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AULA 4

ERGONOMIA

Prof.ª Silvana Stumm


INTRODUÇÃO

Nesta aula, abordaremos assuntos mais específicos da nossa disciplina.


Por serem temas mais aprofundados, sugere-se que, além da aula, você pesquise
e leia artigos, estudos e outros materiais que contribuam para a compreensão das
temáticas. Com a visão holística da ergonomia iremos explorar e conceituar
sistemas, falar sobre métodos de análise e, para finalizar, teremos exemplos de
ferramentas ergonômicas. Nossos tópicos serão os seguintes: sistemas
ergonômicos; sistema humano-máquina-ambiente; métodos ergonômicos; análise
ergonômica do trabalho; outros métodos de avaliação ergonômica

TEMA 1 – SISTEMAS EM ERGONOMIA

Segundo Oliveira (1986), “sistema é um conjunto de partes integrantes e


interdependentes que, conjuntamente, formam um todo unitário com determinado
objetivo e efetuam determinada função”. Chiavenato (1987) o define como:

um conjunto de elementos interdependentes e interagentes; um grupo


de unidades combinadas que formam um todo organizado e cujo
resultado (output) é maior do que o resultado que as unidades poderiam
ter se funcionassem independentemente.

Como a nossa disciplina é de ergonomia, vamos citar a abordagem que


Chiavenato (1987) faz, entendendo o ser humano também como “um sistema que
consiste em um número de órgãos e membros, e somente quando estes
funcionam de modo coordenado o homem é eficaz”. E a ergonomia estuda a
interação entre o ser humano e o trabalho no ambiente laboral. Todo esse sistema
opera em conjunto.
Os estudos ergonômicos, conforme Iida e Buarque (2016), fundamentam-
se na teoria de sistemas que, segundo Chiavenato (1987), produz teorias e
formulações conceituais com capacidade de criar condições de aplicações na
realidade empírica. No entanto, para a ergonomia, afirmam Iida e Buarque (2016),
adota-se o conceito biológico de sistema: “conjunto de elementos (ou
subsistemas) que interagem entre si, evoluem no tempo, seguindo certos
procedimentos (processos, normas, regras ou leis), tendo um objetivo em
comum”. Os aspectos que caracterizam um sistema dividem-se em componentes,
interações entre os subsistemas, contínua evolução, existência de procedimentos,
regras ou normas e alcance das metas e objetivos.

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Em relação aos elementos que compõem o sistema, conforme Iida e
Buarque (2016), temos:

a. Fronteira – limites do sistema;


b. Subsistemas – contidos na fronteira;
c. Interações – relações entre os subsistemas;
d. Entradas ou inputs - variáveis independentes;
e. Saídas ou outputs - variáveis dependentes;
f. Processamento – atividades que interagem e ambiente – variáveis que
podem influenciar o desempenho do sistema; e
g. Ambientes – variáveis dentro ou fora da fronteira sem relação direta com o
processamento, mas podem influir no desempenho do sistema

Figura 1 – Exemplo de sistema

Sistema Subsistema
com fronteira
Saída
Entrada

Crédito: Inspiring/Shutterstock.

Interpretando de modo bastante simples a Figura 1, vamos imaginar que


estão sendo inseridos dados ou inputs para a fabricação de um novo
medicamento. Esses dados são processados em diversas operações e resultam
em um produto final ou outputs. Se quisermos entender uma das operações ou
subsistemas de forma particular, como a ação de determinado componente,
colocamos uma fronteira, ou seja, delimitamos o componente e o processamos
como um novo sistema, dentro do sistema original. É importante destacar que
existe relação entre os subsistemas.

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TEMA 2 – SISTEMA HUMANO-MÁQUINA-AMBIENTE

Agora que já estudamos os sistemas, vamos ao nosso novo assunto.


