Você está na página 1de 151

ÍNDICE

SOBRE O AUTOR ................................................................. 6


AGRADECIMENTOS ........................................................... 8
PREFÁCIO .............................................................................. 9
INFORMAÇÕES RELEVANTES ........................................ 10
INTRODUÇÃO ....................................................................... 11
Um pouco de história ............................................................ 11
O aprendiz de feiticeiro ......................................................... 11
Monica Lewinsky.................................................................. 12
Os estagiários atuais .............................................................. 12
PÚBLICOS-ALVO ................................................................. 16

Capítulo 1 - Como conseguir vaga de estagiário/trainee numa


grande empresa

POR QUE AS EMPRESAS QUEREM ESTAGIÁRIOS? .. 21


Empresas que não levam o estágio a sério ............................ 22
Empresas que levam o estágio a sério................................... 24
Chefe ruim não significa empresa ruim ................................ 26
POR QUE EMPRESAS QUEREM TRAINEES? ............... 27
POR QUE VALE A PENA FAZER ESTÁGIO ................... 33
PRÉ-REQUISITOS PARA A APROVAÇÃO ..................... 36
Primeiro, o currículo ............................................................. 36
Pensando nos mínimos detalhes ....................................... 37
Vá direto ao ponto ............................................................. 39
Sendo objetivo .................................................................. 41
Formação acadêmica ............................................................. 42
Mas e quanto ao meu curso universitário? ........................ 44
Idiomas .................................................................................. 45
Informática ............................................................................ 47
Windows ........................................................................... 49
Word ................................................................................. 49
Excel básico ...................................................................... 49
Excel intermediário ........................................................... 50
Excel avançado ................................................................. 50

2
Power Point ....................................................................... 51
Internet .............................................................................. 52
As redes sociais ................................................................. 53
Habilidades comportamentais ............................................... 57
O profissional que as empresas querem ............................ 60
Algumas habilidades essenciais, em minha opinião ......... 61
Trabalhar em grupo ........................................................... 61
Relacionamento interpessoal ............................................ 63
Pró-atividade ..................................................................... 65
Capacidade de resolver problemas.................................... 66
Conclusão.......................................................................... 67
PROVAS DE RACIOCÍNIO LÓGICO ................................ 68
Problem Solving.................................................................... 69
Data Sufficiency.................................................................... 71
Reading Comprehension ....................................................... 73
Critical Reasoning ................................................................. 75
Sentence Correction .............................................................. 77
DINÂMICA DE GRUPO ....................................................... 78
HORA DA ENTREVISTA ..................................................... 81
A preparação ......................................................................... 81
Pronto para a entrevista ......................................................... 83
Algumas dicas valiosas ..................................................... 85
Aguardando a resposta .......................................................... 88

Capítulo 2 - O que fazer para ser efetivado

ÉTICA NO TRABALHO ....................................................... 90


Integridade ............................................................................ 91
Respeito................................................................................. 92
Lealdade ................................................................................ 94
OS BENEFÍCIOS.................................................................... 95
COMO SABER SE ENTREI EM UMA “ROUBADA” ...... 96
O QUE SE ESPERA DO ESTAGIÁRIO ............................. 97
Carta a Garcia ....................................................................... 99
Atitudes esperadas pelas empresas ....................................... 101
Simpatia ............................................................................ 101

3
Seja positivo ...................................................................... 102
Pró-atividade ..................................................................... 104
Bons relacionamentos ....................................................... 106
Postura................................................................................... 107
Desempenho .......................................................................... 109
Contrato de expectativas ................................................... 110
Feedback ............................................................................... 112
O QUE ESPERAR DA EMPRESA ....................................... 115
Vagas para efetivação ........................................................... 116
Oportunidade real de aprendizado ........................................ 119
Carreira ................................................................................. 122
COMO SABER SE O ESTÁGIO ESTÁ INDO BEM ......... 126
Envolvimento em projetos relevantes ................................... 128
Participação em reuniões importantes .................................. 129
Presença nos meios de comunicação internos ...................... 129
Apresentação de trabalhos para a diretoria ........................... 129
Mas e se não estiver bem, como saber? ................................ 130
O CAMINHO PARA A EFETIVAÇÃO............................... 132
Os bons exemplos ................................................................. 132
Exemplos a não serem seguidos ........................................... 135
FECHANDO COM CHAVE-DE-OURO ............................. 137
ANEXO: LEI DO ESTÁGIO ................................................. 140
CONTATO COM O AUTOR ................................................ 151

4
Para minha amada esposa Michelle.

5
SOBRE O AUTOR

Wmazza é engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade


de São Paulo, com pós-graduação em administração industrial pela
Fundação Vanzolini. Durante a graduação estagiou em três grandes
empresas e foi trainee de um conceituado banco de investimentos. Mais
adiante, porém, foi efetivado como engenheiro numa indústria de
destaque do mercado brasileiro. Já exerceu a função de gestor numa
multinacional americana, tendo sob sua responsabilidade mais de
duzentos empregados.
Empolgado com a orientação dada aos estagiários sob seu comando e,
especialmente, com o desempenho desses jovens, proferiu algumas
palestras sobre estágio, que serviram de inspiração para este livro. Além
disso, é colunista do portal Click Carreira1, do Portal Trainee2 e também
escreve artigos para o blog da Cia de Talentos3.

1
http://www.clickcarreira.com.br
2
http://www.portaltrainee.grupoemidia.com/
3
Chega +: http://ciadetalentos.tempsite.ws/chegamais
6
Em resumo:

 Participou e foi aprovado em concorridos processos seletivos;


 Fez estágios e um programa de trainees em empresas
conceituadas, tendo sido efetivado na última delas.
 Comandou mais de duzentos funcionários numa empresa de
grande porte. Motivado com o bom desempenho de seus
estagiários, resultado atribuído à seleção dos estudantes pelas
consultorias especializadas e ao planejamento de atividades
realizadas pelo Departamento de Recursos Humanos da empresa
e também ao seu trabalho como gestor e, ainda, pelo interesse
que algumas palestras sobre o tema “estágio” desperta no meio
estudantil, decidiu escrever sobre o assunto.
 É colunista e articulista em portais sobre carreira e seleção de
estagiários e trainees.

7
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Lucio Mazza e Isabel Martins Mazza pela paciente
revisão, estímulo e sugestões. Devo tudo que sou a vocês dois.

Aos parceiros da Cia de Talentos e portal ClickCarreira por


acreditarem no meu projeto. Também agradeço à equipe do Portal
Trainee pelo convite e espaço disponibilizado.

Ao Sidnei Oliveira, expert no tema “geração Y”, pelo incentivo e


interesse pelo meu trabalho.

À Maíra Habimorad não só pelo prefácio e gentileza, mas pela


disponibilidade e dicas valiosas que fez em todo livro.

Julho de 2011.

8
PREFÁCIO
Todo início de qualquer coisa é muito difícil. O início de carreira não é
diferente disso.
Qualquer iniciativa que se propõe a trazer luz e esclarecimentos para este
momento merece ser incentivada. Quando o William nos procurou, fiquei
curiosa para saber por que um Engenheiro tinha interesse em escrever
sobre carreira para jovens. Descobrir que ele é um apaixonado pelo tema,
assim como eu, me deu ainda mais motivos para incentivá-lo.
“Seu próximo estágio é o sucesso” é um livro simples, mas
extremamente rico para não só informar, quanto promover reflexões
fundamentais para quem está iniciando a carreira. Ele fala para
estagiários, aspirantes a estagiários e aqueles que buscam uma colocação
como Trainee em uma grande empresa. Ele pode também falar para pais
e professores que querem se propor a ajudar estes jovens a encontrar seu
primeiro lugar ao sol e fazer deste, um lugar de aprendizados e sucesso.
Se você está procurando informações concretas, recheadas de exemplos e
análises bem humoradas sobre o início de carreira como estagiário ou
Trainee, assim como dicas bem práticas de como maximizar suas
oportunidades em um processo seletivo e melhorar seu aproveitamento já
dentro do estágio ou emprego dos seus sonhos, este livro é para você.
Escrito por quem já viveu tudo isso e adora o tema. É uma leitura mais
do que recomendada!

Maíra Habimorad
Sócia da Cia de Talentos

9
INFORMAÇÕES RELEVANTES
“Empresas dos sonhos”4 para os jovens em 2011:

1ª Google
2ª Petrobras
3ª Unilever
4ª Vale
5ª Natura

“As melhores empresas para começar a carreira – 20115”

1ª Vivo
2ª Procter&Gamble
3ª Ibis
4ª Dow
5ª Redecard

4
Pesquisa realizada pela Cia de Talentos, em parceria com a empresa de
pesquisa NextView People.
5
Reportagem “As melhores empresas para começar a carreira – 2011” – revista
VOCÊ S/A, edição 155, maio de 2011.
10
INTRODUÇÃO

Um pouco de história

A função de estagiário tem suas origens na Idade Média, quando


surgiram as primeiras corporações de ofícios e, com elas, a figura do
aprendiz. Na época de ouro do Renascimento, a Igreja pagava para que
os grandes artistas pintores e escultores mostrassem cenas que
ilustrassem os relatos bíblicos e os nobres e os ricos comerciantes
contratavam os mestres da pintura para se verem retratados para a
posteridade. Surgiram então, talvez os primeiros estagiários, jovens
talentosos que se ofereciam para trabalhar de graça (ô sina!) nos estúdios
dos grandes artistas, cuidando da faxina, lavando pincéis e preparando
telas ou separando material para as obras de arte.

O aprendiz de feiticeiro

Mais modernamente, tivemos um estagiário que se tornou sucesso no


mundo inteiro por obra e graça do filme “Fantasia”, lançado por Walt
Disney (1901-1966) em 1940. Nessa obra-prima, na verdade um desenho
animado de longa metragem, ficamos conhecendo o ratinho Mickey
Mouse como o aprendiz de feiticeiro criado por Paul Dukas (1865-1935),
baseado no conto “Der Zauberlehring” de Johann Wolfgang de Goethe
(1749-1832). Trata-se de um estagiário atrevido, que na ausência do
Mestre Yen-Sid, resolve brincar com a magia e consegue dar vida às
vassouras da caverna do Mestre, perdendo completamente o controle da
situação até que o feiticeiro volte e ponha ordem na casa.

11
Monica Lewinsky

Mas provavelmente a estagiária mais famosa de todos os tempos seja a


americana Monica Lewinsky, (1973-) que conseguiu emprego na Casa
Branca quase no final do segundo mandato de Bill Clinton (1946-) e que
se envolveu com o Presidente numas trapalhadas no Salão Oval da Casa
Branca, que se tornou mais conhecido, depois disso, por Salão Oral.

Os estagiários atuais

É certo que os estagiários de hoje levam uma grande vantagem sobre os


antigos aprendizes: dispõem de informações teóricas sobre a atividade
que pretendem exercer, contam com alguns direitos trabalhistas e são
motivados pela expectativa de, ao final do período de estágio, fazerem
parte do quadro funcional efetivo da empresa. Todavia, enfrentam uma
sociedade movida pela competitividade nem sempre salutar e, por vezes,
até desumana. Todos os anos, centenas de milhares (sem exagero, os
números são esses mesmos) de jovens em todo o Brasil competem entre
si, disputando vagas nas maiores e melhores empresas situadas no país.
Matéria publicada pela revista Exame6 em dezembro de 2009 mostra os
números da competição mais acirrada que se tem notícia: sessenta mil
candidatos disputaram vinte e seis vagas na AmBev, ou seja, uma relação
de dois mil trezentos e dez candidatos por vaga! Deixando para trás os
concursos públicos mais concorridos, como o da Polícia Rodoviária
Federal, com “apenas” oitocentos e trinta e três por vaga7. Nem o curso

6
Fonte:
http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0959/gestao/selecao-mais-
concorrida-brasil-521772.html?page=1
7
Fonte: Revista E-Learning, n. 04, 2002 p. 22
12
de medicina da USP chega perto em termos de concorrência8. Alheios à
magnitude e imponência desses dados, entretanto, e movidos pelo sonho
de uma carreira brilhante, muitos se inscrevem nos processos seletivos
sem saber ao certo o que encontrarão pela frente. Com isso, ficam em
enorme desvantagem em relação aos candidatos que, de alguma forma
(pontual), prepararam-se para enfrentar essa batalha. O fato ocorre
porque não há informação disponível sobre o assunto no mercado
editorial. Em suma, há um público considerável, totalmente desprovido
de orientação que o ajude a conquistar as tão disputadas vagas.

Por outro lado, mesmo depois de conseguir um bom estágio, ou de


tornar-se um trainee, o iniciante sente-se inseguro em relação a essa nova
empreitada, não sabendo exatamente o que se espera dele para manter-se
no estágio e, ao final, ser efetivado. Sei disso por experiência própria.
Também já me senti carente de informações nas etapas descritas acima e,
hoje, fazendo gestão de estagiários vejo, por outro ângulo, como os
jovens ficam “perdidos” durante o tempo em que conciliam os estudos
com a incipiente vida profissional. O objetivo deste livro não é outro
senão ajudar essa legião de estudantes a se situar e vencer cada uma das
fases que compõem essa batalha.

Você já sabe que não sou da área de recursos humanos. Por isso, não
alimente a expectativa de folhear um compêndio técnico, repleto de
informações para profissionais dos Departamentos de Recursos

8
Segundo o site da FUVEST
(http://www.fuvest.br/estat/insreg.html?anofuv=2011), o último vestibular de
medicina na USP em 2011 apresentou uma relação de 49,25 candidatos por
vaga.
13
Humanos. A proposta deste livro é orientar candidatos que almejam vaga
de estagiário ou trainee. E, aos que já superaram essa etapa, dar
informações que possam ajudá-los a desempenhar bem as respectivas
funções, não só para melhorar seu aprendizado e cumprir o dever ético de
executar um bom trabalho, mas também, visando à sua futura efetivação
na empresa. Para tanto, faço algumas considerações sobre a figura do
gestor, chefe de uma determinada área da empresa encarregado de
orientar e atribuir tarefas ao aprendiz, e ofereço dicas que considero úteis
para os estagiários/trainees descobrirem se estão no caminho certo ou não
e, mais importante, a ajudá-los na conquista do seu espaço e na
consecução de uma carreira de sucesso. A proposta também é auxiliar os
gestores na missão de conduzir os novos talentos que, diga-se de
passagem, não se parecem em nada com aquela imagem estereotipada do
estagiário de antigamente.

A revista Época9 mostrou o resultado de uma pesquisa feita com três mil
e duzentos alunos e trinta e oito empresas, que revelou a falta de
alinhamento entre os empregadores e os estudantes no quesito
“empregabilidade”. Veja que interessante:

9
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0%2C6993%2CEPT593967-
1653%2C00.html
14
Por que o primeiro emprego é difícil
Consultoria perguntou a empregadores e candidatos quais fatores atrapalham a
contratação de um recém-formado. O resultado mostrou que os jovens pensam
que são recusados por falta de experiência, mas o problema costuma ser de
personalidade ou formação.
Visão dos jovens Visão dos empresários
Características pessoais, como
Falta de experiência profissional 1
insegurança
Poucas vagas 2 Curso universitário fraco
Conhecimento insuficiente de idiomas 3 Poucas vagas
Conhecimento insuficiente de
Curso universitário fraco 4
idiomas
Falta de identificação com a
Conhecimento técnico insuficiente 5
profissão
Fonte: Grupo CM/Consultoria de Pesquisas Educacionais

Essa tabela é primordial para quebrar alguns paradigmas, tanto de


universitários quanto de gestores. Definitivamente, é notória a distinção
de percepções entre os dois públicos, que mal se conhecem e pecam na
leitura equivocada sobre os reais motivos que levam ao fracasso da
maioria dos candidatos em atingir seus intentos.

O livro divide-se em duas partes. A primeira trata da etapa anterior ao


estágio, de como consegui-lo e a segunda, do início do estágio em diante,
rumo à efetivação. Aqueles que ainda estão cursando suas graduações, ou
cursos técnicos e de tecnologia, e que pretendem iniciar suas carreiras
através de um programa de estágio, ou de formação de trainees, devem
ler o livro todo, pois será de grande valia. Aos que já estagiam, mas não

15
na empresa dos seus sonhos, a pretensão é que esta leitura os estimule a
uma nova busca, a um recomeço e, portanto, o conselho é o mesmo:
leitura integral. Quanto aos mais afortunados - já estagiam na empresa
onde pretendem ser efetivados - podem se dar ao luxo de ler apenas a
segunda parte do livro, já que venceram a primeira batalha por uma das
tão cobiçadas vagas. Parabéns!

A todos, boa leitura.

PÚBLICOS-ALVO
Os públicos-alvo desta obra, distintos mas interligados, são três: o dos
estudantes do ensino médio (técnico ou profissionalizante) e das
universidades, que pretendem estagiar em empresas privadas; o dos
estudantes, já estagiários, empenhados em se efetivar na empresa onde
estagiam e o dos gestores que têm estagiários no seu quadro de
funcionários. É claro, todos que desejam se tornar trainees, também se
encaixam no escopo.
Nada contra os estudantes que pretendem trabalhar por conta própria ou
aqueles que almejam ser funcionários públicos10 , mas esta obra tem
como alvo apenas os candidatos a vagas na iniciativa privada.

10
O setor público também oferece vagas a estagiários, especialmente nas áreas
jurídica, de educação e de saúde, preenchidas, na maior parte das vezes, por
concurso de provas e títulos. O critério de seleção é objetivo e, salvo raras
exceções, os aprovados não dependem de entrevista para serem contratados. São
estágios que visam, tão-só, dar treinamento a estudantes. Não resultam em
contratação de trabalho temporário, sob o regime da Consolidação das Leis do
16
Se você tem essa pretensão – trabalhar na iniciativa privada - saiba que o
estágio ou um programa de formação de trainees é a melhor maneira, a
mais rápida com certeza, de ingressar numa carreira de sucesso. Isso
porque, efetivado depois de cumprir período de estágio, você pulará
etapas e iniciará a carreira na empresa a partir de um patamar mais
elevado. É como começar uma corrida de cem metros rasos com pelo
menos dez metros de vantagem. Bom, não é? Bom não, ótimo! Mas,
como dito, trata-se de probabilidade, não de certeza. Não pense que será
fácil. Você tem que primar pela ética, batalhar, empenhar-se nas tarefas
que executar como estagiário, estar sempre interessado em aprender,
comportar-se adequadamente, ser assíduo, pontual... Não é só conseguir
um bom estágio e ficar esperando o diploma para efetivar-se na empresa.
Afinal, um canudo na mão, por si só, não dá direito nem é passaporte de
entrada no quadro funcional da empresa. Diploma não efetiva ninguém!
A boa faculdade, em si mesma, não rende um real a quem quer que seja.
Seu intercâmbio nos EUA não vai garantir nenhuma transferência
internacional. Tudo isso ajuda e é importante, mas não isoladamente, de
per si. O que vale é o conjunto de qualificações. É como uma orquestra:
sem um bom regente, que atente para todos os músicos, não há talento
individual que salve a apresentação, porque o resultado final desejado – a
boa música orquestrada - depende do conjunto.
O objetivo deste livro é mostrar a realidade dos processos seletivos e a
melhor maneira de encará-los e vencê-los. Depois, a importância de um
estágio bem conduzido e bem aproveitado. O estagiário precisa estar

Trabalho - CLT, nem em efetivação no Serviço Público, sob a égide do Estatuto


do Funcionário Público.
17
consciente do seu desempenho, de como está sendo visto, avaliado, pois
só assim terá condições de se situar, de conhecer suas chances reais na
empresa. Gostaria de criar nestas páginas uma escala de zero a cem, na
qual a inscrição em um programa de estágio seria o zero, a obtenção da
vaga o cinqüenta e a efetivação numa grande empresa, o cem; mas não
será necessário, uma vez que esses três marcos já falam muito bem, por si
próprios, e são mais compreensíveis se enxergados como degraus. Nesse
contexto, o livro irá orientá-lo sobre o que deve ser feito para subir de um
degrau para o outro e oferecer dicas que o ajudarão a se posicionar
quanto ao patamar almejado.
Tenho certeza de que muitos serão bem-sucedidos nessa empreitada.
Quanto aos gestores, precisam ouvir e entender os anseios desses jovens
funcionários, que já não aceitam mais (será que, intimamente, um dia
aceitaram?) um papel meramente burocrático e irrelevante no local de
trabalho. A maioria aspira a ser efetivada, crescer na carreira. E crescer
rápido, de preferência. A mesma reportagem da Exame citada
anteriormente traz um estudo da AmBev para conhecer o público-alvo de
seu programa de trainees. O resultado é que os jovens dão preferência a
empresas que lhes permitam um crescimento profissional rápido, entre
outras “exigências”. Como lidar com tudo isso? Primeiro,
compreendendo de verdade e sem medo o perfil dessa nova geração de
universitários. Depois, atraindo e retendo bons talentos, o que não é fácil,
uma vez que há empresas oferecendo mundos e fundos pelas “melhores
cabeças”.
Além disso, você está disposto a compartilhar seu tempo com estagiários,
ou seu tempo é valioso demais para isso? Dependendo da resposta, saiba
que os melhores não irão querer pertencer à sua equipe, pois encontrarão
18
o que desejam com gestores melhor preparados. Por outro lado, você
pode ser um ímã de talentos e ter uma área com desempenho
diferenciado. Em decorrência, suas chances de ascender na empresa
aumentarão de modo significativo. Suas aspirações são elevadas? Então,
com certeza, você topará este desafio.

19
Parte 1

Como conseguir vaga de


estagiário/trainee numa grande
empresa

“Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á.”


Evangelho de Mateus, capítulo 7, verso 7.

20
POR QUE AS EMPRESAS QUEREM
ESTAGIÁRIOS?
Já imagino o pessoal do escritório tirando um sarrinho dessa pergunta.
Vão dizer que “os estagiários não servem para nada, que são os últimos
que falam e os primeiros que apanham, que servem para tirar xérox, ir ao
banco, ou passar um cafezinho”. Ainda bem que nem todos pensam
assim! Esse tipo de preconceito já era! É claro que não estou falando das
brincadeiras, pois ainda têm vida longa e delas os estagiários não
escapam, por melhores e mais legais que sejam. Mas essa estória de
estagiário ser utilizado só para tirar cópias reprográficas (em desuso,
diga-se, em razão das impressoras), ou para fazer um cafezinho, não dá
prá aceitar. É verdade que o equívoco vem de longe e foi tolerado pelo
jovenzinho tímido, apático e quase nulo: o estagiário de antigamente –
um ser em franca extinção.
Ainda há empresas, jurássicas na mentalidade, que deixam os estagiários
à mercê de seus funcionários e estes, sem os devidos esclarecimentos e
também, por falta de instruções precisas, empenham-se em deixá-los
ocupados com quaisquer tarefas, ainda que, nem remotamente, tenham
alguma utilidade para o treinamento profissional do aprendiz. Nessas
empresas, não raro, o estagiário é contratado para executar as funções de
contínuo (faz entregas, serviços bancários, leva e traz recados...). Dá
vontade de chorar quando alguém conta, até com certo orgulho, as
humilhações que os estagiários passam em suas mãos. Parece que há uma
torcida para que os coitados errem e virem alvo de chacotas. O pessoal

21
torce para as “lambanças” serem logo na segunda-feira de manhã, pois
assim terão a semana inteira para ridicularizar o pobre infeliz.
Meu conselho para quem estiver num lugar desses é um só: “caia fora!”.
Não vai agregar nada a você manter-se num ambiente de hostilidade onde
o assédio moral11 domina. Não estranhe se além dos estagiários, outros
também sejam alvo das chacotas discriminatórias. Parece exagero, mas é
mais comum do que se imagina, infelizmente.
Voltando à pergunta acima - por que as empresas querem estagiários? -
ela é fácil de responder, mas é preciso fazer uma distinção: empresas que
levam o estágio a sério, e as que não levam. A resposta depende dessa
consideração. Vou começar pela segunda opção.

Empresas que não levam o estágio a sério


Essas empresas querem mão-de-obra qualificada a preço de banana. Não
há vagas disponíveis, muito menos carreiras a oferecer. Quer melhor do
que isso? Um funcionário que está estudando, buscando se aperfeiçoar, e
com motivação acima da média, tentando um lugar ao sol. É uma
tentação mesmo, sobretudo porque o custo de um empregado contratado
sob o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) é altíssimo e,
na verdade, inibe a competitividade das empresas no Brasil. Entretanto, a
solução do problema não está em contratar estagiários. Essa é apenas a
opção mais fácil e barata.
Já aconteceu comigo. Meu primeiro “estágio” não passava de um
emprego informal disfarçado12 - instrutor de informática, numa escola do

11
Para mais informações sobre o que é Assédio Moral acesse
http://www.assediomoral.org/.
12
Quando resumi minha experiência profissional, não considerei a passagem por
essa empresa como meu primeiro estágio, pois, de fato, não foi. Atualmente a
22
gênero. Só isso. A empresa colocava cartazes em faculdades de ponta, e
prometia um salário diferenciado (de fato, era). Só que a sua pretensão
era contar com os serviços de um empregado diferenciado, sem os ônus
trabalhistas, contratando-o como estagiário. Financeiramente, foi
importante para mim, pois me ajudou a pagar as despesas com a
faculdade (livros, transporte, alimentação...) por um tempo, mas,
consideradas a natureza e a finalidade do estágio, foi uma distorção total.
O equívoco durou alguns meses.
Tive ciência, por intermédio de colegas de turma e também por
estagiários que entrevistei, do que acontece em algumas empresas:
excesso de burocracia para o ingresso e, depois, uma infinidade de
atividades rotineiras “chatérrimas” e, pior, só para encher lingüiça. A
verdade é que não há espaço no quadro de funcionários e então alguém
sugere a solução considerada genial: “Vamos contratar um estagiário e
‘empurrar’ prá ele somente tarefas enfadonhas que ninguém tem vontade
de executar, como por exemplo, arquivar aquela montanha de
documentos, trocar cartuchos das impressoras, ir ao banco...”
Em casos mais extremos, a preparação dos cafezinhos da área e a tarefa
de servi-los são atribuídas a ele - o “estag”- apelido carinhoso utilizado
em algumas empresas. Ah, esqueci da “nobre” missão de higienizar o
galão de água de vinte litros para que os fanfarrões da área encham suas
panças com água mineral geladinha.
Aos meus amigos do curso técnico, devo informar que a situação pode
ser ainda pior. Fiz o colegial técnico no excelente Liceu de Artes e
Ofícios de São Paulo e também tive que cumprir período de estágio. Até

Lei do Estágio (ll.788/2008) é rigorosa nesse sentido. Se o caso for levado à


Justiça do Trabalho o período de estágio é considerado vínculo trabalhista.
23
que não foi ruim, mas alguns amigos meus sofreram. Um deles, para ficar
em um caso só, tinha como uma de suas obrigações limpar os banheiros
do escritório de engenharia. Quando dava, ele até se debruçava nas
pranchetas13 de desenho técnico. Dá para acreditar?
Que motivador! O jovem selecionado para estagiar na empresa, mal
ingressa e, pronto, já percebe que as atividades que o esperam
acrescentarão pouco, ou nada, à sua educação profissional. Se for um
cara esperto, que não pretende ficar flanando enquanto a vida passa, que
leva a sério os estudos, a decisão não deve ficar aquecendo em “banho-
maria”. É partir para outra, e logo!
Resumindo, há empresas que resolvem o problema de suas folhas de
pagamento contratando jovens estudantes, na condição de estagiários. A
solução ajuda a pessoa jurídica, não o estagiário.

