Endodontia
Urgências em endodontia
- emergência x urgência
emergência: situação crítica ou perigo iminente
onde ocorre risco de vida
urgência: situação que deve ser resolvida
imediatamente, mas que não há risco de vida
- a dor é o maior motivo de busca por
tratamento odontológico
- o procedimento clínico deve ser
priorizado, mas às vezes pode ser
necessária uma terapia medicamentosa
coadjuvante
Dor de origem endodôntica
- tecidos pulpares confinados às paredes
do CR >> qualquer agressão ao tecido
pulpar leva a um aumento volumétrico,
com aumento da pressão interna e,
consequentemente, dor
- origem pulpar: polpas vitais inflamadas,
podendo haver necrose e infecção do CR,
que pode se estender às estruturas
periapicais; estimulação das fibras A-delta
(fibras mielínicas de rápida velocidade de
condução e baixo limiar de excitabilidade,
responsáveis por dor de origem dentinária,
geralmente rápida e de curta duração) e
fibras tipo C (fibras amielínicas de elevado
limiar de excitabilidade, dor severa,
contínua excruciante, espontânea e difusa
- origem periapical: processos
inflamatórios e exsudativos decorrentes da
resposta do hospedeiro à situação anterior
(agressão microbiana >> chegada de
células inflamatórias e liberação de
mediadores químicos >> vasodilatação >>
aumento da permeabilidade vascular >>
saída de fluidos dos vasos e formação de
edema >> elevação da pressão hidrostática
>> compressão de fibras nervosas
sensoriais >> dor
Avaliação para tratamento endodôntico de urgência
- exames clínicos: palpação, percussão,
mobilidade dentária, teste de sensibilidade
pulpar, sondagem periodontal
- exames complementares: radiografias
Urgências endodônticas
Com relação ao estado da polpa
- polpa vital: hipersensibilidade pulpar,
pulpite reversível sintomática
- necrose pulpar: periodontite apical aguda
(traumática, infecciosa ou química),
abscesso periapical agudo, flare up
(abscesso agudo pós intervenção /
reagudização)
Tratamento das urgências
endodônticas
Hipersensibilidade dentinária
- associados à retrações gengivais e falta de
coaptação esmalte-cemento
- dor aguda, fugaz, localizada e provocada
por estímulos (térmicos, mecânicos,
osmóticos e bacterianos)
- tratamento: aplicação de substâncias que
promovem a oclusão dos túbulos
dentinários expostos ou diminuem a
atividade nervosa sensorial (fluoreto de
sódio, oxalato de potássio, adesivo
dentinário)
Pulpite reversível
- leve alteração inflamatória da polpa, em
fase inicial, onde a reparação tecidual
ocorre uma vez que se remove o agente
causal
- dor aguda, rápida, localizada e provocada
- testes diagnósticos: teste de sensibilidade
ao frio (positivo, com dor aguda e rápida),
teste de percussão vertical (negativo),
teste de palpação periapical (negativo)
- achados radiográficos: restaurações
extensas e profundas próximas à polpa,
presença de lesão de cárie extensa sem
exposição pulpar
- tratamento: remoção do tecido cariado +
restauração do CDP (otosporin 5-10
minutos + cimento de hidróxido de cálcio)
Pulpite irreversível sintomática
- polpa acometida por um processo
inflamatório de caráter irreversível
- dor espontânea, pulsátil e intermitente
que não cessa com o uso de analgésicos
- características clínicas: presença de cáries
ou restaurações extensas, exposição pulpar
por trauma dental
- testes diagnósticos: teste de sensibilidade
ao frio (positivo, com dor intensa e
prolongada), teste de percussão vertical
(negativo, mas pode evoluir para positivo),
teste de palpação periapical (negativo)
- achados radiográficos: restaurações
extensas e profundas próximas à polpa,
presença de cárie extensa sem exposição
pulpar
- tratamento: remoção parcial
(pulpotomia) ou total (pulpectomia) da
polpa
pulpotomia: dentes com rizogênese incompleta
e casos em que as evidências sugerem que não
há alteração na polpa radicular; a polpa
remanescente deve ser sangrante ao
toque,sendo este abundante e vermelho + deve
ser resistente ao corte com estrutura e
consistência preservadas
pulpectomia: realizar biopulpectomia
- medicação pós operatória, quando
necessário: dipirona sódica (500mg, 4-4h),
paracetamol (700mg, 6-6h) ou ibubrofeno
(200mg, 6-6h)
Periodontite apical aguda
- origem traumática, infecciosa ou química
- dor espontânea, sensação de dente
crescido e dor durante a mastigação
- testes diagnósticos: tesde de
sensibilidade ao frio (negativo ou positivo),
teste de percussão vertical (positivo), teste
de palpação periapical (negativo)
- achados radiográficos: espessamento do
LP, dependendo do tempo
- tratamento: intervenção endodôntica em
toda a extensão do CR em casos de origem
infecciosa (lembrar de fazer patência e
limpeza foraminal + medicação intracanal)
e ajuste oclusal em casos de origem
traumática
- medicação pré-operatória: dexametasona
ou betametasona, 2-4mg por VO, 1h antes
- medicação pós-operatória: dipirona
sódica (500mg, 4-4h), paracetamol (700mg,
6-6h) ou ibuprofeno (200mg, 6-6h)
Abscesso periapical agudo
- resposta inflamatória não consegue
eliminar o agente agressor (bactérias
altamente virulentas que liberal enzimas
proteolíticas + neutrófilos que liberam
enzimas lisossomais = destruição da
arquitetura tecidual, formando pus)

