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DA

DEPENDÊNCIA AFETIVA AO AMOR PRÓPRIO - UM NOVO


OLHAR
Copyright © 2017 by Josiane Selma de Souza e Mariza Afonso.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Afonso, Mariza

Da dependência afetiva ao amor próprio : um novo olhar

Mariza Afonso & Josiane Souza. — 1. ed. —

Bibliografia ISBN: 978-85-411-1262-8

1. Amor próprio 2. Autoajuda 3. Autoconhecimento 4. Autoestima 5. Dependência (Psicologia) 6. Relações


interpessoais 7. Relacionamentos 8. Vítimas de violência doméstica I. Souza, Josiane. II. Titulo. 7-01504
CDD-158.1
Índices para catalogo sistemático:
1. Autoestima : Psicologia aplicada 158.1
Agradecimento

Agradecemos aos nossos familiares e amigos pelo apoio, pela confiança e


pela enorme contribuição.
A cada um que pessoalmente ou virtualmente agregou com sua historia e
confiou em nosso trabalho.
Àqueles que nos acompanham nesta trajetória diariamente, lendo, ouvindo e
interagindo e, portanto, tornando real este livro.
Existe uma força, um poder e uma luz dentro de cada um de nós. Por
acreditar tão firmemente que eles podem mover e transformar nossa existência,
então aumentam nossa gratidão e amor por cada mudança que ocorre diante dos
nossos olhos e do nosso coração.
Josiane e Mariza
Sumário

Introdução
Parte 1
1. O que é dependência afetiva?
2. Tipos de dependência afetiva
3. Prevenindo a dependência afetiva
4. Questionário - dependência afetiva
5. Como vencer a dependência afetiva
6. Como construir relacionamentos saudáveis
Parte 2
1. Ciúme
2. Fim do relacionamento
3. Suicídio
4. Relação fusional
5. Violência doméstica
6. O homicida passional
7. Autoestima
8. Frases
Conclusão
Bibliografia
Introdução

Você sabe como identificar se está vivendo uma relação de dependência?


Você cultiva seu amor próprio e cuida da sua autoestima diariamente?
Ah, como é incrível imaginar a vida com um amor ao nosso lado, e como
voam nossos pensamentos em direção a busca pela plenitude, prazer, alegria e
pela felicidade tão almejada.
Como seria nossa existência se todos os desafios fossem vencidos, o sucesso
estivesse sempre presente e as relações afetivas e interpessoais fossem sempre
construtivas?
Criar uma vida voltada para resultados satisfatórios, com relacionamentos
sadios e de qualidade, requer investimento diário, olhar e cuidado consigo,
buscando autoconhecimento, identificando e conhecendo as emoções, e se
fortalecendo para viver uma vida por inteiro e não pela metade.
Criar uma autoestima elevada é o pilar básico para aprendermos a identificar
como queremos e com quem queremos compartilhar nossa historia de vida.
Quantas vezes nos perguntamos: esse relacionamento vai dar certo? Essa é a
vida que quero viver? Estou no caminho certo?
Então nós te convidamos a refletir conosco e quebrar alguns padrões e
crenças aprendidos ao longo da nossa historia, educação e cultura.
O que é certo? Certo pra quem? Quem definiu o certo?
Somente através do autoconhecimento, do aprimoramento constante e das
experiências no decorrer da vida nós encontraremos as respostas, que estão
dentro de nós.
Essa vida me agrada? Gosto de ser e de agir dessa forma? Esse
relacionamento me satisfaz? Estou sendo eu mesma e crescendo dentro desse
relacionamento?
Você abre mão das coisas que gosta e permite que outras pessoas tomem
decisões que afetam a sua vida?
Vale a pena sufocar seus desejos e anseios ou se anular para ter alguém ao
seu lado? E, em nome do amor, aceitar agressões verbais e até mesmo físicas,
passando por cima do amor próprio, engolindo a dor? Então nós te perguntamos:
até quando você vai se submeter?
“Ame, respeite, honre, ou seja grato a sua família, mas escolha seus
modelos. Escolha com cuidado a quem você concede o poder para determinar
como você irá se sentir”, Anthony Robbins.
Parte 1
1. O que é dependência afetiva?

A dependência afetiva é um vicio. A partir do momento em que uma pessoa


não consegue imaginar sua vida e seus dias sem o outro, isso se torna uma
prisão. Seus pensamentos são exclusivamente para o outro, bem como suas
ações somente tem significado se o outro for o alvo; é impossível imaginar sua
vida sem a outra pessoa.
É abrir mão da sua liberdade de ir e vir, por sua livre e espontânea vontade,
criando um círculo vicioso, e sua vida passa a não ter sentido sem a presença da
outra pessoa.
O dependente afetivo vai aos poucos perdendo a identidade, o brilho de ser e
o gosto por si mesmo; é como ir apagando gradualmente o seu querer, e passar a
viver a vida do outro. Isso se dá a partir do momento em que alguém começa a
trilhar o caminho, os gostos e até mesmo as atitudes e palavras do outro,
perdendo seu foco e se distanciando da sua essência.
Aos poucos, o dependente afetivo vai deixando de fazer as coisas de que
gosta, como, por exemplo, ir ao cinema, sair com amigos, ou sair sem a
companhia da outra pessoa, esquecendo suas preferências. Começa a se afastar e
a se isolar da vida social e passa a viver uma vida colada, dependendo dos gostos
do parceiro.
Suas prioridades são esquecidas, e passa a fazer o que o outro quer. Então
suas necessidades e suas perspectivas são anuladas e somente existe o ser
amado.
Suas opiniões ficam enfraquecidas, sente-se inseguro e com medo de se
manifestar, passando a concordar com tudo o que o outro quer, pois tem medo de
perder a pessoa que está ao seu lado. Sente insegurança constantemente, e não se
dá conta de que a relação já enfraqueceu; anula-se na tentativa de manter laços
que já não existem mais.
E quando as expressões mais frequentemente usadas são:
“Minha vida não tem sentido sem a sua presença”;
“Só me sinto feliz quando você está comigo”;
“Nada tem graça quando você não está perto de mim”.
O dependente afetivo vai deixando suas necessidades em segundo plano, e
então, é imprescindível lembrar que a saúde mental e emocional fica
comprometida, e o dependente não se dá conta disso: está muito ligado nas
necessidades do outro e não percebe que a qualidade do relacionamento já está
enfraquecida.
Quando a dependência afetiva se apresenta em forma de amor romântico, o
dependente começa a criar uma relação ilusória, fantasiosa, e não consegue
enxergar a realidade tão dolorida, afastando-se cada vez mais do seu eu e
idealizando seu companheiro(a). O apego então foge do racional e é
preocupante, já que o dependente afetivo anula sua personalidade e vive uma
relação de submissão.
Muitas vezes a pessoa não consegue identificar ou ter forças para sair de uma
relação de dependência. Verificamos que essa dificuldade está intimamente
ligada a uma tentativa de resolver uma perda afetiva ou um abandono marcante
na historia dessa pessoa. Ao não aceitar ou não conseguir lidar com o abandono,
vai reviver e abrir essa ferida ainda sem cicatrização.
Existe uma tentativa insistente em manter uma relação patológica, recebendo
pouco ou nada de atenção, afeto e respeito, mas o dependente afetivo acredita na
mudança desse cenário. Deseja tanto esse amor que cria uma cegueira e não quer
ver a realidade; aceita migalhas e maus tratos, que o levam a viver uma vida
isolada, triste e angustiante.
O dependente afetivo acredita que ama. Humilha-se, submete-se ao que o
outro quer, e vai se afundando cada vez mais. Em nome desse amor, o respeito, a
valorização e a admiração ficam ausentes na vida do casal.
Ao insistir quase o tempo todo para estar ao lado da pessoa amada, deixa sua
vida e seu desenvolvimento profissional e pessoal ser afetado, e então se
distancia cada vez mais das suas possibilidades de buscar uma forma de se
fortalecer e sair da dependência.
O amor e o apego não devem ser excessivos: é necessário ter o tempo para
cada um crescer, aprimorar e se conhecer individualmente. Só assim o
relacionamento será forte o suficiente para haver respeito e admiração. A
independência não deve endurecer ou afastar, mas criar a vontade e o desejo de
estar ao lado da pessoa amada.
“Depender da pessoa que se ama é uma maneira de se enterrar em vida, um
ato de automutilação psicológica em que o amor próprio, o autorrespeito e a
nossa essência são oferecidos e presenteados irracionalmente. Quando a
dependência está presente, entregar-se, mais do que um ato de carinho
desinteressado e generoso, é uma forma de capitulação, uma rendição
conduzida pelo medo com a finalidade de preservar as coisas boas que a relação
oferece”
- Walter Riso.
2. Tipos de dependência afetiva

A dependência afetiva se manifesta de várias formas, em diferentes graus,


sendo que a raiz da dependência está, na maioria das vezes, ligada à historia da
pessoa ao longo de sua vida, como o lar onde foi criada, o modelo familiar, a
educação que recebeu e as crenças e valores que estiveram e estão presentes na
construção de sua personalidade, bem como as cicatrizes das experiencias
vividas, o ambiente em que cresceu e todas as representações internas do mundo
que foi construído através dos anos.
Pesam, principalmente, as faltas, as dores e as expectativas frustradas diante
da falta de diálogo e carinho. É a não identificação dos sentimentos e as emoções
doloridas ao longo da jornada da vida, que foram sufocados.
O medo de ser abandonado

A pessoa que mantêm um relacionamento de dependência afetiva, cuja


necessidade é suprir o medo de ser abandonada, vive uma relação infantil, na
qual não encontra ferramentas e recursos para identificar que o abandono
aconteceu bem antes, de maneira real, ou situações nas quais a pessoa identificou
o sentimento de abandono.
Dessa forma, o individuo trouxe para o relacionamento afetivo essa
experiência dolorida e tenta reparar isso desesperadamente. Pede a presença da
pessoa amada cada vez mais, na tentativa de aplacar a dor por escapar pelos
dedos aquela(e) que tanto deseja.

Necessidade de ser aceito(a):


necessidade de aprovação
A preocupação com a opinião dos outros, e a necessidade de ser aceito aliada
ao medo de perder, fazem com que o dependente afetivo experimente a culpa e
esteja sempre tentando reparar danos. Acredita que está errado em sua posição e
não consegue defender suas ideias. Então, na tentativa de preservar a relação,
isola-se e se submete as necessidades do outro.
Não prioriza seus desejos, gostos e anseios, e ignora seus sentimentos de dor
e magoa na tentativa de agradar ao outro, acreditando que, ao atender todos os
desejos da pessoa amada, terá como recompensa o amor e a valorização que
tanto almeja.

Necessidade de ser amado(a)


Sua necessidade e desejo de amor são tão grandes que um simples olhar ou
agrado já são suficientes para o dependente afetivo apostar na “relação perfeita”:
o outro é tudo na minha vida. Acaba idealizando a pessoa amada, fazendo tudo
para agradar e, dessa forma, esquece-se de suas prioridades. Ao criar essa
fantasia, que vem desde muito cedo, aprendeu que o amor resolve tudo, cura
tudo; em nome desse amor, tudo deve ser feito, inclusive apagar seus anseios na
tentativa de receber amor.
A crença no amor romântico, em sofrer por amor e sacrificar-se em nome
dele dá a ideia de que tudo é válido; assim, o dependente afetivo cria uma pessoa
que não existe, acreditando que, um dia, viverá a vida de felicidade plena e
absoluta ao lado da pessoa amada.

