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Endodontia I

Urgência, Emergência em Endodontia e Medicação Intracanal:


AULA 8- 04/10/21 e AULA 13- 22/11/21

Introdução:

Urgência é quando o estado do paciente naquele momento não vai levá-lo a


um comprometimento mais sério, porém pode levá-lo a um comprometimento futuro.
Porém não devemos deixar de atender o paciente de urgência, como profissionais da
saúde, devemos encaixar o paciente, examiná-lo e medicá-lo.
Emergência é quando o paciente requer um atendimento imediato, pois ele
corre risco de vida.
Cerca de 70% a 85% dos casos de urgência e emergência que chegam no
consultório a origem é endodôntica.

Reconhecer uma Emergência:

1. Seu problema está interferindo em seu sono, alimentação, trabalho,


concentração e outras atividades diárias?
2. Há quanto tempo o problema te aflige?
3. Você precisou tomar algum medicamento para aliviar a dor? Ele foi
eficaz?

Emegência em Endodontia:

 Requer diagnóstico e tratamento IMEDIATO! Não vamos deixar o


paciente ir embora sentindo dor, com edema sem medicá-lo, com a
cadeia de linfonodos cervicais e sublingual edemaciadas, com fístula
e/ou drenando pus.
 O tratamento depende sempre do diagnóstico e é uma condição
indispensável no caso de intervenção endodôntica para o alívio de
sintomas.
 Não é um atendimento simples. Existem opiniões conflitantes sobre a
melhor forma de gerenciar clinicamente várias emergências
endodônticas.
 As necessidades, medos e mecanismos de enfrentamento do paciente
devem ser entendidos compassivamente. Esta avaliação é a
capacidade do clínico de construir uma conexão com os pacientes.

Há 7 apresentações clínicas que são consideradas emergências


endodônticas:
1. Pulpite irreversível com periápice normal;
2. Pulpite irreversível com periodontite apical sintomática;
3. Necrose pulpar com periodontite apical sintomática sem edema;
4. Necrose pulpar, edema instável, com drenagem através do canal;
5. Necrose pulpar, edema instável, sem drenagem através do canal;
6. Necrose pulpar, edema facial difuso, com drenagem através do canal;
7. Necrose pulpar, edema facial difuso, sem drenagem através do canal.
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Para auxiliar o procedimento, vamos listar alguns pontos cruciais e
imperativos para o atendimento de emergência em endodontia:

 Como realizar um atendimento de urgência e emergência?


R= identificar se o caso se trata de uma urgência ou emergência, porém
independente de qual seja, iremos atender o paciente no mesmo dia.

Queixa principal -> Ouvir o paciente -> Examinar o paciente


(anamnese, exame físico, exame clínico bucal) -> Radiografia inicial -> Anestesiar
(se possível, por causa do edema) -> Acesso endodôntico (se possível [pois quando
o edema é muito grande a anestesia não pega, então é necessário entrar com a
medicação para o paciente voltar na próxima consulta e realizar o acesso], e limpar o
máximo que puder o SCR). Se o paciente apresentar fístula, vamos drenar. ->
Isolamento absoluto (vedar com top dam/ barreira gengival) -> Pré-alargamento
(brocas gates 1,2,3) -> Instrumentação+Obturação (irá depender do tempo, se o
profissional irá conseguir fazer em sessão única, e das condições patológicas do
dente, se ele ainda está drenando conteúdo inflamatório não iremos obturar, pois
devemos esperar a infecção cessar, então iremos apenas colocar Medicação
Intracanal (auxilia na diminuição da carga bacteriana no SCR. Vamos irrigar e aspirar,
aplicar a medicação com bolinha de algodão, fazer restauração provisória, e só
depois, na próxima consulta, vamos anestesiar, remover a restauração provisória e o
algodão com medicação intracanal, recapitular a odontometria, reinstrumentar e
observar se o dente continua drenando, se não, vamos refazer o preparo químico-
mecânico e obturar o canal).

No caso acima o paciente apresentava dor, e na imagem radiográfica é


possível visualizar restauração extensa infiltrada no dente 36, com comprometimento
de furca e periodontite apical (suspeita de lesão cística.

