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APLICADA
LC/SC 807/2022 - Res. 02/23 do CM/TJSC
VERSÃO 1.0
Autor
Gustavo Soares de Souza Lima
Tabelião Titular
2° Tabelionato de Notas e Protesto de Títulos de
Tubarão - SC
Cooperação
Lucas Paes Koch
Registrador de Imóveis Interino
1° Ofício de Registro de Imóveis de Itajaí- SC
O presente material é
complementar ao
treinamento realizado em
24/03/2023, transmitido pelo
canal do TJSC no Youtube.
QUADRO DE REVISÕES E ATUALIZAÇÕES
INTRODUÇÃO 4
ANTES DE MAIS NADA, ENTENDENDO A LC Nº 807/2022 6
O NOVO FUNDO DE REAPARELHAMENTO DA JUSTIÇA 10
1. A NATUREZA JURÍDICA DO FRJ: TAXA DE PODER DE 10
POLÍCIA
2. O ASPECTO MATERIAL DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA: ATO 10
OU SERVIÇO NOTARIAL OU DE REGISTRO PÚBLICO
3. MOMENTO DA INCIDÊNCIA (ASPECTO TEMPORAL): A 11
PRÁTICA DO ATO (REGRA GERAL)
4. INCIDÊNCIA NO RECEBIMENTO DE EMOLUMENTOS 11
DIFERIDOS (A EXCEÇÃO)
5. BASE DE CÁLCULO: O VALOR DOS EMOLUMENTOS 12
6. BASE DE CÁLCULO: ATO PRINCIPAL E SEUS ACESSÓRIOS 13
7. BASE DE CÁLCULO NOS CASOS DE DIFERIMENTO 15
8. ALÍQUOTA 15
9. O NOVO FRJ TERÁ PISO OU TETO? 15
10. ISENÇÕES 17
11. REDUÇÃO ESPECÍFICA: O REGISTRO DE GARANTIAS DO 18
CRÉDITO RURAL
12. ISENÇÃO ESPECÍFICA: PROTESTO DO TÍTULO DE 19
DEVEDOR MICROEMPRESA
13. PAGAMENTO DO FRJ PELO USUÁRIO 20
14. ATOS SOLICITADOS A SERVENTIA DIVERSA DAQUELA 21
QUE PRATICARÁ O ATO
15. DISCRIMINAÇÃO DO FRJ NO CORPO DO ATO E NO 22
RECIBO
16. A GUIA DE RECOLHIMENTO DEVE SER MENCIONADA NO 23
ATO?
17. RESTITUIÇÃO DO FRJ AO USUÁRIO 24
18. RESTITUIÇÃO QUANDO O ATO É PRATICADO POR OUTRA 24
SERVENTIA
19. OS CASOS QUE ENSEJAM RESTITUIÇÃO 25
19.1 Mudança na cotação 26
19.2 Cancelamento ou retificação do ato 26
19.3 Desistência da parte 27
19.4 Inobservância de redução, dispensa, isenção ou não 27
incidência de emolumentos
20. A COMPENSAÇÃO NA APURAÇÃO MENSAL DO FRJ 27
21. COBRANDO O FRJ DA SERVENTIA: O LANÇAMENTO 29
DE OFÍCIO
Diz-se que uma imagem vale por mil palavras. Pois olhe acima: essas caixas
representam uma parte dos documentos separados por um ofício de registro de
imóveis deste Estado para auditoria do Fundo de Reaparelhamento da Justiça.
Vale frisar: a foto encerra apenas parte dos documentos. Segundo o titular, foram
separadas ainda várias outras caixas que ocuparam, ao final, as prateleiras de
dois armários inteiros da serventia, enquanto aguardavam análise.
Essa imagem bem sintetiza o que se tornou o FRJ ao longo dos anos.
A presente cartilha tem por objetivo discorrer sobre essas mudanças e, sem a
pretensão de esgotar o assunto, orientar na sua aplicação inicial e tentar
responder algumas das perguntas que naturalmente surgirão.
