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NOVA LEI DO FRJ

APLICADA
LC/SC 807/2022 - Res. 02/23 do CM/TJSC

VERSÃO 1.0

Autor
Gustavo Soares de Souza Lima
Tabelião Titular
2° Tabelionato de Notas e Protesto de Títulos de
Tubarão - SC

Cooperação
Lucas Paes Koch
Registrador de Imóveis Interino
1° Ofício de Registro de Imóveis de Itajaí- SC

O presente material é
complementar ao
treinamento realizado em
24/03/2023, transmitido pelo
canal do TJSC no Youtube.
QUADRO DE REVISÕES E ATUALIZAÇÕES

VERSÃO 1.0 29/03/2023


ÍNDICE

INTRODUÇÃO 4
ANTES DE MAIS NADA, ENTENDENDO A LC Nº 807/2022 6
O NOVO FUNDO DE REAPARELHAMENTO DA JUSTIÇA 10
1. A NATUREZA JURÍDICA DO FRJ: TAXA DE PODER DE 10
POLÍCIA
2. O ASPECTO MATERIAL DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA: ATO 10
OU SERVIÇO NOTARIAL OU DE REGISTRO PÚBLICO
3. MOMENTO DA INCIDÊNCIA (ASPECTO TEMPORAL): A 11
PRÁTICA DO ATO (REGRA GERAL)
4. INCIDÊNCIA NO RECEBIMENTO DE EMOLUMENTOS 11
DIFERIDOS (A EXCEÇÃO)
5. BASE DE CÁLCULO: O VALOR DOS EMOLUMENTOS 12
6. BASE DE CÁLCULO: ATO PRINCIPAL E SEUS ACESSÓRIOS 13
7. BASE DE CÁLCULO NOS CASOS DE DIFERIMENTO 15
8. ALÍQUOTA 15
9. O NOVO FRJ TERÁ PISO OU TETO? 15
10. ISENÇÕES 17
11. REDUÇÃO ESPECÍFICA: O REGISTRO DE GARANTIAS DO 18
CRÉDITO RURAL
12. ISENÇÃO ESPECÍFICA: PROTESTO DO TÍTULO DE 19
DEVEDOR MICROEMPRESA
13. PAGAMENTO DO FRJ PELO USUÁRIO 20
14. ATOS SOLICITADOS A SERVENTIA DIVERSA DAQUELA 21
QUE PRATICARÁ O ATO
15. DISCRIMINAÇÃO DO FRJ NO CORPO DO ATO E NO 22
RECIBO
16. A GUIA DE RECOLHIMENTO DEVE SER MENCIONADA NO 23
ATO?
17. RESTITUIÇÃO DO FRJ AO USUÁRIO 24
18. RESTITUIÇÃO QUANDO O ATO É PRATICADO POR OUTRA 24
SERVENTIA
19. OS CASOS QUE ENSEJAM RESTITUIÇÃO 25
19.1 Mudança na cotação 26
19.2 Cancelamento ou retificação do ato 26
19.3 Desistência da parte 27
19.4 Inobservância de redução, dispensa, isenção ou não 27
incidência de emolumentos
20. A COMPENSAÇÃO NA APURAÇÃO MENSAL DO FRJ 27
21. COBRANDO O FRJ DA SERVENTIA: O LANÇAMENTO 29
DE OFÍCIO

22. IMPUGNAÇÃO DO LANÇAMENTO 30


23. A FISCALIZAÇÃO DO FRJ 32
24. INÍCIO DE VIGÊNCIA 33
25. APROVEITAMENTO DE GUIAS PAGAS ATÉ 35
31/03/2023

26. RESTITUIÇÃO DE GUIAS NÃO APROVEITADAS 36


27. LANÇAMENTO TRANSITÓRIO POR HOMOLOGAÇÃO 36
INTRODUÇÃO

Diz-se que uma imagem vale por mil palavras. Pois olhe acima: essas caixas
representam uma parte dos documentos separados por um ofício de registro de
imóveis deste Estado para auditoria do Fundo de Reaparelhamento da Justiça.

Vale frisar: a foto encerra apenas parte dos documentos. Segundo o titular, foram
separadas ainda várias outras caixas que ocuparam, ao final, as prateleiras de
dois armários inteiros da serventia, enquanto aguardavam análise.

Essa imagem bem sintetiza o que se tornou o FRJ ao longo dos anos.

Embora regulamentado por resolução do Conselho da Magistratura, os critérios


de cálculo dos valores devidos ao fundo estavam, na prática, sedimentados em
um complexo conjunto de “Perguntas e Respostas do FRJ”, com itens às vezes
de difícil compreensão, seja pelos delegatários, seja pelo contribuinte (o usuário
do serviço), levando a infindáveis consultas e discussões quanto à correção da
cobrança.

Segundo relatos de servidores lotados no Conselho do Fundo, não raro se


constatava que o notário ou registrador gerava, para atos complexos, guias de
valor maior do que o de fato devido, com o receio de, posteriormente, ser
compelido a responder pessoal e funcionalmente pela dívida. E com isso,
penalizando o usuário do serviço extrajudicial.

Adicionalmente, a fiscalização, como se percebe da fotografia, era custosa e


demandava um grande dispêndio de recursos humanos e de materiais, ante a
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necessidade de se separar a documentação pertinente ao ato e os


comprovantes dos recolhimentos feitos, para que eles pudessem ser auditados.
Auditoria que, ao fim e ao cabo, consistia em minuciosa ‒ e naturalmente morosa-
conferência manual dos documentos por servidores do Poder Judiciário, ato a
ato, guia a guia.

A percepção desses problemas não era restrita aos responsáveis pelas


serventias extrajudiciais.

Afora as contingências operacionais decorrentes da forma como eram feitas as


auditorias, a própria Presidência do Conselho Gestor do FRJ chegou a instaurar
procedimento administrativo específico para que se buscasse uma melhor
correspondência entre os critérios usados para os emolumentos e para o cálculo
do fundo: se não uma total uniformização, que eles ao menos se aproximassem,
diminuindo as divergências que eram a causa de tantas dúvidas e dificuldades
(Processo Administrativo nº 0006878-33.2022.8.24.0710).

Recorrendo à frase-clichê de Victor Hugo, “Nada é mais poderoso do que uma


ideia cujo tempo chegou”. E se havia algo evidente, no primeiro semestre de
2022, era a necessidade de se modernizar e simplificar o cálculo do Fundo de
Reaparelhamento da Justiça, desburocratizando-o e racionalizando-o.

Fruto dessa ideia-força, e como resultado do profícuo e amplo diálogo mantido


entre a atual gestão do Tribunal de Justiça e os notários e registradores do
serviço extrajudicial do Estado de Santa Catarina, ao final do ano de 2022 foi
sancionada a Lei Complementar Estadual nº 807, de 23 de dezembro do mesmo
ano, instituindo um novo modelo de FRJ e de aplicação dos selos de fiscalização.

A LC nº 807/2022 foi regulamentada pelo Conselho da Magistratura do Estado


por meio de suas Resoluções ns. 02 (FRJ) e 03 (selo de fiscalização), ambas do
dia 13 de março de 2023.

As provisões dessas resoluções são complementadas pelo Provimento nº


20/2023, da Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Santa Catarina, que
trata da escrituração do Livro de Diário Auxiliar da Receita e da Despesa, cuja
importância, ao lado do selo, tornou-se central na auditoria e fiscalização dos
recolhimentos que serão realizados.

A presente cartilha tem por objetivo discorrer sobre essas mudanças e, sem a
pretensão de esgotar o assunto, orientar na sua aplicação inicial e tentar
responder algumas das perguntas que naturalmente surgirão.
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ANTES DE MAIS NADA, ENTENDENDO A LC Nº
807/2022
O cenário envolvendo a arrecadação do Fundo de Reaparelhamento da Justiça e
sua consequente fiscalização apontava para um diagnóstico cristalino:

a) o valor exigido muitas vezes era desproporcional, havendo casos em


que, a depender da natureza do ato e sua avaliação, o FRJ era maior
que os próprios emolumentos correspondentes;

b) não havia clareza nas regras de cobrança;

c) o procedimento de arrecadação era burocrático, exigindo o


pagamento de guias e a transcrição de seus elementos nos atos
notariais e de registro público (só os erros de digitação dessas guias
ensejaram infindáveis retificações e divergências no cruzamento dos
recolhimentos);

d) demandava-se a guarda das guias pagas por longos períodos para


futura conferência; e

e) a auditoria era ineficiente e custosa.

A esse cenário, problemático por si mesmo, adicionava-se mais um elemento: o


selo de fiscalização.

Sua disponibilidade demandava prévia aquisição dos lotes pelas serventias


extrajudiciais. Em que pese seu valor fosse depois repassado ao usuário, a
compra antecipada prejudicava o fluxo de caixa das serventias, notadamente ao
final do ano, em que o dispêndio com a formação de estoques de segurança
para o recesso do Judiciário somava-se às já elevadas despesas do período,
notadamente o décimo terceiro salário dos empregados celetistas.

Até o advento das Circulares ns. 270/2022 e 297/2022, da Corregedoria-Geral


do Foro Extrajudicial, havia casos em que as serventias eram simplesmente
obrigadas a consumir selos adquiridos onerosamente, sem poder cobrar seu
valor do usuário.

E como não bastasse, o valor dos selos igualmente careciam de


proporcionalidade e razoabilidade. Atos com natureza jurídica semelhante
(escritura de compra e venda imobiliária e o respectivo registro) recebiam, sem
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razão que o justificasse, selos distintos e com grande diferença de valores entre
si, para a serventia e para o usuário.1

Paralelamente, havia atos em que o valor do selo era praticamente igual, ou até
2
significativamente maior, que os emolumentos a ele correspondentes.

Diante desse quadro, a proposta de revisão do FRJ alcançava também o selo de


fiscalização e tinha, da mesma forma, objetivos bem definidos:

a) cobrança e fiscalização simplificadas;

b) clareza de aplicação mediante adoção dos mesmos critérios para o


cálculo dos emolumentos;

c) racionalização;

d) transparência; e

e) aprimoramento do selo como instrumento de fiscalização e


acompanhamento pelo Poder Judiciário, evoluindo a regra de selagem
do documento entregue para a noção de ato praticado, com valor
sempre compatível e proporcional aos emolumentos correspondentes.

A solução passava por dois ajustes principais.