Necessidade de proteção
O dependente afetivo acredita que o parceiro escolhido vai oferecer a
proteção necessária e ajudar a resolver todos os problemas e situações do dia a
dia. Acredita que, sozinho, não conseguira. Então, coloca todas as suas
expectativas no outro, desejando ser protegido, mimado e receber todos os
cuidados e atenção. Sente-se tão frágil que acredita não poder resolver nada por
si. Enxerga no parceiro a força, a certeza e a sabedoria em relação ao que está
certo ou errado, a decisão que não consegue tomar, a mudança que não consegue
fazer. Então sobrecarrega a pessoa amada, criando uma enorme dependência nas
mínimas coisas.
Medo da rejeição
O dependente afetivo repete os mesmos comportamentos de quando era
criança, na tentativa de ser aceito e sentir-se importante. Tentando aliviar a
sensação e o sentimento de rejeição, tenta criar vínculos, mas não sabe como
fazer. A dor da rejeição é tão intensa que necessita da presença da pessoa amada,
e precisa de provas de amor o tempo todo. Busca a aproximação como uma
condição de sobrevivência, e se perde na tentativa de prender o parceiro. Cobra,
manipula e controla, tentando suprir o vazio que o sentimento de rejeição
deixou. Não suporta a ideia de não ser amado, quer ser o centro da vida do seu
amor e se magoa profundamente; desdobra-se e faz tudo para agradar. Por não
suportar ouvir “não”, e também por acreditar que algo está errado ou que não é
suficientemente bom para receber amor, fica com a autoestima profundamente
enfraquecida.

Necessidade de segurança e estabilidade


O dependente afetivo mostra uma preocupação constante com o futuro;
sente-se inseguro, e o tempo todo seus sentimentos ficam confusos. Quando não
se sente útil, quer fazer tudo para que o relacionamento se fortaleça, e não
imagina sua vida sem o outro. Precisa da aprovação do parceiro para qualquer
decisão; assume a responsabilidade para resolver tudo e agradar, e passa por
cima de suas dores para manter a relação.
A segurança de ter alguém ao seu lado é tão importante que não enxerga
quem é e como age seu parceiro. Aceita uma vida sem carinho, com distância
entre o casal e falta de diálogo; porém, sofre e engole sua dor em nome de uma
segurança que não existe. Ao focar somente na segurança e na estabilidade,
deixa de perceber os outros pilares que sustentam a relação, tais como diálogo,
afeto, crescimento pessoal e profissional, confiança e parceria.

Medo da solidão
A angústia e o pavor de ficar só fazem com que o dependente afetivo
fortaleça a dependência através de justificativas de que e impossível viver sem a
pessoa amada, acreditando que o relacionamento é tudo, e eterno, e nada poderá
mudar. Vai levando a relação, mesmo que já desgastada, e não consegue
enxergar a vida sem o outro.
Desvaloriza-se, decepciona-se e se abate, chegando ao desespero, mas o
medo da solidão é tão grande que prefere engolir a dor e permanecer ao lado de
alguém com quem já não mais possuí vínculos afetivos.
A solidão é uma grande pedra no caminho dessas pessoas; acreditam que não
possam removê-las, chegam a se humilhar para manter o relacionamento, creem
que não conseguem ficar longe da pessoa amada e que, se isso acontecer, trará
uma dor insuportável. O dependente afetivo não consegue ficar sozinho consigo
mesmo, pensa que a vida só pode ser vivida ao lado de alguém. Não consegue
sair sozinho: para ir a qualquer lugar, precisa do outro. Ao chegar em casa e se
perceber sozinho, sente um enorme vazio e se desespera.
Necessidade de reconhecimento
O dependente afetivo, com a necessidade de ser reconhecido, não acredita na
sua capacidade de fazer algo bem feito, de fazer escolhas acertadas e, por ter
uma autoestima enfraquecida, precisa ouvir do parceiro que é bom o suficiente, e
quase sempre deixa de acreditar na sua capacidade de atuar.
Necessita de reforçamento diário e, devido a sua fragilidade em tomar a
iniciativa nas questões do dia a dia, precisa sempre do outro.
Sua falta de clareza quanto as suas habilidades, características e qualidades
deixam essa pessoa muito vulnerável e enfraquecida, por não conseguir fazer
escolhas, e, por não acreditar em sua visão da vida e de tudo o que envolve o
relacionamento amoroso, precisa sempre das palavras positivas e de aprovação
do seu parceiro, da valorização.
Quando a pessoa se sente insignificante, isso pode gerar um sentimento de
raiva, de vitimização e até mesmo a depressão. É necessário fortalecer sua
autoestima, identificar suas habilidades e pontos fortes e acreditar em si mesmo.
“Cláudia cresceu em uma família sem o pai, e não conhecia nada sobre ser
amada e ser tratada com gentileza. Foi criada pela avó, uma pessoa amarga, e
então conheceu o que era ser rejeitada e criticada. Lutou para receber o amor de
uma mãe e viveu a frustração de não conseguir conhecer o afeto e o aconchego.
Seu primeiro casamento foi uma tentativa de receber amor e afeto: buscou um
homem que sabia receber, mas não doava. Assim, sofreu com a distância e a
frieza, e não sentia que tinha importância na vida dele. Esse perfil a atraia,
porque era a oportunidade de transformar alguém frio e distante em uma pessoa
amável. A necessidade dela de mudá-lo era uma forma de viver a relação de
busca pelo amor que não teve na infância”.
“Sílvia sofreu muito com a separação dos pais: a mãe não aceitou a
separação e afastou a filha do convívio com o pai. Ele também não fez questão
de se aproximar. Embora se sentisse sufocada, Sílvia fez de tudo para ver a mãe
feliz, pois se sentia responsável pela felicidade dela. Certo dia, conheceu um
homem muito frágil e carente, e pensou que ele era muito sozinho; então
acreditou que, com o seu amor e atenção, poderia transformar a vida dele.
Tentou, por anos e anos, fazê-lo feliz; queria cuidar dele, fazendo refeições
maravilhosas e cuidando da casa, esperando agradá-lo. Mas ele se afastava, saia
e voltava tarde. Ela chorava e pensava que era responsável pela ausência dele.
Tentou fazer o melhor todos os dias, mas ele saia para beber e voltava agressivo.
Depois de anos de tentativas frustradas, ela entendeu que precisa valorizar a si
mesma e que, do vício dele, não cabia a ela a solução”.
“Elisa conheceu seu marido em uma festa. Eles beberam, dançaram e
curtiram muito. Foi uma noite muito especial pra ela, por conhecer alguém que a
tratou com carinho, atenção e a fez sentir-se especial. Aos poucos, foram se
aproximando, e logo não conseguiam ficar longe um do outro. Ele falava pouco
sobre a família, tinha poucos amigos e não conseguia definir sua vida
profissional. Ela acreditou que conseguiria mudá-lo e se apaixonou por aquele
homem cheio de qualidades que ela criou - mas ele não as possuía. Tentou por
oito anos, até identificar que buscava um modelo ideal, longe do que conhecera
em sua educação. Elisa cresceu em um lar no qual os pais não conversavam,
nada era claro; ela e seus irmãos não podiam falar, sua mãe era submissa, e seu
pai autoritário. Ela se sentia sozinha, insegura e cheia de medos, precisava de
reconhecimento e aprovação o tempo todo”.
3. Prevenindo a dependência afetiva

O processo de autoconhecimento, aliado a um constante crescimento, torna o


individuo mais forte e, dessa forma, menos propenso a iniciar uma relação de
dependência afetiva, ou com mais facilidade para identificar se já está vivendo
uma. Manter-se sempre atento às suas necessidades diárias, bem como novas
criações, facilita uma nova postura que se faz necessária diante da vida e dos
relacionamentos afetivos.
Caminhar rumo a uma estrada, explorando-a, quando o novo se apresenta,
pode trazer medo e insegurança. Nessa hora, se faz necessário arriscar e se
permitir colocar os pês no chão, iniciando um novo caminho. Vencer o medo do
desconhecido requer desafiar a inquietude, diminuir a resistência, quebrar as
regras e normas, tao cristalizadas até então, e criar novas possibilidades.
A criação de novos projetos gera motivação e uma enorme forca interna, até
então desconhecidas, o que propicia um impulso para diminuir a rejeição e o
medo de ousar, gerando criatividade para o novo e a oportunidade de apreciar
novos lugares, sabores e experiências.
O medo da rejeição vai estar presente, e será preciso um enorme cuidado
para não interromper esse momento de criação: conhecer novas pessoas, novos
olhares, identificar novas habilidades, resgatar sonhos adormecidos e criar novos
planos e metas, ou seja, movimentar aqueles comportamentos que já estavam
enraizados.
A partir do olhar atento que será necessário nessa etapa, terá início um
movimento de autonomia, construído aos poucos, olhando para dentro de si e
buscando as reais necessidades e desejos, permitindo-se ficar só para ouvir
melhor sua voz interior.
Esse processo de resgate e equilíbrio é um grande passo rumo ao
autoconhecimento, pois permite a busca e a reconstrução de cada detalhe,
avaliando cuidadosamente os caminhos a serem trilhados, sendo que, durante a
jornada, haverá acertos e erros, e esses devem ser acolhidos e avaliados.
Esse tempo para parar, olhar para si mesmo e fazer as pazes com as suas
reais necessidades e verdades possibilita gostar de passar algum tempo em
companhia de si mesmo, apreciar e sentir-se feliz cuidando de si, sem a
necessidade de aprovação de alguém ou dos modelos criados pelas instituições.
Ter o prazer e a oportunidade de escrever sua própria historia com as suas
verdades e necessidades facilitará o desapego.
A busca pela autorrealização e um caminho a ser percorrido diariamente, e
implica em buscar seus talentos e habilidades, experimentando coisas novas até
descobrir quais são as mais prazerosas.
Essa busca contínua trará mais reflexão, mais experimentos e, assim, abrirá
caminhos para que o amor se expresse com tranquilidade, com uma paz na qual
não existe dependência.
Todas as pessoas possuem habilidades e talentos naturais, que, na maior parte
das vezes, ficam guardados, sem espaço para se manifestarem. A falta do olhar
atento e da disposição para lapidar esses talentos - situação essa criada muitas
vezes pela dependência, que se desvia ou se mascara em forma de necessidade
de cuidar do outro - resulta em uma grande frustração. A pessoa não vive de
acordo com a forma que gostaria, e passa uma grande parte da vida tentando
agradar ao outro, fazendo coisas de que não gosta.
Quando a energia e direcionada para a realização de uma vida mais plena, na
qual existem projetos, então a busca dá lugar a motivação, e o crescimento é
prioridade; a dependência afetiva não entra ou perde força, e nasce uma forma de
amar sem amarras.
Pessoas que buscam um sentido para a vida conseguem construir uma rotina
mais leve, com mais significado. Sentem-se mais seguras e conseguem se
relacionar sem precisar da aprovação do outro, sem se submeterem a uma vida
que não desejam. Ficam mais fortes frente ao sofrimento, e conseguem lidar
melhor com as frustrações.
O constante aprimoramento e a busca por aquilo que nos oferece prazer e
crescimento propiciam viver uma relação saudável, criativa e respeitosa.
A partir do respeito pela individualidade de cada um, em que as habilidades e
talentos são admirados e levam ao crescimento do parceiro, e possível substituir
a dependência pela parceria, e ambos encontram espaço e tempo para olhar para
si e também para o outro.
O desenvolvimento individual, pautado na visão real das necessidades e das
experiencias necessárias para fortalecer as escolhas, contribuirá muito para uma
relação afetiva sem dependência.
Não se resignar a viver uma relação infeliz parte da descoberta de seus
talentos, da busca interior, da verdadeira vontade de viver e não apenas
sobreviver, da reflexão diária sobre as reais necessidades, da busca pelo novo, do
constante aprimoramento e do olhar atento sobre a real situação que se esta
vivendo, não mascarando os sinais que mostram a relação tal qual ela e, sem
auto enganos.
A qualidade de nossas vidas, na maioria das vezes, está diretamente ligada as
expectativas das pessoas com as quais convivemos no dia a dia, das que nos
educaram, e da cultura e da sociedade em que estamos inseridos. Tal cenário nos
leva a viver uma vida que não queremos, para nos sentirmos aceitos e inseridos
nos grupos dos quais fazemos parte. Dessa forma, comprometemos nossos
desejos, vontades e, principalmente, nosso crescimento e realização em todos os
âmbitos da nossa existência.
4. Questionário - Dependência afetiva

