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UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

BRUNO AGUILAR NUCCI RA 1821736


CARLOS ROBERTO COUTINHO RA 1832301
GLAUDIA VANUSIA PUCINELI RA 1823201
NATANA CRISTINA DOS SANTOS RA 1835930

Método para aplicação das tecnologias da Indústria 4.0 em micro, pequenas e


médias empresas no Brasil atual

VÍDEO DE APRESENTAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

< https://youtu.be/x5-RqwFRTMg>

TAUBATÉ - SP
2023
BRUNO AGUILAR NUCCI
CARLOS ROBERTO COUTINHO
GLAUDIA VANUSIA PUCINELI
NATANA CRISTINA DOS SANTOS

Método para aplicação das tecnologias da Indústria 4.0 em micro, pequenas e


médias empresas no Brasil atual

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Engenharia


de Produção da Universidade Virtual do Estado de São Paulo como
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Engenharia
de Produção.

Orientadora: Ms Regina Aparecida Neumann

TAUBATÉ - SP
2023
BRUNO AGUILAR NUCCI
CARLOS ROBERTO COUTINHO
GLAUDIA VANUSIA PUCINELI
NATANA CRISTINA DOS SANTOS

Método para aplicação das tecnologias da Indústria 4.0 em micro, pequenas e


médias empresas no Brasil atual

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao curso de Engenharia de Produção da
Universidade Virtual do Estado de São Paulo
como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Engenharia de
Produção.

Aprovado em: ____________________

Conceito: ____________________

BANCA EXAMINADORA

Prof. Ms Regina Aparecida Neumann


Universidade Virtual do Estado de São Paulo
Presidente

Prof. Ms. José Carlos Melchior Arnosti


Universidade Virtual do Estado de São Paulo
Membro
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso visa a estudar a situação atual da


aplicação das soluções tecnológicas da Indústria 4.0 nas micro, pequenas e médias
empresas (MPMEs) no Brasil e propor um método e ferramentas para o diagnóstico,
definição das necessidades, identificação das soluções tecnológicas aplicáveis,
elaboração de um plano de implantação e verificação dos resultados obtidos de um
plano típico de aumento de competividade e resultados aplicáveis a essas MPMEs
no Brasil, com base nas soluções tecnológicas disponíveis da indústria 4.0. O
método escolhido para a pesquisa foi o qualitativo e descritivo visando a
compreender o tema a apartir das pesquisas bibliográficas e dados secundários
obtidos. A partir desse conjunto de informações e dados, foi realizada uma
contribuição analítica para definir uma proposta de método e ferramentas a serem
utilizados por MPMEs na identificação, adoção e implantação de soluções
tecnológicas da Indústria 4.0 de forma adequada e que realmente agregue valor e
competividade em face de suas características e contexto específicos. O que se
pode concluir através desse estudo é que é possível sim, no Brasil atual, que micro,
pequenas e médias empresas apliquem com sucesso planos de transformação
digital, com a adoção de soluções tecnológicas da Indústria 4.0, conforme
evidenciado pela pesquisa bibliográfica e documental realizada. E com base nas
conclusões e recomendações propostas nesses estudos, pôde-se definir uma
proposta de método e ferramentas a serem utilizados por essas MPME na
implantação de soluções tecnológicas da Indústria 4.0 de forma adequada e que
realmente agregue valor e competividade em face de suas características e contexto
específicos.

PALAVRAS-CHAVE: Indústria 4.0; Transformação digital; Micro, pequena e média


empresa.
ABSTRACT

This final paper aims to study the current situation of the application of Industry 4.0
technological solutions to micro, small and medium-sized enterprises (MSMEs) in
Brazil and propose a method and tools for the diagnosis, definition of needs,
identification of applicable technological solutions, elaboration of an implementation
plan and verification of the results obtained from a typical plan to boost
competitiveness and results applicable to these MSMEs in Brazil, based on the
technological solutions available from industry 4.0. The method chosen for the
research was qualitative and descriptive in order to understand the theme based on
bibliographic research and secondary data obtained. Based on this set of information
and data, an analytical contribution was made to define a proposed method and tools
to be used by MSMEs in the identification, adoption and implementation of Industry
4.0 technological solutions in an appropriate way and that really add value and
competitiveness in their specific characteristics and context. What can be concluded
from this study is that it is indeed possible, in Brazil today, for micro, small and
medium-sized companies to successfully apply digital transformation plans, with the
adoption of Industry 4.0 technological solutions, as evidenced by bibliographical and
documentary research carried out. And based on the conclusions and
recommendations proposed in these studies, it was possible to define a proposal for
a method and tools to be used by these MSMEs in the implementation of Industry 4.0
technological solutions in an appropriate way that really adds value and
competitiveness in view of their characteristics. and specific context.

KEYWORDS: Industry 4.0; Digital transformation; Micro, small and medium


enterprise.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Quatro tipos de maturidade digital ...................................................................... 11

Figura 2 – Peças da Construção Digital ............................................................................... 13

Figura 3 – Estrutura da transformação digital ...................................................................... 15

Figura 4 – Método de Implantação da Indústria ................................................................... 33

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tecnologias da Indústria 4.0 .............................................................................. 17

Tabela 2 – Detalhamento dos desafios de produtividade das MPMEs ................................. 20

Tabela 3 – Tecnologias x desafios das MPMEs ................................................................... 22

Tabela 4: Tabela Resumo - Pesquisa Geral ........................................................................ 25

Tabela 5 – Tabela Resumo - Transformação Digital ............................................................ 26

Tabela 6 – Tabela Resumo – Maturidade Digital ................................................................ 27

Tabela 7 – Tabela Resumo - Indústria 4.0 ........................................................................... 28

Tabela 8 – Tabela Resumo – Soluções Tecnológicas da Indústria 4.0 para as MPMEs ...... 29
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 7
1.1 Objetivos 8
1.1.1 Objetivo Geral 8
1.1.2 Objetivos Específicos 8
1.2 Justificativa 8
2 REFERENCIAL TEÓRICO 9
2.1 Transformação Digital 9
2.2 Maturidade Digital 10
2.3 Indústria 4.0 16
2.4 Soluções Técnológicas da Indústria 4.0 para as MPMEs. 17
3 METODOLOGIA 23
3.1 Delimitação da pesquisa 23
3.2 Identificação das fontes de pesquisa 23
3.3 Delimitação da forma de apresentação dos resultados . 23
3.4 Estabelecimento do número de estudos para cada um dos temas abordados 23
3.5 Escolha dos estudos usados utilizados como parte da pesquisa: 24
3.6 Tabelas resumo dos temas pesquisados 25
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 30
4.1. Premissas do método para aplicação da Indústria 4.0 nas MPMEs 30
4.2. Método para aplicação da Indústria 4.0 nas MPMEs 32
5 CONCLUSÃO 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 40
7

1 INTRODUÇÃO

Os conceitos da Indústria 4.0 já são uma realidade no mundo, em especial


nos países mais desenvolvidos. Diversas tecnologias habilitadoras na aplicação dos
seus conceitos e princípios tem sido desenvolvidas e disponibilizadas no mercado.
Algumas ainda em estágios menos desenvolvidos e outras em estágios mais
avançados e já disponibilizadas ao mercado a um investimento cada vez mais
acessível, inclusive para micro, pequenas e médias empresas (MPME´s), mesmo em
países menos inseridos nesse desenvolvimento, como é o caso do Brasil.

Segundo um relatório do Ministério da Economia do Brasil em parceria com


o Núcleo de Engenharia Organizacional da UFRGS – Universidade do Rio Grande
do sul (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022), vários relatórios do
Fórum Econômico Mundial e da OCDE apontam com clareza as potencialidades da
4.ª Revolução Industrial, através de suas avançadas tecnologias que tem sido
disponibilizadas. E segundo esse mesmo relatório, dada a importância das MPMEs
no contexto da economia brasileira, a adoção por elas dessas tecnologias
emergentes representa uma grande oportunidade para o desenvolvimento e a
melhoria da produtividade da indústria nacional.

Mas o que se observa na literatura pesquisada é que ela é ainda avarenta


em propostas de métodos integrados para o diagnóstico, identificação e definição
das tecnologias mais adequadas a cada tipo e contexto de negócio bem como a
estratégia e etapas de implantação a ser adotada. É essa lacuna que o presente
estudo visa a ajudar a preencher.

As questões essenciais que se coloca são: dada uma MPME e seu contexto
organizacional, quais soluções tecnológicas são as mais adequadas e necessárias?
Qual metodologia se poderia adotar para o diagnóstico, identificação e implantação
dessas soluções tecnológicas da indústria 4.0 em MPMEs, de forma eficaz?

