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A formulação seminal da reatualização do conservadorismo

(José Paulo Netto)

FENOMENOLOGIA- ANA AUGUSTA DE ALMEIDA

A autora Anna Augusta de Almeida, representante da “ nova proposta” – (a Fenomenologia


Existencial com traços do Personalismo Cristão e categorias do Neotosmismo) considerada por
José Paulo Netto como a Reatualização do Conservadorismo.

Almeida, dentro de sua proposta, realiza uma critica ao padrão positivista de ciência . Acredita
que a ciência não responde quando se trata de especificidade, ela limita ao buscar a
compreensão da unicidade homem-mundo. Sendo que Netto, enxerga que a colocação de
Almeida gera um dilema típico de seu personalismo, nascente das ideias e tentativa de
mediação entre a singularidade e universalidade. .

Como solução desse dilema, Almeida acredita estar em sua nova proposta “metodologia
genérica” que consiste na busca sistemática dos movimentos que o pensamento faz para
superar a dualidade sujeito-objeto numa unidade dinâmica (SEP), sem renunciar á exigência de
controle crítico de seu modo de proceder e de seus resultados”

Sendo Netto é nessa altura que denota a regressão da concepção de Almeida, pois o objeto do
Serviço Social é deslocado de situação social problema (perspectiva modernizadora) para
situação existência problema (SEP).

Os pressupostos teóricos são encontrados numa tríade conceitual: diálogo, pessoa e


transformação social, cuja articulação destes constitui a metodologia profissional caracterizada
como ajuda psicossocial. Ela se concretiza a partir de um “mergulho no ser” através do diálogo
que busca a investigação de uma verdade e a construção de um projeto social. Inseri a
categoria de pessoa na visão de cliente, tomando parte dos conceitos fenomenológicos, o
personalismo e neotomismo, ao reconhecer o cliente por sua condição humana e
considerando-o como sujeito, racional e livre. Almeida, no conceito de transformação social,
discorre que é na interação humana das singularidades, entre o assistente social e seu cliente
(individuo ou grupo) ocorre um enriquecimento entre as partes, pois se transformam na
relação que de um lado um provoca uma intenção e outro responde a provocação. Por este
motivo é vinculado a noção de projeto, pois aparece como o ato de transformar. Em síntese a
nova proposta, caracteriza-se na interação compartilhada entre profissional e cliente, diante
de uma SEP (Situação existencial problema), tomando como partida o sujeito em suas
singularidades, considerando a ajuda no nível existencial-pessoa, e utilizando de vários
conhecimentos do profissional e história de vida do cliente, enxergar a situação de uma forma
diferente e ampla, assim identificar e escolher um novo posicionamento diante dela.

Para Netto, a “nova proposta” de Almeida não deixa o tradicionalismo profissional e o


conservadorismo, pois ela recupera através da herança psicossocial, a tendência da
centralização das dinâmicas individuais o viés psicologizante. Legitima a intervenção na
microatuação, encontrada no discurso da pessoa e da existência, adquirindo uma justificação
mais profunda. Em nível de políticas sociais, Almeida não apresenta solução, posto que há uma
tensão, na vocação em intervir na microatuação e a exigência em intervir na macroatuação,
não apresenta solução, pois não explicita a tensão
( José Paulo Netto a formulação seminal da reatualização do
conservadorismo)
Segundo Netto (2006, p. 201), foi no marco do Seminário de Sumaré (1978) e no Seminário do
Alto da Boa Vista (1984) “que se explicitou” a perspectiva da reatualização do
conservadorismo. Ela foi “[...] expressa primeiramente na tese de livre-docência de Anna
Augusta de Almeida (1978), texto base nesta perspectiva [...]”, intitulada a “nova proposta” Foi
significativa a preocupação dos teóricos da perspectiva da reatualização do conservadorismo
em buscar um suporte metodológico na fenomenologia. Antes disso, a fenomenologia não era
conhecida no meio profissional, é o que indica Netto (2006, p. 208-209). Esses teóricos não se
apoiaram na teoria positivista e na teoria marxista, mas na teoria fenomenológica. No que se
refere à abordagem positivista, o autor faz a seguinte observação: “[...] ao ‘pensamento causal’
quer substituir-se ‘um pensamento não causal’ o fenomenológico, cujo quadro de referência
não é a explicação, mas a compreensão’” (CARVALHO,1987. Citado por NETTO, 2006, p. 205).