Empresas que levam o estágio a sério


Por outro lado, há uma infinidade de outras empresas, felizmente a
maioria, que atenta para a sua função social, está engajada na sociedade,
acredita que uma educação de qualidade é a base do desenvolvimento e
deseja por futuros profissionais gabaritados em seus quadros. Numa
visão ampla, valoriza o estágio porque está comprometida com o
processo educacional. Por outro lado, como é eficiente, não desconhece
que pessoas novas, com vontade de aprender e que, geralmente,
questionam o status quo, são valiosíssimas e que a renovação de suas
equipes, com acréscimo da qualidade do serviço, só se dará através de
bons substitutos.

13
Para os mais novinhos, naquela época não havia softwares para a elaboração
de peças de desenho técnico em duas dimensões e para criação de modelos
tridimensionais. Era tudo feito à mão.
24
É uma questão de estratégia. A empresa que enxerga o estágio como
benéfico sabe que uma organização só atinge bons resultados quando tem
bons profissionais. Portanto, não é apenas por compromisso social, para
contribuir com o aprimoramento da educação que a iniciativa privada
contrata estagiários. É porque não ignora que a continuidade da vida
empresarial depende desse fluxo incessante de novos cérebros, dessa
oxigenação, para atingir resultados cada vez mais competitivos.
As melhores empresas levam o assunto estágio muito a sério, e não é à
toa que há processos seletivos para estagiários mais concorridos que
alguns vestibulares de universidades públicas, e ainda mais difíceis que
todos os concursos públicos, considerando a relação de candidatos por
vaga. E o que essas empresas oferecem? Simples: oportunidades reais de
aprendizagem, respeito, treinamentos, gestores preparados e uma
perspectiva de carreira onde o céu é o limite! Essa é a razão pela qual
tantos querem trabalhar em grandes corporações: há uma nítida relação
de ganha-ganha.
O que é uma relação ganha-ganha? Explico. Estamos muito acostumados
com outro tipo de relação. No país onde vigora a lei de Gérson a
mentalidade continua sendo “tirar vantagem de tudo”, e a relação
predominante é a ganha-perde. Claro, eu ganho e você perde. De
qualquer forma essa lei - da vantagem sobre o outro - vira uma luta de
foices em que sai perdendo o lado mais fraco. No caso, o estagiário. Há
mão-de-obra qualificada bem barata (empresa ganha), e por outro lado,
oferece o “privilégio” do trabalho mais burocrático e desinteressante
(estagiário perde).
Na relação ganha-ganha, é diferente. Ambos se beneficiam da situação. A
empresa oferece recursos, treinamento e aprendizado prático e, assim,
25
complementa a formação do aluno (estagiário ganha). Por outro lado, o
contratado para o estágio dá o melhor de si a um custo baixíssimo,
trazendo seu conhecimento teórico atualizado (empresa ganha).
Conclusão: os benefícios do programa de estágios devem ser em mão-
dupla.

Chefe ruim não significa empresa ruim


Sempre existe uma figura como essa: o chefe “do contra”. Se a empresa
opta pelo Seis Sigma14, ele diz que não vai funcionar. Se o RH (recursos
humanos) traz um novo modelo de avaliação de desempenho, ele diz que
isso só dá certo em empresas americanas. Se o setor de TI (tecnologia da
informação) resolve implantar o SAP15, ele diz que tem um cunhado que
manja muito do sistema, e que só dá pau... Enfim, o chefe é um mala-
sem-alça.
Não me pergunte por que esse tipo ainda continua na empresa, pois não
sei explicar. O fato é que ele está lá. Pior ainda, pode ser seu chefe. Bem,
faço questão de destacar esse assunto, pois se você conseguir entrar – e
você vai conseguir! – numa boa empresa, pode ter o azar de ser
subordinado a alguém assim. Ele não vai facilitar a sua vida, nem sequer,
montar um plano de estágio. Você pode ficar num canto esquecido, sem
orientação. Ao final de um ano ele faz cara de conteúdo, diz que não há
vagas (na verdade, ele não gostou do seu estilo ou nunca quis ter um

14
Seis Sigma é uma ferramenta de qualidade cujo princípio fundamental é o de
reduzir de forma contínua a variação nos processos, eliminando defeitos ou
falhas nos produtos e serviços.
15
SAP é uma empresa alemã criadora do Software de Gestão de Negócios de
mesmo nome.
26
estagiário na equipe, mas não terá estofo para dizer isso) e contrata outra
vítima para o ano seguinte.
Isso faz parte da vida e nos ajuda a amadurecer. Além disso, você está
sujeito a se defrontar com esse “figurão” em qualquer momento da
carreira, portanto, esteja preparado. O perigo é julgar o todo pela parte.
Às vezes, o RH se estrutura, planeja um bom programa de estágio, ou
trainee, submete o programa ao diretor e às gerências envolvidas, enfim,
implementa tudo corretamente, mas um sem-noção pode botar tudo a
perder, bem na vaga que você conquistou com tanto suor. Não é a
empresa que é ruim, mas sim, esse indivíduo que está de “hora-extra”
atrapalhando sua vida.
Se a empresa valer a pena, use seus contatos com o RH, e, sutilmente,
demonstre interesse por outras áreas. Não jogue na lata do lixo uma boa
oportunidade só porque um despreparado atravessou seu caminho.
Provavelmente, o pessoal do RH já conhece a fama do cidadão e vai
tentar tudo para lhe ajudar. Mas lembre-se: sem faniquito, nem beicinho,
afinal, agora você é um profissional, não o “pepê da mamã”, ok?

POR QUE EMPRESAS QUEREM TRAINEES?


Essa resposta é complexa e não pretendo exaurir a questão. Mas, é claro,
vou dar meus “pitacos”. Como já fui trainee e estagiário percebi nítidas
diferenças entre um programa e outro. Apesar de não ser uma regra geral,
entendo que o programa de trainees é bem mais formal que o programa
de estágio e a expectativa em relação ao aproveitamento dos trainees é
maior, comparada à do estagiário. Em muitos casos, os trainees

27
assumirão cargos de gestão tão logo acabem seus programas de
treinamentos.
A rigor, um programa de trainees é estruturado por grandes empresas,
que recrutam jovens recém-formados16 para funções estratégicas após um
ou dois anos de trabalho, já com vínculos empregatícios formais desde o
início da contratação. Normalmente, a concorrência por vagas nesses
programas é acirrada. Segundo informações disponíveis em artigo no
portal Click Carreira17, a Cia de Talentos revelou que em 2010 o número
de inscrições variou de três a quarenta e nove mil inscritos por programa,
atingindo a incrível média de dois mil candidatos por vaga!
O mesmo artigo citado acima, de autoria de Ana Luiza Gimenez, relata
com exatidão o grau de exigências a que as empresas submetem seus
candidatos:

 Formação acadêmica sólida (tradução: faculdade de primeira


linha);
 Inglês fluente (além de outros idiomas, se possível);
 Experiências acadêmicas relevantes (monitoria, empresas júnior,
bolsas de iniciação científica);
 Intercâmbio fora do país;
 Realização de outros estágios em grandes empresas; e
 Trabalho em grupo, comunicação e raciocínio lógico afiado.

16
Pode haver variações de modelos de programas de trainee: eu mesmo fui
trainee de um banco de investimentos que recrutava estudantes no penúltimo e
último anos de graduação, para efetivá-los em definitivo imediatamente após a
conclusão do terceiro grau.
17
Fonte: http://www.clickcarreira.com.br/Artigo.aspx?id=954
28
Calma e tente não ficar assustado, pois essa não é uma lista de requisitos,
mas de elementos que se somam para configurar um perfil desejado.
Quanto mais alguém se aproximar da lista, mais apto está para conseguir
sua tão desejada vaga. E não acaba aqui. Uma vez contratado, a cobrança
é à altura do destaque conferido aos recém-chegados. É absolutamente
normal trainees conduzirem projetos relevantes, realizarem
apresentações para a diretoria e trabalharem 12 horas por dia. Por isso,
esteja bem certo do que quer para a vida profissional, pois ser trainee
numa grande empresa não é só glamour, mas também representa trabalho
duro e muita cobrança por resultados.
Por que tantas exigências? Para começar, trata-se de uma questão óbvia.
Selecionar uma pessoa no meio de duas mil não é fácil; é preciso recorrer
a algum mecanismo que diferencie um candidato do outro. Fosse apenas
uma prova com cinqüenta questões, o que fazer caso vinte pessoas
tivessem a mesma nota? Por isso a seleção é tão rigorosa. Além do mais,
o programa de trainees é uma alternativa que as empresas criaram para
atrair jovens diferenciados. Quanto melhor os benefícios e perspectivas
de carreira oferecidas pela empresa, mais pessoas interessam-se por
pertencer à corporação. Dentro desse rol de candidatos alguns
apresentam alta performance e o ciclo se fecha: uma grande empresa com
selecionados de alto nível.
Não deixa também de haver uma competição entre empresas. Quanto
mais robusto o programa maior a demonstração de força da instituição.
Na verdade, os candidatos também são clientes/consumidores e as
marcas representam muito mais que um emprego: também produzem
status, realização e orgulho. Ou alguém duvida de que pertencer à
Embraer, AmBev, Vale, Citi ou Coca-Cola – só para exemplificar – não é
29
motivo de grande satisfação pessoal? Quem na roda de amigos não quer
ter esse diferencial? As empresas sabem que suas marcas têm um poder
incrível de atração, e um excepcional programa de trainees é prova
inconteste dessa força. É briga de gigantes.
Por outro lado, pode-se dizer que num programa de estágio, bons
estagiários poderão ser aproveitados no quadro da empresa, enquanto,
num programa de trainees, a expectativa é de que todos fiquem, tanto é,
que a firma registra os trainees como funcionários efetivos, no regime da
CLT, ou seja, assume o papel de empregadora dos jovens talentos.
Quando um deles não permanece, o clima é de bastante frustração.
Além disso, geralmente, a cúpula da empresa faz questão de conhecer
cada um dos novos trainees, o que normalmente não ocorre com
estagiários. Lembro-me muito bem de ter sido apresentado aos
banqueiros, que depois me chamavam pelo nome nos corredores, do
então programa de trainees de um banco de investimentos multinacional.
Foi uma mensagem muito clara: “estamos aqui para homologar a
expectativa do RH em relação a cada um de vocês”. Senti calafrios, mas
desafiei-me a provar meu valor.
As empresas também utilizam o programa de trainees como estratégia de
retenção de talentos. Já vi pagarem bônus, 14º e 15º salários,
treinamentos no Insper18, cursos no exterior, entre outros luxos. Nada
mal, hein? Mas, obviamente, a cobrança também é à altura. Avaliações
de desempenho, no máximo, trimestralmente, desenvolvimento de
projetos e apresentações para a diretoria são rotinas em alguns programas

18
Insper é o novo nome do IBMEC, um centro de referência em ensino e
pesquisa nas áreas de negócios e economia.
30
mais sofisticados. Conhece aquela frase “There is no free lunch!”19? É
perfeita para esse contexto.
Entretanto, - tinha que ter uma ressalva... – assim como há estágios e
estágios, também há programas de trainees e programas de trainees.
Tudo que dá certo é rapidamente copiado. Por exemplo: já reparou
quantos resorts há hoje em dia? Colocou uma piscina com bar ao lado,
uma TV de LCD no quarto e um restaurante mais ou menos, virou resort.
Fácil assim. Virou Brasil. E quanto aos MBAs20? É festa também. As
instituições que não conseguiam alavancar seus cursos de pós-graduação
usaram a tática da mudança de nome. Afinal, MBA é muito mais chique.
Tem MBA de tudo: Direito, RH, Telecom, Saúde, etc. É só escolher, e
preparar o bolso.
Por isso, colocar todos os programas de trainee no mesmo barco é um
engano. Às vezes, é só uma isca para atrair o interesse dos universitários.
Criam a ilusão de algo diferente, realizam um período de job rotation21,
mas na hora da efetivação, sobram apenas aquelas vagas mixurucas. Mas
aí você já está por lá mesmo e até pode acabar ficando.
Já me perguntaram várias vezes quais os melhores programas de trainees
disponíveis no mercado. Impossível nomear sem cometer injustiças, em
razão da grande quantidade existente. Há ainda o problema da atividade
profissional ser condizente com o currículo do curso escolhido. Por isso
as empresas interessadas em recrutar estagiários/trainees costumam
colocar cartazes nos quadros de aviso das universidades que formam

19
Tradução: “Não existe almoço grátis!”.
20
MBA é a sigla em inglês para Master in Business Administration, ou seja, um
mestrado em administração de empresas.
21
Tradução: “rotatividade no trabalho”; uma maneira de passar alguém pelos
diversos departamentos da empresa, para dar uma visão geral do negócio.
31
especialistas na sua área. Sobre isso, uma dica é conversar com aqueles
professores legais, que estão sempre “antenados” e, principalmente, são
amigos dos alunos. Com certeza, eles têm conhecimento das empresas do
ramo de atividade para o qual você está se direcionando e, dentre elas, as
melhores para trabalhar. Aí, é só você entrar no site daquela que lhe
despertar mais interesse. É possível ainda, descobrir esses programas por
meio de empresas especializadas em recrutamento de
estagiários/trainees, como a Cia. de Talentos, Dreves e Grupo Foco.
Outra maneira é procurar anúncios feitos diretamente pelas empresas
interessadas, nos jornais de grande circulação. Você vai para a sessão de
classificados e depois, aproveita e lê o jornal. Leitura é fundamental.
Quem lê, além de aprender, escreve e se comunica melhor, portanto, tem
muito mais chance de se sair bem numa avaliação escrita e também numa
entrevista.
Nesta altura você me interrompe. “Então, cara, pare de enrolar e diga
logo, o que é melhor, ser estagiário ou trainee”? Alguém mais apressado
pode querer se antecipar dizendo: “trainee!”. Calma! Vou dar a típica
resposta de engenheiro: depende. Depende da empresa, depende da
proposta dela para estagiários ou trainees, depende do estudante, depende
da área escolhida, depende do seu perfil, depende dos seus valores e dos
valores da empresa, depende...
Não há resposta pronta. Você deve colher as informações e tentar aquilo
que acha que será o melhor. Uma coisa posso garantir, depois de tanta
experiência em diversos locais de trabalho, a empresa pode ser a melhor
do mundo, mas se você cair na área errada, ou fizer um trabalho maçante,
não dá prá agüentar. Em regra, salários de trainees são melhores do que
de estagiários, mas isso não significa que a carreira daqueles será melhor
32
do que destes, por isso, ao optar por um, ou por outro, não leve apenas
esse fato em consideração. Pergunte: Quais as possibilidade de carreira?
Onde há mais investimento na formação nos funcionários? Alguma delas
aparece no ranking das melhores para se trabalhar, e em qual posição? A
resposta dessas perguntas dará o rumo certo para quem quiser saber o que
é melhor. No entanto, é possível ser os dois: estagiário e trainee, pois o
primeiro pode ser realizado durante o curso superior e o segundo, após a
graduação. Não necessariamente são excludentes. Se puder fazer os dois,
tanto melhor.

POR QUE VALE A PENA FAZER ESTÁGIO


Muitos jovens trabalham durante o dia e estudam à noite. Às vezes, essa
é a única forma de poder cursar uma faculdade. Acontece que o tempo
vai passando, a graduação vai chegando à reta final e chega a hora de
fazer o famoso estágio. O problema é o seguinte: “estou empregado,
preciso do dinheiro e não quero pedir demissão para ganhar uma mixaria
num estágio, sem direito a férias (de acordo com a nova lei, anexa ao
final do livro, se o período de estágio for igual ou superior a um ano o
estagiário tem direito a recesso de trinta dias, remunerado ou não), 13º
salário, participação nos resultados e outros benefícios trabalhistas
negados aos pobres ‘escraviários’.”. A primeira tentativa – frustrada – é
converter seu emprego em um estágio, dentro da própria empresa.
Esqueça! Isso é impossível. A segunda é ficar na mesma empresa e fazer
um estágio “meia-boca” em outro local, “só prá cumprir tabela”, como se
diz, e guardar o diploma na gaveta. A terceira e última é largar tudo e
fazer o estágio como deve ser feito.

33
Claro que a terceira opção é a melhor. Por quê? Porque pensar no curto
prazo, nos pequenos benefícios do agora, é confortável, cômodo, mas, em
tese, não leva longe. O estágio, via de regra, é a porta de entrada para
uma grande empresa, e isso é muito mais promissor, nos médio e longo
prazos. Uma carreira, após a efetivação, certamente é um caminho mais
certeiro do que se manter naquele emprego para o qual nem o colegial é
necessário.
Na verdade, esse é o momento para uma decisão de suma importância.
Você deve se perguntar: “Estou fazendo uma faculdade porque todos
querem fazer, só para ter um diploma universitário? Ou enxergo nesse
curso universitário a melhor maneira de me realizar profissionalmente, de
crescer como cidadão, de subir na vida?”. “Estou cursando
Administração (ou Direito, Farmácia, Psicologia...) porque tenho
vocação e afinidade com o curso, ou só porque é o que dura menos, o
mais fácil, o mais barato...”?
Exemplos. Sou auxiliar de farmácia e curso Direito. Para quê? Porque
pretendo mudar de vida, ser uma advogada, ou promotora pública, ou
juíza de direito... A atividade que exerço não tem nada a ver com o curso
de Direito, mas no momento oportuno vou estagiar num escritório de
advocacia e, quando estiver apta a exercer a profissão, deixo meu atual
emprego. Muito bem! Você tem um objetivo e está no caminho certo.
Outro exemplo: sou gerente numa loja de shopping e estou cursando
História. Para quê? “Ah, vou usar os conceitos da faculdade em meu
trabalho.” – diria alguém. Ótimo, mas para relacionar os conceitos dessa
faculdade em seu atual serviço você precisa ser genial. Percebe a falta de
relação?

34
Mais um: sou técnico de laboratório, já fiz Administração e faço pós-
graduação em Finanças. Gente do céu! Para quê isso? Vou enumerar os
problemas:

1. Fazer uma graduação que não tem nada a ver com a sua função
pode ser um erro. A não ser que queira mudar de carreira, é um
tremendo equívoco.
2. Fazer pós-graduação em especialidade que não tem nada a ver
com a sua função é outro erro enorme. Dinheiro, tempo e energia
jogados no lixo.
3. Fazer uma graduação achando que diploma universitário, por si
só, alavanca carreira é ilusão.
4. Ninguém de finanças vai contratar um técnico de laboratório que
já cursou Administração e optou, só na pós-graduação, por
finanças. A atividade empresarial deve ser compatível com sua
área acadêmica.
5. Os conhecimentos adquiridos não ajudarão em nada na sua
profissão atual.

Não estou querendo dizer que você deve interromper seus estudos. Muito
pelo contrário. Você tem meu estímulo para cursar uma graduação e ter
seu diploma de curso superior. Isso ninguém mais tira de suas mãos. O
que estou dizendo, e insisto no ponto, é para você considerar seriamente
a possibilidade de largar seu emprego atual em favor de um estágio numa
boa empresa, mesmo com remuneração inferior à que você tem
atualmente, pois essa decisão pode mudar seu futuro, ser muito mais
frutífera. Mesmo que a guinada seja radical demais, a ponto de gerar
35
comentários irônicos dos amigos e da família, acredito que o sacrifício
momentâneo será devidamente recompensado. É a velha estória: dar um
passo para trás agora, para dar três para frente depois.

PRÉ-REQUISITOS PARA A APROVAÇÃO


Basta ler os anúncios de vagas de estágio para conhecer o perfil básico
desejado. São alguns clichês, para dizer a verdade, mas não há como
fugir deles. Trata-se de itens objetivos que devem ser informados por
meio de currículo, como formação acadêmica, conhecimentos de
informática, domínio de idioma estrangeiro... e subjetivos, como a
nomeação de alguns comportamentos desejados, como facilidade de
comunicação, dinamismo, cooperação.... O interessante é que muitos
pedem inglês fluente, mas você não terá nenhum tipo de contato com o
idioma. Outros pedem pacote Office proficiente, mas não sabem nem
quais são os programas existentes nesse pacote. Por exemplo, alguém já
usou Access em seu estágio? Duvido, mas faz parte do Office. E por aí
vai.
Como dito acima, não dá para fugir desses requisitos, daí a necessidade
de comentar cada um deles. Só assim você poderá avaliar seu nível de
conhecimentos e habilidades e, espero, sanar suas deficiências.

Primeiro, o currículo
Apesar de a maioria dos currículos para programas de estágio serem
feitos on-line, através de formulários padronizados nos próprios sites das
empresas, muitos candidatos não conferem ao currículo seu real valor,
não o tratam com a seriedade devida. Fique sabendo que o cartão de
visitas de qualquer candidato é seu currículo. Eu acredito no jargão “a

36
primeira impressão é a que fica”. Um currículo ruim é um péssimo
começo. Pode botar tudo a perder, logo de cara.
Se a versão de currículo a ser enviada é a tradicional, escrito com suas
próprias palavras, sempre imagine que a pessoa que irá recebê-lo é
exigente, tem má vontade e é muito preguiçosa. Prepare-se para o pior,
pois assim você capricha prá valer.

 Como agradar alguém exigente? Pensando nos mínimos detalhes.


 Como lidar com alguém com má vontade? Vá direto ao ponto.
 Como lidar com alguém muito preguiçoso? Sendo objetivo.

Pensando nos mínimos detalhes


No passado, fiz e refiz meu currículo. Hoje, estou do outro lado do
balcão; mudei de posição e agora recebo muitos currículos. Tenho que
dar o braço a torcer aos psicólogos, pois quanto mais o tempo passa, mais
suas teorias me convencem. Confesso que sempre achei bobagem a
conversa de que é possível conhecer alguém pelo seu currículo, mas
acredite: é possível! As palavras escolhidas, o capricho, os erros de
Português, a formatação do texto, enfim, tudo passa dicas valiosas a
respeito do candidato. Diria que, infelizmente, em 90% dos casos, a
avaliação não é positiva.
Definitivamente, as pessoas não sabem o que colocar e o que retirar de
um currículo. Poderia dar muitos exemplos, mas não quero expor ao
ridículo as pessoas que, ansiosas por uma boa oportunidade, confiam em
mim entregando suas informações pessoais. Mas é de lascar.
Fique atento aos “detalhes”. Não caia na bobagem de pensar que o
importante é o conteúdo das informações a seu respeito e que, o resto

37
será relevado. Ledo engano. Gaste, ou melhor, invista um bom tempo na
elaboração de seu currículo. Procure modelos na internet22, peça para
amigos mais experientes analisarem, e até mesmo pague, se for preciso,
para um especialista avaliar o seu currículo.
Nada de fotos, cores extravagantes, fontes malucas e variadas, figuras, e
o mais importante, não passe de uma página. Lembro-me de um amigo
de faculdade e seu currículo de três páginas. Nem tinha iniciado a vida
profissional, e já era “muito experiente”. Que pretensão! Isso é de uma
falta de noção gritante. O mundo corporativo costuma não tolerar esses
pretensos super candidatos. É melhor que a NASA23 aproveite esses
super talentos. Não há problema algum com o currículo de uma página
para um futuro estagiário, pois ninguém contrata um, pensando em sua
larga experiência.
Por último, tenha um endereço de e-mail decente, para não virar motivo
de chacotas na empresa. Evite as situações abaixo:

 Difícil de digitar:
o wil_lia_m_123456_m-a-z-z-a@bol.com.br
 Muito comprido:
o william.engenheiro.metalurgista@escolapolitecnica.edu.
br
 Domínio esquisito:
o wmazza@turma_dos_vagabundos.com.br

22
Pelo amor de Deus, use os currículos da internet como referência. Não vai sair
dando copiar/colar em currículos por aí, pois pode ser como um tiro no pé.
23
Agência espacial americana famosa por contratar gênios, de verdade, para seu
quadro de funcionários.
38
 Apelidinho mimoso: will_pitelzinho@bol.com.br
 Suas preferências: adorovocesfofinhas@hotmail.com
 Combinações esdrúxulas: wmazza@quer_ficar.com.vc
 Conotação sexual: will_25cm@tigrao.com.br
 Incompreensível: tk32gftf-45k@bol.com.br
 Países remotos: wmazza@gyk.com.af
 Destinatário tosco:
o black charme <wmazza2010@hotmail.com>

Vá direto ao ponto
Não seja inocente, ninguém quer saber seu endereço completo. Tem
gente que põe até o CEP. Às vezes, pergunto-me se está querendo
receber um cartão de Natal meu. Esse tipo de informação deve ficar de
fora, a não ser que esteja concorrendo a uma vaga fora da sua cidade de
domicílio. Mas só diga que é de outra cidade, ou estado.
Ninguém quer saber sobre sua naturalidade. Se é carioca, capixaba,
potiguar, baiano ou gaúcho, isso, realmente, é irrelevante. É a típica
informação para encher lingüiça. Tem mais. Também não coloque
características pessoais como “bonita”, “loira”, “moreno”, “pardo” e
“traços indígenas”.
Por favor, tire aquelas frases horrorosas e comuns dos finais de currículos
feitos na rua. Todos os trechos citados são casos reais que recebi. Além
de pegar muito mal, são uma embromação que diz, diz e não diz nada.
Confira:
 “Declaro serem verdadeiras as informações contidas neste
curriculum, sendo responsável pelas mesmas”;
39
 “Venho através deste curriculum tentar uma oportunidade...”;
 “Desde já agradeço pela oportunidade”;
 “Pretendo usar minhas experiências com o objetivo de atender às
expectativas dessa empresa, colaborando e somando esforços
visando sempre a boa imagem das atividades a mim atribuídas”;
 “Gostaria de participar do quadro de funcionários desta
conceituada empresa, pois, tenho disposição, conforme ou não
meus conhecimentos, pois busco crescimento profissional
contribuindo de modo positivo nos objetivos e metas da
empresa”;
 “Solicito a gentileza de incluir meus dados no cadastro desta
conceituada empresa, a fim de serem analisadas caso venha
surgir alguma vaga”.

