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Introdução
Parte 1
1. O que é dependência afetiva?
2. Tipos de dependência afetiva
3. Prevenindo a dependência afetiva
4. Questionário - dependência afetiva
5. Como vencer a dependência afetiva
6. Como construir relacionamentos saudáveis
Parte 2
1. Ciúme
2. Fim do relacionamento
3. Suicídio
4. Relação fusional
5. Violência doméstica
6. O homicida passional
7. Autoestima
8. Frases
Conclusão
Bibliografia
Introdução
Necessidade de proteção
O dependente afetivo acredita que o parceiro escolhido vai oferecer a
proteção necessária e ajudar a resolver todos os problemas e situações do dia a
dia. Acredita que, sozinho, não conseguira. Então, coloca todas as suas
expectativas no outro, desejando ser protegido, mimado e receber todos os
cuidados e atenção. Sente-se tão frágil que acredita não poder resolver nada por
si. Enxerga no parceiro a força, a certeza e a sabedoria em relação ao que está
certo ou errado, a decisão que não consegue tomar, a mudança que não consegue
fazer. Então sobrecarrega a pessoa amada, criando uma enorme dependência nas
mínimas coisas.
Medo da rejeição
O dependente afetivo repete os mesmos comportamentos de quando era
criança, na tentativa de ser aceito e sentir-se importante. Tentando aliviar a
sensação e o sentimento de rejeição, tenta criar vínculos, mas não sabe como
fazer. A dor da rejeição é tão intensa que necessita da presença da pessoa amada,
e precisa de provas de amor o tempo todo. Busca a aproximação como uma
condição de sobrevivência, e se perde na tentativa de prender o parceiro. Cobra,
manipula e controla, tentando suprir o vazio que o sentimento de rejeição
deixou. Não suporta a ideia de não ser amado, quer ser o centro da vida do seu
amor e se magoa profundamente; desdobra-se e faz tudo para agradar. Por não
suportar ouvir “não”, e também por acreditar que algo está errado ou que não é
suficientemente bom para receber amor, fica com a autoestima profundamente
enfraquecida.
Medo da solidão
A angústia e o pavor de ficar só fazem com que o dependente afetivo
fortaleça a dependência através de justificativas de que e impossível viver sem a
pessoa amada, acreditando que o relacionamento é tudo, e eterno, e nada poderá
mudar. Vai levando a relação, mesmo que já desgastada, e não consegue
enxergar a vida sem o outro.
Desvaloriza-se, decepciona-se e se abate, chegando ao desespero, mas o
medo da solidão é tão grande que prefere engolir a dor e permanecer ao lado de
alguém com quem já não mais possuí vínculos afetivos.
A solidão é uma grande pedra no caminho dessas pessoas; acreditam que não
possam removê-las, chegam a se humilhar para manter o relacionamento, creem
que não conseguem ficar longe da pessoa amada e que, se isso acontecer, trará
uma dor insuportável. O dependente afetivo não consegue ficar sozinho consigo
mesmo, pensa que a vida só pode ser vivida ao lado de alguém. Não consegue
sair sozinho: para ir a qualquer lugar, precisa do outro. Ao chegar em casa e se
perceber sozinho, sente um enorme vazio e se desespera.
Necessidade de reconhecimento
O dependente afetivo, com a necessidade de ser reconhecido, não acredita na
sua capacidade de fazer algo bem feito, de fazer escolhas acertadas e, por ter
uma autoestima enfraquecida, precisa ouvir do parceiro que é bom o suficiente, e
quase sempre deixa de acreditar na sua capacidade de atuar.
Necessita de reforçamento diário e, devido a sua fragilidade em tomar a
iniciativa nas questões do dia a dia, precisa sempre do outro.
Sua falta de clareza quanto as suas habilidades, características e qualidades
deixam essa pessoa muito vulnerável e enfraquecida, por não conseguir fazer
escolhas, e, por não acreditar em sua visão da vida e de tudo o que envolve o
relacionamento amoroso, precisa sempre das palavras positivas e de aprovação
do seu parceiro, da valorização.
Quando a pessoa se sente insignificante, isso pode gerar um sentimento de
raiva, de vitimização e até mesmo a depressão. É necessário fortalecer sua
autoestima, identificar suas habilidades e pontos fortes e acreditar em si mesmo.
“Cláudia cresceu em uma família sem o pai, e não conhecia nada sobre ser
amada e ser tratada com gentileza. Foi criada pela avó, uma pessoa amarga, e
então conheceu o que era ser rejeitada e criticada. Lutou para receber o amor de
uma mãe e viveu a frustração de não conseguir conhecer o afeto e o aconchego.
Seu primeiro casamento foi uma tentativa de receber amor e afeto: buscou um
homem que sabia receber, mas não doava. Assim, sofreu com a distância e a
frieza, e não sentia que tinha importância na vida dele. Esse perfil a atraia,
porque era a oportunidade de transformar alguém frio e distante em uma pessoa
amável. A necessidade dela de mudá-lo era uma forma de viver a relação de
busca pelo amor que não teve na infância”.
“Sílvia sofreu muito com a separação dos pais: a mãe não aceitou a
separação e afastou a filha do convívio com o pai. Ele também não fez questão
de se aproximar. Embora se sentisse sufocada, Sílvia fez de tudo para ver a mãe
feliz, pois se sentia responsável pela felicidade dela. Certo dia, conheceu um
homem muito frágil e carente, e pensou que ele era muito sozinho; então
acreditou que, com o seu amor e atenção, poderia transformar a vida dele.