Primeiramente, o FRJ deveria ser universalizado, incidindo em todos os atos


notariais e de registros públicos e tendo por base de cálculo os próprios
emolumentos. Com isso, seriam eliminadas as divergências quanto à natureza
jurídica do fato gerador para fins de cobrança dos emolumentos e do fundo, e
não importaria mais se o ato possuísse ou não conteúdo econômico, tampouco
seus critérios de avaliação. Adicionalmente, a base de cálculo seria
extremamente simplificada e de singela compreensão, especialmente para o
usuário: o ato ou serviço por ele solicitado tem um preço (emolumentos), e sobre
esse preço incide a taxa. Ponto.

Em segundo lugar, o selo de fiscalização não teria mais um valor fixo, e passaria
a ser proporcional e calculado sobre os emolumentos do ato, da mesma forma
que o fundo. Essa opção permitiria adicionalmente a simplificação dos tipos de
selo existentes, que seriam reduzidos a apenas dois: isento, para os casos em

1 Valores unitários cobrados do usuário e de aquisição pelas serventias previstos para o ano de 2023 no anexo I da
Resolução nº 17/2022-CM, respectivamente: selo normal (1 ato), usado no registro - R$ 3,39 e R$ 3,15; selo escritura com
valor - R$ 16,93 e R$ 16,69. Fonte: anexo I da Resolução nº 17/2022-CM.
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2 Em valores vigentes para 2023 até a entrada em vigor da LC nº 807/2022, os emolumentos por um reconhecimento de
firma correspondem a R$ 4,23 (tabela 1, nº 9), sendo que um selo DUT, aplicado quando o ato envolve a transferência de
veículo automotor, custa R$ 4,83 (valor unitário cobrado do usuário) e R$ 4,69 (custo de aquisição pela serventia). Fonte:
LC nº 755/2019, com valores atualizados pela Resolução nº 18/2022-CM, e anexo I da Resolução nº 17/2022-CM.
que houvesse a isenção de emolumentos com direito a ressarcimento, e normal
para os demais.

Tanto FRJ quanto selo passariam a ser cobrados do usuário junto com os
emolumentos pelo ato praticado, independentemente do pagamento prévio de
guias, e os valores arrecadados seriam repassados pelas serventias ao Poder
Judiciário uma vez por mês.

Durante as discussões do projeto com a direção do Tribunal de Justiça,


entendeu-se que a manutenção da cobrança de um valor separado pelo selo, ao
lado do FRJ, importaria em bitributação, haja vista a identidade entre os
respectivos fatos geradores.

No caso, a arrecadação dos selos é legalmente destinada ao custeio do


ressarcimento dos atos gratuitos, ajuda de custo e renda mínima dos ofícios com
competência para o registro civil das pessoas naturais, reservados 20% (vinte por
cento) da sua arrecadação para a manutenção de ações de fiscalização da
Corregedoria-Geral da Justiça (LC nº 175/1998). A despeito da sua destinação
específica, dita arrecadação é administrada pelo próprio Fundo de
Reaparelhamento da Justiça, ainda que ela seja mantida separadamente, em
rubrica própria (LC nº 188/1998).

Daí a opção por unificá-los ‒ fundo e selo ‒ em um único percentual: cobrar-se-ia


do usuário apenas o FRJ, e o selo não teria mais qualquer custo, seja para aquele,
seja para a serventia extrajudicial, mantida, quanto ao mais, a destinação original
de sua arrecadação (ressarcimento, ajuda de custo e renda mínima).

Fixadas essas balizas, tornava-se necessário estipular uma nova alíquota.

Ela foi analisada tendo como ponto de partida os dados do faturamento das
serventias, disponíveis no sistema Justiça Aberta do CNJ, e da arrecadação do
FRJ nos cinco anos que antecederam a apresentação do projeto (2017-2021),
buscando-se a composição de um percentual que, globalmente, permanecesse
“neutro”, sem acréscimo ou redução do total arrecadado quando comparado
com a sistemática até então vigente.

O cálculo preliminar foi então submetido à Diretoria de Orçamento e Finanças do


Tribunal para que essa fizesse os devidos ajustes, a fim de que a nova
sistemática não interferisse no status quo, seja prejudicando, de um lado, tão
importante fonte de receita para o Poder Judiciário e outros órgãos ou
finalidades, seja onerando, de outro, o usuário mediante um acréscimo de carga
tributária. Chegou-se, então, a um percentual ‒ 22,73% do valor dos
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emolumentos pagos por ato.


Por fim, concebeu-se que o principal instrumento de fiscalização seria o próprio
selo digital de fiscalização, por meio do qual as serventias extrajudiciais já
transmitem, ao Poder Judiciário, todos os elementos dos atos por ela praticados,
inclusive o valor dos emolumentos correspondentes, se cobrados do usuário.

Os dados do selo permitem uma fiscalização simplificada, pois a verificação da


base de cálculo do FRJ a recolher mensalmente passaria a consistir, grosso
modo, na soma de todos os emolumentos pelos atos praticados em
determinado período, aplicando-se, sobre esse montante, a alíquota definida.

Esse mecanismo permitiria que o Tribunal acompanhasse em tempo real a


apuração da base de cálculo. Mais ainda, os elementos do ato selado, inclusive
se os emolumentos estão sendo cobrados de acordo com a tabela, já passam
por validação nas inspeções virtuais, sendo extremamente difícil, talvez
impossível, praticar um ato que não leve o seu correspondente selo e sem que
este seja transmitido e submetido a verificação. Quiçá, o próprio Tribunal poderia
futuramente emitir a guia para que os recolhimentos fossem feitos sem
necessidade de operações adicionais, de forma correta e com a necessária
segurança para todos os agentes envolvidos.

Nascia, assim, o cerne do projeto que resultou na Lei Complementar nº 807, de


21 de dezembro de 2022.

Entendidos os problemas que ela procurou endereçar e as soluções construídas,


passemos então a discorrer sobre as normas que vigorarão a partir de 01 de abril
de 2023.

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O NOVO
FUNDO DE REAPARELHAMENTO DA JUSTIÇA

1. A NATUREZA JURÍDICA DO FRJ: TAXA DE PODER DE POLÍCIA

Embora a legislação anterior não fosse inteiramente clara a esse respeito, é


indiscutível que o FRJ possui natureza tributária: é uma taxa pelo exercício do
poder de polícia e decorre da fiscalização das serventias extrajudiciais do Estado
de Santa Catarina.

Esse dado, agora, é literalmente enunciado no caput do art. 6º da LC nº


807/2022, embora o art. 3º-A da Lei nº 8.067/1990 já tratasse esse tributo como
elemento integrante do sistema de fiscalização dos atos notariais e de registros
públicos do Estado, sinalizando indiretamente que ele é uma taxa.

E em se tratando de uma taxa, espécie tributária, há que se analisar os


elementos da respectiva hipótese de incidência, notadamente seu aspecto
material (sobre o quê incide), temporal (quando incide), base de cálculo (sobre
quanto incide) e alíquota.

2. O ASPECTO MATERIAL DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA: ATO OU


SERVIÇO NOTARIAL OU DE REGISTRO PÚBLICO

Consoante previsto no art. 3º-A da Lei nº 8.067/1990, na redação da LC nº


807/2022, o FRJ passa a incidir sobre todos os atos e serviços praticados,
pouco importando se eles possuem ou não conteúdo econômico.

Escrituras e seus registros, certidões de todas as espécies, mesmo os


reconhecimentos de firma e as autenticações de documentos, todos estarão
sujeitos à incidência do FRJ.

Da mesma forma, serviços prestados pelas serventias e remunerados por


emolumentos também são alcançados pela incidência, ainda que sequer haja um
ato materialmente praticado, como ocorre com a visualização de matrículas e a
busca de bens disponibilizadas pelos ofícios de registros de imóveis. Ou ainda
com a prestação de informação complementar independentemente de certidão
por parte dos tabelionatos de protestos de títulos e documentos de dívida.

Não importa. Havendo ato ou serviço praticado por notário ou registrador sujeito
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a pagamento de emolumento pela parte, haverá incidência da taxa.


3. MOMENTO DA INCIDÊNCIA (ASPECTO TEMPORAL): A PRÁTICA DO
ATO (REGRA GERAL)

Nos termos da parte final do caput do art. 6º da LC nº 807/2022, o FRJ incide,


como regra geral, no momento da prática do ato ou da prestação do serviço
notarial e de registro, independentemente de quando houver o efetivo
pagamento dos emolumentos. Praticado o ato sujeito a cobrança de
emolumentos do usuário, sobre ele incidirá FRJ.

Com isso, a lei adotou o regime de competência, e o fez observando o que está
previsto no art. 6º do Provimento nº 45 do CNJ, segundo o qual as receitas das
serventias deverão ser lançadas no Livro Diário Auxiliar da Receita e da Despesa
no momento da prática do ato.

4. INCIDÊNCIA NO RECEBIMENTO DE EMOLUMENTOS DIFERIDOS (A


EXCEÇÃO)

Excepcionalmente, e em linha com o § 2º do art. 6º do Provimento nº 45 do CNJ,


o parágrafo único do art. 6º da LC nº 807/2022 ressalvou os emolumentos
diferidos por força de lei ou decisão judicial, caso em que a incidência ocorrerá
no momento do efetivo pagamento dos emolumentos pelo usuário.

Aqui, justifica-se a adoção do regime de caixa porque se trata de entradas que, a


rigor, não são escrituradas no livro diário quando da prática do ato, e mantido o
regime de competência para elas, o notário ou registrador teria que antecipar o
recolhimento do FRJ, em que pese o respectivo ônus ser do usuário.

A lei foi clara quanto aos casos de diferimento sujeitos à incidência pelo regime
de caixa, vale dizer, no momento do efetivo pagamento dos emolumentos:
apenas quando decorrer de previsão legal ou decisão judicial.

No primeiro caso, tem-se a postecipação de emolumentos disciplinada no


Provimento nº 86 do CNJ e no art. 60 da LC nº 755/2019 para o protesto de
títulos de crédito e outros documentos de dívida, sem prejuízo de outras
hipóteses que vierem a ser instituídas para esta ou para as outras
especialidades.

A segunda situação ocorre quando há decisão judicial ordenando a imediata


realização de determinado ato notarial ou de registro e ele é sujeito a cobrança
de emolumentos (ou seja, não é isento), contudo os valores devidos não são
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efetivamente pagos no momento da sua prática por força da própria decisão.


Ilustra a hipótese de que se trata os mandados de cancelamento de protesto,
com expressa dispensa de antecipação de emolumentos por parte do magistra-
do. Ou ainda os mandados advindos da Justiça do Trabalho.