Seja direto:

 Interesse: “realizar um estágio no departamento de


Controladoria”, e não “trabalhar na digníssima companhia em
qualquer área disponível, de acordo com meu perfil”. Isso é pura
enrolação.
 Conhecimentos em informática: “conhecimentos avançados em
Word e Excel 2007”, e não “Pacote Office - básico”. Diga o que
sabe e em qual versão.
 Idiomas: “Inglês fluente”, e não “Inglês intermediário (estudando
o nível 5, Upper Intermmediate, na escola tal...)”. Nas grandes
empresas, esse item não é classificatório, mas eliminatório. É

40
saber ou não saber. Não diga que só fala, mas não lê, nem
escreve. Ou você é fluente, ou não é.
 Formação: “engenheiro metalurgista pela Escola Politécnica da
USP”, e não “eng. metal. na EPUSP”. Cuidado com abreviações
e com a “famosa” sopa de letrinhas que só você sabe o que
significa.
 Disponibilidade de horário para estágio: manhãs.
 Atividades extracurriculares: “Curso de Matemática Financeira,
40 horas, SENAC-SP, em 2009”, e não “Grupo de escoteiros
Lobinhos Vermelhos Saltitantes, aos sábados”. Coloque
atividades relevantes ao estágio. Outras peculiaridades podem ser
ótimas e importantes para você contar num grupo de amigos, em
algumas entrevistas específicas ou para sua tia, mas sem ligação
alguma com a atividade profissional devem ficar de fora.

Sendo objetivo
Esse item é parecido, mas não igual ao anterior. Você tem que ser capaz
de dizer tudo o que foi exposto acima, em apenas uma página. Vai ter
que escrever e reescrever até ficar bom.
Se não ficou claro, explico de novo. Às vezes, para uma mesma vaga, há
muitos currículos, por isso, quem faz a triagem quer saber rapidamente o
que você estudou e onde, e seus conhecimentos de informática e idiomas.
Para só depois, observar os currículos com mais detalhes.
Muitos erram nas informações sobre informática. Caso seu estágio não
seja em TI, ninguém dará muito valor aos seus conhecimentos de Lotus
123, nem ao fato de conhecer programação em C++ ou HTML, e muito
menos, seu talento de diagramação no Page Maker, da Adobe. É óbvio

41
que, para um escritório de engenharia, conhecer a última versão do
AutoCad é fundamental, mas para uma vaga na área comercial de um
banco de investimentos, não importa nem um pouco.
Mais interessante ainda, é que depois da triagem inicial, seu currículo,
em algum momento, irá cair nas mãos de alguém da sua área de interesse.
Se tiver sido exageradamente sucinto isso pode prejudicá-lo. Por isso,
criar um currículo é difícil, pois é a arte de ser sucinto o suficiente para
não parecer prolixo ou, pior, “enrolador”, mas hábil o bastante para
prover informações relevantes à vaga desejada.
Só mais uma dica: todo currículo deve ser “personalizado” para a
empresa em que se deseja trabalhar. Esse papo de fazer um único formato
de currículo e metralhá-lo mercado a fora é um hábito terrível. Percebe-
se de imediato, para infelicidade do candidato. Cada empresa quer se
sentir preferida em detrimento das demais. Se parecer que você quer
qualquer coisa em qualquer lugar, a situação se complica.

Formação acadêmica
Este assunto é controverso. Certa vez um estagiário me perguntou:
“Existe diferença de tratamento entre estagiários de universidades de
ponta e os de universidades sem expressão?”. Ele estava se sentindo
discriminado por algum motivo que não me lembro. Estudava engenharia
numa faculdade pouco conhecida, na Grande São Paulo. Será que essa
distinção de cursos resulta em problema para o estagiário? Respondo.
Antigamente, antes da internet, as melhores empresas só divulgavam suas
vagas nas universidades que escolhiam. Isso restringia o acesso de muitos
estudantes, pois, sequer tinham conhecimento das oportunidades. Assim,
sua chance de participar de processos seletivos de estagiários era quase

42
nula. Hoje em dia, é muito diferente. Mesmo que a empresa não envie
nenhum cartaz para sua faculdade, basta entrar no site apropriado, ou na
empresa de recrutamento contratada pela interessada para promover o
concurso de estagiários e, livremente, inscrever-se como qualquer outro
aluno de faculdades de ponta. Sem dúvida, esse advento beneficiou
milhares de universitários nesse Brasil a fora.
Mas não se iluda. As empresas têm sim uma “quedinha” pelos alunos que
já foram aprovados nos mais difíceis vestibulares do país. Por quê? Pelo
motivo mais óbvio do mundo: esses alunos foram vitoriosos na batalha
dos vestibulares, conseguindo superar muitos outros candidatos. É um
sinal de competência que não pode ser desprezado e para quem tem que
escolher, sem conhecer, essa é a maneira tradicionalmente mais sensata.
Funciona desse jeito: se você tiver duzentos mil reais para comprar um
carro, vai optar por um Mercedes-Benz, ou arriscaria numa outra marca
que você desconhece? A maioria compraria a marca alemã, afinal ela já
tem um histórico de sucesso, que não pode ser deixado de lado. A outra
marca, pode sim ser ótima, como também, pode não ser.
Entretanto, há alunos excelentes e brilhantes em todas as faculdades.
Muitos não se saem bem no vestibular porque os pais não tiveram
condições, ou visão, para oferecer uma educação de alto nível. Por vezes,
são até mais inteligentes; só não foram devidamente preparados. Em
condições de igualdade, dariam um show. É por isso que várias empresas
têm quebrado o tabu e dado oportunidades sem preconceitos de
formação.
Aliás, a maioria dos concorrentes nos processos seletivos vem das
faculdades menos tradicionais. Como o volume é grande, você, que faz
parte delas (se for o seu caso, claro), vai ter que apresentar um diferencial
43
para mostrar que não é só alguém atrás de um diploma. Há várias
oportunidades. Se você for muito bem na fase de testes, nas redações, nas
provas de Inglês e atualidades, nas dinâmicas e entrevistas, estará em pé
de igualdade com quaisquer candidatos.
Aos alunos egressos das melhores universidades do país tenho duas
notícias: uma boa, uma ruim. Por certo, vão querer primeiro a boa. Lá
vai. A sua universidade lhe abre as portas da maioria das empresas. Elas,
provavelmente, darão a chance de você mostrar seu potencial. A ruim, é
que muitos se tornam arrogantes e pensam que a empresa tem que
estender tapetes vermelhos para um candidato tão “gabaritado”. Muitos
esbarram na própria presunção. Participam do processo com displicência,
julgando que a fama da faculdade onde estudaram preenche todos os
requisitos que a vaga exige. Seja inteligente. Use a qualidade de sua
formação a seu favor, não contra.

Mas e quanto ao meu curso universitário?


Já sei. Você optou por estudar um curso diferente do tradicional e está
morrendo de medo de não encontrar trabalho depois de formado. Faz
sentido. Até pouco tempo atrás, os melhores programas de trainees eram
redutos de engenheiros e administradores, principalmente. Hoje, contudo,
a tendência é diferente. Segundo reportagem do jornal Valor24: “a
escassez de mão de obra no mercado tem feito muitas companhias
reverem suas prioridades e reduzirem as exigências em relação à
formação acadêmica dos candidatos”. Que ótima notícia, não acha?

24
Edição de Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de maio de 2011; no
caderno EU&CARREIRA.
44
A mesma reportagem nos informa que levantamento realizado pela Cia
de Talentos mostrou que 80% das empresas aceitam currículos de
graduações diferentes de administração, engenharia e economia, apesar
de pouquíssimas abrirem o leque em 100% para toda e qualquer
graduação. A Natura foi a pioneira e vem atraindo seguidores dispostos a
quebrar paradigmas em relação ao assunto. Entretanto, ainda levará
tempo para que todo mercado adote tal postura, mas há luz no final do
túnel.

Idiomas

Quais os principais aspectos que um jovem profissional precisa


ter para trabalhar na sua empresa?25
97% Formação acadêmica
57% Fluência na língua inglesa
50% Experiência profissional anterior
47% Participação em atividades extracurriculares
43% Formação relacionada à área de atuação

Você, meu inteligente leitor, é capaz de matar essa charada. Partindo do


pressuposto que todos que almejam vaga de estágio/trainee são
universitários, qual é o quesito mais importante para ingressar nas
melhores empresas, tendo como parâmetro a tabela acima? Muito bem!
Inglês!

Reportagem “As melhores empresas para começar a carreira – 2011” – revista


25

VOCÊ S/A, edição 155, maio de 2011.


45
Essa está fácil. Tem que saber Inglês e ponto final. Vejo gente estudando
Espanhol, Chinês sem estar afiado no Inglês. Na minha opinião, um
desperdício. Salvo casos bem específicos, não falar a língua universal
pode arruinar suas pretensões. Já ouvi alguém dizendo: “Eu estava quase
lá, mas aí me barraram por causa do Inglês!”. Não deixe que isso
aconteça com você. Seria uma pena.

 Definição de fluência em outro idioma no mundo dos


negócios: ser capaz de conduzir uma reunião, realizar uma
apresentação, escrever um relatório ou e-mail, participar de uma
conference call, ler literatura técnica e se virar sozinho numa
viagem internacional. Está apto a tudo? Não? Então visite seu
currículo e, de fininho, como quem não quer nada, mude o status
para “intermediário”.

Mas precisa ser fluente mesmo? Nem sempre. Se você conseguir se


comunicar com razoável destreza e for capaz de entender outra pessoa
falando, pelo menos o essencial, pode se considerar com boas chances.
Ninguém quer um professor de Cambridge no quadro, a não ser a Cultura
Inglesa, mas aquele jeito de falar sem sentido, como nas hilárias
propagandas das escolas de Inglês, pagando vários micos, ninguém
merece... Importante: se o seu conhecimento for básico, não diga que
“domina” o idioma, porque pode passar “um carão” na entrevista.
Outra coisa: se você tiver condiçõe$ para fazer um intercâmbio, pelo
amor de Deus, não vá para a Ucrânia, nem para a República Tcheca;
escolha qualquer país cujo idioma seja o Inglês. Nada contra os países
citados, só não perca essa chance magnífica de adquirir fluência no
46
idioma mais requisitado do mundo. Isso vai transformar sua vida, pode
crer.
Se a grana estiver curta, estude a Língua Inglesa em uma das dezenas de
opções oferecidas no mercado. Dê ênfase à conversação, pois é o que lhe
será requerido logo de cara. Se estiver num nível muito básico, apresse-
se, afinal, não se aprende outro idioma da noite para o dia.
Para quem quiser manter contato diário com o idioma e não agüenta mais
as aulas em turma, a melhor opção que conheço é o site da britânica
BBC, na seção Learning English26. É gratuito e o conteúdo, fora de série.
Você vai gostar muito.

Informática
Exceção feita aos estágios em TI, nos quais esse item é talvez o mais
importante, ninguém precisa ser nenhum Bill Gates, entretanto, conhecer
apenas o Word é muito pouco. Hoje em dia, a moçada conhece muito
bem o Messenger, o Twitter, o Orkut e o Facebook, mas sinto lhe dizer
que esses softwares são bons para entretenimento, mas podem ser bem
improdutivos se totalmente disponibilizados no ambiente de trabalho.
Tenho que abrir parêntese para alertar meus leitores sobre um ponto
muito importante: essas redes de relacionamentos virtuais podem
“queimar mais o filme” do que ajudar, na hora de encontrar um estágio.
No Orkut, por exemplo, há comunidades que podem denegrir a sua
imagem. Tenha certeza de que em vários processos seletivos os gestores
das vagas irão tentar encontrar mais informações a seu respeito. Veja
onde você não pode ser encontrado:

26
Fonte: http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish
47
 “Eu detesto acordar cedo” – a não ser que esteja procurando
estágio numa casa noturna, não vai cair bem ser membro de tal
comunidade, não acha?
 “Eu sou preguiçoso” – que ótima notícia, hein?
 “Seria Inri Cristo um Pokemon?” – não é provável, mas e se
o seu futuro chefe for discípulo do “cristo” genérico? Ele pode se
ofender.
 “Não gosto de tomar banho” – nem para a entrevista irão
chamá-lo.
 “Só compro CD e DVD pirata” – já pensou se estiver
pleiteando uma vaga no jurídico de uma grande gravadora?
 “Não sou fácil, sou bêbado” – o que vão pensar de você
quando o convidarem para o próximo happy hour? Será que
convidariam? Pensando bem, essa dúvida está fora de cogitação.
Empresa não é AAA.
 “Eu fumo baseado, e daí?” – daí que você vai ficar de fora.
 “Adoro cantar a mulher dos outros” – vai haver fila de
maridos/noivos/namorados para te pegar lá fora.
 “Eu durmo com meu ursinho de pelúcia” – por Deus, vão
tirar sarro de você do primeiro ao último minuto de trabalho,
todos os dias.
 “Eu adoro soltar pum” – santa flatulência! – diria Robin.
 “Odeio estudar” – ainda bem que você avisou antes da
contratação.

48
Enfim, há inúmeros outros exemplos a não serem seguidos. “Ah,
ninguém tem nada que ver com minha vida pessoal.” – alguém pode
argumentar – “Isso é um abuso!”. Vai nessa, vai? Fechado o parêntese,
voltemos aos requisitos essenciais em informática.

Windows
O conhecimento mais básico é o de Windows. Pode parecer estranho,
mas ainda há quem não sabe configurar um teclado, não diferencia entre
“salvar” e “salvar como”, não consegue mudar o idioma do sistema
operacional e nem imagina como se instala uma impressora. Se não
bastasse, há os que nunca se interessaram em descobrir para que serve o
botão direito do mouse, não entendem a estrutura de arquivos e pastas do
seu computador local, e são incapazes de localizar arquivos numa
máquina ou em outro computador conectado à rede. E daí? Daí, que
saber essas coisas economizam muito do seu tempo e, de lambuja, podem
ajudá-lo a ganhar um “moralzinho” com seu chefe, que não manja muito
disso também.

Word
Saber digitar um texto não é sinônimo de conhecer o Word, ou outro
editor de texto similar. É preciso entender bem de formatação de texto e
parágrafo, configurar a página e a impressão, inserir cabeçalho e rodapé,
imagens e fotos e, também, inserir e formatar tabelas. Se souber isso, está
bom, o resto, aprenda se necessário.

Excel básico
Esse software põe medo em muita gente mas, se bem utilizado, é
ferramenta essencial para todos os que vivem de cálculos. Os conselhos

49
citados acima também são válidos para o Excel, mas não é só isso. É
necessário conhecer as opções “colar especial”, “gráfico” e “função” (só
as básicas: auto-soma e média). Para um estágio em escritório de ciências
humanas é o suficiente.

Excel intermediário
Para quem pretende trabalhar em engenharia, contabilidade,
controladoria e outras áreas abarrotadas de cálculos, o conhecimento de
Excel é vital. Além do que está citado acima, é bom você também
conhecer as opções “formatação condicional”, “macros”, “classificar e
filtrar”, outras “funções” mais sofisticadas (procv, proch, cont valores...),
“atingir metas”, “solver” e “tabelas dinâmicas”. Acredite, você precisa
conhecer e fazer uso dessas ferramentas.

Excel avançado
Para quem quiser
Acredite se quiser
“causar” na seção, pode
aprender a usar o editor
Meu último estagiário passou um mês
do Visual Basic for
comigo (estágio de férias). Seu projeto
Applications (VBA)
envolvia o uso dessa ferramenta poderosa:
VBA. Como o rapaz é muito inteligente, e dentro do Excel. É
teve boa vontade, rapidamente deslanchou e necessário ter noções de
apresentou um projeto de estágio espetacular. programação para poder
Coincidência ou não, ao regressar à ir a fundo na ferramenta.
universidade, aplicou seus conhecimentos Isso aqui é muito chique,
adquiridos em outro assunto, e foi convidado e só é indicado para
a ir apresentar seu trabalho na China. Vale a
aqueles que querem tirar
pena ou não um estágio diferenciado?

50
“nota 10, com louvor!” no estágio. Você pode construir pequenos
aplicativos, que realizam cálculos padronizados e com lógica própria. As
aplicações são infinitas. Quando trainee criei um aplicativo que
otimizava o fechamento contábil dos fundos de investimento. O trainee
anterior fechava vinte fundos por mês, trabalhando oito horas por dia.
Depois de meu aplicativo, fechávamos mais de cinqüenta, com a metade
do tempo e sem erros. Qual foi a minha nota nos três meses em que
fiquei na contabilidade? Nota A.

Power Point
Ainda lembro das transparências e dos retropojetores, como se fosse
ontem. Hoje, são peças de museu. Tudo é apresentado em Power Point.
Você precisa ser capaz de utilizar esse aplicativo de maneira eficaz.
Aqui, valem mais as dicas de como falar em público, do que a respeito do
uso das funções do software. Apenas tome os seguintes cuidados:

 Cores e fontes extravagantes costumam irritar a platéia. Se a platéia


for a diretoria, por exemplo, não recomendo irritá-los. O contraste
entre a cor das fontes e a cor de fundo pode ser fatal.
 Lembre-se de que seu público é todo alfabetizado. Se for só para
ler o slide, deixe que cada um o faça, por si mesmo.
 Pela lei de Murphy, todos os vídeos, atalhos e anexos da
apresentação não abrirão na hora “H” e você ficará com cara de
tacho. Eu somente arriscaria se tivesse a oportunidade de testar e ter
certeza absoluta de que tudo estará funcionando.
 Nada é mais tedioso do que assistir a uma chatérrima
apresentação e ver no cantinho do slide “13 de 156”, por exemplo.
51
Ninguém merece! O pior não é o exagero do número de slides; é
calcular o tempo que vai ficar ali plantado ouvindo aquele tró-ló-ló
enfadonho. Fale o necessário. Nem uma palavra a mais.
 Apresente olhando para o público, não para o slide, o que
demonstra insegurança.
 Não exagere nos efeitos especiais, afinal sua apresentação não
estará concorrendo ao Oscar nessa categoria. Nem pense em usar a
famosa metralhadora de letrinhas!
É isso aí.

Internet
Quem é que pode se dizer expert em Internet? Já sei: é alguém viciado
em bate-papo no chat do UOL? Ou um especialista em achar vídeos
engraçados no YouTube? Melhor, é um cara que tem um Twitter com
mais de 10 mil seguidores? Infelizmente, nenhuma das opções anteriores
é correta. Para afirmar que tem conhecimentos relevantes de Internet
você deve ser capaz de realizar boas pesquisas, tanto científicas como
comerciais, além de obter informações de qualidade, com bastante
rapidez. Só isso.
Abre parêntese. Se a sua empresa fornecer acesso ilimitado à rede
mundial de computadores, olha lá os sites que vai acessar, hein? Nada
com conteúdo sexual, páginas de fofocas sobre artistas e, muito menos,
os que buscam por outras vagas profissionais. Não seja tolo e deixe para
fazer essas coisas no conforto e privacidade do seu lar.
Outra coisa, evite usar o Messenger, mesmo que seja autorizado a isso. É
uma perda de tempo sem fim. Muita gente não tem “semancol” e adora
ficar enviando “chamadas”. Perdem a concentração no serviço,

52
interrompem a execução de uma tarefa. Na minha equipe, incluindo
minha pessoa, o uso está fora de questão; e digo mais, a restrição não traz
prejuízo algum.
Tem mais. Muita gente já foi demitida por causa de e-mails com
conteúdo impróprio. Nem pense em dar uma mancada dessas, repassando
as fotos da última capa da revista Sexy. Quanto às correntes de e-mail
(do tipo “envie essa mensagem para quinze pessoas, senão vai virar
vampiro”), deixe de ser “mala” e apague essas bobagens da sua “caixa de
entrada”, de imediato. Muito cuidado também com arquivos contendo
assuntos confidenciais da companhia. Alguns desavisados (e
desocupados), inocentemente, ficam fuçando onde não devem e acabam
acessando informações que não lhes dizem respeito, e pior, imprimem ou
enviam para e-mails particulares informações de uso restrito à empresa.
Caso você não saiba, o uso de todas as funcionalidades de seu
computador pode ser facilmente rastreado. Cada clique pode ser
monitorado e, uma vez recuperados, todos os seus atos virão à tona num
segundo. Depois, até você explicar que Jesus não é Genésio, já era. Fecha
parêntese.

As redes sociais
Quem nunca ouviu falar em Orkut, Facebook, Twitter, Myspace, e
Flickr? Esses são os sites de relacionamentos do momento e você não
pode ficar de fora dessa moda. Por quê? Porque eles podem ajudar (ou
não, como vimos anteriormente) a arrumar um bom estágio. Como?
Segundo reportagem no site da revista Veja27, várias empresas utilizam

27
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia-tecnologia/redes-sociais-saiba-
como-usar-profissionalmente-527564.shtml
53
os perfis dos candidatos como fonte de informação para processos
seletivos. Conheça algumas posturas/habilidades/comportamentos que as
empresas consideram positivos e, outros, considerados negativos,
seguidas de um pequeno comentário meu a respeito:
 Positivos:

o Alta freqüência nas postagens. Sugere sociabilidade e


vontade de se comunicar.
o Cuidado com a linguagem e a ortografia. Mostra quem
gosta ou não de ler e escrever.
o Desenvoltura em relação às novidades tecnológicas.
Fundamental para os desafios do século XXI.
o Amigos em quantidade e qualidade, especialmente
estrangeiros. Bom para ver como anda o Inglês dos
candidatos.
o Interação saudável e intensa com os amigos. Revela
que você não é um bicho-do-mato.
o Argumentação e posicionamento em fóruns de
discussões. Ter opiniões próprias e capacidade de
argumentação são requisitos fundamentais para
desenvolver um bom trabalho.

 Negativos

o Erros de ortografia/concordância. Escrever


corretamente é quase uma obrigação, afinal você é um
privilegiado, considerando sua escolaridade em relação à
54
grande maioria dos brasileiros. Cuidado para não grafar,
por exemplo, “menas”, “opito”, “vareia, “estrupo”... Ou
dizer: “meia cansada”, “pra mim fazer”...
o Falta de coerência. Dizer que é esforçado e fazer parte
da comunidade dos “vagabundos, fanfarrões e bêbados”
é de lascar!
o Uso inadequado da linguagem. Falar palavrões e
expressões vulgares constrange os colegas de serviço.
Evite palavras de baixo calão.
o Pessimismo permanente. Cuidado! Quem tem uma
visão negativa da vida, que está sempre achando que
“nada vale a pena”, precisa ler Fernando Pessoa. Nem
vou explicar. Com certeza você conhece a frase
monumental do grande autor português.
o Críticas agressivas. Esse vai ser o futuro grosseirão do
departamento, pois a agressividade de seus comentários
pode extrapolar os limites toleráveis.
o Radicalismo: Só agrada os insanos da Al-Qaeda.
o Comentários preconceituosos: Sem comentários.

Fazer parte de redes sociais, portanto, é faca de dois gumes: pode contar
a favor, ou contra. Depende do uso. Como você é inteligente, claro que
vai fazer bom uso, não é mesmo? Crie uma conta em cada uma dessas
redes sociais, use e abuse, pois podem render ótimos frutos, mas em sua
casa e não no serviço!

55
Caso real: segundo reportagem do jornal O Globo28, a consultoria
PricewaterhouseCoopers no Brasil está usando o Twitter e o Facebook
para divulgar seu programa de trainee 2010. No primeiro, a empresa
posta dicas de informações institucionais e vantagens em ser trainee na
PwC, e no segundo, há ainda mais interação entre candidatos e a marca,
através de fóruns de discussões sobre o processo. Essa é uma iniciativa
desbravadora, e que rapidamente será disseminada entre as empresas
mais “plugadas” na moçada. Fique atento.
Vale ficar atento às palavras de Sidnei Oliveira:
“o crescimento das redes sociais trouxe a sedução da
comunicação fácil e descontraída. Isso tem promovido novos
comportamentos, com a exposição ilimitada de interesses
pessoais e do estilo de vida permitindo interpretações diversas
sobre os possíveis candidatos. Os profissionais de RH estão
atentos a isso e já fazem uso intenso dessas redes29.”

Para finalizar este capítulo sobre informática gostaria de dizer que se


você tem outros conhecimentos em Access, InfoPath, Visio, Project,
Corel Draw, Photoshop e afins, eles poderão ser muito úteis para casos
bem específicos, mas para noventa por cento dos estágios é irrelevante
possuir tais habilidades.
Se você leu tudo a respeito de informática, e algo soou meio estranho, é
provável que seus conhecimentos sejam insuficientes. Quem costuma
colocar em seu currículo “domínio do pacote Office”, por exemplo, deve

28
Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/mercadodigital/posts/2010/03/12/twitter-
facebook-na-estrategia-de-contratacao-de-trainee-273977.asp
29
Geração Y: ser potencial ou ser talento? Faça por merecer, ed. Integrare,
2011, p. 58.
56
repensar se está com esse moral todo. Se estiver, ótimo. Se não, vá
resolver o problema imediatamente, pois em apenas seis meses, com
dedicação e curiosidade, dá para se tornar um ótimo usuário de
microcomputadores, afinal, eles são ferramentas de trabalho.