Essas são as questões que serão abordadas nesse trabalho com o objetivo
de propor uma metodologia e ferramentas que ajudem as MPMEs no Brasil a
identificar, planejar e implantar soluções tecnológicas da indústria 4.0 com o objetivo
de aumentar a sua competitividade e melhorar os seus resultados empresariais.
8

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo Geral

Estudar a situação atual da aplicação das soluções tecnológicas da Indústria


4.0 nas micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) no Brasil e propor um
método e ferramentas para o diagnóstico, definição das necessidades, identificação
das soluções tecnológicas aplicáveis, elaboração de um plano de implantação e
verificação de resultados obtidos em um plano típico de aumento de competividade
e resultados aplicáveis a MPMEs no Brasil, com base nas soluções tecnológicas
disponíveis da indústria 4.0.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Identificar quais são as soluções tecnológicas da indústria 4.0 já


disponíveis e acessíveis às MPMEs no Brasil atualmente.

 Propor um método para identificação de quais soluções tecnológicas da


indústria 4.0 são os mais aplicáveis e necessários a uma MPME.

 Identificar as etapas recomendadas para a implantação das soluções da


indústria 4.0 selecionadas para uma MPME.

 Descrever quais são os principais riscos e gargalos que normalmente


serão enfrentados nessas implantações e quais as alternativas para o
tratamento desses riscos e gargalos.

1.2 Justificativa

A literatura, congressos, relatórios e pesquisas relacionadas à Indústria 4.0


já ocupa uma posição de destaque nas discussões que ocorrem nos diferentes
fóruns internacionais. Organismos como a OCDE1 e o Fórum Econômico Mundial2
(WEF – World Economic Forum) já tem apresentado diversos estudos e relatórios

1
OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. É composta por países-membros que
se dedicam a promover o desenvolvimento econômico e o bem-estar social nas nações.
2
Fórum Econômico Mundial (WEF – World Economic Forum) é uma organização internacional responsável
pela realização de encontros anuais com a participação e colaboração das maiores e principais empresas e líderes
do mundo para debater as questões econômicas e sociais relevantes.
9

sobre a importância e potencialidades das soluções tecnológicas da Indústria 4.0 e o


seu impacto no desenvolvimento e maior eficiência do setor produtivo, geração de
produtos e serviços inovadores e criação de empregos de maior qualificação para a
sociedade.

De acordo com um estudo realizado em 2022 pela OCDE (OCDE, 2022)


micro, pequenas e médias empresas representam 98,5% das empresas legalmente
constituídas (11,5 milhões), 27% do PIB e 41% da massa salarial dos trabalhadores.
Isto mostra de maneira clara a importância das MPMEs na economia do País. O que
nos leva à conclusão de que tornar viável a aplicação de soluções inovadores e
impulsionadoras da produtividade da Indústria 4.0 nessas MPMEs é de vital
importância para o aumento da produtividade da economia do País como um todo.

Mas a literatura é ainda escassa sobre métodos e ferramentas para a


identificação e aplicação eficaz das soluções tecnológicas da Indústria 4.0 em
MPMEs, em especial no Brasil. E isso justifica a importância deste estudo que visa
exatamente a atender essa necessidade de formular métodos e ferramentas que
dêem suporte à implementação de tecnologias avançadas que propiciem um maior
desenvolvimento e uma maior eficiência nos processos industriais, com estímulo à
inovação e aos novos modelos de negócios, aumento da produtividade e criação de
empregos mais qualificados e de maior geração de renda.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Transformação Digital


Um primeiro conceito importante a ter presente nesse estudo é o de
“transformação digital”. As duas palavras são chaves aqui: “digital” e
“transformação”. Não se trata de um processo que consiste apenas em adotar
soluções digitais na organização, de forma isolada ou atendendo apenas a uma
necessidade local de uma área ou processo. Mas trata-se de uma mudança ou
transformação organizacional que é habilitada por soluções digitais adequadas e
que colabora para o atingimento dos objetivos estratégicos e melhoria global da
organização.

Alguns autores como Rogers (ROGERS, 2017) enfatizam esse aspecto mais
abrangente da transformação digital nas organizações:
10

A transformação digital não tem a ver com tecnologia – tem a ver com
estratégia e novas maneiras de pensar. Transformar-se para a era digital
exige que o negócio atualize sua mentalidade estratégica, muito mais que
sua infraestrutura de TI. Essa verdade fica evidente na mudança de papéis
do líder de tecnologia nas empresas. A função tradicional do executivo-
chefe de informação era usar a tecnologia para otimizar processos, para
reduzir riscos e para melhorar a gestão dos negócios existentes. A função
emergente do executivo-chefe de atividades digitais é muito mais
estratégica, focada no uso da tecnologia para reimaginar e reinventar o core
business (negócio principal) em si. (ROGERS, 2017, p. 10)

Portanto, a transformação digital vai muito além da simples adoção de


soluções digitais e tecnológicas. Ela envolve muitas vezes reimaginar e reiventar o
negócio principal em si. Tem uma abordagem mais ampla levando em consideração
os aspectos globais do negócio e os seus objetivos estratégicos, as tendências de
mercado e o entendimento e atencipação das necessidades e expectativas do
cliente.

Ainda conforme Rogers “A transformação digital exige uma visão holística da


estratégia de negócios” (ROGERS, 2017, p. 10). E isso porque as soluções digitais
adotadas pela organização dentro do contexto de transformação digital devem trazer
soluções tecnológicas que alavanquem o atendimento aos objetivos estratégicos e
de satisfação do cliente que agreguem real valor ao negócio e o leve a estar à frente
da concorrência. Deve haver uma abordagem estratégica e um gerenciamento
global dessa transformação que assegure a sua coerência e contribuição para o
negócio como um todo.

2.2 Maturidade Digital

Um instigante estudo conduzido pela Consultoria Capgemini e o MIT Center


for Digital Business (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) definiu quatro tipos de
maturidade digital dos negócios com base em duas dimensões separadas porém
interligadas: intensidade digital e a intensidade do gerenciamento da transformação.
Ou seja, quanto mais a organização lança mão de soluções tecnológicas digitais e
melhor gerencia adequadamente o processo de transformação habilitado por elas,
assegurando sua coerência com as necessidades e objetivos estratégicos do
negócio, maior é a “maturidade digital” da organização.

Com base nessas duas dimensões da maturidade digital os autores


(WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) definiram quatro níveis ou “tipos” de
maturidade digital conforme representado na figura 1.
11

Figura 1 – Quatro tipos de maturidade digital

Fonte: WESTERMAN, TANNOU, et al. (2012, tradução nossa)

No primeiro quadrante, inferior à esquerda, encontram-se os “Iniciantes”.


São aqueles que utilizam poucas soluções digitais, ainda que possam ser maduros
em aplicações mais tradicionais como ERP ou comércio eletrônico. Ainda que
algumas possam ser inciantes por opção, a maioria está nesse quadrante por
acidente. Elas podem não estar conscientes das oportunidades ou podem estar
iniciando alguns investimentos sem um efetivo gereciamento da transformação em
curso. Eles possuem baixa intensidade digital e limitada ou nenhuma intensidade no
gerenciamento da transformação.

As organizações que estão no quadrante superior à esquerda são o que os


autores (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) chamam de “Fashionistas”, termo
que não tem uma palavra correspondente em Português mas significa algo como
“alguém que gosta de seguir a moda, sempre conectado às novidades mais
recentes”. São organizações que adotam e utilizam várias soluções technológicas
atraentes e sofisticadas, algumas até com relativo sucesso pontual, outras nem
tanto, mas sem uma coordenação e sinergia entre elas com o objetivo de criar real
valor para o negócio como um todo, limitando seus resultados globais. Os
12

“Fashionistas Digitais” estão sempre motivados e abertos a trazer mudanças


habilitadas digitalmente, mas a estratégia de transformação digital não está fundada
em conhecimento real sobre como maximizar benefícios reais para o negócio.
Organizações que não possuem governança estratégica da transformação digital no
nível corporativo podem estar nesse quadrante, apesar dos esforços de digitalização
em determinadas áreas que até alcançam alguns resultados dentro da sua esfera de
influência. Elas possuem até uma boa intensidade digital, mas uma limitada
intensidade no gerenciamento articulado da transformação.

Os autores (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) seguem discorrendo


sobre as organizações no quadrante inferior à direita, os “Conservadores”. São
organização que favorecem a prudência em detrimento da inovação. São
organizações que entendem a importância de uma visão forte e unificada, e de
governança e cultura corporativa para assegurar que os investimentos são
administrados de forma adequada. Mas são organizações muitas vezes céticas
quanto ao valor que inovações podem trazer para o negócio, e o poder delas, e
muitas vezes em detrimento dos seus próprios resultados. Ainda que visem a investir
com sabedoria e cuidado seus recursos, essa abordagem conservadora muitas
vezes os leva a perder valiosas oportunidades que serão, então, aproveitadas por
seus concorrentes mais ousados e sofisticados. São organizações com baixa
intensidade digital, apesar de ter uma boa intensidade no gerenciamento das
transformações.