1. Você tem medo de ser abandonada(o) por seu (sua) parceiro(a)?


2. Você se sente amada(o) por seu(sua) parceiro(a)?
3. Você acompanha seu parceiro(a) em tudo o que ele(a) quer fazer?
4. Você sente necessidade excessiva da aprovação do(a) seu(sua) parceiro(a)?
5. Você se doa excessivamente a seu(sua) parceiro(a)?
6. Você sente um vazio interior quando seu(sua) parceiro(a) não esta por
perto?
7. Você mantém e defende sua opinião, ou muda para agradar seu(sua)
parceiro(a)?
8. Você tem medo de contrariar as expectativas da pessoa amada?
9. Você consegue dizer “não”?
10. Você acredita cegamente que seu (sua) parceiro(a) vai tratá-lo(a) melhor
e com mais amor algum dia?
11. Você se considera viciado(a) em seu(sua) parceiro(a)?
12. Você “idealiza” seu(sua) parceiro(a), considerando-o(a) como alguém
perfeito?
13. Você tem medo da solidão e, portanto, aceita ficar em um relacionamento
insatisfatório?
14. Você acredita e fica esperando que seu(sua) parceiro (a) mude de
comportamento?
15. Você se “culpa” quando seu(sua) parceiro(a) reclama de você e acha que
poderia ter feito algo melhor?
16. Você permite e aceita que seu(sua) parceiro(a) grite com você?
17. Você tolera ou já tolerou desprezo, frieza, ou ficou magoada(o) com
seu(sua) parceiro(a) e não falou nada?
18. Você já mudou seus planos ou deixou de fazer algo que queria para
agradar seu(sua) parceiro(a)?
5. Como vencer a dependência afetiva

Quando você diz frases como “você me completa”, “eu morreria sem você”
ou “você e tudo pra mim”, pode haver um tom romântico, mas é preciso ficar
atento.
Se a pessoa mergulha no relacionamento acreditando que é o “amor”, mas
não é, esse tipo de relacionamento não trará alegria, satisfação e crescimento; na
verdade, trará tristeza, sofrimento e alienação.
Muitos são os sinais que aparecem no dia a dia. Porém, é preciso estar atento
e buscar as causas dessa dependência afetiva. É importante identificar os padrões
em sua família, principalmente se um de seus pais foi alcoólatra ou viciado em
alguma substância, bem como se era comum a violência verbal, psicológica ou
física.
Muitas vezes, existe um comportamento adulto de querer corrigir o que foi
vivido na infância, como forma de resgatar alguém - nesse caso, o parceiro
afetivo que necessita de cuidados e atenção.
É importante não se isolar, mas ouvir os amigos próximos e de confiança;
eles muitas vezes podem contribuir e ajudar a identificar algumas características
presentes no relacionamento, as quais normalmente o dependente afetivo se
recusa a enxergar. Essa troca pode ajudar a identificar situações e falas que
trazem à tona uma clareza ao dependente afetivo.
O amor que tem como base a dependência afetiva apresenta uma missão de
resgate do outro, proteção exagerada que chega a sufocar, controle e
manipulação, enquanto o amor real e verdadeiro é admiração, troca, valorização
e crescimento pessoal.
Aprender a olhar mais para si, cuidar-se e focar em suas necessidades é um
grande passo; é importante tomar decisões sem precisar da aprovação do
parceiro, assumir a responsabilidade pelas suas opiniões, escolhas e se fortalecer.
É necessário reconhecer o seu valor próprio, colocar metas e adquirir mais
autonomia, assumindo o controle das emoções, sentimentos e atitudes; encarar as
suas necessidades, traçar os caminhos que considerar primordiais, e cuidar das
decisões do dia a dia, além das decisões a longo prazo.
Identificar as reais necessidades individuais é uma premissa para criar um
relacionamento pautado no respeito, amor e comprometimento.
Identificando a diferença entre amar e depender
Depender está totalmente ligado ao fato de que você imagina que não
suportaria viver sem aquela pessoa. Amar é identificar que você tem sua
individualidade, é encontrar seu espaço, dentro do seu mundo e de suas
necessidades, bem como respeitar seu espaço e o do outro.
Olhando pra si, gostando do que vê e aceitando suas falhas e as do outro,
você se acolhe e permite se olhar verdadeiramente; dessa forma, fortalece seus
laços afetivos, evitando assim criar dependência do olhar do outro.
Depositar todas as razões de sua felicidade no relacionamento tira o seu
poder de encontrar o que te faz feliz. Por outro lado, cuidar de si fortalece sua
autoestima: se valorizar e entender suas necessidades trará novas alternativas de
encontrar satisfação.
Sentir desespero só por pensar que poderia deixar de ser amada cria uma
angústia interminável. É necessário que a individualidade seja respeitada, que a
evolução faca parte do relacionamento, bem como adquirir autoconhecimento
constantemente.
Ter um medo absurdo de não corresponder às expectativas do outro é uma
forma de não se priorizar e criar uma enorme dependência em relação a opinião
do parceiro (a). Então, faz-se urgente se posicionar nas questões que envolvem o
relacionamento, com clareza na comunicação e transparência em todos os
assuntos que envolvam o casal.
Necessitar da aprovação e reconhecimento contínuo por parte da pessoa
amada é uma forma de se aniquilar e se apagar diante do outro. É necessário
colocar limites, fortalecer continuamente a autoestima e respeitar-se.
Ter dificuldade em discordar do outro por não acreditar em si mesmo, bem
como medo de ser rejeitado ou abandonado pelo ser amado torna a vida
angustiante. É imprescindível ter a clareza das suas qualidades e habilidades,
adquirir autoconhecimento, cuidar das metas e projetos individuais e também
daqueles do casal. Um relacionamento de amor tem como premissa a admiração
mútua.
O ciúme incontrolável - a ponto de se buscarem evidências de alguma falha
do parceiro, ou ligar inúmeras vezes questionando o que a pessoa está fazendo e
com quem está - torna o relacionamento extremamente desgastante e frágil. É
preciso desenvolver a confiança, a parceria e o respeito à individualidade, e
expressar-se com assertividade, ouvindo verdadeiramente as necessidades de
cada um e as do casal.
Transferir a responsabilidade das falhas para o parceiro, ou assumir todas
para si, desequilibra a relação. A via de mão de dupla se faz necessária. O
dialogo sincero, o afeto e os cuidados com os detalhes que tornam o casal mais
próximo devem ser aplicados sempre.
6. Como construir relacionamentos
saudáveis

Conhecer e observar bem seu parceiro, saber como é a visão da vida, os


valores, os gostos, objetivos, anseios, temores e esperanças um do outro.
Cultivar o afeto e a admiração um pelo outro; respeitar e ouvir o parceiro é
um passo primordial para construir uma relação afetiva saudável.
Ficar atento sempre vai fortalecer esses laços; voltar-se para o outro, e
caminhar em direção às necessidades dele (e ele as suas). Portanto, essas
necessidades individuais, bem como as do casal, devem estar claras.
Trocar olhares, sair juntos para aproveitar momentos agradáveis, apoiar um
ao outro nos momentos de decisões, de conflitos e questionamentos sobre todas
as questões.
Ficar atento às necessidades do outro demanda olhar com atenção as pistas e
dicas que o parceiro dá - e que podem ser verbais ou não verbais. Fazer a leitura
atenta dessas dicas torna a relação mais próxima.
Deixar-se influenciar costuma ser um problema entre os casais, trazendo
conflitos e disputas. Nesses casos, e necessário negociar concessões, dividir as
decisões e escolherem juntos o que será melhor para o casal. Isso não é tão fácil,
é preciso paciência, treino e muito diálogo.
Resolver os problemas que precisam de uma solução rápida; muitas vezes,
procrastinar a decisão ou a solução de alguns conflitos desgasta a relação, pois
eles se arrastam e criam mágoas, desentendimentos e cobranças. Assim, é
fundamental não deixar os problemas se arrastarem, buscando uma solução mais
rápida, porque, dessa forma, evitam-se danos mais profundos e difíceis de
resolver.
Buscar a paz interior e também no relacionamento, sempre que existir um
conflito. Se este perdurar por muito tempo, trará cobrança dos dois lados.
Cada um tem seus sonhos e planos, e e de extrema importância que um
compreenda o outro e respeite seu espaço. Coloque-se à disposição para
contribuir para que esses sonhos se realizem.
Cobrar demais e apontar falhas, discordar sem argumentos e não valorizar o
outro torna o relacionamento extremamente desgastante; dessa forma, são
necessários muita conversa e respeito.
Compartilhar assuntos importantes e vitais colabora para a saúde e qualidade
do relacionamento, tais como hábitos, costumes, práticas, crenças e projetos de
vida.
As coisas que na maioria das vezes parecem pequenas e são ignoradas
podem ser aquelas que dão felicidade e prazer ao parceiro; logo, e necessário
acolher, respeitar e preservar a individualidade das partes. Caso contrário, haverá
uma ruptura, comprometendo a união do casal.
Seja responsável pela sua felicidade, contribuindo para que seu parceiro
também encontre a sua forma de ser feliz. Lembre-se de que cada pessoa tem sua
forma, estilo e seu tempo para ser feliz.
Cultive a confiança; procure sempre cumprir o que prometeu; faça o seu
melhor para que os laços sejam fortalecidos. Se falar ou fizer algo que magoe o
outro, reflita sobre o acontecido; converse com o foco na situação, e não na
pessoa - assim fica mais fácil entender os fatos. Divida a opinião e aceite as
diferenças.
Olhe o relacionamento de forma realista: verifique se existem expectativas
muito altas. Aceite que conflitos fazem parte - não fuja ou se esquive deles, caso
contrário os problemas se acumulam.
Ver as qualidades e os defeitos de ambos, e não esperar alguém perfeito,
porque esse alguém não existe no mundo real, somente no mundo da fantasia.
Existem, sim, duas pessoas que se comprometem a amar uma a outra,
compartilhar e conviver com essas qualidades e também encarar situações que
magoam, lembrando que as decepções e frustrações estarão presentes.
Sempre se pergunte como esta o relacionamento. Verifique se os sentimentos
estão fortes, se estão sendo cultivados no dia a dia; não deixe que se crie uma
lacuna muito grande entre você e seu parceiro, caso contrário a união se tornará
mais difícil.
Busque sempre um comportamento de solidariedade, ouvindo o outro lado e
falando sobre suas reais necessidades; muitas vezes, você ou seu parceiro
somente precisam ser ouvidos, precisam de uma ideia ou de um conselho.
Demonstre seu carinho e estimule o contato próximo; crie um ambiente de
confiança mútua, promovendo situações e experiências novas que possam
agregar crescimento e criatividade.
Saia do piloto automático e crie novas possibilidades que favoreçam a
relação a dois; fique atenta (o) aos detalhes que fazem parte da valorização e do
sentimento que deve ser cuidado permanentemente.
Mostrar a importância que um tem para o outro, identificando se existe
algum incômodo que necessite de atenção especial e diálogo; não adiar as coisas
que precisam ser resolvidas.
Dê espaço ao outro, respeite a privacidade e a liberdade de que ele precisa.
Cuidado com o sufocamento, controle o autoritarismo. Controlar o outro e
invadir o espaço pessoal do parceiro gera insegurança, enfraquece e quebra os
laços necessários para o crescimento da relação.
Expresse seus sentimentos, e mostre o quanto gosta da companhia do outro;
fale sobre o significado da relação afetiva, incentive seu parceiro a crescer -
assim, ambos buscarão progresso profissional e pessoal, fortalecendo a
confiança e a admiração mútua.
Elogie seu parceiro (a), ficando bem atento (a) aos detalhes, e de atenção,
expressando ternura e amor. Elogie mais do que critique. As palavras de
agradecimento, de incentivo e de apoio tornam a convivência mais atraente, livre
e muito mais harmoniosa.
A diversidade deve ser uma busca. Criar encontros diferentes renova o
contato, bem como comemorar os anos juntos, celebrar as conquistas e fazer
algo novo fortalece e cria uma cumplicidade entre os parceiros.
Trazer mais alegria sempre, usando o bom humor, é uma forma de dar leveza
ao cotidiano; rir um do outro é o outro, contagiar o outro com as palavras, a
graça e os gestos.
Apoiar-se mutuamente, ouvindo com atenção, valorizando as ideias que
surgem no dia a dia, incentivando e ouvindo até a conclusão final, colocando
fatos concretos e buscando alternativas quando forem pontuar suas opiniões,
criando um diálogo que será agregador para o casal.
Lidar com a falta de tempo é um grande desafio, devido aos inúmeros
compromissos de cada um. Por isso, faz-se necessária dedicação para que o
relacionamento cresça.
Compartilhar algo une o casal: fazer uma atividade que seja prazerosa para
os dois, buscar pequenas coisas e maneiras de oferecer algo um ao outro,
escrever um bilhete, preparar um jantar, dar um presente ou buscar um hobby
são atitudes que podem mostrar a importância que um tem para o outro.
Aprimore a comunicação entre vocês, evitando frases que sejam autoritárias:
elas normalmente bloqueiam e afastam o casal. Peça com carinho, agradeça,
evite ser imediatista, respeitando o tempo e o ritmo do outro.
Use a clareza para falar o que precisa, e evite criar expectativas no sentido de
que seu parceiro deve sempre saber o que você deseja; caso contrário, isso vai
gerar uma situação de frustração. Essa clareza vai evitar muitas situações
embaraçosas, brigas e mágoas que podem ficar guardadas e minar o
relacionamento.
Desenvolva uma comunicação não violenta.
“A comunicação não violenta tem o objetivo de resgatar o que ha de mais
genuíno nas pessoas: suas emoções, valores e a capacidade de se expressarem
com honestidade, ajudando os outros com real empatia, ou seja, mergulhando
nas verdadeiras necessidades do outro e não em sua vontade de parecer
altruísta” - Marshall Rosenberg.
Ao conversar sobre qualquer assunto, o que mais desejamos, sem nos darmos
conta,é criar algum tipo de troca e escuta saudável. Ninguém quer um
relacionamento truncado, aflitivo ou cheio de problemas.
Muitas vezes não conseguimos, e aumentamos o abismo psicológico entre
nós e os outros através de termos agressivos, palavrões, ataques
desproporcionais, acusações e troca de argumentos falaciosos, para chegarmos
ao final da conversa com a sensação de soberania.
Por isso, ate mesmo para discordar de alguma ideia ou algo mais
significativo, é preciso expressar comentários com consideração, respeito,
empatia e compaixão. O comportamento agressivo vai imediatamente alimentar
mais agressividade.
Ao se comunicar de forma violenta, sem se dar conta, a pessoa não consegue
estabelecer relações significativas, profundas e íntimas. Ela acredita que tudo
esta bem, porem não cria vínculos fortes e duradouros.
Para praticar a comunicação não violenta serão necessários muita paciência,
esforço e muita prática, como qualquer outro hábito que se começa e requer
dedicação.
A educação, a base familiar, o ambiente e a cultura nos oferecem uma série
de julgamentos, crenças, rótulos, críticas e comparações, e podemos identificar
na linguagem uma infinidade de palavras fortemente carregadas com essas
características.
Essas expressões causam um abismo entre grupos, pessoas, familiares e
parceiros afetivos que, de maneira natural, começam a cristalizar valores que
repelem, afastam, chantageiam e tornam o ser humano mais intolerante e
agressivo - e as relações se enfraquecem.
Alguns exemplos:
“Eu faço tudo por você e, quando preciso de ajuda, não posso contar
contigo”.
“Não me peça mais nada, cansei de fazer papel de boba(o)”.
“Pare de me provocar, senão perco a paciência e não sei do que sou capaz”.
Alguns pontos importantes da comunicação não violenta que podem ajudar a
melhorar as relações e que podem ser observados com atenção no dia a dia:
Observar de maneira clara, sem julgar as pessoas ou suas ideias.
Identificar como nos sentimos diante de um acontecimento, situação, conflito
ou da pessoa amada.
Parar de culpar os outros e assumir a responsabilidade por algo que não teve
um resultado satisfatório.
Escutar os próprios sentimentos e necessidades, bem como escutar as
necessidades e sentimentos do outro.
“A arte de fazer a vida significativa e bela, o que envolve a descoberta de
conexões entre o que parece não ter conexões, unindo pessoas e lugares, desejos
e memórias, através de detalhes cujas implicações passam despercebidas” -
Theodore Zeldin.
Parte 2
1. Ciúme