Certamente há ‒ ou haverá ‒ outras hipóteses de diferimento dos emolumentos


por disposição legal ou decisão judicial. Crê-se, todavia, que essas são
suficientes para elucidar a aplicação do art. 6º, parágrafo único, em comento.

Dentre essas hipóteses de diferimento não está a prática conhecida como


“mensalista” ou “correntista”.

Ainda que tenha sido considerada válida pelo eg. Conselho da Magistratura no
julgamento da Consulta nº 0002024-30.2021, rel. Des. Dinart Francisco Machado,
j. 09/02/2021, aqui não há norma ou decisão judicial impondo o diferimento;
todavia por razões gerenciais, de conveniência do usuário ou do próprio notário
ou registrador, o ato é praticado em determinado mês e pago no seguinte.

Em se tratando de uma opção, ela não foi contemplada no parágrafo único do art.
6º da LC nº 807/2022: praticado o ato sujeito a cobrança de emolumentos do
usuário, o FRJ efetivamente incidirá no momento da sua realização (regime de
competência) e a taxa deverá ser recolhida no prazo legal, pouco importando
quando ‒ e se ‒ houver o efetivo pagamento pelo mensalista/correntista à
serventia.

5. BASE DE CÁLCULO: O VALOR DOS EMOLUMENTOS

O art. 3º-A da Lei nº 8.067/1990, na nova redação da LC nº 807/2022, definiu que


a base de cálculo da taxa será os emolumentos cobrados da parte pelo ato
praticado, sendo a eles acrescidos.

Aqui, cabe lembrar que emolumentos, por definição constitucional (§ 2º do art.


236 da CF) e legal (parágrafo único do art. 1º da Lei Federal nº 10.169/2001 e art.
11 da LC nº 755/2019) correspondem ao custo do serviço notarial e de registro
público e à adequada remuneração do responsável pela serventia, e tão apenas
a eles (custeio e remuneração).

Apropriando-se de um conceito tributário, relativo ao fato gerador do imposto


sobre serviços de qualquer natureza, é o preço do serviço pago pelo usuário e
que reverte em favor do notário e do registrador, consistindo, exclusivamente, na
parcela que toca a este pelos atos que praticar.

Em suma, emolumentos são as rubricas das tabelas de cada especialidade,


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previstas nos anexos da LC nº 755/2019 e que são pagas ao notário ou


registrador.

Essa noção é fundamental, e vale a pena reforçar.


Somente emolumentos devidos pelos atos notariais e de registros públicos
integram a base de cálculo do FRJ, pois assim está definido no art. 3º-A da Lei
Estadual nº 8.067/1990, com redação dada pelo art. 3º da LC nº 807/2022. E só
a remuneração do notário e registrador pelos atos que praticar pode ser
considerada emolumentos (art. 11 da LC nº 755/2019), de acordo com as tabelas
do respectivo regimento (anexos da LC nº 755/2019).

Logo, não incide FRJ sobre qualquer outro valor recebido pelo notário ou
registrador que não constitua emolumento decorrente da prática de um ato
notarial ou de registro.

Ajuda de custo não é emolumento, e sobre ela não incide FRJ. Idem no tocante
aos ressarcimentos, considerada sua natureza indenizatória pela prática de um
ato gratuito. A Taxa de Serviços Judiciais ‒ TSJ devida pela distribuição de títulos
a protesto não é emolumento e não integra a base. Valores que são recebidos
pelo ofício do registro civil das pessoas naturais e são repassados ao Juiz de Paz
pela celebração do matrimônio, ainda que previstos na LC nº 755/2019, não
correspondem a emolumentos pagos por ato notarial e de registro público,
justamente porque, desculpe-se o truísmo, são devidos ao Juiz de Paz e este não
pratica ato notarial ou de registro público. E por aí vai.

Daí se extrai uma importante “regra de bolso”, que bem sintetiza a nova
sistemática: se pelo ato notarial ou registral praticado forem cobrados
emolumentos do usuário, sobre eles, e apenas eles, incidirá o FRJ.

6. BASE DE CÁLCULO: ATO PRINCIPAL E SEUS ACESSÓRIOS

Não raro, o ato notarial e de registro público praticado enseja a cobrança de mais
de uma rubrica prevista na LC nº 755/2019: não apenas os emolumentos pelo ato
propriamente, mas também itens acessórios que são indispensáveis para que ele
se conclua, ou então são dele decorrentes.

Para mencionar alguns exemplos: a autenticação de documento (tabela I, nº 10)


pode demandar a cópia do documento original apresentado pela parte (tabela 1,
nº 13); a liquidação do título apontado a protesto (tabela II, nº 1) pode ser
acrescida de cobrança por deslocamento para entrega da intimação pessoal do
interessado (tabela II, nº 2); os registros especiais do loteamento (tabela III, nº
2.3) e da incorporação imobiliária (tabela III, nº 2.4) têm adicionais por unidade do
empreendimento registrado (tabela III, ns. 2.3.1 e 2.4.1); as notificações feitas
pelo ofício do registro de títulos e documentos (tabela IV, nº 4) igualmente
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possuem adicionais por deslocamento (tabela IV, nº 4.1).

Para essas hipóteses, uma dúvida que naturalmente surge: o FRJ deverá ser
calculado para cada rubrica isoladamente? Essa é uma questão importante, pois
influenciará nos arredondamentos do cálculo e, portanto, no montante final que
deverá ser recolhido.

O art. 3º-A da Lei nº 8.067/1990, na redação da LC nº 807/2022, foi taxativo: a


base de cálculo corresponde aos emolumentos pelo ato notarial e de registro
praticado. Ainda que acessórios, esses emolumentos não são autônomos, vale
dizer, não são cobrados independentemente da realização de algum outro ato ou
serviço típico da serventia. Pelo contrário: estão intimamente ligados a um ato
notarial e de registro propriamente, na medida em que se referem a
procedimentos ou atividades indispensáveis à conclusão do que foi solicitado
pelo usuário.

Por consequência, eles integram o conceito de emolumentos pelo ato praticado.


Ou ainda, pode-se afirmar que os emolumentos devidos pelo ato praticado são
compostos por rubricas principais e acessórias, que se somam para, ao final,
formar a base de cálculo do FRJ.

Especificamente para os atos do tabelião de notas, é sabido, ademais, que um


mesmo instrumento poderá encerrar vários objetos ou negócios jurídicos, cada
um sujeito a cobrança específica. Não se terá, propriamente, atos principais e
seus acessórios, pois cada valor incluído na contagem final dos emolumentos,
por objeto ou negócio, consistirá, ele próprio, emolumentos por um ato principal.

Basta pensar, aqui, em uma escritura de compra e venda envolvendo dois


terrenos entre as mesmas partes: os emolumentos por imóvel comporão o ato
principal da escritura de compra e venda.

Mas também nesse caso os emolumentos devem ser somados para se aferir
aquilo que é devido pelo instrumento lavrado, e que constituirá a base de cálculo
do FRJ. Afinal, sua soma é que corresponderá aos emolumentos pelo ato que foi
praticado (o instrumento público lavrado), pouco importando que, em
cumprimento à obrigação acessória de que trata o art. 14 da LC nº 755/2019,
eles sejam contatos isoladamente à margem do ato.

Em suma, o ato notarial e de registro poderá ensejar a cobrança de várias


rubricas, e todas elas se somam, ao final, para compor os emolumentos pelo ato
praticado e a base de cálculo da taxa.

Apurar o FRJ isoladamente sobre cada uma delas influenciará no arredondamento


dos valores apurados, ensejando diferenças a maior ou a menor que impactarão
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nos recolhimentos a serem feitos em favor do Poder Judiciário.


7. BASE DE CÁLCULO NOS CASOS DE DIFERIMENTO

Complementando a regra geral, o art. 6º da LC nº 807/2022 tratou também da


base de cálculo do FRJ quando houver diferimento dos emolumentos por
previsão legal ou decisão judicial. E ao fazê-lo, determinou que se levasse em
conta os acréscimos incidentes no momento do efetivo pagamento desses
emolumentos (parte final do parágrafo único do art. 6º da LC nº 807/2022).

Considerando os casos de diferimento acima mencionados, o protesto tem regra


própria (art. 60, parágrafo único, da LC nº 755/2019), e os emolumentos são
cobrados de acordo com a tabela vigente no momento da prática do ato que
ensejou o pagamento pelo interessado (liquidação/pagamento do título, retirada,
cancelamento ou sustação definitiva).

Em se tratando de diferimento por decisão judicial, os acréscimos serão aqueles


que incidir sobre os valores que forem efetivamente pagos pelo usuário.
Exemplificando: tendo havido correção monetária, o FRJ será calculado sobre o
valor corrigido.

Toda forma, mantém-se aqui também a “regra de bolso”: o FRJ será calculado
sobre o valor dos emolumentos pagos pelo usuário, e esse montante sujeitar-se-
á às variações que ocorrerem entre o momento em que o ato foi praticado e a
data do efetivo pagamento.

8. ALÍQUOTA

A alíquota foi definida em 22,73% (vinte e dois inteiros e setenta e três décimos
por cento) dos emolumentos do ato praticado, observada, como já exposto
acima, a soma de todas as rubricas que os compõem para a apuração correta da
base de cálculo.

9. O NOVO FRJ TERÁ PISO OU TETO?

A essa altura, o leitor certamente terá se perguntado: haverá um valor mínimo a


partir do qual o FRJ será cobrado? E qual o máximo que a taxa poderá alcançar?

A resposta aos dois questionamentos é que a LC nº 807/2022 nada dispôs a


respeito, pois tal previsão se tornou desnecessária em razão do novo critério
adotado, em que pese isso não signifique que haja permissão para que a taxa
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seja cobrada ilimitadamente sobre os objetos ou negócios do ato notarial e de


registro público com conteúdo econômico.
Se antes o FRJ incidia sobre o valor de bens, a LC nº 807/2022 determinou que,
doravante, sua base de cálculo será os emolumentos devidos pelo ato praticado.
E ao fazê-lo, a avaliação do objeto ou negócio do ato se tornou irrelevante para a
taxa, tanto que atos sem conteúdo econômico estarão igualmente sujeitos a ela:
reconhecimentos de firma sujeitar-se-ão à taxa da mesma forma que o registro
de uma transferência de propriedade imobiliária, ainda que em um caso o valor a
recolher será de centavos e, em outro, possa alcançar centenas de reais.

