avaliação contendo 100 itens, chamado de World Health Organization instrument
to assess quality of life – Whoqol-100 (Fleck et al., 1999).
No Brasil, esse questionário teve sua versão em português elaborada pelo
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS), de Porto Alegre. Para esse trabalho, estiveram
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envolvidos profissionais de saúde, pacientes e alunos de mestrado, com bastante
cuidado nessa tradução, a fim de se evitar diferenças que pudessem influenciar a
interpretação e os resultados. O questionário apresenta vocabulário e estruturas
simples, facilitando a leitura de todos (Fleck et al., 1999). No final da aula você
pode acessar as referências e aprofundar seu estudo.
Tendo entendido as discussões referentes à QV, seguimos para a
compreensão da qualidade de vida no trabalho (QVT), envolvendo também a área
da saúde. Segundo Corrêa (1993), a QVT é um fenômeno complexo, com
diferentes perspectivas e visões teóricas. A análise da QVT engloba o estudo
socioeconômico aprofundado e a compreensão de valores e motivações que
levam à qualidade. A QVT remete a um ambiente onde se trabalha com
segurança, higiene, conforto, distribuição igualitária de tarefas. Seu principal
objetivo, de acordo com Rechziegel e Vanalle (1999), é reformular a estrutura de
trabalho, garantindo, assim, maior produtividade e eficácia; bem como atender as
necessidades básicas do empregado.
Fernandes e Gutierrez (1998, citados por Limongi-França, 2008, p. 34)
afirmam que “a Qualidade de Vida no Trabalho é afetada por questões
comportamentais que dizem respeito às necessidades humanas e aos tipos de
comportamento individuais no ambiente de trabalho, de alta importância, como,
entre outros, variedade, identidade de tarefa e retroinformação”. A ergonomia é
intrínseca a tal conceito, uma vez que trata da adaptação do trabalho ao homem.
Da mesma forma acontece com a organização do trabalho, que envolve questões
pertinentes a projetos e análises ergonômicas.
Segundo o jornalista Lucca Neto (1999, citado por Limongi-França, 2008,
p. 43), a QVT “[...] é uma questão humana” e investir nessa área é primordial,
acrescentando ainda que as empresas devem incluir os trabalhadores nesse
processo, ajustando a eles os métodos produtivos. Percebemos, novamente, a
impossibilidade de se estudar ergonomia sem se envolver a QVT. Para Conte
(2003), a QVT é um programa com o objetivo de facilitar e satisfazer as
necessidades do trabalhador no desenvolvimento de suas tarefas, entendendo-se
que a produtividade está ligada à satisfação com que esse trabalhador é capaz
de realizar suas atividades. Essa conceituação, bem como sua adoção, reflete na
melhoria da QV pessoal, social e familiar.
O movimento de se propor a QVT, segundo Rechziegel e Vanalle (1999),
teve origem no ano de 1950, em Londres, quando foram estudadas formas de
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melhoria da organização do trabalho, com o objetivo de tornar a vida dos
empregados em suas funções mais leve e agradável. Conforme informam aqueles
autores, esses estudos tiveram continuidade até 1974 quando aconteceu, em
especial nos Estados Unidos, uma grave crise energética e uma alta da inflação.
Nesse momento, todo e qualquer esforço foi em prol da subsistência da própria
empresa. No entanto, na década de 1980, a insatisfação dos trabalhadores e a
falta de comprometimento com suas funções tornaram-se evidentes e a QVT
voltou a ser abordada (Rechziegel; Vanalle, 1999).
De acordo com Fernandes e Gutierrez (1988), a QVT refere-se
especialmente à melhoria das condições de trabalho bem como da organização
psicossocial e não apenas da remuneração do trabalhador. São vários os fatores
que refletem claramente na satisfação e na participação do trabalhador nas ações
estabelecidas pela empresa.
Fernandes (1996, p. 45) define a QVT como “a gestão dinâmica e
contingencial de fatores físicos, tecnológicos e sociopsicológicos que afetam a
cultura e renovam o clima organizacional, refletindo-se no bem-estar do
trabalhador e na produtividade das empresas”. A autora explica que a gestão é
dinâmica porque tanto organizações quanto pessoas estão em mudança
constante e contingencial, devido à realidade de cada empresa (Fernandes,
1996).
Outro grupo de autores (Pires; Solano; Araújo, 2013) afirma que a QVT
integra a lista de preocupações que uma empresa tem com os seus trabalhadores.
Seu desenvolvimento no ambiente de trabalho e o envolvimento maior desses
indivíduos com o seu ambiente de trabalho e as atividades que executam
progridem, havendo satisfação, motivação e autorrealização do trabalhador. Reis
Junior (2008), por sua vez, baseado em conceitos clássicos, definiu QVT como o
conjunto de ações desenvolvidas a fim de se obter melhorias gerenciais,
estruturais e tecnológicas, juntamente com a satisfação e o bem-estar físico,
psicológico, social e profissional dos colaboradores, implantando-se uma política
organizacional direcionada à QVT como principal discussão de uma gestão
eficiente.
