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16/11/2022
A EMERGÊNCIA E AS CARACTERÍSTICAS DO EMPFINDSAMER STIL
O estilo galante [style galant] era um reflexo da naturalidade como estilo de referência.
Já o estilo sensível [empfindsamer] é a designação para designar o estilo mais "amaneirado", "rebuscado",
"afetado", que emerge em meados do século XVIII, em torno de Berlim.
O contexto de onde este estilo emerge é inserido na corte do rei Frederico II da Prússia (importante líder
político e militar e patrono das artes).
• Devido ao conjunto das suas iniciativas, a Prússia torna-se uma grande potência a nível económico e
militar.
• Uma das armas que a nobreza tinha, de forma a projetar o seu estatuto perante a sociedade, era as
artes.
○ Carl Philipp Emanuel Bach;
O estilo sensível vai ser muito mais circunscrito (no espaço germânico) que o estilo galante, que se difundiu
por toda a Europa.
F. W. Marpung
Valorização da emoção acima de tudo (expressão mais irrestrita)
- VS (estilo galante): Expressão controlada da emoção (emoção racional)
Susceptibilidade do intérprete e do ouvinte a um âmbito de estados e respostas emocionais mais
alargados que o estilo galante
Alteração rápida do registo emocional e até inesperada (a intenção de "inflamar o sentimento", de
despertar e manter a atenção do ouvinte através dessas mudanças de carácter e atmosfera
expressiva)
- VS (estilo galante): Consistência do registo emocional
A única expectativa é o inesperado
- VS (estilo galante): Lógica da naturalidade e equilíbrio
Expressão melódica desimpedida
- VS (estilo galante): Construção lógica da métrica da frase
○ Melodismo anguloso: há mais saltos do que graus conjuntos e não há necessidade de
compensações no perfil da melodia;
○ Melodismo por vezes próximo do recitativo;
○ Sincopas, hiatos rítmicos, irregularidades métrica;
Hemíolas - acentuação em notas que dão uma sensação de um ritmo diferente da
escrita;
○ Uso económico, mas efetivo, da ornamentação;
Recorrência das apogiaturas (ex.: dissonância no tempo forte e a sua resolução no
tempo fraco);
○ Preferência pelo modo menor e por tonalidades inusuais;
○ Recurso a cromatismos e modulações surpreendentes;
Persistência de alguma herança barroca:
○ Dispositivos contrapontísticos (imitação, inversão, etc);
○ Flexibilidade da estrutura frásica;
○ Preferência por melodias longas e assimétricas;
Estilo e expressão pessoal, subjetivo/a, excêntrico/a - "maneirismo";
Direcionado aos connoisseurs e não tanto aos amateurs;
○ A sua apreciação requer conhecimento; ao contrário do galante, não procurava a moderna
audiência alargada;
Não era adequado a todos os géneros e funções;
○ Sobretudo na música de tecla a solo (não na ópera, etc).
- Principais figuras:
○ Wilhelm Friedemann Bach
○ Carl Philipp Emanuel Bach
Sonata em Dó maior
○ Jiri (George) Benda
Sonata em Si bemol maior
A nível musical, nessa mesma altura, uma série de compositores compõem obras com características que
são consideradas como deploração do estilo sensível da década anterior.
. Evocação de atmosferas dramáticas, terríficas, ameaçadoras, violentas, desesperadas;
. Tonalidades menores; instabilidade tonal;
. Sonoridades massivas e contrastes abruptos - sensações de agitação e "tempestade";
. Acentuações inesperadas e ritmos sincopados - ritmos que transmitem a ideia de imprevisibilidade
e inconsistência;
. Pathos exacerbado e lirismo expressivo/melancólico/dolente;
. Mudança súbita de carácter/atmosfera;
. Harmonias ásperas, chocantes, inesperadas, dissonantes;
(Década de 90)
- Ex.: Sonata para piano nº 8, Pathétique - Ludwig van Beethoven
- Ex.: Concerto para piano nº 3 - Ludwig van Beethoven *
[O classicismo vienense (1ª Escola de Viena) vai funcionar como uma síntese dos estilos do designado
período clássico.]
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21/11/2022
A ascensão da burguesia e de um público amador
Dada a chegada permanente de novas populações, vai existir um alargamento de cidades antigas, o
surgimento de novas cidades e, consequentemente, um crescimento da importância dos centros urbanos
na sociedade.
Assim, verifica-se também um processo de terciarização - setor do comércio e dos serviços (administração,
educação, saúde) - setor associado ao crescimento das cidades.
Florescimento da burguesia (pequena, média e alta);
- Burguês = "habitante do burgo".
Processos relacionados:
Industrialização Urbanização Terciarização --------> Burguesia
A burguesia procura afirmar-se no contexto da sociedade e as práticas culturais vão ter um papel
preponderante no processo de crescimento da burguesia, trazido pela revolução industrial, e emerge um
novo público amador de música.
• Constituído em grande parte pela nova burguesia;
• Consumo de música na esfera privada (prática instrumental) e na esfera pública (prática operática,
nos teatros públicos);
• Sustenta o processo de emancipação de música instrumental;
- Alterações nas concepções de teóricos e compositores;
- Uma variedade de géneros (Lied; Música instrumental; Música de câmara; Emancipação da
sinfonia e relevância no género concertante);
- Expansão de um mercado para a música instrumental;
▪ Indústria da edição musical - surgimento de novas tecnologias ao nível da produção,
edição e impressão (Breitkopf, Artaria, etc) - mais e nova música para ser consumida por
este novo público crescente;
▪ Os compositores vão possuir uma nova possiblidade de sustento (não está limitado às
encomendas do patrono nobre ou das instituições religiosas, mas pode vender a sua
música no mercado, através das empresas editoriais);
□ Os compositores jogam com as expectativas deste público anónimo e com gostos
variados.
O meio urbano torna-se, assim, o principal centro de produção musica e destrona o espaço religioso e o
espaço palaciano.
A música instrumental enquanto linguagem
O estatuto da música vocal era indiscutível, pois só a palavra poderia veicular o pensamento associado. E a
música instrumental, por si só, podia agradar aos sentidos, podia suscitar emoções e sentimentos, mas não
podia incorporar conceitos, nem veicular um pensamento racional - dimensão abstrato.
- Esta perspectiva mantém-se entre os pensadores iluministas até ao final do século (powerpoint 17 -
Rousseau).
Em simultâneo, a música instrumental conquistava um novo estatuto e afirma-se como linguagem por
direito próprio - uma "linguagem do sentimento" (suscita reações até involuntárias - doutrina dos afetos),
governada por regras próprias, de sintaxe e de retórica - contributo da tratadística:
• Equiparação da frase musical à frase linguística;
• Adoção de estratégias oriundas da retórica e da gramática ("sujeito" e "predicado");
• Ex.: Heinrich Christoph Koch;
-> Princípio de "unidade na variedade" - sem abdicar da esfera principal da obra, esta deve promover
contrastes suficientes no seio do todo (relação com um público anónimo).
A forma sonata
O próprio instrumentário (conjunto de instrumentos que se usam nesta época) sofre um conjunto de
transformações (que tem que ver com as novas tecnologias da revolução industrial):
- Ascensão do pianoforte e da orquestra (sinfónica);
- Lugar destacado no âmbito das práticas domésticas - instrumento autossuficiente e com um
conjunto alargado de novas possibilidades expressivas;
- Lugar protagonista nas práticas concertantes - projeção do som, em comparação ao cravo;
- Série de transformações, invenções e aperfeiçoamentos.
- Evolução das cordas de tripa para cordas de metal, etc.
Simbiose entre as evoluções do instrumentário e as novas técnicas composicionais.
Porém, este não era o único modelo, coexistindo uma variedade de modelos formais praticados.
Este termo foi definido a posteriori pelo teórico Adolf B. Marx.