- dor espontânea, pulsátil e à mastigação

Intraósseo

- testes diagnósticos: teste de percussão e

palpação positivos, teste de sensibilidade
negativo + pode haver mobilidade dental +
sem edema evidente e sem achados
radiográficos (não houve o rompimento da
cortical óssea)

- tratamento: tratamento endodôntico +

drenagem via CR

Subperiósteo e submucoso

- dor espontânea e acentuada

- testes diagnósticos: teste de percussão e

palpação positivos e teste de sensibilidade
negativo + mobilidade dental mais
acentuada + edema evidente (pode ou não
ter ponto de flutuação + aumento
volumétrico da face)

- tratamento: tratamento endodôntico +

drenagem cirúrgica
Flare-up

- após a intervenção endodôntica em um

dente assintomático pode haver o
estabelecimento de um abscesso
perirradicular agudo secundário à esta
intervenção (pode ocorrer devido à
extrusão apical de detritos contaminados,
desequilíbrio da microbiota endodôntica
ou introdução de novas bactérias no CR)
 Questões
1. Paciente A.M.L, sexo feminino, 36 anos
compareceu à clínica de urgência
odontológica queixando-se de dor aguda,
localizada, latejante no dente 26, que ocorre
após a ingestão de água fria e que demora a
passar após a remoção do estímulo. Ao
exame clínico observa-se uma lesão cariosa
recidivante sem exposição pulpar e sem dor à
percussão. Radiograficamente não há lesão
periapical. Assinale a opção do provável
diagnóstico e tratamento.
( ) Pulpite reversível – Proteção do complexo
dentino-pulpar
( ) Abscesso periapical agudo – Drenagem do
abscesso e necropulpetomia.
( ) Periodontite apical aguda – Ajuste oclusal.
(X) Pulpite irreversível sintomática -
Biopulpectomia
2. Clinicamente, um abscesso periapical
agudo pode ser classificado em 3 diferentes
fases evolutivas. São características de um
abscesso periapical agudo INTRAÓSSEO,
exceto:
( ) Sensibilidade à percussão
( ) Ausência de sinais radiográficos
significantes
(X) Edema consistente com ponto de
flutuação
( ) Dor espontânea
3. Sobre urgências em endodontia, classifique
as afirmações em verdadeiras (V) ou falsas (F)
(V) Aproximadamente 90% de todas as
urgências odontológicas ocorrem em
consequência de uma patologia pulpar ou
periapical.
(V) Para determinar um diagnóstico preciso,
deve-se realizar a anamnese do paciente, com
base na sua queixa principal, na revisão de
sua história médica e nos protocolos usados
para o diagnóstico das condições pulpares e
periapicais do dente.
(F) A prescrição de medicamentos para o
alívio de dor do paciente deve ser priorizada
em relação ao tratamento local.
(F) Antibióticos sempre devem ser prescritos
em casos de Abscessos Apicais agudos.
4. Paciente G.M.L, sexo masculino,
compareceu ao consultório com queixa de
dor espontânea e pulsátil no dente 46. Ele
relatou ter feito uso de Nimesulida e
Dipirona, mas sem melhora da dor. No teste
de sensibilidade pulpar, a resposta foi
positiva e demorou a passar a sintomatologia
mesmo após a remoção do estímulo térmico.
Radiograficamente, observou-se presença de
lesão cariosa extensa e profunda. Descreva
diagnóstico e sua conduta em relação ao
caso.
R.: Devido às características da dor e ao fato de
esta não cessar com o uso de medicamentos, o
caso muito provavelmente se trata de uma
pulpite irreversível sintomática, decorrente da
lesão de cárie evidenciada no exame
radiográfico. O tratamento indicado será o de
remoção parcial (pulpotomia) ou total