Habilidades comportamentais
Este é um tema de difícil abordagem, pois está relacionado a questões de
foro íntimo, subjetivas. Para um engenheiro, tudo que não é binário, nem
exato, gera incômodo. Não discordo que, hoje em dia, ser pró-ativo,
trabalhar em equipe e ter habilidades para cultivar relacionamentos seja
fundamental, mas como avaliar isso corretamente?
As famosas dinâmicas de grupo, ou painéis, têm a missão de avaliar o
comportamento dos indivíduos. Já participei de algumas delas e confesso
que me aborreci um pouco, diante de tanta mesmice. Todas são muito
parecidas. Além disso, várias vezes me questionei se as pessoas
realmente eram sinceras ou estariam “fazendo tipo” para se aproximar
do almejado “perfil ideal” perante o grupo. Hoje, tenho certeza de que é
possível se fazer passar por “candidato certo” para um determinado
perfil, mas por pouco tempo. A farsa não resistirá à rotina diária na
empresa.
Durante um trabalho de grupo alguém até pode simular características de
um gentleman, de alguém próximo à perfeição, mas é evidente que não
conseguirá manter o disfarce por muito tempo. No dia-a-dia a cobrança
de todos, colegas e superiores hierárquicos, será impiedosa e, com
certeza, a máscara vai cair e com ela, o mascarado, vítima da arapuca que
ele mesmo armou. Não vale a pena. O melhor a fazer é ser você mesmo e
trabalhar num local em que seu perfil seja compatível com o pretendido

57
para aquele setor. É melhor para todo mundo, principalmente para sua
carreira.
Uma dica importante é conhecer os valores de uma empresa e avaliar se
você aceita esses valores, convive com eles. Essas informações sempre
estão disponíveis no seu web site. Por exemplo, há empresas nas quais o
valor “integridade” é o primeiro da lista. Lá, tudo o que acontece deve ser
passado por esse filtro. Posso dizer que aqueles que não primam pela
integridade não terão vida longa nessas corporações, unicamente por
questão de afinidade. Se você pensa que os valores da companhia são
apenas para atender as exigências das normas ISO30, ou para enfeitar
paredes, está enganado.
Na verdade, não existe um perfil ideal genérico. Depende da empresa e
da característica da área. Por exemplo, não adianta ser genial se o
candidato for introvertido ou tímido, para trabalhar na mesa de operações
da tesouraria de um banco. Não serve. Precisa ser alguém que se expõe
com coragem e toma decisões rápidas num ambiente de altíssima
pressão. Se você for tímido e, por conseguinte, detestar falar em público,
não vá para empresas de consultoria, pois lidará com clientes quase todos
os dias. Mais: se quiser ser pesquisador num grande laboratório
farmacêutico, terá de apresentar grande habilidade em pesquisas
acadêmicas, além de ser muito criativo e persistente. Por outro lado, se

30
ISO (International Organization for Standardization) é o maior
desenvolvedor mundial e publicador de padrões internacionais; é
também uma rede mundial de institutos de padrões de 162 países, com
um membro de cada localidade. (Fonte:
http://www.iso.org/iso/about.htm)

58
gosta de entrar e sair sempre no horário, estude bastante e vá ser
funcionário público31. E assim por diante. Percebeu como não há
fórmulas mágicas?

31
Não é menosprezo, não. Tenho muitos parentes e amigos funcionários
públicos e, alguns deles, estão em ótimos empregos. Há excelentes
oportunidades no serviço público, além de salários invejáveis. Sem falar na
estabilidade e aposentadoria invejáveis. Mas é inegável que a “pegada”,
dificilmente, é a mesma da iniciativa privada, por isso, os perfis adequados para
um e outra são diferentes, sim senhor!
59
O profissional que as empresas querem
A VOCÊ S/A realizou uma pesquisa com as 30 companhias que
participaram do guia “As melhores empresas para começar a carreira –
2011” para saber o que, de fato, é desejado na hora da contratação, no
quesito “habilidades comportamentais”. Veja:

Um verdadeiro banho de água fria em quem nem terminou a faculdade e


já pensa em emendar o MBA na sequência. Perceba que não são itens de
prateleira, no que diz respeito a algo que é possível aprender em cursos
ou livros. São características pessoais inatas ou, na melhor das hipóteses,
bem trabalhadas naqueles que se autoconhecem bem.

60
Algumas habilidades essenciais, em minha opinião
Há certas habilidades requeridas pelo mercado de trabalho que são
básicas, essenciais, para se trabalhar em qualquer empresa. Apesar de não
pertencer à área de recrutamento e seleção, não terei nenhuma
dificuldade em listá-las, afinal, estão em voga há muito tempo. Você
precisa não só conhecê-las, mas ter desenvoltura para falar a respeito
delas, além de reconhecer seus pontos fortes e fracos em relação a cada
uma. Normalmente, os recrutadores pedem exemplos práticos para
verificar o alinhamento entre seu discurso e suas ações. Convença-os de
que suas habilidades são reais; que não pertencem, apenas, ao campo da
retórica. Prepare-se.

Trabalhar em grupo
As empresas ainda têm muitas pessoas que não gostam de trabalhar em
grupo. Elas pensam que é mais fácil, e mais rápido, fazer tudo sozinhas,
pois os outros “erram demais, demoram a entender e, mais atrapalham do
que ajudam” – dizem elas. Acontece que, atualmente, essa visão sobre o
trabalho de grupo é inaceitável. As áreas estão incrivelmente enxutas. As
demandas crescem a cada dia. Sem trabalho de equipe não há como
cumprir prazos. Não há mais espaço para os chamados “centralizadores”,
que se sentem desprestigiados por não concentrar em suas mãos todas as
tarefas importantes, ou não dar “o seu aval” quando executadas por
outrem. Com eles o trabalho não rende, a equipe se desmotiva, a área
emperra...
Cada membro da equipe tem uma habilidade específica e uma
contribuição diferente a oferecer. O bom gestor reconhece isso, distribui

61
as atividades conforme as aptidões de cada funcionário, mas visando ao
trabalho como um todo. A satisfação aumenta, o trabalho rende e as
novas demandas continuam a chegar e a sair nos prazos acordados. E o
ciclo se repete, positivamente.
Quando fui convocado a prestar o serviço militar obrigatório, no caso, a
servir o Exército, entrei pensando que a tropa fosse composta por
soldados altos, fortes e bem preparados32. Achava que a força estava na
homogeneidade do grupo. Ledo engano. No primeiro dia, percebi que
havia de tudo: magros, altos, baixos, gordinhos, corajosos, medrosos, etc.
No decorrer do ano, nos exercícios militares, percebi a importância de
cada um:

 Os magricelas passam por passagens muito estreitas;


 Os altos podem subir nos locais mais difíceis;
 Os de estatura baixa podem passar, imperceptivelmente, por uma
mata rasteira;
 Os gordinhos podem ser excelentes contrapesos em alavancas;
 Os corajosos podem ser os únicos a completar uma missão
arriscada; e
 Os medrosos podem salvar a tropa de realizar uma missão
suicida.

Ao contrário do que pensava, à época, a força está na heterogeneidade do


time. Quanto mais heterogêneo, melhor. Esse é o segredo do trabalho em
equipe. Os individualistas, porém, não acreditam nisso. Que rapaz nunca

32
É bem verdade que eu não me encaixava inteiramente nesse perfil, mas...
62
jogou futebol ao lado de um “fominha”? Há profissionais que são
verdadeiros fominhas. Não passam a bola prá ninguém. Na verdade, não
confiam nos outros e isso é muito ruim. Sempre digo que não existe meia
confiança: ou confia, ou não confia.
A graduação é um excelente momento para você avaliar como é seu
desempenho no trabalho de grupo. Qual é o seu estilo? Você é daqueles
que entram no grupo para fazer a sua parte bem feita ou só para fazer
número e fica torcendo para surgir um bom aluno que realize a
empreitada sozinho? Saiba que no mercado de trabalho, nem o que faz
tudo sozinho, nem o “espertinho” que larga tudo para os companheiros,
são valorizados. O ideal é participar com responsabilidades definidas e
interesse. Esse, com certeza, será bem sucedido.
Mas há uma boa notícia para você que se auto-avaliou
desfavoravelmente: sempre é possível mudar. Se você for um fominha
pense que, se continuar cultivando o individualismo corre o risco de ficar
isolado no seu “mundinho”33.

Relacionamento interpessoal
O relacionamento é inerente ao ser humano. No livro bíblico das origens
– o Gênesis – a história da criação do homem ilustra muito bem esse fato.
Nas próprias palavras do Criador: “Não é bom que o homem esteja só”34,
ou seja, o homem é um ser gregário, sociável. Não tente contrariar essa
realidade. Pelo menos, não no mercado de trabalho atual.
Por que isso é importante? Fácil. Ninguém faz uma empresa rodar
sozinho. O entrelaçamento das atividades é o que faz a roda girar. Todos

33
Minha homenagem ao meu querido amigo Nivaldo Barbato. Ele adora dizer
isso a seus subordinados.
34
Livro do Gênesis, capítulo 2, verso 18.
63
precisam de todos. Os empregados que se relacionam bem tornam suas
vidas mais fáceis no trabalho. Um ótimo exemplo é um ex-funcionário
meu que tem uma habilidade incrível em obter o que deseja35. Agrada
quando tem que agradar, bate o pé quando necessário, e recorre aos
superiores hierárquicos imediatamente por uma causa que acredita justa.
Além disso, um ambiente onde não há bons relacionamentos é péssimo.
Na verdade, isso depende muito das chefias das áreas. Por vezes, cria-se
um ambiente tenso, de difícil convivência e cuja tendência, caso as partes
não se esforcem para reverter o quadro, é a da perpetuação. Atualmente,
tenho convicção de que minha postura é responsável pelo clima do setor
que chefio e posso garantir que esse clima tem sido salutar. É claro que o
ideal seria provar o que digo. Entretanto, transcrever os depoimentos de
um ou mais funcionários sob minha supervisão, especialmente os
feedbacks que normalmente recebo, geraria polêmica e poderia ser
interpretado como “sermão encomendado”. Fato é que, priorizando o
desempenho do grupo, a cooperação, o resultado do trabalho conjunto,
mas sempre levando em conta as diferenças individuais, tenho
conseguido manter um ambiente saudável de trabalho. Por oportuno, é
bom lembrar que aceitar diferenças não significa passar a mão na cabeça
do funcionário, mas respeitá-lo como pessoa e como profissional.
Respeito não é só ser legal. Significa interessar-se pelo outro, ouvi-lo,
considerar seu ponto de vista e experiência.
No caso dos estagiários não é diferente. Digo mais. Se não se
relacionarem bem, dificilmente, serão efetivados. Nessa fase inicial,
especialmente, você depende demais da ajuda alheia. Nem pense em ser

35
Marcos Pilingrini, mais conhecido como “Parafuso”.
64
arrogante ou antipático. Isso pode custar a sua permanência na empresa,
ao final do contrato de estágio, ou até antes. Na verdade, a maioria dos
estagiários que conheço, ou conheci, entende perfeitamente a importância
dessa habilidade comportamental e se empenha para ser colaborativo
com todos.

Pró-atividade
Essa é uma das habilidades mais desenvolvidas nas pessoas de sucesso.
Ser pró-ativo é buscar o serviço e não ser buscado por ele. É a diferença
entre aquele que só faz o que lhe é mandado e aquele que sempre vai
além do que lhe pedem. O chamado pró-ativo não fica esperando alguém
passar o recado: sabe ou descobre o que deve ser feito e faz.
Aqui, faço um alerta aos futuros, ou já estagiários: a postura passiva é
fatal. Já entrei numa determinada área e deparei com um estagiário
olhando fixamente para o computador, digitando algo, ou pior, “voando”
em sites de notícias na internet. No começo do estágio é perfeitamente
compreensível não ter muito trabalho, afinal, é difícil parar tudo e ficar
explicando o serviço, tintim por tintim para o aprendiz que acabou de
chegar. Mas, que fique bem claro: isso não justifica ficar à-toa. Há tanto
a aprender, e você vai ter coragem de se quedar num canto, sem fazer
nada? De jeito nenhum. Encoste-se em alguma mesa, ofereça ajuda. Peça
um livro sobre a área em que está estagiando e leia, anotando eventuais
dúvidas sobre o texto para, posteriormente, esclarecê-las junto ao gestor,
crie uma planilha, faça algo interessante. Pelo amor de Deus, só não fique
plantado em frente do computador como se estivesse em sua casa ou
numa lan house.

65
Lembro de um trainee que era um rolo-compressor. Terminava um
serviço, pedia outro e, depois, outro... Uma boa-vontade incrível. Qual o
resultado? Promovido antes de todos os outros, é claro. Quem vai ser
louco de perder alguém assim? Ninguém! Seu exemplo me inspirava,
entretanto, alguns colegas o tinham como um “puxa-saco”, um
“aparecido”, um “cara que não sabia seu lugar”. Fala sério, a turma dos
“bolas-murchas” quer sempre esvaziar a dos “bolas-cheias”. Deixe esse
pessoal de lado, pois com certeza, são frustrados, e isso é contagioso.

Capacidade de resolver problemas


Por fim, adicionei algo que minha mãe sempre me diz, quando fala a
respeito de trabalho: “somos pagos para resolver problemas”. Nada mais
certo. Acho engraçado quando está tudo rodando bem, num dia comum, e
aparece uma bucha daquelas, de pára-quedas. Algumas pessoas ficam
inconformadas e fazem de tudo para empurrar o problema para os outros.
Usam sua criatividade de maneira errada. Ao invés de gastar os
neurônios com a possível solução, criam saídas mirabolantes para fugir
de suas responsabilidades.
Aliás, há pessoas que têm o dom de se desvencilhar de problemas de sua
responsabilidade. Você conhecerá muitas delas, mas não se preocupe,
pois nunca vão longe na hierarquia, afinal, essa postura é totalmente
indesejada. Quem age assim se acha muito astuto, mas está cavando a
própria sepultura. Ironicamente, são esses cidadãos os que mais
reclamam de salários baixos e das “injustiças” nas promoções e
oportunidades perdidas. Por que será, não é?
Não se espera que o estagiário resolva muitos problemas, mas se o fizer,
é óbvio, contará muitos pontos a seu favor. Infelizmente, contudo, muitos

66
gestores se contentam apenas com o básico. Ficam preocupados em
mostrar de tudo um pouco durante o estágio, e não percebem que o
melhor aprendizado é o que ocorre quando se resolvem problemas
práticos. Além disso, passar para o estagiário a rotina chata que ninguém
gosta de executar é um desestímulo ao desenvolvimento do estágio.
Há ainda os que iniciam a solução de problemas, mas não vão até o fim.
Direcionam o caminho, depois, caem numa inércia total. Pior ainda,
mandam um e-mail para quem consideram os responsáveis em resolver
os “pepinos” e acham que isso resolve alguma coisa. Aliás, se e-mail
tivesse esse poder - de dar um jeito em tudo - estaríamos todos na rua. Na
verdade, o e-mail pode ser uma ferramenta dos acomodados. Daqueles
que estão mais preocupados em se defender de eventuais cobranças, do
que de gerar resultados consistentes. Meu conselho: tire o popô da
cadeira e vá resolver seus problemas pessoalmente, firmando
compromissos individuais com as outras pessoas. Filie-se ao projeto
TBC36.

Conclusão
Há muitas outras habilidades requeridas por essa ou aquela empresa, mas
essas quatro que mencionei são a espinha-dorsal, a linha-mestra do tema.
Saindo-se bem em relação a essas, as demais você tira de letra. E lembre-
se de que há uma forte relação entre elas. Por exemplo, é impossível
trabalhar bem em grupo se você não mantém bom relacionamento com
cada componente da equipe. Quer dizer, possível é, mas será uma tarefa
insuportável. Além disso, não se resolvem problemas sem pró-atividade.
E assim por diante.

36
Tire a bunda da cadeira!
67
Como ninguém é perfeito é bem provável que seja necessário
desenvolver melhor cada uma dessas habilidades. No que você já é bom,
não estagne, supere-se. No mais, procure melhorar, pedindo feedback
àquelas pessoas que são referência no assunto. Isso será importante não
só no período de estágio, mas durante toda a vida profissional.

PROVAS DE RACIOCÍNIO LÓGICO


A primeira pergunta que vem à mente é “uma prova dessa serve para
quê?”. E a resposta é muito simples: para aumentar o refino na seleção de
candidatos. Com as atuais relações de candidatos/vaga – superiores a mil
ou dois mil – é mister criar outras alternativas classificatórias que
auxiliem na busca por estudantes mais preparados. Além disso, cria-se
uma oportunidade singular de separar aqueles que gostam de pensar
daqueles mais chegados em uma decoreba. Nesse tipo de prova, esses
não têm chances.
Gostaria, também, de mostrar a você, meu leitor, alguns exemplos de
exercícios recorrentes, com resolução comentada. Como não sei em qual
ou quais empresas você irá tentar uma vaga, deixe-me prepará-lo para o
que há de mais rigoroso, pois se algo mais fácil aparecer pela frente, é só
tirar de letra. Então vamos lá. Primeiro, exibirei a questão em inglês –
para que todos tenham noção do nível requerido do idioma, além de
verificar a quantas anda o seu inglês – depois, traduzirei37 para o
português e resolverei a questão.

37
Lembre-se da máxima: “toda tradução é uma traição”.
68
Alguém que queira fazer graduação ou pós-graduação nos EUA se
defrontará, certamente, com um exame de proficiência de idioma
conhecido como GMAT38. Essa prova medirá não só o seu nível de
proficiência em Língua Inglesa, mas também a sua capacidade de análise
lógico-matemática. É um teste de “aço”. Várias empresas utilizam-se de
provas similares para recrutar trainees e/ou estagiários.
O teste39 divide-se em cinco partes, e as empresas podem se utilizar de
uma ou mais delas para aplicá-las a seus candidatos em potencial:

1. Problem Solving (resolução de problemas);


2. Data Sufficiency (suficiência de dados);
3. Reading Comprehension (interpretação de textos);
4. Critical Reasoning (análise crítica de informações); e
5. Sentence Correction (correção de frases).

Problem Solving

Você deve resolver o problema, indicando a melhor entre cinco


alternativas fornecidas. As questões não são muito difíceis, mas não se
esqueça de que estão em outro idioma e você terá que enfrentar muitas
delas em seqüência. Exemplo:

38
Sigla em inglês para Graduate Management Admission Council
(fonte: http://www.mba.com/mba/thegmat)
39
Extraído de: The official guide for GMAT review. 10th ed. Princeton:
Graduate Management Admission Council, 2000.
69
 Increasing the original price of an article by 15 percent and then
increasing the new price by 15 percent is equivalent to
increasing the original price by

 32.25% (the best answer – resposta certa)


o Imagine que o valor original fosse R$ 100,00. Um
aumento de 15% levaria ao novo preço de R$ 115,00.
Um novo aumento de 15% levaria ao novo valor de R$
132,25. Como a base é 100, 132,25 – 100,00 = 32,25 ou
32,25%.
 31.00%
 30.25%
 30.00%
 22.50%

 Tradução do exemplo: aumentando o preço original de um


produto em 15% e depois aumentando o novo preço em 15% é
equivalente a aumentar o preço original em

Difícil? Imagino que para os estudantes de exatas é moleza. Mesmo para


os estudantes de outras áreas de conhecimento também não há grandes
novidades. Ou, pelo menos, nada que um pouco de treino não deixe todos
bem afiados. Sugiro que baixem gratuitamente o software disponível no
site do GMAT40 e disponham tempo para treinar.

40
Disponível em
http://www.mba.com/mba/thegmat/downloadfreetestpreparationsoftware
70
Data Sufficiency

Um pouco mais difícil que o anterior, são questões de lógica simples.


Consiste de uma questão e duas afirmações, nomeadas de (1) e (2), onde
certos dados são fornecidos. Você deve decidir se os dados fornecidos
nas afirmações são suficientes para responder a questão. Preste muita
atenção para responder corretamente. Exemplo:

 A shirt and a pair of gloves cost a total of$41.70. How much


does the pair of gloves cost?
 (1) the shirt cost twice as much as the gloves
 (2) the shirt costs $27.80
o A. statement (1) ALONE is sufficient, but statement (2)
alone is not sufficient.
o B. statement (2) ALONE is sufficient, but statement (1)
alone is not sufficient.
o C. BOTH statements TOGETHER are sufficient, but
NEITHER statement ALONE is sufficient.
o D. EACH statement ALONE is sufficient. (the best
answer – resposta certa)
 A afirmação (1) sozinha seria suficiente, pois
trata-se de um sisteminha de duas variáveis e
duas incógnitas. C (camiseta) + L (luvas) =
41.70, e C = 2L, por isso C = 13.90 e L = 27.80.
 A afirmação (2), por sua vez, também sozinha
seria suficiente, pois já fornece o valor da

71
camiseta = 27.80. Subtraindo-se do total, chega-
se ao valor das luvas = 13.90.
 Cuidado para não errar a resposta. Veja que a
letra D é a única que afirma que as duas
afirmações, por si próprias, seriam suficientes
para responder corretamente.
o E. Statements (1) and (2) TOGETHER are NOT
sufficient.

 Tradução do exemplo: uma camiseta e um par de luvas custam


juntas $41.70. Quanto custa o par de luvas?
o (1) a camiseta custa o dobro do par de luvas
o (2) a camiseta custa $27.80
 A. a afirmação (1) SOZINHA é suficiente, mas a
afirmação (2) sozinha não é suficiente.
 B. a afirmação (2) SOZINHA é suficiente, mas a
afirmação (1) sozinha não é suficiente.
 C. AMBAS afirmações JUNTAS são suficientes,
mas NENHUMA afirmação SOZINHA é
suficiente.
 D. CADA afirmação SOZINHA é suficiente.
 E. Afirmações (1) e (2) JUNTAS NÃO são
suficientes.

Achou complicado demais? Pois é, ser selecionado entre dezenas de


milhares de candidatos tem lá suas dificuldades, não? Não desanime,
prepare-se! Até antes da leitura do livro, você mal sabia que isso tudo
72
existia. Hoje, já sabe e tem a oportunidade de estudar e ficar mais bem
preparado que a maioria dos concorrentes, afinal, estou fornecendo o
caminho das pedras. Não dou o peixe, mas ensino a pescar.

Reading Comprehension

Esse item não difere em nada da tradicional interpretação de textos, vista


na escola desde o primário. O perigo aqui, no entanto, é escolher
respostas com afirmações “corretas”, mas que o texto não diz nada a
respeito. É uma prova que exige muita atenção. Só responda aquilo que
estiver afirmado ou implícito no texto; apague da “caixola” todas as
informações que tiver sobre o assunto, alheias ao excerto.
Infelizmente, dessa vez não será possível dar um exemplo completo, pois
os textos são compridos. Vou aproveitar apenas um parágrafo para
ilustrar o nível das questões. Veja também que o nível do Inglês subiu
consideravelmente.

(line 12) Generations of writers on management have recognized


that some practicing managers rely heavily on intuition. In
general, however, such writers display a poor grasp of what
intuition is. Some see it as the opposite of rationality; others view
it as an excuse for capriciousness.

Question: the passage suggests which of the following


about the “writers on management” mentioned in line
12?

73
(A) They have criticized managers for not following the classical
rational model of decision analysis.
(B) They have not based their analyses on a sufficiently large
sample of actual managers.
(C) They have relied in drawing their conclusions on what
managers say rather than on what managers do.
(D) They have misunderstood how managers use intuition in
making business decisions. (the best answer – resposta
certa)
(E) They have not acknowledged the role of intuition in
managerial practice.

 Tradução do exemplo: (linha 12) Gerações de escritores sobre


gerenciamento reconhecem que vários gerentes, na prática,
confiam muito na intuição. Geralmente, entretanto, esses
escritores mostram pouca compreensão a respeito do que é
intuição. Alguns a entendem como contrário de razão; outros a
entendem como uma desculpa para caprichos de gerentes.

Questão: qual das afirmações abaixo a respeito dos


“escritores sobre gerenciamento” é sugerida pela
passagem, mencionados na linha 12?

(A) Eles criticam os gerentes por não seguir o modelo racional


de análise de decisões.
(B) Eles não basearam suas análises numa amostragem
significativa de gerentes reais.
74
(C) Eles confiam a estruturação de suas conclusões a partir do
que os gerentes dizem, não do que fazem.
(D) Eles não entendem corretamente como os gerentes
tomam decisões de negócios baseados na intuição.
(E) Eles não reconhecem o papel da intuição na prática
gerencial.

Percebeu como a resposta não está transparente no texto citado? Essa é a


sutileza desse tipo de prova. Nesse caso, o que não pode ser feito, por
falta de tempo, é ficar traduzindo o texto e as respostas. Isso prejudicará
sua nota final na medida em que faltar tempo para responder o restante da
avaliação.

Critical Reasoning

Em minha opinião, o mais difícil de todos. Nenhum conhecimento prévio


é necessário, mas você terá que ser capaz de ler um excerto, ser crítico e
escolher uma dentre várias alternativas, que não estão citadas no texto,
através de bom senso.

Insurance Company X is considering issuing a new policy to cover


services required by elderly people who suffer from diseases that afflict
the elderly. Premiums for the policy must be low enough to attract
customers. Therefore, Company X is concerned that the income from the
policies would not be sufficient to pay for the claims that would be made.

75
Which of the following strategies would be most likely to
minimize Company X’s losses on the policies?

(A) Attracting middle-aged customers unlikely to


submit claims for benefits for many years. (the best
answer – resposta certa)
(B) Insuring only those individuals who did not
suffer any serious diseases as children.
(C) Including a greater number of services in
the policy than are included in other policies of
lower cost.
(D) Insuring only those individuals who were
rejected by other companies for similar policies.
(E) Insuring only those individuals who are
wealthy enough to pay for the medical services.

 Tradução do exemplo: A companhia de seguros X está


considerando a possibilidade de viabilizar uma nova política para
cobrir serviços requeridos por pessoas de idade que sofrem com
doenças que os afligem. Os prêmios [para a companhia de
seguros] provenientes dessa política devem ser os menores
possíveis para atrair clientes. Entretanto, a companhia X está
preocupada por temer que as receitas advindas não sejam
suficientes para pagar as obrigações com os clientes que
requeiram seus direitos.

76
Qual das estratégias abaixo seria a mais recomendável
para minimizar as perdas da companhia X com as novas
políticas?

(A) Atrair clientes de meia-idade que pouco provavelmente


irão requerer seus benefícios, a não ser daqui muitos
anos.
a. Justificativa: é assim que empresas de seguro
ganham dinheiro. Muitos clientes para poucos
beneficiados. Dentre as alternativas essa parece
ser a mais adequada mesmo.
(B) Assegurar somente os clientes que não tiveram doenças
sérias na infância.
(C) Incluir um número maior de serviços na nova política,
quando comparada às outras de baixo custo.
(D) Assegurar somente os indivíduos rejeitados por outras
seguradoras com políticas similares.
(E) Assegurar somente os indivíduos que são saudáveis o
bastante para pagar por serviços médicos particulares.

É mais difícil que a interpretação de textos por que não fornece muitas
informações que ajudem a decifrar a resposta. O que vale aqui é bom
senso e razoabilidade.

Sentence Correction
Para falar a verdade, nunca vi nem ouvi falar de ninguém que tenha
encontrado esse tipo de questão pela frente, exceto no GMAT. Dessa

77
forma, comentarei apenas o que é e de que se trata. Uma frase é dada
com algumas palavras ou expressões grifadas. Dentre as cinco
alternativas fornecidas, você deve escolher entre a original ou as quatro
restantes. É para quem tem Inglês fluente de verdade. Mas fique
tranqüilo, porque não deve aparecer em nenhum processo seletivo, por
enquanto.