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ANTES DE MAIS NADA, ENTENDENDO A LC Nº
807/2022
O cenário envolvendo a arrecadação do Fundo de Reaparelhamento da Justiça e
sua consequente fiscalização apontava para um diagnóstico cristalino:
razão que o justificasse, selos distintos e com grande diferença de valores entre
si, para a serventia e para o usuário.1
Paralelamente, havia atos em que o valor do selo era praticamente igual, ou até
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significativamente maior, que os emolumentos a ele correspondentes.
c) racionalização;
d) transparência; e
Em segundo lugar, o selo de fiscalização não teria mais um valor fixo, e passaria
a ser proporcional e calculado sobre os emolumentos do ato, da mesma forma
que o fundo. Essa opção permitiria adicionalmente a simplificação dos tipos de
selo existentes, que seriam reduzidos a apenas dois: isento, para os casos em
1 Valores unitários cobrados do usuário e de aquisição pelas serventias previstos para o ano de 2023 no anexo I da
Resolução nº 17/2022-CM, respectivamente: selo normal (1 ato), usado no registro - R$ 3,39 e R$ 3,15; selo escritura com
valor - R$ 16,93 e R$ 16,69. Fonte: anexo I da Resolução nº 17/2022-CM.
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2 Em valores vigentes para 2023 até a entrada em vigor da LC nº 807/2022, os emolumentos por um reconhecimento de
firma correspondem a R$ 4,23 (tabela 1, nº 9), sendo que um selo DUT, aplicado quando o ato envolve a transferência de
veículo automotor, custa R$ 4,83 (valor unitário cobrado do usuário) e R$ 4,69 (custo de aquisição pela serventia). Fonte:
LC nº 755/2019, com valores atualizados pela Resolução nº 18/2022-CM, e anexo I da Resolução nº 17/2022-CM.
que houvesse a isenção de emolumentos com direito a ressarcimento, e normal
para os demais.
Tanto FRJ quanto selo passariam a ser cobrados do usuário junto com os
emolumentos pelo ato praticado, independentemente do pagamento prévio de
guias, e os valores arrecadados seriam repassados pelas serventias ao Poder
Judiciário uma vez por mês.
Ela foi analisada tendo como ponto de partida os dados do faturamento das
serventias, disponíveis no sistema Justiça Aberta do CNJ, e da arrecadação do
FRJ nos cinco anos que antecederam a apresentação do projeto (2017-2021),
buscando-se a composição de um percentual que, globalmente, permanecesse
“neutro”, sem acréscimo ou redução do total arrecadado quando comparado
com a sistemática até então vigente.
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O NOVO
FUNDO DE REAPARELHAMENTO DA JUSTIÇA
Não importa. Havendo ato ou serviço praticado por notário ou registrador sujeito
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Com isso, a lei adotou o regime de competência, e o fez observando o que está
previsto no art. 6º do Provimento nº 45 do CNJ, segundo o qual as receitas das
serventias deverão ser lançadas no Livro Diário Auxiliar da Receita e da Despesa
no momento da prática do ato.
A lei foi clara quanto aos casos de diferimento sujeitos à incidência pelo regime
de caixa, vale dizer, no momento do efetivo pagamento dos emolumentos:
apenas quando decorrer de previsão legal ou decisão judicial.
Ainda que tenha sido considerada válida pelo eg. Conselho da Magistratura no
julgamento da Consulta nº 0002024-30.2021, rel. Des. Dinart Francisco Machado,
j. 09/02/2021, aqui não há norma ou decisão judicial impondo o diferimento;
todavia por razões gerenciais, de conveniência do usuário ou do próprio notário
ou registrador, o ato é praticado em determinado mês e pago no seguinte.
Em se tratando de uma opção, ela não foi contemplada no parágrafo único do art.
6º da LC nº 807/2022: praticado o ato sujeito a cobrança de emolumentos do
usuário, o FRJ efetivamente incidirá no momento da sua realização (regime de
competência) e a taxa deverá ser recolhida no prazo legal, pouco importando
quando ‒ e se ‒ houver o efetivo pagamento pelo mensalista/correntista à
serventia.