Existiam três práticas de forma sonata:
- Exposição, desenvolvimento, reexposição;
- Modelo monotemático de Haydn;
- 2 grupos temáticos:
Exposição
1º Grupo temático 2º Grupo Temático
T1 T2 T3 T4 Cod
Ré Sim Lá M Lá M
Género e forma na música instrumental
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23/11/2022
MÚSICA DE CÂMARA
A sonata para tecla em Itália entre ca. 1730 e ca. 1780
Em Itália, o contributo para o desenvolvimento da sonata para tecla foi realizado por instrumentistas de
cravo (além de tocarem outros instrumentos e serem professores de canto) e compositores que
publicavam sonatas para tecla (normalmente em grupos de 6) como meio de afirmação, já que não
encontravam sucesso no campo composicional operático.
Escreviam baseados no estilo galante e na sua simplicidade e imediatismo, mas existia uma grande
variedade de práticas, estilos e formas composicionais e na sua combinação de andamentos.
Desde Domenico Scarlatti (ativo em Nápoles, Veneza, Roma, Lisboa, Sevilha, Madrid), de quem sobrevivem
555 sonatas (Essercizi, Londres, 1738, 1ª publicação), marcadas por uma escrita arrojada e influenciado por
Antonio Soler e Thomas Arne, até Wolfgang Amadeus Mozart, coexistiram compositores-instrumentistas
que contribuíram para o desenvolvimento da sonata para tecla. Os principais foram Giovanni Benedetto
Platti, Domenico Paradisi, Baldassare Galuppi e Giovanni Marco Rutini.
Giovanni Benedetto Platti (1697?-1763);
• Natural de Veneza, ativo em Würzbug (Francónia) desde 1722, ao serviço da família Schönborn;
• Dos quatro compositores foi o único que nunca escreveu para teatro;
• Em 1742 publica a suas primeiras 6 sonatas, em Nuremberga;
▪ Escritas modelo de 4 andamentos da antiga sonata da chiesa (L - R - L - R);
• Só nas suas últimas sonatas é que afirma o modelo de sonata com 3 andamentos;
• Escrita com uma exposição e recapitulação, separadas por um episódio;
▪ Não usa 2º tema;
▪ Frases curtas e incisivas;
Pietro Domenico Paradisi (1707-1791);
• Natural de Nápoles, ativo em Londres como compositor de ópera, professor de cravo e de
canto e empresário do King's Theatre;
○ As suas 12 sonatas (1754) tiveram mais impacto tornando-o conhecido por isso e não
pelas suas óperas
▪ As suas sonatas foram republicadas/reimpressas 5 vezes em Paris e Londres -
incomum na época;
○ Escritas em dois andamentos com combinações variadas e nunca repetidas;
○ Explora as possibilidades "discursivas" entre o 1º e o 2º tema (escritos em áreas tonais
diferentes);
○ A escrita Domenico Scarlatti (mais propriamente da sua obra Essercizi) influencia a
escrita composicional de Paradisi;
○ As proporções e sonoridade são dirigidas às práticas domésticas;
▪ Concentração nos detalhes, com pausas e subtis variações de ideias, mesmo que
não tenham uma importância temática ou uma função de clímax no curso da peça.
Baldassare Galuppi (1706-1785);
• Natural de Veneza e ligado às instituições musicais;
○ Ao contrário de Paradisi, seu contemporâneo, Galuppi obteve bastante sucesso por toda
a Europa com as suas óperas cómicas, juntamente com o libretista Goldoni;
• Escreveu ca. 90 sonatas para tecla;
○ Duas coleções foram publicadas em Londres (em 1756 e 1759);
○ Grande variedade na organização e número de andamentos (entre 2 e 4);
▪ Baseados no modelo da antiga suite (finais ao estilo da gigue, aberturas no estilo
da tocata);
○ Preocupa-se com a dimensão melódica: escrita cantabile com apoio de "baixos de
Alberti";
▪ A continuidade sonora dada pelo baixo de Alberti permitia a escrita cantabile
mesmo em andamentos mais rápidos - Allegro cantabile [Al.: singende cantabile]
que se tornará um elemento característico do estilo italiano.
Giovanni Marco Rutini (1723-1797);
• Natural de Florença, formado em Nápoles e com atividade operática em várias cidades
europeias;
• Em Praga, publica a sua primeira coleção de sonatas para tecla (1748);
• Em 1757-60, publica todos os anos coleções em Nuremberga;
• Estilisticamente representa uma nova geração (mais moderno do que os outros compositores);
○ Organização de andamentos semelhante à de Galuppi, mas com maior frequência de
harmonias diminutas (como 7ªs), recitativos instrumentais e secções em modo menor;
• As suas coleções (2º até à 6ª) foram uma importante influencia para as obras iniciais de Haydn
e Mozart.
Todos estes elementos estilísticos trabalhados por estes compositores estabeleceram-se na prática da
sonata.
Outras figuras:
• Giuseppe Antonio Paganelli;
• Domenico Alberti;
• Giovanni Maria Pescetii;
• Mattia Vento;
• Giovanni Battista Serini.
(…) Powerpoint 18 ?
A sonata para tecla no espaço germânico entre ca. 1730 e ca. 1780
Dos muitos filhos de Johann Sebastian Bach, quatro deles deram um importante contributo para o
desenvolvimento da sonata para tecla no espaço germânico (Wilhelm Friedemann, Carl Philipp Emanuel,
Johann Cristoph Friedrich e Johan Christian).
Wilhelm Friedemann Bach (1710-1784);
• Ativo como organista e diretor musical em Dresden e Halle;
• Em 1764 resignou o posto e, nos seus últimos 20 anos, dedica-se a dar aulas particulares e
concertos públicos;
• Produziu obras em diferentes géneros sacros e instrumentais (cantatas sacras, trios sonatas,
concertos e fugas);
• Estilisticamente mais próximo da era barroca - textura contrapontística e imitativa;
• Quase sempre escritas em 3 andamentos, com várias soluções formais;
• Presença de elementos do empfindsamer Stil.
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788);
• Membro da família mais conhecido do público;
• Ativo em Berlim (1740-1768) e Hamburgo (onde compôs mais cantatas, paixões e oratórias);
• Primeiro compositor com uma grande dimensão de obras para tecla (ca. 300 peças, maior
parte escritas em Berlim);
○ Ca. 170 sonatas para clavicórdio/cravo/pianoforte;
○ Primeira publicação em 1742: "Sonatas prussianas" (6 sonatas);
○ Adota o esquema de três andamentos, sem minueto, com o primeiro em forma sonata;
▪ Com pouca definição temática, à maneira da tocata;
▪ Ou com 1º tema e até 2º tema bem definidos;
○ Escrita mais de acordo com o estilo polifónico característico dos autores germânicos (ao
contrário do estilo galante);
▪ Não há baixo de Alberti;
▪ Textura imitativa predominante;
○ Interessa-se mais pela forma rondó e pela fantasia (formas cíclicas) do que pela forma
sonata (forma estrutural);
○ Assume-se como o representante da prática do empfindsamer Stil;
○ O conceito de música para instrumento de tecla era estímulo de experimentação
composicional;
○ Tornou-se uma das figuras principais de influência entre os compositores do norte e
centro do espaço germânico, antes de Haydn.
▪ Johann Christoph Ritter;
▪ Jirí Antonín Benda;
▪ Heinrich Rolle;
▪ Johann Gottfried Müthel;
▪ Johann Christoph Friedrich Bach;
▪ Christian Gottlob Neefe;
▪ Ernst Wilhelm Wolf.
A sonata para tecla em Paris por volta de 1760
O mundo intelectual parisiense estava interessado sobretudo no teatro. Ainda assim, a música
instrumental também floresceu, graças a uma vida concertística (pública e privada) muito ativa e por uma
indústria editorial muito dinâmica. Não é afetada/limitada pelo tipo de debates existentes no mundo
teatral, rompendo muito mais com o mundo tradicional, do que o teatro.