Medicação Sistêmica:

Antibióticos:
 Pacientes adultos: amoxicilina 500 mg- 8/8 horas- 7 dias;
 Pacientes adultos alérgicos à penicilina: Clindamicina 300 mg- 6/6
horas- 7 dias.

Anti-inflamatórios, Analgésicos e Corticoesteróides:


 Amenizar quadros de dor e edema;
 Pacientes adultos:
 AINES+ Analgésicos:
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 Diclofenaco de Sódio 50 mg- 8/8 horas ou
 Diclofenaco de Potássio 50 mg- 8/8 horas ou
 Nimesulida 100 mg- 12/12 horas
+
 Dipirona Sódica 500 mg- 6/6 horas ou
 Paracetamol 500 ou 750 mg- 6/6 horas.

 Dexametasona 20mg- 12/12 horas,1 comprimido- 7 dias


 Dexametasona 4 mg- 8/8 horas, 1 comprimido

Dor de Origem Pulpar:

Pulpite Reversível (remover o fator causal)


 Dor provocada;
 Rápida;
 Curta duração;
 Desaparece imediatamente ou após um curto período de tempo após a
remoção do estímulo/fator causal;
 Cárie profunda e/ou redicivante, restaurações extensas, recentes ou
fraturadas- Não há exposição pulpar;
 Tratamento: remoção + curativo (cimento hidróxido de cálcio + CIV). E a
restauração definitiva pode ser realizada aproximadamente 14 dias
depois.
Pulpite Irreversível Sintomática:
 Dor contínua;
 Espontânea;
 Difusa ou não;
 Paciente relata ou não uso de analgésicos;
 1 a opção de tratamento: observar se há tempo disponível. Radiografia
inicial. Anestesia. Remoção do tecido cariado ou restauração
defeituosa. Acesso. Isolamento absoluto. Descontaminação do canal
radicular (substância química). Completo preparo químico-mecânico.
Medicação intracanal ou obturação dos canais radiculares. Restauração
provisória;
 2 a opção de tratamento: Radiografia inicial. Anestesia. Remoções.
Pulpectomia e/ou pulpotomia. Medicação intracanal. Restauração
provisória. Prescrição: Anti-inflamatório (ibuprofeno 100 mg ou
Nimesulida 100 mg) e Analgésico (Paracetamol 500 mg).

Dor de Origem Perirradicular: (lesão periapical e comprometimento dos tecidos


periodontais adjacentes)

Necrose Pulpar com Periodontite Apical Sintomática:


 Dor intensa a mastigação, teste positivo a palpação;
 Dor ao toque;
 Radiograficamente: espessamento ou não do ligamento periodontal;
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 Radiografar
 1a opção de Tratamento: Anestesia. Remoção de tecido cariado e
restauração defeituosa. Acesso endodôntico. Isolamento absoluto.
Desinfecção. Pré-alargamento. Instrumentação (completo preparo
químico-mecânico). Medicação intracanal (paramonoclofenol,
formocresol ou hidróxido de cálcio PA com soro fisiológico ou
anestésico) ou obturação final com cones de guta percha. Restauração
provisória. Prescrição: Analgésico (Paracetamol 500 mg) e Anti-
inflamatório (ibuprofeno 100 mg ou Nimesulida 100 mg). Lembrar que o
paciente não está com edema nesse caso e nem drenando.
 2ª opção de Tratamento: Anestesia. Remoção de tecido cariado e
restauração defeituosa. Pulpectomia e/ou pulpotomia. Medicação
intracanal (sugere-se hidróxido de cálcio). Restauração provisória.
Prescrição: Anti-inflamatório (ibuprofeno 100 mg ou Nimesulida 100 mg)
e Analgésico (Paracetamol 500 mg).