E isso porque, como já visto, a base de cálculo do FRJ será sempre o valor dos
emolumentos do ato notarial ou de registro praticado. De um lado, havendo
cobrança pelo ato praticado, sobre ela haverá incidência, qualquer que seja o
montante. Doutro, atingido o limite máximo (teto) dos emolumentos por objeto ou
negócio, ter-se-á a maior base de cálculo possível para aquele dado objeto ou
negócio e, dessa forma, o maior valor do FRJ em relação a ele. Piso e teto do
novo FRJ estão indissociavelmente atrelados aos próprios valores mínimo e
máximo dos emolumentos devidos pelo ato praticado, na medida em que um é
razão do outro, e ambos caminham juntos.

Pegue-se, por exemplo, várias escrituras de compra e venda, cada uma


envolvendo imóvel de valores diferentes ‒ por hipótese, R$ 10.000,00, R$
100.000,00, R$ 1.000.000,00 ou R$ 10.000.000,00.

Não fossem o piso e o teto previstos na antiga redação do art. 3º-A da Lei nº
8.067/1990, o FRJ, cobrado à razão de 0,3%, totalizaria R$ 30,00, R$ 300,00, R$
3.000,00 ou R$ 30.000,00, respectivamente (para 2023, o valor máximo a
recolher é R$ 1.055,56).

Agora, veja-se como ficará na nova sistemática.

No momento em que escrita essa cartilha, os emolumentos para escrituras de


compra e venda com esses mesmos bens seriam R$ 149,93 (avaliação R$
10.000,00), R$ 1.154,70 (avaliação R$ 100.000,00) e R$ 1.956,35 (avaliações R$
3
1.000.000,00 e R$ 10.000.000,00).

Logo, os FRJ’s respectivos passarão a totalizar R$ 34,08 (149,93 x 22,73%), R$


262,46 (1.154,70 x 22,73%) e R$ 444,68 (1.956,35 x 22,73%).

Chama-se a atenção para o último caso: bens de avaliação diferente poderão


ensejar um mesmo valor de FRJ a recolher, bastando, para tanto, que os
emolumentos pelo ato praticado, em um caso e no outro, sejam iguais. Nada
mais do que a aplicação da “regrinha de bolso”, segundo a qual a taxa incide
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sobre os emolumentos cobrados do usuário.

3 Tabela I, nº 2, em valores atualizados pela Resolução nº 22/2022-CM.


Toda forma, havendo cobrança de emolumentos, o FRJ jamais será zero,
tampouco seu valor superará aquilo que é cobrado pelo ato praticado. Qualquer
que seja o caso, a taxa corresponderá, sempre, a 22,73% dos emolumentos,
independentemente da avaliação do bem ou negócio objeto do ato notarial ou de
registro praticado.

Claro que se um ato envolver múltiplos bens, ele resultará em uma base de
cálculo maior, pois cada um deles, por si só, será uma referência na cotação dos
emolumentos. Afinal, emolumentos totais constituirão a base de cálculo do FRJ, e
sobre ela aplicar-se-á a alíquota de 22,73%, chegando-se ao montante a
arrecadar.

No entanto, isso já acontecia no regime anterior, pois cada objeto era submetido
individualmente ao FRJ, sendo tantos a recolher quanto fosse a quantidade de
bens. E isso não muda, apenas o critério que se utilizará para apurar o valor
devido: emolumentos do ato praticado, e não mais o valor do objeto ou do
negócio.

10. ISENÇÕES

A LC nº 807/2022 não se alongou discriminando hipóteses de isenções do FRJ, e


não o fez porque não era necessário: uma vez que a taxa tem por base de
cálculo os emolumentos pagos pelo usuário, não havendo pagamento por este,
não há taxa a cobrar, pois a multiplicação de algo por zero é… zero.

Há ainda as hipóteses legais, usualmente prescritas em leis federais, de redução


do valor dos emolumentos. E delas a LC nº 807/2022 também não tratou, pois
permanece a mesma lógica: havendo redução da base de cálculo, o valor final
será igualmente diminuído, e na mesma proporção, como consequência do
decréscimo naquela.

Para exemplificar, se os emolumentos pelo registro de atos relativos a


empreendimentos no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida ‒ PMCMV são
reduzidos em 50% (art. 42, inciso I, da Lei Federal nº 11.977/2009), o FRJ é
também automaticamente reduzido pela metade, pois se calcula a alíquota sobre
4
o valor reduzido (50% dos emolumentos): se os emolumentos são R$ 1.937,00 e
o FRJ totaliza R$ 440,28, a redução dos emolumentos em 50% faz com que eles
sejam, respectivamente, de R$ 968,50 e R$ 220,14 (968,50 x 22,73%, ou 444,28
÷ 2).
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Trata-se apenas de corolário da “regra de bolso” já enunciada, seja em seu

4 Valor de um teto para o registro de título com conteúdo econômico, conforme previsto na tabela III, nº 2.2.22, com
valores atualizados pela Resolução nº 22/2022-CM.
aspecto negativo (se NÃO há cobrança de emolumentos, NÃO há incidência de
FRJ), seja como um elemento de diminuição (se os emolumentos são
REDUZIDOS, o FRJ também será, e na mesma proporção).

Tudo porque a taxa passou a incidir sobre o ato praticado, qualquer que seja ele,
sendo calculado sobre os correspondentes emolumentos que são cobrados do
usuário.

Toda forma, para que não pairem dúvidas, o § 1º do art. 7º da LC nº 755/2019


expressamente determinou que o FRJ automaticamente observará todas as
isenções, dispensas, reduções e não incidências de emolumentos previstas no
respectivo regimento, disciplinadas no art. 7º da LC nº 755/2019. Assim, o
registro de nascimento e a primeira certidão são isentos de emolumentos e
também do FRJ, da mesma forma que os atos praticados em favor da União, do
Estado de Santa Catarina e de seus municípios, só para mencionar algumas das
hipóteses.

A legislação federal, todavia, contempla casos de redução, dispensa, isenção ou


não incidência aplicáveis exclusivamente às taxas ou fundos destinados ao
Poder Judiciário, ao custeio de atos gratuitos e a outras rubricas criadas a
qualquer título, finalidade ou denominação, os quais incidem sem afetar os
emolumentos devidos pelo ato praticado. Em suma, casos em que há
emolumentos, mas não FRJ, no todo ou em parte.

Esses casos foram regulamentados pelo Conselho da Magistratura na Resolução


nº 02/2023, de acordo com a competência que lhe foi atribuída pelo § 2º do art.
7º da LC nº 807/2022, e serão abordadas adiante.

11. REDUÇÃO ESPECÍFICA: O REGISTRO DE GARANTIAS DO


CRÉDITO RURAL

Essa redução está prevista no art. 2º, § 2º, da Lei Federal nº 10.169/2000, com
redação dada pela Lei nº 13.986/2020, e foi incorporada no art. 8º da Resolução
nº 02/2023-CM, ambos limitando o FRJ a 5% do valor pago pelo usuário a título
de emolumentos nos atos provenientes da constituição de direitos reais de
garantia mobiliária ou imobiliária destinados ao crédito rural.

Dada a fórmula de incidência da taxa sobre os próprios emolumentos, percebe-


se que, na verdade, essa redução não diz respeito à base de cálculo
estabelecida pela LC nº 807/2022, mas à alíquota do fundo: aumentando ou
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diminuindo que é pago pelo usuário em função do ato notarial e de registro


público, o FRJ deverá ser, no máximo, 5% desse valor.
A bem da verdade, a aplicação desse teto imposto pela norma federal demanda
que, na ausência de lei estadual estabelecendo uma alíquota menor, a taxa seja
calculada, nos atos de que se trata, pela aplicação da alíquota de 5%
estabelecida pela Lei nº 13.968/2020, ao contrário dos 22,73% previstos no art.
3º-A da Lei nº 8.067/1990.

Evidentemente, tangencia-se aqui a discussão quanto à legitimidade de reduções


e isenções determinadas por leis federais mas referentes a uma taxa que é
regulada por lei estadual. Embora relevantíssima, essa discussão foge ao escopo
da presente cartilha, bastando recordar que a validade desses benefícios
heterônomos tem sido reiteradamente afirmada pelo Poder Judiciário, em
especial pelo Supremo Tribunal Federal. E sendo auto aplicável, esse percentual
reduzido resta incorporado ao ordenamento local por força do art. 8º da
Resolução nº 02/2023-CM, de acordo com a competência estabelecida no art.
7º, § 2º, da LC nº 807/2022.

A regulamentação traz ainda um importante adendo ao esclarecer que a alíquota


reduzida não se estende aos atos acessórios necessários à constituição da
garantia, tais como averbações para atualização e/ou correção de erros de
especialização objetiva ou subjetiva na matrícula. Para eles, a taxa segue sendo
calculada e cobrada integralmente, observada a alíquota de 22,73%.

12. ISENÇÃO ESPECÍFICA: PROTESTO DO TÍTULO DE DEVEDOR


MICROEMPRESA

O benefício ora tratado está originalmente previsto no art. 73, inciso I, da Lei
Complementar Federal nº 123/2006, segundo o qual não incidirá qualquer
acréscimos a título de taxas ou outras rubricas sobre os emolumentos do
tabelião quando, no protesto do título, o devedor for microempresa ou empresa
de pequeno porte.

Regulamentando sua aplicação ao FRJ, o art. 9º da Resolução nº 02/2023-CM


define o sujeito passivo beneficiado pela dispensa ‒ microempresário,
microempresa ou empresa de pequeno porte ‒, e também quais atos serão
isentos ‒ apenas aqueles mencionados no art. 56 a 58 da LC nº 755/2019 (em
suma liquidação, retirada, registro e cancelamento). Note-se, por oportuno, que
as certidões não foram contempladas na isenção, de modo que seus respectivos
emolumentos estarão sujeitos à incidência integral da taxa, calculada à alíquota
de 22,73%.
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Por sua vez, o parágrafo único do art. 9º, em comento, estabelece a forma de
comprovação do requisito necessário para a fruição da isenção, determinando
que a condição de microempresário, microempresa e empresa de pequeno porte
será comprovada mediante documento expedido por órgão integrante do
Registro Público de Empresas Mercantis ou por ofício do registro civil das
pessoas jurídicas. Lembre-se, aqui, que o primeiro é composto pelo DREI e Juntas
Comerciais, sendo responsável pelos registros dos atos relativos aos
empresários individuais e sociedades empresárias, tocando ao segundo as
sociedades simples.