Ao contrário de J. S. Bach e D. Scarlatti, a herança deixada pelos compositores François Couperin e Rameau
ficou cada vez mais distante e não produziu imitadores, sendo a música para tecla voltada para uma nova
atmosfera expressiva para além da poética do galante.
Contributo de Johann Schobert (1720/40?-1767);
• Natural da Silésia, estabelecido em Paris; biografia quase desconhecida;
• Trabalhou como cravista na orquestra privada do príncipe Bourbon-Conti;
• 2 sonatas para tecla solo, mais de 40 com violino ad libitum;
• Tonalidades menores, atmosferas sérias e melancólicas;
• Importância das texturas quase "sinfónicas";
○ Transpõe para teclado o mundo sonoro da orquestra - utiliza oitavas, acordes, arpejos,
trémulos.
Contributo de Johann Gottfried Eckardt (1735-1809);
• Natural de Augsburg, estabelecido em Paris;
Autodidata (aprendeu por si próprio) através da obra pedagógica de C. P. E. Bach, onde
assimila o vocabulário da Empfindsamkeit (cadência interrompidas, pequenas frases e
sincopas);
• Em 1763, publica a sua primeira coleção de sonatas, concebidas para cravo, clavicórdio ou
piano;
• Algumas características são paralelas às da música de Schobert.
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28/11/2022
A ascensão do pianoforte no decorrer do século XVIII
A sonata para tecla em Londres entre ca. 1760 e 1780
Até ao final do século escrevem claramente para pianoforte e exploram as suas possibilidades (projeção do
som e contrastes dinâmicos):
Johann Christian Bach
• Estuda em Berlim com o seu irmão mais velho, C. P. E. Bach, em Milão com G. B. Sammartini e
em Bolonha com G. B. Martini;
• Em Milão foi organista da catedral, compôs música sacra e escreveu ópera para Turim e
Nápoles;
• Em 1762 estabelece-se em Londres, como músico liberal (relação diretamente com o
mercado): professor de cravo, empresário de concertos e compositor de opera seria.
• Ele vai ser um dos principais cultores da música de tecla em Londres (bem como Charles Avison
e Thomas Arne - que cultuam G. F. Händel e D. Scarlatti) e o responsável introdutor de um
estilo mais "atual": o style galant e o singende Allegro, absorvidos na sua anterior experiência
italiana.
○ Exploração textural e dinâmica mais "moderna".
- Ex.: Seis sonatas, Op. 5 (1768), "para cravo ou pianoforte".
- Ex.: Seis sonatas, Op. 17 (Paris, 1774).
(A escrita do pianoforte distingue-se da escrita para cravo por se aproximar mais de um estilo sinfónico).
Foi uma das figuras de referência na história da sonata para tecla e o seu estilo vai ser uma das inspirações
de Wolfgang Amadeus Mozart.
Wolfgang Amadeus Mozart e a sonata para tecla
Joseph Haydn e a sonata para tecla
Até ca. 1760:
• Compõe 18 sonatas;
○ Peças associadas à sua atividade como professor de instrumento de tecla em Viena
(1749-59);
○ Designadas ainda como "divertimento" e marcadas por traços da música galante para
cravo;
▪ Em particular a partir dos modelos de Wagenseil e Rutini;
○ Grande variedade formal, textural e técnica;
○ Três andamentos: Allegro, Minuete, Presto/Allegro;
Década de 1760:
• Compõe 5 sonatas;
○ Em 1761, entra ao serviço da família Esterházy;
○ Aproxima-se do modelo de C. P. E. Bach;
Década de 1770:
• Compõe 18 sonatas;
○ Fase particularmente ativa no campo instrumental;
○ Maior maturidade na exploração de diversos aspetos;
▪ Música direcionada para connoisseurs;
○ Aproximação ao Sturm und Drang;
Após 1780: declina o seu interesse pela sonata;
• Compõe 5 sonatas (década de 80);
○ O foco mudava definitivamente para o pianoforte;
▪ Exploração do seu potencial técnico e dinâmico;
○ Experimentação formal;
• Compõe 3 sonatas (1794-95 - 2ª visita a Londres);
○ Acentua-se a exploração do potencial técnico e dinâmico do pianoforte;
▪ Imaginação sonora quase "orquestral";
○ Concebidas para o âmbito de concertos públicos.
A figura do pianista-compositor na viragem para o século XIX
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30/11/2022
HISTÓRIA
DA MÚSIC…
As origens do Lied germânico
O termo designa um género alemão cantado, praticado num ambiente doméstico, e significa canção.
As suas origens remontam para o início do século XVIII, com um corpus enorme (muito repertório), em
grande parte ainda por conhecer. Era uma prática musical amadora com a sua importância no quadro das
práticas domésticas, pois era uma das formas de entretenimento doméstico no seio de famílias burguesas.
É um género com um conjunto de aspetos estilísticos, marcados por um ideal de "acessibilidade artística",
não apenas um ideal estético, mas que tem que ver com uma questão prática relacionada com a pouca
dificuldade técnica que seja acessível aos músicos amadores.
• Primazia da melodia (protagonismo da melodia, com acompanhamento simples como suporte
harmónico), clareza diatónica (mantém os sons diatónicos da tonalidade), concepção estrófica e
simplicidade de expressão.
A historiografia desconsidera figuras e repertório anterior a F. Schubert, colocando toda a ênfase do género
neste compositor.
Neste género, o conceito de naturalidade é central e tido como uma referência estética - apela-se à
simplicidade na prática do Lied (intenção de criar canções "sem os adornos da arte").
O género surge essencialmente no espaço germânico (apesar de mais tarde surgirem géneros paralelos
noutras regiões da Europa), essencialmente a partir do movimento da literatura germânica.
• Por volta da década de 1730, dá-se um movimento literário que procura romper com os excessos do
Barroco (marcado pela ornamentação e contrapontos), procurando uma arte mais "natural".
• Figuras centrais da literatura germânica que marcam este movimento:
Johann Christoph Gottshed (1700-1766);
○ Filósofo, tratadista literário, escritor dramático;
○ Tentativa de recuperação dos ideias da retórica da Antiguidade Clássica;
▪ Interesse pela purificação da linguagem da literatura, libertando-se daquilo que os
teóricos daquele tempo consideravam excessos do Barroco;
○ Versuch einer kritischen Dichtkunst für die Deutschen, 1730;
▪ Concepções sobre que o deveria ser a nova poesia germânica - apelo à
naturalidade da expressão;
▪ Afirmava que o compositor que pretendesse colocar um poema em música deveria
procurar por «nada mais do que uma leitura agradável e clara dos versos, que,
deste modo, deve corresponder à natureza e ao conteúdo das palavras».
Poetas Friedrich Von Hagedorn e Johann Peter Uz;
○ Vão colocar em prática os apelas do teórico anterior;
▪ Obra poética marcada pela regularidade, fluência, elegância, simplicidade;
▪ A tentativa de recuperação de ideais da Antiguidade Clássica (ex.: in medio stat
virtus - "no meio está a virtude");
Johann Adolph Scheibe (1708-1776);
• Compositor e crítico, discípulo de Gottshed em Leipzig;
• Tem um papel determinante no estabelecimento do Lied e das suas características na sua
primeira fase;
• Em 1737, lança a revista Der critishe Musik, em Hamburgo, onde escreve uma série de textos
em que desenvolve o apelo do Gottshed, especificando aquilo que deveria praticado na arte
musical;
○ "A ordem e a natureza" acima de tudo o resto;
○ A forma estrófica como referência;
○ Melodia expressiva adequada à métrica em causa;
○ Melodia "natural": próxima da tónica, âmbito moderado, fluente, facilmente cantável;
• Essa série de textos escritos em Hamburgo (grande centro de atividade musical) têm um
grande impacto imediato, sendo acolhidas por um grupo de compositores importantes de
época;
○ Georg Philipp Telemann;
○ Johann Valentinn Görner;
○ Adolph Carl Kunzen;
○ E ainda em outras regiões próximas: Lorenz Mizler (Leipzig) e Johann Friedrich Gräfe
(Braunschweig);
Este é um primeiro momento marcante da história do Lied, nos anos 30/40, onde podemos falar de uma
pequena escola de compositores de Lied, em torno de Hamburgo, e que pode ser chamado por aquilo que
antecede ainda a "Primeira Escola de Berlim" (que até agora era considera o primeiro marco de
composição do género), que não tem a iniciativa, mas dará continuidade a estes compositores.