Neumann e Freitas (2008) publicaram um artigo sobre a percepção da
equipe de enfermagem, quanto a essa temática. As autoras realizaram uma
pesquisa com 15 profissionais e, após a coleta e análise de dados, adotaram a
categoria qualidade de vida e condições de trabalho. A pesquisa as levou à
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compreensão do significado de QVT para uma equipe de enfermagem: “[...] ter a
oportunidade de ser ouvido pelos gestores e demais profissionais da equipe de
saúde da organização hospitalar e poder expressar ideias e aspirações em
relação às questões que envolvem o cotidiano de trabalho” (Neumann; Freitas,
2008).
Outro artigo, de autoria de Teixeira et al. (2019), fala sobre a QVT e a
relação com o estresse ocupacional de 109 profissionais da área de enfermagem,
em uma unidade de pronto atendimento (UPA) de Minas Gerais. O quesito QVT
foi analisado pelo modelo de Walton, que veremos mais adiante, juntamente com
mais alguns modelos. Os pesquisadores concluíram que os profissionais com
trabalhos de alta exigência e trabalhos passivos sentiam-se mais insatisfeitos
e com tendência ao estresse, comprovando a relação entre QVT e estresse
ocupacional. Esse fator contribui com o absenteísmo.
Schmidt e Dantas (2012) pesquisaram a relação entre a QVT e os
distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort) registrados entre os
profissionais de enfermagem. Participaram do levantamento 211 trabalhadores de
um total de 11 hospitais situados em Londrina, no Paraná. A maioria era composta
por auxiliares de enfermagem do sexo feminino, casadas e com idade média de
40 anos. Entre os participantes, 38,9% apresentaram reclamações
osteomusculares na parte inferior das costas e 37,9%, na região dos ombros.
Segundo as autoras, a associação entre QVT e Dort comprovou que profissionais
com Dort apresentam queda na QVT.
São inúmeros os trabalhos e estudos desenvolvidos sobre a QVT. É
importante destacarmos que uma organização que não investe em QVT corre o
sério risco de comprometer a saúde de seus colaboradores e, consequentemente,
a saúde da própria instituição.
São vários os fatores que influenciam na QV, bem como na QVT. Por esse
motivo, diversos pesquisadores desenvolveram modelos que funcionam,
inclusive, como indicadores de QVT. Em um dos casos apresentados no Tema 3,
fizemos menção ao modelo de Walton, utilizado para embasar a pesquisa de
Teixeira et al. (2019). Além de abordar o modelo de Walton, falaremos também
dos modelos de Hackman e Oldman; de Westley; de Werther e Davis; e de Nadler
e Lawler. Os modelos estão referenciados em Pedroso e Pilatti (2010).
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4.1 Modelo de Walton
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4.4 Modelo de Werther e Davis
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ao trabalhador: ajudar, educar e encorajar. Para Chiavenato (2004), esses
componentes são definidos da seguinte forma:
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1. Sensibilização: modo de transmitir informações importantes ao
trabalhador que tem a finalidade de tornar determinado assunto mais
compreensível a quem o ouve. Dessa forma, torna-se possível tomar
decisões importantes para a promoção da saúde do trabalhador,
aumentando o seu interesse sobre os vários temas abordados no
programa, o que pode ser feito por meio de confecção de cartazes,
publicações, informativos, jornais e outros meios de comunicação, desde
que despertem a atenção de quem os lê.
2. Mudança de estilo de vida/desenvolvimento do programa: fase inicial
para a elaboração de um programa de QVT. O objetivo, nessa etapa, é
fornecer elementos, ao empregado, capazes de modificar seu
comportamento. Isso pode ser feito por meio de atividades em grupo, por
exemplo. Para dar continuidade aos bons hábitos adquiridos, segue-se
para a próxima etapa.
3. Ambiente de suporte: o intuito dessa etapa é promover um ambiente
salutar, conforme o assunto tratado na implantação do programa de QVT
(hipertensão, obesidade, tabagismo etc.). Essa fase dá continuidade ao
programa, beneficiando os seus participantes.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. O que significa ter saúde? Saúde Brasil, 7 ago. 2020. Disponível em:
<https://saudebrasil.saude.gov.br/eu-quero-me-exercitar-mais/o-que-significa-ter-
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saude>. Acesso em: 8 dez. 2020.
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Diagnóstico da alimentação saudável e atividade física na Fundação de
Desenvolvimento da Unicamp. Campinas: Funcamp, 2005. Disponível em:
<http://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/deafa/qvaf/funcamp_cap7.pdf>.
Acesso em: 7 dez. 2020.
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comunicação. Connexio: Revista Científica da Escola de Gestão e Negócios,
Natal, v. 2, n. 2, p. 85-99, fev./jul. 2013. Disponível em
<http://repositorio.unp.br/index.php/connexio/article/view/356/282>. Acesso em: 7
dez. 2020.
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