(pulpectomia) da polpa dentária, dependendo
da extensão da cárie e sua relação com o tecido
pulpar.
5. Ao chegar na consulta de urgência
odontológica, paciente queixa-se de dor no
elemento 36 ao ingerir bebida gelada. Ao
exame clínico e radiográfico, o cirurgião
dentista observa uma lesão de cárie
profunda, sem exposição pulpar clínica e
rizogênese incompleta. Nos testes de
percussão e palpação a resposta foi negativa
e ao teste de sensibilidade pulpar, a resposta
foi positiva e rápida. Considerando que é um
dente de uma criança, o procedimento
endodôntico emergencial indicado é:
( ) pulpectomia
(X) pulpotomia
( ) exodontia
( ) drenagem de abscesso
6. Um paciente apresenta queixa de dor
intensa e espontânea em um segundo pré-
molar superior com restauração profunda.
Verifica-se a presença de edema com ponto
de flutuação e ausência de mobilidade. O
teste térmico a frio foi negativo. A imagem
radiográfica sugere uma lesão apical difusa.
Qual é a hipótese de diagnóstico clínico e a
conduta clínica?
R.: De acordo com os resultados dos testes e as
características da dor, o paciente apresenta um
abscesso periapical agudo. Seu tratamento
consiste na drenagem cirúrgica da lesão e
tratamento endodôntico do dente em questão.
7. Assinale a afirmativa correta:
( ) Clinicamente, os processos apicais agudos
caracterizam-se por não se apresentarem
associados à presença de sintomatologia
dolorosa espontânea, o que reflete um
equilíbrio entre o agente agressor e o sistema
de defesas do organismo.
( ) Nos casos de abscesso periapical agudo,
onde há drenagem de pus via canal, é
indicado deixar o dente do paciente aberto
entre as sessões, para que ocorra o alívio de
dor.
( ) O flare-up endodôntico é definido como
uma exacerbação aguda de uma condição
patológica perirradicular após o início ou a
continuação de um tratamento não cirúrgico
do canal radicular.
(X) Um edema difuso pode se tornar uma
emergência médica de complicações com
potencial de risco de vida, pois a difusão da
infecção pode invadir planos fasciais e
inserções musculares, comprometendo
estruturas vitais em pacientes debilitados.
9. Os testes de percussão e testes pulpares
ajudam a direcionar os sintomas do paciente
para um diagnóstico clínico. Com base nesses
testes, assinale a alternativa FALSA:
( ) A dor em resposta à percussão não
informa se a polpa é vital ou não, mas é
basicamente uma indicação de inflamação do
ligamento periodontal.
( ) A resposta positiva ao teste frio que
desaparece imediatamente após a remoção
do estímulo térmico é característica de uma
polpa normal ou de pulpite reversível.
(X)Ausência de resposta ao estímulo térmico
e dor exacerbada à percussão vertical são
indicativos de pulpite irreversível sintomática.
( ) Nos casos de periodontite apical aguda e
abscesso periapical agudo, o teste de
percussão será positivo.

8. A prescrição de antibióticos é, muitas

vezes, indispensável na prática odontológica,
mas sua indicação requer bom senso e
parcimônia. Comente sobre a indicação dos
antibióticos nos casos de urgência
endodôntica.
R.: Os antibióticos devem ser prescritos de
maneira consciente, apenas em casos em que o
organismo apresenta sinais de que não vai
controlar a disseminação da infecção. O
cirurgião-dentista deve se atentar para casos
em que o paciente apresenta edema
pronunciado ou celulite, limitação de abertura
bucal, linfadenite, febre, taquicardia, falta de
apetite, disfagia ou mal estar geral.