Características do Lied em meados do século XVIII (ca. década de 1750)
RESUMINDO:
Simplicidade melódica Simplicidade textural Simplicidade harmónica = Música para amadores
O Lied no final do século XVIII
Até ao final do século, encontram-se essencialmente o mesmo tipo de características, que não se alteram
substancialmente até ao final do século - simplicidade e naturalidade.
Em termos de inovações:
• O acompanhamento ao teclado torna-se cada vez mais variado e evocativo de acordo com o
conteúdo e ambiente/atmosfera temático(a);
• Estabelecem-se três estratégias formais distintas:
- Lied estrófico;
○ A mesma melodia aplicada às várias estrofes do texto;
- Lied estrófico variado;
○ Próximo do anterior, mas em certos momentos o compositor introduz elementos
diferenciados em termos melódicos, harmónicos, texturais - de acordo com o texto;
- Lied "desenvolvido" [durchkomponiert; through-composed];
○ Não está dependente a um esquema formal pré-definido;
○ Exploração livre, de acordo com o sentido do texto;
Este tipo de novas soluções formais e inovações de acompanhamento vão ser desenvolvidas pela
designada "Segunda Escola de Berlim" [décadas de 1780-1800].
Johann Abraham Peter Schulz;
Johann Friedrich Reichardt;
- Ca. 1500 Lieder;
- Interesse especial pela poesia de Goethe e Herder;
Carl Friedrich Zelter;
- Ca. 200 Lieder;
- Interesse especial por Goethe;
Outros contemporâneos: Christian Friedrich Daniel Schubart (Suábia); Johann Rudolf Zumsteeg
(Estugarda).
Algo que se encontra mais no século XIX, mas que surge essencialmente no século XVIII é o subgénero do
Lied - a balada.
• No Lied, encontramos poesia em geral colocada em música; na balada, os compositores abordam as
baladas poéticas - poesia narrativa que conta uma história (lenda, história fantasiosa);
• É graças às necessidades narrativas desta variante, que se encontram novas especificidades em
termos musicais:
○ Linhas vocais com cariz mais declamatório, em passagens mais narrativas (semelhante ao
melodrama);
○ O experimentalismo na voz pode incluir até uma mistura entre canto, recitativo, diálogo falado
e melodrama;
○ Maior importância conferida ao teclado e maior imaginação no tratamento dos
acompanhamentos - mais descritivos;
○ Preferência pela forma "desenvolvida", multi-seccional;
O Lied em Viena no final do século XVIII
Até ao final do século, não existia propriamente uma tradição do Lied em Viena - abordagem mais
conservadora do género em meados do século. Destaca-se a pouca composições dos compositores J.
Haydn, W. A. Mozart e J. A. Stepan, entre outros, afirmando um estilo individualizado, a partir da década
de 1770.
• Partes de teclado mais exigentes (decorrente na prática destes compositores no campo de música de
tecla - sonata);
• Afirma-se o papel "atmosférico" do acompanhamento - em prelúdios, interlúdios e poslúdios;
• Inicia-se a publicação das peças em três pentagramas;
○ Ex.: J. Haydn, XII Lieder für das Clavier, 1751; entre outros.
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05/12/2022
A sonata a solo com baixo contínuo
A prática do baixo contínuo no século XVIII tem origens na seconda pratica - linha vocal colocada sobre
linha instrumental subordinada.
- A harmonia é indicada através de cifras na linha do baixo;
- A linha do baixo não se envolve com o material melódico das partes superiores
- Instrumentação flexível (ex.: cravo e viola da gamba) - executado com dois instrumentos, um
harmónico e outro melódico);
- Sobrevive até ao final do século (declínio a partir ca 1750);
- Na música de câmara: 1 ou 2 vozes + B.C.
O florescimento da sonata a solo com baixo contínuo. entre os finais do século XVII e década de 1780,
numa era de transição - entre elementos barrocos e estilo galante.
• Compositores: powerpoint 19.
A estrutura variável da sonata a solo com B.C.
Há dois métodos estabelecidos no barroco e que são herdados no século XVIII pela sonata a solo.
O método da sonata da chiesa (L-R-L-R);
O método da sonata da camera (prelúdio e 3/4/5 danças);
Este género ainda não é dirigido ao público em geral (ao público amador).
A sonata a solo com B.C. entre ca. 1760 e ca. 1780
Dá-se, ao longo do século XVIII, uma popularidade crescente da figura do virtuoso instrumental.
• Sonata a solo como veículo de demonstração;
• Disseminação desse ideal também entre os amadores;
• Complexidade técnica crescente.
Este híbrido do género vai combinar aspetos arcaicos (baixo contínuo), modernos (elementos galantes) e
virtuosísticos.
É destacada a produção de Nardini (discípulo de Tartini).
Porém, no final do século XVIII, o baixo contínuo cai em desuso e o género desaparece (em Viotti há
algumas exceções).
A sonata em trio
A sonata para tecla com acompanhamento ad libitum
A sonata para instrumento de tecla tinha muito peso no mercado, mas essa sonata podia ser acompanhada
por outros instrumentos melódicos e tinha duas práticas estabelecidas:
• Cravo/pianoforte + instrumento agudo opcional (vl, fl, etc.);
• Cravo/pianoforte + instrumento agude e grave opcionais (vl e vlc).
O género atingiu o auge de popularidade entre ca. 1760 e ca. 1780, graças às suas características como:
A dimensão "sociável" do género;
Em geral, tinha uma menor exigência técnica - peça dirigida ao público em geral;
Instrumentos intercambiáveis (escrita pouco idiomática, pois não é uma peça pensada nas
possibilidades técnicas do instrumento);
Sucesso no mercado editorial dirigido ao público amador.
Gradualmente, encontram-se novos elementos a serem introduzidos, conduzindo a uma evolução gradual
do género para novos modelos (a sonata para violino e piano; o trio com piano - valorização de todos os
instrumentos e não hierarquizados).
- Intensifica-se o papel dos instrumentos ad libitum (inicialmente, limitavam-se a dobrar à 3ª, 6ª ou
8ª) - maior autonomia e relações mais complexas entre os instrumentos que passam a ser
obrigatórios;
- Maior elaboração/complexifica-se da relação entre as partes de instrumentos
• Ex.: Sonatas de J. C. Bach e L. Boccherini (Sonata para pianoforte e violino ou flauta, Op. 18,
Johann Christian Bach).
No final do século XVIII, o género mantém a sua popularidade e o modelo antigo coincide com o novo
modelo cada vez mais sofisticado (a designação antiga mantém-se por razões editoriais).
• Ex.: M. Clementi, J. L. Dussek, L. Kozeluch, I. Pleyel.
Historicamente, consideram-se que há duas figuras que levam o género para outro patamar: W. A. Mozart
e J. Haydn.
O género na produção de W. A. Mozart
- 1762-66: compõe 16 sonatas, k. 6-15 e 26-31 (pn e vl; pn, vl/fl e vlc);
- 1778: compõe 4 sonatas (pn e vl), K. 296, 201-303 (em Mannheim); + 3 sonatas (pn e vl), K. 304-306
(em Paris) - apesar de serem publicadas com a nomenclatura antiga, são consideradas sonatas já
para violino e piano.