Por último, as organizações no quadrante superior são o que os autores


chamaram de “Digiratis”, outro termo que não possui um correspondente em
Português (usa-se “Digerati” muitas vezes), mas que designa os especialistas em
tecnologia que estão na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. Portanto, uma
organização “Digiratis” seria aquela que possui essa característica de estar na
vanguarda tecnológica. São as firmas que realmente sabem obter resultados com a
transformação. Nas palavras dos autores:

Eles combinam uma visão transformadora, governança cuidadosa e


engajamento, com investimento suficiente em novas oportunidades. Através
da visão e engajamento, eles desenvolvem uma cultura digital que pode
vislumbrar mais mudanças e implementá-las sabiamente. Investindo,
cuidando e coordenando iniciativas digitais, eles avançam continuamente
sua vantagem competitiva digital. (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012, p.
4)
13

Portanto, um aspecto importante para o sucesso de um processo de


transformação digital é a combinação de intensidade na identificação e implantação
das soluções digitais relevantes e aplicáveis aos desafios estratégicos, com a
intensidade também no gerenciamento da transformação, assegurando que o
processo tenha real impacto no desempenho da organização, possibilitando a
obtenção de vantagens competitivas concretas frente à concorrência.

Em um outro estudo dos mesmos autores da Capgemini Consulting e do MIT


Center for Digital Business (WESTERMAN, CALMÉJANE, et al., 2011) eles definem
o que chamaram de “Peças da Construção Digital” (Figura 2). E essas peças
delineiam o que seria a “Forma da Transformação Digital” (Shape of Digital
Transformation). E eles concluiram, com base em entrevistas com 157 executivos de
50 grandes companias tradicionais, que eles tem focado em três principais áreas em
seus esforços – bem sucedidos – de transformação digital: experiência do cliente;
processos operacionais e modelo de negócio.

Figura 2 – Peças da Construção Digital

Fonte: WESTERMAN, CALMÉJANE, et al. (2011, tradução nossa)


14

E essas são as três grandes áreas onde normalmente os esforços de


transformação digital têm se concentrado:

a) Experiência do Cliente:

 Entendimento do cliente: obtido, por exemplo, através de


segmentação baseada em “analytics” e conhecimento oriundo de
redes sociais, etc.

 Otmização de vendas: através de vendas aprimoradas


digitalmente, marketing preditivo, simplificação dos processos
relacionados aos clientes, etc.

 Pontos de contato com o cliente: serviços ao cliente, coerência


entre os canais de comunicação, auto-serviço, etc.

b) Processo Operacional:

 Digitalização de processos: melhoria de desempenho, novos


recursos, etc.

 Capacitação do trabalhador: trabalho em qualquer lugar a qualquer


tempo, comunicação mais abrangente e rápida, compartilhamento
do conhecimento em comunidade.

 Gerenciamento de desempenho: transparência operacional,


decisão baseada em dados.

c) Modelo de Negócio:

 Negócio digitalmente modificado: ampliação de produto e serviço,


transição do físico para o digital, formatos digitais.

 Novo Negócio Digital: produtos digitais, redefinição das fronteiras


organizacionais.

 Globalização digital: integração empresarial, redistribuição da


autoridade decisória, serviços digitais compartilhados.

Ainda segundo os autores (WESTERMAN, CALMÉJANE, et al., 2011) os


recursos digitais são fundamentais para todos o três pilares citados, ou seja, são os
recursos digitais disponibilizados que habilitam as transformações nessas três áreas
fundamentais das organizações.
15

Os recursos digitais abrangem todos os três pilares. Eles são um bloco de


construção fundamental para a transformação na experiência do cliente,
processos operacionais e modelos de negócios. Embora os CIOs e os
departamentos de TI existentes estejam liderando iniciativas digitais nas
empresas, eles contratam habilidades extras ou implementam unidades
separadas para coordenar a transformação digital. (WESTERMAN,
CALMÉJANE, et al., 2011, p. 23)

Um outro fato importante apontado pelo estudo é a necessidade de uma


plataforma digital de dados e processos integrada que permite dar suporte ao
processo de transformação. Pois é o que permite uma visão comum integrada dos
clientes e dos produtos, por exemplo.

O estudo demonstrou também que as transformações digitais bem


sucedidas consistiram em os líderes diagnosticarem um valor potencial dos ativos
corporativos existentes e construirem uma visão transformadora de futuro para eles.
Esses ativos corporativos, normalmente alvos de ações de transformação digital,
estão representados na figura 3 e fazem parte do que se poderia chamar de
estrutura para a transformação digital:

Figura 3 – Estrutura da transformação digital

Fonte: WESTERMAN, CALMÉJANE, et al. (2011, tradução nossa)


16

Os autores do estudo (WESTERMAN, CALMÉJANE, et al., 2011) fazem um


resumo conciso sobre a forma de realização de transformações digitais bem
sucedida, conforme revelado pelos executivos pesquisados:

Transformações digitais bem-sucedidas em nosso estudo usaram um


conjunto comum de elementos... Cada um é uma alavanca que os
executivos podem usar para iniciar e impulsionar a transformação digital em
suas organizações. Os líderes diagnosticam o valor potencial dos ativos
corporativos existentes e constroem uma visão transformadora para o
futuro. Então, eles investem em habilidades e iniciativas para tornar a visão
uma realidade. Fundamental para a transformação é a comunicação e
governança eficazes para garantir que a empresa esteja se movendo na
direção certa. Esses elementos trabalham juntos em uma abordagem
iterativa – comunicando e ouvindo constantemente para repensar e
implementar novos tipos de transformação digital. (WESTERMAN,
CALMÉJANE, et al., 2011, p. 47)

E os executivos seniores conduziram a transformação digital por meio de um


processo iterativo de três etapas:

1. Visualizando o futuro digital para sua empresa.


2. Invistindo em iniciativas e habilidades digitais.
3. Liderando a mudança desde o topo da organização.

Essa abordagem adotada por eles reforça o princípio mencionado


anteriormente de que os processos de transformação digital bem sucedidos são uma
combinação da dimensão “intensidade digital” com a dimensão “intensidade do
gerenciamento da transformação”.

2.3 Indústria 4.0


Outro tema muito importante para o nosso estudo é o da Indústria 4.0.
conforme Sacomano (SACOMANO, GONÇALVES, et al., 2018) ela é caracterizada
pelo uso de várias tecnologias interconectadas, como computação em nuvem, Big
data, simulação, internet das coisas, robótica e realidade aumentada, etc.
Industrialmente, este modelo contribui para a redução de desperdícios e otimização
dos processos. Permite a manufatura de produtos personalizados em massa,
controle de dados em tempo real e a capacidade de simular processos. No entanto,
este tema ainda é pouco estudado cientificamente, e isto pode ser constatado pelo
número de publicações referentes ao mesmo.
O termo “Indústria 4.0”, se refere a um conjunto de tecnologias avançadas
que, integradas, beneficiam na redução das barreiras relacionadas às ferramentas
virtuais e físicas. Consequentemente, tais tecnologias permitem que máquinas e
17

humanos trabalhem em sinergia, conectados, utilizando sistemas cyber-físicos e


adotando tecnologias como Internet das Coisas (IoT) para desenvolver as chamadas
fábricas inteligentes. Além disso, a Indústria 4.0 é impulsionada por fatores como o
aumento de dados envolvidos no processo e o surgimento de recursos de análise,
como por exemplo, a introdução da inteligência artificial. Apesar das vantagens
proporcionadas pela Indústria 4.0, como a interoperabilidade, a análise de dados em
tempo real e o auxílio de robôs nas linhas de produção, a mesma ainda enfrenta
desafios na sua adaptação, uma vez que seus conceitos ainda não estão tão bem
fundamentados e esclarecidos na literatura e consequentemente no setor produtivo.
O conceito tem por objetivo auxiliar as empresas a preservar o meio ambiente,
reduzir consumo de água, energia, geração de resíduos e minimizar gastos durante
a produção. Muitos são os países que já adotam os conceitos relacionados a
Indústria 4.0 em seus meios produtivos porém, no Brasil, isso ainda é algo difícil de
projetar em uma micro, pequena ou média empresa.
O Brasil se encontra na 44ª posição de competitividade global para a
revolução 4.0 quando comparado com os outros países, ou seja, o Brasil não se
apresenta atualmente em uma posição privilegiada para a quarta revolução
industrial.