Tentou, por anos e anos, fazê-lo feliz; queria cuidar dele, fazendo refeições
maravilhosas e cuidando da casa, esperando agradá-lo. Mas ele se afastava, saia
e voltava tarde. Ela chorava e pensava que era responsável pela ausência dele.
Tentou fazer o melhor todos os dias, mas ele saia para beber e voltava agressivo.
Depois de anos de tentativas frustradas, ela entendeu que precisa valorizar a si
mesma e que, do vício dele, não cabia a ela a solução”.
“Elisa conheceu seu marido em uma festa. Eles beberam, dançaram e
curtiram muito. Foi uma noite muito especial pra ela, por conhecer alguém que a
tratou com carinho, atenção e a fez sentir-se especial. Aos poucos, foram se
aproximando, e logo não conseguiam ficar longe um do outro. Ele falava pouco
sobre a família, tinha poucos amigos e não conseguia definir sua vida
profissional. Ela acreditou que conseguiria mudá-lo e se apaixonou por aquele
homem cheio de qualidades que ela criou - mas ele não as possuía. Tentou por
oito anos, até identificar que buscava um modelo ideal, longe do que conhecera
em sua educação. Elisa cresceu em um lar no qual os pais não conversavam,
nada era claro; ela e seus irmãos não podiam falar, sua mãe era submissa, e seu
pai autoritário. Ela se sentia sozinha, insegura e cheia de medos, precisava de
reconhecimento e aprovação o tempo todo”.
3. Prevenindo a dependência afetiva
Quando você diz frases como “você me completa”, “eu morreria sem você”
ou “você e tudo pra mim”, pode haver um tom romântico, mas é preciso ficar
atento.
Se a pessoa mergulha no relacionamento acreditando que é o “amor”, mas
não é, esse tipo de relacionamento não trará alegria, satisfação e crescimento; na
verdade, trará tristeza, sofrimento e alienação.
Muitos são os sinais que aparecem no dia a dia. Porém, é preciso estar atento
e buscar as causas dessa dependência afetiva. É importante identificar os padrões
em sua família, principalmente se um de seus pais foi alcoólatra ou viciado em
alguma substância, bem como se era comum a violência verbal, psicológica ou
física.
Muitas vezes, existe um comportamento adulto de querer corrigir o que foi
vivido na infância, como forma de resgatar alguém - nesse caso, o parceiro
afetivo que necessita de cuidados e atenção.
É importante não se isolar, mas ouvir os amigos próximos e de confiança;
eles muitas vezes podem contribuir e ajudar a identificar algumas características
presentes no relacionamento, as quais normalmente o dependente afetivo se
recusa a enxergar. Essa troca pode ajudar a identificar situações e falas que
trazem à tona uma clareza ao dependente afetivo.
O amor que tem como base a dependência afetiva apresenta uma missão de
resgate do outro, proteção exagerada que chega a sufocar, controle e
manipulação, enquanto o amor real e verdadeiro é admiração, troca, valorização
e crescimento pessoal.
Aprender a olhar mais para si, cuidar-se e focar em suas necessidades é um
grande passo; é importante tomar decisões sem precisar da aprovação do
parceiro, assumir a responsabilidade pelas suas opiniões, escolhas e se fortalecer.
É necessário reconhecer o seu valor próprio, colocar metas e adquirir mais
autonomia, assumindo o controle das emoções, sentimentos e atitudes; encarar as
suas necessidades, traçar os caminhos que considerar primordiais, e cuidar das
decisões do dia a dia, além das decisões a longo prazo.
Identificar as reais necessidades individuais é uma premissa para criar um
relacionamento pautado no respeito, amor e comprometimento.
Identificando a diferença entre amar e depender
Depender está totalmente ligado ao fato de que você imagina que não
suportaria viver sem aquela pessoa. Amar é identificar que você tem sua
individualidade, é encontrar seu espaço, dentro do seu mundo e de suas
necessidades, bem como respeitar seu espaço e o do outro.
Olhando pra si, gostando do que vê e aceitando suas falhas e as do outro,
você se acolhe e permite se olhar verdadeiramente; dessa forma, fortalece seus
laços afetivos, evitando assim criar dependência do olhar do outro.
Depositar todas as razões de sua felicidade no relacionamento tira o seu
poder de encontrar o que te faz feliz. Por outro lado, cuidar de si fortalece sua
autoestima: se valorizar e entender suas necessidades trará novas alternativas de
encontrar satisfação.
Sentir desespero só por pensar que poderia deixar de ser amada cria uma
angústia interminável. É necessário que a individualidade seja respeitada, que a
evolução faca parte do relacionamento, bem como adquirir autoconhecimento
constantemente.
Ter um medo absurdo de não corresponder às expectativas do outro é uma
forma de não se priorizar e criar uma enorme dependência em relação a opinião
do parceiro (a). Então, faz-se urgente se posicionar nas questões que envolvem o
relacionamento, com clareza na comunicação e transparência em todos os
assuntos que envolvam o casal.
Necessitar da aprovação e reconhecimento contínuo por parte da pessoa
amada é uma forma de se aniquilar e se apagar diante do outro. É necessário
colocar limites, fortalecer continuamente a autoestima e respeitar-se.
Ter dificuldade em discordar do outro por não acreditar em si mesmo, bem
como medo de ser rejeitado ou abandonado pelo ser amado torna a vida
angustiante. É imprescindível ter a clareza das suas qualidades e habilidades,
adquirir autoconhecimento, cuidar das metas e projetos individuais e também
daqueles do casal. Um relacionamento de amor tem como premissa a admiração
mútua.