Abcesso Apical Agudo:

 Dor espontânea, pulsátil e à mastigação;


 Testes de percussão e palpação positivos;
 Pode haver mobilidade dental (grau I ou grau II);
 Pode haver envolvimento sistêmico;
 Tumefação (edema) intra e/ou extraoral;
 Exame radiográfico: espessamento do ligamento periodontal ou grande
área radiolúcida;
 Tratamento: varia conforme o estágio de evolução do abscesso.
 Estágio Inicial: Radiografia. Anestesia (se possível).
Remoções. Isolamento absoluto. Drenagem (intracanal).
Desifecção. Pré-alargamento. Medicação intracanal (pasta
HPG). Restauração provisória. Prescrição: Analgésico
(Paracetamol 500 mg), Anti-inflamatório (Ibuprofeno 100 mg ou
Nimesulida 100 mg) e Antibiótico (Amoxicilina 500 mg ou
Clavulin 500 mg ou 875 mg).
 Em evolução (crônico): semelhante ao estágio inicial, mas
agora com tumefação (edema) constante e secreção
intermitente de pus através de uma fístula e dor, trismo, gosto
ruim na boca. Vamos radiografar, anestesiar (se possível),
drenar (incisão). OBS: o procedimento causará alívio ao
paciente, reduzindo a pressão responsável pela dor e deixa o
paciente mais confortável para a execução dos procedimentos
de acesso coronário e de instrumentação dos canais radiculares.
Prescrição: Analgésico (Paracetamol 500 mg), Anti-inflamatório
(Ibuprofeno 100 mg ou NImesulida 100 mg) e Antibiótico
(Amoxicilina 500 mg ou Clavulin 500 mg ou 875 mg).

 Em evolução e com tumefação extraoral: recomendável não


incisar, prescrevendo a aplicação de calor intraoral e frio
extraoral. E aguardar!! Prescrição: Analgésico (Paracetamol 500
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mg), Anti-inflamatório (Ibuprofeno 100 mg ou NImesulida 100
mg) e Antibiótico (Amoxicilina 500 mg ou Clavulin 500 mg ou 875
mg).

Dor Pós-obturação:

Geralmente um ligeiro desconforto, sensibilidade ou até mesmo dor pós-


operatória dos canais radiculares é previsível. Cabe ao profissional alertar o paciente
quando a possibilidade de sintomatologia. Prescrição: Analgésico (Paracetamol 500
mg), Anti-inflamatório (Ibuprofeno 100 mg ou Nimesulida 100 mg). Casos excepcionais
de dor aguda e contínua: Corticosteroide (Prednisona/ Prednisolona 20 mg- 12/12
horas ou Dexametasona 4 mg- 8/8 horas).

Medicação Intracanal:

Objetivos:
 Eliminação de microrganismos que sobrevivem ao preparo químico-
mecânico;
 Impedir a proliferação de microrganismos que sobreviveram ao prepraro
químico-mecânico;
 Barreira físico-química contra infecções ou reinfecções por
microrganismos da saliva;
 Reduzir inflamação periapical/ perirradicular: trazer conforto para o
paciente e efeito analgésico.
 Solubilizar matéria orgânica: reduzir os reservatórios de m.o, como
canais secundários, istmos e áreas de reabsorção dentária.
 Neutralizar produtos tóxicos;
 Controlar a exsudação persistente:
 Exsudato impede o adequado selamento do canal radicular,
além de ser irritante aos tecidos periapicais, levando a uma
lesão perirradicular, periodontite apical.
 Medicamentos: deve ter atividade antibacteriana, inibição da
resposta inflamatória, ação física de preenchimento e ação
higroscópica.
 Estimular a reparação por tecido mineralizado: selamento biológico do
forame apical.

Fase de Desinfecção:
“O melhor método para descontaminar o canal radicular é a criteriosa limpeza
do conteúdo séptico-necrótico.“ (Shilder, 1974)
Faremos isso através do preparo químico-mecânico, associando as limas com
a substância química e a medicação intracanal.
A medicação intracanal consiste no emprego de medicamento no interior dos
canais radiculares, onde deverão permanecer ativos durante todo o período entre as
sessões necessárias à conclusão do tratamento endodôntico. Quando o dente
continua drenando trocaremos a medicação de 7 em 7 dias ou de 15 em 15 dias.
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A potencialização das infecções do canal radicular e da região periapical ocorre
comumente em virtude do predomínio de bactérias anaeróbias.
O metabolismo energético das bactérias encontradas nestas infecções mistas
do canal radicular pode ser realizado graças à respiração ou à fermentação dentro do
canal. O efeito do oxigênio sobre estas bactérias permite classificá-las em aeróbias,
facultativas e anaeróbias.
Embora expressiva redução de microrganismos tenha sido observada após a
conclusão da limpeza e da modelagem, alguns trabalhos demonstraram a
necessidade da medicação intracanal entre sessões, com o objetivo de potencializar o
processo de sanificação do sistema de túbulos dentinários.
O fundamento básico para a seleção de qualquer medicação intracanal é o
conhecimento do mecanismo da açõ desta sobre os microrganismos predominantes
nas infecções do canal radicular e lesão periapical. De modo geral, os antibióticos
promovem dois tipos de efeitos sobre a bactéria, inibem o crescimento ou a
reprodução, ou conduzem à morte.