2.4 Soluções Técnológicas da Indústria 4.0 para as MPMEs.

Um estudo conduzido.em parceria pelo NEO - Núcleo de Engenharia


Organizacional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Ministério da
Economia (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022) identificou dezoito
soluções tecnológicas da Indústria 4.0 que são aplicáveis a MPMEs. No quadro a
seguir resumimos um descritivo de quais são essas tecnologias e suas funções:

Tabela 1 – Tecnologias da Indústria 4.0


(continua)

Tecnologia Aplicação

Sensoriamento Tecnologia instalada em equipamentos, máquinas e


sistemas para o monitoramento de informações e
(sensores, atuadores, RFID) coleta de dados confiáveis

Internet das Coisas Realiza a conexão de dispositivos com a internet a fim


de transmitir dados facilitando na Gestão de
(IoT) Informação e na digitalização de dados.
18

Tabela 1 – Tecnologias da Indústria 4.0


(continuação)
Tecnologia Aplicação

Computação da Nuvem Armazena os dados e permite acessibilidade de forma


remota aos usuários, pode ser integrado assim todos
(Cloud) os setores de uma empresa.

Analisa quantidades massivas de dados que oferecem


Big Data e Analytics como resultado painéis de análises descritivas
(BDA) (dashboards) para compreensão de indicadores (KPIs)
de processos.

Sistema de algoritmos matemáticos e estatísticos para


Inteligência Artificial análise de dados complexos tornando as máquinas e
os computadores inteligentes, capazes de aprender e
(IA) identificar padrões à partir de inserções de dados
dando uma capacidade mais preditiva.

Controlador Lógico Programável Aparelho eletrônico digital para armazenamento


interno de instruções como lógica, sequenciamento e
(CLP) temporizações com foco na automação industrial.

Sistema de Supervisão e Aquisição de Dados Sistema capaz de monitorar a produção por meio de
(SCADA) coleta de dados em tempo real.

Sistema de Execução da Manufatura Sistema que controla a gestão de vários elementos do


processo produtivo através da integração de
(MES) informações de “chão de fábrica”.

Sistema Integrado de Gestão Empresarial Sistema que integra os dados de processos


(ERP) corporativos para gerenciar os recursos empresariais.

Realidade Aumentada (RA) e Permite que se insira elementos virtuais ao ambiente


real. Já a realidade virtual permite a imersão do
Realidade Virtual (RV) usuário no mundo completamente digital.

Tecnologia capaz de construir cenários e seus


Simulação e Modelagem elementos, processos e fatores para análises de
melhoria de performance com previsão.

Representação digital de um objeto real, sendo uma


Gêmeos Digitais
réplica virtual de um objeto físico ou processo.

Manufatura Aditiva Máquinas que permitem transformar os modelos


digitais em produtos físicos à partir da sua impressão
(MA) 3D em materiais poliméricos ou metálicos.

Robôs capazes de interagir no mesmo ambiente com


seres humanos (robôs colaborativos). No caso de
Robótica Avançada: robôs colaborativos (Cobots) e
movimentação, podem ser dirigidos de forma guiada
veículos guiados automaticamente (AGV), etc.
(AGVs) ou podem se mobilizar de forma autônoma
(robôs autônomos)

Sistema PLM Sistema que gerencia todos os ciclos de vida de um


(Product Lifecycle Management) produto.
19

Tabela 1 – Tecnologias da Indústria 4.0


(conclusão)
Tecnologia Aplicação

Computação Visual Sistema de identificação e análise de objetos por


(Machine Vision) processamento de imagem.

Sistema de Gerenciamento de Armazém Automação e gerenciamento de todos os processos


logísticos que ocorrem em um armazém ou centro de
(WMS – Warehouse Management System) distribuição.

Sistema que protege todos os dados acima


mencionados de ataques criminosos e acessos de
Cibersegurança pessoas não autorizadas, garantindo a
confidencialidade, integralidade e disponibilidade das
informações.

Fonte: (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022)

O mesmo estudo (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022) faz


uma análise da literatura existente e, posteriormente, uma pesquisa junto a MPMEs
e representantes de associações dos diferentes setores industriais. Este estudo
permitiu identificar sete principais desafios enfrentados pelas MPMEs da indústria de
transformação.

Para a identificação dos principais desafios de produtividade enfrentados


pelas MPMEs brasileiras, primeiramente, foi realizada uma análise da
literatura existente e, posteriormente, os resultados foram confrontados e
complementados com entrevistas a MPMEs e representantes de
associações dos diferentes setores industriais. Esta análise permitiu
identificar sete principais desafios enfrentados pelas MPMEs da indústria de
transformação, sendo estes: (i) Gestão do capital humano, (ii) Gestão e
programação da produção, (iii) Gestão da qualidade, (iv) Gestão da
manutenção e confiabilidade, (v) Gestão energética, (vi) Gestão de
estoques e logística e (vii) Gestão de produtos e projetos. (NEO - UFRGS;
MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022, p. 7)

Segue na Tabela 2, a seguir, um detalhamento de cada um desses sete


desafios de produtividade das MPMEs no Brasil, conforme levantado pelo estudo.

E uma vez identificadas as dezoito tecnologias da Indústria 4.0 aplicáveis às


MPMEs e os seus sete desafios de produtividade, o estudo faz uma matriz indicando
a aplicabilidade de cada uma dessas tecnologias a cada um desses desafios,
provendo uma espécie de guia de orientação para a seleção dessas tecnologias.
20

Tabela 2 – Detalhamento dos desafios de produtividade das MPMEs


(continua)
Desafio Detalhamento

As MPMEs normalmente possuem recursos


humanos limitados, os quais estão focados nas
atividades do dia a dia, com baixa possibilidade de
desenvolverem a curiosidade ou conhecimentos
relacionados à aplicação de tecnologias da
Indústria 4.0. Na maioria dessas empresas, o dono
abre seu próprio negócio como resultado de sua
experiência em determinado setor. Por isso, as
Gestão do Capital Humano
MPMEs possuem amplos conhecimentos dos
aspectos técnicos do negócio. Porém, observa-se
uma carência e habilidades e conhecimentos
gerenciais e estratégicos, que são tipicamente
necessários para que a MPME possa se abrir à
possibilidade de investimento em tecnologias
digitais para a abordagem de seus desafios de
produtividade.

As MPMEs normalmente possuem baixa


visibilidade de sua real capacidade e da eficiência
de uso dos recursos disponíveis. O uso de
indicadores de eficiência (ex. OEE¹) é
frequentemente desconhecido por essas
empresas, tanto pela falta de formação
metodológica quanto pelo fato de não terem dados
confiáveis para a constituição dos indicadores¹.
Gestão e Programação da Produção Esta falta de visibilidade afeta a tomada de
decisões nos níveis operacional e estratégico,
causando a subutilização de recursos e excesso
de estoque, entre outras consequências. Além
disso, este cenário provoca uma maior
dependência dos recursos humanos, que
costumam estar pouco preparados para lidar com
a complexidade e turbulência das demandas
produtivas.

Nas MPMEs as atividades são normalmente


realizadas a partir da experiência dos funcionários
e dos proprietários, não havendo padrões e
processos mapeados, o que acarreta dificuldades
no controle dos processos. A atividade de
qualidade é predominantemente uma função de
inspeção final para garantir que a entrega seja
Gestão de Qualidade adequada, e não um processo de controle
intermediário, o que acaba acarretando maiores
desperdícios e custos internos. Assim, este desafio
de produtividade envolve a necessidade de
identificação dos problemas de qualidade no
momento e na etapa do processo em que
acontecem, de forma a permitir a investigação e
ação sobre suas causas raiz.
21

Tabela 2 – Detalhamento dos desafios de produtividade das MPMEs


(conclusão)
Desafio Detalhamento

As MPMEs normalmente possuem um parque fabril


com equipamentos antigos e equipe técnica limitada,
executando apenas manutenção corretiva em
resposta à ocorrência de avarias. Com isso, enfrentam
altas perdas de produtividade e de performance por
excessivas e demoradas pausas para manutenção.
Gestão da Manutenção
Para que consigam extrair o máximo de sua
capacidade produtiva e diminuir os índices de
retrabalho, as MPMEs precisam avançar na gestão de
manutenções preventivas e preditivas, o que permitiria
otimizar o trabalho da quantidade limitada da equipe
técnica.

As MPMEs normalmente precisam controlar e


dimensionar melhor seu estoque e desenvolver ações
que tornem sua gestão logística mais eficiente. Muitas
MPMEs vivenciam perdas de estoque por
desorganização do almoxarifado e sofrem com
Gestão de Estoques e Logística paradas não programadas na produção por falta de
matéria-prima. As perdas também decorrem da
estratégia de manter altos volumes de estoque de
produtos intermediários ou acabados, da falta de
confiabilidade dos processos produtivos e de
estimativas imprecisas de consumo e abastecimento.