E quando o título possuir coobrigados, e apenas um deles for beneficiário da


isenção? Nesse caso, e recorrendo ao art. 125 do Código Tributário Nacional,
cumpre recordar que se trata de benefício concedido pessoalmente ao
microempresário, à microempresa e à empresa de pequeno porte, e que não se
estende a outros sujeitos passivos solidariamente obrigados. De modo que
apenas aquele que demonstrar os requisitos legalmente exigidos estará
dispensado do FRJ, e os demais coobrigados pagarão a taxa caso eles solicitem
o ato notarial e, consequentemente, efetuem o pagamento dos emolumentos
devidos.

Por fim, e visando facilitar a comprovação do requisito pelo usuário, a resolução


admite como válidos, até 31 de janeiro de cada ano, os comprovantes emitidos
no curso do exercício fiscal anterior. Vale dizer, o interessado deverá obter o
documento uma única vez por ano, podendo fazer uso dele até o dia 31 de
janeiro do subsequente. Passado esse prazo, o documento comprobatório da
condição deverá ser renovado, caso contrário a taxa deverá ser exigida
integralmente.

13. PAGAMENTO DO FRJ PELO USUÁRIO

A nova redação do art. 3º-A da Lei nº 8.067/1990, e também no § 4º do art. 12 da


LC nº 807/2022, prescrevem que o valor do FRJ será acrescido aos
emolumentos pagos pelo usuário ao notário e registrador pelo ato que este
praticar, ao mesmo tempo em que o art. 9º da lei complementar fala da
arrecadação, ao Poder Judiciário, do FRJ cobrado do usuário pela serventia.

Esses dispositivos são sintetizados no art. 2º da Resolução nº 02/2023-CM: o


FRJ será adicionado aos emolumentos cobrados do usuário e comporá o custo
final do ato praticado.

Em outras palavras, é o usuário quem paga o FRJ, junto com os emolumentos


pelo ato. Logo, o usuário é o contribuinte de fato da taxa.
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14. ATOS SOLICITADOS A SERVENTIA DIVERSA DAQUELA QUE
PRATICARÁ O ATO

A disseminação das Centrais de Serviços Eletrônicos Compartilhados e seus


sucedâneos têm levado a uma crescente integração dos serviços notariais e de
registros públicos, e há muito se tornou realidade a existência de atos que são
solicitados a uma serventia, mas na verdade serão praticados por outra.

Essa situação é bastante corriqueira entre os ofícios do registro civil das


pessoas naturais por meio da respectiva Central: a plataforma inicialmente
permitia a emissão de certidão de assento localizado em serventia diversa,
eventualmente evoluindo para admitir o protocolo, em um ofício, de título que
será registrado ou averbado por outro.

Apenas para citar um outro exemplo, o mesmo ocorre entre os ofícios de


registro de imóveis e de títulos e documentos na constituição em mora dos
contratos garantidos por alienação fiduciária, cuja notificação é feita por este,
mediante delegação daquele.

Para esses casos, o art. 4º da Resolução nº 02/2023-CM dispôs que os


emolumentos e o FRJ a ele acrescidos serão pagos pelo usuário diretamente à
serventia em que ele solicitou a prática do ato ou do serviço, ainda que este seja
de responsabilidade de unidade diversa.

A serventia que recebeu os emolumentos não praticará o ato: este é da


competência de outra, a quem caberá, futuramente, recolher a taxa ao Poder
Judiciário. Da mesma forma, a serventia à qual o ato compete não teve contato
com o usuário e dele nada recebeu, pois o pagamento foi feito àquela que
recepcionou a solicitação.

Nesse contexto, e embora nada seja mencionado na Resolução nº 02, a


serventia que recebeu o pagamento deverá repassar, junto com os
emolumentos, o valor correspondente ao FRJ, para que aquela possa efetuar o
recolhimento a tempo e modo.

E para tanto, o FRJ deverá ser devidamente cadastrado nas plataformas de


serviços compartilhados junto com o valor dos emolumentos, quando o caso,
para que a transferência seja feita a contento. A forma de cadastro variará, mas
não havendo campo específico para informação da taxa, sugere-se que seja
preenchido o valor total (emolumentos + FRJ), para que o montante correto seja
cobrado oportunamente e repassado entre elas, conforme a sistemática usual de
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cada central.
15. DISCRIMINAÇÃO DO FRJ NO CORPO DO ATO E NO RECIBO

Um dos pilares norteadores do projeto que resultou na LC nº 807/2022 foi


conferir transparência ao FRJ, o que se procurou assegurar sob dois aspectos: de
um lado, tornar acessível ao usuário dos serviços extrajudiciais o que ele está
pagando; e de outro, evidenciar para a sociedade a destinação dos recursos
arrecadados.

A primeira forma de transparência é atingida pela própria simplificação e


racionalização do FRJ. Para o usuário, o ato ou serviço notarial ou de registro
público tem um preço (emolumentos), e sobre ele incide a taxa. Simples e direto.

A segunda se dá pela inclusão das destinações legais do FRJ nos atos e nas
tabelas de emolumentos que são publicadas, consoante disposto no art. 14 da
LC nº 755/2019 e no art. 21 da LC nº 807/2022. Trata-se, aqui, das destinações
previstas no art. 2º da LC nº 188/1999, com redação dada pelo art. 15 da LC nº
807/2022, e que podem ser assim resumidas:

a) 24,42% ao FUPESC (Fundo Penitenciário do Estado de Santa


Catarina);

b) até 24,42% para assistência judiciária gratuita (custeio de honorários


advocatícios e periciais em benefício das pessoas beneficiadas);

c) 4,88% ao FERM (Fundo Especial de Modernização e Reaparelhamento


do Ministério Público de Santa Catarina); e

d) 26,73% para o ressarcimento de atos gratuitos e pagamento da ajuda


de custo,5 ou equivalente, às serventias que fizerem jus.

Somados, esses percentuais totalizam 80,45%, de modo que apenas 19,55%


constituem receita propriamente destinada ao Poder Judiciário do Estado de
Santa Catarina. Esse último percentual também deve ser mencionado, pois
somente assim se chega aos 100% da destinação do FRJ

A LC nº 807/2022 não exigiu que as destinações fossem discriminadas por valor


específico, item a item, de modo que basta que se indique o valor total do FRJ e
os percentuais já aludidos. Visando uma padronização, sugere-se o seguinte
texto:

FUPESC: 24,42%; OAB, Peritos e Assistência: até 24,42%; FEMR/MPSC: 4,88%;


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Ressarcimento de Atos Isentos e Ajuda de Custo: 26,73%; TJSC: 19,55%

5 Ajuda de custo que será substituído pelo programa de renda mínima instituído pela LC nº 806/2022.
Por fim, o art. 3º da Resolução nº 02/2023-CM tratou do recibo de emolumentos.

Por imperativo lógico, o FRJ cobrado do usuário também deverá ser inserido no
respectivo recibo. Contudo, aqui poderia haver um empecilho prático: como a
taxa é cobrada por ato, e não raro um mesmo recibo de emolumentos abrange
vários deles, poder-se-ia questionar se cada ato e a taxa correspondente
deveriam estar individualmente discriminados.

Referido art. 3º elucida o ponto, ao permitir que os valores sejam agrupados em


rubricas por serviço realizado, mediante o somatório das quantias
individualmente apuradas. Assim, em se tratando de um recibo referente a dez
reconhecimentos de firma, os emolumentos dos dez atos praticados, assim
como o FRJ de cada um deles, poderão ter seus valores somados em um só
item, cada um com sua natureza, sem que isso signifique alteração na base de
cálculo da taxa, a qual continua sendo calculada ato a ato.

Essa aglutinação, todavia, é uma opção do notário ou registrador, que poderá, se


assim desejar, lançar um por um os dez reconhecimentos, cada qual com o seu
FRJ, sem prejuízo da obrigação de se mencionar os percentuais da destinação
dos recursos.

16. A GUIA DE RECOLHIMENTO DEVE SER MENCIONADA NO ATO?

Já que se tratou das informações relativas ao FRJ que deverão constar no ato, o
leitor acostumado com a sistemática anterior deve ter se indagado se os dados
da guia de recolhimento também devem ser mencionados, notadamente nos
instrumentos públicos e nos atos de registro ou averbação com conteúdo
econômico, consoante exigido pela legislação que vigorará até o dia
31/03/2023.

A resposta é negativa, pois a arrecadação da taxa ao Judiciário não é mais feita


ato a ato. Acrescido aos emolumentos, o usuário pagará o FRJ à serventia, e uma
vez ao mês, depois do encerramento da competência (período de apuração),
será feita a totalização e o recolhimento. De modo que os atos não terão mais
guias específicas para serem transcritas, tornando sem objeto qualquer
obrigação acessória que se pudesse estabelecer a respeito.

Vale enfatizar: o ato não tem mais uma guia própria, e não havendo o documento,
não há o que se transcrever. Tudo em linha com os objetivos do projeto, de
simplificação da arrecadação e racionalização dos procedimentos e da
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fiscalização.
17. RESTITUIÇÃO DO FRJ AO USUÁRIO

Antes de mais nada, uma observação: considerando-se as regras transitórias


previstas na LC nº 807/2022 e na Resolução nº 02/2023-CM, é justo afirmar que,
de início, três sistemáticas de restituição do valor pago ao FRJ conviverão entre
si. Neste momento, abordar-se-á a futura regra geral, aplicável à taxa recolhida
sobre os atos praticados a partir de 01/04/2023. As demais situações serão
abordadas adiante, quando se tratar das regras de transição propriamente.

Dito isso, vamos tratar das restituições.

Uma vez que o FRJ é pago pelo usuário à serventia, a LC nº 807/2022 trouxe em
seu art. 8º, como corolário, um procedimento simplificado para a devolução: a
partir de 01/04/2023, a própria serventia reembolsará a taxa que indevidamente
receber, e seu valor será posteriormente aproveitado como crédito.

De acordo com o art. 6º da Resolução nº 02/2023-CM, a devolução é feita pela


própria serventia que recebeu o pagamento. Dessa forma, somente esta pode
efetivar o reembolso e, contrariu sensu, a devolução não pode ser pedida a
quem não recebeu o pagamento.

O aproveitamento do crédito decorrente da devolução, por seu turno, está


previsto no parágrafo único do art. 8º da LC nº 807/2022. Aqui, o parágrafo único
do art. 7º da Resolução nº 02 traz um fundamental adendo, no sentido de que a
compensação poderá ocorrer no mês da própria devolução ou em competências
subsequentes.