Aspetos estilísticos:
Preferência por 2 andamentos (modelo de J. C. Bach), mas com maior variedade e complexidade;
Proporções maiores, partilha de material mais intensa;
Obras recebidas como representativas do novo género ("sonata para violino e piano").
Ex.: Sonata para violino nº 18 em Sol Maior, K. 301.
O género na produção de J. Haydn
- Ca. 1760-71: compõe 17 sonatas para tecla com violino e violoncelo (obras menores - violoncelo
limita-se a dobrar a mão esquerda do teclado - raízes no B.C.);
- No fim da carreira, através do contacto com editores em Paris e Londres, vai responder a uma série
de encomendas e vai-se interessar mais pelo trio com piano (vl, vlc, pn).
- Em 1784-90: compõe 13 trios com piano (n.º 18-30);
• Grande elaboração a vários níveis (abordagem séria);
• Autonomia de todos os instrumentos - importância equiparável de todas as partes
instrumentais, incluindo papel melódico do violoncelo ("diálogo a três").
- Em 1794-97: compõe 14 trios com piano (n.º 32-45).
Na década vienense, W. A. Mozart produz continuamente música de câmara para piano e cordas, com uma
maior sofisticação introduzida em todos os géneros, do que era a prática comum.
12 "sonatas para violino e piano" (onde considera que redefinem os padrões de escrita no género);
- Ex.: Sonata para violino nº 35 em Lá Maior, K. 526 (1787).
6 "trios com piano" (vl, vlc, pn - três instrumentos em diálogo);
- Ex.: Trio com piano em Si b Maior, K. 502.
Alargamento da música para piano e cordas: 2 "quartetos com piano" (vl, vla, vlc, pn).
- Ex.: Quarteto em Sol Maior, K. 478.
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07/12/2022
O QUARTETO DE CORDAS
As origens do quarteto de cordas em Itália
Mas independentemente de não haver uma ligação direta entre estes dois elementos, o quarteto de
cordas não vai aparecer de um novo modelo, mas através de uma variedade de práticas interpretativas que
se estabeleceram na 1ª metade do século XVIII.
A adaptação da sonata em trio barroca
- O ensemble mais frequente na viragem para o século XVIII;
- Dois instrumentos melódicos apoiados por baixo contínuo (instrumento de tecla e instrumento
grave);
- A prática de omissão do teclado e acréscimo da viola.
Adaptação de peças para três instrumentos e baixo contínuo
- A prática de executar a linha do contínuo sem teclado;
- Também a prática da sonata a quattro;
• Ex.: Sonate a quattro per due violini, violetta e violoncelo senza cembalo, A. Scarlatti
(1725);
• Torna explícita uma prática que já seria comum.
Adaptação de música orquestral (a quatro partes)
- Execução com apenas um instrumentista por naipe (cordas);
Adaptação do concerto ripieno
- (três ou quatro partes de cordas, mas sem solistas);
- Execução com apenas um instrumentista por naipe (cordas);
- A tradição do concerto ripieno funde-se com a sinfonia inicial (ex.: Sammartini, a partir de
1730s), que também podia ser executada apenas por quarteto de cordas;
No contexto italiano, os primeiros quartetos de cordas surgem através destes efetivos e consistiam em
adaptações. Consta-se que só na década de 60, com Luigi Boccherini, passa a ser utilizada designado por
"quarteto de cordas".
O desenvolvimento do quarteto de cordas na Áustria
Todas estas práticas não se restringiam dentro Itália, mas difundiam-se por toda a Europa. Todo o sul
germânico estava sob influência italiana, mas no que toca à música instrumental, também tinha práticas e
tradições locais.
• A prática da sinfonia a quattro em meados do século XVIII;
○ Geração que devia ser considerada a "Primeira Escola de Viena" - G. M. Monn e G. C.
Wagenseil (estiveram envolvidos nesta prática - concebida para orquestra de cordas a quatro
partes);
• A prática de execução com apenas um instrumentista por naipe (devido à dimensão
reduzida de muitas orquestras em pequenos palácios ou igrejas);
○ O estilo germânico foca-se na coerência interna do discurso - motivos, temas e frases
trabalhadas para a construção dessa coerência;
○ Três andamentos (1º em forma sonata; outros mais ligeiros);
• A prática do divertimento em meados do século XVIII;
○ O termo cobre um âmbito alargado de géneros instrumentais;
• Peças para um ou mais instrumentos com papel solista e sem baixo contínuo;
• Mais tarde seriam designadas como sonata, duo, trio, etc.
○ Há uma série de compositores que são representativos nesta evolução:
Franz Asplmayr (1728-1786);
▪ Durante as décadas de 1740-50, compõe mais de 60 divertimentos para 2 violinos
e violoncelo, sem baixo contínuo (concebidas especificamente para esta
formação);
▪ Compõe também divertimentos para 2 violinos, viola e violoncelo (típica formação
de quarteto de cordas);
• Do divertimento ao quarteto de cordas;
○ Compositores ao serviço de Mannheim - Ignaz Holzbauer e Franz Xaver Richter;
• Conheceram a tradição do divertimento e escreveram os primeiros quartetos de cordas
(4 e 6, respetivamente);
• Abordagem mais madura, com obras que revelam um interesse significativo pela
elaboração das texturas, dinâmicas e articulações;
○ Joseph Haydn (1732-1809);
• Parte da tradição do divertimento (ca. 36 para dois violinos e violoncelo);
• Sem o mesmo tipo de variedades dos seus primeiros quartetos de cordas, pela mesma
altura;
○ Na década de 1760, vários compositores austríacos escrevem divertimentos para dois violinos,
viola e violoncelo;
Franz Asplmayr;
Florian Leopold Gassmann;
Franz Xaver Dussek;
Johann George Albrechtsberger;
Leopold Hofmann;
Johann Baptist Vanhal;
- Rapidamente o quarteto de cordas, enquanto género fixa-se e ca. 1770 está estabelecido como o
género predileto entre os compositores e o público.
O quarteto de cordas em Madrid, Paris e Londres
• Caso de Madrid:
Luigi Boccherini (1743-1805)
○ Violoncelista, natural de Lucca, fixa-se em Madrid, em 1761;
○ Primeiro compositor a utilizar o termo "quarteto de cordas";
○ Compôs ca. 90 quartetos em cinco décadas, bastante difundidos por toda a Europa;
○ Contribuiu desde cedo para a complexificação da escrita;
○ A prática do quatour concertant (com destaque em particular para o papel virtuosístico
do violoncelo);
○ Preferência por três andamentos (R - L - R);
○ Presença de elementos do estilo galante;
○ Presença de elementos de música popular espanhola - prática de síntese;
• Caso de Paris:
- Atividade editorial muito dinâmica - entre 1760-80 foram publicados ca. 50p quartetos de
compositores de toda a Europa;
Compositores locais: François-Joseph Gossec; Pierre Vachon; Jean-Baptiste Bréval; Etienne
Barrière;
Salientou-se o italiano Giuseppe Cambini (ca. 1746-1825?)
○ Natural de Livorno, fixa-se em Paris em 1773;
○ Sucesso com 174 quartetos e ca. 80 sinfonias concertantes;
○ Preferências pelo estilo concertante;
• Caso de Londres:
- Atividade editorial igualmente muito dinâmica, no contexto de um mercado crescente para a
música de câmara;
- Campo dominado por compositores estrangeiros:
Johann Christian Bach (1735-1782);
▪ Preferência por dois andamentos;
Carl Friedrich Abel (1723-1787);
▪ Maior grau de elaboração;
▪ Três andamentos: forma sonata; lento; rondó/minuete;
▪ Preferência pelo modelo concertante;
Joseph Haydn e o quarteto de cordas
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12/12/2022
O CONCERTO CLÁSSICO
Transformações na vida profissional dos músicos
Durante o século XVIII, ocorrem transformações, mais radicalmente entre 1770-1820. Com o declínio do
Absolutismo e do seu sistema de patrocínio, a vida do músico distancia-se cada vez mais do modelo do
maestro di capella (profissional pago por um patrono) tornando-se num músico profissional liberal e
independente.