O ciúme incontrolável - a ponto de se buscarem evidências de alguma falha
do parceiro, ou ligar inúmeras vezes questionando o que a pessoa está fazendo e
com quem está - torna o relacionamento extremamente desgastante e frágil. É
preciso desenvolver a confiança, a parceria e o respeito à individualidade, e
expressar-se com assertividade, ouvindo verdadeiramente as necessidades de
cada um e as do casal.
Transferir a responsabilidade das falhas para o parceiro, ou assumir todas
para si, desequilibra a relação. A via de mão de dupla se faz necessária. O
dialogo sincero, o afeto e os cuidados com os detalhes que tornam o casal mais
próximo devem ser aplicados sempre.
6. Como construir relacionamentos
saudáveis
Todo fim é triste, mesmo para aquele que decidiu colocar um ponto final,
pois ninguém começa um relacionamento ou casamento pensando que irá
acabar; sofremos porque sonhamos, acreditamos, há um investimento na relação.
Quando a relação termina, você precisa “desidealizar” tudo aquilo que
idealizou, olhar as coisas mais pela razão do que pelo desejo. Certamente não é
tarefa fácil: apesar de terem existido coisas que não agradavam na relação, você
se acostumou com a presença, a companhia diária, afinidades, entre outras
lembranças que ficam na memória. Nesse momento o que ajuda a seguir e
realmente colocar um ponto final dentro de você, olhar com mais realidade, não
manter nenhum contato.
A presença da pessoa aumenta o desejo e a vontade de estarem juntos. Não
dá para esquecer alguém estando a pessoa presente todos os dias. Portanto, é
preciso deixá-la ir.
Ao terminar, é preciso se policiar para não ficar olhando as redes sociais,
celular, acompanhando a vida da pessoa; isso só aumenta o sofrimento.
Seja firme e corte qualquer tipo de contato. O tempo ajudará a superar o fim.
A ruptura de uma relação amorosa demanda um trabalho psíquico, a travessia
de um processo de luto, no qual questões referentes à subjetividade de cada
parceiro precisam ser elaboradas.
A terapia nesse momento é muito importante, pois possibilita ao individuo
olhar a relação como um todo e, ao mesmo tempo, representa um suporte para
conseguir seguir em frente, resgatando principalmente a autoestima, a vontade
de viver e de buscar novos sonhos!
3. Suicídio
Eclipse solar
“Chega uma hora que nada mais faz sentido, acordar, comer, trabalhar ou
principalmente, no meu caso, lutar por alguém, independente dos motivos.
Quando chega essa hora, a exata hora, tal como num eclipse, a gente surta.
Estava naquele limite entre a razão e a loucura, foram tantas idas e vindas de um
relacionamento tumultuado, brigas e desafetos, que, quando percebi, estava
completamente fora de mim; aquela pessoa independente, alegre, radiante e
cheia de planos e sonhos que sempre fui havia se perdido em algum momento, e
o que existia era uma mulher triste, que faria qualquer coisa por um ‘amor’ que
julgava merecer.
Naquele exato momento em que surtei, não havia mais o depois, os sonhos,
os projetos, as viagens, os amigos, nem a família… O amanha havia
desaparecido, pois naquele exato momento o sol estava oculto e o brilho da vida
havia esvanecido. Fui para a editora e, sem nenhuma palavra sequer, fiz todo
meu trabalho, resolvi as pendências, programei outras tarefas e fui embora; me
despedi como se fosse ao médico, sem lágrimas. Dirigi sem pressa, sem ligar o
som ou sequer prestar atenção ao caminho que tantas vezes fiz. Em casa, arrumei
algumas coisas, dei água e comida para o Phill, me troquei, destranquei a porta
para não dar trabalho a ninguém, sem emoção. Leve, tranquila, serena… como
alguém que estivesse com um turbilhão de coisas na cabeça pudes-se estar. Mas
aí que está o paradoxo, pelo menos para mim… O turbilhão de emoções foi tao
grande que, quando surtei, parecia que tinha sido a melhor ideia de toda a minha
vida! Iria resolver não o meu problema, mas o das pessoas que estavam ao meu
redor; minha família e amigos não teriam mais a preocupação com eu estar bem
ou mal… Simplesmente parecia ser a coisa mais genuína e correta a ser feita. Os
remédios estavam ali… coloridos, brancos, compridos, pequenos, ovais,
redondos… Três grandes punhados, e uma garrafa de Martini. É um vazio tão
grande que acaba sufocando a alma, que parecia já não mais pertencer a este
mundo. Uma dor tao forte que, de tanto doer, parecia já estar anestesiada. Um
desapego tão eloquente que parecia surreal. Não tive medo, não tive pena, não
imaginava que existiria o amanhã: simplesmente queria terminar com aquilo de
uma vez por todas, e deixar de ser um problema. Assim que cheguei em casa,
passei pelo bar e peguei a garrafa de Martini. Comecei a beber no gargalho
mesmo e, entre um gole e outro, um punhado de remédios eu engoli; arrumando
isso ou aquilo, outro punhado, mas meu corpo parecia rejeitar a ideia; quase
vomitei e coloquei tudo para fora, mas firmemente engoli e respirei fundo,
tomando mais um pouco do Martini.
