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Entendendo o

desenvolvimento motor
a partir dos alicerces
esporte, educação e
sociabilização

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CONCEITUANDO “DESENVOLVIMENTO MOTOR” 3

DESENVOLVIMENTO MOTOR E EDUCAÇÃO: QUAL A RELAÇÃO? 6

O ESPORTE COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA 7

BIBLIOGRAFIA 10
CONCEITUANDO
“DESENVOLVIMENTO MOTOR”
O desenvolvimento humano se esta- sordenados, involuntários e inconsistente
belece pelas alterações do ser humano ao para movimentos ordenados, voluntários e
longo da vida. É um processo complexo que consistentes, do geral para o específico, do
compreende um conjunto de mudanças que simples para o complexo.
abrangem os domínios do desenvolvimento
Movimento é vida! Tudo que fazemos
cognitivo, social, emocional e motor, domí-
diariamente, envolve movimento, a nossa
nios esses, que estão em constante inte-
existência depende das batidas do nosso
ração. Dessa maneira, o desenvolvimento
coração, da inalação e exalação de nossos
humano é visto como um fenômeno multidi-
pulmões e de um conjunto de outros movi-
mensional e para compreender plenamente
mentos involuntários e voluntários que fazem
o desenvolvimento humano, deve ser com-
parte da nossa rotina. Do nascimento até a
preendido plenamente cada um desses do-
morte estamos envolvidos no processo de
mínios, incluindo o motor.
aprender como devemos nos movimentar
Como um processo humano, o de- com controle e competência em resposta às
senvolvimento motor revela-se, principal- mudanças que enfrentamos em nosso dia a
mente por mudanças no comportamento dia. O movimento é de fundamental impor-
motor ao longo do ciclo da vida, provocada tância para o desenvolvimento psicológico,
pela interação entre as exigências da tarefa social e biológico, tendo em vista que é atra-
motora, a biologia do indivíduo e as condi- vés dele que o ser humano interage com o
ções do ambiente. Essas mudanças se dão meio ambiente.
no sentido de movimentos inicialmente de-

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Ao nascer os nossos movimentos tes começam a refinar as suas habilidades
são baseados em movimentos reflexos que fundamentais e passam a combiná-las para
dizem respeito aos mecanismos de sobre- realizar uma série de atividades de movi-
vivência, depois vamos aprendendo os mo- mentos complexos que poderão ser utiliza-
vimentos voluntários rudimentares relacio- das em situações do contexto de vida diá-
nados à postura, ao pegar, ao sentar e ao ria e também em situações específicas de
engatinhar, basicamente movimentos de es- esporte, dança e atividades lúdicas. Assim,
tabilidade, manipulação e locomoção. Dos 2 um desenvolvimento motor adequado a ida-
aos 7 anos, compreende uma fase de extre- de cronológica, a aquisição de habilidades
ma importância para criança, onde elas de- motoras e a construção de um diversifica-
senvolvem padrões fundamentais de movi- do repertório motor assumem relevância
mento e adquirem habilidades locomotoras, significativa no desenvolvimento integral da
como correr e pular, manipulativas como ar- criança, repercutindo na vida futura e ex-
remessar e pegar, e as estabilizadoras como trapolando as questões físicas e motoras,
caminhar sobre uma barra, que servirão de abrangendo também aspectos sociais e
base para as habilidades especializadas. intelectuais, possibilitando que os desafios
do cotidiano sejam enfrentados de maneira
No momento da fase especializada,
adequada e eficiente.
a partir dos 7 anos, crianças e adolescen-

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Os parâmetros normais do desenvol- Cabe destacar, que o desenvolvimen-
vimento motor servem como padrões típicos to motor é um processo que não está rela-
do desenvolvimento infantil, representando cionado apenas com os processos matura-
a média de idade em que a criança é capaz cionais (processo de crescimento), pois os
de realizar habilidades motoras básicas, que fatores extrínsecos aos quais o sujeito é ex-
são requisitadas no seu cotidiano. Consi- posto durante a vida, como o ambiente, as
derando que, embora as alterações relacio- condições da tarefa, as oportunidades, as
nadas ao desenvolvimento motor ocorrem instruções, os incentivos e os relacionamen-
ao longo de toda a vida, é na infância que tos sociais, também se mostram influen-
ocorre a aquisição do repertório motor que ciadores desse desenvolvimento. Assim, o
servirá de base para as outras fases. Por- progresso das aquisições motoras de crian-
tanto, quando as oportunidades e incentivos ças e adolescentes não pode ser entendido
de práticas e habilidades motoras são redu- puramente de forma biológica, é essencial
zidas, por consequência, pode ocorrer um reconhecer a interação entre esses fatores.
prejuízo no curso do desenvolvimento desse
indivíduo.