Há medida que se expandem as cidades, expanda-se um novo mercado musical dirigido à burguesia e à
nova música instrumental vai-se expandir, graças à emergência do novo circuito de produção e difusão
musical.
A emergência e a expansão do concerto público
Em Londres, existia muito espaço para eventos particulares - taverns, casas privadas, salões de baile - onde
existiam encontros e debates políticos (vida musical pública muito ativa).
Bach-Abel Concerts (1765-1782);
• Duas figuras, que tiveram uma atividade muito diversificada, criaram a iniciativa de "concertos
por subscrição" [subscription concerts];
• Em 1774, mudam-se para uma sala construída por eles próprios (que se torna a principal sala
de concertos de Londres até 1900) - Hanover Square Rooms (900 pessoas);
• Executava-se música variada e de diversas nacionalidades de compositores;
○ Aberturas de óperas, música de câmara, música para solista(s) e orquestra.
Concerts of Antient Music (1776-1848);
• De patrocínio real e aristocrático, criou-se uma instituição "anómala", que apresenta apenas
música com pelo menos 20 anos;
○ Continuação do culto dos antigos compositores barrocos (Händel);
Professional Concerts (1783-1793);
• Fundada pelos compositores Muzio Clementi e Wilhelm Cramer e Johann Peter Salomon;
• Concertos por subscrição nos Hanover Square Rooms;
Salomon Concerts (1791-1795);
• Iniciativa independente criada pelo Johann Peter Salomon.
PERGUNTAR AO PROFESSOR
Em Paris, a vida musical era centrada na corte e nas residências da aristocracia. Ainda assim, também
houve séries de concertos públicos.
Concert Spirituel (1725-1790);
• Instituição fundada por Anne Danican Philidor;
• Funcionava numa sala do Palácio das Tulherias;
• Era designado por "spirituel", pois os concertos eram executados nas duas semanas de Páscoa
e nas festividades religiosas durante o fechamento dos teatros;
• Após ser administrada pela Académie Royale de Musique e tornar-se num empreendimento
independente, os concertos tornaram-se a principal atração de Paris, sendo o seu repertório
mais secular do que religioso;
○ Aberturas, sinfonias e concertos de compositores franceses, italianos e alemães;
Concert des Amateurs (1769-1780);
• Sociedade que juntava profissionais e amadores (incluindo da nobreza);
• Uma das maiores orquestras do seu tempo;
Concert de la Loge Olympique (1780-1789);
• O Concert des Amateurs deu lugar a uma nova sociedade, que também se tornou numa das
maiores orquestras do seu tempo, com uma série próspera de contratações e encomendas.
Outros concertos privados:
• Jean de la Pouplinièrie (1730s-60s); Príncipe Conti (1760s-70s).
Em Viena, a vida musical também era centrada na corte e nas residências da aristocracia. Existia uma
grande proporção da nobreza amadora de música e os concertos privados eram abertos à assistência de
outros amadores.
Apesar de não haver séries comparáveis às de Londres e de Paris, em Viena também eram executados
concertos públicos, onde o músico/compositor era empresário de si mesmo.
- Os músicos podiam reservar o auditório de um teatro, diretamente como empresários deles mesmos,
tocando para o seu próprio lucro.
No caso das várias cidades germânicas, o fenómeno começa a florescer nas principais cidades comerciais:
Frankfurt, Hamburgo e Leipzig.
Desde os finais do século XVII, no espaço germânico, surgem alguns grupos de músicos amadores,
sobretudo universitários, onde realizam a prática musical entre os presentes, sem uma audiência passiva -
Collegium Musicum.
Mais especificamente em Leipzig, o seu destaque surge graças ao contributo da burguesia e da população
universitária.
- Grosses Concert [--> Gewandhaus];
• Foi fundado em 1743, por 16 homens de negócios, que constituíam a orquestra;
• Foi descontinuado, em 1756 e, após a Guerra dos Sete Anos, Johann Adam Hiller retoma a
instituição, em 1763, renomeando-a para Liebhader Konzert [=Concerto de Amadores];
• A sua designação voltou a mudar em 1766 e em 1781 tornou-se no atual Concerto
Gewandhaus [=Salão de Vestuário];
○ Criou-se a Gewandhaus Orchester (absorveu a anterior), sob a direção de John Adam
Hiller.
O florescimento da edição musical
Outro incentivo de atividade independente foi trazido pela difusão e progresso da edição musical.
• Progressos na tecnologia de impressão;
• Simbiose com as práticas musicais domésticas e públicas;
• Estabelecem-se grandes casas editoriais:
Breitkopf (Leipzig) - Breitkopf & Härtel;
Peters (Leipzig);
Schlesinger (Berlim);
Schott (Mainz);
Simrock (Bona);
Artaria (Viena);
Ricordi (Milão);
Huberty, Sieber, Bailleux, entre outros (Paris).
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14/12/2022
HISTÓRIA
DA MÚSIC…
O concerto não é uma invenção do Classicismo, mas na verdade, já tinha um certo prestígio no período
anterior. O termo concertare (it.) encontramos a ideia de interação, conciliação, combinação,
harmonização entre várias partes - âmbito alargado de significados durante o Barroco:
• Início do século XVII: obra com forças instrumentais diversas em "concerto" [combinação, interação];
Noção de harmonização de conjunto das várias partes;
- Ex.: H. Schütz, Kleine geistliche Konzerte, 1636-1639 (uma ou duas vozes solistas e pequeno
conjunto instrumental.
• Finais do século XVII: emerge a noção de um novo tipo de concerto (Torelli e Corelli);
- Concerto grosso [grande concerto"]:
▪ Concertino (pequeno grupo de solistas) que se opunha às intervenções do ripieno/tutti
(conjunto instrumental mais alargado) - linha que advêm de Corelli;
- Concerto a solo:
▪ Um solista (ou dois) em destaque contra o ripieno (Viena - Torelli, Vivaldi);
- Concerto ripieno:
▪ Não há solistas e os papeis solísticos são assumidos pelos instrumentos em diferentes
momentos;
• A forma ritornello é referência para todos os tipos de concertos e a sua função é determinar e
confirmar a tonalidade das intervenções do(s) solista(s).
Barroco R S R S R S+Orq.
I I-V V … … …
Classicismo Exp. Orq. Exp. c/ Sol.
I T1 ----> T2 Cod. X
O concerto a solo no século XVIII
O auge do concerto grosso começa a desvanecer-se e o concerto solo começa a ganhar importância e a
afirmar-se especialmente no ambiente dos concertos públicos.
Principais cultores, ca. 1740-60:
• J.-M. Leclair, P. Locatelli, G. Tartini (concertos para violino);
• C. P. E. Bach (concerto para tecla: cravo e pianoforte) - ciclo próximo do seu pai, J. S. Bach, com
iniciativas importantes para a sistematização do concerto a solo:
Uniformização de três andamentos diferenciados;
Sofisticação de meios, desenvolvimento da escrita idiomática para tecla.
- Ex.: Concerto para cravo em Ré menor, H. 427.
O concerto a solo entre ca. 1760 e ca. 1780
Este género teve uma tal difusão que aconteceu no concerto público. E há medida que o ideal do concerto
a solo ia sendo absorvido, o concerto passa também a estar incluído no ambiente doméstico.
- "Pequeno concerto de câmara" (em voga até ca. 1780)
Papel solístico reduzido e simplificado em termos técnicos, obedecendo aos princípios do concerto
mais sério, mas levando em conta a abordagem técnica dos amadores - o efetivo que o acompanhava
estava reduzido a um pequeno conjunto de cordas.