As MPMEs normalmente sofrem com baixa eficiência


energética em suas linhas de produção. Isto pode ser
resultado da falta de manutenção dos equipamentos,
equipamentos antigos, falta de correção do fator de
potência, ou incorreto dimensionamento da rede
elétrica. Ademais, a persistência da baixa eficiência
Gestão Energética energética nas MPMEs pode estar relacionada à falta
de visibilidade do real consumo energético, o que leva
ao baixo investimento de tempo e recursos financeiros
em práticas de sustentabilidade e eficiência
energética, dada a falta de compreensão do real valor
do investimento e o desconhecido de como começar
os esforços para melhorar este aspecto.

Em comparação com as empresas de grande porte, o


processo de inovação nas MPMEs geralmente é
informal e menos estruturado, sendo que a base de
competências de inovação é restrita, a disponibilidade
de recursos financeiros é menor, a atração de mão de
obra qualificada é mais baixa e a propensão para
interação com outras empresas é limitada. Com isso,
Gestão de Produtos e Projetos Inovadores
as MPMEs sofrem com a baixa competitividade no
mercado pela falta de desenvolvimento de novos
produtos e inovação com foco no cliente. Essas
empresas têm dificuldades relacionadas ao alto tempo
de desenvolvimento de um novo produto e ao tempo
de entrada no mercado (time to market) do produto
que poderia gerar uma maior receita.

Fonte: (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022)


22

Na Tabela 3 as tecnologias da Indústria 4.0 estão agrupadas em categorias


de tecnologias que atuam em conjunto para alcançar os objetivos de produtividade e
desempenho. Esses grupos são: tecnologias de base, integração vertical,
virtualização, automação avançada e tecnologias específicas.

Tabela 3 – Tecnologias x desafios das MPMEs


Gestão de
Gestão e Gestão de
Gestão da Gestão da Gestão Projetos e
Programação Estoques e
Qualidade Manutenção Energética Produtos
da Produção Logística
Inovadores
Tecnologias de Base

Sensoriamento     
Internet das Coisas      
Computação da Nuvem      
Big Data e Analytics      
Inteligência Artificial      
Integração Vertical

  
Controlador Lógico
Programável

  
Sistema de Supervisão
e Aquisição de Dados

  
Sistema de Execução
da Manufatura

  
Sistema Integrado de
Gestão Empresarial

Virtualização

  
Realidade Aumentada
(RA) e Virtual (RV)

 
Simulação e
Modelagem
Gêmeos Digitais     
Automação Avançada

Robótica Avançada   
Específicas

Sistema PLM

Computação Visual 
Sistema de
Gerenciamento de
Armazém - WMS

Cibersegurança      
Manufatura Aditiva    
Fonte: (NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022)
23

3 METODOLOGIA

O método escolhido foi o qualitativo e descritivo visando a compreender o


tema a apartir das pesquisas bibliográficas e dados secundários obtidos. O
procedimento de pesquisa seguiu as seguintes etapas:

3.1 Delimitação da pesquisa

Foram consideradas nesse estudo as obras que abordam as tecnologias da


Indústria 4.0 identificadas como aplicáveis a MPMEs no Brasil. A seguir se abordou
os desafios e barreiras que elas enfrentam em sua implantação e, por fim, as
recomendações dadas a elas para que tenham sucesso nessas iniciativas, o que
ficou claro ser chamado normalmente na literatura de “processo de transformação
digital” e “maturidade digital”.

Portanto, as pesquisas foram delimitadas pelo seguinte escopo:


tranformação e maturidade digital, através das soluções tecnológicas da Indústria
4.0, em micro, pequenas e médias empresas no Brasil.

3.2 Identificação das fontes de pesquisa

As fontes de pesquisas utilizadas para a elaboração deste estudo foram o Portal


de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior), o Google Academic, Repositório UNESP, Teses e Dissertações – USP,
Minha Biblioteca - Univesp e o acervo da revista Gestão & Produção.

3.3 Delimitação da forma de apresentação dos resultados .

A forma de apresentação do resultado das pesquisas foi a de “tabela


resumo” para cada um dos temas abordados no referencial teórico. Ela consiste em
uma tabela que apresenta as principais conclusões encontradas nos artigos
relacionados a determinado tema abordado.

3.4 Estabelecimento do número de estudos para cada um dos temas abordados

Foi definido como três o número de artigos presentes em cada uma das tabelas
resumo, para cada um dos temas pesquisados: transformação digital, maturidade digital,
Indústria 4.0 e Soluções Tecnológicas da Indústria 4.0 para MPMEs. A escolha desses
números se deu em virtude de trazerem informações suficientes e robustas para cada
um dos objetos de estudo.
24

3.5 Escolha dos estudos usados utilizados como parte da pesquisa:

a) Pesquisa incial: definiram-se os seguintes termos de pesquisa: "Indústria


4.0" "Soluções tecnológicas" "micro, pequenas e médias empresas" “barreiras e
desafios”. Como primeiro critério de escolha dos estudos estabeleceu-se o recorte
temporal de publicações após 2010, que é mais ou menos o ano do início e
ascenção da indústria 4.0. O segundo foi a capacidade do estudo de trazer
informações que ajudassem a uma melhor compreensão do tema em estudo. Por
fim, o terceiro critério foi a existência de uma correlação entre as tecnologias com a
indústria padrão e a Indústria 4.0. No Portal de Periódicos da CAPES e no Google
Academics, utilizou-se a ferramenta disponível capaz de ordenar os artigos de
acordo com sua relevância, dessa forma os artigos correspondem aos mais
relevantes dos Portais.

b) transformação digital: o critério utilizado para a seleção das fontes


aplicadas ao desenvolvimento deste tópico foi a busca a partir dos seguintes termos:
“transformação digital”, “micro e pequenas empresas” e “indústria 4.0”. Dessa forma
foi possível correlacionar os resultados encontrados.

c) Maturidade digital: o critério utilizado para a seleção das fontes aplicadas


ao desenvolvimento deste tópico foi a busca a partir dos seguintes termos:
“maturidade digital” e “tipos de maturidade digital” (“digital maturity” e “types of digital
maturity”). Dessa forma foi possível correlacionar os resultados encontrados.

d) Indústria 4.0: o critério utilizado para a seleção das fontes aplicadas ao


desenvolvimento deste tópico foi a busca a partir dos seguintes termos: “Industria
4.0”, “micro e pequenas empresas” e “indústria 4.0”. Dessa forma foi possível
correlacionar os resultados encontrados.

e) Soluções Tecnológicas da Indústria 4.0 para as MPMEs: o critério


utilizado para a seleção das fontes aplicadas ao desenvolvimento deste tópico foi a
busca a partir dos seguintes termos: “soluções tecnológicas da Indústria 4.0”, “micro
e pequenas empresas” e “brasil”.

As tabelas resumo podem ser encontradas juntos a cada um dos seus


respectivos temas na seção 2.
25

3.6 Tabelas resumo dos temas pesquisados

Tabela 4: Tabela Resumo - Pesquisa Geral

Autores Título Alguns resultados

NEO – Soluções tecnológicas da Como principais resultados deste


UFRGS/Ministério da Indústria 4.0 para micro, projeto, primeiramente foram definidos
Economia (2022) pequenas e médias os desafios de produtividade das
empresas do setor de MPMEs e as relações de prioridade e
Relatório
transformação industrial complexidade para sua abordagem. A
partir desses desafios, foi realizada
uma análise das principais tecnologias
da Indústria 4.0 que apresentam
potencial para contribuir com os
desafios identificados para as MPMEs.

Cleber Gaspar Correa Como as micro, pequenas e Os resultados demonstram que ainda
Duarte (2022) médias empresas (mpmes) há muita resistência nessas
superam as barreiras para implementações, o que reforça o alto
Dissertação de
implementação dos empenho em se quebrar paradigmas
Mestrado
conceitos e tecnologias da no sentido de implantar soluções
indústria 4.0? tecnológicas nas empresas,
observando que, as percepções
apresentadas, tendem a relacionar a
tecnologia com altos custos, e que
outras necessidades na instituição
devem ser priorizadas em detrimento o
investimento especialmente no que
tange ao operacional.

Maycon David Stahelin Subvenção e apoio técnico frente aos objetivos propostos para a
(2021) como pilares para políticas pesquisa, considera-se inicialmente
de fomento à economia 4.0 que foram apresentadas evidências
Dissertação de
em micro e pequenas suficientes dos casos para reforçar a
Mestrado
empresas. existência da relação causal entre a
oferta de subvenção e apoio técnico e
os resultados esperados para as
políticas, de efetivamente ajudar MPEs
na adoção e desenvolvimento de
tecnologias da Economia 4.0, bem
como dos mecanismos causais
propostos para explicar essa relação.