DINÂMICA DE GRUPO
Esse é o primeiro contato pessoal do processo seletivo. Até então, as
etapas anteriores não eram necessariamente presenciais. Agora, é hora de
começar a se mostrar. Os consultores estarão atentos a todos os detalhes
comportamentais e procurar logo de início afinidades entre os candidatos
e as empresas contratantes. Todos os momentos são importantes e tudo
terá uma razão de ser. Fique esperto.
É comum começarmos a reparar demais nos outros. Procuramos
referências positivas para imitar e negativas para repelir. Talvez nossa
intenção seja ficar num papel intermediário, mas nada disso deve guiar
nossa conduta nesse evento. Por mais difícil que pareça – pois queremos
muito agradar e avançar no processo – o melhor a fazer é ser você
mesmo. Claro, ligado em tudo, mas sem forçar a barra. É preciso resistir
a tentação de ser mais legal, simpático e desinibido que o normal, sob
pena de ser prejudicado na avaliação.
Participar é fundamental. Sempre tem um chato que se acha o Roberto
Justus, mas não se preocupe com ele; procure opinar, propor idéias e
ouvir atentamente os membros da equipe. Calar-se é proibido, afinal,
dinâmica de grupo entende-se por algo... dinâmico. Aja com naturalidade
78
e sempre lembrando de que está sendo observado, por isso, gracejos,
piadinhas e palavrões devem ficar de fora da atividade.
Siga rigorosamente as instruções dadas, prestando atenção às metas e ao
tempo para conclusão das tarefas. Tome cuidado para não ficar
excessivamente ocupado com a consecução de algo que lhe pediram para
fazer, enquanto outros membros do grupo tomam as decisões
importantes. Meros executores de ordens não costumam agradar aos
entrevistadores. Na prática: não fique plantado calado na frente do flip
chart esperando ordens sobre o que escrever ou não.
Em determinado momento, novas informações podem mudar o rumo do
trabalho inesperadamente, e pode surgir pressão por redução do tempo e
maior número de alternativas para solucionar um problema. De modo
algum fique nervoso, pois tudo é proposital. Muito provavelmente os
avaliadores estão tentando imitar ao máximo a rotina da empresa em
questão. Caso isso lhe cause estresse em demasia é bom mesmo não ser
aprovado nesse tipo de companhia.
Como em todos os momentos do processo, saiba também o que não
fazer:

1. Vestir-se inadequadamente: vale também para qualquer


entrevista; lembre-se de que ou você está vestido corretamente
ou está pagando mico – não há meio termo;
2. Exagerar na informalidade: como já dito acima – mas é sempre
bom relembrar - evite gargalhadas, ficar tocando nos outros,
fazer brincadeiras, contar piadas e exagerar na linguagem
coloquial: ninguém espera um “Rui Barbosa”, mas um “Sérgio
Mallandro” (ieié!) já é demais! Não fique pensando que o
79
“quebra-gelo” inicial feito pelos profissionais que conduzem o
processo é um convite à avacalhação.
3. Se na divisão dos grupos o seu contemplar um candidato a Jack
Welch ou Steve Jobs, mantenha a calma. Não vá cair na besteira
de ficar batendo boca com o fulano, nem querer ficar provando
que é melhor, afinal, haverá trabalhos em grupo e vocês terão
que se unir para cumprir os objetivos dados; quanto mais hábil
você se mostrar ao lidar com o mala-sem-alça mais pontos
ganhará.
4. Mentira tem pernas curtas: sua avó sempre lhe disse isso, mas
você nunca levou muito a sério. Cuidado, se desmascarado, suas
chances reduzirão a zero.
5. Na hora da apresentação pessoal não vá querer inovar muito.
Lembro-me de uma dinâmica onde um candidato fazia mímica
para que os outros adivinhassem informações a seu respeito. Foi
constrangedor, pois era péssimo ator. Diga-me como alguém
pode adivinhar um nome com mímica? Não fosse a impaciência
(bem-vinda, diga-se) do consultor estaríamos até agora na sala
tentando decifrar o enigma daquele candidato.
6. Último conselho: eu sei que dá muita vontade, mas nem pense
em ficar esticando o pescoço para ver o que os consultores tanto
escrevem em suas pranchetas, antes que anotem a seu respeito:
“xereta... resultado = REPROVADO!”.

Não se esqueça também de estudar a empresa com as informações


disponíveis na internet antes da dinâmica de grupo. Mostrar-se

80
interessado, bem informado e traçar paralelos entre suas idéias e os
valores e missão da empresa podem contar muitos pontos a seu favor.

HORA DA ENTREVISTA
Esse é o momento mais temido. Dá para entender. Afinal, a relação entre
você e o empregador, até então processada de forma indireta e distante,
passa a ser direta e próxima: frente a frente, olho no olho. A empresa de
consultoria já indicou seu nome e lhe aprovou na etapa das dinâmicas de
grupo, mas ainda há chão a ser percorrido. De qualquer modo, tente
relaxar, pois é a fase mais importante de todas. Aquela que decidirá sobre
seu ingresso na empresa. Erros nessa hora podem custar caro, pôr tudo a
perder. Vamos lá, força! Pois a disputa ainda não chegou ao fim. Falta
pouco.

A preparação
Você ficou feliz ao receber um telefonema da empresa, marcando hora e
local para uma entrevista. Tudo está indo de acordo com o esperado e
agora é só esperar o dia e pedir para a vovó fazer algumas orações, certo?
Nem tudo. As orações serão proveitosas, mas, como diz o dito popular,
“Deus ajuda quem cedo madruga”. Se você ficar esperando pelo dia
decisivo passivamente, sem qualquer preocupação, sem se preparar,
esperando unicamente por um milagre, a decepção pode ser grande. É
necessário fazer uma investigação acurada, descobrir tudo o que for
possível sobre a corporação e a área em que pretende atuar.

81
No site da companhia está tudo o que precisa saber. Aliás, geralmente,
tem muito mais do que o necessário. Esteja certo de que seus
concorrentes farão uma devassa nessas informações e irão chegar com
tudo tinindo, por isso, faça o mesmo. Vamos aos exemplos. Já pensou
chegar às entrevistas no Banco Real e não saber que ele foi adquirido em
2007 por um grupo liderado pelo Banco Santander? Mau sinal! Do
mesmo modo, já pensou ser entrevistado por um sócio na consultoria
americana Accenture e não saber que ela é a ex-Andersen Consulting,
que não é a mesma coisa que a atual Andersen? Parece complicado?
Pode até ser. Entretanto, é fundamental estar informado sobre fatos
significativos, especialmente quando recentes, se você pretende trabalhar
numa dessas extraordinárias empresas.
O mínimo que se pode pesquisar é país de origem, ramo de negócios,
principais concorrentes, produtos que fabrica ou serviços que presta,
presença global e também se a sua eleita faz parte de algum importante
ranking, como o da “Fortune 50041”, ou o das “150 melhores empresas
para se trabalhar”, ou ainda do lançamento de 2011: “Guia das melhores
empresas para iniciar a carreira” da revista Você S/A. Procure saber os
detalhes, como faturamento e lucros globais anuais, pois tais informações
constituirão um diferencial e tanto a seu favor. Vale a pena também
tomar conhecimento das últimas informações disponíveis na mídia.
Resumo da ópera: quanto mais você souber a respeito da empresa, mais
pontos terá e maior será a boa-vontade, ou a empatia se preferir, dos
entrevistadores em relação a você.

41
Esse é um ranking produzido pela revista Fortune, que lista as 500 empresas
americanas por ordem decrescente de receita bruta.
82
Além de obter o máximo de informações sobre a empresa de um modo
geral, lembre-se de que trabalhará em área ou áreas específicas. Com
certeza, haverá especialistas com conhecimento profundo do setor. Isso,
entretanto, não deve assustá-lo, pois não se trata de disputa para ver
quem sabe mais. Só que, uma coisa é saber pouco; outra é não saber
nada. O desconhecimento total sobre a área específica de atuação pode
colocá-lo numa situação desconfortável, ou até um tanto vexatória,
principalmente diante de seu futuro chefe imediato. Não dê chance para o
azar: corra para os livros disponíveis e notas de aula da disciplina
correlata e proceda a uma boa revisão. É preciso impressionar
positivamente todos os entrevistadores.
Conhece aquela frase “à mulher de César não basta ser honesta, tem que
parecer honesta”? Não sei se é verdadeira, ou qual o seu contexto, mas
vou tomá-la emprestada, pois traz uma útil lição nas entrevistas. Quero
dizer que não basta apenas ser um ótimo aluno e ter boas notas na
faculdade. Tem que saber e também mostrar que sabe. Além de um ótimo
histórico escolar, importa ter um bom discurso. É perfeitamente válido
estudar na véspera para se mostrar familiarizado com temas que, com
certeza, serão objeto de questionamento na entrevista.

Pronto para a entrevista


Chegou a hora. É o momento de se expor, de enfrentar face a face seus
futuros colegas de trabalho. Você precisa convencer seu entrevistador por
que ele deve contratá-lo; como sua presença agregará valor à companhia
e o que trará na bagagem. Pode ser uma, duas ou mais entrevistas,
conforme a empresa, sua estrutura e seu objetivo quanto ao estágio. O
número não importa, mas sim quem estará presente. Pode ter certeza de

83
que haverá alguém do RH, membros das futuras áreas e, provavelmente,
o gerente. Às vezes, diretores, presidente e até mesmo sócios poderão
aparecer. Apesar de tal ocorrência ser mais comum em programas de
trainees, nunca se sabe...
Uma boa pergunta é: “todos na entrevista estão atentos às mesmas
coisas?”. Não! “Cada um no seu quadrado”, como já dizia o hit efêmero
de 2008.
A turma do RH procedeu a uma seleção rigorosa, esmerou-se e agora está
empenhada em coroar seu trabalho com chave de ouro, entrevistando o
futuro talento a ser contratado. Todos estão atentos à sua postura, querem
aferir a afinidade entre os seus valores e os da empresa e, também, dar
seus palpites a respeito dos pontos fortes e fracos de cada participante,
sempre tendo como referencial as equipes que receberão os futuros
estagiários. Se você não gostou de algo no processo seletivo, esse não é o
momento de comentar, de expor à sua crítica o trabalho de todo um
departamento, às vezes, até diante de alguém da diretoria. Dificilmente
sua opinião sobre normas e procedimentos do RH serão bem recebidas.
Você só tem a perder.
Já o pessoal da área onde atuará(ão) o(s) futuro(s) estagiário(s) está
presente à entrevista exatamente para escolher seu(s) novo(s) colega(s).
E o que eles avaliam ao fazer perguntas ao candidato? Antes de dar essa
resposta saiba o que eles esperam do novo estagiário: alguém que seja
solução, não problema. Todos sabem, é claro, que terão de gastar tempo
no seu treinamento, mas esperam que seja o mínimo possível. Quanto
melhor você for, mais rápido tudo entra nos eixos e a equipe ficará
satisfeita antes. Na entrevista, portanto, eles vão observar se você é
esperto, se tem conhecimento básico sobre a atividade do setor e
84
demonstra interesse em trabalhar nessa área. Se você passa credibilidade,
se será uma companhia agradável... Resumindo, querem escolher um
bom colega de trabalho e, acima de tudo, que dê conta do recado. Errar
na escolha será muito frustrante.
E os gerentes e, eventualmente, diretores, presidente e sócios, qual o seu
objetivo quando participam das entrevistas? Normalmente, os chamados
“figurões” não costumam fazer muitas perguntas ao candidato. São
apresentados a ele, dizem algumas palavras, geralmente de incentivo,
fazem uma ou duas perguntas e observam, observam atentamente o
pretendente à vaga. Eu diria que vão para olhar nos olhos do entrevistado
e observar seu comportamento. Se você olhar para o chão, ou não tiver
coragem para encará-los, no bom sentido, vai passar uma mensagem
bastante negativa. E mais. Se um deles disser “não é o cara”, du-vi-do!
que alguém banque decisão em contrário. Pense nisso.

Algumas dicas valiosas


 Cuidado com roupas: Vestir-se bem é vestir-se adequadamente,
conforme o ambiente, a ocasião e a “moda” utilizada na empresa.
A vida em sociedade tem suas regras e negá-las, muitas vezes, é
sinal de imaturidade ou, pior, desajustamento social. Num local
de trabalho o vestuário só deve chamar a atenção pelo bom-
gosto, nunca por ser extravagante ou muito chamativo. As
meninas não devem exagerar nos decotes, nas saias muito curtas,
no brilho e nas cores muito fortes e os rapazes, evitar camisas
estampadas, meias brancas com terno escuro (combinação tida
como de extremo mau gosto), assim como, usar gravatas de cores
berrantes (amarelo-canário, verde-limão...) ou infantilóides como

85
aquelas com o Demônio da Tasmânia ou o coelho Pernalonga.
Na dúvida, leia sobre o assunto (há inúmeros manuais que
ensinam como se vestir corretamente) ou converse com um
vendedor de lojas do ramo. Ele saberá aconselhá-lo melhor do
que ninguém.
 Nem pense em chegar atrasado: Programe-se para chegar uma
hora antes, nem que for para ficar vendo o louro José, na
lanchonete do prédio. Cuidado com o trânsito. Em várias
cidades, isso não é um problema, mas quem for de São Paulo ou
de outras capitais deve ficar muito atento.
 Aperte a mão das pessoas com firmeza, e olhando nos olhos: faz
uma diferença...
 O corpo fala: já leu o livro que leva esse título42? Eu recomendo.
Os autores mostram como a linguagem “falada” pelo corpo
influencia os relacionamentos humanos de maneira decisiva. Na
prática, os entrevistadores “leem” seus gestos e postura corporal,
e os comparam com o discurso falado. Quaisquer incongruências
podem prejudicar o resultado final da entrevista. Atenção
especial com a maneira de apresentar-se, de sentar-se, de lidar
com pernas e mãos, etc.
 Nada de intimidades, piadinhas ou gargalhadas com os
entrevistadores: Lembra-se das dinâmicas de grupo? Vale para
entrevistas. É claro que se houver um ambiente amigável e
descontraído, aproveite para ser agradável, mas pare por aí.

42
TOMPAKOW, Roland; WEIL, Pierre. O corpo fala. 52 ed. São Paulo: Vozes,
2001.
86
 Dependendo da vaga, pode ser forjada uma entrevista mais
“agressiva” do que o esperado, ou os entrevistadores podem
fazer perguntas, aparentemente, esdrúxulas, como “quantos
postos de gasolina há em Los Angeles?” ou “Qual a produção
anual de cigarros no Brasil?”. Não, eles não estão loucos. Tudo
tem razão de ser. Mantenha a calma, e tente entender o que está
por detrás desses questionamentos. Já me perguntaram quantos
postos de combustível há em Los Angeles. Quase respondi: “Sei
lá!”. Se tivesse dito isso, perderia muitos pontos, mas mantive a
calma e entendi onde queriam chegar. Pretendiam testar minha
capacidade de pensar, estimar e fazer boas aproximações.
Ninguém sabe a resposta certa, é claro. Eles só desejam ver se
você é capaz de se conduzir por um raciocínio lógico, com um
mínimo de razoabilidade. Responder “meia dúzia” ou “dez
milhões” de postos é reprovação na certa!
 Saiba falar de si próprio em Português e Inglês. Treine mesmo,
pois é assunto certo. “O que gosta de fazer nas horas de lazer?”,
“Pratica algum esporte?”, “Fale sobre sua família.”, “Qual livro
está lendo?”, “Conte-me alguma situação na faculdade em que
você liderou algo.”, “Acha mesmo que o Bin Laden foi morto ou
é golpe publicitário?”. À exceção da última pergunta, as demais
são temas recorrentes a serem abordados. Saiba também o que
está acontecendo no mundo. Monte seu discurso e valide-o com
alguém.

87
Aguardando a resposta
Está certo, alguém do RH lhe disse que ligaria, no máximo, até o final da
semana. Já se passaram quinze dias, e nada43. Você acha que deve ligar e
pedir satisfações, afinal, “você quer muito esse estágio!”. É legítimo,
então, dar uma ligadinha? Claro que sim, mas com moderação. Ligue
sempre para o RH, nunca para os gestores da vaga. Pergunte, sem se
fazer de coitadinho: “ah, eu tinha achado que estava indo bem, mas pelo
visto...”. Seja breve e específico: “bom dia, aqui é o William, aquele da
vaga da engenharia, tudo bom? Então, o prazo para resposta já expirou,
há alguma definição do processo?”. Pronto. É só isso. Nada de ficar
ligando uma vez por semana. Pode ter certeza de que se for aprovado,
eles irão ligar. Se demorar demais, bye bye.
Tem mais: nem pense em fazer uma proposta surreal para o RH do tipo:
“Escutem, mesmo que eu não seja aprovado, vocês podem entrar em
contato comigo para dar um feedback, só para meu crescimento
profissional?”. Não viaje: ninguém vai fazer isso. Faça uma auto-análise
crítica e busque as respostas, “revendo o filme” de tudo o que se passou.
Isso deve servir.
Obrigado por ter me acompanhado até aqui. Espero tê-lo ajudado a
conseguir seu intento. A segunda parte do livro, agora, é para os
vitoriosos da primeira etapa. O quê? Ainda não conseguiu? Não
desanime, afinal, você é brasileiro e não desiste nunca, certo?

43
Não vá ligar antes do prazo estipulado, senão levará um “carão”, hein?
88
Parte 2

O que fazer para ser efetivado

“O sucesso é 1% inspiração e 99% transpiração” – Thomas Edison

89
Alguns privilegiados estão iniciando somente por aqui a leitura deste
livro. Ótimo, pois já venceram a árdua batalha por uma boa vaga. Outros,
no entanto, tiveram que iniciar lá da primeira página, pois ainda não
sabiam exatamente onde estavam se metendo, e passaram arduamente
pelos processos seletivos mais difíceis. De um jeito ou de outro, todos
são vencedores: chegaram à empresa desejada. Meus sinceros parabéns!
Agora, há uma outra jornada a percorrer. Tão ou mais difícil que a
anterior, essa nova estrada vai afunilar mais ainda. É como passar na
primeira fase da FUVEST44 e se dar conta de que agora vem a temida
segunda fase. Como no vestibular, a primeira etapa estava cheia de pára-
quedistas que não representavam uma concorrência muito gabaritada. A
segunda, no entanto, só tem a nata dos concorrentes. A verdadeira
disputa está prestes a se iniciar.
No ambiente de trabalho, o nome de sua faculdade, o seu intercâmbio
fora do país e a condição social de sua família não contam muita coisa.
Chegou a hora de colocar em prática não só o que aprendeu na faculdade,
mas também o que aprendeu na vida. O período escolar, iniciado na
infância, está prestes a terminar e você busca o sentido de tudo isso no
emprego que acabou de conseguir. Força!

ÉTICA NO TRABALHO
Intencionalmente, gostaria de iniciar a segunda parte do livro falando
logo de cara sobre esse assunto, essencial para todos aqueles que se

44
FUVEST é o vestibular da Universidade de São Paulo, dividido em duas fases:
a primeira de conhecimentos gerais e a segunda, muito mais difícil, de
conhecimentos específicos.
90
lançam na vida profissional e muito presente na lista de expectativas
desejadas pela maioria absoluta do empresariado.
Muitos preferem observar as situações do ponto de vista que os
favoreçam, ou seja, ficam atentos aos direitos e fazem vista grossa aos
deveres. A lei do estágio, por exemplo, – anexa ao final do livro – foi
redigida para proteger os jovens trabalhadores de possíveis abusos por
parte de alguns empregadores. Entretanto, onde é que estão descritas as
obrigações do estagiário? No papel não há nada, mas, por outro lado, há
regras não escritas que estão presentes no cotidiano corporativo.
Mais uma vez, deparamo-nos com a impossibilidade de criar uma lista
que atenda à toda gama de empresas, contudo, é perfeitamente possível
discriminar algumas atitudes esperadas por parte das corporações quanto
aos funcionários, incluindo trainees/estagiários.

Integridade
O escândalo de manipulação de balanços financeiros na Enron45 em 2001
nos mostra a importância que o mercado dá para problemas de (falta de)
integridade. Grandes impérios corporativos46 podem ruir do dia para a
noite por causa de atitudes ilícitas de seus colaboradores, por isso a
preocupação crescente com o tema. No mundo globalizado não é bem
visto atingir os melhores resultados a qualquer preço, pois os investidores
não estão dispostos a bancar a farra de executivos “espertos” alucinados
em incrementar seus bônus “mi-bi-trilionários”. Não há tolerância para
condutas antiéticas.

45
Maiores informações disponíveis em http://pt.wikipedia.org/wiki/Enron
46
Vide o caso da empresa de auditoria Arthur Andersen que foi arrastada junto à
Enron no mesmo evento.
91
No caso dos jovens universitários em início de carreira, o que se espera
não é nada diferente. É preciso ser honesto e confiável na realização de
todas as atribuições. Ninguém quer dados maquiados ou manipulados,
valores indesejados expurgados, relatórios que excluem problemas ou
más notícias, nem apresentações com fatos inverídicos e fantasiosos,
entre muitos exemplos. É altamente recomendável que você traga a
verdade sempre à tona.
Além disso, é necessário ser íntegro quanto aos horários de entrada e
saída e ao tempo real para execução de atividades. No primeiro caso, um
atraso ou outro é tolerável, afinal existem fatores externos que podem
influenciar a pontualidade de qualquer um. Porém, que sejam exceções,
já que ninguém vai acreditar que sua tia do interior morreu de novo, ou
que seu gato teve que ser levado às pressas – outra vez! – ao veterinário
de plantão. No caso do horário de saída, não banque o espertinho. Nada
de sair sem falar nada e simplesmente sumir do pedaço. Pega muito mal.
Essa estória de ir à uma reunião em outro setor e emendar uma retirada
mais cedo é manjadíssima. Se pegar a fama de “malandro” será difícil
revertê-la. Quanto ao tempo de realização de tarefas, pense nisso: seu
chefe já deve tê-las feito mais de mil vezes e sabe exatamente o que é
necessário para completá-las. Se algo que leva trinta minutos for feito em
três horas, duas conclusões serão óbvias: ou você é lento demais, ou está
querendo dar um “chapéu” no patrão. Ambas irão contar negativamente,
prejudicando sua reputação e a possível efetivação. Não vale a pena.

Respeito
O ambiente profissional é uma mistura – cada vez mais intensa – de
crenças, valores, culturas e classes sociais num mesmo espaço. A missão

92
de cada um é ser parte integrante do bom convívio social entre as partes,
esforçando-se ao máximo não só para tolerar os outros, mas para
estimular o contato entre os indivíduos.
Religião pode ser uma grande geradora de discórdias. A população
brasileira é essencialmente católica, mas os evangélicos tornam-se mais
numerosos dia após dia. Você conhece os valores principais desses
grupos cristãos? Não? Deveria, porque é quase certo que realizará
trabalhos em conjunto com membros das mais variadas igrejas. Questões
como sexo antes do casamento, vestimentas, dízimo, cigarros e bebidas
alcoólicas costumam gerar inúmeras saias-justas com evangélicos, por
exemplo, e por mais que você não concorde, ou até ache absurdo, trate de
respeitar aqueles que não creem naquilo que sua religião – se tiver
alguma – ensina. Além disso, há judeus, muçulmanos, espíritas e ateus
que são pagos para trabalhar e gerar resultados, não para realizar
“congressos” sobre teologia durante o expediente. Acredite ou não, esse é
um assunto tão sensível que pode gerar atritos de proporções
inimagináveis entre pessoas mais radicais. Seja polido, e fuja de
discussões dessa estirpe.
Principalmente em multinacionais, há pessoas de culturas muito
diferentes. É possível se deparar com coreanos, chineses, indianos e
europeus no ambiente de trabalho, por isso, esteja preparado para evitar
gafes. Nada de brigar com orientais por que alguns comem cachorro,
afinal comemos carne bovina, um crime na visão dos hindus. Ninguém
vai comer seu totó só por que no país dele isso é absolutamente normal.

93
Não vá brigar com japoneses por comerem carne de baleia, só pelo
motivo de você ser integrante do WWF47. Respeito é tudo!

Lealdade
Seja leal à empresa e a seus companheiros de trabalho. Ser leal à empresa
significa não ficar falando mal dela o tempo todo, nem criticando as
decisões tomadas pela cúpula ou mesmo pela sua chefia imediata.
Existem funcionários que culpam a companhia por frustrações pessoais e
profissionais, como se fosse obrigada a promovê-los todas as vezes que
pedirem. Outros, ademais, pensam que a empresa tem obrigação de
custear formação acadêmica, pós-graduação, inglês, espanhol e
informática para todos que assim o desejarem, independente da real
necessidade da função atual.
Quanto a seus companheiros, lealdade significa não prejudicá-los, nem
falar mal deles pelas costas. Entenda algo: para você subir não é
necessário alguém cair. Faça o seu melhor que a efetivação ocorrerá,
mesmo que em outra área da companhia. Nada de inventar ou aumentar a
intensidade dos fatos só para ficar bem na foto com seu gestor, como
uma espécie de “alcagüete-fiel” do chefe. Isso é detestável (!) e pode

47 O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira dedicada à


conservação da natureza com os objetivos de harmonizar a atividade humana
com a conservação da biodiversidade e promover o uso racional dos recursos
naturais em benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações.
(fonte: http://www.wwf.org.br/wwf_brasil)

94
macular sua imagem. Mais ainda, nada de ficar jogando um contra o
outro na execução das atividades diárias.
Um último conselho: defenda com unhas e dentes o local e as pessoas
onde você trabalha.

OS BENEFÍCIOS
“Nossa! O salário de estagiário é muito baixo. Isso é normal?” Essa
pergunta é freqüente, e a resposta, com raríssimas exceções, é sempre
positiva. Quem escolhe estágio com base em salário, já está começando
errado. Coloque uma coisa na cabeça: estágio não é atividade para ganhar
dinheiro, no sentido de acumulá-lo. É a hora de aprender, fazer contatos e
conquistar espaço para ganhar dinheiro no futuro. Seus principais
objetivos nesse período são ampliar seus conhecimentos e ser efetivado,
ou preparar-se para outra empresa encarando novamente o mercado de
trabalho. O resto fica para depois.
“Caramba! Depois de um processo exaustivo e estressante, a empresa vai
me pagar só isso? Não é injusto?” Não. Como disse antes, a hora de ser
bem remunerado ainda não chegou. Procure saber o salário dos
funcionários efetivos, dos gerentes e diretores para se animar (ou não!).
Além disso, não olhe apenas para o salário, pois existem outros
benefícios interessantes. Geralmente, as empresas têm convênios
médicos muito bons, transporte, refeição no local ou “vale-coxinha” e
seguro contra acidentes pessoais. Isso facilita a vida dos estagiários. No
futuro, caso opte por ser funcionário da iniciativa privada, você terá 13º
salário, férias remuneradas acrescidas de um terço do valor devido, fundo
95
de garantia do tempo de serviço, participação nos resultados financeiros
da empresa, bônus, carro, além dos cursos e viagens relacionadas com a
área que você escolher. Há toda uma carreira a ser construída e, com ela,
vários incentivos para tentar segurar o ótimo profissional que você se
tornará. Procure olhar o pacote futuro, não só o salário imediato.