Todavia, antes de abordá-lo, é importante relembrar o objetivo da NR 17: definir
parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, a fim de promover o máximo
de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Kruger (2007) considera a reciprocidade entre o ser humano e a máquina,
relação em que o poder decisório cabe a quem opera a máquina. Dul e
Weerdmeester (2017) lembram que “a fronteira entre o homem e a máquina é
chamada de interface”.
Para Iida e Buarque (2016), o sistema humano-máquina-ambiente tem
como unidade básica de estudo a ergonomia. Nesse sistema, ser humano e
máquina interagem com a finalidade de realizar um trabalho. Máquina, afirmam
Iida e Buarque (2016), pode ser entendida como “qualquer tipo de artefato usado
pelo ser humano para realizar um trabalho ou melhorar o seu desempenho.
Portanto, pode ser desde um simples lápis ou chave de fenda até complexos
computadores e aeronaves”. Iida e Buarque (2016) descrevem a existência de
dois tipos de máquinas:

• Tradicionais: usadas para trabalhos físicos como ferramentas e veículos; e


• Cognitivas: usadas no processamento de informações, como os
computadores.

Como acontece a atuação humana nessas máquinas? As informações


recebidas são captadas pelos órgãos sensoriais e se processam no sistema
nervoso central (SNC). Com base na interpretação dessas informações é que
podemos decidir. A decisão se transforma em movimentos musculares e, desse
modo, a atuação humana na máquina se dará por intermédio de dispositivos de
controle. Conforme Kruger (2007), a máquina emitirá outra sucessão de
informações, numa contínua retroalimentação, permitindo ao operador alterar,
corrigir, além de reduzir eventuais desvios e discrepâncias. Fazem parte de todo
esse processo o ser humano, a máquina, o ambiente, as informações, a
organização e as consequências (acidentes de trabalho, a exemplo).
Os dispositivos de controle, segundo Dul e Weerdmeester (2017), podem
ser fixos ou remotos. Os fixos devem ser diferentes entre si para facilitarem a
identificação, sem a necessidade de visualizá-los. O correto é que os controles
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tenham formatos variados, sejam de materiais e rugosidades diferentes sendo
assim possível reconhecê-los pelo tato.
Veja, a seguir a imagem de um painel com controles fixos (figura 1). Repare
na cor, no tamanho, na disposição dos controles. Essa diferenciação é
fundamental para evitar erros e acidentes.

Figura 2 – Controles fixos

Créditos: Hafakot/Shutterstock.

Diferentes em relação aos fixos, os controles remotos são acionados à


distância, tornando seu uso mais flexível e proporcionando mais liberdade de ação
ao usuário. Há, ainda, os controles que dispensam o uso das mãos. São
acionados por gestos, olhares ou fala como é o caso de operações de explosão
(Dul; Weermeester, 2017). Um exemplo atual de controle a distância diz respeito
à indústria 4.0, em que cada vez mais o uso de tecnologia se faz presente.

Figura 3 – Controle remoto

Créditos: Ico Maker/Shutterstock.

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Além dos controles fixos e remotos, vamos falar um pouco sobre
mostradores. De acordo com Iida e Buarque (2016), “mostradores são os
instrumentos (partes da máquina) que apresentam informações ao operador no
sistema humano-máquina-ambiente”. Dividem-se em visuais e auditivos e podem
ser classificados, de um modo geral, em variáveis, escala, movimentos e
tecnologia, e permitem, entre si, combinações diversas. Dentre esses, vamos falar
sobre os variáveis.
Os mostradores variáveis dividem-se em quantitativos e qualitativos. Os
quantitativos são utilizados para informações mensuráveis, como leitura de
volume, pressão, peso, comprimento, temperatura, valor e outras informações que
sejam dimensíveis e subdividem-se em analógicos e digitais. O velocímetro de
alguns carros, por exemplo, é analógico, isto é, tem ponteiro ou uma escala móvel.
Outros têm velocímetro digital, mostrando a variação por meio de números. Os
digitais vêm substituindo gradativamente os analógicos, por serem mais fáceis e
precisos (Iida e Buarque, 2016). Entre os quantitativos temos, ainda, os estáticos,
habitualmente representados por gráficos de linhas ou barras e cartazes, como as
placas de velocidade.

Figura 4 – Mostrador quantitativo analógico

Créditos: Nanahara Sung/Shutterstock.

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Figura 5 – Mostrador quantitativo digital

Créditos: Gomolach/Shutterstock.

Os mostradores qualitativos são usados quando basta saber apenas o valor


aproximado da variável. Nesse tipo de mostrador, é possível acompanhar de que
forma esse valor evolui. Como exemplo, podemos citar a variação de temperatura
e de pressão (Iida; Buarque, 2016). Independentemente do mostrador a ser
utilizado, visual, auditivo ou em forma de documento, devemos lembrar que o seu
objetivo é informar algo, de modo claro e simples.