Fonte: elaborada pelos autores.


26

Tabela 5 – Tabela Resumo - Transformação Digital

Autores Título Alguns resultados

David L. Rogers Transformação Digital – A ideia central de todo o livro é que a


(2022) Repensando o seu negócio transformação digital não tem a ver
para a era digital com tecnologia – tem a ver com
Livro
estratégia e novas maneiras de pensar.
Que a transformação digital exige que
o negócio atualize sua mentalidade
estratégica, muito mais que sua
infraestrutura de TI. A função
tradicional do executivo-chefe de
informação era usar a tecnologia para
otimizar processos, para reduzir riscos
e para melhorar a gestão dos negócios
existentes. A função emergente do
executivo-chefe de atividades digitais é
muito mais estratégica, focada no uso
da tecnologia para reimaginar e
reinventar o core business (negócio
principal) em si

NEO – Soluções tecnológicas da Como principais resultados deste


UFRGS/Ministério da Indústria 4.0 para micro, projeto, primeiramente foram definidos
Economia (2022) pequenas e médias os desafios de produtividade das
empresas do setor de MPMEs e as relações de prioridade e
Relatório
transformação industrial complexidade para sua abordagem. A
partir desses desafios, foi realizada
uma análise das principais tecnologias
da Indústria 4.0 que apresentam
potencial para contribuir com os
desafios identificados para as MPMEs.

Tami Marieli de Proposta de um modelo de O estudo apresenta uma proposta de


Andrade Bischoff prontidão de pmes para a avaliação do grau de prontidão digital
(2023) indústria 4.0 de uma MPME, que é composta por 26
desafios baseados em 18
Dissertação de
características que as empresas
Mestrado
podem apresentar, que foram
englobados em 4 eixos-capacidades,
compondo o modelo de avaliação
proposto. O modelo de avaliação
específico para MPMEs fornece uma
visão clara dos desafios que essas
empresas possuem para transformação
digital auxiliando na definição da
estratégia individual.

Fonte: elaborada pelos autores.


27

Tabela 6 – Tabela Resumo – Maturidade Digital

Autores Título Alguns resultados

Capgemini The Digital Advantage: How Os autores definiram quatro tipos de


Consulting/MIT Center digital leaders outperform maturidade digital dos negócios
for Digital Business their peers in every industry (iniciantes, fashionistas, conservadores
(2012) e digiratis) com base em duas
dimensões separadas porém
Relatório
interligadas: intensidade digital e a
intensidade do gerenciamento da
transformação. Ou seja, quanto mais a
organização lança mão de soluções
tecnológicas digitais e melhor gerencia
adequadamente o processo de
transformação habilitado por elas,
assegurando sua coerência com as
necessidades e objetivos estratégicos
do negócio, maior é a “maturidade
digital” da organização.

Capgemini Digital transformation: a O estudo definiu o que eles chamaram


Consulting/MIT Center roadmap for billion-dollar de “Peças da Construção Digital”, que
for Digital Business organizations delineiam o que seria a “Forma da
(2011) Transformação Digital” (Shape of
Digital Transformation). E eles
Relatório
concluíram, com base em entrevistas
com executivos de grandes
companhias tradicionais, que eles tem
focado em três principais áreas em
seus esforços – bem sucedidos – de
transformação digital: experiência do
cliente; processos operacionais e
modelo de negócio.

Tami Marieli de Proposta de um modelo de O estudo apresenta uma proposta de


Andrade Bischoff prontidão de pmes para a avaliação do grau de prontidão digital
(2023) indústria 4.0 de uma MPME, que é composta por 26
desafios baseados em 18
Dissertação de
características que as empresas
Mestrado
podem apresentar, que foram
englobados em 4 eixos-capacidades,
compondo o modelo de avaliação
proposto. O modelo de avaliação
específico para MPMEs fornece uma
visão clara dos desafios que essas
empresas possuem para transformação
digital auxiliando na definição da
estratégia individual.

Fonte: elaborada pelos autores.


28

Tabela 7 – Tabela Resumo - Indústria 4.0

Autores Título Alguns resultados

NEO – Soluções tecnológicas da Como principais resultados deste


UFRGS/Ministério da Indústria 4.0 para micro, projeto, primeiramente foram definidos
Economia (2022) pequenas e médias os desafios de produtividade das
empresas do setor de MPMEs e as relações de prioridade e
Relatório
transformação industrial complexidade para sua abordagem. A
partir desses desafios, foi realizada
uma análise das principais tecnologias
da Indústria 4.0 que apresentam
potencial para contribuir com os
desafios identificados para as MPMEs.

José Benedito Indústria 4.0: conceitos e A obra traz os conceitos e fundamentos


Sacomano e outros fundamentos da Indústria 4.0, explicando cada uma
(2018) das suas principais tecnologias e
formas de aplicação, inclusive no
Livro
Brasil, sobre os sistemas ciber físicos,
Internet das coisas, Internet dos
serviços, organização e trabalho 4.0,
indústria 4.0 e sustentabilidade, gestão
de manutenção e ativos na indústria
4.0, desafios e perspectivas da
indústria brasileira rumo a quarta
revolução industrial.

Cleber Gaspar Correa Como as micro, pequenas e Os resultados demonstram que ainda
Duarte (2022) médias empresas (mpmes) há muita resistência nessas
superam as barreiras para implementações, o que reforça o alto
Dissertação de
implementação dos empenho em se quebrar paradigmas
Mestrado
conceitos e tecnologias da no sentido de implantar soluções
indústria 4.0? tecnológicas nas empresas,
observando que, as percepções
apresentadas, tendem a relacionar a
tecnologia com altos custos, e que
outras necessidades na instituição
devem ser priorizadas em detrimento o
investimento especialmente no que
tange ao operacional.

Fonte: elaborada pelos autores.


29

Tabela 8 – Tabela Resumo – Soluções Tecnológicas da Indústria 4.0 para as MPMEs

Autores Título Alguns resultados

NEO – Soluções tecnológicas da Como principais resultados deste


UFRGS/Ministério da Indústria 4.0 para micro, projeto, primeiramente foram definidos
Economia (2022) pequenas e médias os desafios de produtividade das
empresas do setor de MPMEs e as relações de prioridade e
Relatório
transformação industrial complexidade para sua abordagem. A
partir desses desafios, foi realizada
uma análise das principais tecnologias
da Indústria 4.0 que apresentam
potencial para contribuir com os
desafios identificados para as MPMEs.

Cleber Gaspar Correa Como as micro, pequenas e Os resultados demonstram que ainda
Duarte (2022) médias empresas (mpmes) há muita resistência nessas
superam as barreiras para implementações, o que reforça o alto
Dissertação de
implementação dos empenho em se quebrar paradigmas
Mestrado
conceitos e tecnologias da no sentido de implantar soluções
indústria 4.0? tecnológicas nas empresas,
observando que, as percepções
apresentadas, tendem a relacionar a
tecnologia com altos custos, e que
outras necessidades na instituição
devem ser priorizadas em detrimento o
investimento especialmente no que
tange ao operacional.

Maycon David Stahelin Subvenção e apoio técnico frente aos objetivos propostos para a
(2021) como pilares para políticas pesquisa, considera-se inicialmente
de fomento à economia 4.0 que foram apresentadas evidências
Dissertação de
em micro e pequenas suficientes dos casos para reforçar a
Mestrado
empresas. existência da relação causal entre a
oferta de subvenção e apoio técnico e
os resultados esperados para as
políticas, de efetivamente ajudar MPEs
na adoção e desenvolvimento de
tecnologias da Economia 4.0, bem
como dos mecanismos causais
propostos para explicar essa relação.

Fonte: elaborada pelos autores.


30

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Com base na análise de toda a bibliografia e estudos mencionados verificou-


se que a definição de um método e ferramentas para o diagnóstico, definição das
necessidades, identificação das soluções tecnológicas aplicáveis, elaboração de um
plano de implantação e verificação dos resultados obtidos de um plano de aumento
de competividade aplicável a MPMEs no Brasil atualmente, com base nas soluções
tecnológicas disponíveis da indústria 4.0, em linha com o objetivo geral desse
estudo, requer que se defina claramente as premissas que esse método deve levar
em conta.