O Phill, como se percebesse a loucura que estava prestes a acontecer, ficava
do meu lado, andando atrás de mim, de um lado para outro. Apaguei as luzes e
me deitei no sofá, pois naquele momento as coisas começavam a ficar turvas,
tudo escuro, calmo, tranquilo; o corpo relaxava e eu me sentia pronta para
terminar tudo. Tinha só mais um punhado em cima da mesa, os últimos
comprimidos; mas eu não conseguia mais, não tinha mais forças para engolir ou
beber… E, de repente, o breu. Uma voz me chamava longe, me tirando do meu
sono profundo. Depois, mais vozes queriam me acordar, queriam que eu falasse,
que eu andasse; parecia tudo tão distante, tão irreal, como num sonho - algo que
não deveria estar acontecendo, pois o meu sonho era para ser diferente, e não
com pessoas ao meu redor. Eu só queria dormir e nunca mais acordar. Acordei
no hospital, com três enfermeiros em cima de mim. Queriam me entubar, e
começaram a descer com algo pela minha garganta; ali, naquele momento, acho
que me dei conta de que não iria mais dormir. Chorei e gritei, senti um tubo
forçando minha garganta abaixo. À minha frente estava minha amiga, me
olhando, e naquele momento tive medo. Acabei dormindo e acordando várias
vezes, não me lembro da ordem das pessoas que vi: minha mãe, minha amiga,
alguns familiares… Lembro-me de ter perguntado para minha amiga por que ela
tinha ido me buscar, pois foi ela quem me salvou em casa, quem chamou a
ambulância, quem recebeu minha mãe no hospital e esteve comigo, ao lado de
minha mãe, o tempo todo. Senti vergonha por estar ali naquela situação, em cima
da cama de um hospital. Chorei muito, pelo que fiz e por aquilo que eu queria
que tivesse acontecido. Sair ilesa de uma situação dessa e impossível - acabei
carregando comigo durante muito tempo a vergonha, a culpa e o medo. É difícil
ainda falar sobre isso, mesmo passados três anos (foi em agosto de 2013), ainda
choro por lembrar. Hoje consigo enxergar aquela pessoa vulnerável, perdida,
totalmente dependente, e espero que ela tenha ficado lá atrás.
Se livrar da dependência requer esforços: não foi uma tarefa fácil, nem
simples. Terapia, remédio, remorso, horas e horas de conversa, muito choro e,
aos poucos, a vida foi voltando ao normal. Aos poucos, fui retomando o controle
da vida, dos meus sentimentos e do meu amor próprio, pois reaprendi que, antes
de amar alguém tao profundamente, a ponto de desejar tirar a própria vida em
prol de um sentimento que chamamos de ‘amor’, temos que nos amar. E, quando
nos amarmos antes, jamais deixaremos que uma coisa dessas aconteça.” -
depoimento de C. S.
4. Relação fusional
Tipos de violência
A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar,
segundo o Art. 7°:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o
pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo a saúde psicológica e a
autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso de força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimonio, a gravidez, ao aborto ou a
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calunia, difamação ou injúria.
Violência verbal
A agressão física é sempre precedida pela agressão verbal: o agressor a
anuncia, vai ficando nervoso, menospreza, ofende, julga, critica, desvaloriza;
esses são alguns comportamentos aos quais a vítima precisa atentar-se desde o
início da relação, se estão presentes.
Observe o comportamento dele, como se apresenta quando é contrariado;
observe a mudança de comportamento constante; fique muito alerta à
agressividade das palavras - não ignore tais comportamentos, como se não
tivessem importância.
A finalidade dele e enfraquecê-la cada vez mais. Então, se você está vivendo
um relacionamento no qual é oprimida e não consegue falar o que sente e o que
pensa, pare e reflita sobre tal situação. Não espere até estar imersa nessa relação
violenta, porque fica muito mais difícil sair, já que o medo assola e paralisa.
O abuso verbal pode ser tão doloroso quanto a agressão física; embora este
não deixe provas, marcas no corpo, ele sem dúvida deixa marcas na alma.
O agressor dificulta a compreensão da vítima de estar vivenciando um abuso
verbal, justamente porque, em público, ele apresenta um comportamento e em
casa outro.
A vítima da violência verbal, por vezes, sente-se só, pois além de não ter
testemunhas da sua condição, os amigos do agressor talvez o considerem um
cara legal.
Quando você reconhecer de fato o que está vivendo, reaja diante da situação,
de uma forma que exija mudança. Ao se colocar, você pode até enfrentar o medo
de “perder o amor”. Mas, se não fizer isso, pode enfrentar o medo de “perder o
seu eu”.
Algumas observações importantes sobre o comportamento do agressor:
* O agressor normalmente nega o abuso verbal.
* A violência verbal, na maioria das vezes, ocorre a portas fechadas.
* A agressão física é sempre precedida pela agressão verbal.
O que infelizmente acontece, segundo relato de parceiras de agressores
verbais, é que estas se acostumam a viver dentro daquela relação de abuso e
violência verbal.
Quando a parceira consegue reconhecer e olhar para seus sentimentos, ela
começa então a reconhecer o abuso verbal.
Para que seja possível reconhecer quando se é desvalorizado, é preciso então
ter uma autoestima elevada. Quando uma pessoa está com a autoestima elevada,
ela sabe que em seu relacionamento cabe: respeito, reconhecimento, dignidade,
cordialidade, empatia e reciprocidade de sentimentos.
Observe no comportamento do agressor:
A vítima pode ficar ainda mais confusa dentro dessa relação, sem
compreender de fato se está vivendo um relacionamento com violência verbal;
as declarações de amor do agressor contrastam com suas afirmações ofensivas.
O agressor verbal precisa ter o poder autoritário sobre sua parceira, porque
uma relação de igualdade representaria para ele uma evidência de sua
inferioridade. O controle e a dominação parecem dar ao agressor um senso de
poder.