Será que toda relação tem um pouco de ciúme?


Para algumas pessoas, sim: estas acreditam que o ciúme seria um sinal de
amor, de cuidado pelo relacionamento, e a ausência desse sentimento seria sinal
de falta de amor.
O ciúme é o medo de perder alguém amado para uma terceira pessoa.
Devemos tomar cuidado para distinguir o ciúme normal do patológico.
Quando nos referimos ao ciúme normal, sabermos que esse decorre de uma
ameaça real de perda, de traição, enquanto o ciúme patológico se baseia em
evidências fictícias, ou seja, mesmo que não haja nenhuma ameaça real.
O medo de ser abandonado pelo amado é um fantasma onipresente. O grande
temor de quem se envolve em um elo sentimental é o de ser trocado por outra
pessoa; é a rejeição: mistura de abandono e humilhação!
Nas relações amorosas de boa qualidade, o risco de rejeição é muito
pequeno; mas só de se imaginar essa possibilidade, isso já provoca sensações
péssimas. Por medo de rejeição, muitas pessoas acreditam ter o direito de vigiar
os passos do amado, de exigir satisfações acerca de tudo o que faz. Alguns se
tornam possessivos, o que aumenta muito a chance de o parceiro se revoltar
contra esse tipo de tirania.
Cuidado com o seu ciúme, pois o ciúme é um sentimento possessivo e
demonstra insegurança da parte de quem o sente. A pessoa extremamente
ciumenta não tem confiança em si mesma e no seu poder natural de “prender” a
pessoa a ela. É alguém infeliz, que desconfia de tudo e de todos, e nunca está
tranquilo, pois na sua cabeça tudo se transforma de maneira a dar razão ao que
sente.
O ciúme pode ser comparado a uma prisão. Aos pouquinhos, tudo vai se
fechando em torno da pessoa que detêm esse sentimento, e se ela não reage
estará, no fim das contas, fechada entre quatro paredes, de pés e mãos atados.
Isso não é sadio. Quando você estiver amando alguém, devera dar-lhe ar, e não
impedir que a pessoa respire. Nosso objetivo principal deveria ser o de ver a
pessoa amada feliz, e não uma marionete sem vontades, que podemos controlar o
tempo todo, sempre a nossa disposição.
Somos todos indivíduos, com vontades, sentimentos e desejos próprios.
Donos das nossas vidas e dos nossos corações, continuamos sendo pessoas à
parte. É bonito falar em fusão no amor, mas, na realidade, se permitimos essa
fusão, perdemos nossa personalidade. Uma pessoa que vive absolutamente em
função de outra perdeu-se a si mesma, é uma luz apagada.
O ciúme pode afetar a relação quando está excessivo ou quando não ha
motivos reais para existir.
Isso pode causar desgaste na relação.
2. Fim do relacionamento

Todo fim é triste, mesmo para aquele que decidiu colocar um ponto final,
pois ninguém começa um relacionamento ou casamento pensando que irá
acabar; sofremos porque sonhamos, acreditamos, há um investimento na relação.
Quando a relação termina, você precisa “desidealizar” tudo aquilo que
idealizou, olhar as coisas mais pela razão do que pelo desejo. Certamente não é
tarefa fácil: apesar de terem existido coisas que não agradavam na relação, você
se acostumou com a presença, a companhia diária, afinidades, entre outras
lembranças que ficam na memória. Nesse momento o que ajuda a seguir e
realmente colocar um ponto final dentro de você, olhar com mais realidade, não
manter nenhum contato.
A presença da pessoa aumenta o desejo e a vontade de estarem juntos. Não
dá para esquecer alguém estando a pessoa presente todos os dias. Portanto, é
preciso deixá-la ir.
Ao terminar, é preciso se policiar para não ficar olhando as redes sociais,
celular, acompanhando a vida da pessoa; isso só aumenta o sofrimento.
Seja firme e corte qualquer tipo de contato. O tempo ajudará a superar o fim.
A ruptura de uma relação amorosa demanda um trabalho psíquico, a travessia
de um processo de luto, no qual questões referentes à subjetividade de cada
parceiro precisam ser elaboradas.
A terapia nesse momento é muito importante, pois possibilita ao individuo
olhar a relação como um todo e, ao mesmo tempo, representa um suporte para
conseguir seguir em frente, resgatando principalmente a autoestima, a vontade
de viver e de buscar novos sonhos!
3. Suicídio

Eclipse solar
“Chega uma hora que nada mais faz sentido, acordar, comer, trabalhar ou
principalmente, no meu caso, lutar por alguém, independente dos motivos.
Quando chega essa hora, a exata hora, tal como num eclipse, a gente surta.
Estava naquele limite entre a razão e a loucura, foram tantas idas e vindas de um
relacionamento tumultuado, brigas e desafetos, que, quando percebi, estava
completamente fora de mim; aquela pessoa independente, alegre, radiante e
cheia de planos e sonhos que sempre fui havia se perdido em algum momento, e
o que existia era uma mulher triste, que faria qualquer coisa por um ‘amor’ que
julgava merecer.
Naquele exato momento em que surtei, não havia mais o depois, os sonhos,
os projetos, as viagens, os amigos, nem a família… O amanha havia
desaparecido, pois naquele exato momento o sol estava oculto e o brilho da vida
havia esvanecido. Fui para a editora e, sem nenhuma palavra sequer, fiz todo
meu trabalho, resolvi as pendências, programei outras tarefas e fui embora; me
despedi como se fosse ao médico, sem lágrimas. Dirigi sem pressa, sem ligar o
som ou sequer prestar atenção ao caminho que tantas vezes fiz. Em casa, arrumei
algumas coisas, dei água e comida para o Phill, me troquei, destranquei a porta
para não dar trabalho a ninguém, sem emoção. Leve, tranquila, serena… como
alguém que estivesse com um turbilhão de coisas na cabeça pudes-se estar. Mas
aí que está o paradoxo, pelo menos para mim… O turbilhão de emoções foi tao
grande que, quando surtei, parecia que tinha sido a melhor ideia de toda a minha
vida! Iria resolver não o meu problema, mas o das pessoas que estavam ao meu
redor; minha família e amigos não teriam mais a preocupação com eu estar bem
ou mal… Simplesmente parecia ser a coisa mais genuína e correta a ser feita. Os
remédios estavam ali… coloridos, brancos, compridos, pequenos, ovais,
redondos… Três grandes punhados, e uma garrafa de Martini. É um vazio tão
grande que acaba sufocando a alma, que parecia já não mais pertencer a este
mundo. Uma dor tao forte que, de tanto doer, parecia já estar anestesiada. Um
desapego tão eloquente que parecia surreal. Não tive medo, não tive pena, não
imaginava que existiria o amanhã: simplesmente queria terminar com aquilo de
uma vez por todas, e deixar de ser um problema. Assim que cheguei em casa,
passei pelo bar e peguei a garrafa de Martini. Comecei a beber no gargalho
mesmo e, entre um gole e outro, um punhado de remédios eu engoli; arrumando
isso ou aquilo, outro punhado, mas meu corpo parecia rejeitar a ideia; quase
vomitei e coloquei tudo para fora, mas firmemente engoli e respirei fundo,
tomando mais um pouco do Martini.
O Phill, como se percebesse a loucura que estava prestes a acontecer, ficava
do meu lado, andando atrás de mim, de um lado para outro. Apaguei as luzes e
me deitei no sofá, pois naquele momento as coisas começavam a ficar turvas,
tudo escuro, calmo, tranquilo; o corpo relaxava e eu me sentia pronta para
terminar tudo. Tinha só mais um punhado em cima da mesa, os últimos
comprimidos; mas eu não conseguia mais, não tinha mais forças para engolir ou
beber… E, de repente, o breu. Uma voz me chamava longe, me tirando do meu
sono profundo. Depois, mais vozes queriam me acordar, queriam que eu falasse,
que eu andasse; parecia tudo tão distante, tão irreal, como num sonho - algo que
não deveria estar acontecendo, pois o meu sonho era para ser diferente, e não
com pessoas ao meu redor. Eu só queria dormir e nunca mais acordar. Acordei
no hospital, com três enfermeiros em cima de mim. Queriam me entubar, e
começaram a descer com algo pela minha garganta; ali, naquele momento, acho
que me dei conta de que não iria mais dormir. Chorei e gritei, senti um tubo
forçando minha garganta abaixo. À minha frente estava minha amiga, me
olhando, e naquele momento tive medo. Acabei dormindo e acordando várias
vezes, não me lembro da ordem das pessoas que vi: minha mãe, minha amiga,
alguns familiares… Lembro-me de ter perguntado para minha amiga por que ela
tinha ido me buscar, pois foi ela quem me salvou em casa, quem chamou a
ambulância, quem recebeu minha mãe no hospital e esteve comigo, ao lado de
minha mãe, o tempo todo. Senti vergonha por estar ali naquela situação, em cima
da cama de um hospital. Chorei muito, pelo que fiz e por aquilo que eu queria
que tivesse acontecido. Sair ilesa de uma situação dessa e impossível - acabei
carregando comigo durante muito tempo a vergonha, a culpa e o medo. É difícil
ainda falar sobre isso, mesmo passados três anos (foi em agosto de 2013), ainda
choro por lembrar. Hoje consigo enxergar aquela pessoa vulnerável, perdida,
totalmente dependente, e espero que ela tenha ficado lá atrás.
Se livrar da dependência requer esforços: não foi uma tarefa fácil, nem
simples. Terapia, remédio, remorso, horas e horas de conversa, muito choro e,
aos poucos, a vida foi voltando ao normal. Aos poucos, fui retomando o controle
da vida, dos meus sentimentos e do meu amor próprio, pois reaprendi que, antes
de amar alguém tao profundamente, a ponto de desejar tirar a própria vida em
prol de um sentimento que chamamos de ‘amor’, temos que nos amar. E, quando
nos amarmos antes, jamais deixaremos que uma coisa dessas aconteça.” -
depoimento de C. S.
4. Relação fusional