COMO SABER SE ENTREI EM UMA “ROUBADA”


Eu já disse que grande parte das empresas leva o estágio a sério e que,
infelizmente, há também as que não levam. Quem iniciou o livro a partir
da segunda parte, pode voltar à primeira e dar uma olhada no assunto.
Nesse momento, quero analisar junto com você os tipos de estágio que
considero uma verdadeira “roubada”. Vamos lá!

 Estágios não remunerados e estágios em que se paga para


trabalhar: Ambos são ruins48, mas o segundo é pior. Caridade se
faz em ONGs e instituições beneficentes, não no mercado de
trabalho49. Não se desvalorize, e diga NÃO50!
 Estágios para funções que não exigem nível superior: Já foi à
academia malhar e, para sua surpresa, quem o atendeu na
recepção foi uma estagiária? Gatinha ela, não? Mas espere um

48
Veja no último capítulo, sobre lei de estágio, que não é permitido oferecer um
estágio sem nenhum tipo de remuneração.
49
Obviamente, como sempre, há as honrosas exceções: por exemplo, trabalhar
de graça em um famoso escritório de advocacia ou agência de publicidade pode
render ótimas oportunidades.
50
Os puritanos que me perdoem, mas trabalhar de graça é inaceitável!
96
pouco. Nunca ouvi falar em alguma faculdade oferecer o curso
de recepcionista! E não existe mesmo! A intenção é pagar pouco
e não registrar o funcionário. “Ah! malandro é o gato, que já
nasceu de bigode...”.
 Estagiários em áreas que há anos não efetivam ninguém: Você é
o décimo estagiário consecutivo que está nessa área, que nunca
efetivou um sequer. Podem mandar chamar o décimo primeiro.
 Estagiário de nível superior, que responde para alguém de nível
médio: E não é que tem isso? Imagine um aluno de engenharia
que responde para um técnico de processos. Ninguém duvida que
um técnico é capaz de executar trabalhos de uma área, muito
melhor que um estudante de engenharia, mas não é esse o caso,
pois o primeiro deve garantir a operacionalização, e o segundo, o
que está por detrás dela. Totalmente diferente.
Enfim, há inúmeros outros exemplos. Se você se enquadrou em algum
dos casos acima, recomendo a leitura da primeira parte do livro e vá atrás
de um estágio de verdade, numa boa empresa. Não tenha preguiça, pois é
o seu futuro que está em jogo. Quem avisa amigo é.

O QUE SE ESPERA DO ESTAGIÁRIO


Depende da seriedade com que a empresa encara o programa de estágios,
ou trainees. Como já elenquei os casos negativos e aconselhei os
incautos a “partirem prá outra”, suponho que você esteja bem colocado
ou, ao menos, razoavelmente satisfeito. Vou me ater então aos bons
estágios.

97
Nesses casos, espera-se muito dos novatos. A empresa gastou uma
fortuna no processo. Muitas e muitas reuniões para definir os detalhes da
seleção, o budget51, os perfis desejados, o número de fases, as
consultorias contratadas, os serviços pagos e tudo mais que se possa
imaginar. São pesados investimentos que geram expectativa de grande
retorno.
Pense bem, quanto custa analisar dezenas de milhares de currículos?
Calma, e não seja inocente. É claro que, num primeiro momento,
ninguém leu nada. Seus dados foram filtrados de acordo com critérios
padronizados de seleção em bancos de dados, mas, de qualquer modo,
alguém teve o trabalho de analisar suas informações. E de muitos outros.
Isso demanda tempo e trabalho de vários profissionais.
E quanto às provas de conhecimentos gerais e específicos? Alguém
precisa elaborar, outros, avaliar e selecionar os melhores resultados.
Depois disso, as dinâmicas. Essas consultorias especializadas em
recrutamento e seleção custam uma “nota preta”. Preparam sessões com
dez a quinze candidatos, no máximo, supervisionadas por quatro ou cinco
profissionais de alto padrão. É tarefa difícil e dispendiosa.
Há ainda as entrevistas. Encontrar brecha nas agendas dos principais
executivos das empresas é uma batalha. Combiná-las, então, nem se fala.
Por isso, não estranhe a demora na marcação das entrevistas. E tem mais.
Você já pensou no custo/hora desses profissionais gabaritados? Muito
mais do que se possa imaginar.
Tudo isso leva a uma certeza: o estagiário é da maior importância para a
organização. É a esperança de renovação saudável e de qualidade no seu

51
Acostume-se com esse termo, que quer dizer “orçamento”, em Inglês.
98
quadro funcional. Quantos e quantos executivos do alto escalão são
provenientes dos programas de estágio? Vários. Eles, como você,
começaram no primeiro degrau da hierarquia e hoje ocupam os cargos
mais cobiçados do mercado. Isso é muito animador, não acha?
Por isso, afirmo e repito: a empresa espera muito do estagiário. É certo
que não se cogita de buscar um “salvador da pátria”, mas é certo também
que não se seleciona um universitário de alto potencial apenas para
passar textos no Word e ficar lançando dados em planilhas. A expectativa
em relação à sua boa atuação é grande mas, por outro lado, não espere
uma recepção de gala para sua chegada. Nem pense que haverá um
almoço especial por sua causa52. Chegar ao seu novo local de trabalho,
tendo uma mesa com computador só para você, já está bom demais. O
restante, conquiste depois.

Carta a Garcia
Sabe do que estou falando? Não? Então leia o trecho abaixo53:

Na guerra entre os EUA e a Espanha, a propósito da despótica


colonização espanhola de Cuba, ocorreu o episódio que deu origem à
frase “Levar a carta a Garcia”, divulgada por Elbert Hulbard em 1899.
O presidente americano, Mackinley, precisou se contatar com um dos
chefes da guerrilha cubana, o general Garcia. Chamou um tal Soldado
Rowan e passou-lhe uma carta para ser entregue, em Cuba, ao
comandante rebelde. Pelo que se conta, Rowan, sem nada perguntar,
meteu a missiva numa bolsa impermeável e partiu para Cuba. Percorreu
montes e vales, selvas e praias, mas, quatro dias depois, entregou a

52
É claro que há as honrosas exceções de sempre, mas, em geral, a regra é essa...
53
Fonte: http://acartaagarcia.blogspot.com/
99
carta a Garcia e regressou aos EUA para dar conta do cumprimento da
missão ao seu presidente. É este o sentido da expressão: “Cumprir
eficazmente uma missão, por mais difícil ou impossível que possa
parecer”.

Esse é apenas um resumo da famosa carta, que pode ser encontrada por
inteiro a partir de uma rápida busca no Google54. Estou utilizando esse
texto, porque ele representa exatamente o que é esperado de um
funcionário. Encaro essas palavras como uma espécie de “Dez
Mandamentos do Mundo Corporativo”:

 “Não é de sabedoria livresca que a juventude precisa, nem de


instrução sobre isto ou aquilo. Precisa, sim, de um
endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altiva no
exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta
do recado; para, em suma, levar uma mensagem a Garcia”.
 “Parece que os homens ainda precisam ser feitorados. O que
mantém muito empregado no seu posto e o faz trabalhar é o
medo de, se não fizer, ser despedido no fim do mês”.
 “É a lei da sobrevivência do mais apto. Cada patrão, no seu
próprio interesse, trata somente de guardar os melhores - aqueles
que podem levar uma mensagem a Garcia”.
 “Todas as minhas simpatias pertencem ao homem que trabalha
conscienciosamente, quer o patrão esteja, quer não”.

54
Por exemplo, disponível em:
http://chaves.com.br/TEXTALIA/MISC/garcia.htm
100
 “A civilização busca ansiosa, insistentemente, homens nestas
condições. Tudo que um tal homem pedir, se lhe há de conceder.
Precisa-se dele em cada cidade, em cada vila, em cada lugarejo,
em cada escritório, em cada oficina, em cada loja, fábrica ou
venda. O grito do mundo inteiro praticamente se resume nisso:
Precisa-se, e precisa-se com urgência, de um homem capaz de
levar uma mensagem a Garcia”.

É tão auto-explicativo que dispensa maiores esclarecimentos. Será que


alguém acha que irá longe sendo diferente do que está descrito acima?
Por que já não iniciar o estágio ou programa de trainees com essa
mentalidade? Quando buscamos informações a respeito de executivos de
sucesso, percebemos em seus discursos uma afinidade muito peculiar
com as palavras de Elbert Hulbard. Não é à toa que esses líderes
extraordinários atingiram o topo das maiores organizações. Tenho
convicção que para chegarem onde estão tiveram que levar muitas cartas
a Garcia. E você, duvida disso?

Atitudes esperadas pelas empresas

É praticamente impossível gerar uma lista definitiva, taxativa, das


atitudes esperadas do recém-chegado, pois isso depende da empresa e do
perfil traçado por ela e tido como ideal para o estagiário. Mesmo assim,
algumas atitudes são sempre desejáveis, quase essenciais. Cultive-as!

Simpatia
Você chega num lugar onde ninguém o conhece. Todos, de uma forma
ou de outra, vão despender tempo com seu aprendizado, tanto treinando,
101
quanto tirando suas dúvidas. Se não tivessem o que fazer, tudo bem, mas
não é assim. Mal dá tempo para cumprir a rotina do dia-a-dia, resolver as
inevitáveis pendências e lá está você à espera de atenção. Por isso, seja
razoável, o mínimo a fazer é mostrar-se simpático. Quando for a sua vez
de treinar um estagiário vai saber do que estou falando.
O que não pode ocorrer, de maneira alguma, é aparecer de nariz
empinado. Achar que as pessoas devem estender o tapete vermelho para
o “futuro talento da empresa”. Que, pelo fato de ter vencido um difícil
processo seletivo, merece ser exaltado. Não pense que exagero. Muitos
estagiários se acham “os tais”. Às vezes, porque provenientes de
faculdades famosas ou caras, julgam-se “as últimas bolachas do pacote”.
Por favor, não comece errado.

Seja positivo
A pressão por resultados nas empresas costuma estressar os empregados.
Por isso, manter-se na zona de conforto costuma ser uma atitude segura,
pensando pelo lado da manutenção do emprego. Todos os novos projetos
e novas situações geram desconforto, pois lá no íntimo, as pessoas têm
medo de que a mudança lhes seja desfavorável, custando suas posições.
Daí, o medo natural e, até certo receio de encarar um cenário em
transformação. Isso gera mau humor e uma atitude negativa quase, eu
disse “quase”, generalizada entre os funcionários, e se você não se
cuidar, entra na roda também.
A atitude esperada dos funcionários destacados, e você é um deles, é a
postura positiva, ou seja, alguém que recebe as informações, enxerga
coisas boas e ruins e escolhe as boas. Decide ver o lado bom e apostar

102
nele. Lembre-se de que os funcionários dispostos a crescer jogam no time
da empresa, não contra.
Cuidado com o time dos “bolas-murchas”. Aqueles que têm como
característica o ceticismo, que veem problemas em tudo e não escondem
a má vontade diante de um novo projeto. Como são preteridos nas
promoções sentem-se eternamente injustiçados. Se você tem alguma
dúvida de como identificar um deles, vou ajudar com algumas frases
típicas desse grupo:

 “Os caras lá de cima estão reunidos a portas fechadas. Vem


bronca por aí!” – eles gostam de especular sobre assuntos que
não lhes competem.
 “Promoveram a Chiquinha por que ela tem um caso com o
chefe” – ninguém, a não ser eles, têm méritos para crescer.
 “Se fosse eu, mandava todo mundo daquela área embora, pois
são todos incompetentes” – mostram sua imaturidade com
comentários totalmente pueris.
 “Vão implantar esse tal de SAP. Meu cunhado manja muito e
disse que só dá pau. A empresa vem e instala o programa, depois
sobra prá nós o pepino” – Implantar softwares é sempre um
desafio, mas desqualificar algo que dá certo no mundo inteiro é
só para tolos.
 “Seis Sigma é uma roubada! Enche o saco de todo mundo e no
fim, não dá em nada” – no fundo, eles gostam mesmo é que tudo
dê errado, só para falar mal depois.

103
 “O Chiquinho mal chegou e já foi promovido, enquanto eu estou
aqui há 15 anos e nada...” – eles ainda estão na era jurássica,
onde tempo de casa era sinônimo de promoção. Hoje em dia, o
que vale é o mérito.
 “Estou com meu currículo no mercado, vou receber uma
proposta e ‘cascar’ fora daqui!” – ele acha que virão “babando”
atrás dele, oferecendo o dobro do seu salário. Infelizmente,
ninguém aparece e ele nem percebe que não está com essa bola
toda.

Fuja desse povo, pois o mal é contagioso. Ao contrário, tenha uma


atitude otimista, acredite que vai dar certo e dê o seu melhor para que
todas as iniciativas sejam implantadas com êxito. A sua recompensa,
certamente, virá.
Transcrevo uma frase que li num trabalho da Profª Selma Garrido
Pimenta, para que você reflita sobre ela: “Nada é fixo para aquele que
alternadamente pensa e sonha...” (Bachelard, 1991, p.95).

Pró-atividade
Coloque na sua cabeça: você não será efetivado se fizer só o trivial.
Como assim? Explico. O trivial é fazer só o que é pedido. Exemplo:
“Chiquinho, por favor, formate esse memorando e imprima 50 cópias.”
Ele sai correndo, faz tudo rapidinho e entrega tudo, exatamente como
mandado. Vem aquela sensação de dever cumprido, aquele sorriso de
Garfield. Agora, se ninguém pedir mais nada, dá para ficar na internet a
tarde inteira, e ler as notícias do esporte. Estava indo tudo tão bem, não
fosse esse desfecho infeliz.

104
No exemplo acima, o bom estagiário também faria como o Chiquinho,
mas ciente de que a tarefa foi fácil e ainda há muito tempo, ele diria:
“Aqui está. Em que mais posso ajudar?”. Pronto, essa atitude seria
perfeita. Se não lhe passassem
Aprecie com moderação
nada, aí o problema não seria mais
dele. Por incrível que pareça, até mesmo
pró-atividade em excesso é ruim. Às
O pró-ativo não espera ser vezes, o estagiário é mal gerido e
fica abandonado. Aí, ele resolve ir
chamado, ele se apresenta; não vê voar em outros ares, indo buscar
algo errado e fica parado, serviço em outras áreas. Não faça
isso! Vai queimar seu filme, e o
simplesmente, corrige; não fica outro departamento dificilmente vai
bancar a sua boa vontade.
esperando o serviço cair no colo,
vai buscá-lo. Entendeu? “Até parece que alguém é assim...” – sugere o
desinformado. Há muitos assim. Os que são efetivados, geralmente,
agem dessa forma, acredite ou não. É o tipo de postura que cativa
qualquer gestor.
Saber que pode contar com o seu interesse e boa vontade é um alívio para
a chefia ou qualquer funcionário do setor. Esse é o caminho certo, pode
crer.
Por outro lado, há os que se acham espertos. A tarefa pode ser concluída
em duas horas e o Chiquinho administra para que ela se estenda pela
tarde toda. Dá uma enrolada, abre várias janelas no computador, faz cara
de conteúdo e no teclado vai só no ALT+TAB, como se apenas ele
conhecesse o atalho do Windows para troca instantânea de janelas. Se ele
fizesse isso só uma vez ou outra, vá lá..., que ninguém é de ferro, mas a
artimanha é igual bebida. Começa com um gole, passa para uma dose,
um copo, uma garrafa e, por fim, o vício ganha o infeliz. Em algum
tempo, o Chiquinho está viciado em ser malandro e todo mundo percebe,
105
mas ninguém chega junto e dá um feedback honesto. Quando o período
de estágio terminar, “tchau e bênção!”... E o coitado nem desconfia por
que não foi efetivado.

Bons relacionamentos
Isso vale para a vida, não só para o estágio. Bons contatos sempre
ajudarão, ainda mais no Brasil, que tem a cultura do Q.I. 55 muito
arraigada. No seu estágio, provavelmente, sua área tem interfaces com
vários departamentos diferentes. Vocês dependem de informações que
outros geram, e vice-versa. Aproveite ao máximo o contato com as
pessoas de outras áreas. Busque se interessar e ser cooperativo quando
solicitado.
Acredito e tenho visto que o chavão: “a primeira impressão é a que fica”
faz muito sentido no ambiente profissional. Por isso, os primeiros
contatos são tão importantes. Não perca a chance de se mostrar
simpático, positivo e pró-ativo (já viu isso em algum lugar?) não só com
seus companheiros, mas com toda a rede de relacionamentos possíveis.
Garanto que vai ajudá-lo muito.
Nem sempre há vaga na área em você estagiou. Tal fato pode ser
contornado caso sua fama de ótimo funcionário extrapole as divisórias da
alçada do seu chefe. Ser conhecido por outros gestores ou gerentes é
fundamental para sonhar com uma efetivação, nem que seja em outro
setor. E que mal há nisso? Nenhum, desde que não seja prêmio de
consolação. Já vi muitos estagiários sendo aproveitados em áreas
correlatas às iniciais, por apenas um motivo: ninguém quer perder um
talento. Confesso que nunca vi um cara muito bom ser desperdiçado pela

55
Quem Indica
106
empresa. Já vi peripécias e estratagemas incríveis arquitetados em favor
de estagiários considerados ótimos. Todo esse esforço porque os gerentes
se uniram para barganhar uma vaga para alguém bem relacionado e com
ótima postura profissional. Não duvide, isso existe de verdade. Basta ser
“o cara”.
Além do mais, existem várias pessoas nas empresas que, apesar de não
terem cargo de chefia, são funcionários há muitos anos e conhecem toda
liderança nos mais altos escalões. Você nem imagina, mas os superiores
conversam com esse pessoal várias vezes, e colhem opiniões e
sentimentos a respeito dos recém-contratados. Se um deles relatar seu
desagrado em relação a qualquer estagiário, acredite, o desafeto perderá
pontos podendo, inclusive, ter a sua possível efetivação, questionada.
Portanto, identifique de imediato essas pessoas, e trate de construir uma
relação saudável e de confiança. Será muito bom para você ser
recomendado por elas.

Postura
Engana-se quem pensa que o fato de os estagiários serem muito jovens,
ou pertencentes à geração Y56, serve de pretexto para atitudes imaturas.
Muitos vêm de famílias totalmente liberais, falando o que querem para
seus pais e irmãos, sem filtros. Além disso, muitos estudaram em escolas
particulares durante toda a vida e assim, na condição de “alunos-
pagantes”, atribuíram-se o direito de “peitar” a autoridade dos
professores em sala de aula. Com essa postura - diga-se, inaceitável em
qualquer ambiente - chegam ao mercado de trabalho e então levam um

56
Sobre o assunto, minha referência é a excelente obra do meu amigo Sidnei
Oliveira: “Geração Y - O nascimento de uma nova versão de líderes”, 3ed,
Integrare, São Paulo.
107
duro golpe, pois assim como as Forças Armadas, uma empresa não
prescinde da hierarquia. “Ah, mas no Google não é assim...” – diria
alguém tentando se justificar. Pode ser que em um por cento ou menos
isso seja realidade, mas garanto que nos noventa e nove restantes57 a
rotina é exatamente como estou transcrevendo. Conseqüentemente, a
relação hierárquica traz ínsita a idéia de comando/subordinação. Coitado
daquele que peitar o chefe de forma acintosa. Verá, num piscar de olhos,
todo o esforço engendrado para chegar onde chegou, cair água abaixo.
Sua insubordinação não será tolerada.
A postura profissional é bem diferente de tudo que um estudante já viu.
Não tem nada a ver com a informalidade dos grêmios e atléticas
estudantis – salvo raras exceções. Começa pelo vestuário, que deve ser
condizente com o tipo de negócio em questão. Nunca vou me esquecer de
um cara muito tosco que foi trabalhar de papete e meia branca numa
sexta-feira, confundindo casual day58 com “avacaliation” day. Pagou um
mico daqueles.
E tem mais: ficar “pendurado” no telefone, rindo e gesticulando; jogar-se
na cadeira depois de arrastá-la ruidosamente, sem o menor cuidado;
xingar palavrões porque a pasta que carregava caiu; mudar o tom de voz,
repreendendo com aspereza o funcionário humilde que, sem querer,
esbarrou em você; entrar no elevador e não cumprimentar o ascensorista;
olhar com olhos libidinosos aquela secretária gatinha que, não bastasse
ser sua colega, namora o chefe do RH são alguns exemplos do que um

57
Isso é fato na empresa de consultoria, nos dois bancos de investimento e três
indústrias em que já trabalhei.
58
Muitas empresas, especialmente as americanas, deixam seus funcionários
virem trabalhar de maneira menos formal às sextas-feiras. É um pequeno agrado,
não um convite à avacalhação.
108
estagiário não deve fazer. Lembre-se: seu produto mais importante é
você mesmo. A forma como se comporta, comissiva ou omissivamente,
será cuidadosamente observada e avaliada. Se a favor, ou contra, depende
exclusivamente de você. Conhece aquela frase “as paredes têm ouvidos”?
Nas empresas, além de ouvidos, há olhos bem atentos para pautar as
atitudes de todos, como num imenso Big Brother corporativo.
Portanto, ou você aceita as regras e se insere nesse contexto, ou não
aceita e está fora.

Desempenho
Se durante a faculdade, você só estuda para não pegar “depês”, esse
tempo deve ficar para trás. Agora, tirar nota cinco é sinal de
mediocridade, mediania. Fazer o menor esforço possível para obter um
pequeno sucesso não funciona no mercado de trabalho. Essa mentalidade
precisa ser mudada urgentemente!
Para ser efetivado sua nota não pode ser menor do que nove. Difícil?
Depois da efetivação, se quiser crescer, terá de se manter nesse padrão de
excelência o tempo todo. Isso sim é difícil! A nota nove, como exemplo,
é muito adequada para entender o esquema de trabalho. De cada dez,
você pode errar uma, ou seja, tem que acertar infinitamente mais do que
errar. Essa é a regra do jogo.
Alguns podem argumentar que, durante seus estágios, observam que a
média das pessoas não chega nem perto de nove. Pode ser. Mas não são
essas pessoas que você deve ter como parâmetro, não são elas que você
deve mirar. Quais as notas do presidente, do vice-presidente ou do
diretor? Lembre-se de que estagiários de verdade não são contratados

109
apenas para completar o quadro de funcionários, mas sim para se
destacar e ascender na hierarquia.
Seu desempenho tem que ser destacado, acima da média. Todos devem
perceber seu diferencial, mas não se estresse, pois isso ocorrerá
naturalmente, sem forçar a barra. A alta qualidade de seus trabalhos, seu
comprometimento e dedicação são mais do que suficientes para seu nome
logo aparecer quando o assunto for “os destaques da companhia”.
Como é que se mede desempenho? De duas maneiras, uma objetiva e
outra subjetiva: contrato de expectativas e feedback, respectivamente.

Contrato de expectativas

A maioria das grandes empresas estabelece um contrato bem definido do


que é esperado do trabalho do estagiário ou trainee, com metas
específicas. Por exemplo:

 Diminuir o número de relatórios de clientes corporativos, de 5


para 1, em um mês. Prazo: 15/maio. Responsável: Chiquinho.

Você reparou o que é uma meta bem definida? O objetivo é claro,


estabelece marcos mensuráveis, com um prazo estipulado e um único
responsável. Infelizmente, algumas pessoas não sabem criar metas
específicas. Veja alguns exemplos de metas subjetivas, imprecisas:

 Melhorar o clima dos relacionamentos da área. Prazo: Junho.


Responsáveis: gerentes.

110
o Melhoria de quanto? Melhorar para atingir que ponto?
Percebe como é impossível avaliar se foi ou não
cumprida?

 Estreitar o relacionamento da área comercial com os clientes.


Prazo: Agosto. Responsáveis: vendedores.
o Totalmente inútil. Além de absurda, a “meta” é vaga.
Quem são os “clientes”? Para quê isso? O mais incrível é
que propostas desse tipo são mais comuns do que se
imagina. Além do que, a ordem é dirigida aos
vendedores, genericamente. É impessoal, o que
impossibilita a cobrança de responsabilidade. Se um
vendedor conseguir, e outro não, como avaliar?
Impossível!

 Aumentar o nível de funcionamento da máquina XPTO. Prazo:


imediato. Responsáveis: Chiquinho e Gonzaga.
o Quantos problemas em tão pouco espaço... Primeiro, não
existe um indicador como “nível de funcionamento”,
mas sim “grau de utilização”, ou “OEE”59, por exemplo.
Além disso, aumentar de quanto para quanto? E o prazo?
Tem que ter uma data específica. Por fim, só pode haver
um responsável, senão, com certeza, se algo der errado,
um culpará o outro pelo infortúnio.

59
Overall Equipment Effectiveness é um indicador consagrado na indústria, que
quantifica a performance de um equipamento em relação a sua capacidade
nominal.
111
Certamente, ficou bem claro o que é um contrato de expectativas. Aliás,
o que é um contrato bem feito. Isso vai ajudar a medir o seu bom
desempenho. Contra resultados não há argumentos. Esse método é bom
para evitar subjetividades. Quando não há esse tipo de critério, tudo fica
obscuro. É capaz de você passar um ano na empresa sem saber se está
indo bem ou não e, mais, chegar ao fim do contrato de estágio e ouvir
que não atendeu às expectativas. Aí, já era!
O outro modo complementar de se medir desempenho é o feedback.

Feedback

Muita calma nessa hora, pois estou prestes a cometer um “crime


acadêmico”. Citarei um trecho da Wikipedia sobre feedback60. E que mal
há nisso? Esse site (pt.wikipedia.org), revolucionário em minha opinião,
é uma enciclopédia virtual alimentada pelos próprios usuários da internet,
ou seja, não tem um compromisso formal com a pesquisa científica.
Contudo, se tiver a oportunidade de pesquisar sobre assuntos que estiver
familiarizado, perceberá a qualidade do conteúdo disponível e verá que é
uma alternativa espetacular de adquirir boas informações sobre
praticamente tudo. Por exemplo, o excerto abaixo foi escrito por um
autor desconhecido para mim. Como sei o que é feedback, li e gostei
muito como ele abordou o tema, portanto, quero compartilhá-lo com
você:

Em administração, feedback é o procedimento que consiste no


provimento de informação à uma pessoa sobre o desempenho,

60
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Feedback
112
conduta ou eventualidade executada por ela e objetiva reprimir,
reorientar e/ou estimular uma ou mais ações determinadas,
executadas anteriormente. No processo de desenvolvimento da
competência interpessoal o feedback é um importante recurso porque
permite que nos vejamos como somos vistos pelos outros. É ainda,
uma atividade executada com a finalidade de maximizar o
desempenho de um indivíduo ou de um grupo. Processualmente, é
oriundo de uma avaliação de monitoria.