Logo, não incide FRJ sobre qualquer outro valor recebido pelo notário ou
registrador que não constitua emolumento decorrente da prática de um ato
notarial ou de registro.
Ajuda de custo não é emolumento, e sobre ela não incide FRJ. Idem no tocante
aos ressarcimentos, considerada sua natureza indenizatória pela prática de um
ato gratuito. A Taxa de Serviços Judiciais ‒ TSJ devida pela distribuição de títulos
a protesto não é emolumento e não integra a base. Valores que são recebidos
pelo ofício do registro civil das pessoas naturais e são repassados ao Juiz de Paz
pela celebração do matrimônio, ainda que previstos na LC nº 755/2019, não
correspondem a emolumentos pagos por ato notarial e de registro público,
justamente porque, desculpe-se o truísmo, são devidos ao Juiz de Paz e este não
pratica ato notarial ou de registro público. E por aí vai.
Daí se extrai uma importante “regra de bolso”, que bem sintetiza a nova
sistemática: se pelo ato notarial ou registral praticado forem cobrados
emolumentos do usuário, sobre eles, e apenas eles, incidirá o FRJ.
Não raro, o ato notarial e de registro público praticado enseja a cobrança de mais
de uma rubrica prevista na LC nº 755/2019: não apenas os emolumentos pelo ato
propriamente, mas também itens acessórios que são indispensáveis para que ele
se conclua, ou então são dele decorrentes.
Para essas hipóteses, uma dúvida que naturalmente surge: o FRJ deverá ser
calculado para cada rubrica isoladamente? Essa é uma questão importante, pois
influenciará nos arredondamentos do cálculo e, portanto, no montante final que
deverá ser recolhido.
Mas também nesse caso os emolumentos devem ser somados para se aferir
aquilo que é devido pelo instrumento lavrado, e que constituirá a base de cálculo
do FRJ. Afinal, sua soma é que corresponderá aos emolumentos pelo ato que foi
praticado (o instrumento público lavrado), pouco importando que, em
cumprimento à obrigação acessória de que trata o art. 14 da LC nº 755/2019,
eles sejam contatos isoladamente à margem do ato.
Toda forma, mantém-se aqui também a “regra de bolso”: o FRJ será calculado
sobre o valor dos emolumentos pagos pelo usuário, e esse montante sujeitar-se-
á às variações que ocorrerem entre o momento em que o ato foi praticado e a
data do efetivo pagamento.
8. ALÍQUOTA
A alíquota foi definida em 22,73% (vinte e dois inteiros e setenta e três décimos
por cento) dos emolumentos do ato praticado, observada, como já exposto
acima, a soma de todas as rubricas que os compõem para a apuração correta da
base de cálculo.
E isso porque, como já visto, a base de cálculo do FRJ será sempre o valor dos
emolumentos do ato notarial ou de registro praticado. De um lado, havendo
cobrança pelo ato praticado, sobre ela haverá incidência, qualquer que seja o
montante. Doutro, atingido o limite máximo (teto) dos emolumentos por objeto ou
negócio, ter-se-á a maior base de cálculo possível para aquele dado objeto ou
negócio e, dessa forma, o maior valor do FRJ em relação a ele. Piso e teto do
novo FRJ estão indissociavelmente atrelados aos próprios valores mínimo e
máximo dos emolumentos devidos pelo ato praticado, na medida em que um é
razão do outro, e ambos caminham juntos.
Não fossem o piso e o teto previstos na antiga redação do art. 3º-A da Lei nº
8.067/1990, o FRJ, cobrado à razão de 0,3%, totalizaria R$ 30,00, R$ 300,00, R$
3.000,00 ou R$ 30.000,00, respectivamente (para 2023, o valor máximo a
recolher é R$ 1.055,56).
Claro que se um ato envolver múltiplos bens, ele resultará em uma base de
cálculo maior, pois cada um deles, por si só, será uma referência na cotação dos
emolumentos. Afinal, emolumentos totais constituirão a base de cálculo do FRJ, e
sobre ela aplicar-se-á a alíquota de 22,73%, chegando-se ao montante a
arrecadar.