Figura 6 – Mostrador qualitativo (1)

Créditos: Daisy Daisy/Shutterstock.

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Figura 7 – Mostrador qualitativo (2)

Créditos: Microone/Shutterstock.

Os movimentos dos mostradores, de acordo com Dul e Weerdmeester


(2017), devem ser compatíveis com os do controle. Acompanhe os três princípios,
que, segundo Iida e Buarque (2016, grifo nosso), regem os controles associados
aos mostradores.

• 1o princípio – movimentos rotacionais de controle no sentido horário


associam-se a movimentos de mostradores para cima e para a direita;
• 2o princípio – movimentos de controles e mostradores situados em
planos perpendiculares entre si, o mostrador segue o movimento da
ponta de um “parafuso” executado pelo controle, isto é, a rotação do
controle à direita afasta o mostrador e à esquerda aproxima; e
• 3o princípio – controles e mostradores executam movimentos no mesmo
sentido, no ponto mais próximo entre um e outro. É como se houvesse
uma engrenagem imaginária, em que o movimento de um deles
arrastasse o outro.

Para finalizar este nosso tema, vamos fazer uma abordagem breve, mas
não menos importante, sobre reflexo e estereótipo. Entende-se o reflexo, em
relação ao estímulo, como uma resposta automática e previsível. Em
contrapartida, define-se estereótipo como uma reação aprendida que se
estabelece como padrão. Segundo Dul e Weerdmester (2017), a compatibilidade
dos movimentos deve ser assegurada. Na sequência, você verá a descrição dos
movimentos considerados naturais, que são os estereótipos populares. Veja as
Figuras 8 e 9.

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Figura 8 – Ultrassom

Créditos: Chistokolenko Svetlana/Shutterstock.

Figura 9 – Mostrador com comandos habituais

Créditos: Onemax/Shutterstock.

• Ligar: para cima, para a direita, afastando-se do usuário, sentido horário,


puxando para fora;
• Desligar: para baixo, para a esquerda, aproximando-se do usuário, sentido
anti-horário, pressionado;
• Aumentar: para cima, para a direita, afastando-se do usuário, sentido
horário, resistência crescente; e

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• Diminuir: para baixo, para a esquerda, aproximando-se do usuário, sentido
anti-horário, resistência decrescente.

De modo simplificado, operamos as máquinas utilizando nossos reflexos e


conhecimentos aprendidos. Se você aciona um controle para a direita, no
mostrador o ponteiro irá para a direita. Se você movimentar uma alavanca para a
frente, para a direita e para cima, ligará determinado equipamento. Se fizer o
movimento contrário, isto é, alavanca para trás, em direção à esquerda e para
baixo, a máquina desligará.

TEMA 3 – MÉTODO ERGONÔMICO

De acordo com Dul e Weerdmeester (2017), o método ergonômico, além


da sua interdisciplinaridade, é aplicado em diversos tipos de projeto. É
fundamental, para se realizar análise ergonômica, melhorar algum produto ou
projetar um novo, adaptar um posto de trabalho, entre outras possiblidades. E
como optar pelo melhor método e de que forma devemos atuar?
Escolher um método, nos lembram Iida e Buarque (2016), está relacionado
ao objetivo que pretendemos alcançar e da habilidade e experiência do
pesquisador. Normalmente há vários profissionais envolvidos e cada um terá uma
visão particular. No entanto, algumas pesquisas precisam ser mais detalhadas
que outras. Algumas abordagens trazem mais resultados para determinado
produto do que outras. Independentemente da escolha a ser feita, primeiramente
lembre-se de que a gestão de um projeto, para se obterem bons resultados, deve
envolver desde o princípio, os usuários e as pessoas que nele estejam
interessadas. Você se lembra que conversamos sobre ergonomia de participação
anteriormente? Com isso, evitam-se erros, a equipe envolvida torna-se mais
receptiva às mudanças e os problemas são mais facilmente identificados.
Aderindo ao método participativo, o responsável pelo projeto passa a ser
integrante na solução de problemas, deixando de ser apenas o observador. Nesse
método, outros podem integrar o processo em busca de soluções. Já no método
convencional, os usuários e outros interessados informam e executam a ação
estabelecida. Nesta situação, o gestor não integra a equipe como participante
(Iida; Buarque, 2016). Contudo, é importante que que se utilizem técnicas
conhecidas pela equipe e pelos usuários envolvidos e sejam seguidas algumas
etapas (Dul e Weerdmeester, 2017), independentemente da técnica que será
utilizada. Para abordar etapas, as dividimos em subtítulos.
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3.1 Planejar