• Prática que cairá em desuso no final do século;
O concerto virtuosístico continua cada vez mais a afirmar-se no ambiento do concerto público e alguns
instrumentistas-compositores escrevem concertos para o seu instrumento, enquanto outros escreviam
para variados instrumentos. (powerpoint 23).
O caso do Concert Spirituel, em Paris, nota-se em particular este tipo de concerto a ter essa grande
importância.
- 2/3 concertos a solo por programa;
- Concertos para vl, vla, vlc, fl, ob, cl, tpa, hp e org;
- Primeira ocorrência de concerto para cravo/pianoforte a partir de 1778 (mais tarde que em Londres;
mas antes, noutras séries).
Concerto a solo entre ca. 1780 e ca. 1800
Há medida que nos aproximamos do final do século, assistimos a uma sistematização das características
anteriores e a uma absorção da escrita sinfónica no género.
• Alargamento do efetivo orquestral com sopros;
• Aprofunda-se o culto do virtuosismo no género;
• Paris e Londres:
O concerto a solo continuava a dominar os programas;
Acts (como se designavam as várias partes do evento concertista inglês) iniciados por uma
overture (abertura ou sinfonia) - semelhança com a prática operática;
Organização interna coordenada pelas atuações a solo (árias e concertos para variados
instrumentos de cordas e de sopros) - "assistir à exibição do virtuoso";
A variedade diminui gradualmente; mantém-se a voga do violino; ascende a sinfonia
concertante e o pianoforte.
Nas duas década finais, surgem duas figuras que marcam a história do género nesta época.
• Giovanni Battista Viotti:
- Discípulo de G. Pugnani - linha de A. Corelli, via G. B. Somis (professor de Pugnani);
- Carreira como virtuoso itinerante - violonista, regente e empresários em Paris e Londres;
- Fundador da "Escola Francesa do Violino":
Série de nomes de violinistas franceses na viragem para o século XIX (powerpoint 23);
Amplitude de som, variedade de técnicas de arco, etc.
29 concertos para violino e orquestra (repertório para ele próprio usar nas suas digressões):
Exploração dos elementos técnicos novos, mas sempre com ênfase colocado no cantabile
e na agilidade e brilhantismo da escrita;
Em termos formais, não será esta prática do Viotti que irá marcar a abordagem dos
contemporâneos, pois ele determinava uma linha diferente de J. C. Bach;
▪ Evita a recapitulação integral - abordagem pessoal à fusão entre a forma ritornello
e a forma sonata.
- Ex.: Concerto para violino em Lá menor, nº 22.
• Wolfgang Amadeus Mozart:
- Empresário de si mesmo e com necessidade de invenção;
- 1773-1781 - Salzburgo:
Concertos diversos para fl, ob, fg, vl (5) e piano;
- 1781-1791 - década vienense:
17 concertos para piano (+ 4 para tpa e 1 para cl);
Maior sofisticação da escrita e da abordagem entre o solista e orquestra;
Riqueza do material e maturidade crescente;
3 andamentos (R - L- R) bem sistematizados, mas com muita variedade temática;
Leva em consideração e a um outro grau de complexidade a fusão da forma ritornello e a
forma sonata;
Alargamento do grupo orquestral e a abordagem da orquestra é cada vez mais
sofisticada e consistente;
Cruzamentos com o mundo da ópera (serie e buffa) e importação de elementos dados
pela sua experiência sinfónica.
- Ex.: Concerto para piano em Dó menor, nº 24, K. 491.
- Ex.: Concerto para piano em Sol maior, nº 17, K. 453.
Concerto a solo na viragem para o século XIX
O género mantém a sua centralidade nos concertos públicos e floresce a figura do pianista-compositor
virtuoso.
- (nomes no powerpoint 23)
• Contributos para o desenvolvimento da técnica pianística;
• Compõe concertos para uso próprio (repertório efémero).
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02/01/2023
HISTÓRIA
DA MÚSIC…
A SINFONIA CLÁSSICA
As origens da sinfonia
Numa primeira fase, entre os finais do renascimento (século XVI) e o início do século XVIII, o termo o termo
não designava um género específico (ex.: Madrigal) --> várias vozes, vários sons em concordância.
No século XVII, o termo foi aplicado ao momento da abertura de ópera em Itália --> sinfonia avanti l'opera
(sinfonia antes da ópera), ou sinfonia (R - L - R).
• Estilo melodioso e predominantemente homofónico.
Distinguia-se da overture francesa (L -R).
• Ritmo lento e pomposo, seguido por uma secção imitativa.
A partir de ca. 1720, a abertura de ópera começa a afirmar-se autonomamente. Conhecem-se ca. 12.000
sinfonias, durante o período de 1720-1810, onde se entende o seu intenso cultivo, nestes séculos.
Outras das origens da sinfonia era o chamado concerto ripieno, com apenas o grupo orquestral, sem
solista(s). Esta exploração imaginativa de diferentes partes foi uma raiz para a origem do género.
Outra prática diferenciada que está na origem da prática da sinfonia é a sonata em trio.
• Existia a prática de acrescentar-lhe uma linha de viola (dobrando a linha do baixo contínuo), alargar
cada linha a um naipe de cordas e acrescentar sopros a dobrar essas partes.
O efetivo orquestral da sinfonia numa primeira fase (já não existem apenas sinfonias de ópera tiradas para
um concerto, mas sim composição de sinfonias para um concerto autónomo):
• As cordas constituíam a base da orquestra;
- Frequentemente apenas dois violinos e baixo (remissão para as origens da sonata em trio);
• Frequentemente sem sopros, mas, no caso de haver sopros:
- Estava implícito o uso do fagote a dobrar o baixo;
- Acrescento de oboés e trompas, em orquestras maiores;
- Os instrumentos de sopro eram intercambiáveis (ex.: o mesmo instrumentista poderia tocar
flauta ou oboé, em diferentes momentos);
- Acrescento de trompetes e tímpanos em ocasiões cerimoniais.
A sinfonia até ca. 1760
Desde 1720 a 1760, existiu uma fase com diferenças locais na prática do género, onde em diferentes
pontos na Europa, existiam práticas diferentes do mesmo género. Uma das grandes cidades de produção
desse género era Milão.
Giovanni Battista Sammartini (ca. 1700-1775);
- Ativo em variados géneros, alcançou difusão europeia a partir de ca. 1740 (Paris, Londres,
cidades germânicas);
- Três períodos: ca. 1724-1739 (herança barroca), ca. 1740-1758 (adesão ao estilo galante), ca.
1759-1774 (géneros clássicos já estabelecidos);
• Sinfonias com três andamentos (R - L -R), incialmente escritas apenas para cordas;
- 1º andamento (mais importante) com estrutura binária (T --> D :||: D --> T) (estrutura da
herança barroca) e com maior procura pela variedade temática;
• Procura pela variedade textural: vl. 1 + vl. 2 + BC; ou 2 vls. + vla + B.
- Herança barroca nas texturas;
• Últimos anos com acrescento de instrumentos de sopro.
- Ex.: Sinfonia em Fá maior, G. B. Sammartini.
A zona do sul germânico foi influenciada pelo norte de Itália (Milão), mas essa influência, no caso da
sinfonia, demorou a chegar - só a partir de ca. 1740 é que se sentem influências dessa região no
desenvolvimento do género no espaço germânico (Viena). O peso da tradição tardo-barroca inibiu o
desenvolvimento da sinfonia vienense, apesar das ligações com o norte de Itália.
G. C. Wagenseil (1715-1777) e M. G. Monn (1717-1750);
• Interesse por duas práticas sinfónicas:
- Sinfonia a tre (influência da sonata a trio bem presente e semelhante à sinfonia italiana);
- Sinfonia a otto (concebida para 8 partes bem diferenciadas - 2 ob., 2 tpa, vl. 1/2, vla e baixo -
sem instrumentos intercambiáveis);
• Interesse pelo desenvolvimento motívico da peça - não há predomínio de uma linha melódica, mas
um interesse pela partilha de motivos entre partes;
• 3 andamentos (apenas o lento em tonalidade diferente) - influência da sinfonia italiana;
• Monn e a introdução do Minuete (responsável pela introdução desta dança na 3ª posição do modelo
sinfónico).