Quando vivemos em um relacionamento fusional, isto é, aquele em que


nossa vida está muito ligada ao outro, como uma extensão de nós, o fim da
relação e como se a vida perdesse o sentido maior; isto acontece quando se
estabelece um relacionamento na crença de que o outro e tudo: a alegria, o
prazer e o sentido da vida. A dor do fim e o abismo que fica se tornam quase
insuportáveis.
Daí a importância de desenvolvermos outros papéis na nossa vida; não
somos só relacionamento amoroso, somos também irmãos, filhos, amigos, pais-
enfim, se deslocamos também o sentido da nossa vida, e o prazer e a alegria para
outras relações, quando, por algum motivo, a relação acabar, não
necessariamente sentiremos que perdemos tudo.
Nos relacionamentos fusionais, a principal característica é a busca incessante
de fundir-se ao outro. Vemos não só ao longo da história, como ainda nos dias
atuais, nos relacionamentos amorosos, pessoas que ainda vivem em completa
função do outro, anulando-se, apenas aceitando tudo o que o parceiro faz.
Infelizmente, emaranhada dentro desse tipo de relação, a pessoa não se da conta
do quanto esse tipo de vinculo e prejudicial, pois não permite a individualidade.
A pessoa não sai sozinha, não tem amigos que não sejam os mesmos amigos
do parceiro, e suas atividades diárias são sempre as mesmas do outro. Ou seja, o
sujeito deixa de lado aquilo que é exclusivo dele e de sua identidade. Nesse tipo
de vínculo, a pessoa perde-se de tal forma que não consegue mais diferenciar o
que é desejo dela ou do outro.
Há uma identificação com o parceiro, de maneira tão intensa, que acaba por
acreditar que são a mesma pessoa.
Nesse contexto, desenvolvem um vínculo que impossibilita a diferenciação e
o crescimento de ambos como seres individuais.
Há a busca incessante de fundir-se ao outro, numa ânsia de sentir-se amado e
não correr o risco de ser abandonado; dessa maneira, acabam apresentando um
comportamento controlador, ciumento, possessivo e de extrema insegurança.
O vício afetivo possui características de qualquer outra adicção e, por isso,
precisa de um olhar individualizado, diferente de outras patologias.
A dependência afetiva nos chama a atenção porque o indivíduo se apoia e
confia no outro para sua existência e, portanto, possui uma referência
disfuncional.
A construção da nossa afetividade se inicia desde nossas relações primárias,
no relacionamento entre mãe e filho, já nas primeiras fases da vida; dependendo
da relação que se vivenciou, esta pode influenciar negativamente na forma como
o sujeito ira se relacionar com o outro.
Segundo Martins (2009), há pessoas que se fusionam em excesso com o
companheiro e vivem uma dependência extrema, porque provavelmente viveram
uma separação ou uma relação muito curta com a mãe durante esse momento
inicial.
Vivem, nos relacionamentos atuais, um deslocamento de afetos maternos,
com todas as consequências a que isso leva, tanto no tempo da relação como nas
separações, que tendem a ser drásticas e avassaladoras, levando a violência, a
depressão e a conexão com o medo de perder sua própria sensação de ser alguém
no mundo, separado do outro. (MARTINS, 2009, p.278)
O casal deverá desfrutar de momentos juntos, quando haverá troca de
experiência, mas é fundamental que existam também momentos em que estejam
separados, nos quais cada um se permita fazer aquilo que gosta e lhe dá prazer,
sem precisar da companhia do seu parceiro.
No relacionamento amoroso é preciso aprender a equilibrar-se, para que não
se viva uma relação fusional; deve-se ceder no momento em que há necessidade,
não se anulando, para que possa então existir uma relação saudável, e se torna
preciso aprender a se diferenciar do outro.
5. Violência doméstica

Apesar de ser um problema mundial, a violência doméstica atinge 2 milhões


de mulheres no Brasil a cada ano.
A violência doméstica e um abuso físico ou psicológico de um membro de
núcleo familiar em relação ao outro.
Lei Maria da Penha

Segundo a Lei Maria da Penha: “Toda mulher, independentemente de classe,


raca, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião,
goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar
sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”. (Art.
2o - Lei no 11340/06) 65
Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica brasileira que lutou para
que seu agressor viesse a ser condenado. Com 71 anos e três filhas, hoje ela é
líder de movimentos de defesa dos direitos das mulheres, vítima emblemática da
violência domestica.

Tipos de violência
A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar,
segundo o Art. 7°:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o
pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo a saúde psicológica e a
autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso de força; que a induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimonio, a gravidez, ao aborto ou a
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calunia, difamação ou injúria.

Violência verbal
A agressão física é sempre precedida pela agressão verbal: o agressor a
anuncia, vai ficando nervoso, menospreza, ofende, julga, critica, desvaloriza;
esses são alguns comportamentos aos quais a vítima precisa atentar-se desde o
início da relação, se estão presentes.
Observe o comportamento dele, como se apresenta quando é contrariado;
observe a mudança de comportamento constante; fique muito alerta à
agressividade das palavras - não ignore tais comportamentos, como se não
tivessem importância.
A finalidade dele e enfraquecê-la cada vez mais. Então, se você está vivendo
um relacionamento no qual é oprimida e não consegue falar o que sente e o que
pensa, pare e reflita sobre tal situação. Não espere até estar imersa nessa relação
violenta, porque fica muito mais difícil sair, já que o medo assola e paralisa.
O abuso verbal pode ser tão doloroso quanto a agressão física; embora este
não deixe provas, marcas no corpo, ele sem dúvida deixa marcas na alma.
O agressor dificulta a compreensão da vítima de estar vivenciando um abuso
verbal, justamente porque, em público, ele apresenta um comportamento e em
casa outro.
A vítima da violência verbal, por vezes, sente-se só, pois além de não ter
testemunhas da sua condição, os amigos do agressor talvez o considerem um
cara legal.
Quando você reconhecer de fato o que está vivendo, reaja diante da situação,
de uma forma que exija mudança. Ao se colocar, você pode até enfrentar o medo
de “perder o amor”. Mas, se não fizer isso, pode enfrentar o medo de “perder o
seu eu”.
Algumas observações importantes sobre o comportamento do agressor:
* O agressor normalmente nega o abuso verbal.
* A violência verbal, na maioria das vezes, ocorre a portas fechadas.
* A agressão física é sempre precedida pela agressão verbal.
O que infelizmente acontece, segundo relato de parceiras de agressores
verbais, é que estas se acostumam a viver dentro daquela relação de abuso e
violência verbal.
Quando a parceira consegue reconhecer e olhar para seus sentimentos, ela
começa então a reconhecer o abuso verbal.
Para que seja possível reconhecer quando se é desvalorizado, é preciso então
ter uma autoestima elevada. Quando uma pessoa está com a autoestima elevada,
ela sabe que em seu relacionamento cabe: respeito, reconhecimento, dignidade,
cordialidade, empatia e reciprocidade de sentimentos.
Observe no comportamento do agressor:
A vítima pode ficar ainda mais confusa dentro dessa relação, sem
compreender de fato se está vivendo um relacionamento com violência verbal;
as declarações de amor do agressor contrastam com suas afirmações ofensivas.
O agressor verbal precisa ter o poder autoritário sobre sua parceira, porque
uma relação de igualdade representaria para ele uma evidência de sua
inferioridade. O controle e a dominação parecem dar ao agressor um senso de
poder.
Quando a vítima busca discutir um problema, o agressor verbal se recusa a
isso, e impede qualquer possibilidade de solução; ele tem essa postura com a
finalidade de sentir-se no controle sobre a relação.
Crenças da parceira
Estão presentes nesses relacionamentos algumas crenças que podem
dificultar a parceira de compreender que a responsabilidade não é dela sobre o
comportamento violento do seu parceiro.
A parceira acreditava que, se ela conseguisse se expressar melhor, seu
companheiro não ficaria zangado com ela; nesse momento, ela assume a
responsabilidade pelo comportamento dele.
A parceira acreditava que seu companheiro era o mesmo no trabalho e com
os amigos; e, como eles não o irritavam nem tinham reclamações, era ela,
portanto, quem devia estar fazendo algo errado.
A parceira acreditava que estava sofrendo desnecessariamente, por causa de
alguma carência ou falha.

Obstáculos que dificultam reconhecer a violência verbal


Alguns obstáculos que dificultam reconhecer a violência verbal, segundo a
autora Patricia Evans:
* A parceira aprendeu a ignorar a grosseria, o desrespeito, a desconsideração
e a indiferença, e a não lhes dar a importância que levaria ao enfrentamento.
* Acontecimentos preocupantes são negados pelo agressor e a parceira acha
que se enganou.
* Abuso verbal, controle e manipulação não foram articulados ou definidos
pela parceira, então ela permanece confusa.
* A parceira acha que seus sentimentos estão errados.
* A parceira esquece momentaneamente seus sentimentos de tristeza quando
o agressor se mostra amigável.
* A parceira não tem base de comparação, pois não possui nenhuma
experiência de relacionamentos sem abuso com os homens.
* A parceira está surpresa ou desestruturada demais para pensar com clareza
sobre o que acontece com ela.
* A parceira não tem o nível de autoestima que exige que ela seja sempre
tratada com educação e dignidade. (EVANS, P., 2015, p.75)

Violência psicológica
As palavras que atacam ou ofendem, isto é, a violência verbal, são uma
forma de violência psicológica.
O agressor verbal tem algumas características comuns, tais como: manter-se
distante, contradizer-se, menosprezar, acusar, julgar, desvalorizar, enfraquecer,
xingar, ameaçar, etc.
Dentre essas características, chama a atenção principalmente o ato de
enfraquecer a vítima; o agressor que enfraquece a parceira geralmente cometeu
violência verbal diversas vezes.
Como consequência desses atos, a autoestima e a autoconfiança da parceira,
que já são baixas, deixam-na muito mais vulnerável ao abuso.
A ameaça e outro comportamento muito presente e bem característico do
agressor; a ameaça manipula então a parceira, ao provocar seus piores medos:
“Faça o que eu quero ou vou embora”; “Faça o que eu quero ou vou arranjar
uma amante”; “Faça o que eu quero ou vou bater em você”.

Por que é tão difícil saber se está sendo vitima de abuso?