4.1. Premissas do método para aplicação da Indústria 4.0 nas MPMEs


O estudo conduzido pelo NEO - Núcleo de Engenharia Organizacional da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Ministério da Economia (NEO -
UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022) sintetizou os desafios que as MPMEs
no Brasil devem enfrentar para implantar com sucesso as soluções da Industria 4.0:

a) falta de expertise na identificação das soluções adequadas para o


problema observado na atividade específica desenvolvida pela
empresa, bem como na definição da solução digital a ser adotada;

b) escassez de fontes de informações independentes acerca da adoção


das soluções tecnológicas pretendidas, ou restrições à experimentação
prévia e/ou ao acompanhamento do funcionamento dessas soluções já
implantadas em outros projetos industriais pertinentes;

c) desconhecimento sobre o retorno sobre o investimento realizado nos


projetos de transformação digital, o que resulta em restrições para
maior incorporação da digitalização das operações à estratégia de
negócios da empresa; e

d) dificuldades para implantação da infraestrutura e adequação dos


processos requeridos no âmbito da transformação digital do processo
produtivo da empresa.
31

Já (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) afirma que os executivos sêniores


que lideram processos de transformação digital bem sucedidos trabalham em um
processo de três etapas iterativas:

1. Visualize o futuro digital para sua empresa.


2. Invista em iniciativas e habilidades digitais.
3. Lidere a mudança de cima.

Vê-se aí novamente reforçada a necessidade detectada de alinhamento da


transformação digital com a visão global do futuro do negócio, a necessidade de
prover o conhecimentos, as habilidades e competências digitais requeridas e o papel
da direção na liderança do processo de mudança, “de cima”.

Restou claro também através do estudo da Capgemini Consulting e MIT


Center for Digital Business (WESTERMAN, TANNOU, et al., 2012) que um aspecto
importante para o sucesso de um processo de transformação digital é a combinação
de intensidade na identificação e implantação das soluções digitais relevantes e
aplicáveis aos desafios estratégicos, com a intensidade também no gerenciamento
da transformação, assegurando que o processo tenha real impacto no desempenho
da organização, possibilitando a obtenção de vantagens competitivas concretas
frente à concorrência.

Portanto, com base em toda essa pesquisa bibliográfica até aqui realizada,
delineamos as seguintes premissas que devem ser levadas em consideração na
definição do método para aplicação das tecnologias da Indústria 4.0 em micro,
pequenas e médias empresas no Brasil atual:

1. Deve haver um entendimento claro da direção sobre os benefícios


potenciais que as soluções tecnológicas da Industria 4.0 pode trazer aos
negócios da organização.
2. A organização deve entender o seu contexto externo e interno no qual
opera e quais são, portanto, os seus objetivos estratégicos em relação ao
cliente e a esse contexto de operação, e quais os valores que ela deve
gerar para ser bem sucedida em seus objetivos de desempenho.
3. Deve-se identificar quais são os desafios de produtividade que ela
enfrenta para poder atingir os seus objetivos estratégicos.
32

4. A organização deve selecionar as soluções tecnológicas da Indústria 4.0


que efetivamente possam criar valor e aumentar a sua capacidade de
entregar os seus objetivos estratégicos que vão dar a ela real vantagem
competitiva em relação aos seus concorrentes.
5. Um plano de transformação digital deve ser estabelecido com base nas
premissas anteriores, buscando-se equilíbrio entre a intensidade digital e
a intensidade de gerenciamento da transformação, visando a levar a
organização a se tornar do tipo “Digiratis” – que são aquelas que
realmente obtêm sucesso em seus programas de transformação digital.
6. Treinamento e capacitação adequados, em todos os níveis da
organização, devem ser providos para assegurar a boa escolha das
soluções tecnológicas, a sua eficaz aplicação e o atingimento dos
objetivos estratégicos associados a elas.
7. Engajamento e gerenciamento do plano de transformação devem ser
assegurados, através da boa governança e do monitoramento, por KPI’s,
dos resultados efetivos obtidos, com as eventuais ações corretivas
necessárias para assegurar a melhoria desejada do desempenho
organizacional.
8. Uma gestão orçamentária dos investimentos e do retorno dos
investimentos deve ser implementada, incluindo a estratégia para
obtenção dos recursos e financiamentos necessários e a análise dos
resultados e retornos obtidos.
9. Deve haver um monitoramento, acompanhamento e apoio da direção em
todas as etapas da transformação digital.
10. O processo de transformação digital deve considerar não somente a
melhoria dos processos de negócios atuais, mas a possibilidade de
reimaginar ou reinventar a relação com o cliente, o processos internos e o
modelo de negócio.

4.2. Método para aplicação da Indústria 4.0 nas MPMEs


Com base na pesquisa bibliográfica e documental realizada e as premissas
estabelecidas para a definição do método para aplicação da Indústria 4.0 nas
MPMEs no Brasil atual, chegou-se à proposta de um processo composto de 7
33

etapas com um ciclo de aperfeiçoamento constante conforme podemos ver na


Figura 4.

Figura 4 – Método de Implantação da Indústria

Fonte: elaborada pelos autores.

Segue uma descrição de cada uma dessas etapas, bem como os métodos e
ferramentas que podem ser aplicados em cada uma delas:

0. Entendimento do contexto da organização: visando a atender as


premissas 1 e 2 estabelecidas no item 4.1, o primeiro passo no processo
de implantação das soluções tecnológicas da Indústria 4.0 nas MPMEs é
o estudo e entendimento do real contexto da organização, tanto interno
como externo, com o objetivo de entender os desafios, os pontos fracos e
as oportunidades de obtenção de vantagens competitivas. Deve-se
entender quais são os desafios de produtividade específicos da
organização, face às expectativas e necessidades do cliente, os pontos
34

de fragilidade frente aos concorrentes e as possibilidades de digitalização


que fazem sentido dentro do objetivo de alavancar o desempenho e
estabilidade da organizaçao. Pesquisas de mercado, pesquisas de
satisfação dos clientes, análise SWOT, análise PESTEL, 5 Forças de
Porter, entres outras ferramentas, podem ser usadas para se obter um
conhecimento real do contexto da organização e como ela está
posicionada frente a ele. Não se deve descartar, nessa análise, as
oportunidades de reimaginar e reinventar o negócio, visando a se obter
vantagens competitivas que coloque a organização à frente da
concorrência, conforme previsto na premissa 10 do presente método.

1. Redefinição ou definição dos objetivos estratégicos:

Utilizando-se as conclusões da etapa anterior a organização deve revisar


ou definir de forma clara os objetivos estratégicos que ela deve perseguir
em resposta ao seu contexto atual. Esses objetivos qualitativos devem ser
convertidos, tanto quanto possível, em objetivos quantitativos e métricas
de desempenho, mensuráveis, para poder se monitorar o seu
desenvolvimento, implantação e desempenho. Métodos e ferramentas
como o BSC (Balanced Score Card) de Kaplan, o SMART (ou Pirâmide de
Desempenho) ou Modelo de Sink e Tuttle (Sete Critérios de
Desempenho) podem ser usados nessa definição dos objetivos e
indicadores estratégicos.

2. Seleção das soluções tecnológicas pertinentes

Com base na definição clara dos objetivos estratégicos da organização e


dos processos, atividades ou produtos que precisam ser melhorados,
corrigidos ou mesmo reinventados ou criados, deve-se agora selecionar
as soluções tecnológicas da Indústria 4.0 que se aplicam a esses
desafios. E a forma de se fazer isso é utilizando-se das Tabelas 1, 2 e 3
do presente estudo:

 Tabela 1: Tecnologias da Indústria 4.0

 Tabela 2: Detalhamento dos desafios de produtividade das MPMEs

 Tabela 3: Tecnologias x desafios das MPMEs


35

1º. Passo: faz-se a associação do objetivo estratégico perseguido com


o(s) desafio(s) de produtividade pertinente(s) da Tabela 2.

2º. Passo: na Tabela 3 faz-se a correlação do(s) desafio(s) de


produtividade pertinente(s) com as tecnologias da Indústria 4.0 indicadas.

3º. Passo: na Tabela 1, analisar quais das tecnologias da indústria 4.0


mais se aplicam aos objetivos estratégicos perseguidos.

4º. Passo: fazer pesquisa de mercado dos fornecedores das soluções


tecnológicas selecionadas e fazer as cotações, provas de conceitos
(POCs) e estudos de viabilidade conforme aplicável.

5º. Passo: aprovar as soluções tecnológicas aplicáveis e que apresentam


viabilidade econômica.

O estudo realizado pela NEO/UFRGS e Ministério da Economia (NEO -


UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2022) sobre as soluções
tecnológicas da Indústria 4.0 para MPMEs, na sua seção 4, apresenta
orientações muito úteis e aplicáveis para a implantação de cada
tecnologia, prospectadas junto aos fornecedores dessas soluções e
empresas que já as implantaram com sucesso.