Pela mesma altura, outra cidade que contribuiu para o desenvolvimento do género sinfónico foi Mannheim
(capital do Eleitorado do Palatinado) - príncipe Karl Theodor rodeado por uma corte faustosa ("espécie de
Versailles à maneira de Mannheim") e por vários artistas constituintes da "grande orquestra de
Mannheim".
Johann Stamitz (1717-1757) - violinista, compositor e diretor musical dessa orquestra durante 12
anos (direção das arcadas nos instrumentos de corda - século XIX);
• Organização da orquestra com origem na disciplina e modo de organização quase militar (liderança
de naipes);
• Sistematização, desenvolvimento e exploração de aspetos e inovações na escrita orquestral:
- Longos crescendos, tuttis massivos, mudanças dinâmicas abruptas, figurações virtuosísticas,
trémulos das cordas, integração de metais e timbales num estilo militar.
Uma 1ª geração de compositores em Mannheim:
Franz Xaver Richter (1709-1789);
• Manteve vários elementos estilísticos do Barroco;
Ignaz Holzbauer (1711-1783);
• Inicia atividade em Viena (ópera e música sacra), e torna-se Kapellmaister em Mannheim, em
1753;
Anton Filz (1733-1760);
• Violoncelista e compositor;
Johann Stamitz (1717-1757);
Em Paris, a vida concertística e atividade editorial vai florescendo cada vez mais. A symphonie era
praticada por alguns compositores locais - gosto estabelecido por sonoridades ruidosas (ex.: o premier coup
d'archet).
A passagem de Stamitz por Paris leva o gosto de Mannheim para este centro urbano.
• Dirige a orquestra de La Pouplinière, deixando um impacto duradouro;
○ O espaço germânico passa a ser visto como a principal fonte de música instrumental.
François-Joseph Gossec
• Estabeleceu-se em Paris em 1751;
• Sucedeu Stamitz na direção da Orquestra de La Pouplinière, entre 1755-63;
• As primeiras sinfonias exploram vários modelos de escrita (powerpoint 25);
- Sinfonia em Ré maior, Op. 6 nº 2, François-Joseph Gossec.
A sinfonia após ca. 1760
Durantes esses 40 anos eram muito claras as diferenças regionais e os traços das origens de precedentes
géneros. À medida que o repertório se difundia, começam a coexistir influências múltiplas, esbatem-se
essas diferenças e padronizam-se e vários elementos:
• Efetivo orquestral (4 partes de cordas + 2 ob. + 2 tpa);
• Construção do discurso melódico baseado na exploração de linhas melódicas mais longas e na sua
complexificação;
- Distanciamento do estilo galante (em vez de melodias baseadas em motivos curtos, típicas do
estilo galante);
• A estrutura da forma sonata torna-se mais clara;
• Entre ca. 1760-1780 caem os últimos traços do Barroco (nomeadamente o baixo contínuo).
A posição de Viena na vanguarda da música sinfónica é assegurada por uma nova geração:
Florian Gassmann;
Joseph Haydn;
Michael Haydn;
Jogann Georg Albrechtsberger;
Carl Ditter von Dittersdorf;
Johann Baptist Wanhal;
Após a primeira geração, existe também uma segunda geração em Mannheim, que mantém a sua
importância enquanto produção sinfónica:
Christian Cannabich (1731-1798);
- Estudou com N. Jommelli em Roma (1750-1753), ganhou reputação como compositor em Paris
(1760s e 70s) e tornou-se diretor musical em Mannheim, em 1774.
- Produção em todos os géneros, sobretudo instrumentais;
- Sinfonias em 4 andamentos, mantendo elementos da escrita de Mannheim, mas com menor
predomínio das cordas e uma textura mais contrapontística;
- Ex.: Sinfonia em Dó maior, nº 22.
Wolfgang Amadeus Mozart (numa das suas viagens, passa por Mannheim);
- Abertura de Idomeneo - explora as possibilidades que a orquestra lhe proporcionava;
Na mesma altura, em Paris, esse processo de homogeneização do género é continuado por François-
Joseph Gossec (e ainda Simon Le Duc e outros).
- Absorção e aprofundamento do estilo de Mannheim.
- Ex.: Sinfonia em Fá maior, Op. 12 nº 6, François-Joseph Gossec.
RESUMINDO
1ª fase 2ª Fase
Heterogénea Homogeneização e Padronização
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04/01/2023
A sinfonia após ca. 1760
A partir de ca. 1760, à medida que o repertório se difunde por toda a Europa, as influência cruzam-se e dá-
se um processo de uniformização das características do estilo sinfónico. Surgem novas gerações de
compositores.
Em Londres, a cidade mais cosmopolita da altura, tinha uma atividade musical muito dinâmica, tanto
privada como pública. Havia três compositores locais de sinfonia em Londres, que eram marcados pelos
estilos italianos e de Mannheim.
Thomas Arne;
William Boyce;
Thomas Erskine [pupilo de J. Stamitz];
Estes três compositores ficam na sombra daquilo que foi feito por C. F. Abel e J. C. Bach, que levam mais
longe essa fusão estilística e dominam o panorama da vida sinfónica londrina como compositores e
empresários.
- Ex.: 6 Sinfonias, Op. 18, Johann Christian Bach.
O gosto do público em Londres vai ao encontro do que se passa ao nível do gosto em Paris.
- Sonoridades e efeitos orquestrais (grandes tuttis, crescendos massivos, trémulos);
A sinfonia concertante (ca. 1760-1780)
Nesta fase, o concerto e a sinfonia eram tratados como géneros distintos, mas existia também um género
híbrido [sinfonia + concerto], que advém do precedente concerto grosso.
• Aproximação à sinfonia no interesse pela exploração motívica;
• Aproximação do concerto clássico na sua escrita com brilhantismo;
• Os solistas são um grupo à parte, mas também participam na textura orquestral; em comparação
com o concerto grosso, os solistas têm mais destaque no diálogo com a orquestra;
▪ Primeiro dois vls solistas; depois vla, vlc e fl; e ainda outros instrumentos, sobretudo sopros;
• Em termos formais:
▪ Sobretudo em 2 andamentos (também em 4);
▪ O que distingue a sinfonia da sinfonia concertante é o acrescento de uma introdução -
influência do concerto;
J. Haydn e a sinfonia
Através de Haydn e Mozart, o modelo de sinfonia vai ser estabelecido e sintetizado.
• Natural de uma região rural da Hungria (Rohrau), torna-se um menino de coro na catedral de Viena,
onde faz a sua formação musical inicial;
Década de 1750 - entre o quarteto de cordas e a sinfonia;
• Aos 18 anos é posto fora do coro e durante ca. 10 anos vive dando aulas particulares e
concertos como violinista;
• Era comum a adaptação de quartetos para um efetivo de cordas, com recursos orquestrais e
com partes de sopros (mas ainda não há sinfonias como mais tarde);
Ano de 1759 - entra ao serviço do conde Morzin;
• Faz a primeira sinfonia propriamente dita para a orquestra do conde Morzin (orquestra de 16
elementos);
• Quando a orquestra se dissolve, em 1760, entra ao serviço do príncipe Paul Anton Esterházy
(sucedido pelo irmão Nikolaus em 1762)
• Primeiro como Vice-Kapellmeister, Kapellmeister em 1766;
• Envolvido na revitalização da respetiva orquestra, que está à sua disposição;
W. A. Mozart e a sinfonia
A sinfonia tornou-se no género por excelência dos compositores, já que implica que o compositor domine
bem a conjugação do conjunto de forma e estrutura + linha estilística.