A maior dificuldade apresentada nesse caso está no fato de que,
normalmente, as parceiras de agressores sentem-se responsáveis pelo
comportamento deles, atribuindo a si próprias a falha, a culpa, a
responsabilidade ou o motivo para que ele então tenha um comportamento
agressivo.
Infelizmente, o fato de o agressor acusá-las constantemente pelo que esta
acontecendo deixa a parceira imaginando o que ela “disse de errado”.
Não é incomum que a companheira de um viciado em raiva reflita sobre os
acontecimentos e se esforce para descobrir o que ela faz ou diz que irrite seu
companheiro. Se ele direciona para ela toda a sua raiva e a culpa por isso; se os
amigos em comum lhe dizem como ela e sortuda por ter um parceiro
maravilhoso; se o abuso não acontece em público; se o agressor lhe diz que a
ama; e se sua família de origem não oferece um modelo de relacionamento
saudável e amoroso, pode ser que ela não saiba que está de fato sendo vítima de
abuso. E continuará a procurar motivos racionais para o comportamento de seu
companheiro.

Quais são suas crenças?


Quando a parceira do agressor acredita em algumas frases que ouviu ao
longo de sua vida, tais como:
* “Quando um não quer…”.
* “O amor vence tudo”.
* “Você consegue passar por isso”.
* “Agradeça por ter um teto sobre a cabeça”.
* “A mulher tem que se doar um pouco mais do que o homem”.
* “Continue tentando”.
* “Nunca desista”.
* “Seja gentil com as pessoas e elas serão gentis com você”.
* “Não leve isso ao pé da letra”.
* “E só uma fase”.
* “Aceite as pessoas como são”.
Como enfrentar a violência verbal
Deve-se estabelecer limites, definir o ponto extremo que não pode ser
ultrapassado. Todo abuso verbal viola seus limites de alguma forma.
Você esta sofrendo abuso verbal?
É importante observar o comportamento do seu parceiro. Se você identificar
que está sendo vítima desse abuso, reaja com a consciência do desrespeito que
ocorreu.
Reagir adequadamente reforça e restabelece, ou confirma, os seus limites.
Segundo Evans (2015), “se você é ignorada por seu companheiro, se ele a
olha como se você não existisse, os seus limites estão sendo desrespeitados, isso
acontece porque você é tratada como se a sua individualidade não existisse,
como se não houvesse limites que a separassem do restante do ambiente. Isso é
um desrespeito. Geralmente não pensamos em nossos próprios limites, mas é útil
fazer isso. Na realidade, o desrespeito aos limites é a experiência de abuso”.(pag.
152)
Reagir à violência verbal significa reagir com veemência, de modo a
provocar um impacto.
Como normalmente é sua reação quando ele é agressivo com você?
Para que se possa mudar um comportamento, antes de tudo é preciso analisar
como você se comporta; ao calar-se diante da atitude do agressor, tentar articular
de uma forma que se sinta culpada pelo ocorrido, você está sendo permissiva e
reforçando o comportamento agressivo dele, que se justifica dizendo que foi
agressivo por sua culpa.
Diga a seu parceiro que você não reagira da maneira como tem reagido.
Posicione-se firmemente, dizendo que não tem gostado de algumas coisas que
ele diz; que gostaria de ver algumas mudanças na comunicação. Deixe claro o
que deseja e o que não deseja na relação; se ele mantiver o comportamento
anterior, você colocará um fim na relação.
Toda vez que você for desmoralizada, ofendida ou ridicularizada, tente reagir
com veemência - ninguém tem o direito de julgar, criticar, humilhar. Para
responder a esse tipo de atitude, fale de modo enfático: “Pare de me julgar”;
“Chega de críticas”; “Basta”; “Não aceito isso”; “Cuide da sua própria vida”.
Diga e logo se afaste, não dê espaço para ele continuar com a discussão.
Para que você enfrente a agressão, não permitindo mais que se faça isso com
você, e imprescindível identificar o agressor em potencial, olhar para os seus
sentimentos, colocar limites.
Se você está no início de um relacionamento assim, seja seletiva: coloque um
ponto final.

Violência física
O primeiro tapa
“O primeiro tapa que levei foi há dois meses. Temos um ano de casados, ele
já me xingou, me ofendeu, mas nunca tinha me agredido fisicamente. Naquela
manhã, ele acordou com muita raiva de mim, ficou bastante bravo por ter sido
contrariado, me deu vários tapas no rosto, me empurrou e cai no chão.
Depois, já mais calmo, me pediu desculpas, falou que não entendeu por que
agiu daquela maneira; disse que nunca mais iria fazer aquilo novamente, chorou,
ficou bem emotivo.
No dia seguinte - você não pode acreditar -, fiquei tão feliz: recebi flores
lindas pela manhã, uma cesta de café maravilhosa, nossa! Nunca tinha me
sentido tão amada e querida.
Naquele momento eu realmente acreditei que meu marido estava
arrependido; ele merecia sim o meu perdão, ele merecia uma chance. Como ele
me amava… Aquela rosa era uma demonstração clara de todo o amor que sentia
por mim. Pude esquecer naquela hora a humilhação, a dor, as marcas do dia
anterior - o cheiro da rosa já dominava o meu ambiente e o meu coração.
Passou-se uma semana do ocorrido, e meu marido ficou muito bravo
novamente, por ter sido contrariado. Dessa vez a agressão foi ainda maior: ele
me segurou com força, e apertou demais meu pescoço, com uma força
descomunal. Comecei a ficar roxa. Depois me soltou, me jogou no chão e
começou a me chutar.
Passei um ano da minha vida sendo agredida todos os dias, sem ter coragem
de sair de casa, por medo, vergonha. Me senti pequena. Como pude me
submeter, como pude deixar que ele fizesse isso comigo?
Aprendi que poderia ter evitado todas as agressões que aconteciam dia após
dia, se tivesse tido coragem de cortar o mal pela raiz, reagindo a violência verbal
e psicológica.
Por isso é essencial que tenhamos um apoio psicológico, a fim de
compreender por que nos submetemos, e aprender também a perceber os
primeiros sinais de violência, para encontrar em si mesmas a força para sair de
uma situação abusiva.” - depoimento de uma vitima de violência verbal.

Sua história
Qual é a sua história? O que você esta vivendo?
Essa história é provavelmente a de milhares de mulheres que ainda vivem
dentro de um relacionamento violento. É uma realidade dura, há uma cobrança
pessoal e da sociedade, que questiona por que você ainda vive uma relação
assim, e o que a faz ainda permanecer em um relacionamento de sofrimento.
Por mais que tentemos compreender, só quem vivencia de fato uma relação
assim poderá dizer como e difícil sair dela. Num primeiro momento, a pessoa
que sofre a primeira agressão não acredita que aquilo realmente está
acontecendo; em tal momento, a negação está muito presente. “Como ele pôde
fazer isso?” “Imagina, ele sempre foi tão carinhoso, foi só um momento em que
perdeu a cabeça”.
A parceira tenta justificar o comportamento do parceiro, porque não
consegue acreditar ter vivenciado aquela violência; então ignora o fato, tenta
seguir, sem olhar para aquele dia que já esta marcado.
A realidade infelizmente nos mostra que a violência não fica só na primeira
vez: depois de ter aceitado o tapa, vem o pedido de desculpas, a súplica, a
alegação de que aquilo nunca mais irá acontecer, e que ele nunca havia feito
aquilo.
A mulher então resolve desculpar. Acredita muitas vezes no pedido de
perdão, nas rosas recebidas, tenta maquiar aquela situação. Depois de alguns
dias, a violência novamente se apresenta; depois do primeiro tapa, vem o
empurrão, depois o soco, e agressões constantes já começam a fazer parte da
realidade.
Nesse momento, a mulher já não está mais enganada; porem a vergonha, o
fato de ter se submetido, a cobrança e o medo, entre tantas outras questões que
se tornam presentes, fazem com que ela não consiga sair dessa realidade.
Há, sem dúvida, um misto de negação, ainda presente, com a certeza, ao
mesmo tempo, de que ele ainda poderá mudar.
Por isso é importante entender a história de cada um, nunca julgar, nunca
criticar o porquê de a pessoa ainda estar imersa nessa relação. Se quisermos
ajudar, temos que compreender e analisar, buscar formas para que a pessoa tenha
estrutura para sair dessa relação.
Algumas razões mais presentes pelas quais a pessoa não consegue sair dessa
relação são:
Medo

Muitas mulheres ainda ficam dentro de uma relação assim por medo. Muitas
vezes o parceiro já começa a fazer ameaças caso ela queira se separar; há o
temor de que ele faça algo com ela, e poderá machucar também os filhos.
O medo as paralisa e as torna reféns das ameaças, cada vez mais constantes:
não conseguem denunciar. Não veem saída a não ser permitirem ainda mais,
permanecendo nessa relação que vai matando-as aos poucos.
Culpa

A culpa é outro fator que faz com que muitas mulheres ainda continuem
nessa relação. Acreditam que o que estão vivendo de fato acontece porque elas
merecem; falharam em alguma coisa, não foram suficientemente boas. Essa
crença vem também de lares nos quais a criança aprendeu desde pequena, ao
observar a relação dos pais, como esta se configurava: a mulher sempre
atendendo ao marido, submissa, precisando satisfazer todas as vontades, não
podendo falhar, tendo que ser impecável, agradar, não contestar. A mulher acaba
por reproduzir esses modelos vivenciados durante sua infância.
Dependência financeira
Esse é outro ponto muito presente nas relações das mulheres que são
dependentes financeiramente dos seus parceiros, seja porque nunca trabalharam
ou porque deixaram de trabalhar para cuidar da casa e dos filhos.
Há um desejo manifesto de sair dessa relação, porém não sabem como fazê-
lo, uma vez que dependem financeiramente dele para o seu sustento e o dos
filhos.
Vergonha

A vergonha também é outro fator que esta presente na falta de atitude para
que a mulher consiga sair dessa relação. Vergonha de enfrentar a sociedade, a
família, de encarar que vive uma relação de humilhação e violência física.
Pela vergonha presente, ela tenta ao máximo ocultar a realidade, sempre
escondendo o rosto e as marcas da violência, justificando-se quando e
questionada sobre o que está acontecendo.
Crenças culturais

Crenças culturais que podem dificultar o rompimento dessa relação abusiva:


“Um dia ele vai mudar”.
“Acredito que tenho que passar por isso…”.
“E só uma fase…”.
“Estou esperando ele se separar”.
“Um dia, ele vai perceber que sou a pessoa ideal para ele”.
“As coisas não estão bem na vida dele, daqui a pouco ele volta a ser como
era”.
“Eu entendo, nunca ninguém o amou, o problema não está comigo”.
“Pelo menos comigo ele não bate, só traiu uma vez. Com a minha vizinha e
bem pior, a relação dela”.
“Afinal, quem não traí, não maltrata, não humilha? Vou trocar por outro, que
irá fazer o mesmo no final?”.
Dizer que o outro irá mudar, acreditar que um milagre acontecerá e justificar
o tempo todo a atitude do outro são algumas formas de justificar a sua falta de
atitude. Pare e reflita: você consegue realmente encarar a sua postura diante da
relação, ou você pontua que “não é que você esteja aceitando, é que você
acredita na mudança do seu parceiro(a)”?
Justificamos como algo transitório porque não damos conta de encarar que
há, sim, uma aceitação diante das situações cotidianas na relação que não nos
agrada.
Uma paciente pode relatar em sessão: “Eu não aceito que ele me traía, apesar
de ele fazer isso há 8 anos. Mas eu nunca consegui terminar”. O que chama a
atenção nessa fala da paciente está principalmente no seu comportamento; ela
não aceita, porém não fez nada durante esses anos todos em que ele continua
traindo-a. Será que ela não esta aceitando, quando não faz nada?
Por que será que a paciente continua sendo traída? Sera que a fala dela tem
peso?
Quanta segurança ela dá neste momento, ao seu parceiro, porque nada
acontece? Mesmo quando ela mostra uma insatisfação momentânea, depois
perdoa, ignora, joga debaixo do tapete e continua na relação.
Quando a pessoa esta com baixa autoestima, possibilita ainda mais que o seu
parceiro faça o que queira dentro da relação. O máximo que consegue fazer e
ignorar sua atitude e focar no outro, acreditando que ele um dia possa mudar, ou
talvez já nem acredite mais nisso, porém há uma dificuldade enorme em aceitar
que se submeteu durante anos a esse tipo de relacionamento.
Eu não olho para a relação que estou vivenciando, e sim para a possibilidade
eterna da mudança.
Como sair de um relacionamento violento