Em relação à abordagem marxista, Anna Augusta de Almeida e outros autores da perspectiva


da reatualização do conservadorismo não vislumbram mudanças na organização da sociedade.
Almeida“[...] nada incorpora das problemáticas relativas às lutas de classes, às formas de
manipulação ideológica, aos modos de controle das classes subalternas, à divisão social e
técnica do trabalho, ao Estado [...]”(NETTO, 2006, p. 229). Sem discutir as causas, nem os
conflitos de classe, a perspectiva da reatualização do conservadorismo trouxe à tona
elementos do conservadorismo e do pensamento católico dando-lhe um novo formato. Anna
Augusta é a responsável pela formulação seminal desta vertente no processo de renovação do
serviço social no Brasil

A perspectiva de reatualização do conservadorismo

Perspectiva de origem católica conservadora que reivindica a relação cara a cara no espaço

Netto (2011) assevera que o pensamento conservador é uma expressão cultural situada em
um chão histórico, a saber, o tempo e o espaço da configuração da sociedade burguesa. No
contexto da transição do feudalismo para a consolidação do capitalismo, da incitação
provocada pela Revolução Industrial exigindo uma nova cultura para as relações sociais
vigentes, têm-se os elementos que basearam a revolução burguesa. A mobilização política da
burguesia, sua consolidação enquanto classe no novo modo de produção impôs
modernizações às instituições sociais, mas "O protagonismo revolucionário da burguesia cede
lugar a um desempenho defensivo, voltado para a manutenção das instituições sociais que
criou" (NETTO, 2011, p. 47). Ao se afirmar como classe dominadora, a burguesia não mais
defende ideais progressistas, uma nova ordem societária, mas busca composições culturais
que fundamentem a manutenção de seu status quo. Neste giro, as propostas do capitalismo
perderam seu caráter progressista, aquelas que entendiam a razão como ilimitado poder para
conhecer o mundo e os processos sociais, passando, agora, a defender que à razão não cabe
esse caráter de compreensão da totalidade social.

José Netto (1994), afirma que a razão moderna e a lógica da ordem burguesa são colidentes
com as implicações do historicismo e da dialética, pois estas tem como consequência a
compreensão da condicionalidade histórica da ordem burguesa, de sua transitoriedade, o que
pode detonar comportamentos políticos em busca de sua radical alteração. Mas a negação da
razão como possibilidade de se apreender o real não significou o divórcio com a ciência, pelo
contrário: "é assim que o conservadorismo vai dar as mãos ao positivismo e, no pós-48,
fundando as modernas ciências sociais, tornar-se-á um importante componente da cultura
burguesa do período da decadência" (NETTO, 2011, p. 52, grifos do autor).

José Netto (2005) aponta três direções principais com o processo de erosão do Serviço Social
alicerçado nas bases tradicionais no contexto de renovação da profissão: a perspectiva
modernizadora no tocante às concepções profissionais; a reatualização do conservadorismo; e
a intenção de ruptura.

Cerceados pelo contexto repressor do governo ditatorial, a busca pela renovação no Serviço
Social recai numa reatualização da herança conservadora. A profissão não questionava as
relações nas quais estava inserida e negava o caráter de classe na qual a sociedade estava
estruturada, sendo o Movimento de Reconceituação direcionado ao investimento no
aperfeiçoamento da técnica. A materialização do esforço da categoria neste movimento de
renovação teórico-metodológica é a realização dos Encontros de Araxá (1967) e Teresópolis
(1972). Segundo Ozanira Silva (1994, p. 88), "Os documentos produzidos, em ambos os
encontros, explicitam e reafirmam a diretriz tradicional do Serviço Social que busca a
integração social, assumindo a perspectiva de modernização colocada no contexto da
sociedade brasileira como um todo".

A segunda direção, mencionada por José Netto (2005, p. 158), diz respeito à tendência de
atuação do Serviço Social fundado na perspectiva de ajuda psicossocial, reclamando a doutrina
fenomenológica. A reatualização do conservadorismo recusa o positivismo e os incipientes
debates sobre a teoria marxiana no interior da profissão, e resgata o traço microscópico da
profissão, pois "trata-se de uma 'cientificidade' evanescente, onde, em nome da
'compreensão', dissolvem-se quaisquer possibilidades de uma análise rigorosa e crítica das
realidades macrossocietárias e, derivadamente , de intervenções profissionais que possam ser
paramentadas e avaliadas por critérios teóricos e sociais objetivos".

A terceira dimensão é um contraponto direto com as já explicitadas, uma vez que propõe a
ruptura com o Serviço Social tradicional. Diz respeito à pretensão de romper com a tradição
positivista e com a direção do reformismo conservador. Para tanto, recorre à tradição
marxista, assumindo uma retórica politizada, ampliando as referências teóricas, políticas e
ideológicas para se pensar a profissão.

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