Nessa primeira etapa, deve-se entender por que o problema existe,


elaborar questões e planejar o desenvolvimento do projeto. O objetivo precisa ser
bem definido e claro e compartilhado com o grupo envolvido. Deve-se saber quem
são os usuários do projeto. Enaltece-se a colaboração dos envolvidos para se ter
uma boa solução, a discussão de metodologias e benefícios, a realização de
avaliações no decorrer e o debate dos resultados obtidos até o momento.
Outro ponto que merece atenção refere-se aos procedimentos adotados,
que devem estar disponíveis a todos os integrantes da equipe. As informações
coletadas individualmente serão sigilosas e, se forem abertas, não deve haver
identificação pessoal. Lembre-se de que os resultados não serão imediatos e
sempre é bom ressaltar esse ponto ao usuário. Uma boa conversa evita possíveis
mal-entendidos. Defina um cronograma para implantar as alterações e deixe
claras todas as etapas do processo.

3.2 Coletar dados

Essa é a fase para se reunirem as informações e se analisarem as


alternativas possíveis. Todos os aspectos fundamentais devem ser considerados,
bem como reclamações, ideias e sugestões. Também nessa etapa é necessário
planejar de que forma os dados serão processados, evitando desperdício de
tempo e definir como será a validação.
Quanto à técnica de análise, sua definição será conforme os itens a serem
contemplados, portanto pode-se fazer uso de mais técnicas e não apenas uma.
Essa opção está vinculada à especificidade do projeto e à habilidade do projetista.

3.3 Selecionar alternativas

Nessa etapa, analisamos as alternativas possíveis, antes de optar pela


solução. É necessário entender que não há uma solução pronta para resolver os
problemas existentes ou para os que possam surgir. Em diversos casos, a fim de
se encontrar a melhor solução, usam-se modelos e testam-se os protótipos,
pensando tanto no usuário direto quanto no indireto, como funcionários que
trabalham com limpeza e manutenção.

3.4 Implementar o projeto


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Tendo sido escolhida a melhor alternativa, começam-se algumas
atividades, lembrando inicialmente que qualquer inovação pode gerar
desconforto. Habitualmente o ser humano não é adepto a mudanças ou novas
culturas, por isso deve-se criar uma estratégia que torne essa transição
harmoniosa. A transição não existe apenas quando o projeto ou sistema é novo.
Existe também quando é necessário intervir com ajustes e correções. Os usuários
incluídos no projeto devem ser treinados, receber manuais bem escritos e de fácil
compreensão complementando as instruções verbais, estar envolvidos na
mudança e perceber as vantagens do projeto.

3.5 Avaliar

Essa é a última etapa do projeto e o momento de verificar a ocorrência de


falhas e corrigi-las, averiguando se o resultado contempla o objetivo previamente
estabelecido. Essa avaliação precisa ser contínua após o sistema ter sido
implantando. Muitas vezes, a primeira ou as primeiras avaliações podem gerar
respostas incertas, devido à resistência dos usuários a mudanças, conforme
conversamos anteriormente. Outro aspecto relevante é verificar se o projeto está
sendo usado da forma prevista desde seu início.
Apresentadas as cinco etapas, Dul e Weerdmeester (2017) sugerem
elaborar uma lista de verificação sobre o método para lembrar-se dos pontos
importantes, prever possíveis problemas, avaliar os efeitos da implantação, ter
ideias ou soluções alternativas.