Em primeiro lugar, é preciso identificar qual é o real motivo que ainda faz
com que você fique nessa relação.
Você precisa se questionar: “O que me prende aqui? Por que não consigo sair
desta relação?”
Depois de ter identificado o que está acontecendo de fato, o que faz com que
você permaneça há anos nesse relacionamento, vamos para o segundo ponto, que
é muito importante; nessa hora, você precisa analisar o que precisa fazer para
sair dele.
Por exemplo, se o que lhe prende nessa relação é o medo, identificar nessa
hora o quanto esse medo é real; isto é, se existe uma ameaça real e, caso a
resposta seja positiva, buscar o que é possível fazer nesse caso para que você
possa denunciar e estar protegida.
Podemos citar aqui também mais alguns pontos a serem observados para que
você consiga sair dessa relação.
Quando pensamos na questão da dependência financeira, há nesse caso uma
necessidade de uma estruturação inicial; a mudança vai demandar
provavelmente um pouco mais de tempo. Porém, a partir do momento em que
você começar a fazer algo, já se sentirá melhor, pois não terá a sensação de que
estagnou, de que aceitou essa realidade de alguma forma e se entregou.
Então você terá que analisar qual será o primeiro passo; se tiver que voltar a
estudar, volte; se tiver condições já de buscar um emprego, comece a buscá-lo e
lute pela sua independência - só assim conseguirá sair dessa relação.
Quando a questão é a vergonha, vamos pensar juntos: é compreensível, não é
fácil encarar uma sociedade que cobra, além da família e dos amigos; porém, a
vergonha não pode ser maior do que o seu direito de ter uma vida digna. Você
terá que repensar sobre esse ponto: “vou me preservar de expor, por vergonha
diante de uma sociedade, mas terei que pagar um preço muito alto todos os dias
com a violência presente”.
Por que vergonha?

Será que, de fato, é você quem teria que sentir vergonha? Se alguém nessa
relação deveria sentir de fato vergonha, é o seu parceiro, que a violentou, que a
humilhou e que a tratou de uma forma pela qual jamais deveria ser tratada.
Você não tem que ter vergonha; se ficou ainda na relação, e porque já estava
fragilizada demais, não tinha força, perdeu-se diante de tudo o que estava lhe
acontecendo.
A culpa, também outro ponto que citamos, está muito presente ainda nos
lares. Aqui se torna importante desconstruir crenças envolvendo nossas relações
primárias: o que você ouviu? O que foi passado a você como modelo ideal? Qual
o papel da mulher?
Enfim, é a partir dessa desconstrução de crenças que você poderá entender
melhor seu comportamento e dissociar-se dele, entendendo que a mulher não
tem que satisfazer o homem em tudo, nem se submeter; que não deve ficar numa
relação de violência, e que a culpa de seus atos não pode ser justificada como
algo faltante na mulher.
Somente por meio da compreensão da razão pela qual permanecemos em
uma relação assim e que se torna possível sair dela.
O trabalho terapêutico também ajudará muito, já que a pessoa terá o apoio de
um profissional para encarar sua relação de frente, compreendendo não só a
situação, mas o seu funcionamento diante dela.
6. O homicida passional

O “homicida passional” refere-se a todo indivíduo que, movido por um


sentimento de paixão irresistível, acaba por tirar a vida de outrem, que originou
no agente o impulso assassino.
Segundo Coelho (2010), “os crimes passionais são condutas criminosas
motivadas por sentimento de paixão ou emoção. Na maioria das vezes, o delito é
cometido por motivos que nem mesmo o autor do crime sabe explicar. O
criminoso passional, ao se deparar com uma situação de conflito, traição ou
rivalidade com a pessoa com a qual se relaciona amorosamente ou sexualmente,
mobilizado por sentimentos relacionados a ciúme, rejeição, vingança, amor e
ódio, acaba por cometer crimes envolvendo agressão física, violência
psicológica e/ou homicídio. Dentre os homicídios passionais, alguns são
movidos por uma perturbadora paixão e violenta emoção, e outros são friamente
calculados”.
Elementos motivadores do homicida passional:
Paixão
A paixão constitui-se num sentimento eufórico e arrebatador. Quando a
pessoa apresenta dificuldade em atingir estabilidade emocional, poderá
desenvolver sentimentos de egoismo e obsessão. A paixão desequilibrada, num
estado crônico, pode ser capaz de desencadear os pensamentos e sentimentos
motivadores para o crime passional.
Ciume
O ciúme é um sentimento desencadeado por insegurança, medo da perda,
dependência, sentimento de inferioridade.
O ciúme patológico pode levar a pessoa a cometer atos extremamente
violentos, configurando os casos de suicídio e homicídio passional. O homem,
movido pelo ciúme, pode facilmente vir a cometer um delito. É importante frisar
que, para o ciumento, não importa o que realmente ocorre, mas o que ele
acredita que ocorre. Portanto, o indivíduo acaba sendo dominado pela
imaginação obsessiva.
Honra
Nesse caso, a maior preocupação desses indivíduos é em manter sua honra
intacta perante a sociedade. Manchada a honra, o indivíduo procurará “lavar sua
honra com sangue”, o que pode levar a um crime passional.
Perfil do homicida passional
O homicida passional pode apresentar em seu comportamento um ser
narcísico, extremamente preocupado com sua imagem social. Um indivíduo
egocêntrico, o homicida passional pode apresentar também um comportamento
possessivo e dependente. Na possessividade, há um exercício de domínio e
autoridade sobre a vítima. Na dependência, há traços que denotam uma
proeminência sobre a vida do homicida perante a vítima. Em casos singulares,
quando há grande arrependimento, o agente acaba se suicidando posteriormente
ao crime.
A possessividade e a dominação são características predominantes nos
homicidas passionais.
O descontrole emocional, a perda da autoestima e a imaturidade dos
indivíduos em lidar com a sensação de derrota, quando se sentem abandonados
ou rejeitados, constituem lamentável realidade nos dias atuais.
O homicida passional vivencia um desequilíbrio de emoções fortes, como o
medo, a raiva, a paixão, o ciúme e, em alguns casos, a descoberta da traição.
As mudanças de comportamento dos companheiros antes que ocorram as
primeiras agressões são evidentes. Algumas características são o ciúme
excessivo, a mania de perseguição e a desconfiança de tudo e de todos.
O perfil geral do homicida é caracterizado por ser extremamente ciumento,
julgando o outro como ser inferior; é descontrolado emocionalmente, imaturo e
possessivo, mantém exímia preocupação com sua reputação no meio social e
venera a suposta “imagem de macho”.
Segundo estudos, existem dois padrões identificados em pessoas que
cometem crimes passionais: o de dependência e o de possessão.
As pessoas que se encaixam no primeiro perfil são inseguras e projetam no
outro sua fonte de vitalidade.
O segundo tipo de perfil apresentado tem traços possessivos e obsessivos,
com necessidade de controle e autoridade. E, quando tem a sensação de perder o
objeto de desejo, perde o controle e age com impulsividade.
O crime passional é fruto de todo desajuste causado por uma paixão.
Observe se sua relação está caminhando para a violência, ou até para a
infelicidade de um crime passional. Se constatar que sim, é preciso atenção.
7. Autoestima

Resgatando a autoestima
Quando você se lembra de que é digno de ser amado, consegue evoluir na
direção do amor. Por outro lado, quando acredita que não merece ser amado,
para de crescer.
Carl R. Rogers, fundador da psicologia humanista, trata essa questão da
autoestima como a raiz dos problemas de muitas pessoas que se desprezam, pois
estes se consideram seres sem valor e, portanto, indignos de serem amados. Na
escola humanista, o conceito de autoestima resume-se no seguinte axioma:
“Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato de ser, é digno do respeito
incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se
lhe estime”.
Como está sua autoestima?
Uma paciente pode relatar em sessão:
“Hoje, já não me vejo mais; antes, eu gostava muito de como era, tinha
amor próprio, gostava do meu jeito de ser, colocava minhas necessidades na
relação, respeitava o que eu sentia, não tinha medo de ser eu”.
Em que momento você perdeu?
É fundamental que se possa identificar em que momento você perdeu sua
autoestima, o que aconteceu ao longo da sua vida. É comum ouvir dentro do
consultório histórias de pacientes que sentem sua autoestima abalada depois de
terem sofrido uma traição, humilhação, agressão física, enfim, algumas atitudes
que vivenciaram dentro do relacionamento afetivo e que, por alguma razão,
ainda permaneceram na relação.
Uma paciente pode relatar em sessão: “Estou vivendo há anos um casamento
em que sou humilhada todos os dias; ele tem vergonha de mim, sempre está me
criticando, seja dentro de casa ou na frente dos amigos. Fala que sou feia, que
tem nojo de mim,que sou incapaz de fazer qualquer coisa, que jamais
conseguirei ser alguém na vida, que está comigo por dó…”.
Nesse momento podemos nos questionar: o que acontece com essa pessoa, a
ponto de submeter-se a esses tipos de maus tratos? O que a faz permanecer nessa
relação?
Construção da autoestima
A construção da nossa autoestima está presente desde cedo: nos nossos
primeiros anos de vida, na soma das experiências positivas vivenciadas na
infância, sentimentos de realização, elogios por parte dos cuidadores, incentivo,
valorização do ser.
Os pais sem dúvida desempenham um papel importante na construção da
autoestima dos filhos, permitindo que estes sintam-se mais seguros, amados,
valorizados, capacitados. As críticas severas, por outro lado, podem deixar
sequelas e traumas profundos - afinal, as primeiras noções de autoestima das
crianças são os olhares que os pais tem sobre elas.
A nossa autoestima vai sendo construída desde o início da primeira infância.
Nesse primeiro momento, é o olhar do outro que diz quem somos nós. Então,
quando desde pequenos escutamos críticas negativas, tais falas deixam marcas
que permanecem ao longo da vida - “Você não é capaz”; “Você é feio”; “Burro”;
“Não presta para nada”. Introjetadas essas criticas desde quando o indivíduo e
criança, pela falta de estrutura, por ser ele pequeno, muitas vezes elas
permanecem na memória até a vida adulta; quando a pessoa então cresce e
começa a se olhar, nesse momento ela está insegura, em razão dessas marcas
negativas das quais o adulto não consegue se separar: aquilo que outro disse não
é aquilo que ele de fato é.
A raiz está ali: como as pessoas me veem? A gente se vê a partir do olhar do
outro, e se esse outro só repara nos nossos defeitos e critica os nossos
comportamentos, mas não reconhece aquilo que e correto, que e elogiável, a
criança vai crescendo com a sensação de que ela não agrada, não é bacana, não
será amada por si mesma; ela precisará sempre fazer alguma coisa especial para
que o outro a ame. No momento em que a pessoa percebe a necessidade de fazer
algo além, ela começa a viver com a função de agradar não a si mesma, mas
primeiramente ao outro.
Quando o adulto cresce com essa construção de derrotas e fracassos, ele
começa por dizer: “Eu não sou capaz, não sou bonito ou interessante, não tenho
valor, ninguém vai gostar de mim, não mereço ser amado…”.
Para que a autoestima possa então ser resgatada, é preciso desconstruir
marcas negativas que a afetaram, que ficaram não somente nas relações
primarias com os cuidadores, mas na escola, nos amigos, enfim, em outros
ambientes também.
Após uma desconstrução e compreensão da sua vida, você poderá resgatar
sua autoestima, compreendendo que não é porque foi criticado, rejeitado ou
desvalorizado durante sua infância que não merece ser amado e respeitado; que,
apesar das situações desfavoráveis vivenciadas, você poderá, sim, viver uma
relação de respeito, carinho, amor e reciprocidade.
Você começa então a resgatar-se, a valorizar suas potencialidades; aprende a
amar-se primeiro, passa a apreciar suas qualidades e aceitar os seus defeitos; não
aceita aqueles que não lhe valorizam, e começa a colocar limites em suas
relações: percebe que o outro só faz aquilo que você permite, e quando você se
enxerga digno de ser amado, não aceitará ter uma relação com alguém que não
lhe ame.
8. Frases