Essa etapa atende às premissas 3 e 4 do presente método.

3. Planejamento da transformação digital

Conforme revelado pelo presente estudo, a intensidade no gerenciamento


da transformações é fundamental para o seu sucesso. Portanto, em
atendimento à premissa 5 do presente método, deve ser estabelecido,
com o apoio e acompanhamento da direção da organização, um
planejamento da transformação digital, contemplanto todas as etapas do
presente método, com a designação dos responsáveis, prazos, recursos
necessários e métricas de desempenho, conforme as melhores práticas e
métodos de gestão de projetos, como as do PMBoK, Scrum, etc.

4. Obtenção dos recursos e financiamentos necessários

Uma questão que não se deve deixar de lado, especialmente no caso de


MPMEs é a de obtenção de recursos ou financiamento para o seu plano
36

de transformação digital. Uma definição clara do orçamento dos


investimentos nas iniciativas digitais definidas dentro do plano de
transformação e a garantia dos recursos necessários são fundamentais
para o seu sucesso. As MPMEs podem utilizar recursos próprios ou
buscar financiamento, como o oferecido pelo BNDES em seu programa
“BNDES Finame Máquinas 4.0” (BNDES, 2023) que prevê linha de crédito
também para MPMs para obtenção de máquinas e equipamentos que
utilizam tecnologias da Indústria 4.0. Essa etapa atende à premissa 8 do
presente método.

5. Capacitação das pessoas e lideranças

Um fator importante para o sucesso do plano de transformação digital é a


capacitação (formação e treinamento) das pessoas, inclusive das
lideranças e direção, conforme preconiza a premissa 6 do presente
método. Para a direção e as lideranças, é importante para que elas sejam
capazes de entender a importância e os benefícios que os conceitos da
Indústria 4.0 pode trazer para o seu negócio. Para todas as pessoas
envolvidas, já na etapa de seleção das soluções tecnológicas aplicáveis a
cada desafio, e depois na etapa de implantação e obtenção dos
resultados esperados, é fundamental ter pessoas capacitadas e com as
habilidades necessárias para a correta aplicação e aproveitamento das
soluções digitais aplicadas.

Capacitar as pessoas e obter pessoas com as competências e


habilidades ligadas à Indústria 4.0 é ainda um grande desafio, mesmo
para grandes empresas, quanto mais para as MPMEs. Porém, essa
capacitação deve ser buscada das melhores fontes disponíveis, nos
cursos e programas de formação que começam a surgir, inclusive no
âmbito de entidades de apoio ao setor produtivo e empresarial, como
SENAI e SEBRAE, e também de escolas técnicas, universidades e
entidades de ensino e formação profissional. Outra fonte importante de
capacitação das pessoas são o próprios fornecedores dessas soluções,
que tem interesse e a competência requeridas para prover esse tipo de
assistência a seus clientes, até muitas vezes como parte do seu pacote
de serviços e suporte ao cliente.
37

6. Implantação das soluções

Nas atividades de implantação é importante, conforme as conclusões do


presente estudo, o equilíbrio entre a intensidade digital – que envolve a
quantidade de iniciativas e as competências digitais necessárias, e o
gerenciamento da transformação, inclusive por parte da direção, para
assegurar o sucesso das implantações em particular, e do plano de
transfornação digital em geral.

7. Monitoramento, avaliação dos resultados e aperfeiçoamento

Outras premissas da definição do presente método (premissas 7, 8 e 9) é


que ele deve prever um monitoramento do seu andamento e uma gestão
orçamentária dos investimentos e do retorno dos investimentos deve ser
implementada, inclusive pela direção. Ferramentas de gestão
orçamentária como acompanhamento do ROI (Return of Investments) dos
projetos, controle de fluxo de caixa de projetos, gestão de riscos, etc, e
todas as boas práticas de controladoria e governança deve ser aplicada,
para verificar a efetividade das iniciativas e do plano de transformação
digital. E tudo isso sem perder a necessária visão de futuro digital de
sucesso proporcionado pelas mudanças, que caracterizam as
organizações “Digiratis”, que são as que realmente se beneficiam das
transformações digitais que promovem.

Esse método definido pelo presente estudo, composto de uma etapa


preparatória (0) e mais 7 etapas executivas (1-7) atende ao objetivo desse trabalho
de “propor um método e ferramentas para o diagnóstico, definição das
necessidades, identificação das soluções tecnológicas aplicáveis, elaboração de um
plano de implantação e verificação dos resultados obtidos de um plano típico de
aumento de competividade e resultados aplicáveis a MPMEs no Brasil, com base
nas soluções tecnológicas disponíveis da indústria 4.0.”

O método e as ferramentas propostas, ao longo de suas 8 etapas, também


trouxeram respostas aos seguintes objetivos específicos definidos para o presente
estudo, conforme definido:
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 Identificar quais são as soluções tecnológicas da indústria 4.0 já


disponíveis e acessíveis às MPMEs no Brasil atualmente.

 Propor um método para identificação de quais soluções tecnológicas da


indústria 4.0 são os mais aplicáveis e necessários a uma MPME.

 Identificar as etapas recomendadas para a implantação das soluções da


indústria 4.0 selecionadas para uma MPME.

 Descrever quais são os principais riscos e gargalos que normalmente


serão enfrentados nessas implantações e quais as alternativas para o
tratamento desses riscos e gargalos.

Em termos de riscos e gargalos normalmente enfrentados nessas


implantações foram identificados, ao longo do estudo e na descrição das etapas do
método proposto, que o desconhecimento das soluções tecnológicas e os benefícios
que elas podem trazer, a falta de profissionais competentes e com as habilidades e
requeridas e as restrições de recursos e financiamentos, são os possíveis riscos e
gargalos que devem ser gerenciados dentro do plano de transformação digital.

5 CONCLUSÃO

O que se pode concluir através desse estudo é que é possível sim, no Brasil
atual, que micro, pequenas e médias empresas apliquem com sucesso planos de
transformação digital, com a adoção de soluções tecnológicas da Indústria 4.0,
conforme evidenciado pela pesquisa bibliográfica e documental realizada. E com
base nas conclusões e recomendações propostas nesses estudos, pode-se realizar
uma contribuição analítica através da definição de uma proposta de método e
ferramentas a serem utilizados por MPMEs na identificação, adoção e implantação
de soluções tecnológicas da Indústria 4.0 de forma adequada e que realmente
agregue valor e competividade em face de suas características e contexto
específicos.
Esse método proposto, chamado de “Método para aplicação das tecnologias
da Indústria 4.0 em MPMEs no Brasil” pode contemplar aos objetivos geral e
específicos de prover um método que seja aplicável e orientativo para micro,
pequenas e médias empresas que atual no contexto atual do Brasil.
39

Ficou claro que os estudos, a disponibilização de conhecimento, capacitação


de líderes e profissionais e a disponibilidade de recursos e financiamento, bem como
a visão clara do que vem a ser um plano eficaz de transformação digital e,
consequentemente, de aplicação das soluções tecnológicas ainda são grandes
problemas e desafios a ser superados.
A aplicação de um método como o proposto por esse estudo é um elemento
de grande ajuda, mas que evidentemente deve ser complementado por ações
coordenadas tanto do setor público como do privado, para ir criando as condições
necessárias para que o Brasil se inclua, ainda que de forma atrasada, no clube dos
países beneficiários da atual 4ª revolução industrial que já é uma realidade dinâmica
e em rápido desenvolvimento.
40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. BNDES Finame


Máquinas 4.0, 2023. Disponível em:
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NEO - UFRGS; MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Repositório Digital LUME - UFRGS.


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empresas do setor de transformação industrial, Porto Alegre, p. 65, 2022.
Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/252948/001154952.pdf?sequence
=1. Acesso em: 02 maio 2023.

OCDE. OCDE iLibrary. Financing SMEs and Entrepreneurs 2022: An OECD


Scoreboard, Paris, p. 274, 2022. Disponível em: https://www.oecd-
ilibrary.org/sites/e9073a0f-en/index.html?itemId=/content/publication/e9073a0f-en.
Acesso em: 02 maio 2023.

ROGERS, David L. Transformação digital: repensando o seu negócio para a era


digital. Tradução de Afonso Celso da Cunha Serra. 1ª. ed. São Paulo: Autêntica
Business, 2017. 336 p. Disponível em:
https://plataforma.bvirtual.com.br/Leitor/Publicacao/194721/epub/4?code=DWRYLgu
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SACOMANO, José B. et al. Indústria 4.0: conceitos e fundamentos. São Paulo:


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41

WESTERMAN, George et al. The digital Advantage: how digital leaders


outperform their peers in every industry. Capgemini Consulting; MIT Center for
Digital Business. Cambrige. 2012.

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