No entanto, isso já acontecia no regime anterior, pois cada objeto era submetido
individualmente ao FRJ, sendo tantos a recolher quanto fosse a quantidade de
bens. E isso não muda, apenas o critério que se utilizará para apurar o valor
devido: emolumentos do ato praticado, e não mais o valor do objeto ou do
negócio.
10. ISENÇÕES
4 Valor de um teto para o registro de título com conteúdo econômico, conforme previsto na tabela III, nº 2.2.22, com
valores atualizados pela Resolução nº 22/2022-CM.
aspecto negativo (se NÃO há cobrança de emolumentos, NÃO há incidência de
FRJ), seja como um elemento de diminuição (se os emolumentos são
REDUZIDOS, o FRJ também será, e na mesma proporção).
Tudo porque a taxa passou a incidir sobre o ato praticado, qualquer que seja ele,
sendo calculado sobre os correspondentes emolumentos que são cobrados do
usuário.
Essa redução está prevista no art. 2º, § 2º, da Lei Federal nº 10.169/2000, com
redação dada pela Lei nº 13.986/2020, e foi incorporada no art. 8º da Resolução
nº 02/2023-CM, ambos limitando o FRJ a 5% do valor pago pelo usuário a título
de emolumentos nos atos provenientes da constituição de direitos reais de
garantia mobiliária ou imobiliária destinados ao crédito rural.
O benefício ora tratado está originalmente previsto no art. 73, inciso I, da Lei
Complementar Federal nº 123/2006, segundo o qual não incidirá qualquer
acréscimos a título de taxas ou outras rubricas sobre os emolumentos do
tabelião quando, no protesto do título, o devedor for microempresa ou empresa
de pequeno porte.
Por sua vez, o parágrafo único do art. 9º, em comento, estabelece a forma de
comprovação do requisito necessário para a fruição da isenção, determinando
que a condição de microempresário, microempresa e empresa de pequeno porte
será comprovada mediante documento expedido por órgão integrante do
Registro Público de Empresas Mercantis ou por ofício do registro civil das
pessoas jurídicas. Lembre-se, aqui, que o primeiro é composto pelo DREI e Juntas
Comerciais, sendo responsável pelos registros dos atos relativos aos
empresários individuais e sociedades empresárias, tocando ao segundo as
sociedades simples.
cada central.
15. DISCRIMINAÇÃO DO FRJ NO CORPO DO ATO E NO RECIBO
A segunda se dá pela inclusão das destinações legais do FRJ nos atos e nas
tabelas de emolumentos que são publicadas, consoante disposto no art. 14 da
LC nº 755/2019 e no art. 21 da LC nº 807/2022. Trata-se, aqui, das destinações
previstas no art. 2º da LC nº 188/1999, com redação dada pelo art. 15 da LC nº
807/2022, e que podem ser assim resumidas:
5 Ajuda de custo que será substituído pelo programa de renda mínima instituído pela LC nº 806/2022.
Por fim, o art. 3º da Resolução nº 02/2023-CM tratou do recibo de emolumentos.
Por imperativo lógico, o FRJ cobrado do usuário também deverá ser inserido no
respectivo recibo. Contudo, aqui poderia haver um empecilho prático: como a
taxa é cobrada por ato, e não raro um mesmo recibo de emolumentos abrange
vários deles, poder-se-ia questionar se cada ato e a taxa correspondente
deveriam estar individualmente discriminados.
Já que se tratou das informações relativas ao FRJ que deverão constar no ato, o
leitor acostumado com a sistemática anterior deve ter se indagado se os dados
da guia de recolhimento também devem ser mencionados, notadamente nos
instrumentos públicos e nos atos de registro ou averbação com conteúdo
econômico, consoante exigido pela legislação que vigorará até o dia
31/03/2023.