TEMA 4 – ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Antes de nos aprofundarmos no tema, vamos primeiramente entender o


significado da análise ergonômica do trabalho (AET). Entendida como abordagem
metodológica, segundo Abrahão et al. (2009), a AET “é estruturada em várias
etapas que se encadeiam com o objetivo de compreender e transformar o
trabalho”. Conforme Iida e Buarque (2016), a AET foi desenvolvida por
pesquisadores franceses, constituindo-se como ergonomia de correção. Wisner
(2004) descreve a AET como uma metodologia eficiente, que nos possibilita
compreender a realidade do trabalho, respaldada por estudos científicos. De
acordo com Ferreira (2015), após uma das revisões da NR 17, a expressão
análise ergonômica do trabalho tornou-se mais conhecido desde a década de 90.

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O Manual de Aplicação da NR 17 (Brasil, 2002) apresenta a seguinte
definição para AET:

A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e


participativo para a resolução de um problema complexo que exige o
conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e
das dificuldades enfrentadas para se atingirem o desempenho e a
produtividade exigidos.

Falando mais um pouco em NR 17 (Brasil, 1978), encontramos as


seguintes etapas da AET, estabelecidas na norma:

• Explicitação da demanda do estudo;


• Análise das tarefas, atividades e situações de trabalho;
• Discussão e restituição dos resultados aso trabalhadores envolvidos;
• Recomendações ergonômicas específicas para os postos avaliados;
• Avaliação e revisão das intervenções efetuadas com a participação dos
trabalhadores, supervisores e gerentes;
• Avaliação da eficiência das recomendações.

Seguindo o mesmo raciocínio, Guérin et al., Santos e Fialho e Vidal (citados


por Iida; Buarque, 2016) apresentam também as etapas da AET, divididas em
cinco fases e abordadas separadamente na sequência.
• Análise da demanda;
• Análise da tarefa;
• Análise da atividade;
• Formulação do diagnóstico; e
• Recomendações ergonômicas.

4.1 Análise da demanda

Por demanda entende-se a descrição de determinado problema ou de


alguma situação que apresente problema e precise da ação ergonômica. O
objetivo dessa análise é entender a natureza e a dimensão dos problemas
existentes. A origem dessa análise pode ser da própria empresa, do empregado,
de sindicatos, de órgãos de fiscalização. É fundamental que participem gerentes,
supervisores, trabalhadores, ergonomistas e outros atores sociais que igualmente
estejam envolvidos.

4.2 Análise da tarefa

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A tarefa corresponde à previsão do trabalho. Pode estar descrita em
documentos e manuais contendo a descrição dos cargos. É nesse estágio que
são analisadas e verificadas as diferenças entre o prescrito e o realizado. As
divergências ocorrem devido ao fato de as condições de trabalho especificadas
não serem, muitas vezes, seguidas, conforme já estudamos em outra
oportunidade.

4.3 Análise da atividade

A atividade diz respeito ao comportamento adotado pelo trabalhador para


realizar uma tarefa e alcançar os objetivos definidos. A análise da atividade é
resultado de um processo de adaptação e regulação entre fatores internos e
externos. Os internos referem-se ao trabalhador como idade e formação, por
exemplo; os externos envolvem as condições em que a atividade é realizada,
como conteúdo do trabalho e organização do trabalho.

4.4 Formulação do diagnóstico

O objetivo dessa etapa é conhecer as causas que geraram o problema


apontado na demanda. Investigam-se vários fatores pertinentes ao trabalho e à
empresa, que influenciam na atividade de trabalho. Como exemplo, a alta
rotatividade em algum setor específico pode estar acontecendo devido à falta de
treinamento dos envolvidos.

4.5 Recomendações ergonômicas

É nesse momento que são feitas as recomendações ergonômicas para que


o problema diagnosticado seja resolvido. Devem ser descritas de forma clara e
direta e conter as etapas necessárias para que o problema seja resolvido.
As Figuras 10 e 11 mostram uma avaliação ergonômica sendo realizada e
a indicação da forma certa e errada de levantamento de carga.

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Figura 10 – Avaliação ergonômica

Fonte: Wavebreakmedia/Shutterstock

Figura 11 – Levantamento de carga

Fonte: Maanas/Shutterstock

Devemos ressaltar que tanto as etapas enumeradas na NR 17 (Brasil,


1978) quanto as definidas em Iida e Buarque (2016) são similares. O mais
importante em uma análise ergonômica é diagnosticar o problema e encontrar a
solução para resolvê-lo.