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DESENVOLVIMENTO MOTOR E
EDUCAÇÃO: QUAL A RELAÇÃO?
É possível salientar os paralelos exis- parte integrante do processo de educação.
tentes entre o desenvolvimento motor e a Ao idealizar uma proposta de educação para
educação, no entanto, antes de entender crianças e adolescentes, consequentemen-
essa relação, é importante ter em mente o te, deve-se levar em consideração o desen-
que é educação. Em nosso texto publicado volvimento físico-motor dos alunos.
anteriormente, intitulado “O que podemos
Desta forma, a aquisição de habili-
chamar de Educação?” encontramos que,
dades motoras deve ser aliada com o pro-
no conceito básico, Educação é “Um pro-
cesso educacional, esse que é alicerçado
cesso que visa o desenvolvimento físico, in-
no desenvolvimento intelectual e que envol-
telectual e moral do ser humano, através da
ve fatores como pensamento, linguagem,
aplicação de métodos próprios, com o intui-
memória e cognição, e relaciona-se com o
to de assegurar-lhe a integração social e a
desenvolvimento motor, tendo em vista que
formação da cidadania”.
para desempenhar uma tarefa motora, é ne-
Em um primeiro momento, ao que cessário um planejamento para a execução
concerne o conceito, caracteriza-se como da tarefa, uma estruturação adequada, uma
um fenômeno multifatorial e já se refere ao compreensão cognitiva da ação motora e
desenvolvimento físico - este que está en- como ela se conecta com os outros movi-
trelaçado ao desenvolvimento motor - como mentos, com o seu monitoramento e a sua
correção.

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O ESPORTE COMO
FERRAMENTA PEDAGÓGICA
Sabe-se que o esporte além de ser pois o esporte com suas regras e hierar- promoção da satisfação e sustentação dos
uma ferramenta que opera no desenvolvi- quias, auxilia na organização da sociedade relacionamentos sociais entre os pares. Ou
mento motor, é pedagógico e educativo, é reforçando o conceito de senso coletivo e de seja, ter um bom desenvolvimento motor e
um fenômeno social que influencia hábitos respeito. Assim, pode-se dizer que o espor- habilidades esportivas, pode ser conside-
e comportamentos em nossa sociedade, te também visa a cooperação, a inclusão e a rado um pré-requisito na participação bem-
exerce uma função de transmissão de valo- participação de todos os praticantes, fazen- -sucedida em brincadeiras e jogos.
res de acordo com o sentido dado à prática do-se presente no desenvolvimento motor,
Essas relações interpessoais são
esportiva, e por isso tem um componente na educação e participando como elemento
consideradas alicerces para a construção
de aprendizado expressivo, atuando como social da vida da criança e do adolescente.
da identidade e do desenvolvimento da
um mecanismo indissociável da educação
Neste contexto, o esporte torna-se criança, assim, o comportamento não se re-
e contribuindo na formação moral humana.
um grande aliado da sociabilização, amplian- laciona apenas com as características indi-
O potencial educativo encontrado nas ativi-
do as redes de relacionamento de amizade viduais, mas resulta também da rede de re-
dades esportivas é impulsionado para de-
com os pares, atingindo valores de coletivis- lacionamento social a qual essa criança está
senvolver e formar pessoas capazes de agir
mo, companheirismo e solidariedade. Além inserida. Nesse sentido, as oportunidades
com princípios éticos e de forma cada vez
disso, há inúmeras pesquisas que demons- adequadas de práticas motoras na infância
mais autônoma.
tram que, no que se refere aos aspectos so- e posteriormente o envolvimento com o es-
O esporte, enquanto ferramenta edu- ciais, crianças que apresentam movimentos porte, são estratégias efetivas não exclusi-
cacional, possibilita: enfrentamento de obs- precisos e adequados para determinada si- vamente para a geração de futuros atletas,
táculos e desafios (fazendo com que sejam tuação possuem maiores probabilidades de mas como também para a geração de cida-
experimentadas regras); lidar com o próxi- sucesso no desempenho das suas tarefas dãos que utilizam o esporte como ferramen-
mo; e trabalhar em equipe. Os benefícios do motoras, contribuindo para efeitos positivos ta de sociabilização, educação e desenvolvi-
esporte ultrapassam o limite do bem-estar, em outros aspectos da vida diária, como na mento motor.