Quando a vítima busca discutir um problema, o agressor verbal se recusa a
isso, e impede qualquer possibilidade de solução; ele tem essa postura com a
finalidade de sentir-se no controle sobre a relação.
Crenças da parceira
Estão presentes nesses relacionamentos algumas crenças que podem
dificultar a parceira de compreender que a responsabilidade não é dela sobre o
comportamento violento do seu parceiro.
A parceira acreditava que, se ela conseguisse se expressar melhor, seu
companheiro não ficaria zangado com ela; nesse momento, ela assume a
responsabilidade pelo comportamento dele.
A parceira acreditava que seu companheiro era o mesmo no trabalho e com
os amigos; e, como eles não o irritavam nem tinham reclamações, era ela,
portanto, quem devia estar fazendo algo errado.
A parceira acreditava que estava sofrendo desnecessariamente, por causa de
alguma carência ou falha.
Violência psicológica
As palavras que atacam ou ofendem, isto é, a violência verbal, são uma
forma de violência psicológica.
O agressor verbal tem algumas características comuns, tais como: manter-se
distante, contradizer-se, menosprezar, acusar, julgar, desvalorizar, enfraquecer,
xingar, ameaçar, etc.
Dentre essas características, chama a atenção principalmente o ato de
enfraquecer a vítima; o agressor que enfraquece a parceira geralmente cometeu
violência verbal diversas vezes.
Como consequência desses atos, a autoestima e a autoconfiança da parceira,
que já são baixas, deixam-na muito mais vulnerável ao abuso.
A ameaça e outro comportamento muito presente e bem característico do
agressor; a ameaça manipula então a parceira, ao provocar seus piores medos:
“Faça o que eu quero ou vou embora”; “Faça o que eu quero ou vou arranjar
uma amante”; “Faça o que eu quero ou vou bater em você”.
Violência física
O primeiro tapa
“O primeiro tapa que levei foi há dois meses. Temos um ano de casados, ele
já me xingou, me ofendeu, mas nunca tinha me agredido fisicamente. Naquela
manhã, ele acordou com muita raiva de mim, ficou bastante bravo por ter sido
contrariado, me deu vários tapas no rosto, me empurrou e cai no chão.
Depois, já mais calmo, me pediu desculpas, falou que não entendeu por que
agiu daquela maneira; disse que nunca mais iria fazer aquilo novamente, chorou,
ficou bem emotivo.
No dia seguinte - você não pode acreditar -, fiquei tão feliz: recebi flores
lindas pela manhã, uma cesta de café maravilhosa, nossa! Nunca tinha me
sentido tão amada e querida.
Naquele momento eu realmente acreditei que meu marido estava
arrependido; ele merecia sim o meu perdão, ele merecia uma chance. Como ele
me amava… Aquela rosa era uma demonstração clara de todo o amor que sentia
por mim. Pude esquecer naquela hora a humilhação, a dor, as marcas do dia
anterior - o cheiro da rosa já dominava o meu ambiente e o meu coração.
Passou-se uma semana do ocorrido, e meu marido ficou muito bravo
novamente, por ter sido contrariado. Dessa vez a agressão foi ainda maior: ele
me segurou com força, e apertou demais meu pescoço, com uma força
descomunal. Comecei a ficar roxa. Depois me soltou, me jogou no chão e
começou a me chutar.
Passei um ano da minha vida sendo agredida todos os dias, sem ter coragem
de sair de casa, por medo, vergonha. Me senti pequena. Como pude me
submeter, como pude deixar que ele fizesse isso comigo?
Aprendi que poderia ter evitado todas as agressões que aconteciam dia após
dia, se tivesse tido coragem de cortar o mal pela raiz, reagindo a violência verbal
e psicológica.
Por isso é essencial que tenhamos um apoio psicológico, a fim de
compreender por que nos submetemos, e aprender também a perceber os
primeiros sinais de violência, para encontrar em si mesmas a força para sair de
uma situação abusiva.” - depoimento de uma vitima de violência verbal.
Sua história
Qual é a sua história? O que você esta vivendo?
Essa história é provavelmente a de milhares de mulheres que ainda vivem
dentro de um relacionamento violento. É uma realidade dura, há uma cobrança
pessoal e da sociedade, que questiona por que você ainda vive uma relação
assim, e o que a faz ainda permanecer em um relacionamento de sofrimento.
Por mais que tentemos compreender, só quem vivencia de fato uma relação
assim poderá dizer como e difícil sair dela. Num primeiro momento, a pessoa
que sofre a primeira agressão não acredita que aquilo realmente está
acontecendo; em tal momento, a negação está muito presente. “Como ele pôde
fazer isso?” “Imagina, ele sempre foi tão carinhoso, foi só um momento em que
perdeu a cabeça”.
A parceira tenta justificar o comportamento do parceiro, porque não
consegue acreditar ter vivenciado aquela violência; então ignora o fato, tenta
seguir, sem olhar para aquele dia que já esta marcado.
A realidade infelizmente nos mostra que a violência não fica só na primeira
vez: depois de ter aceitado o tapa, vem o pedido de desculpas, a súplica, a
alegação de que aquilo nunca mais irá acontecer, e que ele nunca havia feito
aquilo.
A mulher então resolve desculpar. Acredita muitas vezes no pedido de
perdão, nas rosas recebidas, tenta maquiar aquela situação. Depois de alguns
dias, a violência novamente se apresenta; depois do primeiro tapa, vem o
empurrão, depois o soco, e agressões constantes já começam a fazer parte da
realidade.