TEMA 5 – OUTROS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO ERGONÔMICA

Além da AET existem outros métodos e ferramentas de avaliação. Todas


contribuem na verificação de situações de trabalho, tornando mais fácil a
compreensão do que está acontecendo no ambiente, no posto de trabalho e no
próprio usuário. Falaremos sobre quatro técnicas e, no fim desta aula, você
encontrará o nome de mais alguns métodos.

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5.1 Checklist de Couto

Essa ferramenta, criada em 1995 por Hudson de Araújo Couto e Remi


Lopes Antonio, possibilita avaliar os esforços aos quais a coluna vertebral está
submetida na execução de diversas atividades. Também conhecida como
checklist de avaliação de exigências para a coluna vertebral, a versão atualizada
e mais recente é do ano de 2020. Uma vez que permite uma compreensão mais
fácil, este checklist é usado tanto por profissionais da área de ergonomia quanto
por outros responsáveis pelos ambientes laborais.
Para que o uso dessa ferramenta permita a análise correta, o responsável
em aplicá-la deve conhecer bem o dia a dia do trabalhador em seu posto de
trabalho. Além disso, é necessário perguntar de que forma desempenha sua
tarefa e entender quais as dificuldades laborais existentes. Outro aspecto a ser
considerado refere-se às exigências mais acentuadas, que pode ou não haver, no
desempenho da função. Havendo exigência extrema, mesmo que tal fato não seja
repetitivo, já caracteriza grande esforço para a coluna vertebral. Seguindo com a
avaliação, o profissional deverá identificar as variáveis: postura estática do tronco,
movimentação de materiais, empurrar ou puxar e outros esforços e
posicionamentos não citados. Na próxima e última etapa, os pontos obtidos no
checklist classificando-se as exigências da coluna em baixa, média, alta e
altíssima.

Saiba mais

Mais informações sobre esta ferramenta você encontra acessando o link a


seguir e pode, inclusive, fazer o download da versão atualizada do checklist de
Couto e aplicar no seu local de trabalho:
CAIXA de ferramentas ergonômicas: checklist de Couto. Ergo, 20 maio
2020. Disponível em: <http://www.ergoltda.com.br/2020/05/caixa-de-ferramentas-
ergonomicas-checklist-de-couto/>. Acesso em: 21 dez. 2020.

Esta última versão contempla quatro questões, cada uma abordando


diversos pontos. A pontuação acontece da seguinte forma em relação ao quesito
exigência da coluna vertebral. Veja o Quadro 1:

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Quadro 1 – Pontuação checklist de Couto

0a2 baixa exigência


3a5 média exigência
6a9 alta exigência
acima de 9 alta altíssima exigência
Fonte: Caixa..., 2020

A vantagem desse checklist consiste em ser de fácil uso e interpretação


pelo fato de permitir uma avaliação simplificada com bons resultados. É indicado
em várias situações de trabalho que exigem esforços da coluna com possibilidade
de causar distúrbios musculoesqueléticos, em especial dos membros superiores,
prevenindo a fadiga, LER/DORT e lombalgias.

5.2 OWAS – Ovako working posture analysing system

Desenvolvido na Finlândia por três pesquisadores e o Instituto Finlandês


de Saúde Ocupacional (Finnish Institute of Occupational Health – FIOH), esse
sistema tinha como objetivo a análise das posturas de trabalho na indústria
siderúrgica (Karhu; Kansi; Kuorinka, 1977). Segundo Iida e Buarque (2016),
iniciaram suas observações por meio de imagens, registrando fotograficamente
as posturas principais encontradas no trabalho pesado. Os pesquisadores
identificaram 72 posturas típicas resultantes das seguintes combinações:

• Dorso – 4 posições;
• Braços – 3 posições;
• Pernas - 7 posições.

Para o estudo considerou-se o peso da carga sendo movimentada. As


tarefas foram analisadas e registradas, gerando 252 posições classificadas em 4
categorias:

• Classe 1 – postura normal, sem necessidade de correção;


• Classe 2 – postura pouco prejudicial, com correções futuras;
• Classe 3 – postura prejudicial, com correção a curto prazo;
• Classe 4 – postura muito prejudicial, com correção imediata.

A Figura 12 mostra o sistema OWAS, conforme as posturas mencionadas.