Medicamentos utilizados:
 Paramonoclorofenol (PMCC):
 Atividade antimicrobiana pelo contato direto com m.o ou pela
ação dos vapores liberais;
 Baixa tensão superficial- interior de túbulos e ramificações;
 Associado a outras substâncias, por exemplo o hidróxido de
cálcio.

 Tricresol Formalina ou Formocresol:


 Tricresol formalida (90%);
 Formocresol (19 a 43%);
 Antimicrobiano por contato e pela liberação de vapores;
 Muito irritante aos tecidos perirradiculares.

 Associação de corticosteroides- antibióticos:


 Polpa vital;
 Atenua a intensidade da reação inflamatória;
 Diminuição da dor pós-operatória;
 Hidrcortisona/dexametasona/predinidolona (pequenas doses não
produzem efeitos sistêmicos);
 Otosporim (hidrocortisona+sulfato de polimixina e sulsulfato de
neomicina);
 Facilidade de penetração tecidual;
 Hidrosolúvel.

 Hidróxido de Cálcio P.A- Ca (OH)2:


 Excelente substância;
 Ação antibacteriana;
 Biocompatibilidade;
 Contribui no reparo tecidual;
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 Como ele está em forma de pó, precisamos de um veículo para
ser utilizado, então podemos manipulá-lo com anestésico
(lidocaína) e manipular na placa de vidro, e com a lima
colocamos aos poucos no canal;
Veículos inertes: água destilada, soro fisiológico, soluções
anestésicas, solução de metilcelulose, óleo de oliva, glicerina,
polietilenoglicol e propilenoglicol.
Veículos biologicamente ativos: PMCC, clorexidina, iodeto de
potássio iodetado, cresatina e tricresol formalina.
Veículos Aquosos: calxy, pulpdent e calasept;
Veículos Viscosos: calen (ele é só o hidróxido de cálcio) e calen
PMCC;
 Pó branco;
 Alcalino (pH 12,8);
 Base forte;
 Propriedades derivadas dos íons Ca++ e íons OH;
 O hidróxido de cálcio biologicamente é um solvente de matéria
orgânica, inibe a reabsorção radicular externa e tem
propriedade anti-hemorrágica. Além disso, apresenta como
atividades biológicas a ação anti-inflamatória (ação
hidroscópica, formação de pontes de proteínas de cálcio,
inibição de fosfolipase) e ação antimicrobiana (devido a
associação de Ca (OH)2 com PMCC, levam à perda da
integridades da membrana citoplasmática bacteriana, inativação
enzimática. O PMCC age bem frente a m.o facultativos, e o
Ca(OH)2 age bem frente a m.o anaeróbios, podendo funcionar
como veículo para o PMCC, permitindo uma liberação lenta de
citotoxidade).
 Como atividades físicas, o hidróxido de cálcio apresenta
barreira física-química, impedindo ou retardando a infecção ou
reinfecção do SCR, no caso da perda do selamento temporário.
Inibe o crescimento e isola os m.o, e fluidos intracanais. Impede
que o ambiente volte ou torne-se anaeróbico.
 Técnica de Uso: vamos manipular o hidróxido de cálcio (pó e
líquido) e inserir com as limas tipo K ou com seringas insersoras
no canal radicular.

Protocolo de Medicação Intracanal:


Endodontia I
Medicação Sistêmica:

Antibióticos
 Abscesso perirradicular agudo com ocorrência tumefação difusa e/ou
envolvimento sistêmico;
 Avulsão dentária;
 Sintomatologia e/ou exsudação persistente;
 Abscesso perirradicular agudo em pacientes de risco;
 Uso profilático em pacientes de risco.

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