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Nas últimas décadas, houve uma hegemonia cultural do pensamento de esquerda,

sobretudo em decorrência da ditatura militar que enfraqueceu o pensamento autoritário


em decorrência de tudo o que ocorreu. Nos últimos anos, nota-se uma crescente onda
neoconservadora, cuja principal estratégia é sua matriz “intelectual” para a adesão de
um grupo identitário a esse movimento. Sendo assim, não há como pensar na nova
direita sem pensarmos na matriz intelectual dela e seu principal protagonista: Olavo de
Carvalho
“enquanto sistema de crenças, a contribuição de Olavo de Carvalho é simplesmente
fundamental e não pode ser ignorada; caso contrário, dificilmente entenderemos o Brasil
contemporâneo, especialmente a fidelidade canina ao bolsonarismo, mesmo diante de
evidências claras de seu fracasso. Como se trata de um sistema de crenças, uma vez
internalizado, ele tende a se tornar imune a contestações externas, pois, como
mecanismo de defesa, entra em cena o fenômeno da dissonância cognitiva”

O intelectualismo bolsonarista se pauta em Olavo de Carvalho, este que nunca teve sua
produção “intelectual” reconhecida como uma filosofia própria, que mais se configura
como um amontoado de textos reacionários contra inimigos produzidos pela própria
direita. São ideais que buscam deslegitimar os seus inimigos, promover teorias da
conspiração e citações “filosóficas” sem embasamento.
Guerra cultural. A nova direita, depois de ter sua identidade configurada, ela configura o
Outro, esse outro então passa a ser um esquerdista, marxista, maconheiro, etc. Esse
Outro quer implantar a ideologia de gênero, distribuir kit gay e mamadeira de piroca. a
guerra cultural bolsonarista, que se beneficia de uma técnica discursiva, a retórica do
ódio, ensinada nas últimas décadas por Olavo de Carvalho, conduzirá o país ao caos
social, à paralisia da administração pública e ao déficit cognitivo definidor do
analfabetismo ideológico, outro conceito novo que apresento, e com o qual descrevo a
negação da realidade e o desprezo pela ciência que estruturam o bolsonarismo.
Então, à partir da identidade dessa direita conjugada com a produção olavista, no
pensamento deus, pátria e família, a direita configura a si como cidadão de bem e
promove o ataque contra o outro à partir da retórica do ódio. Essa retórica produz três
elementos:
 Analfabetismo ideológico: apaga-se a mediação com outros pensamentos, então
tudo o que não é parecido com a direita, como ela se configura enquanto sistema
de crenças, o outro passa a ser então um inimigo, no caso, um comunista
 Idiotia Erudita: é o resultado do excesso de informações mal interpretadas,
distorcidas e mescladas com teorias da conspiração difundidas pela mídia.
 Lógica da refutação: desconsiderar tudo o que se opõe ao pensamento
bolsonarista, desqualificando o outro. Essa desqualificação retira o outro do
campo humano, animalizando-o ou coisificando a fim de que o seu pensamento
contrário. Então o argumento não vale por ser de uma mulher, de um gay, de
alguém de esquerda, mesmo que o pensamento apresente lógica.
 Olavo não é um intelectual, ele é um ideólogo, numa lógica discursa de que ou
você adere completamente ao sistema de crença, ou você está contra nós, sendo
um inimigo.
Não há como discutir avanços sociais dentro do pensamento da direita, não há discussão
de gênero, educação sexual, de política, etnias, etc, já que o outro é sempre um inimigo
a ser deslegitimado, coisificado e passível de morte. Então temos uma oposição ferrenha
contra a mulher, imposição do não ensino da educação sexual, guerra declarada aos
povos indígenas
. Então o que é o pensamento bolsonarista faz é promover guerra cultura, ou seja,
estabelecer conflitos entre valores, sendo os valores conservadores, tradicionais, contra
os valores progressistas, de esquerda,

ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um


Brasil pós-político. 1ª Edição. Goiânia: Editora e Livraria Caminhos, 2021.

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