Cada postura é descrita por um código de seis dígitos que representam as
posições do dorso, dos braços, das pernas e a carga.

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Figura 12 – Sistema OWAS para registro de posturas

Fonte: Iida; Buarque, 2016.

A seguir, essas posturas são classificadas conforme a duração de cada


uma e depois de acordo com as combinações. Esse método é utilizado como
ferramenta de planejamento, tanto para estudos ergonômicos quanto para
estudos de saúde ocupacional.

5.3 RULA – Rapid upper-limb assessment

Assim como OWAS, o RULA é também uma técnica de registro e avaliação


de posturas. Desenvolvida por McAtamney, Corlett (1993), essa técnica é utilizada
para investigar a exposição do trabalhador a fatores de risco associados a
distúrbios de membros superiores relacionados à execução de tarefas laborais. O
RULA utiliza diagramas de posturas corporais e tabelas de pontuação para avaliar
a sobrecarga que inclui o número de movimentos, o trabalho muscular estático, a
força, as posturas e o trabalho sem pausa (McAtamney; Corlett, 1993).
Segundo Iida e Buarque (2016), o corpo é dividido em dois grupos, uma
para avaliar os membros superiores e outro para o corpo. Ambos consideram uma
estimativa de postura e força.
Em função do resultado dessa análise, são recomendados quatro níveis de
ação:

• Nível 1: postura aceitável, não necessitando investigações;

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• Nível 2: investigar a médio prazo;
• Nível 3: investigar e tomar providências a curto prazo; e
• Nível 4: investigar e tomar providências imediatas.

5.4 REBA – Rapid entire body assessment

O Rapid Entire Body Assessment foi desenvolvido por Hignett e


McAtamney (2000) e, segundo Iida e Buarque (2016), é uma evolução do RULA.
De acordo com McAtamney e Hignett (2000), o desenvolvimento do REBA teve
como objetivo:

• Criar um sistema de análise postural sensível aos riscos


musculoesqueléticos em diversas tarefas;
• Codificar o corpo por segmentos individuais;
• Elaborar um sistema de pontuação para a atividade muscular em função
de posturas estáticas, dinâmicas, de mudança rápida ou instáveis;
• Entender que nem sempre é possível manusear cargas apenas com as
mãos;
• Mostar nível de ação indicando urgência de atuação; e
• Usar apenas papel e caneta.

Para avaliar e pontuar o risco, conforme Iida e Buarque (2016), existem três
grupos dividos em grupo A, grupo B e grupo C.

• A: posturas do tronco, pescoço e perna, braço, antebraço e punho;


• B: para os lados direito e esquerdo, separadamente; e
• C: pontuação para carga/força e tipo de pega

A soma da pontuação de cada grupo somado ao escore da atividade


definido em tabela, fornece o valor total, considerada de acordo com os seguintes
níveis de ação, que chamaremos de NA. Observe:

• NA 0: Pontuação 1. Risco inexistente. A postura é aceitável, não sendo


necessárias providências;
• NA 1: Pontuação 2 ou 3. Risco baixo, podendo ser necessárias
providências futuras.
• NA 2: Pontuação 4 a 7. Risco médio, sendo necessárias providências a
médio prazo.

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• NA 3: Pontuação entre 8 e 10. Risco alto, sendo necessárias providências
a curto prazo;
• NA 4: Pontuação entre 11 e 15. Risco muito alto, sendo necessárias pro
vidências imediatas.

Existem outros métodos além do que falamos. Vamos citar os nomes de


mais alguns para que você os conheça:

• Checklist NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health);


• RWL (Recommended Weigth Limit);
• Strain Index;
• Checklist de Michigan;
• QEC (Quick Exposure Checklist);
• OCRA (Occupational Repetitive Action).

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REFERÊNCIAS

ABRAHÃO, J. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo:


Edgard Blucher, 2009.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria MTb n. 3.124, de 8 de junho de 1978.


Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 6 jul. 1978.

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SIT, 2002. Disponível em:
<https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_Publicacao_e_Ma
nual/CGNOR---MANUAL-DE-APLICAO-DA-NR-17.pdf>. Acesso em: 21 dez.
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Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbso/v40n131/0303-7657-rbso-40-131-
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IIDA, I; BUARQUE, L. Ergonomia: projeto e produção. São Paulo: Edgard


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