Um problema, entretanto, é que cada um enxerga os fatos de acordo com


a sua ótica, ou seja, uma mesma atitude pode gerar dois feedback
completamente diferentes, confundindo aquele que recebe a mensagem.
De qualquer maneira, para não ficarmos divagando muito mais tempo
sobre o que é feedback, vou dizer também o que ele não é, pois isso
muitas vezes nos ajuda a entender melhor sobre o que se está falando. Ele
não é:
 Uma opinião sobre o que você é. Exemplo: “você é um cara
tímido”.
o Isso não é feedback, o correto seria: “sua timidez
atrapalhou sua apresentação de ontem, pareceu
insegurança”.
 Uma oportunidade para criticar. Exemplo: “é só eu sair da área,
que vocês só fazem burradas!”.
o Isso não é feedback, o correto seria: “ontem, vocês
tomaram decisões erradas na minha ausência. Da
próxima vez, se não tiverem certeza, não passem
informações para frente, sem me consultar antes”.

113
 Para ser utilizado muito tempo depois do evento. Exemplo: “Seis
meses atrás você falou comigo de um jeito que não deveria. Não
lembro exatamente o que, mas me magoou”.
o Isso não é feedback, o correto seria: “não gostei do que
disse a meu respeito hoje de manhã, na frente de meus
subordinados. Lembre-se de que o elogio é em público, e
a repreensão é em particular”.

Receber feedback também tem técnicas apropriadas. Até mesmo os


positivos podem ser difíceis de aceitar se você não concordar com o que
foi dito. Imagine quanto a receber os negativos. Por isso, sugiro algumas
dicas de como recebê-los:

 Seja maduro: Às vezes, realmente, ouvimos o que não


gostaríamos de ouvir, mas reagir de maneira agressiva, irônica,
ou ter um chilique, não leva a nada, ou piora a situação. Controle
os impulsos e, se possível, tire proveito.
 Entenda aonde se quer chegar: Não deixe de perguntar, de pedir
esclarecimentos, se não entender. Nada de guardar mágoas
porque “achou” que o Chiquinho quis dizer algo sobre você,
quando, na verdade, ele estava com outras intenções.
 Peça um exemplo ou fato: Quem dá feedback não pode “achar”
nada, tem que ter havido algo, e você tem o direito de saber. Se
não houver fatos, ignore.
 Não se defenda: O momento é de ouvir o que a outra pessoa está
dizendo, não de justificar-se pelo que você fez ou não de errado.

114
 Seja prudente: Mesmo que seja difícil aceitar, é melhor ouvir
aquilo que é desagradável de frente, do que distorcidamente,
pelas costas.

Ótimo! Agora você já sabe como medir o seu desempenho. Com um


contrato de expectativas e feedback, será fácil se posicionar sobre como
vai indo seu estágio, e que rumo ele irá tomar no que tange às suas reais
chances de efetivação.

O QUE ESPERAR DA EMPRESA


O que os jovens esperam de uma boa
empresa61

25% Carreira
22% Reconhecimento
20% Remuneração
14% Liderança
12% Qualidade de vida

Quando estagiamos ou participamos de programas de trainees queremos


mesmo é aprender o bastante para ser efetivados. A boa notícia é que a
empresa também quer ficar com seus aprendizes, afinal, como já disse, é

Reportagem “As melhores empresas para começar a carreira – 2011” – revista


61

VOCÊ S/A, edição 155, maio de 2011.


115
uma via de duas mãos. Então, pode-se esperar que haja vagas disponíveis
ao término do programa? Sim e não. Sim, pois se não há vagas, por que a
empresa se disporia a contratar estagiários? E não, porque a lógica não é
assim, tão binária: uma vaga para cada estagiário. Somente os melhores
ficarão.

Vagas para efetivação


Não há regra conclusiva para esse assunto. Entretanto, de modo nenhum,
o número de vagas para um programa de estágios de uma empresa indica
o número de futuros efetivados. Esse percentual varia de zero a cem,
sendo que se for zero, não é um bom programa.
Há inúmeros motivos que fazem um setor pedir por estagiários. Entre
eles:

1. Uma vaga de funcionário efetivo e um estagiário


Esse é o melhor dos mundos. Alguém saiu e a empresa quer
repor essa vaga, sem muita pressa. Para isso, chama um
estagiário que, se tiver um ótimo desempenho, fica. Bom demais,
não? E não é tão incomum. Tomara que você se encontre nessa
situação. Ou, também, a vaga pode preenchida por algum trainee
que já vem merecendo uma chance de ser efetivado.
Só há um perigo: achar que a efetivação é certa e relaxar, crente
que “já levou”.

2. Uma vaga de efetivo e vários estagiários


É um departamento grande, com uma só vaga e vários estagiários
na disputa. Assim como você concorreu com vários estudantes

116
para o estágio vai ter que enfrentar nova disputa dentro da
empresa. Na verdade, passamos a vida toda competindo, afinal,
todos querem ser diretores ou presidente, mas como há poucos
diretores e um presidente, só os melhores chegarão lá.

3. Uma eventual vaga de efetivo e um estagiário


A vaga não existe, mas pode ser criada caso valha muito a pena.
Nesse tipo de situação a sua alta performance é que definirá se o
gestor da área “brigará, ou não”, para mantê-lo na empresa.
Tudo que tenho visto nestes últimos anos é a dificuldade em
aumentar o quadro de funcionários. Assisti a várias tentativas, na
maioria frustradas, de se criar novas vagas. Por exemplo, a
decisão de ampliar o número de engenheiros, acrescentando mais
um à atual estrutura de uma empresa de porte, chega aos níveis
de diretoria e vice-presidência. A criação de vaga só ocorre ante
argumentos muito consistentes, que não deixam dúvida quanto às
reais vantagens da nova contratação. Difícil, mas não impossível.
E mais uma vez, só um desempenho fora de série pode esperar
tamanha compensação.

4. Certeza de nenhuma vaga específica e um estagiário (ou trainee)


Essa situação é complicada. Como já discutido antes, em
empresas que não levam estágio a sério, isso ocorre visando
obter mão-de-obra qualificada a preço de banana. Geralmente,
empresas de grande porte não se utilizam de tais expedientes.
Mas, toda regra tem exceções e até determinada área de uma
grande empresa, diante de muitas rotinas e excesso de dados a
117
ser lançados manualmente em planilhas, em vez de contratar um
auxiliar administrativo, opta por um estagiário. Fazendo
atividades banais ninguém será efetivado numa função
promissora. Pode sobrar alguma vaga, mas nada muito especial.
Infelizmente, mesmo em grandes corporações isso acontece de
vez em quando.
Atenção trainee! No seu caso, essa situação - ser colocado num
setor onde não há vagas - é corriqueira, e tem o nítido objetivo de
fazê-lo “rodar” pelas áreas da empresa. A finalidade é didática: o
trainee deve ter uma visão ampla da rotina empresarial. Mesmo
assim, não menospreze suas passagens pelas diversas áreas, pois
essa rotatividade faz parte do seu treinamento e o seu
desempenho em cada setor será uma parcela da sua avaliação
final.

5. Nenhuma vaga específica e vários estagiários


Esse é o pior dos mundos. Participar de uma árdua concorrência
por nada! Nada é exagero. Afinal, o estágio é parte do currículo.
Sem ele você não está habilitado a exercer sua profissão. Só que
o ideal é cumprir essa etapa com a expectativa de, ao final,
firmar um contrato de trabalho e iniciar uma carreira. Meu
conselho é não desanimar. Se a empresa é a que você sonha
trabalhar, não tenha dúvida: seja o melhor dentre todos! Se,
eventualmente surgir uma vaga o candidato natural para ela será
você. Lembrando sempre que não há apenas a sua área e que um
ótimo desempenho não fica restrito a um determinado setor.
Gerentes e gestores conversam entre si. Trocam referências a
118
respeito de suas equipes, comentam sobre maus e bons
funcionários e têm interesse profissional em manter na empresa
novos talentos, a ajudá-los a ganhar espaço. Confie nisso, respire
fundo e mãos à obra.

É claro que há outras possibilidades, mas essas são as principais. O


importante é ter em mente que as vagas sempre serão destinadas aos
melhores estagiários e trainees. Sua missão, obsessiva eu diria, é estar
entre eles.

Oportunidade real de aprendizado


Espero que a essa altura do campeonato você esteja convencido de que o
principal objetivo a ser alcançado com o estágio é o aprendizado. E é por
intermédio dele – do aprendizado – que se inicia a oportunidade de
atingir a efetivação, mesmo que estiver trabalhando em uma área distinta
da sua graduação.
Na verdade, existem duas situações: uma quando você estagia num setor
cuja atividade tem a ver com o que estuda na faculdade, outra, quando
não tem relação alguma. Por exemplo, um aluno de Direito estagiar num
escritório de advocacia ou no Ministério Público Federal (nada mal,
hein?), ou um aluno de contabilidade trabalhar na controladoria é a
situação típica. Mas o que dizer sobre alunos de engenharia que invadem
os bancos todos os anos, como estagiários/trainees, nas áreas de
tesouraria, market research, corporate banking, entre outras. Em ambos
os casos, não é o conhecimento teórico do estagiário ou trainee que
interessam, mas sim sua capacidade de aprender.

119
Cursei pós-graduação em administração industrial e sei muito bem que é
possível aprender as principais técnicas de marketing, ou os cálculos de
engenharia econômica e até mesmo os conceitos de contabilidade através
de estudos próprios e bem direcionados. Ou seja, alguém com muita
força de vontade tem total condição de aprender bastante coisa em pouco
tempo. Pelo menos o essencial para poder se situar na área e entender o
seu papel, o dos integrantes da equipe e do seu departamento no contexto
corporativo.
Por isso tudo, aprender, mesmo que já tenha visto o assunto na faculdade,
é fundamental para se gabaritar para uma futura efetivação. Mas atente
que o estudo é o trampolim, não a piscina. Aliar os conhecimentos
teóricos adquiridos na graduação, a situações práticas é uma fórmula
infalível de ter sucesso como estagiário. Não se engane: nenhuma
empresa está contratando um consultor especializado, mas sim alguém
com força de vontade e capacidade para dominar e otimizar as funções
do local de trabalho. A perspectiva é, na maior parte das vezes, de
resultados futuros, mas se você conseguir antecipá-los, muito melhor.
Ao iniciar o estágio você percebe que há um distanciamento entre os
conhecimentos teóricos adquiridos em sala de aula e os aplicáveis ao dia-
a-dia da empresa. Não se preocupe, pois essa constatação ocorre na
maioria esmagadora dos casos. Na verdade, não se trata de falha do
ensino superior, pois seria impossível enfeixar nos conteúdos de um
curso todas as ramificações de cada disciplina. O curso deve
proporcionar aos estudantes os conhecimentos básicos, fundamentais de
cada matéria. Em outras palavras, a preocupação maior é com o alicerce,
a base. Ideal seria que, além disso, fizesse um sobrevôo por conteúdos
afins. Mas não há tempo e, por outro lado, a empresa, focada
120
exclusivamente na sua atividade produtiva, alcança um patamar de
conhecimentos e técnicas tão elevados e específicos que, só participando
do seu dia-a-dia é possível apreendê-los.
Também ocorre de alguns cursos privilegiarem um determinado
conteúdo por conta da influência exercida pelo fator econômico. Cito
como exemplo, por experiência própria, o curso de engenharia
metalúrgica da USP - essencialmente siderúrgico, ou seja, focado na
produção de aços. E é fácil entender, pois esse metal é a locomotiva do
mundo, e tem grande força no Brasil. Entretanto, trabalhei com alumínio
e tive pouco contato acadêmico com o assunto. Confesso que vim a
aprender infinitamente mais quando mergulhei nos livros, artigos e best
practices62 disponíveis na empresa onde atuei.
Tenho certeza de que sua empresa também dispõe desses recursos para
lhe oferecer. Pilhas e pilhas de material farto sobre a sua área. Muita
pesquisa e desenvolvimento disponíveis nas intranets63. Se tiver o
privilégio de trabalhar numa multinacional, provavelmente, você terá
acesso às mais recentes pesquisas desenvolvidas pela empresa, mundo
afora. Também há extraordinárias empresas brasileiras que gastam rios
de dinheiro em pesquisas no ramo de sua especialização. São trabalhos
que devem ser consultados. Estão lá para isso, à sua disposição.
Certamente, você não os encontrará em nenhum outro lugar. Acessá-los,
debruçar-se sobre eles, compreendê-los é um verdadeiro privilégio.
Aproveite!

62
“Boas práticas”, em inglês.
63
Intranets são páginas web com conteúdo e acesso exclusivos aos funcionários
da empresa.
121
Carreira
Uma coisa é ter emprego, outra é fazer carreira. Emprego é para atender
necessidades básicas imediatas; carreira é futuro, prestígio, realização.
Emprego é para os conformados; carreira, para os inconformados, para os
que sempre querem mais. Emprego é para comer no Habib’s (que eu
adoro!); carreira, no Almanara (muito bom!). Emprego é casa emprestada
em Mongaguá, carreira, um resort em Angra dos Reis. Bom, deu para
entender, não é?
Claro, porém, que carreira não é só dinheiro. Há outras coisas em jogo:
satisfação pessoal, possibilidade de assumir novos desafios, de trabalhar
em outros países, realizar cursos em instituições de renome, participar de
projetos sociais robustos, etc. Às vezes, salários muito altos podem iludir
candidatos, e esconder ambientes de trabalho e carreira péssimos. Podem
funcionar como isca e atrair ótimos profissionais, mas no longo prazo
podem não valer a pena. Atente para isso.
Um dos frutos mais promissores do estágio é a possibilidade de fazer
carreira. Por que “possibilidade”? Pela razão mais óbvia do mundo: não é
porque você é estagiário ou trainee de uma grande empresa que seu
destino já está traçado nas estrelas. Vai ter que ralar muito para
permanecer e, principalmente, para crescer, já que o funil cada vez
estreita mais.
Muitos escolhem determinadas empresas em razão de um plano de
carreira. Nesse mundo, em constantes e rápidas mudanças, é difícil
planejar o ano corrente, quanto mais se planejar a médio e longo prazo.
Estabelecer marcos que “garantam” futuras ascensões e promoções pode
até não ser o ideal, uma vez que elas podem ocorrer antes do planejado.

122
Não se preocupe, pois seus resultados diferenciados garantirão o seu
momento asap64.
Hoje em dia, assim como jogadores de futebol, a moçada está querendo
carreiras meteóricas. Se tudo não ocorrer a cada dois anos, não serve. É
mais ou menos como “sucesso” de ex-Big Brother. Com honrosas
exceções, como a bem-sucedida Grazi, do mesmo jeito que aparecem,
desaparecem. Por quê? Ora, porque no caso, trata-se de pessoas
escolhidas para participar de um programa de televisão e concorrer a um
milhão e meio de reais, aparentemente sem grandes méritos pessoais (o
que se nota é que são escolhidas por dotes físicos, classe social, cor de
pele e opção sexual), tendo apenas que viver reclusos numa casa,
convivendo, sem privacidade, com parceiros até então desconhecidos.
Sucesso alcançado dessa forma é ilusão! A vida é difícil, e nada
duradouro cai do céu. É preciso construir algo e batalhar muito para
vencer. Veja só, atribuem a Thomas Edison a seguinte frase: “O sucesso
é 1% inspiração e 99% transpiração”. Se vale para um gênio desse porte,
certamente vale para nós também.
Ser efetivado não deixa de ser uma maneira de crescimento profissional.
A rigor, crescer na companhia nada mais é do que um mix entre
competência/contatos/momento e histórico. Como o assunto é vasto, não
pretendo me aprofundar em considerações tediosas. Por isso, vou me
focar no que interessa. Você quer ser efetivado, não? Pois bem, então,
trate de olhar com carinho o meu polinômio:

64
Sigla em inglês para as soon as possible, ou “tão logo quanto possível”.
123
 Competência: Ninguém será efetivado se não for competente.
Você deve estar pensando: “tão óbvio, que nem precisa
comentar.” Lembro apenas que competência profissional está
associada à capacidade de solucionar problemas e essa
capacidade “não nasce com a pessoa”. Deve ser perseguida.
Como? Buscando o conhecimento. Interesse-se em aprender. O
acúmulo de conhecimento, acadêmico e prático, propicia o
desenvolvimento de habilidades e aptidões naturais que, por
vezes, até se desconhecia. O mais vem depois, naturalmente.
Quem conhece, sabe o que faz, equaciona problemas... É
suficiente, competente.
 Contatos: Como já disse, o ser humano é um ser que se relaciona.
E bom relacionamento com os superiores não se resume a ser
interesseiro, nem puxa-saco. É questão de boa convivência, de
ser benquisto e bem visto pelas pessoas da organização, afinal, a
oportunidade de você ser efetivado, de crescer na empresa,
depende do conceito delas sobre sua pessoa. Portanto, nada de
ser um homem das cavernas, ok?
 Momento: Já ouviu falar do cara certo na hora certa? Não sei se o
exemplo é dos melhores, mas lembra quando o Romário foi
convocado às pressas para jogar contra o Uruguai, em 1993? O
Brasil corria o risco (cruel!) de não participar da Copa. O
“Baixinho” foi espetacular! Marcou os dois gols e cumpriu seu
objetivo. É bem isso. Às vezes, falta uma semana para o estágio
acabar e surge uma vaga do nada. Aí você deve estar lá, pronto
para assumir a responsabilidade e o cargo.

124
 Histórico: Nem sempre dá tempo de realizar muitas coisas e
deixar um “legado” (o que se deixa a sucessores) durante o
estágio, mas, se conseguir, você estará à frente dos demais. De
qualquer modo, um ou dois anos é tempo suficiente para
construir uma ótima imagem perante todos, mesmo sem ter
entregado uma infinidade de realizações. Aposte nisso.

Pronto! Se esses itens elencados acima são úteis para crescimento na


empresa, servem para efetivação de estagiários/trainees também. É claro
que pode haver outros fatores, mas não vai fugir muito do que mostrei.
Você já deve ter notado que nós, engenheiros, sentimos uma necessidade
grande de racionalizar os fatos, talvez para tentar manter tudo sob
controle. Acontece, que nem sempre os fatos obedecem a essa
racionalidade - competência/contatos/momento e histórico – e outros
quesitos subjetivos também podem ajudá-lo a conquistar uma vaga. Por
isso, aposte também no seu instinto para saber o que fazer e como agir.

125
COMO SABER SE O ESTÁGIO ESTÁ INDO BEM
Você já sabe quais os métodos que a empresa usa para avaliar
desempenhos de estagiários. Geralmente, há um contrato de expectativas
que diz exatamente o que se espera (hipótese de contrato bem feito).
Contudo, podem ocorrer dois tipos de problemas comuns:

1. O contrato não é avaliado periodicamente.


Muitos contratos de estágio são anuais e, por isso, só saem da
gaveta na data do aniversário. Isso é ruim, uma vez que os
indicadores que estiverem distantes do combinado não terão
chance para mudar de rumo. Se o contrato não estiver bem feito,
pode haver itens que o estagiário nem entende, ou não sabe como
pode influenciá-los para valores aceitáveis. Se tudo estiver bem,
sorte sua.
O razoável é cotejar os itens contratuais com o trabalho
desenvolvido pelo estagiário, pelo menos a cada três meses, para
ver se o resultado obtido atende os planos e calendário previstos.
É claro que não é preciso exagerar no formalismo; basta uma
avaliação objetiva, que aponte prós e contras, não só em relação
ao desempenho do estagiário, como também das metas traçadas
no contrato (podem ter sido excessivas, impraticáveis, utópicas,
desnecessárias...). Esse procedimento não pode ser desprezado
ou relegado a segundo plano. Afinal, dele pode depender sua
efetivação.
Mas, e se isso não ocorrer, o que deve ser feito? Seja polido.
Procure seu gestor e mostre interesse em saber como anda seu
126
desempenho. Tenha o contrato em mãos, de preferência
atualizado, e questione apenas os pontos não atingidos. Peça
ajuda se os desvios estiverem grandes demais.
2. Seu chefe não dá muita importância para feedback
Isso é triste, mas muito comum. A verdade é que há muitos
chefes que não dão a mínima para feedback. Não é nada contra
você. Ele age assim com toda equipe. É um problema dele como
gestor.
Parece o caso daquele homem que está casado há trinta anos e
nunca diz à esposa que a ama. Perguntado a respeito, ele diz:
“trinta anos atrás eu disse que a amava e se não repeti isso mais
vezes até hoje é por que nada mudou!”. Fala sério. Tem chefe
que é assim. Ele até gosta de você e do seu trabalho, mas pensa
que não precisa dizer, pois “é óbvio” que está claro o que ele
pensa.
Sei que é brochante (desculpe a vulgaridade do termo) ter que
pedir para receber feedback de vez em nunca, mas não tem outro
jeito. É claro que o problema não é o bom desempenho, mas o
mau desempenho. Já pensou achar que está abafando no estágio,
e descobrir ao final que “seu perfil não atendeu às expectativas
da empresa”?
Deixe-me abrir parêntese. Esse papo de não atender ao perfil é
um eufemismo, ou seja, uma forma branda de falar que seu
trabalho não agradou. Muito complicado? Explico melhor. Quem
ocupa cargos de liderança tem tarefas agradáveis e desagradáveis
ao lidar com sua equipe. Dar um aumento justo é agradável.
Demitir é sempre desagradável. Efetivar um bom estagiário é
127
bom. Perder um trainee para o concorrente é péssimo. Enfim,
quero dizer que nem sempre os líderes têm coragem para dizer
aquilo que é necessário e, em vez da verdade nua e crua preferem
a balela “do perfil que não se encaixa”. É fácil, rápido e não
exige maiores explicações. O ideal, no entanto, seria confrontar
aquilo que foi contratado versus o que foi realizado, explicando,
objetivamente, o que deu, ou não, certo. Infelizmente, muitos não
sabem fazer isso. Paciência. Fecho parêntese.
Se não houver feedback de jeito nenhum peça ajuda,
discretamente, ao RH da empresa, mas lembre-se de ter uma
postura profissional, sem chiliques, nem carinha feia, ok?

Esses dois métodos são os mais eficazes para saber a quantas anda seu
estágio, entretanto, não são os únicos, é claro. A seguir, listo uma série de
dicas de como ter certeza de que tudo está indo bem:

Envolvimento em projetos relevantes


Você faz estágio em uma montadora, por exemplo. No próximo
ano a empresa fará um lançamento que vai sacudir o mercado. Só
por você ter sido informado da novidade e participar de reuniões
sobre o projeto e implementação de tal lançamento, considere-se
um privilegiado. Se, além disso, você fizer parte do projeto com
atribuições específicas e prazos determinados, melhor ainda. É
ótimo sinal. Mostra que seu trabalho está sendo reconhecido.

128
Participação em reuniões importantes
Você, dessa vez, é trainee de um banco de investimentos. Toda semana
há uma reunião com a equipe de produtos na qual participam gerentes de
várias áreas e também diretores. Pela importância estratégica e sigilo do
assunto, se tiver a honra de lá estar, é porque realmente se espera muito
de sua pessoa. Agarre com os dois braços e as duas pernas.

Presença nos meios de comunicação internos


Numa multinacional onde trabalhei o desempenho dos funcionários pode
ser reconhecido de várias maneiras. Desde um jornal eletrônico local até
um periódico internacional divulgado para as unidades do mundo inteiro.
Se algum estagiário fizer algo de relevante, que mereça ser destacado, o
fato será conhecido de todos, inclusive das “altas lideranças” e,
certamente, isso somará pontos importantes rumo à sua efetivação. Se
você realizar um trabalho excepcional e alguém se interessar em divulgá-
lo é tudo de bom!

Apresentação de trabalhos para a diretoria


Quase todos os setores nas empresas têm reuniões de staff ou, de equipe,
puxadas pelo gerente/superintendente/diretor, dependendo do
organograma da companhia. Participar de reuniões desse tipo é bom, mas
apresentar dados e/ou informações de sua área é ótimo. Dificilmente você
terá essa oportunidade, mas se tiver, pelo amor de Deus, não se encabule
ou fique com medo. Ponha a cara à tapa. Isso o ajudará muito, pode crer.
Se, por qualquer motivo, for convidado a fazer uma apresentação no
lugar do seu chefe, em hipótese alguma refugue, pois onde muitos
enxergam uma “roubada”, seja diferente, enxergue uma rara
oportunidade de mostrar o que sabe, o que é capaz de fazer.
129
Mas e se não estiver bem, como saber?
Quando nada do que foi dito acima ocorrer. Se você não estiver
envolvido em nenhum projeto ou assunto relevante, se não participa de
reuniões importantes, nunca aparece nos jornais da empresa e nem
apresenta trabalhos para a direção, isso não é um bom sinal. Mostra que,
talvez, não haja intersecção entre seu trabalho e os que geram resultados
positivos para a empresa, ou seja, se você não for trabalhar por um mês,
não faz tanta diferença assim.
Infelizmente, muitos estagiários querem ficar no seu canto, mantendo
uma rotina básica. Isso lhes dá uma falsa impressão de segurança.
Querem colaborar, mas só por detrás das câmeras, muito discretamente.
Não funciona. Efetivação significa exposição. A verdade é que ninguém
que queira ser efetivado e crescer numa grande empresa vai conseguir
seu objetivo ficando “na moita”.
Por isso, não se engane. Um estágio mais ou menos não é aquele em que
seu chefe diz abertamente que as coisas vão mal. Em casos assim, o
estagiário já está com o pé na cova. Refiro-me ao estágio que leva à falsa
impressão de sucesso só porque ninguém diz com franqueza que as
coisas não vão bem. Fique esperto. Se nenhum fato ou acontecimento
fora da rotina evidencia que o estágio está em ascensão é porque isso não
está acontecendo.
Outro mau indício ocorre quando nenhum gerente ou diretor ouviu falar a
seu respeito. A cena é típica. Por um acaso o diretor senta-se à frente do
estagiário na hora do almoço e diz simpaticamente: “Olá, tudo bem?
Quem é você? Faz o quê?”. É claro que se fizer uma semana que você
está estagiando, isso é perfeitamente comum, mas se o tempo é de um
ano ou mais, não fique feliz com esse evento. Sinceramente, eu já vi isso
130
ocorrer com funcionários com mais de quinze anos de empresa, mas,
definitivamente, não é um bom indício. Para ser conhecido só tem um
jeito: aparecer positivamente, com muita dedicação, bons resultados e
empatia. Acho que um dia vou escrever sobre marketing pessoal, pois
tenho detectado que os profissionais têm tido muita dificuldade nesse
assunto.