Deste modo, não haverá preclusão, e qualquer lapso na compensação do crédito


não acarretará na sua extinção, sendo possível utilizá-lo em competências
futuras.

18. RESTITUIÇÃO QUANDO O ATO É PRATICADO POR OUTRA


SERVENTIA

O art. 4º da Resolução nº 02/2023-CM prescreve que o FRJ poderá ser pago a


uma serventia, embora o ato ou serviço seja da competência de outra. Essa
situação consequentemente ensejará a transferência de recursos entre elas,
posto que o notário ou registrador que praticar o ato é quem, ao final, deverá
fazer o recolhimento da taxa ao Poder Judiciário.
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Nesse contexto, como compatibilizar o art. 4º com o art. 6º, segundo o qual a
restituição será feita pela serventia que recebeu a taxa? Duas possibilidades são
vislumbradas, a depender do momento em que a restituição seja pedida.
Em um primeiro momento, a restituição pode se dar antes que o ato tenha sido
praticado, e sem que nenhum valor seja devido à serventia executora. Nesse
caso, bastará que aquele que recebeu o pagamento faça a devolução do
montante recebido, com os devidos lançamentos no livro de controle de
depósitos prévios e sem maiores impactos na apuração mensal do FRJ. Eventuais
transferências entre elas, se realizadas, naturalmente deverão ser estornadas,
pois o ato não se concretizou, e a serventia que seria responsável pelo ato não
faz jus aos emolumentos.

Doutra banda, o ato já pode ter sido praticado, e o valor foi repassado. Com a
efetivação da transferência, a serventia responsável pelo ato ou serviço recebeu
o pagamento, e com isso tornou-se, ela própria, a recebedora de que trata o art.
6º da Resolução nº 02.

Mais que isso, após a prática do ato a restituição demandará eventuais


retificações, inclusive nos selos que foram transmitidos, o que somente pode ser
feito pela serventia executora. Nesse passo, seria incongruente exigir a
restituição sem que se fizesse a devida adequação ou cancelamento do ato ou
serviço que ensejou o recolhimento, o que só poderá ser efetivado pelo seu
responsável.

Por esse motivo, excepcionalmente entende-se que, nessa hipótese, caberá ao


notário ou registrador que praticou o ato proceder à restituição, se for realmente
o caso, cabendo a ele aproveitar o correspondente crédito. Mesmo porque,
como já dito, tendo ele recebido o valor do FRJ para posterior recolhimento, ser-
lhe-á aplicável o art. 6º da Resolução nº 02.

19. OS CASOS QUE ENSEJAM RESTITUIÇÃO

O art. 5º da Resolução nº 02/2023-CM inicia com dois esclarecimentos.

Primeiramente, a restituição do FRJ poderá ser integral ou parcial.

Vale dizer, o notário ou registrador devolverá ao usuário a taxa recebida tanto se


ela foi paga a maior, como nos casos em que ela é inteiramente indevida. Não
importa: qualquer que seja o valor, a devolução será feita por quem recebeu o
pagamento, observadas as nuances relativas à aplicação do art. 4º da Resolução
nº 02, anteriormente abordadas.

O segundo ponto é quanto à restituição acompanhada de devolução de


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emolumentos também cobrados indevidamente ou a maior.


Como a base de cálculo da taxa são os emolumentos, é natural que, havendo
erro de contagem deste, a irregularidade também afetou, em igual medida, o
cálculo do FRJ. E se há emolumentos a serem devolvidos, a parcela da taxa
incidente sobre eles também deverá sê-lo e em conjunto, no mesmo momento.
Afinal, é a “regrinha de bolso”: o FRJ incide sobre os emolumentos do ato
praticado, na exata medida em que eles forem devidos. Naturalmente, perguntar-
se-á, aqui, quanto ao reembolso do ISS acrescido ao valor dos emolumentos, no
entanto essa resposta é dada pela legislação do respectivo município, devendo
ser consultada caso a caso, o que foge ao escopo desta cartilha.

Agora, se toda devolução de emolumentos tem que ser acompanhada do FRJ


respectivo, o reverso não é verdadeiro, pois haverá casos em que apenas a taxa
foi indevidamente cobrada, estando aqueles corretos. E essas situações
ocorrerão basicamente nas hipóteses de que trata o § 2º do art. 7º da LC nº
807/2022, ou seja, quando se estiver diante de redução, dispensa, isenção ou
não incidência aplicável exclusivamente ao FRJ, sem afetar o valor dos
emolumentos. De modo que poderá haver reembolso da taxa sem que o mesmo
ocorra com os emolumentos pagos pelo usuário.

Partindo-se dessas premissas, e complementando o art. 8º da LC nº 807/2022, o


restante do art. 5º da Resolução nº 02/2023-CM lista as hipóteses em que
poderá haver restituição do FRJ. A seguir, comentaremos cada uma delas.

19.1 Mudança na cotação

Alterados os emolumentos, altera-se a base de cálculo, e se esta foi diminuída, o


valor cobrado a maior deve ser restituído, o mesmo ocorrendo, diga-se, com
aquilo que toca ao notário ou registrador pelo ato que praticou. Cumpre notar,
aqui, que o reverso é igualmente verdadeiro: havendo majoração dos
emolumentos devidos, cabe ao usuário complementá-los e também o FRJ, para
que o recolhimento seja feito de forma correta.

19.2 Cancelamento ou retificação do ato

Embora praticado o ato notarial ou de registro público, houve um ato posterior


corrigindo ou anulando a ocorrência do respectivo fato gerador ou sua base de
cálculo, o que enseja a restituição da taxa em favor do usuário.

Dois dispositivos relativos da LC nº 755/2019 bem elucidam os casos de que se


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está a tratar.
Nos termos do art. 35, cancelada a lavratura por culpa da parte, o ato não foi
finalizado ‒ e não havendo ato praticado, tampouco existirá o fato gerador do
FRJ. Ainda assim, serão devidos 1/3 dos emolumentos. Tendo havido antecipação
pelo usuário, o que exceder a esse terço deverá ser restituído, assim como o FRJ
correspondente. A princípio, essa restituição será feita apenas contabilmente,
com os devidos lançamentos no livro de controle de depósito prévio. No entanto,
se houve erro no sistema de escrituração da serventia, com transmissão
antecipada do respectivo selo e efetivação do recolhimento, a restituição gerará
crédito a ser aproveitado na apuração mensal.

Outra hipótese, agora decorrente de retificação, está no art. 36, § 3º, da LC nº


755/2019: se dela resultar a redução dos emolumentos devidos pela escritura, o
que foi cobrado a maior deve ser devolvido, assim como o FRJ correspondente,
ante a verificação de erro na base de cálculo utilizada no lançamento da taxa.

Toda forma, e a despeito das hipóteses legais aqui mencionadas, a restituição


por cancelamento ou retificação têm ampla aplicação, alcançando
principalmente os casos em que o notário ou registrador constatou a prática
indevida ou equivocada de um ato: havendo cancelamento ou retificação que
interfiram na apuração do FRJ, este deverá ser reembolsado à parte.

19.3 Desistência da parte

Se a parte desistiu e o ato deixou de ser praticado, não se verificou o fato


gerador do FRJ. E se houve antecipação de emolumentos e FRJ, eles serão
devolvidos, ressalvada apenas a parcela que, por força do regimento de
emolumentos, continuar devida ao notário ou registrador, a exemplo da hipótese
tratada no art. 35 da LC nº 755/2019, já referida.

19.4 Inobservância de redução, dispensa, isenção ou não incidência de


emolumentos

Em todos esses casos, os emolumentos não serão devidos, no todo ou em


parte. E não havendo pagamento de emolumentos, não há FRJ, o que enseja o
direito do usuário de também reaver o que ele indevidamente houver pago a
esse título.

20. A COMPENSAÇÃO NA APURAÇÃO MENSAL DO FRJ


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Ainda sobre a restituição e aproveitamento do crédito, cabe comentar,


finalmente, o art. 7º da Resolução nº 02.
O parágrafo único do dispositivo prevê que a compensação será possível desde
que tenha havido o repasse da taxa ao Tribunal de Justiça.

Antes de limitar o direito à compensação, a norma realça que ela (a


compensação) somente ocorrerá como procedimento inerente à apuração
mensal do FRJ se o valor já tiver sido recolhido ao Poder Judiciário, pois apenas aí
haverá crédito oponível a ele. De modo que, sem recolhimento, será
desnecessária a compensação no lançamento.

Explica-se.

A rigor, há três momentos em que a restituição poderá ocorrer.

O primeiro é quando o ato sequer chegou a ser praticado. Sem ato, não terá
havido fato gerador do FRJ, tampouco selo transmitido ao Tribunal. E bastará,
então, a simples devolução dos valores que foram antecipados, acompanhada
dos devidos lançamentos nos livros financeiros da serventia.

Um segundo momento é quando o ato já foi praticado mas ele foi corrigido a
tempo. Aqui, pode até ter havido a transmissão do respectivo selo de
fiscalização originalmente aplicado, mas antes do fechamento da competência, e
do lançamento da taxa, houve a correção e o erro não influenciou na totalização
mensal. Ou seja, o FRJ foi calculado e recolhido com exatidão, sem acréscimos
indevidos. Se assim se deu, novamente não haverá crédito oponível ao Poder
Judiciário na apuração mensal, embora, da mesma forma que antes, sejam
obrigatórios os correspondentes registros financeiros da devolução
eventualmente feita à parte.

Note-se que, nessas duas primeiras situações abordadas, o resultado da


apuração mensal estava certo, e a serventia corretamente arrecadou a taxa paga
pelo usuário, sem necessidade de ajustes ou compensações por conta de
devoluções feitas. E tudo porque as contingências que ensejaram a restituição,
ao fim e ao cabo, não interferiram no lançamento e o valor não chegou a ser
pago ao Judiciário.

O terceiro momento possível para uma restituição é quando o lançamento já se


perfectibilizou e a taxa foi recolhida: o ato foi praticado, o selo foi transmitido,
encerrou-se o período de competência, fez-se o lançamento e somente após os
valores terem sido pagos é que se verificou que o FRJ era indevido ou foi
recolhido a maior.
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Ora, se o crédito tributário foi efetivamente arrecadado, caberá então ao sujeito


ativo da obrigação ‒ o Tribunal de Justiça ‒ arcar com o ônus da devolução, e
isso se dá mediante a compensação prevista no art. 8º da LC nº 807/2022: em
um primeiro momento, a serventia restitui, e dessa restituição nasce o crédito
que ela aproveitará na apuração mensal da taxa. Exatamente como determina a
parte inicial do parágrafo único do art. 7º em comento: se o recolhimento já se
efetivou, procede-se à compensação no mês de ocorrência da restituição ou nas
competências subsequentes.