Nesse momento, a mulher já não está mais enganada; porem a vergonha, o
fato de ter se submetido, a cobrança e o medo, entre tantas outras questões que
se tornam presentes, fazem com que ela não consiga sair dessa realidade.
Há, sem dúvida, um misto de negação, ainda presente, com a certeza, ao
mesmo tempo, de que ele ainda poderá mudar.
Por isso é importante entender a história de cada um, nunca julgar, nunca
criticar o porquê de a pessoa ainda estar imersa nessa relação. Se quisermos
ajudar, temos que compreender e analisar, buscar formas para que a pessoa tenha
estrutura para sair dessa relação.
Algumas razões mais presentes pelas quais a pessoa não consegue sair dessa
relação são:
Medo
Muitas mulheres ainda ficam dentro de uma relação assim por medo. Muitas
vezes o parceiro já começa a fazer ameaças caso ela queira se separar; há o
temor de que ele faça algo com ela, e poderá machucar também os filhos.
O medo as paralisa e as torna reféns das ameaças, cada vez mais constantes:
não conseguem denunciar. Não veem saída a não ser permitirem ainda mais,
permanecendo nessa relação que vai matando-as aos poucos.
Culpa
A culpa é outro fator que faz com que muitas mulheres ainda continuem
nessa relação. Acreditam que o que estão vivendo de fato acontece porque elas
merecem; falharam em alguma coisa, não foram suficientemente boas. Essa
crença vem também de lares nos quais a criança aprendeu desde pequena, ao
observar a relação dos pais, como esta se configurava: a mulher sempre
atendendo ao marido, submissa, precisando satisfazer todas as vontades, não
podendo falhar, tendo que ser impecável, agradar, não contestar. A mulher acaba
por reproduzir esses modelos vivenciados durante sua infância.
Dependência financeira
Esse é outro ponto muito presente nas relações das mulheres que são
dependentes financeiramente dos seus parceiros, seja porque nunca trabalharam
ou porque deixaram de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos.
Há um desejo manifesto de sair dessa relação, porém não sabem como fazê-
lo, uma vez que dependem financeiramente dele para o seu sustento e o dos
filhos.
Vergonha
A vergonha também é outro fator que esta presente na falta de atitude para
que a mulher consiga sair dessa relação. Vergonha de enfrentar a sociedade, a
família, de encarar que vive uma relação de humilhação e violência física.
Pela vergonha presente, ela tenta ao máximo ocultar a realidade, sempre
escondendo o rosto e as marcas da violência, justificando-se quando e
questionada sobre o que está acontecendo.
Crenças culturais
Em primeiro lugar, é preciso identificar qual é o real motivo que ainda faz
com que você fique nessa relação.
Você precisa se questionar: “O que me prende aqui? Por que não consigo sair
desta relação?”
Depois de ter identificado o que está acontecendo de fato, o que faz com que
você permaneça há anos nesse relacionamento, vamos para o segundo ponto, que
é muito importante; nessa hora, você precisa analisar o que precisa fazer para
sair dele.
Por exemplo, se o que lhe prende nessa relação é o medo, identificar nessa
hora o quanto esse medo é real; isto é, se existe uma ameaça real e, caso a
resposta seja positiva, buscar o que é possível fazer nesse caso para que você
possa denunciar e estar protegida.
Podemos citar aqui também mais alguns pontos a serem observados para que
você consiga sair dessa relação.
Quando pensamos na questão da dependência financeira, há nesse caso uma
necessidade de uma estruturação inicial; a mudança vai demandar
provavelmente um pouco mais de tempo. Porém, a partir do momento em que
você começar a fazer algo, já se sentirá melhor, pois não terá a sensação de que
estagnou, de que aceitou essa realidade de alguma forma e se entregou.
Então você terá que analisar qual será o primeiro passo; se tiver que voltar a
estudar, volte; se tiver condições já de buscar um emprego, comece a buscá-lo e
lute pela sua independência - só assim conseguirá sair dessa relação.
Quando a questão é a vergonha, vamos pensar juntos: é compreensível, não é
fácil encarar uma sociedade que cobra, além da família e dos amigos; porém, a
vergonha não pode ser maior do que o seu direito de ter uma vida digna. Você
terá que repensar sobre esse ponto: “vou me preservar de expor, por vergonha
diante de uma sociedade, mas terei que pagar um preço muito alto todos os dias
com a violência presente”.
Por que vergonha?
Será que, de fato, é você quem teria que sentir vergonha? Se alguém nessa
relação deveria sentir de fato vergonha, é o seu parceiro, que a violentou, que a
humilhou e que a tratou de uma forma pela qual jamais deveria ser tratada.
Você não tem que ter vergonha; se ficou ainda na relação, e porque já estava
fragilizada demais, não tinha força, perdeu-se diante de tudo o que estava lhe
acontecendo.
A culpa, também outro ponto que citamos, está muito presente ainda nos
lares. Aqui se torna importante desconstruir crenças envolvendo nossas relações
primárias: o que você ouviu? O que foi passado a você como modelo ideal? Qual
o papel da mulher?
Enfim, é a partir dessa desconstrução de crenças que você poderá entender
melhor seu comportamento e dissociar-se dele, entendendo que a mulher não
tem que satisfazer o homem em tudo, nem se submeter; que não deve ficar numa
relação de violência, e que a culpa de seus atos não pode ser justificada como
algo faltante na mulher.
Somente por meio da compreensão da razão pela qual permanecemos em
uma relação assim e que se torna possível sair dela.