Por fim, os alunos de ciências exatas estão acostumados a dois conceitos


lógicos muito úteis: condição necessária e condição suficiente. Por
exemplo, para haver um jogo de futebol é condição necessária ter uma
bola, mas não é suficiente. Ou seja, o fato de ter uma bola não garante a
possibilidade de uma partida de futebol. Já para ter um casal de cães, a
união de um cão e uma cadela é condição necessária e suficiente. Mas,
por que estou dizendo isso?
Porque não existe uma lista que esgote os requisitos necessários à
efetivação de alguém. O rol será sempre insuficiente. Tudo que citei são
condições necessárias, talvez as mais importantes, mas não suficientes,
bastantes em si. Nem todas juntas podem ser tidas como garantia
absoluta de levar um estágio à tão almejada efetivação, entretanto quanto
mais você se alinhar às condições necessárias por mim elencadas, maior
será a possibilidade desse objetivo se concretizar.

131
O CAMINHO PARA A EFETIVAÇÃO
Só o estágio de sucesso leva à efetivação. Nesses anos em que fui
estagiário e observei estagiários, percebi que há diferenças de postura
significativas entre os que conseguem e os que não conseguem realizá-lo.
Ao longo do livro procurei, à exaustão, por vezes, até sendo bem
rigoroso, descrever as qualidades inerentes aos bons jovens profissionais.
Agora é o momento de alinhavar tudo.
Não adianta mais ser um bom candidato, ter um ótimo desempenho no
processo seletivo, mas não ser um estagiário de destaque. Por outro lado,
também não é possível ser um bom trainee, baseando-se apenas em
resultados e ignorando o aspecto comportamental. Da mesma forma, ter
um desempenho marcante como “relações públicas” e não gerar
resultados significativos levam à bancarrota.

Os bons exemplos
Algumas pessoas, a essa altura, podem estar achando que apenas seres
“perfeitos” ou geniais serão efetivados. Se você entendeu isso, deixe-me
fazer mea-culpa, pois a falha deve ter sido minha. Sei que me empolguei
e coloquei um padrão de referência bastante elevado. Foi
propositadamente, com o intuito de motivar meus leitores a se
posicionarem muito acima da média. Quem costuma dizer que “tudo
depende de sorte” e, por isso, deposita grande parte de suas esperanças
nesse fator, nem precisaria ter lido meu livro. Não incentivo ninguém a
jogar todas as cartas na sorte, a contar com esse fator aleatório para
alcançar seus ideais. Também não quero passar a ilusão de que será fácil
ser efetivado fazendo só o “basicão”. Certamente, você terá concorrentes

132
fortíssimos e muito bem preparados, portanto, se pequei por excesso,
acredite, buscando o padrão de excelência, sendo exigente consigo
mesmo, você só tem a ganhar!
Os mais bem-sucedidos estagiários que conheci tiveram atuação
marcante. Já citei um trainee, amigo meu, que terminava um serviço e já
ia atrás do próximo. Era um trator em serviço. Muito simpático, tinha um
pique incrível, fora a habilidade no relacionamento interpessoal. Ele não
estagiou na Controladoria, mas o superintendente dessa área disse mais
de uma vez, alto e em bom som: “quero esse rapaz na minha área!”. Viu
só? A fama boa também corre. É lógico que ele foi efetivado e, antes de
todos.
Em outra empresa, havia diversos estagiários excepcionais, mas um deles
se destacava. Além de muito inteligente, conseguia obter o que fosse
preciso como nenhum outro. Não por acaso foi transferido rapidamente,
quebrando etapas convencionais, do staff para a área de estratégia cuja
remuneração era bem maior. Conseguiu tal feito por ser capacitado, por
conta dos resultados que obteve e dos contatos cultivados. Algum tempo
depois, já na condição de funcionário efetivo, concluiu um MBA nos
EUA, por conta da empresa e, até onde eu sei, sua carreira vai de vento
em popa.
Outro exemplo: um estagiário que tinha uma responsabilidade muito
grande. Entre várias de suas atribuições, ele reportava um boletim diário
para toda a corporação de como o mercado havia se comportado naquele
dia, analisando fatos e indicadores macroeconômicos. Tarefa nada fácil
para um estudante de engenharia, que não recebeu nenhum treinamento
específico sobre o assunto, mas que tinha uma força de vontade e

133
capacidade além da média. Hoje, ele é um profissional de destaque no
mercado financeiro.
No meu caso, em um dos estágios, também emitia um relatório diário
sobre o risco de crédito com contrapartidas financeiras da filial brasileira.
Esse e-mail ia para a toda a diretoria nacional e estrangeira, além do
presidente do grupo no Brasil. Eu mesmo criei as planilhas e fazia os
cálculos, revistos por meu chefe, que fazia as devidas correções, quando
necessário. Uma tremenda responsabilidade e um aprendizado incrível.
Por causa disso, eu era conhecido de vários diretores. Quando disse que
ia sair, propuseram-me a efetivação mesmo faltando mais de um ano para
eu me formar. Fiquei muito honrado, mas jamais iria conciliar as
atividades da Escola Politécnica com as da empresa, concomitantemente.
Em outro momento, já no programa de trainees, finalmente entendi a
diferença entre back office e front office. Os programas de trainee
existentes nas duas áreas eram nitidamente separados. Ao perceber que o
outro era melhor que o meu, tratei de ir ao RH pedir para pular de um
para o outro: “Impossível” – disse-me a gerente. Seis meses depois, lá
estava eu indo estagiar na área comercial. Pela primeira vez, um trainee
migrava de um lado para o outro. Não coincidentemente, tinha obtido
uma valiosa nota A na minha última avaliação.
Mais tarde, já formado e trabalhando como engenheiro, conheci um
estagiário muito bom. Proveniente da Universidade Federal de São
Carlos, ele tinha um embasamento técnico inacreditável para quem ainda
cursava o quarto ano da faculdade. Encarregado das amostragens
laboratoriais ele enviava os relatórios para os americanos (in English, of
course). Uma frase comum nos e-mails do diretor internacional era: “he’s

134
been doing a very good job65”. Nada mal ler isso, não? Na época do fim
do contrato não havia uma vaga formal a ser preenchida por um
estagiário. O que aconteceu? A vaga inexistente passou a existir, foi
criada para dar oportunidade ao rapaz. Quem iria ser louco de perder um
talento desses?66.

Exemplos a não serem seguidos


Considero um estágio mal sucedido aquele em que não houve
aprendizado nem efetivação, seja pelo motivo que for. Não quero, de
modo algum, dizer que os que não foram efetivados sejam maus
profissionais, pois não é algo que depende cem por cento de ninguém.
Muitas vezes, o problema tem várias causas e o estagiário não faz parte
delas.
Acompanhei alguns casos emblemáticos. Foram pisadas de bola, leves,
moderadas ou pesadas, que interferiram na não-efetivação dos cidadãos.
Vamos lá.
Quem não está acostumado ao ambiente de trabalho pensa que a vida
pessoal não é levada em conta pelos chefes e colegas. Ledo engano. Um
estagiário começou a namorar com uma outra funcionária. Depois de
uma festa da empresa, o pessoal foi fazer um segundo tempo num
ambiente nada familiar, digamos numa casa de tolerância (melhor
eufemismo, impossível!), e lá foi o “figuraça”. Ele fez barba, cabelo e
bigode (melhor metáfora, impossível!). Tanto é verdade que ele emendou
a farra com o próximo dia de serviço, ou seja, foi com a mesma roupa do

65
Tradução: “ele está fazendo um ótimo trabalho”
66
Quem quiser enviar outros relatos de estágios bem sucedidos, mande-me um
e-mail (wmazza@bol.com.br) para eu averiguar e, quem sabe, publicá-los nas
próximas edições do livro.
135
dia anterior. A empresa veio abaixo e a fofoca chegou até a gerência. Ele
ficou marcado por causa desse evento. Certamente, isso não o ajudou
nem um pouco, além do término de seu namoro, é claro. Consegue
imaginar como isso constrangeu a moça?
Num outro caso, o estagiário bebeu muito na festa de fim de ano da
empresa e tascou um beijo no presidente. Foi desligado no dia seguinte.
Outro, mandou um e-mail com pornografia, errou o destinatário e, sem
querer, enviou para todos os funcionários. Rua para ele também. No caso
mais trágico, um estagiário foi flagrado com um pedaço de pau na mão
por uma câmera da Rede Globo após um clássico entre São Paulo e
Palmeiras. Como houve vítimas, a polícia foi atrás dele no emprego. Já
pensou sair de lá no camburão? Foi por pouco.
Além desses casos, há diversos outros estagiários que tiveram passagens
muito discretas pelas empresas e, nem seria preciso dizer, ficaram a ver
navios. Entraram, trabalharam e foram substituídos sem deixar saudades.
Não fizeram nada de diferente. Ficaram só no trivial, arroz com feijão e,
por cima, sem sal.

136
FECHANDO COM CHAVE-DE-OURO
É hora de encerrar a jornada. Muitos iniciaram a leitura desse livro do
zero, batalharam por uma vaga numa grande empresa, conseguiram e
fizeram um estágio brilhante. Agora, estão próximos do grande desfecho:
a efetivação, que é o ápice nessa fase da vida.
Toda sua educação e formação escolar o levaram até a universidade. Lá,
estudou muito (e quase não tomou cerveja...) e se qualificou para entrar
em uma grande empresa. Depois de mostrar seu valor, chegou a hora de
fechar essa etapa em grande estilo: entrando no quadro de funcionários
de uma empresa de destaque, iniciando uma carreira promissora.
Tudo isso é ótimo, mas precisa ser coroado em grande estilo. Se tudo
estiver conforme o protocolo, você precisa terminar deixando um legado.
Todos terão que lembrar com uma boa imagem da sua passagem como
estagiário. A melhor maneira é entregando algo iniciado lá atrás, no
prazo certo e com o resultado esperado. E de preferência fazendo uma
apresentação para toda a liderança da empresa.
Ademais, fico pensando nas inúmeras áreas do conhecimento, com as
respectivas áreas de atuação e empresas de interesse, disponibilizando
vagas para estágio e com propostas de negócios totalmente diferentes.
Farei um exercício mental de possíveis legados que os estagiários das
mais diversas áreas poderiam deixar para as suas empresas:
 Auditorias: Aplicativo em Excel que compara dados e emite um
relatório padronizado, com análise crítica das conclusões.
 Bancos: Padronização dos arquivos e diretórios de sua área, que
além de racionalizar o uso, ganha espaço disponível na rede e
economiza o tempo para achar arquivos.
137
 Consultorias: Página de intranet que dá o status on-line do
andamento do projeto para os clientes e para a consultoria.
 Laboratórios farmacêuticos: Ampla pesquisa entre
medicamentos similares do mercado e o novo lançamento da
empresa. Além de uma análise técnica e de viabilidade
econômica do novo produto.
 Fábricas: Proposta de novo layout da área para ganhar em tempo
de setup de máquinas.
 Escritório de advocacia: montar uma petição com ampla
pesquisa de doutrina e jurisprudência, esmerando-se na
argumentação, para aquela nova ação difícil, diariamente
comentada no escritório e entregá-la ao advogado encarregado
do caso.
 Hospitais: Criar um book com um bom resumo das principais
normas hospitalares, junto de um treinamento, ministrado por
você, para 100% do staff do hospital.
 Escritórios de arquitetura: apresentar uma lista de mostruários
virtuais de projetos de ambientes, residências e demais
edificações para acesso remoto via web para clientes.
 Contabilidade/Controladoria: unificar as várias planilhas
utilizadas no departamento.
 Engenharia: desenvolver um novo fornecedor, com produto
mais econômico e que aumente a produtividade, reduzindo o
impacto ambiental para a estação de tratamento de efluentes.
 Fisioterapia: Desenvolver uma série de exercícios específicos
para algum público-alvo da sua clínica.

138
 Hotelaria: criar uma maneira sistemática de divulgar o hotel,
utilizando as várias ferramentas gratuitas disponíveis na web.
 T.I.: Criar um aplicativo em Visual Basic que facilite a vida dos
usuários de pacote Office do escritório.
 Internet: Padronizar os formatos (fonte, cores e tamanhos) de
todas as web pages do site de sua empresa.
 Manutenção: Criar um pequeno aplicativo que calcule os
percentuais de horas gastas em manutenção preventiva, corretiva
e preditiva, por área e consolidada.
 Psicologia: Criar um sistema de divulgação de vagas internas
para os funcionários da empresa.
 Qualidade: Realizar um treinamento para 100% do staff sobre as
velhas e novas ferramentas de qualidade, com casos práticos e
reais do dia-a-dia da empresa.
 Seguros: Fazer um comparativo entre produtos similares no
mercado e propor uma alternativa mais econômica em algum
segmento em que a empresa estiver querendo abocanhar fatia
maior de mercado.

É claro que há muitas e muitas outras áreas, inclusive várias


ramificações, dentre as citadas, que não foram incluídas, mas o espírito é
o mesmo. Quis deixar bem claro que para terminar com chave-de-ouro
você tem que deixar um legado. É preciso concluir com algo palpável,
que possa ser seu motivo de orgulho ao falar desse período e para que a
tarefa daqueles que queiram efetivá-lo seja facilitada. Agora, é com você.

139
ANEXO: LEI DO ESTÁGIO
Como eu tenho certeza de que muitos não lerão a lei referente ao estágio,
separei alguns itens relevantes para que você conheça:

 Quem trabalha de graça é relógio.


 Cuidado com o limite máximo de horas permitidas, pois podem
prejudicá-lo sobremaneira em seus estudos e vida pessoal.
 Se houver provas ou semana de provas em sua faculdade, a
empresa deve liberá-lo para estudar e realizá-las. Tive um chefe
que tentou me proibir de ir fazer um exame final. Que absurdo!
Cuidado com os sem-noção.
 Você tem direito a férias de 30 dias remuneradas a cada ano
trabalhado. Não abra mão disso só para querer ficar bem na foto.
Isso é bobagem!
 O tempo máximo de estágio em uma mesma empresa é de 2
anos, por isso, prepare-se.

É isso. Deixe de ser preguiçoso, e gaste meia hora para ler a lei. Vale a
pena. Em caso de descumprimento, procure imediatamente a área de
recursos humanos da empresa.

140
LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA faço saber que o Congresso Nacional


decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I - DA DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E RELAÇÕES DE


ESTÁGIO

Art. 1o Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no


ambiente de trabalho, que
visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam
freqüentando o ensino regular em
instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da
educação especial e dos
anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de
jovens e adultos.
§ 1o O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar
o itinerário formativo do educando.
§ 2o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade
profissional e à contextualização curricular, objetivando o
desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho.
Art. 2o O estágio poderá ser obrigatório ou não-obrigatório, conforme
determinação das diretrizes curriculares da etapa, modalidade e área de ensino e
do projeto pedagógico do curso.
§ 1o Estágio obrigatório é aquele definido como tal no projeto do curso,
cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção de diploma.
§ 2o Estágio não-obrigatório é aquele desenvolvido como atividade
opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória.

141
§ 3o As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na
educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser
equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do
curso.
Art. 3o O estágio, tanto na hipótese do § 1o do art. 2o desta Lei quanto na
prevista no § 2o do mesmo dispositivo, não cria vínculo empregatício de
qualquer natureza, observados os seguintes requisitos:
I – matrícula e freqüência regular do educando em curso de educação
superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial
e nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da
educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino;
II – celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte
concedente do estágio e a instituição de ensino;
III – compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e
aquelas previstas no termo de compromisso.
§ 1o O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá
ter acompanhamento efetivo pelo professor orientador da
instituição de ensino e por supervisor da parte concedente,
comprovado por vistos nos relatórios referidos no inciso IV do
caput do art. 7o desta Lei e por menção de aprovação final.
§ 2o O descumprimento de qualquer dos incisos deste artigo ou de
qualquer obrigação contida no termo de compromisso caracteriza
vínculo de emprego do educando com a parte concedente do
estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária.
Art. 4o A realização de estágios, nos termos desta Lei, aplica-se aos estudantes
estrangeiros regularmente matriculados em cursos superiores no País,
autorizados ou reconhecidos, observado o prazo do visto temporário de
estudante, na forma da legislação aplicável.

142
Art. 5o As instituições de ensino e as partes cedentes de estágio podem, a seu
critério, recorrer a serviços de agentes de integração públicos e privados,
mediante condições acordadas em instrumento jurídico apropriado, devendo ser
observada, no caso de contratação com recursos públicos, a legislação que
estabelece as normas gerais de licitação.
§ 1o Cabe aos agentes de integração, como auxiliares no processo de
aperfeiçoamento do instituto do estágio:
I – identificar oportunidades de estágio;
II – ajustar suas condições de realização;
III – fazer o acompanhamento administrativo;
IV – encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais;
V – cadastrar os estudantes.
§ 2o É vedada a cobrança de qualquer valor dos estudantes, a título de
remuneração pelos serviços referidos nos incisos deste artigo.
§ 3o Os agentes de integração serão responsabilizados civilmente se
indicarem estagiários para a realização de atividades não compatíveis com
a programação curricular estabelecida para cada curso, assim como
estagiários matriculados em cursos ou instituições para as quais não há
previsão de estágio curricular.
Art. 6o O local de estágio pode ser selecionado a partir de cadastro de partes
cedentes, organizado pelas instituições de ensino ou pelos agentes de integração.

143
CAPÍTULO II - DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO

Art. 7o São obrigações das instituições de ensino, em relação aos estágios de


seus educandos:
I – celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu
representante ou assistente legal, quando ele for absoluta ou relativamente
incapaz, e com a parte concedente, indicando as condições de adequação
do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade da
formação escolar do estudante e ao horário e calendário escolar;
II – avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação
à formação cultural e profissional do educando;
III – indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio,
como responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades do
estagiário;
IV – exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior
a 6 (seis) meses, de relatório das atividades;
V – zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o
estagiário para outro local em caso de descumprimento de suas normas;
VI – elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos
estágios de seus educandos;
VII – comunicar à parte concedente do estágio, no início do período
letivo, as datas de realização de avaliações escolares ou acadêmicas.
Parágrafo único. O plano de atividades do estagiário, elaborado em acordo das 3
(três) partes a que se refere o inciso II do caput do art. 3o desta Lei, será
incorporado ao termo de compromisso por meio de aditivos à medida que for
avaliado, progressivamente, o desempenho do estudante.
Art. 8o É facultado às instituições de ensino celebrar com entes públicos e
privados convênio de concessão de estágio, nos quais se explicitem o processo

144
educativo compreendido nas atividades programadas para seus educandos e as
condições de que tratam os arts. 6o a 14 desta Lei.
Parágrafo único. A celebração de convênio de concessão de estágio entre a
instituição de ensino e a parte concedente não dispensa a celebração do termo de
compromisso de que trata o inciso II do caput do art. 3o desta Lei.

CAPÍTULO III - DA PARTE CONCEDENTE

Art. 9o As pessoas jurídicas de direito privado e os órgãos da administração


pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como profissionais liberais
de nível superior devidamente registrados em seus respectivos conselhos de
fiscalização profissional, podem oferecer estágio, observadas as seguintes
obrigações:
I – celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o
educando, zelando por seu cumprimento;
II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao
educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural;
III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou
experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso
do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 (dez) estagiários
simultaneamente;
IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais,
cuja apólice seja compatível com valores de mercado, conforme fique
estabelecido no termo de compromisso;
V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de
realização do estágio com indicação resumida das atividades
desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho;

145
VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a
relação de estágio;
VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis)
meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário.
Parágrafo único. No caso de estágio obrigatório, a responsabilidade pela
contratação do seguro de que trata o inciso IV do caput deste artigo poderá,
alternativamente, ser assumida pela instituição de ensino.

CAPÍTULO IV - DO ESTAGIÁRIO

Art. 10. A jornada de atividade em estágio será definida de comum acordo entre
a instituição de ensino, a parte concedente e o aluno estagiário ou seu
representante legal, devendo constar do termo de compromisso ser compatível
com as atividades escolares e não ultrapassar:
I – 4 (quatro) horas diárias e 20 (vinte) horas semanais, no caso de
estudantes de educação especial e dos anos finais do ensino fundamental,
na modalidade profissional de educação de jovens e adultos;
II – 6 (seis) horas diárias e 30 (trinta) horas semanais, no caso de
estudantes do ensino superior, da educação profissional de nível médio e
do ensino médio regular.
§ 1o O estágio relativo a cursos que alternam teoria e prática, nos
períodos em que não estão programadas aulas presenciais, poderá
ter jornada de até 40 (quarenta) horas semanais, desde que isso
esteja previsto no projeto pedagógico do curso e da instituição de
ensino.
§ 2o Se a instituição de ensino adotar verificações de aprendizagem
periódicas ou finais, nos períodos de avaliação, a carga horária do
estágio será reduzida pelo menos à metade, segundo estipulado no

146
termo de compromisso, para garantir o bom desempenho do
estudante.
Art. 11. A duração do estágio, na mesma parte concedente, não
poderá exceder 2 (dois) anos, exceto quando se tratar de estagiário
portador de deficiência.
Art. 12. O estagiário poderá receber bolsa ou outra forma de contraprestação que
venha a ser acordada, sendo compulsória a sua concessão, bem como a do
auxílio-transporte, na hipótese de estágio não obrigatório.
§ 1o A eventual concessão de benefícios relacionados a transporte,
alimentação e saúde, entre outros, não caracteriza vínculo empregatício.
§ 2o Poderá o educando inscrever-se e contribuir como segurado
facultativo do Regime Geral de Previdência Social.
Art. 13. É assegurado ao estagiário, sempre que o estágio tenha duração igual ou
superior a 1 (um) ano, período de recesso de 30 (trinta) dias, a ser gozado
preferencialmente durante suas férias escolares.
§ 1o O recesso de que trata este artigo deverá ser remunerado quando o
estagiário receber bolsa ou outra forma de contraprestação.
§ 2o Os dias de recesso previstos neste artigo serão concedidos de
maneira proporcional, nos casos de o estágio ter duração inferior a 1 (um)
ano.
Art. 14. Aplica-se ao estagiário a legislação relacionada à saúde e segurança no
trabalho, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente do
estágio.

CAPÍTULO V - DA FISCALIZAÇÃO

Art. 15. A manutenção de estagiários em desconformidade com esta Lei


caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio
para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária.

147
§ 1o A instituição privada ou pública que reincidir na irregularidade de
que trata este artigo ficará impedida de receber estagiários por 2 (dois)
anos, contados da data da decisão definitiva do processo administrativo
correspondente.
§ 2o A penalidade de que trata o § 1o deste artigo limita-se à filial ou
agência em que for cometida a irregularidade.

CAPÍTULO VI - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 16. O termo de compromisso deverá ser firmado pelo estagiário ou com seu
representante ou assistente legal e pelos representantes legais da parte
concedente e da instituição de ensino, vedada a atuação dos agentes de
integração a que se refere o art. 5o desta Lei como representante de qualquer das
partes.
Art. 17. O número máximo de estagiários em relação ao quadro de pessoal das
entidades concedentes de estágio deverá atender às seguintes proporções:
I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;
II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;
III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco)
estagiários;
IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento)
de estagiários.
§ 1o Para efeito desta Lei, considera-se quadro de pessoal o
conjunto de trabalhadores empregados existentes no
estabelecimento do estágio.
§ 2o Na hipótese de a parte concedente contar com várias filiais ou
estabelecimentos, os quantitativos previstos nos incisos deste artigo
serão aplicados a cada um deles.

148
§ 3o Quando o cálculo do percentual disposto no inciso IV do
caput deste artigo resultar em fração, poderá ser arredondado para
o número inteiro imediatamente superior.
§ 4o Não se aplica o disposto no caput deste artigo aos estágios de
nível superior e de nível médio profissional.
§ 5o Fica assegurado às pessoas portadoras de deficiência o
percentual de 10% (dez por cento) das vagas oferecidas pela parte
concedente do estágio.
Art. 18. A prorrogação dos estágios contratados antes do início da vigência desta
Lei apenas poderá ocorrer se ajustada às suas disposições.
Art. 19. O art. 428 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passa a vigorar com as seguintes
alterações:
“Art. 428. ......................................................................
§ 1o A validade do contrato de aprendizagem pressupõe anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, matrícula e freqüência do
aprendiz na escola, caso não haja concluído o ensino médio, e inscrição
em programa de aprendizagem desenvolvido sob orientação de entidade
qualificada em formação técnico-profissional metódica.
......................................................................
§ 3o O contrato de aprendizagem não poderá ser estipulado por mais de 2
(dois) anos, exceto quando se tratar de aprendiz portador de deficiência.
......................................................................
§ 7o Nas localidades onde não houver oferta de ensino médio para o
cumprimento do disposto no § 1o deste artigo, a contratação do aprendiz
poderá ocorrer sem a freqüência à escola, desde que ele já tenha
concluído o ensino fundamental.” (NR)
Art. 20. O art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar
com a seguinte redação:

149
“Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio
em sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria. Parágrafo único.
(Revogado).” (NR)
Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 22. Revogam-se as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro de 1977, e 8.859, de 23 de
março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
e o art. 6o da Medida Provisória no 2.164-41, de
24 de agosto de 2001.

Brasília, 25 de setembro de 2008; 187o da Independência e 120o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA


Fernando Haddad
André Peixoto Figueiredo Lima
Este texto não substitui o publicado no DOU de 26.9.2008

150
CONTATO COM O AUTOR
Terei o maior prazer em tirar toda e qualquer dúvida a respeito do
conteúdo do livro. Não deixe de me escrever, também, para críticas e
sugestões de melhorias para as próximas edições.

Obrigado, Wmazza.

BLOG QUERO TRABALHAR


https://querotrabalharsite.wordpress.com/

CANAL QUERO TRABALHAR


https://www.youtube.com/channel/UCLeF9R9abMMVvOCraavSxsg

FAN PAGE QUERO TRABALHAR


https://www.facebook.com/Quero-Trabalhar-
1424305921207991/

PERFIL DO WMAZZA
https://br.linkedin.com/in/williammazza

mailto:wmazza@bol.com.br

151

Você também pode gostar