Nesse contexto é que se tem a obrigação acessória referida no caput do art. 7º


da Resolução, cuja compreensão se torna, então, cristalina.

Praticado o ato e sendo transmitido o selo de fiscalização correspondente, seus


dados inexoravelmente influenciarão na apuração mensal da taxa, como se verá
adiante. Esse fato obriga que as correções e quaisquer outras alterações feitas
no ato, e que se refiram à apuração do FRJ, sejam igualmente refletidas no
respectivo selo. Caso contrário, os ajustes no lançamento não se efetivarão, e
quaisquer créditos que o notário ou registrador possa aproveitar não estarão
disponíveis, pois não foram oportunamente comunicados via selo.

Vale dizer, as retificações, doravante, deverão ser feitas no ato e no selo quando
envolverem a apuração da taxa, observado, quanto à selagem, o que dispuser o
regulamento próprio.

21. COBRANDO O FRJ DA SERVENTIA: O LANÇAMENTO DE OFÍCIO

Praticado o ato e pago o FRJ pelo usuário à serventia, chegou-se finalmente ao


momento de se proceder ao lançamento da taxa e ao seu recolhimento em favor
do Judiciário, o que é tratado no art. 9º da LC nº 807/2022, observado o
procedimento descrito nos arts. 10 a 13 da Resolução nº 02/2023-CM.

Retomando-se a “ratio” que inspirou a LC nº 807/2022, desde o início se


pretendeu que a apuração e o recolhimento fossem simplificados ao máximo, e
para alcançar esse objetivo lançou-se mão do selo de fiscalização, por meio do
qual, repita-se, são transmitidos ao Poder Judiciário, quase que imediatamente,
seus elementos.

E dentre esses elementos está, justamente, a base de cálculo do FRJ, qual seja,
o valor dos emolumentos pelo ato praticado, assim como aquilo que foi cobrado
do usuário para satisfação do crédito tributário.

Assim, pratica-se o ato, sendo exigidos do usuário os emolumentos


correspondentes e o respectivo FRJ; os emolumentos e a taxa cobrados são
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informados via selo; o valor do FRJ é conferido automaticamente, validando-se,


de um lado, a correção dos emolumentos praticados por meio de inspeção
virtual, e de outro, o valor a recolher mediante a aplicação da alíquota de 22,73%.
Encerrada a competência, resta somar o valor da taxa apurada sobre cada ato e
emitir uma guia única, a qual é então disponibilizada para a serventia.

É, em suma, o que dispõe o art. 10 da Resolução nº 02/2023-CM. O lançamento


será feito de ofício pelo próprio Judiciário, utilizando-se, para tanto, as
informações transmitidas via selo. Ao final, é emitida a notificação de lançamento
ao notário ou registrador, responsável tributário pelo recolhimento, que fará,
então, o pagamento consoante as opções que lhe forem disponibilizadas.

Para tanto, o art. 11 da Resolução nº 02 dispõe sobre a metodologia de cálculo, e


ao fazê-lo, acabou por consolidar a nova sistemática do FRJ. A taxa incide sobre
os atos praticados no mês, salvo os casos de diferimento por ordem legal ou
judicial (art. 11, “caput”), sendo apurada mediante a aplicação da alíquota sobre o
valor dos emolumentos. Os créditos decorrentes das restituições feitas no
período são então descontadas do valor total apurado (art. 11, § 1º), desde que
tenha havido o seu recolhimento efetivo (art. 7º, parágrafo único). Por fim,
permite-se que os créditos excedentes dos reembolsos sejam utilizados em
competências futuras, até sua efetiva liquidação (art. 7º, parágrafo único, e art. 11,
§ 2º).

O saldo positivo que resultar corresponde ao valor a recolher do FRJ, e que será
consolidado na notificação de lançamento (art. 10); se a soma for “zero”, nada
haverá a recolher; e se as restituições superarem os recolhimentos devidos, o
saldo excedente dos créditos será aproveitado nas competências subsequentes
(art. 7º, parágrafo único, e art. 11, § 2º).

Quanto aos prazos, o art. 12 determina que a guia será disponibilizada até o
terceiro dia útil do mês seguinte ao da ocorrência do período de apuração,
devendo ser paga até o 5º dia útil (art. 9º da LC nº 807/2022 e art. 13 da
Resolução nº 02).

Em caso de inadimplemento da guia gerada, serão cobrados encargos


moratórios (juros e multa) sem a aplicação de qualquer outra sanção ao notário
ou registrador, salvo se restar constatada fraude ou outra infração disciplinar que
não a simples falta de pagamento no prazo (art. 9º, §§ 1º e 2º, da LC nº
807/2022), observado que eventual perda de delegação não afasta a
responsabilidade do notário ou registrador pela dívida (art. 9º, § 3º, da LC nº
807/2022).

22. IMPUGNAÇÃO DO LANÇAMENTO


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O parágrafo único do art. 10 da Resolução nº 02/2023-CM expressamente previu


que o Poder Judiciário disponibilizará, aos notários e registradores, ferramenta
para acompanhamento dos selos de fiscalização conforme eles forem
transmitidos.

Essa ferramenta assume fundamental importância na medida em que possibilitará


que o delegatário ou responsável confronte, ainda que pelo saldo, se todo os
atos foram corretamente praticados, se os selos foram gerados e transmitidos
fidedignamente ao Tribunal de Justiça, e se o valor da apuração automático
corresponde de fato àquilo que consta em sua escrituração.

Tudo para que, ao final, não se verifiquem divergências.

Não obstante, é certo que elas ocorrerão, e o sistema deverá permitir que
eventuais inconsistências possam ser identificadas e corrigidas a tempo,
mediante a aplicação de um selo retificador, na forma do art. 7º da Resolução. O
objetivo é simples: que o FRJ seja lançado corretamente, e com exata
correspondência entre dados do selo e os livros financeiros da serventia.

Só que as divergências poderão ser constatadas a posteriori, quando recebida a


notificação do lançamento já fechado e pronto para recolhimento. E para tanto, a
Resolução nº 02/2023-CM disciplinou, em seus arts. 14 a 16, o procedimento
para que o notário ou registrador possa apresentar impugnação.

A competência para julgá-la é do Presidente do Conselho do Fundo de


Reaparelhamento da Justiça (arts. 14, parte final, e art. 16, primeira parte),
devendo a petição ser protocolada até o décimo dia útil contado do término do
prazo de recolhimento, sob pena de preclusão.

Para facilitar, esse prazo, conjugado com o art. 13, corresponde ao décimo quinto
dia útil do mês subsequente ao mês de competência do lançamento.
Exemplificativamente, para os fatos geradores ocorridos no mês de abril/2023,
os prazos para recolhimento e impugnação serão, respectivamente, os dias 05 e
19 de maio do mesmo ano.

A petição de impugnação deverá preencher os elementos do art. 15, quais sejam:


indicação dos selos em que apontada divergência de apuração, fundamentos de
fato e de direito e comprovante de recolhimento da parcela incontroversa, cuja
guia deverá ser preenchida de acordo com o art. 29 da Resolução nº 02. De se
ressaltar, aqui, que o art. 17, parágrafo único, prevê que o pagamento integral do
que foi apontado na notificação dispensa o pagamento de juros e multa pelo
notário ou registrador cuja impugnação venha a ser rejeitada (e nem poderia ser
diferente, pois, a rigor, o tributo foi inteiramente recolhido).
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Recebida a impugnação, a auditoria interna do Poder Judiciário emitirá parecer
(art. 14, parágrafo único), sendo então submetida a julgamento pelo Presidente
do Conselho do FRJ, com direito a recurso para o Conselho da Magistratura do
Estado (art. 16).

Julgada improcedente a impugnação de forma definitiva, a diferença não


recolhida será lançada contra o notário ou registrador, acrescida dos encargos
moratórios de que trata o art. 9º, § 1º, da LC nº 807/2022.

23. A FISCALIZAÇÃO DO FRJ

O assunto é tratado nos arts. 18 a 20 da Resolução nº 02/2023-CM, e a despeito


deles serem auto explicativos, alguns aspectos merecem ser comentados.

Ao lado dos dados do selo de fiscalização, o art. 18 previu o elemento


complementar para acompanhamento e conferência do lançamento do FRJ, qual
seja, o livro diário auxiliar de registro da receita e da despesa de que trata o
Provimento nº 45 do CNJ, e que constitui a espinha dorsal de todos os registros
financeiros da serventia.

Tem-se, assim, verdadeiro binômio, pois se tratam de informações que devem


caminhar juntas: praticado o ato ou havendo o recebimento de emolumentos
diferidos, registra-se a entrada correspondente no livro diário, ao mesmo tempo
que no selo de fiscalização informa-se a data que o ato foi praticado ou houve o
recebimento de emolumentos anteriormente diferidos, e os valores
correspondentes.

Consequentemente, um deve espelhar o outro, e por esse motivo o livro diário foi
eleito como instrumento auxiliar de fiscalização, haja vista que seus saldos
devem coincidir com a ocorrência do fato gerador da taxa e respectiva base de
cálculo. Em outras palavras, eles deverão manter fiel correspondência entre si, e
as informações do livro refletem e complementam o selo, e vice-versa.

A resolução prossegue estabelecendo, em seu art. 19, uma importante divisão de


competências entre a auditoria interna do Tribunal de Justiça, e a Corregedoria-
Geral do Foro Extrajudicial e juízes diretores do foro. À auditoria, coube a análise
dos recolhimentos propriamente (inciso III); aos segundos, no exercício da função
correicional, fiscalizar a contagem e cobrança dos emolumentos (inciso I).

Embora seja uma divisão aparentemente singela, ela reuniu em um só órgão o


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exame da base de cálculo da taxa do FRJ, solidificando, de vez, a unificação dos


critérios de apuração: o FRJ tem por base os emolumentos, e sua correção é
verificada pelos juízes corregedores, e tão somente pelos corregedores, seja
quanto à natureza do ato, seja em relação aos valores que deverão alcançar.
Mais do que “conversar” com os emolumentos, a taxa de fato se torna uma
função deles, reunidos em um só parâmetro e submetidos a um mesmo
intérprete.