O trabalho terapêutico também ajudará muito, já que a pessoa terá o apoio de
um profissional para encarar sua relação de frente, compreendendo não só a
situação, mas o seu funcionamento diante dela.
6. O homicida passional
Resgatando a autoestima
Quando você se lembra de que é digno de ser amado, consegue evoluir na
direção do amor. Por outro lado, quando acredita que não merece ser amado,
para de crescer.
Carl R. Rogers, fundador da psicologia humanista, trata essa questão da
autoestima como a raiz dos problemas de muitas pessoas que se desprezam, pois
estes se consideram seres sem valor e, portanto, indignos de serem amados. Na
escola humanista, o conceito de autoestima resume-se no seguinte axioma:
“Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato de ser, é digno do respeito
incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se
lhe estime”.
Como está sua autoestima?
Uma paciente pode relatar em sessão:
“Hoje, já não me vejo mais; antes, eu gostava muito de como era, tinha
amor próprio, gostava do meu jeito de ser, colocava minhas necessidades na
relação, respeitava o que eu sentia, não tinha medo de ser eu”.
Em que momento você perdeu?
É fundamental que se possa identificar em que momento você perdeu sua
autoestima, o que aconteceu ao longo da sua vida. É comum ouvir dentro do
consultório histórias de pacientes que sentem sua autoestima abalada depois de
terem sofrido uma traição, humilhação, agressão física, enfim, algumas atitudes
que vivenciaram dentro do relacionamento afetivo e que, por alguma razão,
ainda permaneceram na relação.
Uma paciente pode relatar em sessão: “Estou vivendo há anos um casamento
em que sou humilhada todos os dias; ele tem vergonha de mim, sempre está me
criticando, seja dentro de casa ou na frente dos amigos. Fala que sou feia, que
tem nojo de mim,que sou incapaz de fazer qualquer coisa, que jamais
conseguirei ser alguém na vida, que está comigo por dó…”.
Nesse momento podemos nos questionar: o que acontece com essa pessoa, a
ponto de submeter-se a esses tipos de maus tratos? O que a faz permanecer nessa
relação?
Construção da autoestima
A construção da nossa autoestima está presente desde cedo: nos nossos
primeiros anos de vida, na soma das experiências positivas vivenciadas na
infância, sentimentos de realização, elogios por parte dos cuidadores, incentivo,
valorização do ser.
Os pais sem dúvida desempenham um papel importante na construção da
autoestima dos filhos, permitindo que estes sintam-se mais seguros, amados,
valorizados, capacitados. As críticas severas, por outro lado, podem deixar
sequelas e traumas profundos - afinal, as primeiras noções de autoestima das
crianças são os olhares que os pais tem sobre elas.
A nossa autoestima vai sendo construída desde o início da primeira infância.
Nesse primeiro momento, é o olhar do outro que diz quem somos nós. Então,
quando desde pequenos escutamos críticas negativas, tais falas deixam marcas
que permanecem ao longo da vida - “Você não é capaz”; “Você é feio”; “Burro”;
“Não presta para nada”. Introjetadas essas criticas desde quando o indivíduo e
criança, pela falta de estrutura, por ser ele pequeno, muitas vezes elas
permanecem na memória até a vida adulta; quando a pessoa então cresce e
começa a se olhar, nesse momento ela está insegura, em razão dessas marcas
negativas das quais o adulto não consegue se separar: aquilo que outro disse não
é aquilo que ele de fato é.
A raiz está ali: como as pessoas me veem? A gente se vê a partir do olhar do
outro, e se esse outro só repara nos nossos defeitos e critica os nossos
comportamentos, mas não reconhece aquilo que e correto, que e elogiável, a
criança vai crescendo com a sensação de que ela não agrada, não é bacana, não
será amada por si mesma; ela precisará sempre fazer alguma coisa especial para
que o outro a ame. No momento em que a pessoa percebe a necessidade de fazer
algo além, ela começa a viver com a função de agradar não a si mesma, mas
primeiramente ao outro.
Quando o adulto cresce com essa construção de derrotas e fracassos, ele
começa por dizer: “Eu não sou capaz, não sou bonito ou interessante, não tenho
valor, ninguém vai gostar de mim, não mereço ser amado…”.
Para que a autoestima possa então ser resgatada, é preciso desconstruir
marcas negativas que a afetaram, que ficaram não somente nas relações
primarias com os cuidadores, mas na escola, nos amigos, enfim, em outros
ambientes também.
Após uma desconstrução e compreensão da sua vida, você poderá resgatar
sua autoestima, compreendendo que não é porque foi criticado, rejeitado ou
desvalorizado durante sua infância que não merece ser amado e respeitado; que,
apesar das situações desfavoráveis vivenciadas, você poderá, sim, viver uma
relação de respeito, carinho, amor e reciprocidade.
Você começa então a resgatar-se, a valorizar suas potencialidades; aprende a
amar-se primeiro, passa a apreciar suas qualidades e aceitar os seus defeitos; não
aceita aqueles que não lhe valorizam, e começa a colocar limites em suas
relações: percebe que o outro só faz aquilo que você permite, e quando você se
enxerga digno de ser amado, não aceitará ter uma relação com alguém que não
lhe ame.
8. Frases
Quando a autoestima está enfraquecida, você autoriza que o outro lhe trate
de uma maneira violenta; não consegue se respeitar aceitando aquilo que é dito,
não tem força para se posicionar, acredita ser merecedora daquele tratamento
porque realmente passa a se olhar da maneira como o outro a olha - “Eu não sou
ninguém”; “Eu realmente sou feia”; “Eu acho que ele tem razão, olha para mim,
eu mereço ouvir tudo isso…”.