Vale enfatizar: o ato não tem mais uma guia própria, e não havendo o documento,
não há o que se transcrever. Tudo em linha com os objetivos do projeto, de
simplificação da arrecadação e racionalização dos procedimentos e da
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fiscalização.
17. RESTITUIÇÃO DO FRJ AO USUÁRIO
Uma vez que o FRJ é pago pelo usuário à serventia, a LC nº 807/2022 trouxe em
seu art. 8º, como corolário, um procedimento simplificado para a devolução: a
partir de 01/04/2023, a própria serventia reembolsará a taxa que indevidamente
receber, e seu valor será posteriormente aproveitado como crédito.
Nesse contexto, como compatibilizar o art. 4º com o art. 6º, segundo o qual a
restituição será feita pela serventia que recebeu a taxa? Duas possibilidades são
vislumbradas, a depender do momento em que a restituição seja pedida.
Em um primeiro momento, a restituição pode se dar antes que o ato tenha sido
praticado, e sem que nenhum valor seja devido à serventia executora. Nesse
caso, bastará que aquele que recebeu o pagamento faça a devolução do
montante recebido, com os devidos lançamentos no livro de controle de
depósitos prévios e sem maiores impactos na apuração mensal do FRJ. Eventuais
transferências entre elas, se realizadas, naturalmente deverão ser estornadas,
pois o ato não se concretizou, e a serventia que seria responsável pelo ato não
faz jus aos emolumentos.
Doutra banda, o ato já pode ter sido praticado, e o valor foi repassado. Com a
efetivação da transferência, a serventia responsável pelo ato ou serviço recebeu
o pagamento, e com isso tornou-se, ela própria, a recebedora de que trata o art.
6º da Resolução nº 02.
está a tratar.
Nos termos do art. 35, cancelada a lavratura por culpa da parte, o ato não foi
finalizado ‒ e não havendo ato praticado, tampouco existirá o fato gerador do
FRJ. Ainda assim, serão devidos 1/3 dos emolumentos. Tendo havido antecipação
pelo usuário, o que exceder a esse terço deverá ser restituído, assim como o FRJ
correspondente. A princípio, essa restituição será feita apenas contabilmente,
com os devidos lançamentos no livro de controle de depósito prévio. No entanto,
se houve erro no sistema de escrituração da serventia, com transmissão
antecipada do respectivo selo e efetivação do recolhimento, a restituição gerará
crédito a ser aproveitado na apuração mensal.
Explica-se.
O primeiro é quando o ato sequer chegou a ser praticado. Sem ato, não terá
havido fato gerador do FRJ, tampouco selo transmitido ao Tribunal. E bastará,
então, a simples devolução dos valores que foram antecipados, acompanhada
dos devidos lançamentos nos livros financeiros da serventia.
Um segundo momento é quando o ato já foi praticado mas ele foi corrigido a
tempo. Aqui, pode até ter havido a transmissão do respectivo selo de
fiscalização originalmente aplicado, mas antes do fechamento da competência, e
do lançamento da taxa, houve a correção e o erro não influenciou na totalização
mensal. Ou seja, o FRJ foi calculado e recolhido com exatidão, sem acréscimos
indevidos. Se assim se deu, novamente não haverá crédito oponível ao Poder
Judiciário na apuração mensal, embora, da mesma forma que antes, sejam
obrigatórios os correspondentes registros financeiros da devolução
eventualmente feita à parte.
Vale dizer, as retificações, doravante, deverão ser feitas no ato e no selo quando
envolverem a apuração da taxa, observado, quanto à selagem, o que dispuser o
regulamento próprio.
E dentre esses elementos está, justamente, a base de cálculo do FRJ, qual seja,
o valor dos emolumentos pelo ato praticado, assim como aquilo que foi cobrado
do usuário para satisfação do crédito tributário.
O saldo positivo que resultar corresponde ao valor a recolher do FRJ, e que será
consolidado na notificação de lançamento (art. 10); se a soma for “zero”, nada
haverá a recolher; e se as restituições superarem os recolhimentos devidos, o
saldo excedente dos créditos será aproveitado nas competências subsequentes
(art. 7º, parágrafo único, e art. 11, § 2º).