Essa dualidade de competências é reforçada pela própria Resolução quando ela


dispôs sobre os recursos e impugnações (art. 20). De um lado, as divergências
aritméticas quanto ao cálculo dos emolumentos são apreciados mediante
impugnação de lançamento. Já as insurgências quanto aos critérios de contagem
e cobrança de emolumentos deverão seguir o procedimento previsto na
respectiva legislação disciplinar, posto que seu apontamento é feito em relatório
de inspeção ou correição.

Por fim, e não menos importante, os §§ 1º a 3º do art. 19 tratam da


responsabilização do notário e registrador quando for constatada irregularidade
na apuração dos emolumentos, com o consequente lançamento da taxa sobre
eventuais diferenças que se apurar.

24. INÍCIO DE VIGÊNCIA

A LC nº 807/2022 estabeleceu que a nova sistemática do FRJ incidirá sobre


todos os atos ou serviços notariais e de registro praticados a partir de
01/04/2023 (art. 9º).

Importante recordar que o principal aspecto temporal da hipótese de incidência


da taxa é o momento da prática do ato, ficando a exceção apenas para as
situações em que tenha havido diferimento dos emolumentos por força de norma
ou decisão judicial. Praticado o ato, é nesse momento que resta configurado o
fato gerador do novo FRJ, ainda que o protocolo do título e a antecipação de
emolumentos e do recolhimento a título de FRJ tenham ocorrido em data
anterior, consoante informa a parte final do dispositivo para que não pairem
dúvidas.

Frise-se: que o momento de vigência é a prática do ato a partir de 01/04/2023,


não o protocolo do título, o recolhimento do FRJ ou outra situação anterior. E nem
poderia ser diferente, considerando que a lei tributária tem aplicação imediata a
todos os fatos geradores ocorridos na sua vigência.

Esclarecendo a regra e amparado no art. 9º da LC nº 807/2022, o art. 22 da


Resolução nº 02/2023-CM dispôs ainda que os recebimentos de emolumentos
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diferidos por ato praticado até 31/03/2023 seguirão a lei vigente na data em que
ele foi praticado, e, por conseguinte, não se sujeitarão ao recolhimento do FRJ.
Pode parecer contraditório excluir da incidência da lei um evento eleito como
fato gerador e que tenha ocorrido em sua vigência, mas esse raciocínio
desconsidera que os emolumentos a que o pagamento se referem decorrem de
um ato jurídico perfeito e acabado, e em relação ao qual a lei tributária não
poderia ser aplicada retroativamente (art. 150, inciso III, alínea “a”, da
Constituição Federal). Aliás, é esse o comando do art. 9º da LC nº 807/2022: o
ato tem que ser praticado a partir de 01/04/2023 para ser alcançado pelo novo
FRJ, e se ele o foi em data anterior, não será exigível o recolhimento da taxa pela
nova sistemática.

Excepcionalmente, os emolumentos referentes à lavratura e registro do


instrumento do protesto, e que são pagos por ocasião do cancelamento ou da
sustação definitiva, sujeitam-se à regra específica do art. 60 da LC nº 755/2019
e, inclusive em relação ao FRJ, deverão observar a legislação vigente no
momento em que os emolumentos forem satisfeitos pelo interessado. Daí a
ressalva feita pelo art. 22 da Resolução nº 02, e tais emolumentos diferidos
estarão efetivamente sujeitos à incidência da taxa de acordo com o disposto na
LC nº 807/2022, ainda que se trate de protesto lavrado e registrado antes de
31/03/2023.

25. APROVEITAMENTO DE GUIAS PAGAS ATÉ 31/03/2023

Em que pese já estar estabelecido que a LC nº 807/2023 incidirá em todos os


atos praticados a partir de 01/04/2023, a própria norma reconhece que será
comum o usuário ter recolhido o FRJ de acordo com as regras vigentes até o dia
31/03/2023, sendo que o respectivo ato somente será concluído e praticado já
sob a égide da novel legislação. Em suma, que o FRJ foi pago por guia em
31/03/2023, praticando-se o ato notarial ou de registro em 03/04/2023, por
exemplo.

Ao tratar de restituições, a LC nº 807/2023 franqueou à própria serventia que


recebeu os emolumentos a competência para efetuar a devolução ao usuário,
com direito, para ela, de aproveitar o respectivo crédito no lançamento mensal
da taxa. Na forma dos §§ do art. 9º, o mesmo deverá ser feito em relação às
guias recolhidas até 31/03/2023, constituindo a segunda sistemática de
restituição/compensação tratadas pela novel legislação.

Embora possa parecer complexo, o procedimento terá por base um simples


cálculo aritmético, e que nada mais é do que o FRJ a ser acrescido aos
emolumentos e calculados à razão de 22,73% sobre estes, tudo de acordo com
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a LC nº 807. Estabelecida a taxa devida, ela deve ser comparada com a guia
apresentada.
Não havendo guia paga antes de 31/03/2023, o FRJ será cobrado integralmente
sobre os emolumentos (§ 1º do art. 9º).

Se há guia recolhida antes de 31/03/2023 e seu valor é menor do que a taxa


calculada sobre os emolumentos, o usuário acresce a diferença ao pagamento
destes ao notário ou registrador, e esse montante será adicionado no
lançamento da competência (§ 1º do art. 9º).

E caso a guia recolhida antes de 31/03/2023 tiver valor maior do que o novo FRJ,
apenas esse será devido, e o valor a maior ‒ desculpe-se a redundância ‒ será
devolvido ao usuário, com consequente crédito em favor da serventia (§ 2º do
art. 9º), a ser aproveitado no lançamento mensal (art. 11, § 1º, da Resolução nº
02).

O procedimento acima descrito é aplicável tanto aos atos notariais como de


registro público, e não apenas a este, como se poderia pensar em um primeiro
momento.

E qualquer que seja o caso, a guia que foi apresentada deverá ser mencionada
no ato, seja no respectivo selo de fiscalização, seja no seu corpo propriamente,
descrevendo-se, neste, toda a operação feita para posterior fiscalização: qual o
valor que era devido de acordo com a LC nº 807/2023, o da guia apresentada, a
diferença apurada, e se ela foi restituída ou houve complementação (§ 3º do art.
9º).

Vale observar, aqui, que tal situação ocorre apenas nos atos com conteúdo
econômico, pois os demais não estavam sujeitos a recolhimento anterior,
inexistindo, para eles, guia a aproveitar.

Nesse passo, duas circunstâncias adicionais são vislumbradas.

Em primeiro lugar, o usuário pode apresentar duas ou mais guias de recolhimento


para um mesmo ato: uma principal e outra complementar. Ocorre que se trata de
fato corriqueiro na sistemática ora superada, e em se tratando de recolhimento
feito por guia, ambas poderão ser aproveitadas.

Como inverso da primeira, tem-se a segunda situação: a guia possui valor maior
que o devido de acordo com a nova taxa, e o usuário deseja que o crédito seja
aproveitado em vários atos, até o limite do crédito. Todavia, os recolhimentos
feitos por guia somente podem ser aproveitados em um único ato notarial ou de
registro, e essa restrição não mudou com a LC nº 807/2022. Logo, aproveita-se a
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guia paga em um único ato e se restitui a diferença, sendo que o crédito é


aproveitado no lançamento mensal, na forma já exposta. Evidentemente as
operações decorrentes do reembolso e do pagamento simultâneo do total dos
emolumentos financeiramente se anulam, mas essa é apenas uma questão de
fluxo de caixa que deve ser tratada gerencialmente pelo próprio notário ou
registrador.

Por fim, o § 4º do art. 9º é taxativo: a guia só poderá ser aproveitada se o


pagamento foi vinculado à serventia que está praticando o ato. Havendo
expresso impedimento legal, não haverá escapatória: é expressamente vedado
que se aproveite o crédito decorrente de guia vinculada a outra unidade
extrajudicial. De modo que resta proceder-se ao pagamento integral do FRJ
conforme a nova sistemática, devendo o usuário requerer ao seu Conselho
Gestor a restituição, na forma usual.

26. RESTITUIÇÃO DE GUIAS NÃO APROVEITADAS

O art. 9º, § 4º, da LC nº 807/2022 já antevia, mas o art. 21 da Resolução nº


02/2023-CM foi cristalino: os valores pagos por guia até o dia 31/03/2023 e que
não sejam aproveitados em ato notarial ou de registros públicos não poderão ser
restituídos pelas serventias, cabendo ao usuário solicitar o reembolso ao
Conselho do Fundo.

Sendo assim, não é permitido que a serventia efetue a devolução avulsa do


valor de guia. Sua restituição ou aproveitamento total ou parcial dependem
inexoravelmente da sua vinculação a algum ato praticado pelo notário ou
registrador, consoante disposto no art. 9º da LC. Sem ato notarial ou de registro
vinculado, resta pedir que o próprio Judiciário faça o ressarcimento.

O pedido de restituição será formulado por meio do Sistema de Devolução de


Valores do ERP do Tribunal de Justiça, instruído com os documentos indicados
no manual de devolução do FRJ.

27. LANÇAMENTO TRANSITÓRIO POR HOMOLOGAÇÃO

O lançamento automatizado possibilitado pela LC nº 807/2023, e disciplinado


pelos arts. 10 a 13 da Resolução nº 02/2023-CM, é o ponto de chegada de toda
a inovação introduzida pelo novo regime. Sabe-se, todavia, que muitos ajustes
ainda serão necessários, seja nos padrões do selo de fiscalização, seja no
sistema de escrituração das serventias, sem prejuízos de outros sistemas que
ainda precisarão ser construídos e disponibilizados aos notários e registradores,
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a exemplo da ferramenta de consulta dos selos transmitidos de que trata o


parágrafo único do art. 10 da resolução.
Antevendo essa situação, o art. 27 da Resolução previu que, para os fatos
geradores ocorridos entre 01/04 e 31/12/2023, os lançamentos da taxa serão
realizados por homologação, cabendo ao notário e registrador apurar o montante
a recolher e fazer o recolhimento com guia emitida na forma do art. 29 da
resolução. Como instrumento de apuração, a serventia deverá utilizar-se da
escrituração do seu livro diário auxiliar de registro da receita e da despesa.

Trata-se, todavia, de metodologia temporária de apuração, prevendo-se que o


lançamento de ofício já seja feito para os fatos geradores ocorridos a partir de
01/01/2024.

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