Para definir limites, você precisa conhecer os seus próprios. Isso significa
que você, e apenas você, precisa decidir o que aceitará em seu relacionamento.
Quando você está em dia com a sua autoestima, é confiante em si mesma, está
pronta para estabelecer limites. Você conseguirá se posicionar e dizer: “Não
aceitarei…”; “Não aceitarei comentários ou ‘brincadeiras’ que me menosprezem,
me humilhem ou me ofendam”.
Sua reação segura enviará a seu companheiro uma mensagem clara de que
você está falando sério, e de que não vai aceitar nenhum abuso. Você precisará
responder assim que ouvir o tom da voz dele.
Devemos chamar a atenção principalmente se você estiver vivendo um
relacionamento novo e vir sinais preocupantes de violência verbal: aja com
sabedoria e termine a relação.
Quando você se permite pensar sobre sua historia de vida com relação ao
amor próprio, poderá perceber então que a raiz de quase todos os nossos
problemas está na falta de amor próprio.
Observe, dentro do seu relacionamento, como está sua autoestima,
principalmente se você está vivenciando um relacionamento de sofrimento. Você
acredita que sua fonte de amor está no lado de fora?
Ao descobrir que a sua fonte de amor não está do lado de fora, você para de
colocar as pessoas em pedestais ou transformá-las em ídolos. Você as trata como
iguais.
Você ama incondicionalmente, sem fazer nenhuma cobrança emocional.
Você faz boas escolhas sobre a quem dar seu número de telefone, com quem
namorar, com quem fazer amizade e quando é hora de terminar um
relacionamento.
Sua capacidade de amar a si mesmo também influencia sua capacidade de ser
amado pelos outros. Quando se sente digno de receber amor, você não tem
necessidade de transmitir uma imagem agradável para conquistar o afeto alheio.
Amor próprio não é o que você faz por si mesmo; é a essência de quem você
é.
Dentro do relacionamento, é comum o desejo de ser aceito pelo parceiro (a),
que goste de como você é, que respeite, ame e valorize; há um desejo constante e
manifesto dessa aceitação por parte do parceiro. Agora lhe perguntamos: você se
aceita?
Você deseja que o outro faca isso por você, mas é algo que nem você tem
feito por si mesmo?
Aceitar a si mesmo é entrar em contato com seu interior, e enxergar o que é
verdadeiro sobre você, não apenas críticas, conceitos e crenças.
Já se permitiu, alguma vez, olhar para si sem críticas? Sua autocrítica cria
uma imagem de você mesmo que afirma: “Eu não sou digno de ser amado”.
Quando você para de julgar, olha para si mesmo com olhos de amor e percebe
como é totalmente digno de ser amado.
Observe sempre que você não se sentir digno de ser amado, se não está se
julgando.
“Não sou o suficiente”. Já ouviu essa frase ou já a pronunciou alguma vez?
Quando você acredita que não merece ser amado, perde a noção de quem você é.
Quem disse que você não é? De onde vem essa fala? Se faz necessário
observar o seu comportamento: por que você não é suficiente? Ao olhar-se no
espelho, vê uma pessoa que não é bonita, atraente, bem-sucedida ou inteligente.
A percepção é substituída pela crítica.
E esse olhar que você tem sobre si de fato é seu? Será que, ao longo da sua
vida, não houve situações em que você pode ouvir isso nas suas relações, seja no
ambiente familiar, escolar, profissional, etc.?
Como as pessoas se relacionavam com você? O que ouviu? Como foi crescer
dentro desses ambientes?
Para que seja possível diferenciar-se do olhar do outro que nos julga e nos
define - já que, muitas vezes, nos apropriamos daquilo que foi dito e acreditamos
ser verdadeiro -, temos que, primeiramente, separar o que pensamos sobre nos
mesmos do que acreditamos que os outros disseram sobre nós.
Será que você não tem se visto a partir do olhar do outro?
Ainda que você não tenha tido pais perfeitos, mesmo que não tenha sido
criado com o amor incondicional e que sua vida seja cheia de sofrimento, o fato
de alguém amar ou não amá-lo(a) não determina se você merece ou não ser
amado.
Sua infância não é o ultimo capítulo em sua história. Seu primeiro amor não
é seu único amor. Sua maior decepção amorosa não resume todo o romance de
sua vida.
Um passado infeliz, por mais terrível que seja, não justifica que você se sinta
indigno de amor. Muito menos que pare de se amar. Na realidade, é um motivo
para se amar ainda mais.
Quando você transforma uma pessoa numa fonte de amor - seja ela um
amigo, um parente, um namorado -, ela também se torna uma fonte de medo, de
infelicidade e de sofrimento.
No amor ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é superior ou inferior,
ninguém é mais digno de ser amado. Se você não se amar, sempre ficará com a
sensação de que ninguém o ama o suficiente.
Colocando a questão de outra forma: até que você aprenda a se amar, não
conseguira ver o quanto as pessoas realmente gostam de você.
Nessa construção da autoestima é fundamental olhar principalmente para
aquilo que gosta em você; supervalorize o que goste, aceite aquilo que não gosta
e que não é possível mudar, e mude aquilo que for possível. Isso aumentará
ainda mais sua autoestima, seja por uma mudança no visual, por sua
independência financeira, por aprender algo novo… Enfim, olhe para aquilo que
você muitas vezes admira no outro e busque realizá-lo em você. Enquanto você
perde tempo admirando as conquistas, o comportamento e a beleza, entre outras
coisas que admira no outro, vá buscar sua própria realização.
Bibliografia