Sua identidade é a soma, a combinação de suas crenças sobre quem você é e


do que e capaz. E como distingue você mesmo de todas as outras pessoas do
mundo.
Levante seu olhar, cuide da sua postura, fique atento aos seus pensamentos.
Organize suas emoções e siga em frente. Crie um novo caminho e aprecie a
alegria de fazer algo novo todos os dias.
Cuidado com os laços que você cria. Escolha as pessoas com as quais deseja
conviver, identifique valores, comportamentos e atitudes. Nossos
relacionamentos devem agregar, trazer crescimento. Busque autoconhecimento,
abra novos caminhos e novas possibilidades e assuma o controle da sua vida.
Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo e persistência.
Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva e os
resultados apareçam.
Nunca mude seu jeito de ser para satisfazer as pessoas que ama, pois quem te
ama não te muda, mas te completa.
Deixe de ser vítima dos seus problemas: assuma sua responsabilidade e
mude o que não está bom. Ouse fazer diferente.
Amor e apego são coisas diferentes. O amor te faz crescer e o apego te torna
dependente.
As decepções e tristezas que você sente não são responsabilidade do outro,
mas da falta de limite e dos “nãos” que você deixou de usar.
Dedique um tempo para se conhecer, para experimentar coisas diferentes e
para lapidar suas qualidades e habilidades. De muitas delas você nem se deu
conta, porque se esqueceu de olhar para você.
Até quando você se negará a ver a realidade?
Quando a relação termina, você precisa “desidealizar” tudo aquilo que
idealizou; precisa olhar as coisas mais pela razão do que pelo desejo.
O que você ganha nessa relação, anulando-se o tempo todo?
Como você quer mudança sem sair do lugar?
Você consegue encarar a realidade da relação ou fica buscando justificativas?
Você precisa deixar ir aquilo que não lhe acrescenta mais nada.
Você pode viver uma vida lamentando suas escolhas, ou começar a fazer
diferente.
O que você tem feito para sair desse lugar que não lhe agrada?
Que você tenha saudade do seu amor próprio e resgate-o!
De quantas decepções você precisa para tomar uma atitude?
Sera que você não esta com medo de terminar algo que já acabou?
Mude, você merece mais do que migalhas!
O que você tem feito com aquilo que não lhe agrada no relacionamento?
Às vezes e melhor só deixar ir. Prender causa dor.
Como seria seu relacionamento se você tivesse amor próprio? Já pensou
sobre isso?
Não alimente o que não é reciproco.
Como você pode chamar isso de amor, quando você mais chora do que sorri?
Amor não deve ser mendigado!
Quem está ao seu lado quando você realmente precisa?
Você ama a pessoa que tem ao seu lado ou quem imagina que ela poderá ser
um dia?
Se você não vê o seu valor, acabará sempre com alguém que também não vê!
Quando a sua autoestima esta baixa, o pouco que você recebe é tudo.
Você pode melhorar sua autoestima, ou não gostar de si a vida inteira.
Você acha que, com tanta fala sem atitude, sua fala tem peso?
Se o amor não é visto nem sentido, não existe ou não lhe serve.
Por que, ao invés de supervalorizar o outro, você não começa a observar suas
qualidades?
Desistir daquilo em que se insistiu demais e não houve reciprocidade não e é
perder, é ganhar.
Quem aceita migalhas nunca poderá reclamar do pouco que tem.
Ha quantos anos você esta acreditando que o outro ira mudar?
Por que você esta lutando para estar ao lado de quem o(a) humilha?
Nada muda, de fato, ate que você esteja disposto a gostar de si mesmo.
Ame-se, para que possa amar o outro.
Não tente voltar para o que o(a) quebrou.
Não justifique no amor ao outro a sua falta de amor próprio!
Não é por amor ao outro que você se submete; é por falta de amor próprio
que você o faz!
Não permita que as humilhações sejam definitivas!
Você escolhe manter-se humilhado ou levantar-se para a vitoria!
O problema não é só a humilhação, é a não reação diante dela!
Será que você já se acostumou tanto a ser vítima que dificilmente consegue
tomar atitude e mudar de vida?
Permita-se começar novamente!
Lembre-se dessa máxima: se o outro o considera parte do passado, então que
ele não seja parte de seu presente.
Dizer que “sem ele, não sou nada!” ou “sem ela, minha vida não faz sentido”
é pôr a própria existência em mãos alheias!
E se você deixar a ilusão de lado nessa relação, o que sobra?
Quando vai mudar essa realidade que o(a) entristece?
Quando você se enxerga digno de ser amado, você não aceitará ter uma
relação com alguém que não o(a) ame.
O poder que o outro tem é você quem dá!
Sera que você tem saudade do outro porque foi embora, ou você tem saudade
da pessoa que deixou de ser por causa do outro?
Não chame de destino as consequências de suas próprias escolhas!
Quando eu me aceito, me liberto do peso de precisar que você me aceite!
Se você soubesse do poder que tem, não daria tanto poder para o outro,
ficando sem.
Permita-se ceder, mas não deixe de ser você!
Que você seja sempre motivo suficiente para colocar um sorriso no rosto.
Não precisamos esquecer um amor. Precisamos aprender a não depender de
alguém para sermos felizes.
O que você tem feito para agradar a si mesmo?
De que adianta ganhar o outro e perder a si mesmo?
O pó que você coloca no rosto para esconder uma marca poderia ser
simplesmente um pó para exaltar ainda mais sua beleza!
Não encarar a realidade não faz com que ela deixe de existir!
Perdeu ou nunca teve?
Não procure alguém para fazê-lo feliz; seja feliz e encontre alguém para
transbordar nele sua alegria!
Iludir-se é natural, mas ficar insistindo na ilusão é falta de amor próprio.
Até quando você se negará a ver a realidade?
O amor de um só não sustenta uma relação.
Amar não é aceitar tudo.
Levante, olhe para sua vida: está na hora de secar essas lágrimas e começar a
fazer algo por você!
Quanto mais você prende, mais o outro deseja a liberdade!
Que tipo de relacionamento você tem se permitido viver?
A vida pode até derrubá-lo(a), mas é você quem escolhe a hora de se
levantar.
Aceitar limita o sofrimento e promove a mudança!
Sua vida muda quando você muda.
Conclusão

Quando a autoestima está enfraquecida, você autoriza que o outro lhe trate
de uma maneira violenta; não consegue se respeitar aceitando aquilo que é dito,
não tem força para se posicionar, acredita ser merecedora daquele tratamento
porque realmente passa a se olhar da maneira como o outro a olha - “Eu não sou
ninguém”; “Eu realmente sou feia”; “Eu acho que ele tem razão, olha para mim,
eu mereço ouvir tudo isso…”.
Para definir limites, você precisa conhecer os seus próprios. Isso significa
que você, e apenas você, precisa decidir o que aceitará em seu relacionamento.
Quando você está em dia com a sua autoestima, é confiante em si mesma, está
pronta para estabelecer limites. Você conseguirá se posicionar e dizer: “Não
aceitarei…”; “Não aceitarei comentários ou ‘brincadeiras’ que me menosprezem,
me humilhem ou me ofendam”.
Sua reação segura enviará a seu companheiro uma mensagem clara de que
você está falando sério, e de que não vai aceitar nenhum abuso. Você precisará
responder assim que ouvir o tom da voz dele.
Devemos chamar a atenção principalmente se você estiver vivendo um
relacionamento novo e vir sinais preocupantes de violência verbal: aja com
sabedoria e termine a relação.
Quando você se permite pensar sobre sua historia de vida com relação ao
amor próprio, poderá perceber então que a raiz de quase todos os nossos
problemas está na falta de amor próprio.
Observe, dentro do seu relacionamento, como está sua autoestima,
principalmente se você está vivenciando um relacionamento de sofrimento. Você
acredita que sua fonte de amor está no lado de fora?
Ao descobrir que a sua fonte de amor não está do lado de fora, você para de
colocar as pessoas em pedestais ou transformá-las em ídolos. Você as trata como
iguais.
Você ama incondicionalmente, sem fazer nenhuma cobrança emocional.
Você faz boas escolhas sobre a quem dar seu número de telefone, com quem
namorar, com quem fazer amizade e quando é hora de terminar um
relacionamento.
Sua capacidade de amar a si mesmo também influencia sua capacidade de ser
amado pelos outros. Quando se sente digno de receber amor, você não tem
necessidade de transmitir uma imagem agradável para conquistar o afeto alheio.
Amor próprio não é o que você faz por si mesmo; é a essência de quem você
é.
Dentro do relacionamento, é comum o desejo de ser aceito pelo parceiro (a),
que goste de como você é, que respeite, ame e valorize; há um desejo constante e
manifesto dessa aceitação por parte do parceiro. Agora lhe perguntamos: você se
aceita?
Você deseja que o outro faca isso por você, mas é algo que nem você tem
feito por si mesmo?
Aceitar a si mesmo é entrar em contato com seu interior, e enxergar o que é
verdadeiro sobre você, não apenas críticas, conceitos e crenças.
Já se permitiu, alguma vez, olhar para si sem críticas? Sua autocrítica cria
uma imagem de você mesmo que afirma: “Eu não sou digno de ser amado”.
Quando você para de julgar, olha para si mesmo com olhos de amor e percebe
como é totalmente digno de ser amado.
Observe sempre que você não se sentir digno de ser amado, se não está se
julgando.
“Não sou o suficiente”. Já ouviu essa frase ou já a pronunciou alguma vez?
Quando você acredita que não merece ser amado, perde a noção de quem você é.
Quem disse que você não é? De onde vem essa fala? Se faz necessário
observar o seu comportamento: por que você não é suficiente? Ao olhar-se no
espelho, vê uma pessoa que não é bonita, atraente, bem-sucedida ou inteligente.
A percepção é substituída pela crítica.
E esse olhar que você tem sobre si de fato é seu? Será que, ao longo da sua
vida, não houve situações em que você pode ouvir isso nas suas relações, seja no
ambiente familiar, escolar, profissional, etc.?
Como as pessoas se relacionavam com você? O que ouviu? Como foi crescer
dentro desses ambientes?
Para que seja possível diferenciar-se do olhar do outro que nos julga e nos
define - já que, muitas vezes, nos apropriamos daquilo que foi dito e acreditamos
ser verdadeiro -, temos que, primeiramente, separar o que pensamos sobre nos
mesmos do que acreditamos que os outros disseram sobre nós.
Será que você não tem se visto a partir do olhar do outro?
Ainda que você não tenha tido pais perfeitos, mesmo que não tenha sido
criado com o amor incondicional e que sua vida seja cheia de sofrimento, o fato
de alguém amar ou não amá-lo(a) não determina se você merece ou não ser
amado.
Sua infância não é o ultimo capítulo em sua história. Seu primeiro amor não
é seu único amor. Sua maior decepção amorosa não resume todo o romance de
sua vida.
Um passado infeliz, por mais terrível que seja, não justifica que você se sinta
indigno de amor. Muito menos que pare de se amar. Na realidade, é um motivo
para se amar ainda mais.
Quando você transforma uma pessoa numa fonte de amor - seja ela um
amigo, um parente, um namorado -, ela também se torna uma fonte de medo, de
infelicidade e de sofrimento.
No amor ninguém é melhor do que ninguém, ninguém é superior ou inferior,
ninguém é mais digno de ser amado. Se você não se amar, sempre ficará com a
sensação de que ninguém o ama o suficiente.
Colocando a questão de outra forma: até que você aprenda a se amar, não
conseguira ver o quanto as pessoas realmente gostam de você.
Nessa construção da autoestima é fundamental olhar principalmente para
aquilo que gosta em você; supervalorize o que goste, aceite aquilo que não gosta
e que não é possível mudar, e mude aquilo que for possível. Isso aumentará
ainda mais sua autoestima, seja por uma mudança no visual, por sua
independência financeira, por aprender algo novo… Enfim, olhe para aquilo que
você muitas vezes admira no outro e busque realizá-lo em você. Enquanto você
perde tempo admirando as conquistas, o comportamento e a beleza, entre outras
coisas que admira no outro, vá buscar sua própria realização.
Bibliografia

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2009.
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2003.
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