Quanto aos prazos, o art. 12 determina que a guia será disponibilizada até o
terceiro dia útil do mês seguinte ao da ocorrência do período de apuração,
devendo ser paga até o 5º dia útil (art. 9º da LC nº 807/2022 e art. 13 da
Resolução nº 02).
Não obstante, é certo que elas ocorrerão, e o sistema deverá permitir que
eventuais inconsistências possam ser identificadas e corrigidas a tempo,
mediante a aplicação de um selo retificador, na forma do art. 7º da Resolução. O
objetivo é simples: que o FRJ seja lançado corretamente, e com exata
correspondência entre dados do selo e os livros financeiros da serventia.
Para facilitar, esse prazo, conjugado com o art. 13, corresponde ao décimo quinto
dia útil do mês subsequente ao mês de competência do lançamento.
Exemplificativamente, para os fatos geradores ocorridos no mês de abril/2023,
os prazos para recolhimento e impugnação serão, respectivamente, os dias 05 e
19 de maio do mesmo ano.
Consequentemente, um deve espelhar o outro, e por esse motivo o livro diário foi
eleito como instrumento auxiliar de fiscalização, haja vista que seus saldos
devem coincidir com a ocorrência do fato gerador da taxa e respectiva base de
cálculo. Em outras palavras, eles deverão manter fiel correspondência entre si, e
as informações do livro refletem e complementam o selo, e vice-versa.
diferidos por ato praticado até 31/03/2023 seguirão a lei vigente na data em que
ele foi praticado, e, por conseguinte, não se sujeitarão ao recolhimento do FRJ.
Pode parecer contraditório excluir da incidência da lei um evento eleito como
fato gerador e que tenha ocorrido em sua vigência, mas esse raciocínio
desconsidera que os emolumentos a que o pagamento se referem decorrem de
um ato jurídico perfeito e acabado, e em relação ao qual a lei tributária não
poderia ser aplicada retroativamente (art. 150, inciso III, alínea “a”, da
Constituição Federal). Aliás, é esse o comando do art. 9º da LC nº 807/2022: o
ato tem que ser praticado a partir de 01/04/2023 para ser alcançado pelo novo
FRJ, e se ele o foi em data anterior, não será exigível o recolhimento da taxa pela
nova sistemática.
a LC nº 807. Estabelecida a taxa devida, ela deve ser comparada com a guia
apresentada.
Não havendo guia paga antes de 31/03/2023, o FRJ será cobrado integralmente
sobre os emolumentos (§ 1º do art. 9º).
E caso a guia recolhida antes de 31/03/2023 tiver valor maior do que o novo FRJ,
apenas esse será devido, e o valor a maior ‒ desculpe-se a redundância ‒ será
devolvido ao usuário, com consequente crédito em favor da serventia (§ 2º do
art. 9º), a ser aproveitado no lançamento mensal (art. 11, § 1º, da Resolução nº
02).
E qualquer que seja o caso, a guia que foi apresentada deverá ser mencionada
no ato, seja no respectivo selo de fiscalização, seja no seu corpo propriamente,
descrevendo-se, neste, toda a operação feita para posterior fiscalização: qual o
valor que era devido de acordo com a LC nº 807/2023, o da guia apresentada, a
diferença apurada, e se ela foi restituída ou houve complementação (§ 3º do art.
9º).
Vale observar, aqui, que tal situação ocorre apenas nos atos com conteúdo
econômico, pois os demais não estavam sujeitos a recolhimento anterior,
inexistindo, para eles, guia a aproveitar.
Como inverso da primeira, tem-se a segunda situação: a guia possui valor maior
que o devido de acordo com a nova taxa, e o usuário deseja que o crédito seja
aproveitado em vários atos, até o limite do crédito. Todavia, os recolhimentos
feitos por guia somente podem ser aproveitados em um único ato notarial ou de
registro, e essa restrição não mudou com a LC nº 807/2022. Logo, aproveita-se a
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