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Sendo assim, o tênis, como uma mo- uma partida, como por exemplo, a diversi-
dalidade esportiva, proporciona o aprendi- dade de adversários, escolha da técnica e
zado de uma série de habilidades motoras, tática mais adequada, a tomada de decisão
que vão desde as habilidades fundamentais rápida ao receber e rebater a bolinha, a exi-
até as habilidades especializadas, conside- gência de compreensão sobre diversas situ-
rando a grande versatilidade de movimentos ações e contextos sobre a dinâmica do jogo,
que são exigidos. Todavia, praticar tênis, é além de requisitar concentração e atenção
muito mais que adquirir habilidades motoras durante uma partida. Somado a isso, o tê-
e desenvolver capacidades físicas, como nis ainda possibilita a educação por meio da
força, flexibilidade e resistência cardiovas- transmissão de valores, como o respeito ao
cular, é também uma forma de estimular adversário, cooperação, disciplina, espírito
benefícios relacionados às qualidades pes- de equipe, entre outros.
soais, tais como superação, autocontrole,
É importante ressaltar, que a inicia-
autoconfiança, autonomia, superação, com-
ção do tênis é frequentemente entendida e
promisso, respeito, confiança.
orientada pelo ensino convencional dos fun-
Em termos educacionais e cognitivos, damentos técnicos do esporte. No entanto,
o tênis enquanto prática esportiva de forma- ao levarmos em consideração as reais ne-
ção, estimula o desenvolvimento intelectual, cessidades das crianças e adolescentes,
como a criatividade, linguagem, comunica- deparamo-nos com a real necessidade de
ção e memória, devido às diversas carac- romper com a metodologia de ensino que
terísticas e qualidades que o jogo exige e visa unicamente o mecanicismo, caracteri-
às variadas situações técnicas e táticas de zada pela monotonia dos exercícios.

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A iniciação ao tênis deve obedecer as belecimento de atividades apropriadas que
particularidades psicológicas, físicas, mo- permitem o ensino e a aprendizagem das ha-
toras e cognitivas do universo infantil, de bilidades motoras adequadas para toda as
modo que, não sejam prejudicadas pelo trei- idades. Salienta-se que a quadra de tênis é
namento desportivo excessivo com carga um ambiente rico e privilegiado, por meio de
de treinamento e pela especialização motora metodologias adequadas às idades, mate-
precoce, deve ser uma experiência dinâmica riais que permitem maior aproximação com
e divertida, de forma que possa manter o alu- suas realidades físicas, sociais e cognitivas,
no motivado a prática, onde a técnica espor- com profissionais capacitados, preocupa-
tiva vá evoluindo gradativamente. Para isso, dos e comprometidos com um processo de
é preciso ter em mente que: (a) as pessoas ensino-aprendizagem em que as crianças se
aprendem em ritmos diferentes; (b) antes de percebem como protagonistas de suas pró- A Me. Pâmella de Medeiros é dou-
experimentar a habilidade especializada, é prias ações, o tênis enquanto esporte torna- toranda em Ciências do Movimento
Humano pela Universidade do Estado
preciso dominar as habilidades fundamen- -se um parceiro no processo de desenvolvi- de Santa Catarina (UDESC) e Mestre
tais; (c) as experiências prévias de cada in- mento integral da criança. também em Ciências do Movimento
Humano, pelo Programa de Pós-Gra-
divíduo são diferentes; (d) pontos fortes em duação em Ciências do Movimento
Sendo assim, o desenvolvimento mo-
uma área podem compensar deficiências Humano da Universidade do Estado
tor pode ser favorecido pelo treinamento de Santa Catarina (PPGCMH/UDESC). Possui Licenciatura
em outras; (e) os indivíduos respondem de em Educação Física pela UDESC. Atualmente é professora
esportivo quando realizado de acordo com
maneiras diferentes à situações de vitória e colaboradora do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte
as fases do desenvolvimento da criança. – CEFID/UDESC. Faz parte do Laboratório de Gênero, Se-
de derrota; (f) as habilidades que as pessoas xualidade e Corporeidade (LAGESC) CEFID/UDESC; da In-
A prática esportiva, além de auxiliar nisso,
possuem variam de acordo com uma série ternational Motor Competence Network (IMCNetwork). Fez
atua como ferramenta de educação, de inte- parte do Núcleo de Pesquisa em Ciências da Saúde (NU-
de fatores ambientais, assim como de fato-
gração social, de lazer, de promoção de saú- PECIS) do CEFID/UDESC. Participou de diversos cursos,
res herdados biologicamente. congressos, seminários e simpósios nacionais e internacio-
de e de formação de cidadãos, levando as nais, com apresentações de trabalhos atuando principal-
Por fim, compreender o fenômeno do crianças e adolescentes a adquirem e aper- mente nos seguintes temas: escola, competência motora,
hierarquia social, bullying escolar e educação física. Além
desenvolvimento motor e os aspectos que feiçoarem habilidades motoras, esportivas, disso, possui diversas pesquisas cientificas publicadas em
se relacionam a ele, torna possível o esta- sociais e educacionais. revistas renomadas da área, além de ser revisora em diver-
sos periódicos científicos.

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